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I – ARTIGO DE OPINIÃO
O texto que você irá ler é um Artigo de Opinião. Nele, o autor defende uma opinião,
ou seja, um ponto de vista sobre um tema polêmico, que reflete um determinado contexto
social. Leia atentamente o texto e depois responda as questões que seguem.
II – ARGUMENTAÇÃO
1. Argumento de autoridade
O argumento de autoridade é a referência a autores renomados ou a autoridades em
determinada área do conhecimento (educadores, filósofos, religiosos, etc.), para fundamentar
uma tese. Por exemplo, quando se discute um assunto na área da educação e se faz uma
citação valendo-se dos argumentos de Paulo Freire, tem-se um respaldo sobre o que está
sendo discutido. O emprego desse tipo de argumento torna o discurso mais consistente, uma
vez que outras vozes reforçam o que o produtor de um texto quer defender.
Adaptado de:
GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo
a pensar. 27. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2010.
KÖCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odete Maria Benetti; PAVANI, Cínara Ferreira. Prática
textual: atividades de leitura e escrita. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
SAVIOLI, Francisco Platão; FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação. 5. ed. São
Paulo: Ática, 2006.
ATIVIDADE
Escolha uma das afirmativas abaixo e redija um pequeno texto expondo seu ponto de
vista e utilizando um ou mais tipos de argumentos estudados:
a) Para se escrever bem, deve-se ler muito. Quem lê muito tem muitas ideias.
b) Quem lê muito necessariamente não escreve bem. A escrita exige muitas outras
habilidades além do domínio de um assunto ou de estruturas gramaticais.
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III – REFLEXÃO SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA
1. Atividades
a) Qual expressão Calvin usa para introduzir o questionamento que faz para sua mãe?
b) Qual palavra a mãe utiliza para introduzir sua explicação?
c) Que diferença de grafia se observa entre esses dois usos da palavra ou expressão?
d) A partir do que você observou, formule regras para o uso de “por que” e de “porque”.
Atividade adaptada. Disponível em:
<http://atividadesdeportugueseliteratura.blogspot.com.br/2016/02/atividade-sobre-o-uso-dos-porques-para.html>.
Preencha adequadamente os espaços em branco, utilizando “por que”, “por quê”, “porque”,
“porquê”. Em seguida, explique a sua escolha.
a) Entenda __________________ cada vez mais gente opta pela bicicleta como meio de
transporte, ainda que eventualmente.
b) __________________uma música gruda na nossa cabeça?
c) Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é __________________ um
dos dois é burro. (Mario Quintana)
d) Um poema não é também quando paras no fim,
__________________ um verdadeiro poema continua sempre… (Mario Quintana)
e) Cientistas garantem que os dias na Terra estão ficando mais longos. São apenas 1,8
milissegundos (ou milésimos de segundo) por século, mas você irá entender o
____________ disso.
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IV – LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
Texto 01
A corrupção nossa de cada dia
Indignados com os desvios de recursos públicos dos políticos, os brasileiros veem com
naturalidade seus pequenos atos ilícitos do cotidiano
Talita Bedinelli
No Brasil, basta um escândalo de corrupção estampar as manchetes dos jornais para que
os comentaristas de plantão vociferem palavras de ordem na internet em que exigem, até, a
pena de morte para os corruptores. Mas esses mesmos gritos raivosos aceitam, pacificamente,
os pequenos crimes que eles próprios e muitos conhecidos praticam no dia a dia, sem nem
mesmo perceber que o “jeitinho” do cotidiano também é uma forma de corrupção.
Na última semana, um cartaz colado em um muro de uma grande avenida de São Paulo
perguntava aos passantes: “Habilitação suspensa?”. O anúncio, que desrespeitava a lei Cidade
Limpa, legislação municipal que proíbe a colocação de cartazes em locais públicos, trazia um
número de telefone e oferecia um serviço: dar um “jeitinho” nos pontos obtidos na carteira de
motoristas que tiveram suas licenças para dirigir retiradas por causa do excesso de multas
recebidas no trânsito.
O trabalho poderia aliviar a barra de pessoas que dirigiram acima do limite de
velocidade, andaram “só por alguns minutos” na faixa exclusiva de ônibus ou que beberam
além dos limites permitidos antes de assumir o volante. Tudo justificado pelos receptores da
multa com argumentos como a pressa e a falta de transporte público barato e de qualidade
durante as madrugadas. Muitas dessas pessoas, inclusive, podem até ter comprado a carteira
de motorista, pagando uma propina para que o fiscal que realiza a prova prática ajudasse na
tarefa.
O “jeitinho” brasileiro se estende para além do trânsito. Em pleno centro de São Paulo,
a maior cidade do país, é possível comprar diplomas falsos que permitem a participação em
concursos públicos e, mais comum ainda, atestados médicos, para justificar ausências mais
prolongadas no trabalho. Também é possível, sem nem mesmo sair de casa, “roubar” o sinal
da TV à cabo do vizinho, sem que ele saiba, ou comprar um aparelho decodificador de sinal
pela própria internet e usá-lo para sempre sem ter que pagar mensalidade às operadoras, que,
afinal, “cobram muito caro”. A prática é tão institucionalizada que tem até nome: “o gato
net”.
Mas a corrupção diária pode ser ainda mais grave. A previdência social, uma das áreas
mais afetadas pelo “jeitinho”, descobriu, apenas em 2013, 56 fraudes que causaram um
prejuízo de 82 milhões de reais aos cofres públicos, afirma o Ministério da Previdência
Social. O dinheiro estava sendo destinado para pessoas que passaram a receber benefícios
depois de apresentarem documentos falsos, como atestados médicos ou comprovantes de
união estável.
Há ainda casos que não são facilmente descobertos porque, tecnicamente, são difíceis de
serem configurados como crime. Como o de mulheres, casadas aos olhos de vizinhos e
amigos, mas que não oficializaram suas relações para não perderem a pensão vitalícia a que
têm direito depois do falecimento do pai, funcionário público. Ao casarem-se oficialmente, o
benefício é cortado. Há também o caso das “viúvas negras”: aquelas que, de comum acordo
com os futuros “maridos”, casam-se com homens muito mais velhos, sem filhos, apenas para
conseguir receber uma pensão quando esses homens morrerem.
Uma pesquisa feita pelo Centro de Referência do Interesse Público (CRIP) da
Universidade Federal de Minas Gerais mostrou, em 2009, que 77% dos entrevistados
acreditavam que a corrupção é um problema grave no país. Ao mesmo tempo, 35% delas
concordaram que atitudes como sonegar impostos, quando eles são caros, podem ser erradas,
mas não corruptas.
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“Não é que as pessoas não percebam que são erradas. O que elas fazem é justificar esse
erro por conta de alguma coisa que diga respeito aos seus interesses e necessidades mais
imediatas. A questão que envolve o problema da corrupção é essa ambivalência dos valores”,
afirma Fernando Filgueiras, coordenador do centro. “Facilmente identificamos a corrupção
praticada por políticos, burocratas, empresários, lobistas. Mas quando diz respeito à ordem do
cotidiano, essa ambivalência surge porque sempre identificamos a corrupção no outro. Se
observarmos o cotidiano, essa ambivalência sempre se faz presente, porque tentamos justificar
nossos atos. Essa fronteira é sempre muito tênue. Todos somos contra a corrupção. Até os
corruptos o são. O problema é quando você olha a sua ação individual”, complementa ele.
“A fraude do imposto de renda, a tentativa de subornar funcionários públicos, o
favorecimento, quando possível, de familiares em negócios públicos são o que chamamos
normalmente de pequena corrupção. Essa é muito difícil de ser combatida, porque é mais
pulverizada e individual.”
Para o Ministério Público, que criou uma campanha para alertar sobre essa corrupção
cotidiana, o caminho é conscientizar as pessoas de que o “jeitinho brasileiro” é, sim, uma
forma de corrupção.
“A gente acredita numa formação de consciência. De construção de uma nova geração.
Por isso, damos palestras em escolas para mostrar o que é a prática corrupta”, conta Vinicius
Menandro, promotor de Justiça do Acre e coordenador nacional da campanha “O que você
tem a ver com a corrupção”.
“Gostamos muito de apontar as falhas dos deputados, senadores, mas as pessoas que
compraram a carteira de motorista são tão corruptas quanto”, avalia. “Para mudar o país
temos que mudar nós mesmos”.
Texto adaptado. Disponível em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2013/12/04/sociedad/1386197033_853176.html>. Acesso em: 13 set. 2016.
Texto 02
Pequenas corrupções
A corrupção maior é apenas a expressão de um tipo de vida que achamos até normal
Walcyr Carrasco
Todo mundo se escandaliza com o petrolão. Eu também, óbvio. Atinge cifras que
escapam a minha imaginação. Mas que tal pensar sobre qual é o meu, o seu, o nosso grau
individual de corrupção, como cidadãos comuns?
No caixa eletrônico, por exemplo, tem uma fila grande. Alguém se aproxima. Conversa
com um amigo lá na frente e, como se fosse a coisa mais natural, fura a fila. Uma vez
reclamei para uma mulher:
– Desculpe, mas seu lugar é lá no fim da fila.
Ficou ofendida, respondeu agressiva. Sinceramente, se ela tivesse dito algo como:
– Eu sei, mas estou com um problema particular e tenho pressa.
Eu entenderia. Já me aconteceu, na fila do aeroporto, para verificação de bagagem. Ia
perder o voo. Expliquei e me deixaram passar na frente. Mas e na fila do avião? Por que a
pressa, se o lugar é marcado? O motivo das prioridades é facilitar a entrada de grávidas,
crianças, deficientes e idosos. Também há acesso VIP para quem tem milhagens expressivas.
Já vi cada atropelo! Uma vez, enquanto tentava proteger da correria uma senhora com um
filho pequeno, aconselhei:
– Vá lá para a frente, tem direito de entrar primeiro.
Ela fez que não. Corria o risco de ser atropelada. Se dá para furar uma fila, você fura?
No restaurante, sempre alguém dá uma carteirada com o maître e passa na frente. Vi
isso acontecer muitas vezes. Eu não gosto de esperar. Paro em frente ao restaurante e pergunto
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se tem espera. Se tem, agradeço e vou a outro. Restaurantes mais vazios, com donos saltando
como caranguejos sobre possíveis clientes, também não faltam.
E a nota fiscal? Houve uma época em que até o dentista perguntava se era sem nota.
Com, era mais caro. E depois ele esquecia de dar. Fazia cara de ofendido se eu insistia. Graças
aos cruzamentos da Receita Federal, isso está acabando. Eu declaro se paguei e pronto. Acho
justo. Em São Paulo, foi instituída a nota fiscal paulista, com estímulos financeiros a quem
pede. Na hora de pagar sempre perguntam:
– Quer nota fiscal paulista?
Acho um absurdo a pergunta. É regra dar a nota. Se eu pago meus impostos, por que o
comerciante não? Ah, tem muito imposto. Tem mesmo. Mas, então, o certo é protestar, votar
melhor. Não sobreviver à custa de pequenas corrupções. (...)
Outro dia, li sobre uma moradora de rua que encontrou dinheiro e devolveu. Virou
notícia, como ocorre cada vez que um ato de honestidade, ainda mais praticado por um
necessitado, acontece. Há algo muito errado num país onde honestidade é notícia.
Quando devolvo o troco que veio a mais, a mocinha do caixa me olha como se estivesse
diante de São Sebastião. Claro, isso iria para a conta dela. Não sou eu que vou roubar de uma
trabalhadora que está no caixa. Mas é tão pouco comum gente que devolve! Assim como
caixas também frequentemente não têm moedinhas e arredondam o troco. Já estive em
restaurantes que “arredondaram” em vários reais, sem nem dar explicação. Agora, pagando
com cartão, a prática está acabando. O que eu falo vale para gente rica, classe média ou pobre.
Um amigo meu, dermatologista, tinha duas clientes que viviam à base de champanhe. Se
encheram de Botox. (E o produto custa para o médico.) Deram um cheque sem fundos e foram
meses para receber. Botar Botox não é o mesmo que passar fome, onde a gente até entende o
roubo de comida por desespero. Mas acontece. Como ocorre também entre os médicos. Se você
for a qualquer médico e ele disser:
– Eu prefiro que o remédio seja manipulado, tenho mais confiança.
E depois indicar a farmácia, já sabe. São 30% que vão para o bolso dele. Exatamente.
As farmácias de manipulação têm o costume de pagar essa percentagem aos médicos que dão a
receita.
Os exemplos não acabariam nunca. A verdade é esta: nós todos vivemos cercados de
pequenas corrupções. A corrupção maior é apenas a expressão de um tipo de vida que
achamos até normal.
PRODUÇÃO TEXTUAL