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RETORNO AO

PARÁGRAFO
PERDIDO

(Crônicas e reflexões - 2020)

Dartagnan da Silva Zanela


2021
[ 2]
ÍNDICE

ATRAVÉS DO MAR VERMELHO


ENTRE JAGUATIRICAS E QUIMERAS
NA MESMA PRAÇA
ENTRE O ALTAR E A LATA DE LIXO
DE LÁ PRA CÁ
ENTRE O RISO E O CHORO
ACIMA, ALÉM E À FRENTE
O CIRCO CHEGOU
O PRESIDENTE PESTEADO
TRÊS CAUSOS E UMA HISTÓRIA
UMA VIDA PELUDA
UM PEQUENO PASSO PARA CADA UM
DE NÓS
RETORNO AO PARÁGRAFO PERDIDO
QUATRO [quase] VERSINHOS
UMA PEDRINHA NO SAPATO
AS VISAGENS TOMARAM DORIL

[ 3]
ATRAVÉS DO MAR VERMELHO

Entre uma e outra linha nós vivemos.


Entre elas existimos e somos. Essa é uma
das muitas verdades que balizam nosso
peregrinar por esse vale de risos, caretas e
lágrimas.

Sim, todos ouvimos muitas, muitíssimas


pessoas falarem nas salas de aula e,
inclusive, nos botecos que nos acolhem
nas horas faceiras, que devemos aprender
a ler as tais entrelinhas. E detalhe: que
devemos fazer isso criticamente, é claro.

Frente a esses dois pontos que nos são


indicados, pelas mais diversas vozes,
ocorrem-me algumas ideias que, me
parecem, podem ter alguma valia. Se não
tiverem, caríssimo leitor, valeu a
companhia junto a essas palavras e linhas
vadias.

[ 4]
Quando afirmamos que o que mais
almejamos ao ler algo é saber o que está
por trás das entrelinhas, tenho a
impressão de que estamos, sem nos
darmos conta, dizendo, de cara, que
desconfiamos do escrevinhador e que
vamos porque vamos descobrir o que ele
está escondendo maliciosamente de nós,
deixando fora do jogo qualquer
preocupação em sabermos o que o
abençoado tem de fato a nos dizer.

Com essas palavras não estou dizendo qu e


não exista malícia nas páginas escritas.
Não. De jeito maneira. Há muita, como há.
Porém, adotarmos a desconfiança como
ponto de partida não nos ajudará muito
não na compreensão daquilo que um autor
quer porque quer nos comunicar.

Cientes ou não, com uma atitude assim,


acabamos por projetar sobre o texto, e
sobre a pessoa do autor, uma quantidade
de pré-conceitos muito maior do que
[ 5]
podemos imaginar e, ao fazer isso, ao
invés de vermos o mundo através dos
olhos do autor, acabamos por colocar as
nossas lentes no lugar da visão que o
escritor está a partilhar conosco e, desse
modo, acabamos empobrecendo
imensamente a nossa leitura e bem como a
nossa forma de ver o mundo e de encarar a
vida.

Sim, ver o mundo com os próprios olhos


qualquer um é capaz de fazer. Até mesmo
um cachorro. Agora, quando lemos, sem
nos armarmos com desconfianças mil,
acabamos por ver o mundo com as
meninas de nossas vistas e com os olhos
dos autores que lemos e, isso sim, é
fabuloso. É fabuloso porque ao cruzarm os
as várias linhas traçadas pelos mais
variados autores que viveram nos mais
disparatados lugares do mundo, nas mais
diversas épocas, com as mais
estrambólicas crenças, nós acabamos por

[ 6]
ver e compreender o que há para além das
linhas tortas e entrelinhas tíbias.

De mais a mais, penso que seja


interessante lembrarmos que quando
agimos assim, com medo de sermos
enganados, acabamos por nos enganar
com maior facilidade. E não há arapuca
mais difícil de ser desarmada do que
aquelas que armamos para nós mesmos.

Lembremos: é muito mais difícil


admitirmos que nos engambelamos do que
reconhecermos que alguém nos
engambelou.

E é aí, justamente nesse ponto, que entra o


uso massivo e indevido do termo “crítico”
para qualificar o que, muitas das vezes,
não tem qualidade alguma.

Explico-me: quando dizemos para nós


mesmos que somos uma “pessoa crítica”
podemos, com esse dito, querer dizer
[ 7]
muitas coisas. Muitas. Mas, em todas elas
há algo subjacente: que supostamente nós
não somos enganáveis como aqueles que
consideramos “pessoas não-críticas” - pra
não dizer alienadas.

É claro e cristalino que qualquer u m pode


sentir-se assim; isso é da conta de cada
um. Porém, o caminho mais fácil para
sermos feitos de bobo é acreditarmos que
não podemos ser enganados. Ora, todo
bom malandro sabe que tipos assim são
grandes candidatos a otários. E o bom é
que, depois de terem sido feitos de otário,
jamais irão admitir isso. Todo soberbo se
considera um espertalhão.

Da mesma forma que a palavra cão não


morde, a termo “crítico” ou “criticidade”
não torna ninguém mais inteligente ou
esclarecido e, obviamente, não garante de
modo algum que o seu portador irá, de
fato, agir criticamente.

[ 8]
Resumindo o entrevero: se aceitamos qu e
para entendermos um único livro é
necessário que tenhamos lido muitos
livros; se admitimos que é um pré-
requisito indispensável que tenhamos
absorvido e compreendido muitos pontos
de vista, conflitantes e contraditórios, para
iniciarmos uma apreciação crítica, nós
estaremos habilitados para desconfiar qu e
há muito mais a ser conhecido entre o céu
e a terra do que imaginam os criticamente
críticos com suas entrelinhas.

[ 9]
ENTRE JAGUATIRICAS E
QUIMERAS

O tempo urge e, porque ele urge, o danado


nos dá a cristalina impressão de que está a
rugir ao pé do nosso ouvido feito uma
besta-fera que está à espreita da nossa
carcaça para se banquetear com a carne
que recobre nossos cansados ossos.

É. Os prazos nos perseguem mais ou


menos nesse trote. As datas marcadas
buzinam em nossas orelhas, lembrando-
nos que se não cumprirmos a promessa
acordada para aquele dia seremos
advertidos, punidos e sabe-se lá mais o
que poderá acontecer nossa triste figura.

Mas não é no dia marcado que somos


consumidos até o tutano. Não. O trem é
um pouquinho mais doido do que parece.
Só um pouquinho.

[ 10 ]
A besta-fera do tempo vai nos devorando,
lentamente, até que cumpramos o que é
exigido para esse ou para aquele prazo e,
feito isso, Cronos, indigesto, acaba nos
regurgitando, vomitando o nosso corpo e a
nossa alma, mastigados e mais ou menos
digeridos pelos ácidos digestivos dos dias
ansiosos passados em agonia.

Mesmo estando nesse estado sentimo-nos


de certa forma aliviados até que, lá pelas
tantas, nos lembremos do próximo prazo
que temos para cumprir e aí, meu caro,
voltamos na estaca zero.

É. E lá vamos nós mais uma vez, segu indo


pelos carreiros da capoeira da vida,
encarando uma jaguatirica num dia, uma
cascavel noutro e, às vezes, devido ao
acúmulo de obrigações e compromissos
atrasados, que ficaram para ser entregues
em cima do laço, temos de conviver com a
companhia de uma impiedosa quimera

[ 11 ]
grudada em nossa cola, na nossa
caminhada pelas matas da existência.

E todos nós assim vivemos. Não tem lesco-


lesco. Sejamos caboclos metidos e
engravatados ou apenas almas de mãos
farquejadas pela soturna labuta diária,
estamos todos cercados pelas artimanhas
dos prazos, pelos subterfúgios das datas,
pelas arapucas das obrigações e
compromissos que, numa vida vivida a
esmo, sem paragem e sem um rumo que
lhe dê algum sentido, acabam por
preencher o vazio que deveria ter sido
preenchido por nós com algo digno e bom
que não deixasse nossa vida, assim, tão
pequenina como ela é.

Enfim e por fim, prazos, compromissos e


similares fazem parte da vida, não há
quem negue e não temos como nos
esquivar, mas eles não podem e não
devem jamais ser o sentido dos nossos

[ 12 ]
dias, apesar de vermos tantos viventes por
aí, perambulando desse jeitão desajeitado,
sem saber o que fazer sem que alguém, ou
algo, lhe diga o que ser.

Isso sim, meu amigo, é que é uma vida de


cão. De cão adestrado e sem pedigree,
mas, mesmo assim, uma mesquinha e
medíocre vida de cão.

[ 13 ]
NA MESMA PRAÇA

“O povo assistiu àquilo – a proclamação


da República - bestializado, atônito,
surpreso, sem conhecer o que significava.
Muitos acreditaram seriamente estar
vendo uma parada”. Essas palavras foram
escritas e publicadas, como todos bem
sabem, pelo jornalista republicano
Aristides Lobo logo após o golpe que deu
fim à monarquia no Brasil que, naquela
altura do campeonato, já estava com a
coroa no colo, dentadura no copo e ruim
das pernas.

Há também quem o diga que após todo o


fervo que foi armado pelos militares,
Deodoro da Fonseca teria bradado, em
alto e bom tom um “Viva D. Pedro II”.
Houveram outras historietas saborosas e
picantes em torno desse acontecido, mas,
espere aí: será que o povo pode ser
considerado “besta” só por não ter levado

[ 14 ]
a sério essa birosca [depre]cívica? Acho
que não. O historiador José Murilo de
Carvalho também.

Descartando o coringa para fora do


baralho, podemos dizer que, de certa
forma, o povo não era e não é bobo não. Às
vezes, muitas vezes, ele acaba sendo feito
de bobo, mas ele não é não seu moço. Não
é não.

Aliás, muitos dizem que povo não sabe


votar. Não concordo. Na real, acho que os
populares, individualmente, são
portadores duma sabedoria incomum qu e
irrita profundamente as pessoas
diplomadas que creem estar autorizadas a
falar do alto do seu bacharelismo em nome
dos esquecidos.

Parêntese: Ao contrário dos doutos, cheios


desses trens fuçados que eles chamam de
“responsabilidade social” e “consciência

[ 15 ]
crítica”, não acho legal ficar falando em
nome de ninguém, de grupo nenhum.
Penso que deveríamos falar apenas e tão
somente em nosso nome. No meu caso, sei
que isso não é grande coisa. Na verdade, é
praticamente coisa alguma, mas é o que
tenho e isso, pra ser franco, me basta.
Fecha parêntese.

Gente assim, que acredita ser um “agente


de mudança social”, de certa forma acaba
sendo uma espécie de herdeiro do velho
Aristides Lobo. Esse senhor, como
praticamente qualquer militante de
qualquer tranqueira, acreditava ser o
porta-voz legítimo da sofrida multidão
silente.

É. Enquanto está de acordo com seu brado


o povo é retumbante, mas se ousar
colocar-se contra as suas proclamações, o
povo torna-se aos seus olhos, num estalar

[ 16 ]
de dedos, uma chusma de ignorantes
infames.

Ignorantes. Ignaro era ele e todos aqueles


que veem os simples como um simplório
instrumento para as maquinações das suas
ideologias.

De mais a mais, não é que o povo não


saiba votar ou que não entenda nada do
entrevero que está sendo macaqueado
diante de seus olhos. Nada disso. O tal do
povo apenas joga com as cartas que tem e
com os parcos recursos que dispõem.

E tem outra: se levarmos isso em


consideração podemos, sim, iremos
concluir que o povo brasileiro é muito
mais sabido que os bacharéis e demais
diplomados dessa pátria infeliz,
principalmente se levarmos em conta os
recursos intelectuais que essa gente de fala

[ 17 ]
bonita tem, ou que, ao menos, presumem
ter.

Os humildes fazem o que podem com o


pouco que tem e, no frigir dos ovos,
acabam fazendo muitíssimo com esse
pouco, enquanto muitos doutos e um bom
tanto das “otoridades” públicas fazem o
que fazem sendo o que são.

Sim, o Zé do povo erra e, normalmente,


está ciente disso. Já os doutos erram,
como erram, e acham isso uma lindeza só.

Sem mais delongas, digo que o povo não


assistiu e não assiste os eventos políticos
com cara de besta por ser tonto. Não. Seja
no 15 de novembro de 1889, seja hoje, seja
em qualquer tempo, o povo sabe
razoavelmente bem que o que está sendo
encenado diante de suas vistas, ele sabe
que é apenas mais uma garbosa baboseira;
mais uma como tantas outras que foram e

[ 18 ]
que serão apresentadas em seu nome por
fulaninhos engomadinhos e sem
procuração.

[ 19 ]
ENTRE O ALTAR E A LATA DE LIXO

Um sábio é capaz de mudar de opinião e


não morre por isso; o boca-aberta não,
esse é capaz de acabar com o mundo, mas
não muda de jeito nenhum. Dizem por aí
que quem falou isso foi o mané do Kant.
Bobagem. Até onde sei quem disse isso foi
seu Tibúrcio ao Nhô Juvêncio.

Independente de quem seja o pai da


sentença, temos aí uma puta verdade que
revela algumas inconveniências que,
frequentemente, preferimos varrer para
debaixo do tapete da vida.

Uma delas: nós estimamos demais nossas


opiniões, ao mesmo tempo em que
fazemos pouco caso da procura sincera
pela verdade.

Uma opinião é, por definição, uma


impressão imprecisa sobre algo;

[ 20 ]
impressão essa que deveria [e deve] ser
devidamente trabalhada, lapidada por nós
através da obtenção de mais informações,
da confrontação com outros pontos de
vista e, é claro, com o auxílio de uma
reflexão bem bandida sobre tudo isso com
o intento abnegado de obter uma
compreensão mais clara sobre a verdade
que se faz latente nos fatos.

Devemos fazer isso não para,


necessariamente, obtermos a confirmação
de nossa opinião, pois, gostemos ou não,
ela pode estar errada, redondamente
errada.

Por isso, o sábio é capaz de mudar de


opinião, porque ele está à procura da
verdade, não da confirmação de suas
impressões; ele não está muito
preocupado com a pose de sabido. Já o
tonto não, para ele suas opiniões são
quistas como “verdades” incontestes e, por

[ 21 ]
isso, elas são parte fundamental de sua
fantasia de sabichão.

Tem outra: em nossa sociedade há, desde


longa data, um culto bem bobinho que é
feito aos símbolos de status social e, nesse
sentido, o diploma, a educação formal e
seus salamaleques, ganham uma
importância sem par; isso se deve, em
muito, ao fato de que muitas pessoas não
tem o menor amor ao conhecimento,
restando apenas a ostentação tola de
símbolos que, como direi, não tem
substância alguma.

Parêntese: toda ostentação é boba, mas


essa é campeã. Fecha parêntese.

E reparem numa coisa, que aprendi com


seu Tibúrcio e com o Nhô Juvêncio: todo
caboclo que valoriza demais os símbolos
de status social, geralmente não tem nada
de significativo pra dizer sobre coisa

[ 22 ]
alguma, porque seu coração não estava e
não está voltado para a direção da procu ra
sincera pelo conhecimento da verdade.

Qualquer um que valore demais tais


símbolos quer apenas algum
reconhecimento, alguma distinção para
adornar sua opinião, pouco importando se
ela está ou não apontando para a direção
da verdade.

É. Por isso que a imagem de um sábio está


mais próxima do perfil de um homem
comum do que da figura dum douto
diplomado. Desde os tempos de Sócrates -
que antes de qualquer coisa era somente
um homem comum – a humanidade sabe
disso.

Sabemos, mas varremos isso para debaixo


do tapete da história.

[ 23 ]
O sujeito comum, que ganha a sua vida
com o trabalho de suas mãos, sabe que sua
opinião é apenas o que é: uma impressão
vaga e confusa sobre algo, por isso muda-
a, corrige-a e, se preciso for, joga-a fora
sem o menor pudor.

O diplomado não. Esse constrói sua vida,


seu precioso currículo, sobre opiniões
vagas e ideologias confusas, ganhando su a
vida com isso e, por essa razão, quando se
depara com a verdade, fica bambo das
pernas; mas não renuncia a elas em favor
da simplicidade da verdade; se as renegar
estará admitindo que sua vida até ali foi
um tremendo autoengano.

É. Eu sei: isso é triste pra caramba, mas é


assim mesmo que a banda toca.

Para ser franco, por mais que doa, penso


que isso é necessário, que confessemos no
tribunal de nossa consciência essas

[ 24 ]
vergonhas existenciais. Sim, fazer isso é
algo humilhante, mas necessário para nos
emendarmos e, quem sabe, possamos nos
tornar gente de verdade.

Sócrates, Santo Agostinho e tantos ou tros


sabiam disso, seu Tibúrcio e Nhô Juvêncio
também e, ao que parece, apenas nós não
estávamos por dentro desse barato de qu e
uma opinião se muda, a verdade se
procura e a vida se confessa diante do altar
da consciência.

Ponto. É isso. Fim de causo.

[ 25 ]
DE LÁ PRA CÁ

A vida é Drurys, o mundo dá vodkas;


cerveja só e Campari as coisas. Não sei se
você sabe, imagino que saiba, que em 1922
comemorou-se os cem anos da
independência do nosso triste país. Tinha
de tudo: desfiles cívicos, festas,
publicações, cartazes, discursos e, em
meio aos festejos, discutia-se os rumos que
o Brasil deveria tomar para se tornar u m a
estrela de destaque em meio as
constelações das grandes nações.

Um dos temas que se colocava na mesa


dos debates era se o nosso país deveria ou
não adotar uma ditadura. Isso mesmo:
uma ditadura. Dentre as intervenções qu e
clamavam por isso, temos um discurso que
fora feito por Gilberto Amado na Câmara
dos deputados que causou um baita
estardalhaço na época.

[ 26 ]
Pois é. Passaram-se os anos e, como todos
nós sabemos, de lá pra cá degustamos o
cálice da ditadura do Estado Novo e do pós
64 e, cá estamos no século XXI, próximos
do bicentenário da independência desta
choldra que tanto amamos e vejam só
como o mundo dá vodkas: aqui estamos
mais uma vez discutindo a dita-dura. Hoje
parla-se sobre a necessidade de evitar ou
não uma ditadura, porém, duma forma
bem dissimulada, diga-se de passagem.
Tenta-se dissimular, mas a verve
totalitária à esquerda e o timo autoritário
à destra estão bem à vista de quem quiser
ver.

Detalhe importante: a tigrada que mais


sonha com uma ditadura é justamente
aquela que se esconde sob os andrajos de
discursos furibundos onde afirmam
enfaticamente que eles - os
autoproclamados tolerantes e
democráticos - estão “lutando” para

[ 27 ]
defender as tais “instituições”, declarando,
em alto e bom tom, que são favoráveis às
bandeiras “pró-democracia” e contra as
“fake News”, seja lá o que isso queira
dizer. Do outro lado temos um punhado de
viúvas do AI-5 que não cansam de dar os
seus chiliques.

Na verdade, é sempre mais ou menos


assim. Não há um único tirano na face da
terra, não há uma única multidão
militante nesse quadrante da galáxia, que
não tenha o seu coração todinho tomado
por boas intenções, querendo combater
um suposto mal maior recorrendo ao uso
dum hipotético mal menor em nome du m
vago bem absoluto.

Parêntese: isso sem falar nos bonitões


togados que querem dar uma de
Voldemort e calar todo mundo num passe
de mágica para salvaguardar as tais

[ 28 ]
“instituições demo...cráticas”. Fecha
parêntese.

São praticamente cem anos da mesma


lenga-lenga; com uma roupagem meio
diferentona, mas a mesma lenga-lenga que
de certa forma não tem cura, tendo em
vista que ninguém, seja a bombordo ou a
estibordo, está disposto a se emendar e
fazer um mea-culpa.

Enfim, a vida é Drurys mesmo, o mundo


dá vodkas, cerveja só e Campari as coisas,
todas elas e vejam só onde chegamos,
juntos, misturados e polarizados. É. Não é
à toa que estamos tendo tantas e tantas
dores de cabeça.

[ 29 ]
ENTRE O RISO E O CHORO

Não dou muito valor para nenhum tipo de


vitimismos, não importa de onde venha o
choro. Não dou trela nem mesmo para o
meu próprio chororô que, uma vez ou
outra, tenta assaltar minha alma e levar
algo de mim. Digo isso não por maldade,
nem pra fazer pose de durão, longe disso,
tendo em vista que sou louco de chorão.

Falo sobre esse espinhoso tema porque no


mundo atual grande parte dos lamentos
tem uma certa aura de teatralidade. Isso
mesmo. Teatralidade. Já repararam nisso?
Todo mundo, que não vive imerso no
cálice das ideologias, e que não é possu ído
pelos cacoetes mentais politicamente
corretíssimo, reconhece com relativa
facilidade a diferença que há entre uma
dor sentida e uma encenação midiática
dolorosa.

[ 30 ]
Aprendi isso, faz tempo, com Dona
Yolanda e com a Dona Tomazina e,
frequentemente, tenho matutado muito
sobre isso nos faxinais silentes de minha
alma, com meus alfarrábios, junto ao chão
bruto do meu rancho.

Por isso prefiro os memes. Explico-me: o


riso, como nos ensina Carlos Heitor Cony,
na maioria das vezes é espontâneo e fala
muito mais daquilo que há no coração
humano do que as lágrimas do mundo
contemporâneo. Aliás, quem está com
raiva e rancor no coração dificilmente
consegue encontrar graça num gracejo,
tendo em vista que é muito mais difícil
dissimilar uma gargalhada gostosa que
encenar um pranto fingido.

E tem outra. Essas pobres almas acabam,


inevitavelmente, projetando seu amargor
sobre humor e aí, o que acabemos por ter,
é somente aquele azedume politicamente

[ 31 ]
correto que todos nós conhecemos muito
bem.

E o trem fica pior ainda quando tentam


fazer uma anedota porque, quanto fazem,
acaba saindo aqueles troços que são
maquinados simplesmente para chocar,
não para fazer rir.

Não estou dizendo que as lágrimas não


tem valor e que a dor sofrida deveria ser
menosprezada. Nada disso.

O que digo é que essa chusma de almas


inflamadas pelo politicamente correto, de
tanto instrumentalizar ideologicam ente o
sofrimento humano, acabaram por
banalizar o real valor de um coração
apertado pela dor.

De mais a mais, penso que seja importante


lembrarmos que todas as hostes
totalitárias que flagelaram o século XX,

[ 32 ]
começaram sua, como direi, “carreira”,
com aquela choradeira artificiosa de
vítimas da história, do mundo, de tudo e
de todos, bradando aos quatro ventos que
eram perseguidos e assim por diante e,
quando os tempos estavam maduros, as
lágrimas cênicas davam lugar para
agressões verbais, morais, psíquicas,
físicas e, tudo isso era feito e devidamente
justificado por sua midiática condição de
vítima e, catapimba, tínhamos todos os
caminhos abertos para a implantação dum
regime totalitário.

É. Quando voltamos nossos olhos para os


passos iniciais do fascismo, do nacional-
socialismo (nazismo) e dos mais variados
matizes socialistas, encontramos
invariavelmente pinceladas similares, com
variados tons, da mesma triste gravura.

Não há dúvida alguma que todos aqueles


que sofrem devem ser consolados, como

[ 33 ]
também, penso eu, que não há nenhuma
dúvida de que a instrumentalização
política do sofrimento não conforta o
coração da alma sofredora, principalmente
quando o grito de dor acaba sendo
sufocado pelos ecos midiáticos de um
projeto totalitário de poder.

[ 34 ]
ACIMA, ALÉM E À FRENTE

O jornalismo, em sua essência, seria um


servo da sociedade. Isso mesmo: um servo
que procura informar a todos com maior
fidedignidade possível aos fatos e com
resoluta sinceridade.

Desenrolando esse carretel: não há nada


de errado se um comunicador, um
formador de opinião, for de esquerda, de
direita, do centro, do avesso ou de
revesgueio. O que realmente interessa é
sabermos se o caboclo procura ser, de fato,
intelectualmente honesto.

Não é de neutralidade que estamos


falando. Aliás, esse papo de neutralidade,
em si, já é um claro sinal de falta de
integridade, pois ela, a suposta
imparcialidade, é o esconderijo preferido
dos canalhas.

[ 35 ]
Uma pessoa honesta, em termos
intelectuais, não é neutra diante de um
erro, nem imparcial frente a verdade.

Dentro de nossas humanas limitações


devemos nos esforçar para identificar os
inúmeros erros e rastrear as pistas
deixadas pela verdade. Se não temos esse
sincero intento em nosso coração, o
melhor que temos a fazer é abandonar os
betes e ir brincar de outra coisa.

Doravante, se dermos um passo para


diante, podemos dizer que todo bom
profissional de comunicação deveria
apartar em sua fala o que seria a dita cuja
da notícia e o que seria o seu
entendimento sobre o que foi noticiado,
sempre deixando claro o seu
posicionamento; de modo similar a São
Paulo Apóstolo, que em suas epístolas
separava, de maneira cristalina, o que lhe
fora revelado pelo Espírito – ou seja, a

[ 36 ]
Verdade - e o que era meramente
orientação sua, um ponto de vista dele.

Por isso penso que temos muito a


aprender com as epístolas daquele que se
fez tudo para falar a Verdade ao coração
de todos.

Enfim, tudo isso é muito simples, de fácil


compreensão, porém, “sacumé”, essa tal
probidade intelectual está meio que em
falta nos dias em que vivemos.
Infelizmente.

De mais a mais, poucos estão dispostos a


admitir sua dose de culpa nesse entrevero
todo. Sim, isso é algo meio que difícil, bem
difícil, tendo em vista a soberba
intelectual, fantasiada de relativismo, qu e
acabou por tomar o lugar da probidade
intelectual no século XX e que impera nos
corações diplomados do começo deste
século XXI. Soberba essa que, por sua

[ 37 ]
porca natureza, corrompe tudo aquilo qu e
toca.

Não é à toa que parte significativa da


grande mídia, da academia e dos
formadores de opinião presumem ser os
árbitros da sociedade, caindo na tentação
de instrumentalizar as informações ao
invés de humildemente comunica-las.

Não é por acaso que as redes sociais estão


tomadas por haters que vagam a esmo
pelos bits silvestres procurando algum
perfil desavisado para, sob e sobre ele,
defecar suas abjetas maquinações
cerebrinas, imaginando, é claro, que por
fazer esse serviço suíno estão agindo
criticamente em nome dum mundo
melhor.

Por fim, como havíamos dito antes, pou co


importa a posição política que adotemos, o
que realmente interessa é que não

[ 38 ]
coloquemos nossas convicções, crenças e
crendices acima da verdade, além da
honestidade e à frente da humildade.

[ 39 ]
O CIRCO CHEGOU

De tempos em tempos a lona do velho


circo é armada nas praças das cidades e
nos pátios das redes sociais.

Sim, um circo bem mambembe, cujas


apresentações além de serem
praticamente as mesmíssimas de sempre,
frequentemente são sem graça pra
caramba. De tão sem graça que acabam
virando piada nas conversas de bar e nos
grupelhos de whatsapp.

O circo é nada mais nada menos que o dito


cujo ano eleitoral. Ou seria eleitoreiro?
Tanto faz. No frigir dos ovos [depre]cívicos
dessa tristonha nação acaba tudo
desembocando no mesmo lamaçal, para a
alegria de todos e para infelicidade geral
das repúblicas municipais.

[ 40 ]
São tantas as histórias, tantos os causos,
que um pleito eleitoral acaba rendendo
que, se juntássemos todos numa única
brochura, teríamos um livreto
divertidíssimo ou, quem sabe, ao menos
uma série de crônicas [agudas] se, é claro,
a preguiça não acabar nos deixando com
as mãos atadas e nos impedir de fazer essa
empreitada sair da prancheta.

De todas as fanfarronices que nos são


apresentadas nessa fuleira micareta há
uma que já está começando a despontar.
Não sei aí na sua cidade, amigo leitor, mas
aqui em Lalalândia, e bem como em
Cafundó, algo tragicômico já está raiando
no horizonte.

De repente, ninguém sabe como, os


cidadãos, no conforto dos seus lares, junto
ao dos seus familiares, estão começando a
ver figuras que, até a pouco, estavam
praticamente sumidas.

[ 41 ]
Parece filme de suspense, mas não é.

Uns acreditavam que tais figurinhas


teriam sido abduzidas, outras que foram
sequestradas por reptilianos, sugadas por
algum portal dimensional, enfim, seja
como for, ninguém mais tinha notícias
desses caboclos.

Outros, mais bocudos, dizem que tais


indivíduos que estavam sumidos
passaram, literalmente, os últimos qu atro
anos com o rei na barriga, sem alevantar
os zóios para além das cercanias de seus
umbigos festeiros, por isso ninguém os
via. Só isso.

Bem, de minha parte não sei dizer o que


exatamente aconteceu. A única coisa que
sei, e isso posso contar, é que num passe
de mágica, inúmeras figuras, meio que

[ 42 ]
disfarçadas, começaram a dar o ar da
graça.

Não só isso! Elas transfiguraram-se da


noite para o dia em poços de simpatia e
afeição por qualquer um que esteja
caminhando pela rua ou que se encontre
meio que descuidado navegando pelas
redes sociais.

Daqui a pouco são bem capazes, inclusive,


de fazer visitas na casa das pessoas, não
apenas nos grupos do zap; uma hora
dessas vamos acabar encontrando-os nas
missas e vê-los na porta das Igrejas
desejando bons votos aos fiéis e - quem
sabe, e porque não – aproveitando a
ocasião para entregar um santinho para
convidar a todos para o espetáculo que,
mais uma vez, se repetirá aqui e acolá.
Quem viver verá.

[ 43 ]
Enfim, o circo está aí e, ao que parece,
nunca deixou de aqui estar e, ao que tudo
indica, não nos deixará tão cedo assim.

[ 44 ]
O PRESIDENTE PESTEADO

O Presidento da República contraiu a


peste. Sim, já estamos sabendo do babado.
Que coisa. Mas, como ele havia dito: vida
que segue.

Entretanto, a galerinha da tolerância,


aquela gente democrática até o tutano,
antifascista, limpinha também ficou
sabendo e está clamando aos céus para
que Bolsonaro venha a óbito. É. Eles
querem que o homem m-o-r-r-a.

Sim, todos vimos as manifestações de


“ódio do bem”, com máscara e
desinfetante, pelos quatro cantos das
redes sociais e nas páginas de alguns
veículos da mídia chique e, é claro, que
isso não é discurso de ódio não. É apenas a
mais pura fofura democrática. Parecia até
uma coreografia dos ursinhos carinhosos.

[ 45 ]
Bem, diante dessa bagaça toda, uma
questão veio pro limpo: Bolsonaro tomou,
de cara, e está tomando, a tal da
hidroxicloroquina, o “medicamento do
mal” e, ao que parece, ele está se
recuperando rapidinho de troço-19.

É. Isso mesmo. Tudo indica que o


“remedinho do mal” funciona
razoavelmente bem. Quer dizer, muitos já
sabiam disso, só não diziam e a razão
desse silêncio é um mistério não tão
misterioso assim.

Pois é. Agora resta-nos aguardar o


pronunciamento dos estadistas
“responsáveis” e dos arautos da "ciência"
sobre o caso. O que será que eles irão
dizer?

No mínimo vão falar que a cloroquina não


tem nada que ver com o assunto; dirão que

[ 46 ]
Bolsonaro ficou são de lombo rapidinho
por causa do histórico de atleta dele.

É isso. Fim de causo.

[ 47 ]
TRÊS CAUSOS E UMA HISTÓRIA

CUTI-CUTI - Putz grila! Mas eu sou lerdo


mesmo frente a esse mar de informações
(Graças a Deus). Somente hoje, isso
mesmo, só hoje que eu fui ver que a
galerinha tolerante, limpinha, f-o-f-a e
cheirosa havia criado a hashtag “força
covid”, pra torcer, com os dedinhos
cruzados, pela morte do presidento. Que
coisa hein. É. É muito “ódio do bem” na
causa. E é claro que ninguém vai dizer qu e
isso seria algum tipo odioso e odiento de
“discurso de ódio”. Claro que não. É só
uma respeitosa e afetuosa discordância
democrática bem cuti-cuti.

# # #

TONS DE CINZA - Começo de causo: STF,


deputados e senadores, governadores,
presidas e prefeitos; se cada um está, do
seu jeitão, se borrando de medo da

[ 48 ]
população, isso é um troço louco de bão. O
nome que se dá para esse trem é liberdade.
Isso mesmo. Liberdade.

Agora, vermos boa parte da população


tremendo nas bases, com medo dessas
vetustas figuras - com suas caricatas
feições e estranhos trejeitos - não é nada
bom, porque, o nome disso, desde priscas
eras, é tirania. Isso mesmo: tirania. Não
tem outro nome não. Fim de causo.

# # #

NO WHATSAPP - Astrogildo resolveu


conversar com Godofredo pelo zap: “Boa
noite”. “Boa”. “Cara”. “Diga”, “Não coloque
seus pés pra fora de casa!” “Por quê?”
“Porque não há nenhum artigo científico
publicado que diga que isso seja algo
seguro seu irresponsável!” “Ah! Entendi.
Obrigado”. “De nada”. “Viu”. “Diga.”
“Antes dessa zona ‘pandêmica’ havia

[ 49 ]
algum artigo científico que dizia que sair
pra rua seria algo inseguro?” “Acho que
não. Por quê?” “Por nada”. “Sei”. “Você
saía de casa nessa época?” “Sim! Como
todo mundo. E daí?” “N—a—d--a. Só
queria saber se você era assim tão
cientificamente responsável mesmo”.
“Babaca”. “São seus olhos”. “Não dá pra
conversar com você”. “Boa noite senhor
ciência; tenha bons sonhos... com muitas
pipetas”. Astrogildo bloqueou Godofredo
no zap. Só não sabemos se ele fez isso com
base em algum artigo científico.

[ 50 ]
UMA VIDA PELUDA

Estava descalço, de pé no chão,


caminhando sem rumo pelo gramado do
rancho, de zóio na copa do arvoredo vendo
a passarinhada fervendo, cedo do dia,
enquanto tomava aquela xícara de café. A
primeira das muitas que irei tomar até que
o sol se punha no horizonte.

Meu cachorro me vê e, de pronto, coloca-


se a abanar o rabo, a dar uns pinotes e, é
claro, a latir festivamente. Fiasquento
velho.

Mas não é da boniteza do pomar da minha


grota, nem da faceirice do meu velho
amigo canino que quero assuntar nessas
linhas. Não. Infelizmente não é esse o
causo.

Na verdade, estava matutando, enquanto


olhava essas belezuras da vida cotidiana, a

[ 51 ]
respeito do profundo estrago que todo esse
pânico, pandêmico e midiático, causou e
está causando na vida de cada um de nós.

Não me refiro, aqui, nessas linhas


cafeinadas, ao desastre que esse pavor,
fomentado por autoridades
“responsáveis”, com suas consciências
“cientificamente” imaculadas, gerou na
fonte do pão de cada dia de milhões de
pessoas em nosso país, e de bilhões de
pessoas pelo mundo afora. Não é a isso
também.

É. O pessoal do fique em casa a qualquer


preço não parou pra pensar no custo que
isso tudo teria na vida das pessoas e que
continuará a amargar a vida de
muitíssimas nos anos que estão por vir.
Agora é tarde, mas antes tarde do que
nunca.

[ 52 ]
Sim, eu sei, vidas são mais importantes
que a economia, porém, até onde sei, as
pessoas ainda não fazem fotossíntese e,
desde os idos do antigo testamento que o
Pai do Céu não derrama sobre nossas
cabeças nem um punhadinho de maná.

Posso estar enganado, posso até ser um


homem de pouca fé, porém, até o
momento, não vi nada que seja próximo
disso acontecer.

Claro, claro, fiquei sabendo que inú meros


prefeitos e governadores estão querendo
portar-se, diante das telinhas e telões, com
andrajos – de grife – de modernosos
salvadores da pátria, digo, de suas plagas,
todavia, o tiro, ao que parece, saiu pela
culatra e acertou o pé de suas pessoas
cheiinhas de boa vontade sanitária.

Bem, como eu disse, não é sobre esse


babado que quero falar, apesar de ter

[ 53 ]
parlado tanto sobre isso. O que tenho em
mente é o seguinte: além do estrago
material que essa estrovenga acabou
gerando, e que afeta diretamente a vida de
muitíssimas pessoas, temos o estrago
causado no cocuruto de cada um de nós. E,
nesse quesito, a ruína foi feia pra caramba.

Lembro-me sempre, e repito para os meu s


pequenos, que já não são mais tão miú dos
assim, que o medo é mau conselheiro,
péssimo, e, com o tempo, esse trem acaba
se transformando em raiva e ela, por sua
deixa, também não é boa nisso – em dar
conselhos.

Pois é. E o sentimento majoritário em


nossa sociedade, em nossos corações,
atualmente, é um misto de medo e raiva
devidamente ajuntados com um bom tanto
de ansiedade. É. E uma mistura sulfurosa
como essa pode acabar levando as pessoas
a enxergar perigo onde ele inexiste e a não

[ 54 ]
ver nada de mais onde o mal está à nossa
espreita, cafungado o nosso cangote.

Sem nos darmos conta, mascarados e meio


que asfixiados pelas notícias escandalosas
- e tremendamente inventivas – correm os
o risco de acabar dando muito mais
atenção aos nossos medos imaginários,
que são nutridos pela nossa ansiedade, do
que para as lides reais; e, lá pelas tantas,
pelos motivos mais bestas, isso tudo pode
rapidamente transformar-se em uma
senhora raiva doida para se alastrar para
todos os lados feito um rastilho de
pólvora.

Talvez seja bem provável que o amigo


leitor já deve ter sentido nesses dias o
roçar sutil das garras da fúria, impelida
por cenas e acontecimentos banais não é
mesmo? Mas, ainda bem que nós somos
capazes de nos controlar e colocá-la no seu
devido cantinho.

[ 55 ]
O problema é sabermos para qual direção
essa cólera sufocada irá dirigir-se, ou será
dirigida e quanto isso irá acontecer. Tic.
Tac. Tic. Tac...

Enquanto isso, meu cachorro banguela


ladra, abana o rabo e dá seus pinotes,
faceiro da vida, tendo em vista que essa
meleca toda em que nos metemos nada
tem que ver com sua peluda vida canina.
Nós, porém, não podemos e não devemos
dizer o mesmo.

Fazer isso seria uma tremenda cachorrada


de nossa parte.

[ 56 ]
UM PEQUENO PASSO PARA CADA
UM DE NÓS

Infância que a muito se foi. Tempo que


não volta e que, a cada dia que passa, mais
distante fica. Tantas molecagens, tantas
travessuras fizeram parte daqueles idos
que, francamente, se fosse contá-las não
saberia por onde começar. Na verdade,
não começaria de jeito maneira porque h á
certas coisas que dão uma vergonha
danada ainda hoje na gente. Então, calcule
o tamanho das encrencas. Calcule.

De todas elas, uma agora me ocorre e


desavergonhadamente vou contar.
Lembro-me que lá por volta de mil
novecentos e oitenta e não me pergunte
mais, estava eu no alto do morro da
Igrejinha de Faxinal do Céu. É. Morei lá.

Estava com minha bicicleta. Lá do alto


acelerava a bicha velha como se fosse u m a

[ 57 ]
moto e me despinguelava ladeira abaixo,
de ponta cabeça, para no sopé do morro
derrapar nos cascalhos que ali estavam.

Era um trem bonito de se ver e louco de


bão de fazer. Cada nova subida era seguida
dum despinguelamento mais veloz que era
coroado com uma “manobra” mais radical
que a outra (no meu entendimento, é
claro).

Porém, próximo do horário do ângelus,


antes de ir pra casa, resolvi fazer uma
“saideira”. Subi o morro. Fiquei lá no alto,
solito, me achando o fera com o vento nas
melenas. Cerrei meus olhos, mordi os
lábios e me larguei e, quando dei a freada
para derrapar, algo de errado aconteceu.
Capotei. Me estropiei. Fiquei todo ralado.
Não apenas isso! O polegar da minha mão
direita praticamente grudou junto ao m eu
pulso. Bah! Que cagada. Que cagaço.

[ 58 ]
Num primeiro instante chorei. Chorei de
dor e de raiva; e, vendo que nada disso iria
me ajudar, com raiva e chorando, catei a
magrela e fui, meio que mancando, para a
casa dos meus pais que ficava quase no fim
da rua rio das Antas (putz grila! Que nome
lazarento para uma rua).

Enquanto rastejava pra casa, só em meio


àquela linda e fria paisagem, pensava
junto com meu kichute todo empoeirado
que isso é o que acontece quando a gente
quer dar um passo maior que os gambitos.
É o que dá quando imaginamos que
realmente somos a fantasia que
vivenciamos. Que cagada. Que cagaço.
Pois bem, lição aprendida, lição esquecida.

Em nosso triste país, ao que parece, essa é


a regra. Esquecer as lições aprendidas.
Todas elas. Inclusive essa que me ralou
todo. Sim. Aqui nessa terra de botocudos
ama-se de paixão ostentar uma imagem

[ 59 ]
linda, fofa e formosa para tentar, do jeito
que dá, encobrir a nossa jocosa miséria
humana. Quem nunca fez isso que se
apinche de bicicleta primeiro.

Fugimos da tensão que há entre a criatu ra


imperfectível que somos e o dever moral
que nos chama para nos esforçarmos para
tentarmos ser alguém minimamente
melhorzinho e, essa fuga, caracteriza-se
pelo apego insano a uma imagem, a uma
ideia de bondade que vestimos da cabeça
até os pés para parecermos bem na fita na
vã esperança de não mais nos
incomodarmos com essa tensão.

É aquela velha prática de varrer a sujeira


para debaixo do tapete limpando apenas o
caminho por onde o padre passa. Bem,
isso não dá muito certo na arrumação da
casa e muito menos na ordenação da alma.
Mas, mesmo assim, seguimos em frente

[ 60 ]
fazendo isso - hipocritamente - quase que
diariamente.

E o pior é que tal prática, a de varrer a


craca para debaixo do tapete da
personalidade, acaba por levar o seu
praticante a projetar sua consciência na
imagem coletivista que ele faz de si,
alienando-se, suprimindo a capacidade de
se colocar no lugar dos outros e
substituindo-a pela habilidade de medir o
valor da vida alheia pelos contornos de
nossas cracas ideológicas que dão forma a
uma imagem de bom-moço que deforma o
caráter.

Detalhe: quando se cai numa arapuca


dessas, imagina-se que apenas aqueles que
se escondem de tudo com a mesmíssima
imagem seriam pessoas boas.

[ 61 ]
Gente assim não reconhece indivíduos;
apenas identificam-se com coletivos e
rotulam com coletivismo.

Se pararmos pra matutar um pouco


veremos que os piores escroques que
mostram sua pinta nas páginas
amareladas da história acreditavam que
estavam lutando por um mundo melhor,
que estavam defendendo os “frascos” e
“comprimidos”, que lavoravam em favor
da justiça, da igualdade, da fraternidade,
pela liberdade, pelo código de Thundera,
enfim, que estavam cumprindo uma
missão que lhes foi confiada sabe lá por
quem.

Por essas e outras que Thomas Sowell dá o


nome de “ungidos” aos caboclos desse
naipe. Tais indivíduos, sem querer
querendo, lá no fundo de suas
consciências entorpecidas, não têm dúvida

[ 62 ]
alguma quando a nobreza de suas ideias,
valores, intenções e ações.

Tal certeza, ideologicamente carcomida,


dá aos seus praticantes a sensação de que
eles são bons e, quanto aos demais, serão
bons ou maus segundo a vontade deles.
Que coisa hein.

Por isso é interessantíssimo compararmos


os discursos cheios de boa intenção dos
tiranos modernos, juntamente com os
bons sentimentos dos seus seguidores e da
galerinha politicamente correta, com a
vida e as palavras de um santo. Se
fizermos isso iremos constatar que os
primeiros se consideravam e se
consideram pessoas profundamente
perfeitas, impolutas, sem que
necessariamente tenham feito algum bom.
Quanto aos segundos, veremos que eles se
consideravam e se reconhecem como

[ 63 ]
míseros pecadores indignos, apesar dos
seus atos demonstrarem o contrário.

Sim, imagino que nenhum de nós seja u m


Hitler, um Fidel, um Stálin, um Pol Pot,
um Che ou algo que o valha, como também
penso que estamos a léguas de distância
dos pés fatigados dum Santo Agostinho, de
um São Francisco ou de uma Santa Madre
Dulce dos Pobres.

Somos o que somos: apenas pessoas


comuns tentando fazer o que dá,
procurando, na medida de nossas
limitações e na superficialidade de nossas
convicções, não cometer mais erros do que
já cometemos, pois, se o justo peca sete
vezes por dia, imagine só o que pessoas
como eu e você são capazes de fazer num
dia, não é mesmo?

Resumindo o entrevero, penso que


poderíamos dizer junto com o esquecido

[ 64 ]
escritor Humberto de Campos, que
devemos nos esforçar para sermos
senhores de nossa vontade e escravos de
nossa consciência. É mais do que certo que
fazer isso é uma tarefa difícil barbaridade
e, por isso mesmo, creio que seria
interessante trilharmos por essa estrada.

Sim, mais fácil seria ficarmos fazendo pose


de criaturinhas acima do bem e do mal. É
bem mais cômodo. Mas isso, até onde sei,
não nos ajuda muito a nos tornarmos
pessoas melhores, tendo em vista que,
todos aqueles que assim se portam, já se
consideram sumamente bons sem,
necessariamente, serem capazes de
reconhecer o bem.

Enfim, entre os tombos de bicicleta que


levamos junto aos cascalhos caídos na
estrada da vida e a porta da casa do Pai,
temos um longo caminho a percorrer. Eu ,
você, todos nós. Ralados e humilhados,

[ 65 ]
temos um caminho longo para trilhar.
Caminho esse que começa com o
reconhecimento de nossos pecados que
não podem ser extirpados do nosso
coração pela mera propagação, discreta ou
não, de uma ideologia, pouco importando
qual seja ela.

Somente a Verdade com seu amargor


liberta. O resto é mentira e vaidade,
mesmo que defendida e pregada de forma
bem intencionada.

[ 66 ]
RETORNO AO PARÁGRAFO
PERDIDO

Seu Tibúrcio estava sentado na mesinha


do canto da padaria do Nhô Belmiro,
tomando seu pingado de sempre, na
companhia do Otto, até que, de repente,
um guri chegou dizendo em alto e bom
som: “e aí velho! O que você tá fazendo?”
“Estou lendo. Abestado”. “Lendo o quê”?
“Otto Lara Resende”. “Parece chato”. “Não
piá. Chato é outro trem e dá noutro lugar”.
“Credo seu Tiba! Que bicho te mordeu”.
Tibúrcio fechou o livro e mirou o garoto
maroto nos olhos. “Tá bom piá. Diga”.
“Nada. Só queria te sarnear um pouco”. O
Velho estrangulou o menino com um olhar
fulminante. O silêncio se fez presente
entre os dois por alguns segundos. O
menino sorriu; deu um abraço apertado no
senhorzinho e saiu. “Vou indo pro ginásio
seu Tiba!” “Vá! Vá! E juízo!” O velho ficou
silente, pensativo, balançou a cabeça,

[ 67 ]
franziu a testa e, calmamente, deu um
golaço no resto do seu pingado; colocou o
copinho sobre o guardanapo e rasgou o
restinho do silêncio que ficou soltando
aquela gargalhada que só ele sabe dar.
“Que foi isso velho louco!” “Nada Belmiro.
Nada”. “Quer mais um pingado”? “Por
favor. Demorou...”

[ 68 ]
QUATRO [quase] VERSINHOS

O caminho é silente e calmo


Quando da cilada estamos
Á distância de um palmo.

# # #

Toma cascudo no cocuruto


Quem procura pelo em ovo
O tempo todo em tudo.

# # #

Basta um ponto bem firme


E conseguiremos mover tudo
Pra um lugar mais íngreme.

# # #

As zombarias impudicas da lacrosfera


Um dia serão pesadas na balança
Da Verdade e das leis eternas.

[ 69 ]
UMA PEDRINHA NO SAPATO

Tem um trem, lá pras bandas da


Amazônia, chamado pelos índios de
“uirarí”, que é extraído de uma planta
chamada por eles de “curare”. Esse trem é
um diacho de venenoso. É usado para
caçar. Basta um cadinho na ponta da
flecha, ou do dardo, que qualquer animal
que for atingido entregará os pontos.

Dizem que a vítima primeiro fica atônita e,


logo em seguida, vem as primeiras
vertigens junto com alguns vômitos e, em
dois palitos, já surge do nada o meme do
caixão. E, ao que parece, a bagaça não tem
antídoto não.

É. Esse tal de “uirarí” é admirável mesmo.


Mortalmente admirável.

Falando-se em admirável, se tem um


caboclo que tem uma vida porreta é o tal

[ 70 ]
de Santo Antão, também conhecido como
Santo Antônio do Egito. É difícil não
afogarmos nossos zóios em lágrimas com
as notícias de sua vida que nos chegam
através das páginas escritas por seus
biógrafos.

Há uma passagem, que agora compartilho,


que remonta os primeiros anos após a su a
conversão onde, após um período de jejum
e oração, Nosso Senhor apareceu e disse a
Antão que ele deveria aprender a rezar
como o sapateiro de Alexandria para
ganhar o reino dos Céus.

Ao ouvir isso o homem levantou-se e zaz


zaz colocou-se em passo acelerado na
direção da cidade para ver se encontrava o
dito cujo do sapateiro para aprender
direitinho as rezas.

Procurou, procurou, até que lhe


mostraram o fazedor de sapatos, silente,

[ 71 ]
sentado à porta de sua oficina, de olhar
sereno, pernas cruzadas, costurando o
couro enquanto via as pessoas
perambulando pra lá e pra cá. Sem
demoras foi até ele.

Os dois ficaram horas e horas assuntando


sobre a vida e a respeito dos mais variados
assuntos até que chegaram na história da
conversão do humilde sapateiro. Ele
contou a Antônio tudo como aconteceu e,
então, ele tomou peito e perguntou ao
homem como ele rezava e, mais ou menos
desse jeito, respondeu: sabe moço, eu fico
aqui, o dia todo, cumprindo com minhas
obrigações e vendo as pessoas viverem as
suas vidas e aí, digo nos átrios do meu
coração, todo dia, o dia todo, a seguinte
jaculatória: todos irão se salvar, todos,
menos eu.

Todos irão se salvar, todos, menos eu.

[ 72 ]
Caramba. Ainda hoje, mesmo depois de
tantos anos que li pela primeira vez essa
historieta, me arrepio. Não preciso nem
dizer, mas o farei: Santo Antão aprendeu
direitinho como rezar. Quanto a mim, não
posso dizer o mesmo, tendo em vista que
sou, como diz Rubem Braga, um cretino
por profissão. Que vergonha. Que baita
sem vergonha.

Saindo dos primeiros séculos da


Cristandade, cá estamos nós, em meio a
um mundo cuja mentalidade se vê
agrilhoada pelos trejeitos e cacoetes
politicamente corretos que, enquanto
subproduto do marxismo e de modo
sorrateiro, nos adestram a agirmos duma
forma bem diferente.

Uma pessoa, quando se identifica com u m


grupo, com um partido, com um
movimento político [dito social] ou algo
que o valha, passa a crer que aderiu a

[ 73 ]
construção de um mundo “mais melhor de
bão” e, por isso, acaba por acreditar que
ela e os seus companheiros estão acima de
qualquer julgamento, sentindo-se
autorizados a fazer qualquer barbaridade,
tendo em vista que tudo isso é em nome de
uma boa causa. Aliás, toda
monstruosidade é perpetrada em nome de
uma boa causa.

Por isso, nesse caso, a reza é diferente da


prece do Santo: todos irão se salvar se nós,
os limpinhos, dissermos que elas podem
ser salvas [e Deus que não se meta no
assunto].

Quanto aos condenados, esses serão


cancelados pelo eco das vozes
despersonalizadas da multidão agrupada
em torno das palavras de comando que
emanam do monstro ideológico
desprovido de coração que amortizou a
consciência de cada membro da turma.

[ 74 ]
É. Espírito de legião é assim mesmo. Bem
desse jeitão.

De todos os cacoetes mentais


politicamente corretos que foram
disseminados pelos grupos que se arrogam
a condição de porta-vozes dos “frascos” e
“comprimidos”, e que engessam qualquer
possibilidade de diálogo, temos um que,
no mínimo, é curioso: o tal “lugar de fala”.

Vejam só como são as coisas: se uma


pessoa não pode falar nada à outra porqu e
ela não viveu uma vida similar a dela,
porque não sofreu o que ela sofreu, de cara
temos duas perdas tremendas. A primeira
é a própria inviabilidade do diálogo, tendo
em vista que ninguém pode dizer nada a
ninguém porque cada um está no seu
quadrado e não tem como se colocar no
redondo do outro.

[ 75 ]
Segundo: se apenas e tão somente os
membros do meu clubinho podem falar a
respeito de nossas incongruências, nós
acabamos inviabilizado qualquer
possibilidade de empatia, de construção de
pontes para que os outros possam ver o
mundo através dos nossos olhos e vice-
versa.

E não é só isso. Duma forma muito su til e


sofisticada, os indivíduos que aderem a
esses subprodutos ideológicos acabam se
colocando acima de qualquer crítica,
acreditando, sinceramente, que eles
seriam almas puras, redentoras da
humanidade; não porque são como o
sapateiro de Alexandria, mas porque são
filiados ou simpáticos a um partido
político, ligados a um movimento dito
social, com sua vida alicerçada numa
ideologia totalitária que, como toda
ideologia, promete a edificação do paraíso
na terra por pessoas que, como elas,

[ 76 ]
sentem-se incorruptíveis, apesar de serem
apenas o que são.

Tal situação, como todos sabemos, acaba


por estimular o aprofundamento das
diferenças humanas de todos os naipes e,
subjacente a isso tudo, temos o fomento
dos mais variados tipos de conflito.
Homens contra mulheres, negros contra
brancos, homo contra héteros, tudo contra
todos, reificando as minorias, usando-as
como um reles instrumento para
realização de seu projeto político de poder
ao mesmo tempo que dizem ser seus
inquestionáveis representantes.

É. E aí daqueles que ousarem não calçar o


sapato identitário que lhes é imposto pelos
porta-vozes “do bem”, do “ódio do bem”.
Com certeza receberão na testa o “rótulo
de besta”, de párias, para perambular num
apocalipse sem juízo final, porque a

[ 77 ]
sentença já foi dada por eles com base em
suas crendices políticas.

Enfim, podemos dizer que o politicamente


correto, com suas cizânias semeadas em
todos os cantos do nosso triste país, seria o
“uirarí” das tribos da “fofura totalitária”
que prometem um dia construir um
suposto “mundo mais melhor de bão” na
base da calúnia e do rancor
ideologicamente manipulando, agindo
com virulência contra todos aqueles que
não rezam na mesma capelinha do
Butantã.

Mas esse “uirarí” tem antídoto. Tem sim


senhor. É a oração do sapateiro de
Alexandria que foi aprendida por Santo
Antão.

É isso aí. Simples assim, por isso


complicado. Complicado porque
insistimos em continuar cultivando essa

[ 78 ]
surrada pose bestial de cágado engajado e
tranquilo.

[ 79 ]
AS VISAGENS TOMARAM DORIL

Antigamente, quando encontrávamos


alguém cujo santo não batia com o nosso,
dizíamos para nós mesmos que estávamos
rezando pouco, tendo em vista a visagem
que apareceu para nos assombrar.

Hoje, os tempos são outros. As pessoas


simplesmente sumiram, desapareceram,
escafederam-se. Todas elas. Nem feras,
nem malas tem ultimamente dado as
caras.

Mas isso não é motivo pra pânico não.


Nada disso. É bem possível que o
Altíssimo esteja atendendo as nossas
preces e nos livrando de todos os males e
malas que até então nos assombravam.

É. Deus não tarda, meu amigo. Deus não


tarda. Ele capricha.

[ 80 ]
[ 81 ]

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