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Fluidodinâmica em Processos Químicos

Robson Costa de Sousa

Alegre - 2020
Fluidodinâmica em Processos Químicos
Capítulo 01 | Introdução

1.1 Apresentação da disciplina

A disciplina Fluidodinâmica em Processos Químicos ofertada para o curso da Engenharia Química do


Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE) da UFES nada mais é que a clássica Mecânica dos
Fluidos inserida nos estudos de engenharia de muitas universidades espalhadas pelo Brasil. Além de
Mecânica dos Fluidos, como é comumente conhecida em muitos lugares, alguns autores também a
chamam de Transferência de Momento ou Quantidade de Movimento. Para o estudo da disciplina em
questão, visando uma maior uniformidade em função da terminologia familiar e usual no mundo
acadêmico, iremos chama-la de Mecânica dos Fluidos.

A Mecânica dos Fluidos (MecFlu) estuda o comportamento de fluidos em repouso ou em movimento e


as forças que atuam sobre os diferentes tipos de fluidos. Uma boa compreensão da mecânica dos
fluidos é extremamente importante em muitas áreas da engenharia.

Mas, para qual Engenharia ?

Engenharia Biomecânica – conhecimento do fluxo de


sangue e do fluido cerebral são de interesse particular

Engenharia Oceânica – necessidade obter noções de


movimento do ar e das correntes oceânicas.

Engenharia Química – desenvolvimento de diferentes


tipos de equipamentos para processos químicos.
Fluidodinâmica em Processos Químicos
Capítulo 01 | Introdução

Tem aplicação ?
 Ação de fluidos sobre superfícies submersas. Ex: Projetos de sistemas de canal, barragens, diques e
represas;
 Questões sobre meio ambiente e energia. Ex: contenção de derramamento de óleo, turbinas eólicas
de escala industrial, geração de energia a partir de ondas do oceano, fenômenos atmosféricos como
tornados furacões e tsunamis;
 Transporte pneumático ou hidráulico de sólidos. Ex: Transportadores de grãos, Elevadores
hidráulicos;
 Projetos industriais para o transporte de fluidos. Ex: Dimensionamento de bombas, compressores,
tubulações e dutos.
 Desenvolvimento de materiais esportivo de alta performance. Ex: Projeto de bicicletas e capacetes
de bicicleta, esquis, roupas para corridas e natação, aerodinâmica de bolas de golfe, tênis e futebol;

E você ? Sabe
Alguma aplicação?
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Capítulo 01 | Introdução

1.2 Dimensões, Unidades e Homogeneidade Dimensional


O estudo da Mecânica dos Fluidos envolve uma variedade de características, tornando-se necessário
desenvolver um sistema para descrevê-las de modo quantitativo e qualitativo. No caso do aspecto
qualitativo podemos dizer que serve para identificar a natureza, ou tipo, da característica, tal como
comprimento, tempo, tensão e velocidade. Por outro lado em termos quantitativo, necessita-se
identificar uma medida numérica, ou seja, requer tanto um número quanto um padrão para que muitas
quantidades possam ser comparadas, como por exemplo, metro ou polegada, hora ou segundo,
quilograma ou libra, e assim por diante.

Fonte: Fox, 2010

Dimensão secundária Dimensão primária

F (N, lbf) M (kg, lbm)


L (m, ft)
T (K, °R)
t (s)
Todas as equações são devem ser dimensionalmente homogêneas, isto quer dizer que as dimensões do
termo esquerdo e direito são iguais e apresentar a mesma dimensão. Por exemplo, a equação para a
velocidade uniformemente acelerado de um corpo.

V = V0 + at

Em que V é a velocidade, V0 é a velocidade inicial, a é a aceleração e t é o tempo

E no caso de equações que apresentam constantes, como por exemplo a equação para determinar a
vazão volumétrica do escoamento de um líquido através da placa de orifício.

Q = 0,61A√2 g h

Em que Q é a vazão do fluido, A a área, g a aceleração da gravidade e h a altura da superfície livre

A pergunta é: as constantes 0,61 e 2


são dimensionais ou adimensionais ??

George Cloney
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Capítulo 01 | Introdução

1.3 Método de análise: Sistema e Volume de Controle

No sistema a quantidade de massa é fixa e identificável; o


sistema é separado do ambiente externo por fronteiras
delimitadas, as quais podem ser fixas ou móveis, mas nenhuma
quantidade de matéria pode cruzar essas fronteiras.

Fonte: Fox, 2010

Contrário ao sistema, neste caso quantidade de massa


entra e sai pelas fronteiras que delimitam o volume de
controle. A fronteira geométrica do volume de controle é
denominada de superfície de controle.

Fonte: Fox, 2010


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Capítulo 02 | Conceitos Fundamentais

2.1 Definição de um fluido

O planeta, exceto os Engenheiros Químicos, irão responder que


os fluidos escoam e os sólidos se deformam ou dobram.

Os discentes da Engenharia Química da UFES de Alegre irão


afirmar que um fluido é uma substância que se deforma
continuamente sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento
(tangencial), independente de quanto for a intensidade dessa
força.

A deformação ocorre por forças de cisalhamento que atuam tangencialmente em relação à superfície.
Considere uma força F atuando tangencialmente num elemento de geometria retangular na parte
superior entre dois planos. Apenas a placa superior é móvel enquanto a placa inferior é fixa.

Fonte: Fox, 2010

O fluido se deforma continuamente com velocidade igual a da placa superior sob a ação da força F
aplicada tangencialmente sobre sua superfície. Não ocorre deslizamento entre a placa e o fluido, isto é
devido à condição de não-deslizamento. Se imaginarmos um sólido e um fluido na imagem sobreposta,
o primeiro ficaria em repouso, admitindo que a força aplicada não seja suficiente para leva-lo à
deformação elástica.

µ (viscosidade) G (módulo de rigidez)

Fluido Sólido
Viscosos Elásticos
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Capítulo 02 | Fundamentos

2.2 Conceitos de fluidos

- Fluido Ideal
O fluido será ideal quando a viscosidade for nula, isto é, não apresentar viscosidade. Essa é uma
situação hipotética e neste caso conclui-se que o fluido escoa sem perda de energia por atrito.

- Fluido incompressível
O fluido é considerado incompressível quando seu volume não varia com a pressão, ou seja,
propriedades como massa específica não varia com a pressão. Sempre que ao longo do escoamento a
variação da massa específica for desprezível, o estudo do fluido será tratado como fluido
incompressível. Ex: líquidos

- Fluido compressível

Nos fluidos compressíveis, a massa específica varia de modo significativo com as alterações pressão e
temperatura.

𝑝 𝑝
= 𝑅𝑇 ou 𝜌 =
ρ 𝑅𝑇

p = pressão absoluta
R = constante dos gases reais
T = temperatura absoluta

Ex: Numa tubulação escoa hidrogênio (k = 1,4, R = 4.122 m2 /s2 K). Numa seção (1), p1 = 3 × 105
N/m2 (abs) e T1 = 30°C. Ao longo da tubulação, a temperatura mantém-se constante. Qual é a massa
específica do gás numa seção (2), em que p2 = 1,5 × 105 N/m2 (abs)?

R: 𝜌2 =0,12 kg/m3
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Capítulo 02 | Fundamentos

2.3 Propriedades do fluido

- Massa específica (ρ)


É a massa do fluido contida em uma unidade de volume do mesmo.
𝑚
𝜌= 𝑉
CGS g/cm3
𝑀
[𝜌] = 𝐿3
MKS kg/m3 (Sistema Internacional)

- Peso específico (𝜸)

Propriedade que relaciona o peso com o volume de um fluido.


𝑚𝑔
𝛾= ou 𝛾 = ρ g
𝑉

− CGS dina/cm3
2
𝑀𝑥𝐿𝑥𝑇 𝐹
[𝜌] = =
𝐿3 𝐿3
MKS N/m3 (Sistema Internacional)

- Densidade relativa (SG)


Maneira alternativa de expressar massa específica através do valor de referência do fluido
ρ
[𝑆𝐺] = ρ
𝐻2𝑂

Tabela 01: Propriedades do ar e da água sob condições-padrão


Massa específica ρ Peso Específico ϒ Densidade relativa SG
Kg/m3 Slug/ft3 (lbm/ft3) N/m3 lbf/ft3
Ar 1,23 0,0024 0,077 12,1 0,077 0,00123
Água 1000 1,94 62,4 9810 62,4 1
Fonte: Potter, 2007
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Capítulo 02 | Fundamentos

2.3 Propriedades do fluido

- Viscosidade cinemática (ν)


É a propriedade do fluido que relaciona a viscosidade dinâmica (absoluta) com a massa específica do
mesmo.
μ
ν= ρ

−2
CGS cm2/s
𝐹𝐿 𝑇
[ν] = −
𝐹𝐿 4𝑇2
MKS m2/s (Sistema Internacional)

- Tensão superficial
A tensão superficial é uma propriedade do líquido que depende estritamente da temperatura, bem como
do outro fluido que está em contato com a fase líquida. Potter, 2007 define como uma propriedade que
resulta em forças de atração intermoleculares que se manifesta na interface entre a fase líquida e um
gás. Sempre que existe o contato entre as fases uma interface se desenvolve agindo como uma
membrana elástica esticada.

Superfície molhada

Fonte: Fox, 2010

A membrana tem duas características:


• O ângulo de contato, Θ, e
• O módulo da tensão superficial, σ.

σ = ∆𝐹/∆𝐿
Compostos surfactantes são capazes de reduzir significativamente a tensão superficial (>40%) quando
adicionados a água. Ex: detergente.
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Capítulo 02 | Conceitos Fundamentais

2.4 Teoria do Contínuo

A matéria no sistema ou no volume de controle é um meio contínuo sempre que puder ser dividida
mantendo suas propriedades. Propriedades como massa específica, temperatura, velocidade e outras
propriedades são funções contínuas no espaço e no tempo.
Tempo – analisando a região do
ponto C, no instante t considere
que poderia haver 15 moléculas
em dV’ (delta V linha), mas um
instante depois poderá haver 17
moléculas (3 podem entrar e 1
pode sair do ponto C). Neste
caso a massa específica varia
com o tempo no ponto C, logo,
é função do tempo.

Espaço – Se a massa específica


Fonte: Fox, 2010 fosse medida em qualquer ponto
da região da massa fluida no
plano tridimensional,
ρ = ρ(x, y, z, t) obteríamos uma expressão da
massa específica em função das
Indica o plano coordenadas espaciais.

Em mecânica dos fluidos é conveniente assumir que tantos os gases como os líquidos têm sua massa
continuamente distribuída em todo volume da região de interesse. Matematicamente no meio contínuo
a propriedade massa específica pode ser definida por:

∆𝑚 ∆𝑚
𝜌 = 𝑙𝑖𝑚 𝜌 = 𝑙𝑖𝑚
∆∀→0 ∆∀ ∆∀→∆∀′ ∆∀
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Capítulo 02 | Conceitos Fundamentais

2.5 Tensão de cisalhamento


Considere uma força (𝐹) aplicada no plano de área A que pode ser decomposta na direção da normal
(𝐹𝑁) à superfície e da tangente (𝐹𝑡) originando duas componentes.

Fonte: Brunetti, 2008

A força dividida pela área é denominada de tensão, a componente normal da força dividida pela área é
denominada tensão normal σN e a componente tangencial dividida pela área é a tensão tangencial τN.
Matematicamente, a tensão tangencial é definida pela equação:

∆𝐹𝑡
τN = 𝑙𝑖𝑚∆𝐴→0 ∆𝐴
Para situações que empregam quantidades vetoriais, força por exemplo, costuma-se considerar as
componentes em um sistema ortogonal de coordenadas cartesianas.

σ𝒙𝒙 τ𝒙𝒚 τ𝒙𝒛


τ𝒚𝒙 σ𝒚𝒚 τ𝒚𝒛
τ𝒛𝒙 τ𝒛𝒚 σ𝒛𝒛

Indica o plano

τ𝒙𝒚

Indica a direção

Fonte: Fox, 2010


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Capítulo 02 | Conceitos Fundamentais

- Viscosidade dinâmica

Considere um elemento de fluido entre duas placas infinitas, sendo que a placa superior poderá ter uma
força constante para a direita de modo que consegue arrastar o fluido com velocidade constante.

IPC

Quando y = 0 vf = 0
y=y vf = vp

Sendo a tang(α) = Δl/ Δy para o caso em que Δα for muito pequeno, tem-se Δα ≈ tang(α). Logo:

Δl = Δα Δy

Para o fluido com velocidade entre as placas v = d/t a equação pode ser escrita como Δl = Δv Δt,
substituindo, tem-se que:

Δv Δα
Δv Δt = Δα Δy Δy = Δt

É necessário pela imposição da Lei de Newton que exista uma proporcionalidade entre a tensão de
cisalhamento e o gradiente de velocidade. Quem será a constante de proporcionalidade dos fluidos ?

Δv Δα
Δy = Δt μ = τ

Em que μ é a constante de proporcionalidade que vai dizer sobre a resistência dos fluidos.

Δv
Δy μ = τ

Os fluidos os quais a tensão de cisalhamento são diretamente proporcional à taxa de deformação são
conhecidos como Fluidos Newtonianos.
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Capítulo 02 | Conceitos Fundamentais

- Fluidos Não-Newtonianos
As condições dos fluidos para os quais a tensão de cisalhamento não é diretamente proporcional a taxa
de deformação são conhecidos como Fluidos Não-Newtonianos. São exemplos de fluidos não-
newtonianos.

Se comportam como sólidos até que


uma tensão limite (t) seja excedida

dv 𝑛−1 dv
𝑘 =τ
dy dy
n <1

n >1

Pesquisem por exemplos de fluidos newtonianos para a próxima aula !!!!!

Existem também os fluidos não-newtonianos dependentes do tempo, os quais são mais complicados de
analisar. Para esses tipos de fluido, os gradientes de velocidade variam com o tempo e são chamados
de Fluidos Tixotrópicos.
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Capítulo 03 | Estática dos fluidos

3.1 Pressão em um ponto

A estática dos fluidos estuda situações em que não há nenhum movimento relativo entre as partículas
dos fluidos. Desta forma, como não há movimento Ft = 0, ou seja, as tensões de cisalhamento da
superfície do fluido são nulas e a única força que atua na superfície é a tensão normal, logo, a pressão é
o primeiro interesse em estática dos fluidos.

Considere a remoção de um elemento de fluido, imaginando a forma de uma cunha triangular. Visto
que as tensões de cisalhamento são nulas, as únicas forças externas que atuam nas superfícies da cunha
são a peso e a pressão.

Se um fluido está em repouso, então o


somatório das forças agindo sobre o elemento
no sentido de cada eixo x, e z deve ser nulo.

Após dedução matemática é possível mostrar


que:

Py = Pz = Ps

Conclui-se que a pressão em qualquer ponto de um fluido em repouso é independente da direção. Este
resultado é conhecido como a lei de Pascal

3.2 Variação da pressão em um ponto


Considere um elemento de fluido muito pequeno, reduzido a um ponto, considerando este um cubo
infinitesimal, no qual realiza-se uma expansão em série de Taylor.

a=0

𝑑𝐹
= −∇𝑃 + 𝜌𝑔
𝑑∀

−∇𝑃 + 𝜌𝑔 = 0

Se a pressão for aplicada na direção y, tem-se que

d𝑃
= −𝜌𝑔
𝑑𝑧
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Capítulo 02 | Fundamentos

- Velocidade

A hipótese do contínuo levou diretamente à noção do campo de massa específica. A velocidade é uma
grandeza vetorial, exigindo um módulo e uma direção que também pode ser descrita por campos.

v = v (x, y, z, t)
Pode ser escrita em termos de suas três componentes escalares.

v = uî + vj + wk

As coordenadas espaciais necessárias para especificar a velocidade do fluido podem ser empregadas na
classificação do escoamento em unidimensional, bidimensional e tridimensional.

Unidimensional Bidimensional Tridimensional

Então esse seria o Pentadimensional ???


Poderia ser uniforme ???
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Capítulo 02 | Fundamentos

2.4 Linhas de Corrente


São aquelas tangentes à direção do escoamento em cada ponto do campo. Uma técnica útil na análise
do escoamento de fluidos consiste em considerar unicamente uma parte
do fluido isolado do resto. Isto pode ser feito imaginando uma superfície tubular formada por linhas
de corrente onde o fluido escoa. Esta superfície tubular é conhecida como um tubo de corrente.

As “paredes” de um tubo de corrente são constituídas de linhas de corrente e desta forma o


fluido não pode escoar atravessando uma linha de corrente.

2.5 Campo de Tensão


As forças que agem sobre as partículas fluidas são as forças de superfície (pressão e atrito) as quais são
geradas pelo contato com outras partículas e as forças de campo (gravidade e eletromagnética) que
agem através das partículas.
As forças de superfície agindo sobre uma partícula fluida geram tensões. Essas forças incluem as
forças normais (pressão) e as forças tangenciais (cisalhamento).

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