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INTEFISA – Instituto de Filosofia e Teologia São Francisco e Santa Clara de Assis.

Antropologia Cultural. Pe. Rogério Ribeiro Moreira, cdp


ANTONIO CARLOS JOAQUIM FILHO, MPS 2º Ano de Filosofia
Mococa-SP, 03 de abril de 2020.

PESQUISA E CRÍTICA – DARCY RIBEIRO

“Darcy Ribeiro, antropólogo, educador e romancista, nasceu em Montes Claros


(MG), em 26 de outubro de 1922, e faleceu em Brasília, DF, em 17 de fevereiro de 1997.
Diplomou-se em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1946),
com especialização em Antropologia. Etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios, dedicou os
primeiros anos de vida profissional (1947-56) ao estudo dos índios de várias tribos do país.
Fundou o Museu do Índio, que dirigiu até 1947, e colaborou na criação do Parque Indígena do
Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena. Elaborou para a
UNESCO um estudo do impacto da civilização sobre os grupos indígenas brasileiros no
século XX e colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na preparação de um
manual sobre os povos aborígenes de todo o mundo. Organizou e dirigiu o primeiro curso de
pós-graduação em Antropologia, e foi professor de Etnologia da Faculdade Nacional de
Filosofia da Universidade do Brasil (1955-56).

Diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC


(1957-61); presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Participou com Anísio
Teixeira, da defesa da escola pública por ocasião da discussão de Lei de Diretrizes e Bases da
Educação; criou a Universidade de Brasília, de que foi o primeiro reitor; foi ministro da
Educação e chefe da Casa Civil do Governo João Goulart. Com o golpe militar de 64, teve os
direitos políticos cassados e se exilou.

Viveu em vários países da América Latina, conduzindo programas de reforma


universitária, com base nas ideias que defendeu em A Universidade necessária. Professor de
Antropologia da Universidade Oriental do Uruguai; foi assessor do presidente Salvador
Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Escreveu nesse período os cinco volumes
dos estudos de Antropologia da Civilização (“O processo civilizatório”, “As Américas e a
civilização”, “O dilema da América Latina”, “Os brasileiros - 1. Teoria do Brasil” e “Os
índios e a civilização”), nos quais propõe uma teoria explicativa das causas do
desenvolvimento desigual dos povos americanos.
Entre 1992 e 1994, ocupou-se de completar a rede dos CIEPs; de criar um novo
padrão de ensino médio, através dos Ginásios Públicos; e de implantar e consolidar a nova
Universidade Estadual do Norte Fluminense, com a ambição de ser uma Universidade do
Terceiro Milênio.

Em 1995, lançou seu mais recente livro, "O povo brasileiro", que encerra a coleção
de seus “Estudos de Antropologia da Civilização”, além de uma compilação de seus discursos
e ensaios intitulada” O Brasil como problema”

Em 1996, entregou à Editora Companhia das Letras seus “Diários índios”, em que
reproduziu anotações que fez durante dois anos de convívio e de estudo dos índios Urubu-
Kaapor, da Amazônia. Seu primeiro romance, Maíra, recebeu uma edição comemorativa de
seus 20 anos, incluindo resenhas e críticas de Antonio Callado, Alfredo Bosi, Antonio
Houaiss, Maria Luíza Ramos e de outros especialistas em literatura e antropologia. Ainda
nesse ano, recebeu o Prêmio Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela
OEA”1.

O primeiro episódio da série baseada na obra de Darcy Ribeiro, “O Povo Brasileiro”,


busca mostrar elementos pertinentes a um conhecimento geral do povo ameríndio presente no
Brasil pré-colonização, com elementos da contemporaneidade do autor, de modo que, apesar
de alguns aprofundamentos, o vídeo mostre um panorama geral da obra.

O vídeo é iniciado com a frase – “o mais importante para o brasileiro é inventar o


Brasil que queremos”. Nesse sentido, o Brasil é apresentado como uma confluência sincrética,
mais que isso, do entrechoque dos mais diversos povos – indígenas, negros, portugueses. Não
somos nativos, africanos, tampouco europeus, mas um povo novo, “aberto ao futuro, sem se
apegar a qualquer passado”. O Brasil nasceu “sob o ciclo da utopia, terra sem males, morada
de Deus”, isso para descrever o cenário encontrado pelos colonizadores.

Um ponto importante é referente ao “descobrimento do Brasil”, em que, conforme


aponta o vídeo, há cartas descrevendo uma “ilha do Brasil” desde aproximadamente o ano
1000, e que a oficialização, em “cartório”, viria a se dar meio milênio depois com as cartas
náuticas de Pero Vaz de Caminha, que acompanhou Pedro Álvares Cabral na “primeira
expedição oficial” à América.

1
Disponível em: <http://www.academia.org.br/academicos/darcy-ribeiro/biografia>. Acesso em
01/04/2020 às 20:00. Toda a parte de pesquisa (a primeira metade do trabalho) foi retirada deste link com
algumas poucas alterações, por isso todo o trecho está entre aspas.
O vídeo despende considerável tempo explorando características de destaque dos
“brasis”, com notável ênfase nos tupis e tupinambás, sendo a maior atenção a estes. Àqueles,
explora o fato de serem exímios expansionistas (ressaltando que não se sabe ao certo se eles
mataram ou simplesmente expulsaram os “homens dos sambaquis”), tendo se deslocado por
uma notável área do continente. Destes últimos, coloca grande destaque nas habilidades de
guerra e igualmente dados a festividades.

De modo geral, coloca os indígenas como grandes conhecedores da natureza e


dominadores de técnicas a ela ligadas. Não se tratava de “uma nação, mas de uma miríade de
povos tribais”, todos com suas particularidades e especificidades, variando, inclusive, na
linguagem. Entre si, na tribo, eram dóceis, pacíficos, cuidadosos uns com os outros, mas com
os rivais, eram rigorosos. Apesar de, no caso dos tupinambás, serem canibais, comendo os
derrotados nas guerras, eram extremamente éticos, o que era refletido nas falas (dos ritos
antropofágicos), em que o canibal expressava estar vingando antepassados devorados, ao que
o devorado respondia ter irmãos que o vingariam. Ademais, eram extremamente ritualísticos,
na medida em que faziam até mesmo da guerra uma expressão de arte; perfeccionismo é o que
define o modo de vida de um indígena, que tudo fazia com o maior requinte.

A nível de manufatura, eram extremamente hábeis, e todos eram autossuficientes, na


medida em que eram capazes de fazer tudo o que pudessem precisar. Ainda assim, todas as
funções são bem divididas, e os papéis masculino e feminino são bem claras – o homem que
caça e guerreia, e a mulher que cultiva e cozinha, por exemplo. Como mencionado, eram
artistas natos, e tênue é a linha que divide trabalho e arte, pois o perfeccionismo mostrava
beleza mesmo no labor. Na convivência eram práticos, na medida em que faziam o essencial,
sem se preocupar com coisas desnecessárias, como o acúmulo. Nesse aspecto, vale destacar
que não havia monopólio de bens, tampouco de conhecimento; tudo era de todos. A respeito
da liderança, não era próprio da mesma ditar ordens aos demais; os indígenas não eram
animais adestrados acostumados a obedecer a coisas “inúteis” como acontecia na Europa.

No que se refere aos costumes, mantêm-se vivos alguns deles, como o banho diário e
uma convivência sadia entre homem e natureza, sendo esta mais rara. Mesmo as tribos que
ainda buscam manter vivo certos costumes já são aculturados à nação brasileira, adotando
alguns de nossos costumes e, inclusive, a nacionalidade. Nesse sentido, é possível verificar
uma grande perda em diversos aspectos, sendo o maior deles o antropológico. A pureza do
ameríndio, o desprendimento, tudo varrido do continente; “esse mundo que estava aqui
quieto, entregue a si. Num feio dia chega o tabelião para dizer ‘descobri’”.

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