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Wendell Ficher Teixeira Assis

DO COLONIALISMO À COLONIALIDADE:
expropriação territorial na periferia do capitalismo

Wendell Ficher Teixeira Assis*

O artigo ancora-se nas formulações de autores latino-americanos aglutinados no paradigma moderni-


dade–colonialidade, para sugerir que os processos de expansão territorial foram e continuam sendo no-
dais para a lógica capitalista. Se, no colonialismo histórico, a rapina dos recursos naturais legitimava-se
pela força e supremacia político-militar do Estado colonizador, no contexto atual, vigem outros meca-
nismos de poder que garantem a continuidade da expropriação. Para elucidar esse processo, formula-se
a noção de colonialidade na apropriação da natureza, entendida como resultado da construção, no
interior da modernidade, de formas econômico-instrumentais de se pensar e explorar o meio ambiente.
Por fim, retomam-se as discussões sobre a pertinência da teoria da dependência e, com base em dados
empíricos, sugere-se a emergência de novas relações centro–periferia, que estariam se estruturando por
intermédio dos frequentes deslocamentos de capitais e pelo modo como grandes corporações transna-
cionais impõem novas formas organizativas de exploração do trabalho e da natureza.
PALAVRAS-CHAVE: Colonialidade. Colonialismo. Centro-periferia. Expropriação territorial. Teoria da de-
pendência.

Los europeos piensan que solo lo que inventa Europa es lerstein, 1992). Quijano (2005) argumenta que
bueno para el universo mundo y todo lo que sea distinto
es execrable. esse processo começou com uma colonização
Frase atribuída a Simon Bolívar por Gabriel Garcia Már-
quez em El General en su Laberinto, 1989. interna de povos com identidades diferentes,
mas que habitavam os mesmos territórios e
foram convertidos em espaços de dominação
INTRODUÇÃO interna. Esse fenômeno se desdobrou com a
colonização imperial ou externa de povos que
Os estudos denominados pós-coloniais, não só tinham identidades diferentes, como
subalternos ou pós-ocidentais, realizados na habitavam em territórios para além do espaço
África, Ásia e América Latina, entendidos não de dominação interna dos colonizadores.

CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 613-627, Set./Dez. 2014


somente como espaços geográficos, mas como A expansão colonial iniciada no século
lugares que ativam o pensamento crítico eman- XVI, com as grandes navegações e o “desco-
cipador, vêm articulando uma perspectiva que brimento” das Américas – posteriormente in-
evidencia a faceta colonial da expansão capi- crementada com o neocolonialismo do final
talista e de seu projeto cultural (Cajigas-Ro- do século XIX, que promoveu a repartição
tundo, 2007). Nessa mirada, as Américas não da África e Ásia –, é vista, nessa abordagem,
foram incorporadas dentro de uma já existente como condição sine qua non para a existência
economia mundial capitalista; pelo contrário, e a manutenção do capitalismo industrial. Por
não haveria uma economia capitalista mundial outro lado, a extinção do colonialismo histó-
sem a existência das Américas (Quijano; Wal- rico-político nas Américas, com a construção
de nações independentes no século XIX, bem
como na África e Ásia, por intermédio da des-
* Doutor em Planejamento Urbano e Regional. Professor
Adjunto da Universidade Federal de Alagoas e pesquisa- colonização em meados do século XX, não foi
dor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Re- condição necessária e suficiente para a eman-
gional – IPPUR/UFRJ.
Campus A.C. Simões Av. Lourival de Melo Mota, s/n. Cida- cipação político-econômica e cultural dos paí-
de Universitária. Cep: 57072970. Maceió – Alagoas – Bra-
sil. wwficher@yahoo.com.br ses periféricos. Assim, a acumulação primitiva

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colonial, longe de ser uma pré-condição do e na acumulação do capital à escala global.1 O


desenvolvimento capitalista, foi um elemento mesmo poderia ser dito do estabelecimento de
indispensável da sua dinâmica interna e pos- relações sociais cujo modo operativo favorece
terior continuidade (Coronil, 2000). A esse res- tanto a constituição quanto a perpetuação da
peito, Lander (2006, p. 250) destaca que: existência de sujeitos subalternizados nas es-
Ao fazer abstração da natureza dos recursos, espaço feras intra e interestatais.2
e territórios, o desenvolvimento histórico da socie- Essa matriz de poder, que se expressa
dade moderna e do capitalismo aparece como um por meio da colonialidade, procurava e ainda
processo interno, autogerado, da sociedade euro- procura encobrir o fato de que a Europa foi pro-
peia, que posteriormente se expande para as regiões
duzida a partir da exploração político-econô-
atrasadas. Nessa construção eurocêntrica desapare-
mica das colônias. Não há como desconsiderar
ce do campo de visão o colonialismo como dimen-
são constitutiva destas experiências históricas. as implicações históricas do estabelecimento
desse padrão de dominação, que se reflete na
Para elucidar os desdobramentos so- recíproca produção histórica da América e da
ciopolíticos desse processo, Quijano (1997) Europa, como redes de dependência históri-
cunhou o conceito de colonialidade como algo co-estrutural (Quijano, 2005). Entretanto, o
que transcende as particularidades do colonia- caráter constitutivo da experiência colonial e
lismo histórico e que não desaparece com a in- da colonialidade não tem figurado nas abor-
dependência ou descolonização. Essa formula- dagens hegemônicas e eurocêntricas, inclu-
ção é uma tentativa de explicar a modernidade sive de intelectuais latinos, que desprezam a
como um processo intrinsecamente vinculado importância que as relações intercontinentais
à experiência colonial. Essa distinção entre co- tiveram para a emergência do capitalismo. Ao
lonialidade e colonialismo permite, portanto, lançar luz sobre o lado obscuro da modernida-
explicar a continuidade das formas coloniais de, o paradigma colonialidade–modernidade
de dominação, mesmo após o fim das admi- clarifica que os diferentes discursos históricos
nistrações coloniais, além de demonstrar que
1
essas estruturas de poder e subordinação pas- Na tentativa de entender as estratégias de poder subja-
centes ao exercício da colonialidade, Quijano (1997; 2005;
saram a ser reproduzidas pelos mecanismos 2010) desenvolveu a ideia de colonialidade do poder,
como um modelo de exercício da dominação especifica-
do sistema-mundo capitalista colonial-moder- mente moderno que interliga a formação racial, o controle
do trabalho, o Estado e a produção de conhecimento. Em
no. Dessa maneira, a noção de colonialidade outras palavras, a colonialidade do poder é a classificação
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atrela o processo de colonização das Américas social da população mundial ancorada na noção de raça,
que tem origem no caráter colonial, mas já provou ser mais
à constituição da economia-mundo capitalis- duradoura e estável que o colonialismo histórico, em cuja
matriz foi estabelecida (Quijano, 2000). Para Castro-Gomez
ta, concebendo ambos como partes integrantes (2007), esse conceito amplia a ideia foucaultiana do poder
disciplinário, ao mostrar que os dispositivos panópticos
de um mesmo processo histórico iniciado no construídos pelo Estado moderno se expandem a uma es-
século XVI (Castro-Gomez; Gosfroguel, 2007). trutura mais ampla e de caráter mundial, configurada pela
relação colonial entre Estados cêntricos e periféricos.
A construção das hierarquias raciais, de 2
Nessa direção, Guha (1997) sustenta que subalternida-
gênero e de modos de apropriação dos recur- de não é somente uma questão de subordinação de clas-
se dentro de um país industrial, mas de subordinação de
sos naturais, pode ser vista como simultânea organizações sociais e históricas no interior de estruturas
e contemporânea à constituição de uma divi- interestatais, como as que se estabeleceram entre Índia e
Inglaterra. Para o autor, o colonialismo britânico se carac-
são internacional do trabalho e dos territórios, terizou pelo exercício de uma dominação sem hegemonia,
uma composição seriamente determinada pela dissolução
marcada por relações assimétricas entre eco- dos elementos de persuasão e cooperação, que se ancora-
vam na força despótica da superioridade ocidental para
nomias cêntricas e periféricas. Na perspectiva erigir uma dominação política que aniquila o surgimen-
da colonialidade, as antigas hierarquias colo- to do dissenso ou conflito. Por outro lado, se poderia ar-
gumentar que as estratégias de colonização portuguesa e
niais, que foram agrupadas na relação europeu espanhola nas Américas parecem sugerir outro itinerário,
que contemplaria uma fase do uso da força, com aniquila-
versus não europeu, continuaram arraigadas e mento dos diferentes, alinhavada, em seguida, por proces-
sos de persuasão e cooperação que possibilitaram a cons-
enredadas na divisão internacional do trabalho trução de uma dominação hegemônica.

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(evangelização, civilização, modernização, de- de do poder se refere à inter-relação entre as


senvolvimento e globalização) procuram sus- formas modernas de exploração e dominação
tentar a concepção arbitrária de que há um e o processo europeu de expansão colonial.
padrão civilizatório que é, simultaneamente, A colonialidade do saber se relaciona com a
superior e normal (Lander, 2000). No receitu- epistemologia e suas formas de reprodução
ário clássico da modernidade, bem como nos de regimes de pensamento, enquanto a colo-
desdobramentos hodiernos do capitalismo, nialidade do ser se refere à experiência vivida
duas alternativas infernais (Stengers; Pignarre,de colonização e seus impactos na linguagem
2005) têm sido infligidas aos povos subalterni- e na visão de mundo dos povos colonizados
zados: uma decorre da completa aniquilação e (Maldonado-Torres, 2007). Embora o paradig-
a outra, da civilização imposta. ma modernidade–colonialidade tenha logra-
Inspirado por essa abordagem teórico- do avançar nessas diferentes frentes, Escobar
metodológica o artigo procurará demonstrar a (2003) assevera que, no interior dessa corrente
continuidade dos processos de expropriação de de pensamento, há três áreas de grande impor-
recursos naturais localizados em países da peri-tância que têm permanecido sem uma adequa-
feria do capitalismo, que, embora não sejam maisda discussão, a saber: as relações de gênero,
alvo do domínio político-administrativo dos co- uma abordagem da apropriação da natureza e
lonizadores, ainda funcionam como espaço de do meio ambiente, e, por ultimo, mas não me-
avanço das frentes de acumulação do capital. nos importante, a necessidade de se construir
Para cumprir tal tarefa, primeiramente, avançaráimaginários econômicos capazes de ancorar
na elaboração da ideia de que tem vigorado, no lutas concretas contra o neoliberalismo.
sistema-mundo moderno-colonial, uma atitude A partir das trilhas já abertas pelo pa-
utilitarista no tocante à exploração das riquezas
radigma modernidade-colonialidade, se pro-
naturais, consubstanciada por aquilo que aqui securará compreender a inserção de novos terri-
denomina colonialidade na apropriação da natu- tórios nos circuitos de acumulação do capital
reza. Na sequencia, associará a perpetuação des-como expressão de uma das lógicas da colo-
se modelo agro-minero-exportador à continuida- nialidade. Para isso, se lançará mão da ideia
de de relações de dependência, que, no entanto, de que há uma colonialidade na apropriação
vem se configurando de outra maneira, dadas as da natureza, entendida tanto como resultado
especificidades do capitalismo contemporâneo. da construção no interior da modernidade de

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Por fim, retomará as contribuições da Teoria da formas econômico-instrumentais de se pensar
Dependência, sobretudo a vertente avançada por e explorar o meio ambiente, quanto como ex-
(Cardoso; Faletto, 1970) procurando expor uma pressão de processos concretos de expropria-
reconceituação dos processos que engendram e ção territorial que sustentam a lógica preva-
lecente da acumulação capitalista e mantém
reatualizam relações de subserviência político-e-
conômica. em funcionamento o sistema-mundo colonial-
moderno. A colonialidade na apropriação da
natureza se refere, portanto, à existência de
COLONIALIDADE NA APROPRIA- formas hegemônicas de se conceber e extrair
ÇÃO DA NATUREZA: as novas recursos naturais considerando-os como mer-
formas de uma velha exploração cadorias, ao mesmo tempo em que represen-
territorial ta o aniquilamento de modos subalternos de
convívio com o meio ambiente, bem como a
Como se procurou sugerir na sessão an- perpetuação e justificação de formas assimé-
terior, há variadas formas de expressão e exer- tricas de poder no tocante à apropriação dos
cício da colonialidade. Assim, a colonialida- territórios.

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Se, no colonialismo histórico, a rapina para o desenvolvimento do capitalismo. No ce-


dos recursos naturais se legitimava pela força nário atual, prescindindo de uma dominação
e supremacia político-militar do Estado colo- política de corte colonial que desconhece a so-
nizador, no contexto de colonialidade na apro- berania dos povos, as grandes corporações em-
priação da natureza, há outros mecanismos de presariais e os conglomerados financeiros têm
poder que promovem a aceitabilidade da ex- se valido do poder econômico para expandir e
ploração territorial, dentre os quais se desta- incorporar novos espaços nos circuitos de acu-
cam: consideração, como vantagem comparati- mulação do capital. Nesse sentido, o direcio-
va no mercado mundial, a extração de riquezas namento de capitais para a produção brasileira
naturais; discurso da disponibilidade de terras de agrocombustíveis4 pode exemplificar a con-
vazias, degradadas e inexploradas; necessi- tinuidade da incorporação de novos territórios
dade de tornar o território economicamente na lógica de acumulação capitalista, além de
produtivo; criação da ideia-força de que o pro- evidenciar a vigência de uma colonialidade na
gresso e o crescimento econômico se atrelam apropriação da natureza, tendo em vista que
à extração de riquezas naturais; conciliação e os recursos naturais são vistos como vantagem
harmonia entre exploração capitalista da natu- comparativa capaz de garantir a integração à
reza e preservação ambiental; e integração dos economia global. Entre 2004 e 2009, período
produtos primários à economia global como que coincide com os anúncios da União Euro-
forma de pavimentar o caminho para era mo- peia e dos Estados Unidos de substituição de
derna.3 Dito em outros termos, durante o pe- combustíveis fósseis, a produção sucroalcoo-
ríodo do colonialismo histórico, a exploração leira nacional atraiu mais de US$ 6,3 bilhões
de bens primários foi levada a cabo através da de dólares em investimentos estrangeiro di-
mão visível da dominação política; agora está reto, e isso representou 5,4% de todos os in-
organizada por mecanismos de poder operados vestimentos estrangeiros diretos aplicados em
pela aparente mão invisível do mercado em as- todo o mercado brasileiro. Desse montante,
sociação com a destacada e necessária presen- US$ 4 bilhões e 337 milhões, ou o equivalente
ça do Estado (Coronil, 2000). a 68,2%, foram direcionados exclusivamente
Como foi visto anteriormente, a expan- para a fabricação de agrocombustíveis (BC/
são territorial e a dominação político-econô- DESIG, 2010), sendo que, nos anos de 2006 e
mica das colônias foi condição indispensável 2009, nada menos que 92% dos recursos in-
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3
Sobre esse aspecto, é elucidador o pronunciamento do vestidos no setor se endereçaram para produ-
Presidente Lula realizado durante a cerimônia de encer- ção de etanol.5
ramento do Seminário Empresarial Brasil – Zâmbia, ocor-
rido em julho de 2010, em Lusaka: “Olhando o mapa do
mundo, onde a gente percebe que tem terra? É no conti- 4
A perspectiva adotada neste trabalho não se vê repre-
nente africano e no continente latino-americano onde tem sentada na noção de biocombustíveis, uma vez que essa
terra, onde tem sol e onde tem água e, portanto, nós temos denominação traz consigo uma aceitabilidade social que
que fazer disso uma vantagem comparativa na nova for- vincula a produção de combustíveis agrícolas a uma ma-
ma de investimento e de produção no século XXI. Queria triz energética limpa e sustentável. Ao contrário disso,
dizer aos companheiros da Zâmbia que eu estou conven- optou-se por utilizar a designação agrocombustíveis no
cido, e vou repetir aqui uma coisa que eu tenho dito no intuito de enfocar a natureza agrícola, rural e territorial da
Brasil: que a savana africana tem as mesmas característi- produção desse insumo energético.
cas do cerrado brasileiro [...]. E a tecnologia e o manejo do
5
solo transformaram o cerrado brasileiro no maior produtor Em 2007 e 2008, merece destaque o aumento expressivo
de grãos do mundo por hectare, em um grande produtor dos investimentos estrangeiros diretos aplicados no setor,
de cana-de-açúcar, em um grande produtor de milho, em que saíram de US$ 499,2 milhões em 2006, para US$ 2
um grande produtor de soja, em um grande produtor de bilhões e 315 milhões em 2007 e US$ 2 bilhões e 285 mi-
qualquer coisa que a gente queira produzir no cerrado lhões em 2008. Quando se avaliam os países de procedên-
brasileiro. E isso, inexoravelmente, acontecerá com a sa- cia dos recursos nota-se que, no período, marcado pela cri-
vana africana, inexoravelmente. [...] Eu acho que, por isso, se financeira mundial, grande parte dos investimentos ad-
nós depositamos tanta fé e tanta esperança no continente veio de paraísos fiscais localizados no mar do Caribe. Ao
africano e, sobretudo, levando em conta o potencial ener- se somarem os recursos originários das Bermudas, Ilhas
gético deste continente, não apenas pela quantidade de Cayman, Ilhas Virgens e Ilhas do Canal Jersey, obtém-se a
hidrelétricas que podem ser construídas aqui, financiadas cifra de US$ 2 bilhões e 273 milhões, valor que represen-
por bancos brasileiros, construídas por empresas brasilei- ta 66,2% dos investimentos estrangeiros no setor, do ano
ras. Não apenas por isso, mas pelo potencial da produção de 2007, e 44,6% dos aplicados em 2008. Pode-se sugerir
de etanol” (Silva, 2010). um entrecruzamento entre as crises financeira e climática

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A inserção nacional no mercado de siderar a relação entre economia e apropriação


agrocombustíveis elucida o funcionamento territorial, em que o território entra no jogo
das novas relações centro-periferia e, nelas, econômico como matriz de organização das
o Brasil possui uma dupla função, ao mesmo interações econômico-sociais, e não somente
tempo, neocolonial e imperialista; de um lado, como armazém ou conjunto de recursos téc-
representa o espaço de vazão dos capitais acu- nicos e naturais. O território passa, portanto, a
mulados nas economias cêntricas (à disposi- ser considerado como estrutura de organização
ção dos países que, por sua demanda de com- das interações sociais e não mais como uma
bustíveis, desejem reduzir suas emissões – os reserva de recursos sem passado ou futuro
capitais são investidos através da atuação de (Veltz, 1996, p. 15). Assim, reconhecer o papel
conglomerados internacionais que exploram da natureza no capitalismo expande e modifi-
os recursos naturais e humanos, periferizando ca os referenciais temporais e geográficos que
o território brasileiro em prol do abastecimen- marcaram e ainda marcam as narrativas da
to energético das economias cêntricas), função modernidade (Coronil, 2000).
neocolonial; de outro, patrocina o alargamen- Tratar a ocupação territorial da mono-
to da atuação das megacorporações nacionais, cultura de cana para produção de agrocom-
que, por sua vez, agem como cêntricas e peri- bustíveis como resultante de uma colonialida-
ferizam territórios localizados na África e nos de na apropriação da natureza é uma tentativa
países centro-americanos, ampliando o merca- de clarificar a permanência de um padrão de
do global de agrocombustíveis e possibilitando poder com traços colonialistas, que continua-
a inserção de novos territórios nos circuitos de mente se revigora, se modifica e se reatualiza,
acumulação, função imperialista. Os capitais e buscando manter a exploração dos territórios.
empresas brasileiras patrocinadas pela atuação Nesse sentido, conceber a existência de uma
do Estado se expandem na direção de oportu- colonialidade na apropriação da natureza é ca-
nidades mais rentáveis de investimento. minhar na direção de um projeto de descoloni-
Ao compreender a produção de agro- zação simbólica e material que indaga as for-
combustíveis como representativa de uma mas hegemônicas de usurpação das riquezas
colonialidade na apropriação da natureza, territorializadas que, por sua vez, sustentou e
pretende-se indicar a contínua importância segue sustentando a continuidade da moder-
dos recursos naturais para a manutenção da nidade ocidental. É realçar, portanto, a força

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acumulação capitalista, bem como realçar a de um pensamento outro, calcado no ideal da
imprescindível expansão territorial que é le- descolonialidade, que aciona a diferença co-
vada a cabo, simultaneamente, por processos lonial irredutível para questionar os valores
neocolonialistas e imperialistas. Para Lefebvre construídos como centrais (Khatibi, 2001).
(1991), o modelo dual, que explicava o proces- Aqui se nomeia o terceiro termo do pa-
so de acumulação com base na contradição en- radigma modernidade-colonialidade, que in-
tre capital e trabalho, se tornou incapaz de dar corpora o potencial da ideia de descolonização
conta da crescente importância da natureza e passa a ser reconhecido a partir da tríade
para a produção capitalista. Do mesmo modo, modernidade-colonialidade-descolonialidade.
Veltz (1996), criticando uma economia ortodo- Essa tríade analítica auxiliaria, portanto, na
xa, desligada da importância dos territórios e compreensão da transição do colonialismo mo-
baseada em fluxos financeiros indiferentes aos derno à colonialidade global, processo que cer-
lugares, afirma que há necessidade de se con- tamente transformou as formas de dominação
através do qual se criam novos mercados, que, alavanca-
derivadas da modernidade, mas não modificou
dos pelo discurso da preservação ambiental, transformam efetivamente a estrutura das relações centro–
a degradação do ar, água, solos e das populações em novos
circuitos de acumulação de capitais (BC/DESIG, 2010). periferia em escala mundial (Castro-Gomez;

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Gosfroguel, 2007, p. 13)6. Nessa linha, a reto- uma perspectiva ultrapassada, desgastada
mada das contribuições da teoria da dependên- pela globalização e inútil em um contexto de
cia e da noção de centro-periferia pode clarifi- apagamento do Estado-nação. Ocorria, nessa
car o modo operativo da máquina de produção época, uma reação contra a teoria, parado-
de desigualdades, que reproduz subalternida- xalmente no momento em que a subserviên-
des sob a forma da colonialidade global vigen- cia política e econômica era reforçada pelo
te, hoje, nas sociedades interligadas. impacto da dívida externa e pela adesão aos
Embora boa parte dos intelectuais que preceitos do Consenso de Washington. Não
se orientaram pela teoria da dependência es- obstante, Munck (1999), atento a esse contexto
tivesse preocupada em compreender o que político-econômico dos anos 1990, afirmava
desviava os países periféricos dos trilhos do que a dependência dos países latino-america-
desenvolvimento, Cardoso e Faletto (1970) nos ainda não havia desaparecido do mundo
compreenderam a própria ambiguidade polí- concreto e seguia bem viva, sendo alinhavada
tica do desenvolvimento e enxergaram como, pelo receituário neoliberal, que mantinha a fé
em uma relação de dependência, os interesses na convergência entre sociedades industriais
internos se articulam com o restante do sis- avançadas e países atrasados, fornecedores de
tema capitalista. Desse modo, enfatizaram as matérias-primas.
tramas sociopolíticas que extrapolam uma ex- Do mesmo modo, Holloway (2003) su-
plicação econômico-desenvolvimentista, que gere que, hoje mais do que nunca, cerca de 20
vê, nas relações externas, apenas oposições a anos depois que saiu de moda entre as abor-
supostos interesses nacionais globais, para re- dagens das ciências sociais, a teoria da depen-
conhecer que, antes de uma oposição global, a dência continua a fornecer um enquadramen-
dependência articula interesses de determina- to útil para a compreensão da América Latina,
das classes e grupos sociais da América Latina uma vez que sua abordagem interpretativa e
com os interesses de determinadas classes e heurística permanece tendo o poder de nome-
grupos sociais de fora da América Latina (Oli- ar e explicar processos de subordinação eco-
veira, 2003). Para os objetivos deste artigo, in- nômica, política, cultural e ideológica. Assim,
teressa, portanto, reabilitar o conteúdo político na atual fase da globalização econômica, tor-
da teoria da dependência no que tange à elu- na-se ainda mais importante reafirmar e dar
cidação dos processos de subalternização dos continuidade ao desenvolvimento das teorias
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países periféricos à economia globalizada, bem sociais elaboradas no âmbito das nações pe-
como fazer transparecer a pertinência desse riféricas. Nos dizeres de Kay (2009), isso não
instrumental para a análise das dinâmicas es- deveria ser interpretado de maneira estreita e
paciais contemporâneas expressas em comple- chauvinista, mas, pelo contrário, como uma
xos fluxos de mercadorias e finanças. contribuição dos cientistas sociais latino-ame-
ricanos a uma teoria crítica internacional de
caráter mais holístico.7
POR UMA NOVA TEORIA DA DE- Para além do contexto latino-americano,
PENDÊNCIA: contemporaneidade Amin (2005), retomando preceitos da teoria
das relações centro-periferia e reco- da dependência, argumenta que, em conjun-
lonização econômica to com a tríade-cêntrica composta por EUA,
União Europeia e Japão, configuram-se hoje
Para Beigel (2006), em meados da dé- 7
Para Ribeiro (2000), depois do fim da era da dependência,
cada de 1990, a maioria dos cientistas sociais em algum momento da década de oitenta, a teoria social
latino-americana não foi capaz de recuperar sua proe-
considerava a análise da dependência como minência no cenário acadêmico internacional, com uma
abordagem que fosse identificável com a região, apesar das
6
Tradução de minha autoria do original em espanhol. brilhantes contribuições de inúmeros intelectuais.

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três estratos periféricos, a saber: o primeiro ção do capital sobre a sociedade, sobre a natu-
composto por China, os antigos países socia- reza e sobre os níveis de regulação e interferên-
listas, Coréia do Sul, Taiwan, Índia, Brasil e cia dos Estados Nacionais (Leiva, 2009). A esse
México, que conseguiram construir sistemas respeito, Arrighi (1996) enfatiza que o aumento
produtivos nacionais (potencial ou realmente no número de empresas multinacionais e de
competitivos). Um segundo estrato, no qual se transações, dentro delas e entre elas, tornou-se
encontram os países árabes, África do Sul, Irã, fator crucial e emblemático do definhamento
Turquia e os outros países da America Latina, do moderno sistema de nações territoriais, que
que ingressaram na industrialização, mas não era o lócus primário do poder. A isso se pode
conseguiram criar sistemas produtivos nacio- acrescentar o poderio resultante dos fluxos de
nais. Por fim, um terceiro estrato que engloba capitais, que transitam cada vez mais rápidos e
os países que ainda não entraram na revolução menos regulados pelos aparatos estatais.
industrial e apenas alcançam competitividade Na perspectiva de Schwartzman (2006),
nos domínios regulados pelas vantagens natu- a compreensão das relações de dependência
rais, minas, petróleo e produtos agrícolas tro- tem sido reformulada à luz da teoria do siste-
picais. Embora essa abordagem procure tornar ma-mundo colonial-moderno. O termo depen-
complexo o quadro das relações centro–peri- dência, que sempre implicou mais que pobreza
feria, ainda mantém ênfase na lógica dos Es- ou efeitos prejudiciais da adoção de formas de
tados-nação, bem como pressupõe estágios de organização exógenas, passou também a signi-
desenvolvimento mediados pelo processo de ficar a pressão de agentes estrangeiros, por in-
industrialização, não realçando a complemen- termédio do mercado de capitais, com efeitos
taridade sistêmica entre nações industriais e negativos tanto sobre as direções do desenvol-
fornecedoras de insumos básicos. Ademais, ig- vimento econômico nacional quanto sobre a
nora o fluxo de capitais financeiros e de inves- soberania política e o bem-estar social da popu-
timento direto que, oriundo do centro, busca lação. Sendo assim, a abordagem teórica deste
valorização nos países periféricos, dando no- trabalho procura contribuir para a retomada das
vos contornos às relações centro–periferia. discussões da teoria da dependência, bem como
A permanência de análises como as de tenta iluminar a continuidade das relações cen-
Amin (2005), que enfatizam tão somente o pa- tro-periferia, agora instituídas por intermédio
pel do Estado-nação na compreensão das rela- da reconfiguração territorial e dos fluxos de

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ções centro-periferia,8 não captam o fato de que capitais direcionados aos países da periferia do
a globalização neoliberal tem provocado trans- capitalismo. Essas novas relações centro-perife-
formações profundas nas relações entre capital ria estariam se estruturando por meio dos fre-
e trabalho, capital e recurso natural, e entre os quentes deslocamentos de capital e do avanço
capitais e os Estados nacionais. Essas transfor- das grandes corporações transnacionais e con-
mações têm permitido um aumento da domina- glomerados financeiros, que impõem novas for-
8
mas organizativas de exploração do trabalho e
O Estado-nação, mesmo sendo uma das mais importantes
instituições do capitalismo histórico, tornou-se um espa- dos recursos naturais territorializados.
ço limitado para compreensão das relações centro–perife-
ria e de promoção das transformações políticas e sociais. Enquanto a teoria da dependência, for-
Para Grosfoguel (2000), o enfoque clássico da teoria da mulada nas décadas de 1960 e 1970, enfatiza-
dependência, ao não considerar as lutas sociais, acima e
abaixo da estrutura dos estados nacionais, como espaços va o papel dos Estados-Nacionais no exercício
estratégicos de intervenção política, em parte devido à sua
tendência de privilegiar o Estado como unidade de análi- tanto da função cêntrica como da periférica, no
se, acabou por comprometer a capacidade explicativa da
teoria e acarretou consequências para o projeto político atual momento histórico, seria mais prudente
da esquerda latino-americana. Do mesmo modo, ao não afirmar a existência de formas de dependência
enfocar as relações entre as corporações transnacionais e o
desempenho do papel do Estado, deixou de iluminar, com levadas a cabo pelo modo operativo das gran-
maior precisão, as interferências e complementaridades
resultantes desse relacionamento. des corporações empresariais e conglomerados

619
DO COLONIALISMO À COLONIALIDADE ...

financeiros. O Estado e o mercado representa- lítica e economia, uma vez que ele se tornou o
riam, nesse esquema, dimensões complementa- terreno onde se dá a verdadeira disputa.
res de um processo unitário que impulsiona a Nesse contexto de esquecimento da po-
expansão do capitalismo por meio da perpetu- lítica e de opulência da esfera econômica,10
ação das relações centro-periferia.9 Se, antes, a marcado pela ampliação do poderio das cor-
posição de centro era exercida por uma domina- porações empresariais e conglomerados finan-
ção e uma influência política derivada do poder ceiros, argumenta-se, aqui, que as relações
dos Estados, agora seria mais adequado conjetu- centro–periferia sofreram alterações, sendo
rar que as relações de dependência são resulta- hoje mais adequado vislumbrar a existência de
do do poder econômico de grandes corporações um regime de dominação exercido por essas
transnacionais e conglomerados financeiros, corporações de forma policêntrica e gerando
que se ancoram na lógica de mercado e na influ- multiperiferias. Assim, as novas relações cen-
ência política dos Estados de origem para fazer tro–periferia não estariam mais vinculadas a
valer sua força de constrangimento. posições geográficas estanques, expressas na
No capitalismo atual, o econômico tem figura dos Estados territoriais; ao contrário dis-
se emancipado da submissão ao político e se so, derivariam da ação econômica de corpora-
transformado na instância diretamente domi- ções transnacionais e conglomerados financei-
nante que comanda a reprodução e evolução ros organizados em redes, estruturados terri-
da sociedade (Amin, 2001). O processo de con- torialmente, apoiados por um Estado-nacional
centração e centralização dos capitais extrapo- de origem, sendo policêntricos e engendrando
la, assim, a esfera de controle dos Estados-na- multiperiferias. A posição de centro deixaria
cionais e, por meio da ação das corporações de ser exercida por um ou mais estados nacio-
transnacionais, expande a ocupação territorial nais. Romper-se-ia, assim, com a perspectiva
do capital. Como destaca Oliveira (2007, p. de uma relação centro–periferia geográfica,
287) em sua análise das relações contemporâ- transitando para um centro–periferia ubíquo,
neas entre capitalismo e política: levado a cabo por corporações transnacionais,
compostas por capitais trasnfronteiriços que
A assimetria voltou numa escala que anula a política,
isto é, a possibilidade de escapando a lógica de acu-
atuam em todas as partes do mundo.11
mulação de capital, redistribuir o poder na sociedade Para Hoogvelt (1997), à medida que o
de nosso tempo. Trata-se, agora, da anulação da polí- capital internacional se faz mais móvel e se
CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 613-627, Set./Dez. 2014

tica, da colonização da política pela economia. separa de suas anteriores limitações institu-
cionais, as relações centro-periferia vão se
Boaventura de Souza Santos (2010) no-
meia esse processo como o exercício de gover- 10
Nos dizeres de Paoli (2007), sobre a base de predominân-
cia da economia, se absorve o campo político para torná-lo
nos indiretos, donde poderosos agentes não um vasto oikos, no qual os governos se preocupam apenas
estatais adquirem o controle dos cuidados com com um crescimento econômico mal definido, enquan-
to os cidadãos se ocupam inteiramente de seu bem-estar
saúde e segurança, detêm a posse das terras, da material. Dito em outras palavras, a política se torna des-
necessária na medida em que se nega a possibilidade de
água potável e das sementes, para, com base em alternativas ao atual modelo de desenvolvimento.
obrigações contratuais privadas, promoverem a 11
As forças do mercado internacional dominam com um
potencial ainda maior que no passado, e os estados na-
despolitização da sociedade. Como sugere Bei- cionais têm de levá-las em maior consideração nos dias
gel (2006), tudo indica que, no cenário atual, é atuais, sob pena de terem de enfrentar grandes retiradas
de capital externo, como ocorreu nos casos do México e
ainda mais oportuna a proposição dependen- da Argentina, respectivamente em 1994-1995 e 2001-2002
(Kay, 2009, p. 572). Para Boltanski e Chiapello (2009), o
tista de produzir um encontro teórico entre po- estabelecimento dessas novas formas de organização em
rede torna as firmas muito mais flexíveis e muito menos
frágeis do que as grandes empresas nacionais do passado.
9
Para Amin (2003) a construção concomitante de centros Assiste-se, assim, ao desenvolvimento de um capitalismo
dominantes e periferias dominadas e sua reprodução em marcado pela preponderância de megacorporações empre-
cada etapa do sistema capitalista são próprias do processo sariais, cada vez mais poderosas e autônomas em relação
de acumulação operante em escala global. aos Estados, que se tornam cada vez mais fracos.

620
Wendell Ficher Teixeira Assis

convertendo em relações sociais, ao invés de origem nacional (Robinson, 2004). O avanço


se fixarem numa mera relação geográfica. No transfronteiriço dos capitais tem desencadea-
contexto das novas relações centro-periferia, do uma apropriação privada dos recursos na-
marcadas pela dominância da esfera econômi- turais territorializados em países tidos como
ca e pelo poderio das corporações transnacio- atrasados. Uma parte considerável desses re-
nais e conglomerados financeiros, poderia se cursos vem se transformando, quase que ine-
conjecturar, ecoando as afirmações de Coronil vitavelmente, em propriedade privada de em-
(2000), que o mercado se apresenta travestido presas transnacionais (Leiva, 2009). Embora os
e mascarado pela aparência de uma estrutura capitais também se direcionem para atividades
de possibilidades, que encobre sua fisionomia industriais e tecnológicas, o montante princi-
de regime de dominação, criando a ilusão de pal tem sido investido em ramos atrelados ao
que a ação humana é livre e não limitada, a complexo agro-minero-exportador.
marginalização, o desemprego e a pobreza Para se ter uma ideia desse processo, em
aparecem como falhas individuais e coletivas, 2008, ingressaram, no Brasil, US$ 43,8 bilhões
quando deveriam ser vistas como efeitos inevi- de dólares de investimento estrangeiro direto,
táveis de uma violência estrutural. sendo US$ 12,9 bilhões destinados às ativida-
Nas palavras de Katz (2002), o correla- des de agricultura, pecuária e extrativa mineral,
to político dessa dominação econômica é uma outros US$ 6,7 bilhões para metalurgia e fabri-
recolonização da periferia, que se apoia na cação de coque, derivados de petróleo e bicom-
crescente associação das classes dominantes bustíveis, e mais US$ 5,7 bilhões em investi-
locais, com seus sócios do centro. Esse entre- mentos diretos em atividades do serviço finan-
laçamento tem como consequência a depen- ceiro. Assim, o ramo extrativo e de apropriação
dência financeira, a entrega dos recursos natu- de recursos naturais somado aos investimentos
rais e a privatização de setores estratégicos. A diretos em atividades do setor financeiro, tota-
partir dessa imbricação de capitais, Robinson lizaram US$ 25,3 bilhões de dólares, represen-
(2004) propõe ampliar a ideia de hegemonia tando 57,8 % de todos os investimentos diretos
para além de uma forma de dominação so- aplicados no país. Por outro lado, ao se somarem
cial inextricavelmente associada ao Estado. os investimentos na fabricação de equipamen-
Ao contrário disso, sugere que grupos sociais tos de informática, produtos eletroeletrônicos e
e classes compostas no cenário das relações ópticos, na fabricação de máquinas, aparelhos e

CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 613-627, Set./Dez. 2014


interestatais passam a exercer a hegemonia, materiais elétricos e na produção de máquinas
operando de forma transnacional e utilizando e equipamentos diversos, obtêm-se US$ 986,6
outros arranjos e formas institucionais. Nessa milhões de dólares, que, expressos de outra for-
abordagem, a hegemonia passa a ser exercida ma, representam 2,2 % dos investimentos es-
por uma classe capitalista transnacional que se trangeiros diretos (BC/DIFIS, 2009).
constitui por intermédio da globalização dos Ao analisar esses fluxos financeiros da
fluxos financeiros e de mercadorias. economia global, Patnaik (2005) visualiza um
Essa forma de dominação do capital processo de acumulação de capitais que deno-
transnacional ocorre, portanto, quando os ca- mina acumulação por meio da invasão, don-
pitais nacionais expandem seu alcance para de certos blocos de capital crescem através do
além das fronteiras e se fusionam com outros deslocamento (o que significa expropriação ou
capitais nacionais já internacionalizados, dan- compra a preços descartáveis) de outros blo-
do origem a um processo transfronteiriço que cos, expandem-se por meio do despojamento
os desincorpora da pertença à nação e os situa de formas pré-capitalistas de produção ou de
em um novo espaço supranacional, não mais setores comandados pelo Estado, bem como
orientado pela valorização estrita do capital de através da apropriação de recursos comuns

621
DO COLONIALISMO À COLONIALIDADE ...

que não formavam parte da propriedade priva- do força e os básicos crescendo em relevância.
da. Como boa parte dos investimentos diretos Ao se relacionar os dados do gráfico com
de capital externo, associados ou não ao capital os valores de investimento estrangeiro direto
nacional, destina-se à exploração e apropria- apresentados anteriormente, constata-se que o
ção de recursos naturais, isso tem impactado ingresso de capitais na apropriação privada e
negativamente os modos de vida e as formas exploração de recursos naturais tem resultado
de reprodução social de inúmeros grupos que em um crescimento das exportações de produ-
são subalternizados pela lógica excludente da tos primários; dito de outro modo, é plausível
acumulação de capitais. sugerir uma vinculação entre a extração de ri-
Ainda que, no contexto atual, o comércio quezas naturais, a exportação de produtos pri-
intersetorial de manufaturas e produtos básicos mários e a valorização dos capitais que apor-
já não defina as relações centro-periferia, haja tam no Brasil. Para Coronil (2000), a globali-
vista a instalação de indústrias transnacionais zação neoliberal tem homogeneizado e feito
nos países tidos como atrasados, como se pôde abstratas diversas formas de riqueza, incluin-
notar no exemplo brasileiro da produção de do a natureza, que vem se convertendo, para
agrocombustíveis, um grande percentual dos muitos países, em sua vantagem comparativa
investimentos estrangeiros tem se destinado mais segura e sua fonte principal de ingresso12.
à apropriação privada de recursos naturais e Esse exemplo da relação entre exporta-
territórios. Para Di Filippo (1998), a tendência ção de produtos básicos e ingresso de inves-
de mudança, impulsionada pela migração de timento estrangeiro direto clarifica o fato de
empresas multinacionais para a periferia, está que a acumulação capitalista está fundamen-
clausurando as formas intersetoriais de comér- talmente enraizada na tríade; apropriação de
cio que caracterizavam o paradigma centro-pe- sistemas ecológicos, exploração do trabalho e
riferia, onde o centro fornecia produtos manu- valorização financeira. Nota-se, portanto, que
faturados e a periferia produtos básicos. Essa a inserção brasileira na economia global tem
forma de intercâmbio estaria sendo substituí- se processado através da dilapidação do patri-
da pelo comércio intraindustrial e intrafirmas, mônio natural, da degradação e contaminação
Gráfico 1: Exportações brasileiras por tipo de produto – 1970-2010 do meio ambiente, da ex-
ploração de mão de obra
barata ou em regime de es-
CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 613-627, Set./Dez. 2014

80,0
70,0 cravidão, da expropriação
60,0
de populações camponesas
50,0 Básico
e da subserviência aos me-
%

40,0 Manufaturado
30,0 Semi-faturado canismos de valorização fi-
20,0
10,0 nanceira. Agregue-se a isso
0,0 o fato de que os princípios
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
de conservação e preserva-
Fonte: MDIC/DEPLA, c2011. ção ambiental que já foram
impostos às corporações
com as corporações transnacionais produzindo
bens manufaturados na periferia e exportando 12 Em artigo publicado no Le Monde Diplomatique, o Sub-
comandante Marcos argumenta que a globalização moder-
para as economias cêntricas. Entretanto, os da- na e o neoliberalismo como sistema mundial devem ser
reconhecidos como uma nova guerra de conquista de ter-
dos brasileiros de comércio exterior, ilustrados ritórios. Nessa nova guerra, a política, como organizadora
no gráfico disposto a seguir, sugerem uma in- do Estado-nacional, não existe mais, foi tragada pela esfera
econômica, e os políticos se transformaram em modernos
versão na pauta de exportações a partir do ano administradores de empresas interessados em gerir os ne-
gócios estatais como se estivessem à frente de lojas de de-
2000, com os produtos manufaturados perden- partamentos (Marcos, 1997).

622
Wendell Ficher Teixeira Assis

industriais pelos governos dos países centrais, ração de produtos primários e de força de tra-
a fim de racionalizar a utilização dos recursos balho barata (Coronil, 2000, p. 99).
naturais, nunca são aplicados na mesma me- No momento atual, em que talvez a ca-
dida em países periféricos, onde o imperialis- racterística mais importante da nova fase do
mo ecológico abertamente vem impondo suas imperialismo seja a abertura comercial e o
marcas (Clark; Foster, 2009).13 aperto territorial que se impõe à economia ru-
A regressão primário-exportadora atu- ral dos países tidos como atrasados (Patnaik,
almente verificada no Brasil, em associação 2005), a junção entre imperialismo, teoria da
com a entrada de investimento estrangeiro dependência, relações centro-periferia e pa-
direto no controle e apropriação de recursos radigma modernidade-colonialidade pode ser
naturais, são amostras da continuidade de um útil na compreensão das dinâmicas de recon-
processo dotado de raízes estruturais, assim figuração territorial impostas ao meio rural
como da pertinência de uma análise calcada brasileiro, bem como ajuda a clarificar as for-
nos pressupostos da teoria da dependência. mas de inserção da produção de commodities
Schwartzman (2006) vai mais longe e afirma na economia mundial. Ao remontar às raízes
que as relações de dependência consolidadas históricas, epistêmicas, político-econômicas,
através dos fluxos de capitais têm ameaçado culturais e ideológicas que interligam os terri-
afetar até mesmo a legitimidade da democracia tórios latino-americanos, sobretudo o brasilei-
brasileira. Para a autora, a adoção, na última ro, às lógicas operativas do capitalismo trans-
década, do paradigma do liberalismo por parte nacional, o presente artigo intentou construir
dos governos brasileiros, embora componha as uma perspectiva teórico-metodológica, que
diretrizes da nova globalização, não alteraram permita iluminar o cenário atual de inserção de
os fundamentos do processo, ou seja, no inte- novos territórios nos circuitos de acumulação
rior das relações entre nações “desenvolvidas” do capital. A linha de raciocínio aqui trilhada
e “em desenvolvimento”, ainda persiste o com- ambicionou realçar que o estudo de uma fren-
ponente da dependência. A esse respeito, a re- te atual de expansão do capitalismo permite a
primarização da economia, que tem vigorado análise concreta de um processo que reproduz,
nos países latino-americanos, pode ser consi- em algumas de suas linhas mais gerais, uma
derada como um indicativo da continuidade etapa da própria formação histórica do Brasil,
das relações de dependência e um retorno às na medida em que as atuais frentes podem ser

CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 613-627, Set./Dez. 2014


formas de controle colonial baseadas na explo- consideradas, de certa maneira, como as conti-
nuadoras do processo histórico de expansão e
13
Clark e Foster (2009) caracterizam o imperialismo ecoló- colonização territorial (Velho, 1972).
gico como algo que cria assimetrias na exploração do meio
ambiente, impulsiona a troca desigual e provoca uma rup-
tura metabólica global, agravando a subordinação das na-
ções periféricas. Nesse cenário, os acordos internacionais
de comércio, influenciados pela dinâmica da economia REFLEXÕES FINAIS
global e pelas posições dentro do sistema-mundo, afetam
e impactam negativamente as condições socioecológicas Duas coisas bem distintas / Uma é o preço, outra é o valor
dos países extrativistas e periféricos. Na avaliação de Hor- / Quem não entende a diferença / Pouco saberá do amor,
nborg (1997), não é possível compreender a acumulação, o da vida, da dor, da glória / E tampouco dessa história /
desenvolvimento ou a moderna tecnologia ocidental, sem Memória de cantador [... ] E até o velho Chico cantou pra
se referir a esse intercâmbio comercial entre nações e o todo mundo ouvir: Hay que, hay que, eike, hay que, hay
modo como os valores de troca se relacionam à termodinâ- que, hay que resistir!
mica. Para o autor, uma junção entre economia ecológica e El Efecto. Música O Encontro de Lampião com Eike Batista,
leis da física possibilita compreender a maneira através da 2012.
qual as instituições de mercado organizam a transferência
líquida de energia e materiais para os centros do sistema.
De acordo com esse raciocínio, os preços de mercado e a
troca desigual são mecanismos arbitrários por meio dos Ao lançar mão da ideia de que há uma
quais as economias centrais do sistema-mundo extraem colonialidade na apropriação da natureza, en-
energia e exportam entropia para suas periferias. Nesse
sentido, o intercâmbio desigual vigente no sistema-mundo tendida tanto como resultado da construção no
colonial-moderno reproduz as máquinas e essas, por sua
vez, reproduzem o intercâmbio desigual. interior da modernidade de formas econômico

623
DO COLONIALISMO À COLONIALIDADE ...

-instrumentais de se pensar e explorar o meio ção das relações centro-periferia.


ambiente quanto como expressão de processos Por último, mas não menos importan-
de expropriação territorial que sustentam a ló- te, vale destacar que este trabalho foi sendo
gica prevalecente da acumulação capitalista, construído ao modo de quem monta um que-
procurou-se elucidar o papel da episteme na bra-cabeça, cujas peças pertencem a diferentes
legitimação da expansão territorial e dos des- figuras. Assim, mesclando-se cores, matizes,
locamentos da lógica de acumulação. A produ- tradições intelectuais, tempos e perspectivas,
ção de um conhecimento silenciador de outras procurou-se iluminar a contínua inserção de
realidades e de modos distintos de uso, signi- novos territórios nos circuitos de acumulação
ficação e apropriação da natureza representa, do capital. Ainda que algumas peças desse
assim, uma arma importante na justificação de quebra-cabeça tenham sido encaixadas sem
processos expropriatórios que continuamente muita perfeição, quase empurradas por uma
têm promovido a rapina dos recursos territo- curiosidade que ainda desconhece as feições
rializados nos países periferizados. A colonia- da totalidade, espera-se, à maneira do que su-
lidade na apropriação da natureza é vista, por- gere Coronil (2003), que esse encaixe imper-
tanto, como expressão de novos mecanismos feito, essa figuração derivada do equívoco,
de poder, que se traduzem na existência de for- permita vislumbrar algo não imaginado antes,
mas hegemônicas de se conceber e explorar os de modo que aquilo que ainda não se encaixa
recursos naturais, considerando-os unicamen- corretamente possa oferecer uma inesperada
te como mercadorias, ao mesmo tempo em que iluminação.
evidencia o aniquilamento de modos subalter-
nos de convívio com o meio ambiente, bem
Recebido para publicação em 03 de julho de 2013
como a perpetuação e justificação de formas Aceito em 28 de setembro de 2013
assimétricas de apropriação dos territórios.
Ao retomar as discussões da teoria da
dependência, visando a analisar as dinâmicas REFERÊNCIAS
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Wendell Ficher Teixeira Assis

FROM COLONIALISM TO COLONIALITY: DU COLONIALISME À LA COLONIALITÉ:


territorial expropriation on the outskirts of expropriation territoriale dans la périphérie du
capitalism capitalisme

Wendell Ficher Teixeira Assis Wendell Ficher Teixeira Assis

This article is based on the formulations of Latin- L’article se base sur les formules des auteurs
American authors who study the paradigm latino-américains regroupés autour du paradigme
modernity-coloniality. They suggest that the modernité-colonialité pour suggérer que les processus
processes of territorial expansion were, and still are, d’expansion territoriale ont été et sont toujours nodaux
fundamental for the capitalist logic. If in historic dans la logique capitaliste. Si, dans le colonialisme
colonialism the plunder of natural resources historique, le pillage des ressources naturelles était
was done through strength and political-military justifié par la force et la suprématie politique et
supremacy of the colonizer State, currently other militaire de l’État colonisateur, actuellement d’autres
mechanisms of power guarantee the continuity of mécanismes de pouvoir sont en place pour garantir
the exploration. In order to elucidate this process, la continuité de l’expropriation. Pour élucider ce
the notion of coloniality in the appropriation of processus, une nouvelle formule est apparue, celle
nature is formulated, understood as a result of de la colonialité dans l’appropriation de la nature,
the constructions in the interior of modernity étimée comme résultat de la construction au sein de la
which think of economic-instrumental ways of modernité de moyens économiques et instrumentaux
exploring the environment. Lastly, we go back to de penser et d’exploiter l’environnement. Pour finir,
discussions regarding the pertinence of the theory on reprend les discussions sur la pertinence de la
of dependence and based on empirical data, suggest théorie de la dépendance et, en se basant sur des
the emergence of new downtown-outskirts relations données empiriques, on signale le surgissement de
which would be structured by the constant nouvelles relations centre-périphérie qui seraient
displacement of capitals and by the way big en train de s’établir sur des mouvements fréquents
international corporations impose new organized de capitaux et sur la manière qu’ont les grandes
ways of exploring work and nature. corporations transnationales d’imposer de nouvelles
formes d’organisation de l’exploitation du travail et de
la nature.

KEYWORDS: Coloniality. Colonialism. Downtown- MOTS-CLÉS: Colonialité. Colonialisme. Centre-


outskirts. Territorial Expropriation. Theory of périphérie. Expropriation Territoriale. Théorie de
dependence. La dépendance.

CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p. 613-627, Set./Dez. 2014

Wendell Ficher Teixeira Assis – Doutor em Planejamento Urbano e Regional. Professor Adjunto da
Universidade Federal de Alagoas. Pesquisador do ETTERN/IPPUR da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia e Meio Ambiente. Atuando
principalmente nos seguintes temas:Agrocombustíveis, Monocultura de Cana-de-Açúcar, Conflitos
Ambientais. Publicações recentes: O moderno arcaísmo nacional: Investimento estrangeiro direto e
expropriação territorial no agronegócio canavieiro. Revista de Economia e Sociologia Rural (Impresso), v.
52, p. 285-302, 2014; As novas Terras do Sem-fim: Expansão capitalista e acumulação primitiva no Brasil
rural. Campo - Território, v. 14, p. 212-242, 2014; Desregulación, conflictos territoriales y movimientos
de resistencia: la minería en la Amazonía brasileña. Letras Verdes, v. 14, p. 117-138, 2013.

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