Ano XII
Boletim Operário
A Voz do Trabalhador
Órgão da Confederação Operária Brasileira
Rio de Janeiro
15 de julho de 1908.
Edição nº 2 Ano I
Página 2
Dos ergástulos industriais
Fábrica de Tecidos
Na Fábrica Confiança em Vila Isabel (Fábrica nº 2) fazem serão
até as 10 horas da noite algumas secções, entre as quais a
fiação, onde trabalham crianças de 8 a 14 anos.
Na Fábrica Corcovado, que tinha sido suprimido o serão devido
à atitude dos operários, começou outra vez a ser feito três dias
por semana, mas somente na fiação onde trabalham apenas
crianças. Começam pela parte mais fraca. As crianças não se
revoltam, são mais fáceis a subjugar. É a tática dos canalhas e
dos refinados ladrões. Não seria oportuno os homens e as
mulheres insurgirem em defesa das crianças e impedir o serão?
Do contrário após as crianças serão obrigados eles também.
Na Fábrica Cruzeiro no Andaraí há uma Cooperativa de tudo se
vende: mantimentos, chapéus, calçado, etc. Sabemos que o seu
maior acionista, ou melhor o seu proprietário, é o gerente
Sutears. A Fábrica só dá fiança para essa cooperativa, de forma
que os operários são obrigados a comprar nela somente. Assim
a exploração torna-se completa. O produto do trabalho fica lá
tudo.
Na Fábrica Vila Isabel há uma Caixa Beneficente para a qual
todos os operários são obrigados a concorrer com 1,5% do seu
ordenado (com exceção dos Mestres). Esta caixa é administrada
pela diretoria da fábrica, que não dá satisfação alguma aos
operários sobre o seu andamento. Nem é preciso. Os operários
devem confiar em que os patrões cuidarão paternalmente dos
seus interesses...
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Nº 640
Caxias do Sul,06/mar/2021
Recebemos as seguintes informações: Na fábrica São
Joaquim, em Niterói, o mestre dos teares maltrata os operários
pelo mais fútil motivo. Vende às moças uns bilhetes para um
sorteio, que não passa duma exploração; a que se recusar a
comprar os tais bilhetes é posta na rua. O mesmo mestre tem
um compadre que trabalha na fábrica e que faz jogo do bicho.
O Capitão Belém também pratica certos escândalos com as
operárias...
O Operário
Órgão de defesa da Classe Operária e Noticioso
Sorocaba
24 de outubro de 1909.
Edição nº 8 Ano I
Capa
Imoralidades de Gerente
Continuamos a verberar destas colunas o procedimento
inqualificável do Senhor Júlio Cugnasca da Fábrica de Tecidos
Nossa Senhora da Ponte. Cumprimos com isso o dever de
defender esses pequeninos-grandes, merecedores da nossa
compaixão e do nosso amor, diante do desrespeito de um seu
superior, que, nas usa costumeira posição de conquistador
violento, tem levado a desonra no lar da família que vive dos
seus pequenos ordenados, e que além de tudo fica sujeita a
apreciação leviana dos maldizentes. Que nos importa
chamarem-nos de: Mentirosos! Caluniadores! Bandidos! Etc.
etc., o povo sensato estará do nosso lado e esses vocábulos,
próprios da Praia do Peixe, serão devolvidos aos seus legítimos
donos. Não tencionamos dizer aqui o nome da família
prejudicada na sua honra, para que não façam como de
costume, os comentários picantes e mordazes, mas, se o
Senhor Gerente, ou alguém exigir, seremos obrigados a
desvendar isso tudo, embora não esteja na nossa missão,
baseada pela moral, revolver a vida intima do próximo. Tudo o
que dissemos desse senhor está de pé, como estão todos os
fatos por nós articulados nesta folha, - queremos o respeito a
família operária, a esses pequeninos-grandes que representam
a alma do progresso de um povo! Nas colunas desta folha se
vê a verdade e nunca a mentira encapota de protestos com
manifestações operárias.
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2 / Boletim Operário Nº 640

O Operário
Órgão de defesa da Classe Operária e Noticioso
Sorocaba
24 de outubro de 1909.
Edição nº 8 Ano I
Página 2
Cenas de Canibais na Fábrica Fonseca
Tem sido teatro de cenas vandálicas, impróprias de um
estabelecimento que se preza, a Fábrica de Tecidos, situada
nesta cidade, à Rua Santo Antônio. Quando ontem, mal
acabávamos de redigir o artigo que vai inserto na nossa primeira
página sobre a celebrizada gerencia da dita fábrica, eis que se
nos aparece mais uma proeza da falta de ordem e moralidade
que devia ali existir: - No dia 20, deste mês, a hora do trabalho,
uma menina de 13 para 14 anos, brasileira, fora desrespeitada A Voz do Trabalhador
por alguns indivíduos que, infelizmente pertencem a classe dos Órgão da Confederação Operária Brasileira
trabalhadores; aos palavrões indecentes e aos empurrões Rio de Janeiro
brutais machucaram psicologicamente essa menor, que, 30 de agosto de 1909.
atrozmente perseguida, salvou-se milagrosamente das sanhas Edição nº 17 Ano II
dos ferozes libidinosos! Capitaneava os desrespeitadores Página 3
miseráveis e covardes daquela infeliz operária, o indivíduo já Vítima da exploração
conhecido da polícia Antônio Bernardo, amigo do peito do No dia 14 do corrente, quando a menina de 13 anos, Maria
Senhor Júlio Cugnasca, cognominado o simpático diretor clinico Teixeira, procedia a limpeza de uma máquina em que trabalha na
daquele estabelecimento. Parece-nos incrível que, em um Fábrica de Tecidos Confiança Industrial, ficou com uma mão
estabelecimento fabril situado quase no coração da cidade, se presa na engrenagem. Momentos depois era a pobre menina
veja a pratica de cenas imorais ofensivas ao decoro público, mas, levada para casa de seus pais tendo de uma das mãos um monte
aqui está a verdade, o povo que faça a justiça devida, e, o de farrapos de tecidos humanos, à mistura com os pequenos
simpático gerente que seja alvo de uma manifestação, que ossos da mão já triturados. É mais uma vítima do industrialismo
edifiquem mesmo uma estátua de chops, na Rua de Santo ganancioso, que emprega nas suas bastilhas crianças e moças
Antônio, para a sua completa imortalidade. inexperientes a fazer os serviços que só homens experientes
deveriam executar. É mais um crime que se comete na Fábrica
de Tecidos Confiança Industrial, de que tombou vitima uma
menina de 13 anos. Pensem os Companheiros e Companheiras
dessa criatura, pensem todos aqueles que tem filhas ou irmãs ali
trabalhando, e lembrem-se que como paga de tantos sacrifícios
só tem ou os insultos dos mestres e contramestres ou o constante
perigo de ficarem inutilizados por toda a vida, só porque são
obrigados a trabalhar demasiado em troca de um insignificante
salário. Depois disso desejamos saber se, mesmo indenizada,
essa pobre rapariga – o que duvidamos – praticou ou não a
diretoria da fábrica um crime, mandando uma menina fazer
A Voz do Trabalhador
limpeza a uma máquina em movimento? Praticou, pratica e
Órgão da Confederação Operária Brasileira
praticará, mas isto só enquanto os companheiros não se
Rio de Janeiro
decidirem a faze-la respeitar os seus direitos.
15 de junho de 1909.
E oxalá seja breve...
Edição nº 13 Ano I
Página 3
Portugal
Greve de Mulheres
Em Setúbal declararam-se em greve as mulheres que trabalham
na fábrica de conservas pertencente a Alves & C.O motivo da
greve foi pretenderem esses senhores diminuir o salário de 40 a
35 reis por hora.

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