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PARÁGRAFO
PERDIDO
[ 3]
ATRAVÉS DO MAR VERMELHO
[ 4]
Quando afirmamos que o que mais
almejamos ao ler algo é saber o que está
por trás das entrelinhas, tenho a
impressão de que estamos, sem nos
darmos conta, dizendo, de cara, que
desconfiamos do escrevinhador e que
vamos porque vamos descobrir o que ele
está escondendo maliciosamente de nós,
deixando fora do jogo qualquer
preocupação em sabermos o que o
abençoado tem de fato a nos dizer.
[ 6]
ver e compreender o que há para além das
linhas tortas e entrelinhas tíbias.
[ 8]
Resumindo o entrevero: se aceitamos qu e
para entendermos um único livro é
necessário que tenhamos lido muitos
livros; se admitimos que é um pré-
requisito indispensável que tenhamos
absorvido e compreendido muitos pontos
de vista, conflitantes e contraditórios, para
iniciarmos uma apreciação crítica, nós
estaremos habilitados para desconfiar qu e
há muito mais a ser conhecido entre o céu
e a terra do que imaginam os criticamente
críticos com suas entrelinhas.
[ 9]
ENTRE JAGUATIRICAS E
QUIMERAS
[ 10 ]
A besta-fera do tempo vai nos devorando,
lentamente, até que cumpramos o que é
exigido para esse ou para aquele prazo e,
feito isso, Cronos, indigesto, acaba nos
regurgitando, vomitando o nosso corpo e a
nossa alma, mastigados e mais ou menos
digeridos pelos ácidos digestivos dos dias
ansiosos passados em agonia.
[ 11 ]
grudada em nossa cola, na nossa
caminhada pelas matas da existência.
[ 12 ]
dias, apesar de vermos tantos viventes por
aí, perambulando desse jeitão desajeitado,
sem saber o que fazer sem que alguém, ou
algo, lhe diga o que ser.
[ 13 ]
NA MESMA PRAÇA
[ 14 ]
a sério essa birosca [depre]cívica? Acho
que não. O historiador José Murilo de
Carvalho também.
[ 15 ]
crítica”, não acho legal ficar falando em
nome de ninguém, de grupo nenhum.
Penso que deveríamos falar apenas e tão
somente em nosso nome. No meu caso, sei
que isso não é grande coisa. Na verdade, é
praticamente coisa alguma, mas é o que
tenho e isso, pra ser franco, me basta.
Fecha parêntese.
[ 16 ]
de dedos, uma chusma de ignorantes
infames.
[ 17 ]
bonita tem, ou que, ao menos, presumem
ter.
[ 18 ]
que serão apresentadas em seu nome por
fulaninhos engomadinhos e sem
procuração.
[ 19 ]
ENTRE O ALTAR E A LATA DE LIXO
[ 20 ]
impressão essa que deveria [e deve] ser
devidamente trabalhada, lapidada por nós
através da obtenção de mais informações,
da confrontação com outros pontos de
vista e, é claro, com o auxílio de uma
reflexão bem bandida sobre tudo isso com
o intento abnegado de obter uma
compreensão mais clara sobre a verdade
que se faz latente nos fatos.
[ 21 ]
isso, elas são parte fundamental de sua
fantasia de sabichão.
[ 22 ]
alguma, porque seu coração não estava e
não está voltado para a direção da procu ra
sincera pelo conhecimento da verdade.
[ 23 ]
O sujeito comum, que ganha a sua vida
com o trabalho de suas mãos, sabe que sua
opinião é apenas o que é: uma impressão
vaga e confusa sobre algo, por isso muda-
a, corrige-a e, se preciso for, joga-a fora
sem o menor pudor.
[ 24 ]
vergonhas existenciais. Sim, fazer isso é
algo humilhante, mas necessário para nos
emendarmos e, quem sabe, possamos nos
tornar gente de verdade.
[ 25 ]
DE LÁ PRA CÁ
[ 26 ]
Pois é. Passaram-se os anos e, como todos
nós sabemos, de lá pra cá degustamos o
cálice da ditadura do Estado Novo e do pós
64 e, cá estamos no século XXI, próximos
do bicentenário da independência desta
choldra que tanto amamos e vejam só
como o mundo dá vodkas: aqui estamos
mais uma vez discutindo a dita-dura. Hoje
parla-se sobre a necessidade de evitar ou
não uma ditadura, porém, duma forma
bem dissimulada, diga-se de passagem.
Tenta-se dissimular, mas a verve
totalitária à esquerda e o timo autoritário
à destra estão bem à vista de quem quiser
ver.
[ 27 ]
defender as tais “instituições”, declarando,
em alto e bom tom, que são favoráveis às
bandeiras “pró-democracia” e contra as
“fake News”, seja lá o que isso queira
dizer. Do outro lado temos um punhado de
viúvas do AI-5 que não cansam de dar os
seus chiliques.
[ 28 ]
“instituições demo...cráticas”. Fecha
parêntese.
[ 29 ]
ENTRE O RISO E O CHORO
[ 30 ]
Aprendi isso, faz tempo, com Dona
Yolanda e com a Dona Tomazina e,
frequentemente, tenho matutado muito
sobre isso nos faxinais silentes de minha
alma, com meus alfarrábios, junto ao chão
bruto do meu rancho.
[ 31 ]
correto que todos nós conhecemos muito
bem.
[ 32 ]
começaram sua, como direi, “carreira”,
com aquela choradeira artificiosa de
vítimas da história, do mundo, de tudo e
de todos, bradando aos quatro ventos que
eram perseguidos e assim por diante e,
quando os tempos estavam maduros, as
lágrimas cênicas davam lugar para
agressões verbais, morais, psíquicas,
físicas e, tudo isso era feito e devidamente
justificado por sua midiática condição de
vítima e, catapimba, tínhamos todos os
caminhos abertos para a implantação dum
regime totalitário.
[ 33 ]
também, penso eu, que não há nenhuma
dúvida de que a instrumentalização
política do sofrimento não conforta o
coração da alma sofredora, principalmente
quando o grito de dor acaba sendo
sufocado pelos ecos midiáticos de um
projeto totalitário de poder.
[ 34 ]
ACIMA, ALÉM E À FRENTE
[ 35 ]
Uma pessoa honesta, em termos
intelectuais, não é neutra diante de um
erro, nem imparcial frente a verdade.
[ 36 ]
Verdade - e o que era meramente
orientação sua, um ponto de vista dele.
[ 37 ]
porca natureza, corrompe tudo aquilo qu e
toca.
[ 38 ]
coloquemos nossas convicções, crenças e
crendices acima da verdade, além da
honestidade e à frente da humildade.
[ 39 ]
O CIRCO CHEGOU
[ 40 ]
São tantas as histórias, tantos os causos,
que um pleito eleitoral acaba rendendo
que, se juntássemos todos numa única
brochura, teríamos um livreto
divertidíssimo ou, quem sabe, ao menos
uma série de crônicas [agudas] se, é claro,
a preguiça não acabar nos deixando com
as mãos atadas e nos impedir de fazer essa
empreitada sair da prancheta.
[ 41 ]
Parece filme de suspense, mas não é.
[ 42 ]
disfarçadas, começaram a dar o ar da
graça.
[ 43 ]
Enfim, o circo está aí e, ao que parece,
nunca deixou de aqui estar e, ao que tudo
indica, não nos deixará tão cedo assim.
[ 44 ]
O PRESIDENTE PESTEADO
[ 45 ]
Bem, diante dessa bagaça toda, uma
questão veio pro limpo: Bolsonaro tomou,
de cara, e está tomando, a tal da
hidroxicloroquina, o “medicamento do
mal” e, ao que parece, ele está se
recuperando rapidinho de troço-19.
[ 46 ]
Bolsonaro ficou são de lombo rapidinho
por causa do histórico de atleta dele.
[ 47 ]
TRÊS CAUSOS E UMA HISTÓRIA
# # #
[ 48 ]
população, isso é um troço louco de bão. O
nome que se dá para esse trem é liberdade.
Isso mesmo. Liberdade.
# # #
[ 49 ]
algum artigo científico que dizia que sair
pra rua seria algo inseguro?” “Acho que
não. Por quê?” “Por nada”. “Sei”. “Você
saía de casa nessa época?” “Sim! Como
todo mundo. E daí?” “N—a—d--a. Só
queria saber se você era assim tão
cientificamente responsável mesmo”.
“Babaca”. “São seus olhos”. “Não dá pra
conversar com você”. “Boa noite senhor
ciência; tenha bons sonhos... com muitas
pipetas”. Astrogildo bloqueou Godofredo
no zap. Só não sabemos se ele fez isso com
base em algum artigo científico.
[ 50 ]
UMA VIDA PELUDA
[ 51 ]
respeito do profundo estrago que todo esse
pânico, pandêmico e midiático, causou e
está causando na vida de cada um de nós.
[ 52 ]
Sim, eu sei, vidas são mais importantes
que a economia, porém, até onde sei, as
pessoas ainda não fazem fotossíntese e,
desde os idos do antigo testamento que o
Pai do Céu não derrama sobre nossas
cabeças nem um punhadinho de maná.
[ 53 ]
parlado tanto sobre isso. O que tenho em
mente é o seguinte: além do estrago
material que essa estrovenga acabou
gerando, e que afeta diretamente a vida de
muitíssimas pessoas, temos o estrago
causado no cocuruto de cada um de nós. E,
nesse quesito, a ruína foi feia pra caramba.
[ 54 ]
ver nada de mais onde o mal está à nossa
espreita, cafungado o nosso cangote.
[ 55 ]
O problema é sabermos para qual direção
essa cólera sufocada irá dirigir-se, ou será
dirigida e quanto isso irá acontecer. Tic.
Tac. Tic. Tac...
[ 56 ]
UM PEQUENO PASSO PARA CADA
UM DE NÓS
[ 57 ]
moto e me despinguelava ladeira abaixo,
de ponta cabeça, para no sopé do morro
derrapar nos cascalhos que ali estavam.
[ 58 ]
Num primeiro instante chorei. Chorei de
dor e de raiva; e, vendo que nada disso iria
me ajudar, com raiva e chorando, catei a
magrela e fui, meio que mancando, para a
casa dos meus pais que ficava quase no fim
da rua rio das Antas (putz grila! Que nome
lazarento para uma rua).
[ 59 ]
linda, fofa e formosa para tentar, do jeito
que dá, encobrir a nossa jocosa miséria
humana. Quem nunca fez isso que se
apinche de bicicleta primeiro.
[ 60 ]
fazendo isso - hipocritamente - quase que
diariamente.
[ 61 ]
Gente assim não reconhece indivíduos;
apenas identificam-se com coletivos e
rotulam com coletivismo.
[ 62 ]
alguma quando a nobreza de suas ideias,
valores, intenções e ações.
[ 63 ]
míseros pecadores indignos, apesar dos
seus atos demonstrarem o contrário.
[ 64 ]
escritor Humberto de Campos, que
devemos nos esforçar para sermos
senhores de nossa vontade e escravos de
nossa consciência. É mais do que certo que
fazer isso é uma tarefa difícil barbaridade
e, por isso mesmo, creio que seria
interessante trilharmos por essa estrada.
[ 65 ]
temos um caminho longo para trilhar.
Caminho esse que começa com o
reconhecimento de nossos pecados que
não podem ser extirpados do nosso
coração pela mera propagação, discreta ou
não, de uma ideologia, pouco importando
qual seja ela.
[ 66 ]
RETORNO AO PARÁGRAFO
PERDIDO
[ 67 ]
franziu a testa e, calmamente, deu um
golaço no resto do seu pingado; colocou o
copinho sobre o guardanapo e rasgou o
restinho do silêncio que ficou soltando
aquela gargalhada que só ele sabe dar.
“Que foi isso velho louco!” “Nada Belmiro.
Nada”. “Quer mais um pingado”? “Por
favor. Demorou...”
[ 68 ]
QUATRO [quase] VERSINHOS
# # #
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# # #
[ 69 ]
UMA PEDRINHA NO SAPATO
[ 70 ]
de Santo Antão, também conhecido como
Santo Antônio do Egito. É difícil não
afogarmos nossos zóios em lágrimas com
as notícias de sua vida que nos chegam
através das páginas escritas por seus
biógrafos.
[ 71 ]
sentado à porta de sua oficina, de olhar
sereno, pernas cruzadas, costurando o
couro enquanto via as pessoas
perambulando pra lá e pra cá. Sem
demoras foi até ele.
[ 72 ]
Caramba. Ainda hoje, mesmo depois de
tantos anos que li pela primeira vez essa
historieta, me arrepio. Não preciso nem
dizer, mas o farei: Santo Antão aprendeu
direitinho como rezar. Quanto a mim, não
posso dizer o mesmo, tendo em vista que
sou, como diz Rubem Braga, um cretino
por profissão. Que vergonha. Que baita
sem vergonha.
[ 73 ]
construção de um mundo “mais melhor de
bão” e, por isso, acaba por acreditar que
ela e os seus companheiros estão acima de
qualquer julgamento, sentindo-se
autorizados a fazer qualquer barbaridade,
tendo em vista que tudo isso é em nome de
uma boa causa. Aliás, toda
monstruosidade é perpetrada em nome de
uma boa causa.
[ 74 ]
É. Espírito de legião é assim mesmo. Bem
desse jeitão.
[ 75 ]
Segundo: se apenas e tão somente os
membros do meu clubinho podem falar a
respeito de nossas incongruências, nós
acabamos inviabilizado qualquer
possibilidade de empatia, de construção de
pontes para que os outros possam ver o
mundo através dos nossos olhos e vice-
versa.
[ 76 ]
sentem-se incorruptíveis, apesar de serem
apenas o que são.
[ 77 ]
sentença já foi dada por eles com base em
suas crendices políticas.
[ 78 ]
surrada pose bestial de cágado engajado e
tranquilo.
[ 79 ]
AS VISAGENS TOMARAM DORIL
[ 80 ]
[ 81 ]