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A reflexão sobre as causas do comportamento humano não nasceu na Antiga Grécia, mas foi aqui que

conheceu os seus primeiros investigadores.

Os gregos partiam do pressuposto de que todos os seres viventes tinham uma causa que determinava a sua
natureza, comportamento e pensamento: a Alma (Psyché). 

A Alma era o princípio da vida e do pensamento. Quando abandonava um corpo este morria. Cada ser tinha
a sua alma específica. Os filósofos gregos procuravam determinar os vários tipos de almas de modo as
distingui-las em função da sua origem, natureza,  finalidade, constituição, inclinações morais, relações com o
corpo, etc. A Alma (inata) definia a natureza de cada ser.

Platão atribuiu à Alma um lugar central na sua filosofia (ver ), tendo inclusive elaborado a partir da mesma 
todo um sistema político. A Alma era para Platão imortal e definidora da natureza de homem quando nascia,
determinando-lhe a sua condição social, pensamento, inclinações morais, etc. Aristóteles escreveu sobre o
assunto uma das suas mais importantes obras - De Anima (Da Alma) -, na qual não apenas sumariza as
posições anteriores, mas introduz novos conceitos, nomeadamente a unidade entre o corpo e a alma.

Os filósofos cristãos durante a Idade Média (séc. IV-XV) prosseguiram esta reflexão, mas confinam a Alma
aos seres humanos, terminando o processo na sua espiritualização e personalização. A Alma humana, criada
por Deus, definia aquilo que de mais essencial cada homem possuí. Nela estava inscritas as tendências
humanas consideradas boas face aos olhos de Deus. A psicologia está subordinada à religião.

A ruptura com estas concepções sobre a Alma começou no século XVII. O conceito de Alma começa a ser
abandonado, concentrando-se os filósofos modernos na explicação da natureza e funções do
"entendimento, "consciência" ou da "mente".  Três movimentos que concorrem para esta mudança:

a) Ciência Moderna. A única forma de conhecimento que passou a ser assumido como verdadeiro era o
produzido pela ciência. Este conhecimento era baseado em experiências e em teorias que podiam ser
verificadas, provadas. Ora as reflexões sobre a Alma não passavam de especulações impossíveis de serem
verificadas. 

b) Mecanicismo. O mundo e os seres vivos desde o século XVI era cada vez mais encarado numa perspectiva
mecanicista. Tudo não passavam de mecanismo mais ou menos perfeitos. Na medicina do tempo, por
exemplo, o corpo humano era frequentemente descrito como um máquina.  No seu "interior"  não 
havia espaço para as concepções tradicionais sobre a Alma.

c) Empirismo. O empirismo defendia uma concepção sobre o conhecimento humano que reforçava as teses
mecanicistas. Os homens quando nasciam assemelhavam-se a uma folha em branco. Nada possuíam de
inato. Era através da experiência que se formavam e definiam como seres humanos. Os seus orgãos
sensoriais não passavam de meros mecanismos receptores e transformadores de sensações. O seu
comportamento era  determinado pelas sensações externas recebidas ao longo da vida. O homem era visto
como um produto do meio. Conhecendo as circunstâncias em que uma pessoa fora criada era possível 
prever como agiria. Modificando estas experiências externas podia-se também mudar o seu
comportamento.

No século XVIII Kant demonstra que as realidades metafísicas, como a Alma ou Deus, não podiam ser objecto
de conhecimento. Não passavam de crenças, meras hipóteses impossíveis de serem comprovadas.

Desde finais do século XIX que a psicologia cientifica tornou-se progressivamente num vasto campo de
investigação com muitas correntes, métodos e técnicas.

No século XIX, sob a influência do positivismo, os processos mentais começaram a ser estudados
segundos modelos de investigação utilizados na Física e na Química. O grande objectivo era a
descoberta das leis matemáticas que regiam os processos mentais.

Os primeiros a efectuarem com algum êxito esta matematização foram os fisiologistas e anatomistas
quando investigaram as ligações entre os orgãos receptores e o sistema nervoso. Weber (1795-1888) e
Fechner (1801-1877) descobriram a célebre "Lei fundamental" da psicofísica: os estímulos crescem em
progressão geométrica, as sensações, em progressão aritmética.  

O fisiologista alemão Wilhelm Wundt prosseguiu esta orientação metodológica. O seu objectivo era
elaborar uma psicologia que admitisse apenas os "factos" e que recorresse, sempre que possível, à
experiência e à medida. 

Em 1879 criou o primeiro Laboratório Experimental de Psicologia, na Universidade de Liepzig, na


Alemanha. 

Wundt partia do pressuposto que na base de todos os fenómenos psíquicos existe sempre um
substracto orgânico. Deste modo parte do mental para o orgânico e vice-versa. 

Concebe a consciência como uma estrutura orgânica constituída por unidades básicas. À semelhança
do que faziam os químicos começou por decompor as experiências mentais em unidades elementares
(sensações, sentimentos, imagens) para depois determinar as leis que regiam os seus processos da
associação. Wundt a partir da explicação destas unidades elementares pretendia construir a
consciência como um todo.

Nas suas experiências laboratoriais utilizou o método introspectivo. Wundt sujeitava os seus


colaboradores a certas sensações físicas externas (auditivas, visuais e tácteis) pedindo que estes
descrevessem depois o que sentiam (sentimentos, alterações orgânicas, etc).

"Wundt conclui que todos os sentimentos - amor, afeição, alegria, humor, inveja, paixão - consistiam
na combinação de três elementos fundamentais, cada um dos quais podia ser descrito segundo
dimensões distintas: agrado-desagrado, tensão-relaxamento e excitação-calma. Segundo esta teoria, a
variedade de sentimentos humanos é formada por uma mistura destes três sentimentos fundamentais
combinados em graus diferentes" (H. Kendler). 

A Física era claramente o modelo deste tipo de investigações, orientada para fenómenos simples
(sensações, tempos de reacção, etc). Como ocorreu nesta ciência através de uma acumulação
progressiva de dados, a Psicologia Experimental construiria um quadro global explicativo dos processos
mentais que ocorriam nos seres humanos.

Wundt tinha a percepção clara que estas investigações, o máximo que podiam a aspirar era á
explicação dos sentimentos conscientes não das actividades superiores como o pensamento dos
indivíduos. Para estudar  o pensamento recorria a outro método. 

Estava convencido que o pensamento era profundamente influenciado pela cultura. Neste sentido,
para o explicar era preciso estudar a história dos diferentes povos e do seus produtos culturais, como a
linguagem, mitos, costumes, religiões, etc. Neste domínio desenvolveu uma notável "psicologia dos
povos", actualmente muito contestada. 

A Psicologia acabava de surgir como uma ciência autónoma.


 Estruturalismo

Criado por  Wilhelm Wundt, fundador do primeiro  laboratório de psicologia experimental (1879, Leipzig, Alemanha). 

Esta corrente estudou a consciência humana, e em especial as suas experiências sensoriais, segundo o modelo da física.
Neste sentido decompôs os processos mentais nos seus elementos mais simples (sensações, ideias), a fim de descobrir
 as suas combinações e conexões no sistema nervoso e as estruturas que com eles estavam relacionados. 
O objectivo de Wundt e dos seus seguidores era descobrir as leis que regiam estes processos de combinação e conexão.
Utilizou o método introspectivo.

Principais referências:  Wilhelm Wundt,  Edward Titchner 

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Funcionalismo  

Criado por William James. Os processos mentais são encarados como funções, cujo modo de funcionamento se procura
determinar.  Estes estudos psicológicos incidiram quase sempre sobre actividades concretas (educação, direito,
 
negócios, etc.). Os funcionalistas aplicaram uma grande diversidade de métodos (introspecção, métodos experimentais,
etc).

Principais referências: William James, John Dewey

Psicologia Animal

A psicologia animal regista um grande desenvolvimento a partir do inicio do século XX.  Muitos dos
que realizam estas investigações estão convictos que o comportamento dos animais tem enormes
semelhanças com o dos homens, nomeadamente no seus níveis mais básicos. Por outro lado, as
experiências com animais tinha para eles uma enorme vantagem face às realizadas com seres
humanos: - Não levantava problemas morais !

A Reflexologia e o Behaviorismo são duas correntes da psicologia cujos conceitos fundamentais


foram construídos a partir de estudos com animais.

 
 

1. Reflexologia
A reflexologia foi criada por Pavlov, prémio Nobel em 1904 pela sua obra sobre a digestão. Centrou o
estudo da psicologia no comportamento dos animais,  procurando descobrir as respostas inatas ou
adquiridas a certos estímulos.

A principal descoberta de Pavlov foi os reflexos condicionados. Os cães, por exemplo, salivam não
apenas quando viam comida (reflexo inato), mas também quando regiam a outros estímulos que
eram associados à chegada de comida. Esta resposta dado que não era inata, era portanto aprendida
por associação (reflexo condicionado). A investigação psicológica devia segundo Pavlov centrar-se no
estudo destas respostas (reflexos inatos ou adquiridos) em relação aos estímulos do meio.  

A influência destas investigações foi enorme no desenvolvimento posterior da psicologia científica,


em particular no Behaviorismo.  

 
 Behaviorismo

O Behaviorismo, palavra de origem inglesa que em português significa "comportamento" .

O Behaviorismo  é uma corrente e método da psicologia que afirma que o único objecto de estudo da
psicologia é o comportamento observável, seja nos homens como nos animais, e que é susceptível de ser
medido. 

John Watson sustentou que não existem estados internos na consciência,  como "pensamento",
"vontade", "percepções", etc. A única coisa que existem são respostas orgânicas (musculares ou
glandulares). As emoções, hábitos, pensamentos ou a linguagem, não passam de respostas fisiológicas
complexas a estímulos externos. 

Neste sentido procurou determinar as leis que regiam a relação entre a ocorrência de certos eventos
ambientais (estímulos) e o comportamento observável que provocavam (respostas). 

Valorizou as experiências na formação dos seres humanos, secundarizando a herança genética. 

Todo o comportamento (conduta) era aprendida. Seguindo um pensamento rigorosamente empirista


defende que o homem é um produto das experiências.  

Aplicou de forma sistemática métodos objectivos (experiências e observações laboratoriais,  testes, etc).

Principais referências: Watson , Skinner

Psicanálise

A Psicanálise designa várias coisas:

 - Método de exploração do psiquismo, em particular do inconsciente.

 - Terapêutica no tratamento de histerias e neuroses.

 - Corrente muito diversificada da psicologia que se afirma continuadora de obra de Freud.

A psicanálise é inseparável do seu criador - Sigmund Freud (1856-1939). Formado em medicina, começou
por interessar-se pela anatomia do cérebro e depois pelas  doenças nervosas. De inicio utiliza a hipnose
como método terapeutico. Através da hipnose dedica-se a despertar nos pacientes recordações
desaparecidas e que em tempos foram reprimidas.  Este método permite-lhe confirmar a existência de
três níveis de actividade psiquica: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente.  

- O consciente é o Eu. Corresponde à dimensão da nossa vida e  identidade pessoal reconhecidas como
tais. O consciente é  regido por leis lógicas, temporais, espaciais, etc.

- O pré-consciente faz parte do Eu. É constituído por conteúdos que são inconscientes em forma latente,
mas que podem tornar-se conscientes mediante um esforço de recordação.

- O inconsciente é a zona mais dinâmica do psiquismo humano, albergando toda as forças instintivas,
ancestrais, os desejos, as pulsões reprimidas ou censuradas. Estes conteúdos não afloram ao consciente.
O inconsciente é caracterizado por ser: atemporal ( Não existe a dimensão do tempo. Um facto ocorrido
na infância manifesta-se na idade adulta como actual), ilógico ( não existem contradições, predomina a
ambivalência), concreto (Não existem abstracções, mas apenas situações e coisas específicas ), simbólico,
mágico (qualquer coisa é possível),  primitivo (as reacções do inconsciente  são extremas e sem matizes). 

A causa de muitas das perturbações mentais (histerias e neuroses) estava segundo Freud na acumulação
de desejos e necessidades censurados ou reprimidos no inconsciente. Esta acumulação acabava por gerar
enormes forças energéticas que determinavam o aparecimento de sintomas neuróticos nos pacientes. 

A hipnose foi o primeiro método que ele utilizou para atingir as zonas mais profundas do psiquismo, para
descobrir as causas inconscientes das neuroses. Mas Freud  não tardou a abandonar a Hipnose,
adoptando o método das associações livres. O paciente era convidado a colocar-se num estado de
abandono dos seus pensamentos, sem procurar reprimi-los ou dissimulá-los. A Associação Livre foi depois
complementada pela interpretação dos sonhos. O sonho é segundo Freud a manifestação (simbólica) de
desejos recalcados. 

O trabalho do psicanalista consistia em decifrar na cadeia de associações livres do paciente, a sexualidade


que fora censurada ou recalcada. 

Sexualidade

A sexualidade é para Freud não apenas uma dimensão do psiquismo humano, mas é também e sobretudo
o conjunto de processos através dos quais um indivíduo se constitui na sua relação com outros,
psiquicamente interiorizados (o pansexualismo freudiano). Freud distingue várias fases na sexualidade
infantil, sendo a fase decisiva é a que corresponde ao complexo de Édipo (3-5 anos). 

A passagem por cada uma das fases implica um confronto entre a satisfação das pulsões sexuais e as
forças que lhe opõem. A resolução desses conflitos provoca dicotomias difíceis de resolver, e que irão
influenciar a formação da personalidade do adulto. 

Principais Fases da Sexualidade Infantil

Fase Oral. A boca é a primeira zona erógena. A obstinada persistência do bebé em sugar é para Freud a
prova que a criança procura na boca a sua satisfação libidinal.

Dicotomias: optimismo/pessimismo; admiração/inveja; credulidade/desconfiança.

Fase Anal-Sádica. O anus é a segunda zona erógena. Por volta dos 2-3 anos, os excrementos urinários e
fecais tornam-se para a criança num "instrumento" de prazer, mas também pelos quais ela mostra a sua
afeição, inclinação e agressividade.

Dicotomias: Ordem compulsiva/desordem; "masoquismo"/"sadismo"

Fase Fálica. Os orgãos genitais são a nova zona erógena.  Entre os 3 e os 5/6 anos, criança manifesta-se
interessada pelos orgãos sexuais e pela sua diferença entre os sexos. É nesta fase que se estabelece o
célebre Complexo de Édipo.  

Dicotomias: Orgulho/humildade; sedução/timidez; castidade/promiscuidade.

Fase de Latência: Amnésia da sexualidade Infantil. Entre os 6 e os 12 anos.


- Aprendizagem social;
- Desenvolvimento da consciência moral;
 
Fase Genital: Reaviva-se o complexo de Édipo. Predomínio da genitalidade. Corresponde ao período da
puberdade e adolescência.
 
- Reactivação de conflitos anteriores (ex. Complexo de Édipo")
- Regressões sob a forma de "ascetismo" ou "intelectualização".

Evolução da Psicanálise Freudiana

A Psicanálise pode ser dividida em dois períodos fundamentais: antes e depois de 1920.

Antes de 1920 Freud está centrado na exploração do inconsciente e na terapia de certas doenças, depois
alarga a sua metodologia à análise de outros domínios como a História da Humanidade, a Religião, a Arte,
etc. 

A partir de 1920 a estrutura e o dinamismo do psiquismo humano sofre uma profunda re-interpretação: 

- O Consciente ( Eu ) rege-se agora pelo princípio da realidade, o que convém ou não fazer.

- O Pré-consciente (Super-Ego, Super-Eu) passa a representar a cultura, os valores sociais e familiares.


Corresponde à consciência moral e ao Ideal de Eu ( a imagem que cada um tem de si mesmo). O Super-Ego
é o responsável pela auto-repressão e censura, produzindo sentimentos de culpa e auto-crítica, etc,.

- O Inconsciente (Id) passa a representar a ancestralidade da espécie humana e o motor de toda a energia


psíquica ( impulsos contraditórios de éros- amor e thanatos-morte). O inconsciente torna-se desta maneira
impessoal. Rege-se pelo princípio do prazer, evitando a dor, etc.  

Gestalt

A palavra "gestalt" de origem alemã, significa "forma", "configuração", "padrão" ou "estrutura". 

Esta corrente, surgiu por volta de 1912, na Austria, ligada ao Laboratório de Psicologia Experimental de Graz,
mas tinha ramificações em outros países europeus, como a Alemanha. Entre os seus iniciadores destacam-se
Max Wertheimer (1883-1943), Kurt Koffka, Wolfgang Kohler (1887-1967).

Os seus iniciadores rompem com a teoria associacionista para a explicação das nossas percepções. Rejeitam
que as nossas percepções sejam o resultado do somatório ou combinação de estímulos ou sensações. A
sensação elementar não é dada de imediato à consciência.  O que percepcionamos de imediato são
totalidades, factos organizados.  

A totalidade é o elemento básico do conhecimento perceptivo. Aquilo que designamos por experiência é a
consciência perceptiva de uma totalidade, ou uma Gestalt.
A totalidade estrutura prevalece  sobre os seus elementos constituintes. Exemplos: "Ouvimos a música como
um todo organizado e não como notas isoladas". Quando percepcionamos algo, como uma cadeira,
percebemo-la na sua totalidade, e só depois a começamos a analisar nas suas distintas propriedades (altura,
materiais de construção, cor, etc).

O objectivo desta corrente da psicologia foi o de determinar a experiência consciente da percepção e as


leis pelas quais esta última se apresenta como uma totalidade.

Leis da Percepção

O gestaltismo afirma que na captação das formas em que se baseia a percepção intervêm certas leis. Estas
leis definem a organização perceptual e determinam como se configuram os objectos na percepção:

a)  Lei da Forma e Fundo. Quando percepcionamos algo, separamos espontaneamente a "figura" do "fundo"

b)  Lei da Boa Forma ou da Pregnância. Na percepção tendemos a completar aquilo que se acha incompleto,
a dar às coisas formas regulares, simples e simétricas. "A forma é a melhor possível nas condições
presentes".

c)  Lei da Semelhança

d)  Lei do Fechamento

e)  Lei da Continuidade

f)  Lei da Proximidade. Os elementos são espontaneamente agrupados em função da sua proximidade. 

g) Lei do Contraste

h) Lei da Constância Perceptiva

i) Lei da Simplificação

j) Lei da Conexão

l) Lei da Região Comum

m) Lei da Conectividade

A totalidade determina não apenas a forma como os elementos são percepcionados, mas também o seu
agrupamento e a sua significação. 

Estruturas Inatas

Os gestaltistas afirmavam que os seres humanos possuem um sistema nervoso inato que está preparado 
para organizar a experiência sensível, facilitando a aprendizagem e o conhecimento.

A mente humana está longe de ser passiva, como acreditavam os behavioristas, pelo contrário, ela é
extremamente activa e criativa na resolução dos problemas concretos. A conduta humana não é previsível,
nem automática. Entre o momento em que o homem recebe os estímulos e aquele em que dá a resposta,
existem toda uma série de processos intermédios que condicionam as respostas.  

Construtivismo

Jean Piaget (1896-1980), fundador do construtivismo, define-o como a teoria do desenvolvimento do


conhecimento em resultado de uma interacção com o meio. Piaget procurou determinar os processos de
construção do conhecimento desde as suas formas mais elementares até ao níveis superiores,
nomeadamente o conhecimento científico. 

Comportamento. Para Piaget o indivíduo não é um simples resultado do meio (tese behaviorista), nem é
simplesmente determinado por princípios inatos (tese gestaltista). O seu desenvolvimento é determinado
pela interacção entre factores internos (orgânicos, hereditários) e factores externos (meio). Nos primeiros
meses de vida, o seu comportamento é determinado por reflexos inatos, mas depois as respostas são cada
vez mais complexas fruto de um processo de adaptação. Este processo embora tenha algumas etapas
comuns a todos os indivíduos, não produz em todos os mesmos resultados. As mesmas coisas não têm a
mesma significação para todos. O comportamento é uma resposta que varia em função da interacção entre
a personalidade do sujeito ( P ) e a situação ( S ). 

A personalidade vai-se formando através desta interacção com o meio. Neste processo são decisivas as
disposições biológicas do sujeito, as diversas aprendizagens e as actividades sobre o meio. O
comportamento é visto como a resposta de uma dada personalidade numa situação concreta. 

Esta concepção sobre o comportamento marcou uma ruptura com as concepções anteriores (inatistas e
comportamentalistas).  

Perspectivas em Confronto

Perspectiva inatista: o sujeito era visto como o resultado das  potencialidades que havia herdado.
O meio tinha uma reduzida influência sobre o seu comportamento.

Perspectiva comportamentalista (behaviorista): O sujeito é visto como o resultado do meio. A


hereditariedade tem uma limitada influência sobre o comportamento.

Perspectiva construtivista (psicologia genética): o sujeito é o resultado da sua interacção com o


meio. 
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Conhecimento. O construtivismo (ou psicologia genética) procura explicar o desenvolvimento do


pensamento (inteligência) como um processo continuo de adaptação do organismo ao meio, marcado por
várias fases (estádios): Cada uma delas representa um estágio de equilíbrio, cada vez mais estável, entre o
organismo e o meio, onde ocorrem de determinados mecanismos de interacção, como a assimilação e
a acomodação.
Todo o conhecimento começa por uma assimilação pelas estruturas e esquemas do sujeito dos dados que
recebe do exterior. Estas estruturas e esquemas são os meios que permitem o conhecimento. Esta
assimilação implica por sua vez a sua modificação. A acomodação consiste na modificação destas estruturas
ou esquemas aos novos dados. 

A inteligência surge assim, como o conjunto das estruturas e esquemas que um organismo dispõe em cada
fase do seu desenvolvimento. A adaptação do organismo constitui a expressão do equilíbrio atingido entre a
assimilação e a adaptação. 

Estádios do Desenvolvimento Cognitivo

1º.Estádio: Período Sensório-Motor (até aos 2 anos)

Este período vai desde o nascimento até aos dois anos. A partir da transformação dos reflexos inatos a
criança começa  a desenvolver a sua inteligência, prática e manipulativa (sensório-motora), que consiste
fundamentalmente numa diferenciação entre ela e o mundo. A criança começa por possuir apenas
sensações internas- prazer, dor -, mas depois é capaz de acompanhar com o olhar um objecto que se
desloque no seu campo visual. Lentamente vai reconhecendo a autonomia dos objectos e reconhecendo-se
diferente deles. O pensamento como representação interiorizada ainda não existe. No final deste período, a
criança apresenta as seguintes características cognitivas: 

a) é capaz de conhecer as coisas sem estar directamente a actuar sobre as mesmas; 

b) procura-as quando não as encontra no seu campo visual (noção de permanência dos objectos);

c) evoca no presente uma actividade passada (noção de sucessão temporal dos acontecimentos e de certa
relação de causalidade); c) aparece a linguagem, ou função simbolica (18/24 meses); 

2º.Estádio: Período Pré-Operatório (2 aos 5/6 anos)


Começa por volta dos 2 anos e vai até aos cinco/seis anos. Durante este período a criança desenvolve a
inteligência representativa, ligada á aquisição da linguagem. Ela desenvolve a capacidade de representar
qualquer coisa por meio de outra coisa, isto é, um significado qualquer (objecto, acontecimento, etc), por
meio de um significante diferenciado que só servirá para essa representação: linguagem, gesto simbólico,
imagem mental, etc. (Função Simbólica).  A partir deste momento a criança está em condições de actuar
sobre os objectos de maneira organizada, deixando de estar dependente da manipulação directa das coisas.
Ainda permanece no entanto num estado de confusão entre o mundo objectivo e o subjectivo.

3º.Estádio: Período das Operações Concretas ( 5 aos 12 anos)

Começa com o pensamento operacional(5/8 anos) e vai até às operações concretas (8/12 anos). É nesta fase
que nasce o verdadeiro raciocínio na criança, graças à aquisição de uma nova possibilidade: doravante a
criança não se fixa apenas àquilo que percepciona, mas mostra-se capaz de efectuar operações mentais
reversíveis, ou seja, de reviver um processo não apenas na ordem em que ocorreu, mas também na sua
ordem inversa. Apesar destes avanços ela ainda têm a necessidade de recorrer à concretização dos seus
pensamento, o que não a deixa resolver problemas enunciados apenas em termos verbais.

Algumas noções que são adquiridas neste estádio: Aos 9 anos a noção de conservação do peso; Aos 11 anos
a conservação do volume; etc.

4º.Estádio: Período das Operações Formais (11/12 aos 14 anos) 

Começa por volta dos 11/12 anos e vai até à adolescência. O pensamento liberta-se dos domínios do real e
do concreto, para abranger o universo do possível e do abstracto. Atinge o raciocínio hipotético-dedutivo
que já não se baseia sobre objectos manipuláveis, mas sobre hipóteses e proposições. Com o pensamento
formal é capaz de extrair conclusões de puras hipóteses e não apenas de observações do mundo exterior.
Por volta do 15/16 anos é capaz de formular teorias  sobre qualquer assunto e é influenciada pela linguagem
formal.

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