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DESNUTRIÇÃO

Profa. Alane Bezerra


alane.bezerra@professor.unifametro.edu.br
DESNUTRIÇÃO

É uma doença de natureza clínico-social, multifatorial,


cujas raízes se encontram na pobreza.

“É o conjunto das condições patológicas decorrentes da


deficiência simultânea, em proporções variadas, de
proteínas e calorias, que ocorre mais frequentemente
em lactentes e crianças pequenas e que geralmente se
associa a infecções”
(OMS, 1995)
DESNUTRIÇÃO
“Um estado mórbido secundário a uma
deficiência ou excesso absoluto de um ou mais
nutrientes, que se manifesta clinicamente ou é
detectado por testes antropométricos,
bioquímicos, topográficos ou fisiológicos”
(Waitzberg, 2000)

“ Estado de nutrição no qual deficiência, excesso ou desequilíbrio de


energia, proteína e outros nutrientes causam efeitos adversos ao
organismo (tamanho, forma, composição) com consequências clínicas e
funcionais”
(Stratton et al., 2004)
EPIDEMIOLOGIA
oAfeta todos os grupos etários;
o200 milhões de crianças desnutridas no mundo;
oCausa direta de 300 milhões de morte no mundo;
oRegião mais desnutrida: Nordeste;

oIBRANUTRI (1998):
 48,1% dos pacientes hospitalizados, sendo 12,6% com desnutrição grave;
 A prevalência de desnutrição duplica em 15 dias de internação.
ETIOLOGIA

oFatores socioeconômicos: Crianças provenientes de famílias de baixa


renda apresentam um risco maior relacionado a deficiências alimentares. E
as famílias de alta renda???
oFatores biológicos: patologias...
oFatores ambientais: Além disso, condições sanitárias precárias contribuem
para o aparecimento de infecções, parasitoses e da desnutrição.
oFatores culturais: Mitos, crenças e tabus podem interferir negativa ou
positivamente nos aspectos nutricionais.
FISIOPATOLOGIA DA INANIÇÃO
oDiminuição do apetite e do desejo por líquidos;
oDiminuição do gasto energético para poupar as reservas orgânicas;
oGliconeogênese: a partir de lactato, glicerol e aminoácidos;
oQuando as concentrações dos corpos cetônicos circulantes estão
suficientemente elevadas: cetonas substituem a glicose como principal
combustível oxidativo do cérebro;
oNos primeiros dias, os AG livres e as cetonas são os substratos
predominantes. Estado de cetose!
oInicialmente, as proteínas são poupadas como fonte de combustível até
os últimos estágios de inanição. Porém, chega-se ao uso de proteínas
acompanhado com expressiva perda de peso substancial;
FISIOPATOLOGIA DA INANIÇÃO
oPerda de peso diária: 0,5Kg até alguns quilos;
oPrejudica o processo de cicatrização de feridas;
oSistema imune deficiente;
oEnfraquecimento dos músculos respiratórios, conforme utilização
de sua proteína como fonte energética, podendo levar a
insuficiência respiratória e ao uso de ventilação mecânica;
oInanição + estresse (trauma): aumento do glucagon,
glicocorticóides e catecolaminas = Hipermetabolismo e
Hipercatabolismo.
FISIOPATOLOGIA DA MÁ NUTRIÇÃO
oComuns no trauma, sepse, câncer e AIDS;
oDegradação proteica acelerada e reconstrução proteica rompida;
oPerda de até 20% das proteínas corporais, principalmente músculo esquelético, e
de massa visceral (fígado, TGI, rins, coração);
oSíntese hepática de proteínas diminui (↓ níveis séricos de ptn);
oRedução de células imunológicas e das necessárias à cicatrização de ferida;
oFraqueza e atrofia dos músculos respiratórios, diminuição da contratilidade
miocárdica;
oAlterações hormonais na ingestão alimentar deficiente: aumento do glucagon e
epinefrina e diminuição da insulina.
PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS NO TGI
oTGI e pâncreas atrofiam: redução de secreções gástricas, pancreáticas e
biliares, atrofia da mucosa do intestino delgado;
oMá absorção de gorduras, dissacarídeos e de outros nutrientes;
oIntolerância a lactose;
oSupercrescimento bacteriano no intestino delgado alto;
oPerda da superfície de absorção intestinal (atrofia da mucosa, diminuição
da atividade enzimática da borda em escova e alterações na flora
bacteriana);
oRedução da atividade do GALT, deficiência de vitamina A e glutamina.
AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DEPENDEM
o Intensidade relativa do déficit de proteína ou energia;
o Gravidade e duração das deficiências;
o Idade do hospedeiro;
o Causa da deficiência;
o Associação com outras doenças nutricionais ou infecciosas.
CLASSIFICAÇÃO
Quanto à etiologia:
 Primária
 Secundária
 Terciária
Quanto ao tempo:
 Aguda
 Crônica
Quanto à severidade:
 Leve
 Moderada
 Grave
CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ETIOLOGIA
o Primária: resultado de alimentação quantitativa e/ou qualitativamente
insuficiente. Ex: Desmame precoce;

o Secundária: resultado de outras doenças que levam a:


↓ ingestão de alimentos (idosos, viciados em drogas);
Absorção ou uso inadequado de nutrientes (diarreia);
↑ necessidades nutricionais (gestantes e lactantes);
↑ perdas de nutrientes (diarreia).

o Terciária (Iatrogênica): Desnutrição no ambiente hospitalar.


CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TEMPO

Crônica

Ausência de Massa Ausência de Massa


Gordurosa Muscular
CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TEMPO

Aguda

Carência Proteica Trauma e Infecção


COMPARTIMENTO DE PROTEÍNAS

PROTEÍNAS SOMÁTICAS
+ afetado na deficiência de calorias

PROTEÍNAS VISCERAIS
+ afetado na deficiência de proteínas
CLASSIFICAÇÃO QUANTO À SEVERIDADE
oDesnutrição Leve: ↓ peso e estatura, redução do tecido adiposo (DCT),
palidez , hipotrofia muscular (CB).

oDesnutrição Moderada: DL + cabelos secos (sem brilho, quebradiço, áspero


ao tato, escasso) e despigmentados (em faixas ou uniforme).

oDesnutrição Grave:
oMarasmo (Desnutrição proteico-calórica, Crônica);
oKwashiorkor (Desnutrição proteica, Aguda);
oMista (Marasmo-Kwashiorkor).
oMarasmo (Desnutrição proteico-calórica, Crônica): inanição, alterações psicomotoras,
fraqueza acentuada, perda muscular generalizada (compartimento somático),
ausência de gordura subcutânea, Cabelos escasso, fino e seco, sem brilho normal e
extraído sem causar dor, Pele: seca e fina, com pouca elasticidade, enruga-se
facilmente: “face de idoso”, Anemia, deficiência de vitamina B, xeroftalmia, diarreia.

oKwashiorkor (Desnutrição proteica, Aguda): Edema (pés, tornozelos e até nas mãos),
dermatose (lesões hiperpigmentadas de pele, descamação), hepatomegalia;
Alimentação rica em CHO; Hipoalbuminemia (compartimento visceral), Anorexia,
vômito pós-prandial, diarreia; Retardo no crescimento, perda de gordura subcutânea
e muscular menos intensos do que no marasmo.

oMista: Déficit calórico-proteico avançado, associado a necessidades ou perdas


proteicas aumentadas; Diminuição rápida das medidas antropométricas com edema e
perda de massa orgânica; Quando o paciente marasmático é acometido por um
estresse agudo (infecção); Desnutrição aguda somada à desnutrição crônica prévia.
MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO
Análise clínica;
Análise dietética;
Avaliação bioquímica e imunológica;
Avaliação metabólica;
Diagnóstico nutricional.
DETERMINAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL
ADULTOS:

IDOSOS:
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Exames bioquímicos:
 Proteínas séricas (albumina, pré-albumina, proteína C reativa,
transferrina, etc);
 Independente do estado nutricional, na reação de fase aguda
provoca queda nos níveis séricos das proteínas de fase
aguda.
 Contagem de linfócitos, hematócrito e hemoglobina;
 Vitaminas e minerais séricos.
 Devem ser consultados pelo menos semanalmente;
O TRATAMENTO OBJETIVA

• Normalizar • Promover o
• Recuperar as alterações crescimento e o
o estado orgânicas ganho de peso
nutricional causadas
pela
desnutrição

Recomendações gerais: dieta específica, orientações sobre


higiene alimentar, educação alimentar.
TERAPIA NUTRICIONAL

Determinar as necessidades calóricas e proteicas

Programar a terapia nutricional


CÁLCULO DAS NECESSIDADES
ENERGÉTICAS
IMC < 16 kg/m²:
1ª semana
2ª / 3ª semana
PESO ATUAL NORMALIZAÇÃO DOS NÍVEIS
Acompanhar glicemia, P, K e SÉRICOS
PESO IDEAL / HABITUAL
Mg

IMC > 16 kg/m²:

• Peso habitual (IMC entre 18,5 e 25kg/m²)


• Peso ideal
TERAPIA NUTRICIONAL
Suplementação calórico-proteica visando ganho de
peso

Calorias: + 500 ou 1000


kcal/dia
PACIENTES
ESTÁVEIS
0,5 - 1kg / semana
Proteínas: 1,25 a 2 g/kg/dia
TERAPIA NUTRICIONAL
oVCT: + 500-1000Kcal (GET= GEBxFAxFIxFT + 500 a 1000);
oFórmula de bolso de 30 a 35kcal/kg/dia ou 35-40kcal/kg/dia.
oPode-se iniciar com 50% do GET e aumentar gradativamente.
oProteínas: 12-15% do VCT (mínimo) (1,25-2g/Kg/dia) ou 15-
20%VCT (1,5-2g/Kg/dia);
oLipídios: 20-30%:
oCarboidratos: completar 50-60%.
oMicronutrientes: Atingir as DRIs. Atenção: K, Mg, P, Zn, Co.
oSuplementação de vitaminas e minerais: depende do estado
nutricional revelado pela avaliação inicial.
TERAPIA NUTRICIONAL
Características da dieta:
oFracionamento da dieta (mínimo 6 refeições);
oHorário de refeições: momentos relaxados;
oVolume reduzido;
oConsistência: Branda ou pastosa;
oEstratégias para aumentar densidade calórica das refeições;
oAumento gradual do volume de refeições: evitar desconforto gástrico,
períodos de desânimo, desequilíbrio de eletrólitos e disfunção cardíaca.
oAcompanhamento da oferta nutricional: Intolerâncias digestivas?
oReposição de micronutrientes.
TERAPIA NUTRICIONAL
Outras estratégias:
oIncentivo a se alimentar, mesmo sem fome;
oTratamento deve ser lento para evitar complicações;
oPreparações com molho podem estimular o apetite;
oBeber líquidos ricos em calorias ao invés de chá ou café;
oFazer mingaus ou vitaminas enriquecidos com farinhas e outros;
oAdicionar ovos cozidos picados em saladas, molhos, arroz e macarrão;
oVitaminas com leite integral ao invés de sucos;
oLeite integral em mingaus, molhos e pudins;
oRequeijão ou geléia em pães, biscoitos e panquecas;
oÓleo de canola e azeite de oliva;
SUPLEMENTAÇÃO ORAL

IMC < 18 kg/m² + catabolismo


Perda de peso > 10% em 6 meses + catabolismo
Aceitação alimentar < 50%
SÍNDROME DE REALIMENTAÇÃO
Caracterizada pela depleção de eletrólitos (principalmente,
hipofosfatemia), aumento dos fluídos e descontrole glicêmico, que ocorrem
em pacientes subnutridos durante a realimentação.
Prevenção: monitorar os níveis séricos de P, K e Mg.
Estimativa energética criteriosa!
SÍNDROME DA REALIMENTAÇÃO
HIPOFOSFATEMIA HIPOCALEMIA

✓ fraqueza muscular ✓ arritmia cardíaca, hipotensão


✓ cardiomiopatia ✓ confusão
✓ contratilidade diafragmática ✓ fraqueza muscular, paralisia
✓ perturbação mental, parestesia ✓ depressão respiratória

HIPOMAGNESIA DEF. TIAMINA

✓ arritmia cardíaca ✓ confusão


✓ desconforto abdominal, anorexia ✓ distúrbio ocular
✓ confusão, irritabilidade ✓ tremores
✓ tremores, parestesia, tetania ✓ coma
MONITORAR !!!

• INGESTÃO ALIMENTAR DIARIAMENTE

• PESAR 3X/SEMANA

• ACOMPANHAR OS EXAMES BIOQUÍMICOS

• DADOS ANTROPOMÉTRICOS
COMO PREVENIR?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MUSSOI, T. D. Nutrição: Guia Prático. 1ª edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan,
p. 257-259, 2017.
OLIVEIRA, A. M.; SILVA, F. M. Dietoterapia nas doenças do adulto. 1ª edição. Rio de Janeiro,
Editora Rubio, p. 1-8, 385-390, 2018.
ROSS, A. C. Nutrição Moderna na Saúde e na Doença. 11ª edição. Barueri, Editora Manole,
p. 662-685, 900-912, 2016.

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