Você está na página 1de 10

Rules Rather Discretion: The Inconsistency of Optimal Plans 15/12/2009

“Não apenas revolucionou a pesquisa económica, como também influenciou profundamente


a prática da política económica em geral, e da política monetária em especial.”

Real Academia Sueca das Ciências


2004

Resumo

“Rules Rather than Discretion: The Inconsistency of Optimal Plans” é um dos textos mais
importantes sobre a dinâmica da macroeconomia, tendo por base um conjunto de estudos que
procuraram analisar os ciclos económicos e a sua ligação ao longo do tempo, induzindo
importantes reflexões que condicionaram as políticas fiscal e monetária de diversos países.
Edward Prescott e Finn Kydland foram os dois autores que com este trabalho de 1977,
mereceram da Real Academia Sueca o Prémio Nobel da Economia em 2004.
Para Kydland e Prescott, a conjugação de análises de curto prazo com as de longo prazo,
foi importante para que se pudesse perceber a influência dos choques da oferta nas políticas
económicas, tendo em conta tanto as actuações dos criadores de tais políticas, como as
reacções dos agentes económicos.
No seguimento deste trabalho iremos então analisar a perspectiva destes dois autores
sobre Teoria do Controlo Óptimo, políticas discricionárias, políticas de regras, tendo em
consideração o problema da incoerência temporal da política, bem como dar a conhecer
variados exemplos das suas aplicações reais.

2
A Teoria do Controlo Óptimo e o Problema da Incoerência Temporal

Durante o período pós-guerra, a análise macroeconómica mundial era dominada pela


perspectiva keynesiana. Keynes defendeu uma política económica de Estado intervencionista,
através do qual os governos usariam medidas fiscais e monetárias para atenuar os efeitos
adversos dos ciclos económicos.
Um dos mais influentes economistas de sempre, Robert E. Lucas, declarou o fim da
teoria keynesiana, desenvolvendo a chamada “crítica de Lucas”. Neste trabalho, Lucas, pôs em
causa modelos macroeconómicos anteriores. Tais modelos supunham que os agentes
económicos agiam “olhando para trás”, ou seja, utilizavam apenas informações passadas para
pautar as suas acções. Nesse sentido, qualquer notícia nova (tal como um anúncio do governo)
não influenciaria em nada o seu comportamento. No entanto, se supusermos que os agentes
têm expectativas racionais1, o efeito de uma política económica pode ser radicalmente
diferente.
Uma investigação para demonstrar a aplicabilidade dos métodos de controlo óptimo,
num mundo de expectativas racionais, levada a cabo por Prescott e Kydland, acabou por revelar
que as soluções consistentes obtidas por este método não eram óptimas, como esperado.
Inicialmente, os autores desvalorizaram este resultado, no entanto, motivados pela crítica de
Christopher A. Sims – conceituado economista – ao seu primeiro trabalho, mudaram
radicalmente o rumo da investigação.
Prescott e Kydland começaram então, a sua investigação pela Teoria do Controlo
Óptimo, poderosa técnica de análise de sistemas dinâmicos. Primeiramente verificaram que
esta não é apropriada mesmo quando definida a função objectivo social. Esta teoria, que
consiste em tomar a melhor decisão num determinado ponto do tempo, tendo em conta a
situação actual, sendo que as futuras decisões serão tomadas da mesma forma, é apenas
apropriada, segundo os autores, para situações em que o resultado actual e o movimento do

1
As expectativas racionais foram difundidas e popularizadas por Robert E. Lucas nos anos 70, explorando a
hipótese formulada por John Muth em 1961, (Jonh Muth, “Rational Expectations and Theory of Price Movments”,
Econometrica, 1961, 29(6), 1411-1428). Por expectativas racionais de um agente económico, entende-se como as
expectativas formadas por estes agentes com base em toda a informação disponível, sem cometer erros
sistemáticos de previsão, ou seja, são não enviesadas.
sistema depende do presente e apenas das decisões presentes e passadas. Uma mudança de
governo constitui um exemplo de uma alteração no presente com repercussões nas
expectativas futuras dos agentes, isto é, a mudança de expectativas que os agentes têm sobre
políticas futuras irá afectar as suas decisões presentes – esta acção é inconsistente com os
pressupostos da Teoria do Controlo Óptimo.
No entanto, estes pressupostos não significam que os agentes consigam antever
perfeitamente as políticas futuras, mas os autores consideram que para este argumento ser
válido, basta que os agentes tenham alguns conhecimentos ou ideias sobre como as actuações
irão ser afectadas por uma alteração nas condições económicas. Assim, em suma, os agentes
económicos como seres racionais que são, nas suas decisões presentes irão ser afectados pelas
expectativas futuras, o que, mais uma vez, contraria o pressuposto em que o controlo óptimo
apenas toma como base decisões presentes e passadas.
Para analisarmos a inconsistência do plano óptimo importa definir o que é uma política
consistente. Estas são, políticas que maximizam a função bem-estar social, para cada período
de tempo, tomando como dadas as decisões passadas até ao momento imediatamente
anterior.
A inconsistência do plano óptimo foi demonstrada através de um modelo matemático e
corroborada por vários dados empíricos e outros exemplos (construção em zonas de cheias e
política de patentes).
No primeiro exemplo, o resultado social óptimo seria não haver casas em zonas de
cheias, mas visto que já existem casas nessas zonas, deveriam então, ser tomadas medidas anti-
cheias. Por outro lado, se as políticas governamentais fossem não construir barragens e diques,
por exemplo para prevenir as cheias, e os agentes tivessem conhecimento disso, mesmo que
construíssem casas nestas zonas, ninguém lá viveria. No entanto, os agentes racionais sabem
que após as casas serem construídas, o governo irá agir, tomando as medidas anti-cheias
necessárias. Em suma, na ausência de uma lei proibindo a construção em zonas de cheias, os
agentes racionais irão construir casas de qualquer maneira, sabendo que o governo os irá
“proteger”. Assim, a política consistente seria tomar medidas anti-cheias pelo governo, contudo
esta não seria a política óptima.
No segundo exemplo, desde que os recursos foram alocados para as actividades de
investigação das quais resultou um novo produto, a política eficiente seria não permitir a
política de patentes. Esta seria a política óptima visto que tendo sido introduzido um novo
produto/processo produtivo, toda a investigação dispendiosa já teria sido feita e caso não
houvesse patente, qualquer pessoa teria acesso a esses “segredos”, não existiria um monopólio
por parte do inventor e assim, seria melhorado o bem-estar social da população. Para este
caso, poucos consideram esta solução como sendo razoável. No entanto, segundo Nordhaus
(1969), a questão teria que ser posta segundo o tempo de vida óptimo da patente, que tem em
consideração tanto o incentivo a investigadores dado pela protecção da patente, como também
as perdas de benefício do consumidor, provocadas pela prática de preços de monopólio.

A existência do, já mencionado, problema de incoerência temporal da política,


exaustivamente estudado pelos autores, originou um novo tipo de argumento contra as
políticas conduzidas de forma pontual. Prescott e Kydland verificaram que quando os decisores
utilizam uma política discricionária – política decidida de forma pontual, por análise momento a
momento do estado da economia – não é atingido o máximo do bem-estar social (a função
social não é maximizada), ou seja, constituem políticas sub-óptimas.
Por outro lado, recorrendo e confiando em políticas de regras – políticas criadas tendo
por base regras pré-estabelecidas na sociedade; são inflexíveis, visto que a regra não pode ser
alterada facilmente – a performance económica pode ser melhorada. As regras, em detrimento
da discrição, também são suportadas por Friedman. Este economista diz-nos que a dinâmica
das mudanças, associadas à passagem do tempo, apresenta um problema de timming para a
aplicação de uma política. O problema referido, tem como base a existência de um intervalo de
tempo, mais ou menos longo e variável, assente em três aspectos ou situações: a necessidade
de acção e o reconhecimento dessa necessidade; o reconhecimento do problema, decisão de
qual a politica a implementar e o seu efeito. Suportado no problema da variabilidade dos
intervalos, Friedman argumenta que as políticas de regras não provocam instabilidade,
concluindo assim que as regras são melhores que a discrição.
Muitos autores consideram que as políticas discricionárias deveriam ser abandonadas
em favor das políticas de regras devido ao facto dos decisores de política prosseguirem
objectivos próprios que podem entrar em conflito com os objectivos sociais, prosseguindo
políticas discricionárias oportunistas que visam aumentar o seu suporte eleitoral, contribuindo
assim para instabilidade da economia.
O problema da incoerência temporal política, que pode advir das políticas
discricionárias, coloca aos próprios decisores um limite à sua actuação de abandono no futuro
da política anunciada no presente. Com o uso frequente deste tipo de actuação e a sua
antecipação por parte dos agentes económicos leva a que os decisores percam credibilidade, e
consequentemente as suas políticas deixarão de ser tão eficazes.

O Exemplo do Crédito fiscal ao Investimento


Neste exemplo os autores assumem que uma política de estabilização passiva do crédito
ao imposto (pelo investimento) tinha sido seguida no passado e que a função que descrevia o
comportamento do investimento era equilibrada, dada a política passiva. Também assumem
que os econometristas estimaram a relação do investimento e que o decisor usa sempre a
Teoria do Controlo Óptimo, sob a falsa premissa que o equilíbrio da função investimento é
invariável com a regra política usada. Então, subsequentemente a isto, a economia move-se
para um novo equilíbrio da função investimento. Os econometristas revêem então as suas
estimativas, argumentando que houve mudanças estruturais e o decisor usa novamente a
Teoria de Controlo Óptimo para determinar uma nova regra política.
No entanto, esta mudança política vai induzir novas alterações na função investimento,
que convidará a nova mudança na decisão política. Reparamos então que os econometristas
estão sempre a fazer revisões dos seus resultados e projecções, convencidos da invariabilidade
da função investimento face às chamadas políticas óptimas e são sistematicamente
surpreendidos pelo que chamam de mudanças estruturais. A aplicação da Teoria de Controlo
Óptimo é prejudicial e perigosa para a performance da economia. Primeiro porque conduz ao
aumento / intensidade das flutuações económicas, ou mesmo tornar instável uma economia
estável. Segundo porque mesmo quando funciona razoavelmente bem, pode sempre melhorar
com a aplicação de regras.

O Exemplo da Inflação e Desemprego


A suboptimibilidade da política consistente não é geralmente reconhecida para o
problema da gestão da procura agregada. A política standard recomendada é seleccionar a
melhor política, dada a situação actual. Isto pode parecer razoável, mas para a estrutura
considerada, que é uma abstracção plausível da realidade, tal política resulta em excessivas
taxas de inflação sem qualquer redução do desemprego. Assim, é preferível uma política de
manutenção da estabilidade dos preços.
As tentativas dos economistas de racionalizar o aparente trade-off entre desemprego e
inflação resultaram em modelos, com a seguinte estrutura: desemprego (emprego) é uma
função decrescente (crescente) da divergência entre taxas de inflação efectivas e esperadas.
A questão chave é o que devemos assumir no que respeita às expectativas em relação
aos preços. O raciocínio convencional é o de assumir que as expectativas dependem de uma
previsão, tendo em conta apenas os preços praticados no passado. Assim sendo, a Teoria do
Controlo Óptimo seria uma ferramenta apropriada para determinar o caminho óptimo do
desemprego e inflação. Mas tal tratamento das expectativas é difícil de verificar em termos
empíricos.
Uma alteração na administração de uma empresa, que pode reflectir alterações ao nível
do desemprego e da inflação, vai ter um efeito imediato nas expectativas, contrariamente ao
que defendem os adeptos do controlo óptimo. Para além disso, os agentes privados têm tanta
informação acerca da estrutura económica como o decisor político e alguma informação sobre
a função implícita que é utilizada para racionalizar as políticas escolhidas. Isto não implica que
as políticas são perfeitamente previstas. No entanto, apenas a previsibilidade parcial é
suficiente para invalidar o uso do controlo óptimo.
Para completar o modelo, é necessário discutir uma teoria para a selecção política. O
ponto C representa a politica consistente e maximiza a função utilidade sujeita a curva de
Philips (relação de tangência), num ponto ao longo do eixo das ordenadas. Só neste ponto as
expectativas são racionais e a política seleccionada é a melhor, dada a situação apresentada. O
resultado se uma politica consistente é claramente sub-óptimo. Se os decisores políticos
optassem por manter a estabilidade dos preços e não tivessem poderes discricionários, o
equilíbrio resultante não traria um maior desemprego em relação à política consistente. O
equilíbrio óptimo é o ponto O, que fica numa curva de indiferença superior (maior utilidade) à
da política consistente.
Conclusão

Ao longo deste trabalho ficou claro que para Kydland e Prescott a Teoria do Controlo
Óptimo não é apropriada para a análise de sistemas dinâmicos, pois as decisões presentes dos
agentes económicos dependem das expectativas que estes têm para as políticas futuras, sendo
que tais expectativas podem variar.
Ao procederem a esta abordagem, os laureados com o Nobel de 2004, demonstraram
que os governos devem prosseguir políticas consistentes ao longo do tempo, norteadas por um
mesmo objectivo de longo prazo.
Para os autores parece evidente que se prossigam políticas de regras e não políticas
discricionárias, pois a regra implica a selecção da melhor decisão possível, tendo em conta a
situação actual. Tal comportamento resulta numa política consistente mas sub-óptima ou em
instabilidade económica.
Assim, enfatizam a importância da credibilidade das políticas e sugerem a
independência crescente das autoridades monetárias. Tal postura reside na referida análise dos
ciclos económicos reais, uma vez que estes economistas defendem que são as variáveis
económicas reais (como a produtividade) e não as variáveis monetárias (como a moeda ou os
salários nominais) que provocam os ciclos económicos, contradizendo os autores anteriores da
escola neoclássica.
Esta análise aponta também para um percurso contra-cíclico da produtividade média
face às diferentes fases do ciclo económico, o que contesta qualquer das versões da célebre
Curva de Philips, que estabelece uma relação inversa entre inflação e desemprego.
Em suma e utilizando as palavras de Amir Yaron (Professor de Finanças em Wharton na
Universidade da Pensilvânia), o texto de Edward Prescott e Finn Kydland é “um trabalho
fundamental (…). O ensaio deixou clara a ideia da coerência temporal em relação às políticas
adoptadas a longo prazo, por contraposição àquilo que é ideal no presente.”
Referências Bibliográficas

“Rules Rather than Discretion: The Inconsistency of Optimal Plans” Edward Prescott e Finn
Kydland; 1977

“A questão da incoerência temporal”; 2004.


http://www4.fe.uc.pt/mapsd/v45_pe_0304.pdf

“Finn Kydland e Edward Prescott’s Contribution to Dynamic Macroeconomics: The Time


Consistency of Economic Policy and the Driving Forces Behind Business Cycles”; 2004.
http://nobelprize.org/nobel_prizes/economics/laureates/2004/ecoadv.pdf

“Debt Restructuring and the Time Consistency of Optimal Policies” Miquel Faig; Journal of
Money, 1994
http://www.questia.com/googleScholar.qst;jsessionid=LvyQ52lp5TlB1qWmGnPcFG21H4VryHT
8qTwvdF7tv2KSh7Ktqy2n!-655687676!-1553468468?docId=5001660130

“O que há por trás do Prémio Nobel de Edward C. Prescott”; 2004


http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewfeature&id=881&language=portuguese

“A Monetary and Fiscal Framework for Economic Stability”; Milton Friedman, 1948

Robert Emerson Lucas, Jr.


http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Lucas,_Jr.

John Maynard Keynes


http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Maynard_Keynes

Edward C. Prescott
http://en.wikipedia.org/wiki/Edward_C._Prescott
Finn E. Kydland
http://en.wikipedia.org/wiki/Finn_E._Kydland

Você também pode gostar