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PARAÍBA UNDERGROUND:

A CONTRACULTURA NOS QUADRINHOS DE SHIKO

Elton Silva de Lima

INTRODUÇÃO

Nascido em Patos, na Paraíba, Francisco José Souto Leite tinha tudo para ser
apenas mais um Chico. Mas como nos melhores plot twists1 das melhores histórias
em quadrinhos, quis o tempo e o destino que o paraibano, com então dezoito anos,
mudasse para a capital do seu estado natal, João Pessoa, e se tornasse o Shiko.

A transição entre o interior e a capital notadamente influenciaria o


desenvolvimento do homem e do artista, marcado por sua presença em dois
universos – sertanejo e urbano – que culminaria no próprio desenvolvimento de seu
estilo gráfico e narrativo: versátil, além barreiras e fronteiras subjetivas ou
geográficas. É esse mosaico de referências que faz com que Shiko trace seu
caminho nas artes visuais em suas mais diversas manifestações: dos quadrinhos,
passando pelas telas, aquarelas, animações até o graffiti de rua. É sua habilidade
diversa que faz com que seja possível ilustrar a adaptação de um romance
regionalista como O Quinze ou uma história urbana futurista repleta de androides
como Blue Note.

Não importa onde – se no circuito do mercado editorial ou nos fanzines e


publicações undergrounds – nem como – quer com lápis, nanquim ou aquarela –, a
arte de Shiko passeia por estilos, formas e ideias, atribuindo ao autor um traço tão
diversificado quanto peculiar, característico, único.

1
Traduzido ao pé da letra como “reviravolta” é uma mudança radical na direção esperada ou prevista da
narrativa de um romance, filme, série de televisão, quadrinho, jogo eletrônico ou outra obra narrativa.
Os trabalhos autorais de Shiko também possuem uma assinatura marcante.
Seus roteiros permeados por personagens urbanos, dissidentes e marginais
passeiam pelo mundo da loucura, do erotismo, do sexo, do fanatismo religioso, da
violência, da carne e do sonho. Nesse sentido, os quadrinhos de Shiko vão ao
encontro da contracultura – se não da contracultura dita como movimento ou opção
estética em sua totalidade, ao menos de elementos desse fenômeno, pincelados
aqui e acolá.

A contracultura como movimento e/ou modo de ser e fazer arte abrangeu – e


continua abrangendo, ainda que de forma diluída ou ressignificada – manifestações
culturais e artísticas diversas; os quadrinhos não foram exceção. De que modo,
então, a contracultura aparece nos quadrinhos de Shiko é o que pretendo abordar
neste artigo, sem a pretensão de atingir uma verdade cabal ou uma leitura crítica
última. Para isso, será preciso discorrer antes sobre como os elementos
contraculturais surgiram na sociedade, nas artes, nos quadrinhos e, sobretudo,
perguntar, para começo de história: o que é contracultura?

HIPPIES, RITMOS E NANQUIM: UM PANORAMA SOBRE A


CONTRACULTURA

Sócrates, Jesus Cristo, Jimi Hendrix. Três figuras históricas diferentes, todas
elas ligadas por um elo comum: a contracultura.

Se concebermos o conceito de contracultura por uma ótica ampliada, logo


veremos que existiram inúmeras figuras representativas de um certo movimento
contracultural ao longo do tempo e do espaço. Isso, pois, numa acepção maior do
termo, contracultura diz respeito a um movimento, uma postura ou atitude: ir de
encontro ao modelo cultural que está posto. No senso comum, a noção de
contracultura pode soar de maneira distorcida, atribuindo ao termo a conotação de
ser “contra a cultura”. Mas, na verdade, a contracultura se opõe aos costumes,
regras e produções que estão vigorando como os modos vigentes em uma dada
sociedade e em um dado contexto. Sócrates morreu por discordar das normas
estabelecidas na cultura grega de sua época, Cristo desafiou as leis morais e
religiosas do seu tempo, pregando uma filosofia de amor ao próximo que contestava
o poder instituído. De outra maneira, mas também sob o lema da paz e do amor,
Jimi Hendrix empunhava sua guitarra, tal como um guerreiro do ruído, dissipando
ritmos e melodias nada comportadas para o American way of life dos anos 1960.
1960... uma década que, para muitos leigos e estudiosos, passou a ser sinônimo e a
definir a própria contracultura.

Apesar do sentido mais largo que a expressão “contracultura” pode assumir,


como supracitado, se for executado um recorte histórico e geográfico, uma nova luz
sobre o tema se acende. A contracultura, segundo aponta Pereira (1992), foi antes
de tudo um modo de contestação radical, nutrido por um espírito questionador,
rebelde, jovem. Tal espírito se encontra em diversos grupos, sujeitos, épocas e
lugares, e se expressa de diversas maneiras, pois que o novo e a ruptura sempre
vêm. Mas a contracultura enquanto manifestação artística e da subjetividade
humana da qual o artigo pretende tratar, ganhou contornos especiais se delineando,
sobremaneira, em um tempo e lugar específicos.

Desde os anos 1950, um espírito libertário e questionador já acenava o que a


década seguinte viria a se tornar nos Estados Unidos e na Europa. Falo aqui do
movimento beat – cujo poema “O Uivo”, de Allen Ginsberg, foi um precursor icônico.
Na transição dos anos 50 para os anos 60, surge o rock and roll, tendo em Elvis
Presley sua imagem central. Beatles, Stones, Janis Joplin e o próprio Hendrix lotam
festivais que eram verdadeiras performances de uma nova era. Bob Dylan com suas
canções de protesto sintetiza a alma contestadora do período. O cinema é tomado
pelos “rebeldes sem causa”, representados por James Dean, gangues de
motocicleta e “jovens transviados” trajando jaquetas de couro. Não havia mais volta:
os anos 60 tinham chegado e eles não estavam nada satisfeitos com o
establishment econômico, subjetivo e cultural. Surgia uma cultura “marginal”,
underground, que não habitava o centro da sociedade (embora pudesse partir dela)
e que não compactuava com seus princípios.

[...] Cabelos compridos, roupas coloridas, misticismo, um tipo de


música, drogas e assim por diante. Um conjunto de hábitos que, aos
olhos das famílias de classe média, tão ciosas de seu projeto de
ascensão social, parecia no mínimo um despropósito, um absurdo
mesmo [...].

Começavam a se delinear, assim, os contornos de um movimento


social de caráter fortemente libertário, com enorme apelo junto a uma
juventude de camadas médias urbanas e com uma prática e um
ideário que colocavam em xeque, frontalmente, alguns valores
centrais da cultura ocidental [...].
(Pereira, 1992, p. 8)

Mesmo sem saber ao certo o que estava acontecendo naquele período, dava
pra sentir um novo ar, uma nova atmosfera – ventos da mudança. Logo toda a
América do Norte, a Europa e até mesmo o Brasil, conheceriam de perto o
fenômeno que se tornaria conhecido como contracultura. Permanecer indiferente a
ele era impossível. Sexo, drogas, guerra, feminismo, direitos humanos... A
contracultura estava presente em tudo que era feito: na política, na música, na
poesia, na literatura e até mesmo nos quadrinhos.

PROIBIDO PARA MENORES: AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E A


CONTRACULTURA

Quando se fala em histórias em quadrinhos, de imediato, o que nos assalta a


cabeça é a ideia de gibis produzidos em papel barato, de conteúdo massivo,
pobreza narrativa, geralmente com histórias juvenis e pouco consistentes sobre
super-heróis. Tal impressão, delineada no imaginário coletivo através dos tempos,
tem lá uma ou outra proposição de verdade, uma vez que as histórias em
quadrinhos foram – e, em certa medida ainda são – configuradas dessa forma.

Na década de 1950, nos Estados Unidos, as histórias em quadrinhos


consolidaram-se como produto da indústria cultural com a produção
em massa de revistas das mais diversas temáticas. Editadas em
grandes tiragens em papel barato e preço módico, as revistas se
popularizaram, em particular as que apresentavam histórias de terror,
como a Creepy e a Tales from the Cript, ficção científica, guerra e
super-heróis, trazendo histórias repletas de sangue e mortes
trágicas.
(Magalhães, 2009, p. 2)

No entanto, muita coisa mudou: a arte, as técnicas narrativas, as histórias e


até mesmo o mercado do nicho das HQ’s já não são mais os mesmos. A mudança
da qual falo conferiu maior qualidade técnica e literária ao mundo dos quadrinhos,
garantindo a essa expressão artística o status de nona arte. Na indústria, um grande
salto de qualidade e maturidade foi visto durante a década de 1980, quando Alan
Moore, Frank Miller e Neil Gaiman, cujos nomes viriam a formar a santíssima
trindade dos quadrinhos britânicos e norte-americanos, publicaram suas obras
máximas: Watchmen, O Cavaleiro das Trevas e Sandman, respectivamente2. O que
se viu nas bancas de grande parte do mundo foi uma mudança sem precedentes
que revolucionaria o sentido do termo comics para sempre.

Fig 01 – Marvelman em uma história de 1954, criada por Mick Anglo. A simplicidade dos
traços e a ingenuidade do enredo ilustram o zeitgeist dos quadrinhos. Posteriormente, na década de
1980, escritores como Alan Moore, Neil Gaiman e Grant Morrison redefiniriam o personagem de
modo revolucionário, conferindo às histórias de Marvelman maior maturidade.

Muito se falava sobre uma certa invasão britânica dos quadrinhos – quando a
já saturada indústria norte-americana recrutou roteiristas e artistas do Reino Unido 3
para que, com o todo peculiar modo inglês de contar histórias, dessem novo fôlego a
um mercado sempre instável. Os quadrinhos entraram, definitivamente, numa nova
era: histórias mais adultas (inclusive com a abordagem de temas como sexo,
violência, ocultismo, política e filosofia), com personagens mais complexos,
linguagem poético-literária, arte experimental, simbólica e ousada cativavam jovens,

2
A essa lista creio ser salutar incluir a obra Batman: Asilo Arkham, publicada em 1989, com roteiro de Grant
Morrison e arte de Dave McKean. Até hoje, uma das graphic novels mais revolucionárias e mais vendidas sobre
o personagem Batman.

3
A invasão britânica das HQ’s dos anos 1980 foi encabeçada por figuras como Alan Moore, Grant Morrison,
Jamie Delano, Neil Gaiman, Alan Grant, Dave McKean, dentre outros. Posteriormente, na transição do final da
década de 1980 para o início de 1990 até meados de 2000, ocorreu o que muitos chamam de nova invasão
britânica nos quadrinhos, com a chegada dos trabalhos de Garth Ennis, Andy Diggle, Mark Millar e outros
autores ao mercado das comics norte-americanas.
adultos e despertavam o olhar da crítica para aquilo que ignoraram por um bom
tempo – um compilado de papel, cultura de massa, sub-arte. Editoras como a DC
Comics e seu selo de histórias adultas, Vertigo Comics, davam imensa liberdade
para que artistas e criadores explorassem novas ideias e formas narrativas, o que
resultou em experiências singulares, inéditas até em outras mídias (cinema, TV ou
mesmo a literatura). Os quadrinhos deixaram de ser vinculados apenas a aventuras
de super-heróis em roupas colantes coloridas – e mesmo quando histórias de
aventureiros mascarados eram publicadas, estas ganhavam uma densidade nunca
antes vista.

Fig 02 – Watchmen, obra-prima de Alan Moore e Dave Gibbons, desconstrói o arquétipo dos
super-heróis. Não há mais super seres essencialmente bondosos. Na trama, o universo construído
por Moore é povoado mais por anti-heróis do que por heróis propriamente ditos. Política, filosofia,
ciência e ficção compõem a tônica de Watchmen.

Apesar das transformações ocorridas a partir da década de 1980 nos


quadrinhos de indústria, durante os anos 1960 no submundo, ou melhor, no
underground da nona arte, já se desenhava um conjunto de obras produzidas por
artistas transgressores, provocadores, inovadores, escatológicos, ácidos, críticos e,
sobretudo, geniais. Sem o apoio de grandes editoras, sem circulação no mercado,
mas inflamados pelo espírito da contracultura da época, os chamados autores
marginais estavam escrevendo e desenhando gibis que as mães nunca comprariam
para seus filhos.
Os quadrinhos provavam ser uma mídia popular, capaz de atrair leitores em
massa. Com isso, histórias de guerra, terror, sexo e violência preenchiam tiragens
cada vez mais numerosas, chamando atenção até mesmo de grandes escritores da
literatura fantástica e da ficção científica, como Ray Bradbury, que colaboravam com
a criação de novas histórias, cujas edições conquistavam fãs de todas as faixas
etárias. As temáticas pesadas e sanguinolentas, entretanto, começaram a preocupar
a conservadora sociedade norte-americana. Pais e educadores viam nos quadrinhos
não mais um veículo de entretenimento que ressaltava os valores morais e éticos,
mas sim uma subliteratura capaz de corromper os jovens. Corroborando essa ideia,
veio o livro Seduction of the innocent, publicado pelo psiquiatra Dr. Frederick
Wertham. Em sua obra, Wertham afirmava que os quadrinhos possuíam o poder de
seduzir os jovens, transformá-los em delinquentes, induzi-los ao crime e ao suicídio.
Como consequência disso, no ano de 1956, o Senado dos Estados Unidos
estabeleceu a criação do famigerado Comics Code Authority, censurando diversas
revistas populares da época. Com a proibição imposta, muitas editoras pararam de
publicar suas histórias mais viscerais e mudaram a linha editorial para os quadrinhos
de humor e sátira – exemplo famoso foi a revista Mad, em circulação até hoje, que
burlava o código de ética ao colocar em suas páginas, além de quadrinhos
propriamente ditos, textos e disparates, comédias de costumes da sociedade norte-
americana e críticas aos filmes de Hollywood.

Até mesmo os super-heróis sofreram com a restrição do Senado dos EUA. As


principais editoras do gênero, DC Comics e Marvel Comics, passaram a enquadrar
seus personagens em histórias bem comportadas, cheias de referências à ordem e
aos bons costumes sociais. A liberdade criativa dos autores ficava restrita ao que a
lei exigia, as histórias demasiadamente repetitivas e sem densidade, os
personagens quadrados e enfadonhos. Havia um sufocamento enorme dentro de
uma manifestação artística que tanto podia, se livre fosse. Uma falta de ar que só
poderia ser compensada com um grande grito escandaloso de fôlego.

Aproveitando o clima de contestação, revolução e transformação pelo qual


passava a sociedade norte-americana no movimento da contracultura, surgiram os
quadrinhos underground. Artistas como Robert Crumb, Gilbert Shelton, Bill Griffith,
Victor Moscoso e Richard Corben, protestavam de modo irreverente e provocador
contra o status quo dos quadrinhos e, por conseguinte, da arte, da cultura e da
sociedade. Indo na contramão do mercado e da política de censura, esses artistas
publicavam suas ideias de modo independente, com recursos próprios, vendendo de
mão em mão, no melhor espírito marginal do fanzine, longe das grandes editoras,
mas próximos de um público ávido por inovação.

Robert Crumb merece ser destacado como o precursor desse movimento


contracultural nos quadrinhos. Curiosamente, Crumb em toda sua inquieta e peculiar
personalidade, recusava a aderência a movimentos, títulos e quaisquer outras
formalidades. Tinha até mesmo certa aversão ao movimento hippie e ao que
começavam a chamar de movimento underground. Era um artista sem rótulos, muito
embora sua revista Zap Comix (assim mesmo, com um X no final, derivado do termo
X-rated) tenha sido, inegavelmente, o marco de uma era de subversão, liberdade e
acidez nos quadrinhos.
Fig 03 – Em Minha Vida, Crumb cria uma de suas HQ’s mais autobiográficas, onde, no típico
espírito contestador da contracultura underground, lança críticas mordazes à religião, polícia,
repressão sexual e a toda e qualquer forma de controle.

De acordo com Román Gubern, o movimento iniciado espontaneamente por


Robert Crumb “se revelaria fecundo e originaria uma sequência de comics
revolucionários que não almejavam o lucro nem a popularidade dos respectivos
autores, mas o protesto de sinal libertário, com frequentes recursos à extravagância,
à escatologia e ao erotismo desaforado, expressos num grafismo agressivo e pouco
tranquilizador, batizado como feísmo” (Gubern, 1980 apud Magalhães, 2009).

As opções estéticas dos desenhos variavam bastante de autor para autor.


Ainda assim, predominava sobre elas um traço sujo, agressivo, carregado e
geralmente em preto e branco. Tal recurso acentuava ainda mais o tom que as
comix (em contraposição às comics) assumiram na década de 1960. Crumb ora
optava por um estilo mais realista, ora por uma linha mais caricatural, quase infantil.
Mas a inocência e a semelhança com os cartoons e desenhos animados para
crianças era apenas aparente. Exemplo disso temos em Fritz, the cat – um gato
tarado, beberrão, drogado e pervertido que destoava com qualquer outro gatinho
que passasse na TV. Outro personagem totalmente subvertido pelas mãos de
Crumb foi Mr. Natural, um guru de longa barba branca, que pregava a paz e o amor,
mas que não praticava nada do que ensinava. Longe de ter uma vida resignada, o
velhinho guru vivia um forte hedonismo à custa da ingenuidade de seus seguidores,
entregando-se aos prazeres da carne ao lado de beldades femininas – uma crítica
ao movimento hippie e aos seus mentores espirituais, como também ao sistema
religioso como um todo.

Na Europa e até mesmo no Brasil se faria ouvir os ecos do movimento


contracultural dos quadrinhos norte-americanos, ainda que esse som chegasse com
um pequeno delay4 nas terras tupiniquins. Fato é que, durante os anos 1970,
diversos quadrinistas brasileiros se deixaram influenciar pelo burburinho que
acontecia na terra do Tio Sam.

Em 1972, a revista Balão, organizada por estudantes da Faculdade de


Arquitetura e Urbanismo da USP, não apenas compilava o material que raramente
chegava de fora no país, como também apresentava nomes que posteriormente se
consagrariam nas artes gráficas brasileiras: Laerte e os irmãos Caruso, por exemplo.
Esse tipo de produção marginal também influenciou a confecção cada vez maior dos
fanzines nacionais, regados de experimentação e corrosividade.

Apesar do irrequieto espírito transgressor se fazer faminto por rupturas em


toda a história da humanidade, foi nos anos 1960 que os quadrinhos se
consolidariam dentro de tal espírito.

Mas... e hoje? Continuaria a atitude rebelde de outrora atuando na verve


artística de nossos quadrinistas?

4
Termo técnico para definir o tempo de atraso de um sinal ou transmissão de som, reverberação, eco ou em
equipamentos técnicos em geral.
PARAÍBA UNDERGROUND: A CONTRACULTURA NOS QUADRINHOS DE
SHIKO

Cada caso é um caso, cada homem e cada arte é produto de sua época. Ao
mesmo tempo, homem e arte possuem o poder de se tornarem atemporais. Mas, se
a contracultura não já se manifesta ipsis litteris como nos anos 1960, em nossa
contemporaneidade a contracultura, sem sombra de dúvidas, aparece reformulada,
reescrita e redesenhada. E não é preciso ir muito longe para ver isso.

Se nos anos 1970 a produção de quadrinhos autorais brasileiros (e até


mesmo a importação de materiais estrangeiros) acontecia de forma lenta e esparsa,
vivemos atualmente um cenário muito fértil para as obras nacionais. Em termos de
indústria é bem verdade que ainda encontramos um mercado com diversas
dificuldades para o quadrinista tupiniquim. Para compensar tal fato, o espírito criativo
e rebelde de desenhistas, cartunistas, grafiteiros e roteiristas está mais inquieto e
atuante do que nunca. Exemplo disso pode ser visto e lido na vida e obra de
Francisco José Souto Leite, o Shiko.

Ao iniciar seus trabalhos escrevendo e desenhando em fanzines, Shiko


parece ter mostrado a que veio – para reclamar um espaço e uma arte bastante
específicos. Em suas primeiras publicações no zine Marginal, cujas principais
edições foram compiladas em um volume homônimo, Shiko já demonstra bastante
maturidade em suas histórias, traçando um intertexto com temáticas do universo
undeground e, por conseguinte, com elementos da própria contracultura. Se esse
paralelo é feito de forma intencional não dá pra ter certeza, mas, sem dúvida
alguma, é executado de forma magistral.

Em Marginal estão presentes temas que caminham por um mundo urbano,


envolto em erotismo, violência, drogas, críticas sócio-políticas, tudo isso com muita
qualidade gráfica. Pois, embora o artista tenha elegido o meio alternativo dos
fanzines para exercer toda sua liberdade criativa, sem as amarras impostas pelas
publicações editoriais, o traço realista de Shiko confere um acabamento único para o
material. Os fanzines, por se tratarem de publicações caseiras e baratas, geralmente
trazem, ora por opção estética, ora por ausência de recursos, uma arte mais
“desleixada” – coisa que não acontece em Marginal, onde Shiko exibe desde já uma
coerência estilística, um traço consistente, denotando a qualidade que se tornaria
sua marca registrada. O uso de uma arte bem produzida acaba por agregar uma
qualidade poucas vezes observada no cenário dos quadrinhos underground,
trazendo assim uma renovação ao meio independente. Underground e “qualidade”
deixam de ser antônimos.

Fig 04 – Quadro de Marginal. Erotismo, jazz, álcool e tabaco reinvindicam um certo clima beat
em uma atmosfera boêmia.

Em grande parte de suas obras, Shiko se inspira no cotidiano, no dia a dia


das personagens, cenários e contextos marginais, para dar vazão à sua produção.
Além das escolhas temáticas, a opção estética pelo preto e branco e pela plataforma
independente de publicação muito lembra a postura dos quadrinistas da época da
contracultura sessentista. Há ainda muitas outras referências temáticas e estilísticas
nos trabalhos de Shiko, como bem nos lembra Magalhães (2013):

Autodidata, Shiko armazena uma bagagem cultural invejável. Desde


cedo leu os clássicos da literatura mundial, Rimbaud, Baudelaire,
Marx, ampliando os horizontes muito além dos bancos escolares. Os
quadrinhos europeus lhe impregnam influências incontornáveis, a
música cria o clima para suas histórias, a cultura beat lhe serve de
referência temática, com a observação cuidadosa das ambientações
da rua, dos hábitos, do vestuário, elementos que enriquecem seu
universo ficcional.

A expressão poética dos quadrinhos de Shiko, repletos de


referências e inspirações literárias, associada à delicadeza de seu
traço, representam um dos melhores expoentes dos quadrinhos
brasileiros em sua feição impressionista. (2013, p. 46)

Em Robert Crumb, o contraste entre arte e visceralidade textual e temática


acontecia quando o artista optava por desenhar seus personagens com um aspecto
de desenho animado infantil cometendo atos nada inocentes e pueris. Já em Shiko,
essa disparidade aparece no seguinte sentido: o desenho é realista e por vezes com
um traço delicado e suave, ao contrário do risco sujo e pesado de Crumb; mas os
comportamentos dos personagens marginais de Shiko apontam para a mesma
crueza dos vagabundos, prostitutas, assassinos e bêbados das ruas.

Fig 05 – Fritz, the cat, de Robert Crumb.


Fig 06 – A Boca Quente, de Shiko.

Tanto Crumb, o papa dos quadrinhos contraculturais dos anos 1960, quanto
Shiko, o arauto de uma nova geração marginal, possuem em comum não apenas o
universo temático, mas também a versatilidade no ato de criar. Crumb variava com
habilidade entre caricatura e desenho realista, chegando também a trabalhar com
pintura em tela e até mesmo com escultura. Shiko, além de habilidoso desenhista,
desponta no universo da aquarela, do graffiti de rua e do desenho publicitário.
Ambos também optaram pelo meio independente de publicação de seus trabalhos.
Em entrevista, Shiko brinca, dizendo “o artista underground se vende” ao se referir
sobre seu trabalho como ilustrador publicitário, lembrando que a situação do
mercado brasileiro ainda não é favorável para os quadrinistas da terra, que não
conseguem viver exclusivamente de suas artes. É preciso fazer essas concessões
mercadológicas como forma de sobrevivência – tanto do artista como da própria
arte.

Shiko e Crumb adotam essa postura, não apenas como forma de


sobrevivência e perpetuação pessoal e artística, mas também provavelmente para
executar aquilo que muitos chamam de “vazar por dentro. ” A expressão fala sobre o
ato que consiste em produzir trabalhos mais comerciais, dentro de circuitos
tradicionais ou padronizados da arte e da mídia, para que seu nome ganhe projeção.
Desse modo, o artista assegura certo retorno financeiro essencial para sua vida e
para dar continuidade a seus trabalhos mais autorais e independentes. No sistema
de mercado que vivemos hoje, ter essa consciência é essencial, pois nem sempre
será possível para uma arte marginal alcançar certos lugares sem que antes ela faça
algumas concessões com o mainstream. Isso não significa necessariamente “se
vender ao sistema” – trata-se mais de saber como negociar com ele mantendo a
proposta e a postura artística e pessoal original.

Em certo momento da carreira, depois de muita relutância, Crumb decidiu


autorizar a realização cinematográfica de uma adaptação de Fritz, the cat. Depois de
produzida e rodada, a animação não agradou a Robert Crumb, cuja aversão aos
circuitos comerciais da arte aumentou ainda mais. Assim, Robert Crumb assassinou
literal e metaforicamente o personagem felino em sua última edição e nunca mais
voltou a desenhá-lo. Prometeu também nunca mais vender os direitos de nenhuma
de suas obras. Esse tipo de postura, bastante comum no ideário dos artistas que
vão na contracultura do movimento, evidencia não apenas a postura de arte e de
artista marginal que poucos corajosos assumem, mas principalmente a postura
pessoal, a vida propriamente marginal, de quem ousa viver nos recuos da sociedade
em prol do que acreditam. Isso fica claro na obra de Shiko, não resta dúvidas. Mas
também em sua existência pessoal. Até os 27 anos de idade Shiko viveu sem a
maioria dos documentos exigidos pela lei. Um autodidata que frequentou pouco a
escola, sabendo que aquele espaço não proporcionaria a experiência gráfica e vital
necessária para seus voos, sabia também que CPF, RG, reservista e até mesmo
conta bancária de nada lhe serviriam. Uma atitude tão underground quanto seus
personagens. Todavia, Shiko soube bem quando travar diálogo das bordas para
com o centro da sociedade.

Shiko começou a deixar de ser talento puro exclusivo do meio independente


para ganhar projeção a partir do ano de 2013, com sua participação no projeto
Graphic MSP, do renomado Maurício de Sousa. Foi com uma releitura caprichada
do personagem Piteco, um homem das cavernas criado por Maurício de Sousa, que
o paraibano alcançou tal feito. Piteco – Ingá traz um Shiko trabalhando em outra
proposta, mais longe da veia marginal, porém não menos competente. Na história,
Shiko pincela um belíssimo trabalho composto em aquarela, numa narrativa
inventiva que mescla a pré-história com a história da própria Paraíba, sua terra natal.

Em O Quinze (2013), Shiko mostra sua versatilidade gráfica e temática mais


uma vez, ao se afastar dos temas urbanos, pesados e undergrounds pelos quais
ficou conhecido na cena independente, para adaptar o universo regional envolto em
seca de Rachel de Queiroz. A releitura do famoso romance brasileiro saiu pela
editora Ática e alavancou ainda mais a obra de Shiko para um outro público leitor de
quadrinhos. Isso fez com que o autor mencionado resvalasse total e exclusivamente
para o mercado central de HQ’s? Pelo contrário! Shiko permanece publicando mais
do que nunca, lançando um trabalho autoral atrás do outro – prova disso é o seu
mais recente A Boca Quente, que marca o retorno do velho Shiko: visceral, erótico e
suburbano.

Fig 7 – Piteco – Ingá


Fig 8 – O Quinze

Robert Crumb, apesar de ter resistido a maiores diálogos com o mercado


durante os anos de contracultura, posteriormente também desenhou adaptações
para grandes editoras. Kafka de Crumb, como o título já denuncia, apresenta um
olhar peculiar sobre a vida e a obra de Franz Kafka, com o traço marcante e
característico de Crumb. Surpreendente mesmo foi a versão do livro bíblico do
Gênesis, adaptado homonimamente para os quadrinhos numa versão literal e bem-
comportada pelo mesmo Crumb que vomita todas suas críticas por sobre a religião,
a moral e os bons costumes.

Religião. Um tema que ganha duras abordagens também na obra de Shiko –


exemplo máximo disso pode ser visto e lido em Lavagem, uma de suas HQ’s mais
surpreendentes. Inicialmente produzido para o cinema pelo próprio Shiko e parceria,
o curta-metragem ganhou uma adaptação para a linguagem da nona arte. Shiko foi
bem-sucedido na transposição de uma linguagem para outra. Em diversos
momentos o uso de “quadros” retangulares lembra as tomadas panorâmicas
utilizadas em diversas cenas de filmes.
Fig 9 – Lavagem, de Shiko.

Lavagem utiliza o cotidiano dos moradores de uma região de mangue para


compor uma história de terror psicológico que abraça diversos temas: machismo,
violência, infidelidade, assassinato, loucura, perversão... tudo isso envolto pela nota
principal do fanatismo religioso.

Tanto as cenas quanto os diálogos apresentam crueza rudimentar, palavras


ríspidas e sujas compõem o cenário tanto quanto o ambiente ou os próprios
personagens. Aqui vemos a corrosividade da contracultura de outrora ainda
presente, com uma nova roupagem. Mas, ao mesmo tempo, embora trate do tema
religião bem como Robert Crumb, Shiko o faz de modo mais denso, dramático, com
toques de horror e suspense – enquanto Crumb e muitos outros da cena de São
Francisco nos anos 1960 abordavam tais temas com certo humor e despojamento –,
sem falar do arrojo cinematográfico na composição de quadros e painéis. Seria
enganoso, no entanto, pensar que a HQ é mera extensão do filme de mesmo nome.
Como bem pontua o escritor de quadrinhos Alan Moore, os quadrinhos não devem
ser vistos apenas como um storyboard para o cinema, como se fossem apenas
“filmes que não se movem”. Moore e muitos outros autores, tais como Shiko, tentam
explorar mais que a integração entre sétima e nona arte, mas, sobretudo, criar nos
quadrinhos algo que seja peculiar e possível apenas a essa mídia. Não raro, Shiko
alcança esse efeito de singularidade ao desenhar páginas que se integram de
maneira semiótica com outras páginas, imagens, textos e com os próprios quadros,
como visto a seguir.

Fig 10 – O fanatismo religioso em pauta nas páginas de Lavagem.


Fig 11 – A composição de cenas e suas transições entre quadros e páginas executadas de
forma que somente é possível nas histórias em quadrinhos.

O trabalho com outras mídias e formas de arte (graffiti, aquarela e


especialmente o cinema) e a influência delas (literatura, poesia) se faz presente
também em O Azul Indiferente do Céu. No referido quadrinho, Shiko compõe uma
obra que foi escrita inicialmente para ser filmada. Como o roteiro original acabou não
ganhando o cinema, o artista paraibano aproveitou a proximidade entre tela e papel
para dar vida a uma história de denúncia social.

Desde o início de sua criação de história em quadrinhos, em meados


da década de 1990, Shiko já demonstrava uma sensibilidade pouco
comum aos jovens que mal saíam da adolescência. O trabalho de
Shiko não se guiava pelo decalque dos super-heróis, os personagens
preferidos dessa faixa etária, muito menos pelo mangá, gênero que
se expandia no país como uma febre avassaladora.

Ao contrário de seguir o apelo fácil dos quadrinhos de massa, que


pululam no mercado editorial, o traço de Shiko já trazia o requinte
dos quadrinhos autorais, comumente de origem europeia, mas com
um toque de brasilidade ao mesmo tempo universal. Como obra
personalizada, o trabalho de Shiko evoluiu gráfica e plasticamente,
seja pelas incursões nos grafites de rua, seja pela imersão nas artes
plásticas.

Malgrado a força significante de sua arte visual, Shiko esmerou-se


desde sempre em buscar um texto reflexivo, não raro inspirado ou
baseado na literatura, que deu o escopo necessário à construção de
sua obra. Não se espere na obra de Shiko a narrativa óbvia e linear
dos quadrinhos de aventura; seu texto pode ser considerado como
uma narrativa poética, ao mesmo tempo literária e funcional.
(Magalhães, 2009)

O que Magalhães aponta no supracitado fragmento aparece na estarrecedora


narrativa gráfica de O Azul Indiferente do Céu. Shiko monta a trama dessa HQ com
base em um poema de Jorge Luiz Borges, encontrado com o presidente da
Comissão dos Direitos Humanos da Colômbia, quando assassinado em 1987.
Misturando ficção à realidade, o resultado é uma história que expõe a violência já
histórica na América Latina. Shiko o faz, no entanto, sem ser didático ou panfletário
– e apenas os bons artistas conseguem criar com suas paletas sem estar em cima
de um palanque.

Fig 11 – O silêncio como recurso narrativo em O Azul Indiferente do Céu.


O diálogo de Shiko com a contracultura brasileira também existe e Talvez seja
mentira é a prova de tal fato. Expondo ainda mais o erotismo em seus quadrinhos,
Shiko mostra na obra Talvez seja mentira inspirações que remontam a Carlos Zéfiro.
As referências aos quadrinhos eróticos de Zéfiro, que ficaram famosos no meio
underground do Brasil durante os anos 1970, vão da própria temática sexual ao
formato – que lembra exatamente os “catecismos” e as tijuana bibles pornográficas.

Fig 12 – Shiko inova no formato com a obra Talvez seja mentira.

Essa obra erótica do desenhista paraibano conta com a colaboração do


irmão, Bruno R., no que diz respeito ao roteiro – uma vez que foi baseada em dois
contos do mesmo. E, apesar das homenagens e semelhanças com o trabalho de
Zéfiro, Talvez seja mentira se mostra um ou dez passos à frente daquelas
publicações em papel barato e traços toscos que satisfaziam os jovens curiosos em
tempos árduos. Isso porque Shiko lança um desenho tão sofisticado quanto o
acabamento do material onde ele assina. O formato da edição é 10 x 15 cm e suas
páginas de papel cartão podem ser abertas como numa espécie de “sanfona”,
garantindo assim uma dinâmica de leitura inusitada e desafiante ao leitor. Desafiante
e muito prazerosa.
Em meio às cenas de sacanagem, o leitor se depara não com uma, mas na
verdade duas histórias traçadas em paralelo – frente e verso das folhas. Ambas são
arquitetadas para serem lidas de forma independente, mas, ao mesmo tempo, elas
podem ser conectadas. Na primeira história, Shiko despeja uma boa dose de
metalinguagem ao narrar as peripécias de uma moça que mantinha um diário
secreto de suas escapadas sexuais, sem que o ex-namorado soubesse – tudo isso,
ela relatava e documentava em seu querido diário em forma de quadrinhos. O livreto
vem acompanhado de uma caixinha (slipcase) que lhe serve de capa, o que mostra
um aprimoramento incrível em termos não apenas de conteúdo e estética gráfica,
mas também de acabamento nos materiais da cena independente.

Fig 13 – Talvez seja mentira: erotismo e inovação gráfica acompanhada de belos traços.
CONCLUSÃO

Erotismo, crítica social, política e religiosa, publicação independente,


cenários, personagens e artistas que vivem à margem do convencional e do
politicamente correto – tudo isso e muito mais é visto na vida e obra de Shiko. Não
resta dúvidas de que o artista paraibano revisita e mantém viva a contracultura,
tornando seu trabalho algo além de um legado de certo momento histórico, antes: o
testemunho histórico do espírito criativo humano que resiste e subverte em todos os
tempos e lugares.

Por meio de diversos elementos estéticos e narrativos próprios da


contracultura foi possível ver o modo underground de fazer quadrinhos, de fazer
arte, nas obras de Shiko. O paraibano, então, atua não apenas como um
mantenedor de uma tradição marginal – o que por si só já soaria irônico. Shiko vai
mais além, agregando, atualizando e, se preciso, até mesmo desconstruindo
elementos da contracultura, da produção independente, deixando sua marca
indelével em cada nova assinatura. Pois, ser marginal é acima de tudo inovar,
renovar-se, estar vivo. Fazer arte... com a vida.
REFERÊNCIAS

ADEODATO JUNIOR, Jorge Luiz. Histórias em quadrinhos como manifestação


contracultural: análise, alcance e desdobramentos a partir dos anos 80 no
Brasil. 2014. 51 f. TCC (Graduação) - Curso de Letras, Universidade Estadual Vale
do Acaraú, Sobral, 2014.

CRUMB, Robert. Minha Vida. São Paulo: Conrad, 2005.

GOFFMAN, Ken. Contracultura Através dos Tempos. São Paulo: Ediouro, 2007.

MAGALHÃES, Henrique. Indigestos e sedutores: o submundo dos quadrinhos


marginais. Culturas Midiáticas: Revista do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da Universidade Federal da Paraíba, S.i, v. 2, n. 1, p.1-10, jan.
2009.

MARGINAL. Direção de Bruno R. Leite. Produção de Bruno R. Leite. Roteiro: Bruno


R. Leite. Paraíba: Independente, 2004. Son., color. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=cShEQBC2GuA>. Acesso em: 12 out. 2015.

MOORE, Alan. Watchmen. São Paulo: Abril, 1999.

PEREIRA, Carlos Alberto M.. O que é contracultura. São Paulo: Brasiliense, 1992.

ROBERT CRUMB, o Mestre do Underground | Pipoca e Nanquim #108. S.i.:


Independente, 2012. Son., color. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=EiV84SE3zgs>. Acesso em: 01 set. 2015.

SHIKO. Lavagem. São Paulo: Mino, 2015.

SHIKO. Marginal. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2013.

SHIKO. O Azul Indiferente do Céu. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2013.

SHIKO. O Quinze. São Paulo: Ática, 2013.

SHIKO. Piteco - Ingá. Osasco: Panini, 2013.

SHIKO. Talvez seja mentira. S.i: Independente, 2014.

THE Mindscape of Alan Moore. S.i.: Shadowsnake Films, 2003. Son., color.
Legendado.

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