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Bárbara Letícia de Queiroz Xavier

Brenda dos Santos Teixeira


(Organizadoras)

EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS


NO NORDESTE BRASILEIRO

1ª Edição

Belém-PA

2020
https://doi.org/10.46898/rfb.9786599175268.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

E64
Epidemiologia das doenças infecciosas no nordeste brasileiro [recurso digi
tal] / Bárbara Letícia de Queiroz Xavier e Brenda dos Santos Teixeira
(Organizadoras). -- 1. ed. -- Belém: Rfb Editora, 2020.
2.380 kB; PDF: il.
Inclui Bibliografia.
Modo de acesso: www.rfbeditora.com.
ISBN: 978-65-991752-6-8
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.
1. Coronavírus: Análise da Distribuição dos Casos e Medidas de Enfren
tamento em um Município da Região Metropolitana do Estado do Ceará.
2. Análise das Internações e Óbitos por Covid-19 no Estado no Ceará. 3.
Análise Epidemiológica dos Casos de Sífilis em Gestantes no Brasil. 4. Ca
racterísticas Epidemiológicas e Clínicas de Reações Hansênicas em um
Município do Alto Sertão Paraibano. 5. Perfil Epidemiológico de Pessoas
com Doenças Infectocontagiosas no Estado de Alagoas. 6. Perfil Epidemio
lógico de Casos de Adolescentes com AIDS em Maceió-AL. 7. Vigilância
Epidemiológica em Saúde Coletiva: : Uma Análise dos Casos de Dengue
no Ceará. 8. Perfil Epidemiológico dos Casos de Tétano Acidental em um
Hospital de Referência, 2007-2013.
Título.
CDD 616.047

Elaborado por Rfb Editora.


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© 2020 Texto: os autores

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licença permite que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a
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buam o devido crédito pela criação original.

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Prof. Dr. Rodolfo Maduro Almeida - UFOPA.
Prof.ª Drª. Ana Angelica Mathias Macedo - IFMA.
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Prof. Dr. Orlando José de Almeida Filho - UFSJ.

Diagramação e arte da capa


Pryscila Rosy Borges de Souza.

Revisão de texto
Os autores.

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Belém, Pará, Brasil.
DEDICATÓRIA
Dedicamos esta obra à nossa parceria desde os tempos de graduação que nos
permitiu caminhar juntas academicamente, que mesmo trilhando caminhos profis-
sionais opostos continuamos nos dedicando por um mesmo ideal, o de expressar e
publicar estudos de relevância para a sociedade por meio de produções científicas
de forma gratuita. Dessa forma, em nome desta amizade, esperamos que os leitores
possam se debruçar na leitura dos capítulos e tenham uma visão ampla das realidades
aqui expostas, sendo capaz de refletir e repensar acerca de assuntos atuais e também
negligenciados da saúde pública.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 1
CORONAVÍRUS: ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS E MEDIDAS DE
ENFRENTAMENTO EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO METROPOLITANA DO
ESTADO DO CEARÁ.......................................................................................................... 11
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
MARINHO, Francielly Karoliny Barbosa Dantas
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SOARES, Amanda
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.1

CAPÍTULO 2
ANÁLISE DAS INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR COVID-19 NO ESTADO NO
CEARÁ.................................................................................................................................... 21
MAIA, Jéssica Karen de Oliveira
ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.2

CAPÍTULO 3
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE SÍFILIS EM GESTANTES NO
BRASIL................................................................................................................................... 33
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
ANDRADE, Gabriela Santos
TENORIO, Maria Eduarda da Macena
MATIAS, Guilherme Lages
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
SOARES, Amanda
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.3

CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊ-
NICAS EM UM MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO PARAIBANO............................ 45
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
NASCIMENTO, Maria Mônica Paulino do
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.4
CAPÍTULO 5
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PESSOAS COM DOENÇAS INFECTOCONTA-
GIOSAS NO ESTADO DE ALAGOAS............................................................................ 61
SANTOS, Ellys Maynara Soares Batista dos
FREITAS, Ana Paula Santos
TEODOZIO, Fernanda Jessica de Melo
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
ROCHA, Thiago José Matos
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.5

CAPÍTULO 6
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE ADOLESCENTES COM AIDS EM
MACEIÓ- AL......................................................................................................................... 75
SANTOS, Dayane Menezes
SILVA, Francisca Girlândia da
RODRIGUES, Deborah do Nascimento
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Elvya Lylyan Santos
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.6

CAPÍTULO 7
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM SAÚDE COLETIVA: UMA ANÁLISE
DOS CASOS DE DENGUE NO CEARÁ......................................................................... 89
MAIA, Jéssica Karen de Oliveira
ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.7

CAPÍTULO 8
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE TÉTANO ACIDENTAL EM UM
HOSPITAL DE REFERÊNCIA, 2007-2013........................................................................ 99
PEREIRA, Andressa Pedroza
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Ivanise Tibúrcio Cavalcanti da
NUNES, José Ronaldo Vasconcelos
DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.8

SOBRE AS ORGANIZADORAS.................................................................................... 110


EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
9

APRESENTAÇÃO
O livro “Epidemiologia das Doenças Infecciosas no Nordeste Brasileiro” é uma
coletânea que reúne pesquisas em diversos lugares do Brasil, com foco na região nor-
deste. Esses estudos apresentam uma visão macro e micro da epidemiologia e tem
como objetivo possibilitar aos leitores uma reflexão sobre os temas de interesse da
comunidade científica.

Esta obra oferece informações, principalmente, sobre os aspectos epidemiológi-


cos das doenças infecciosas, que devido sua magnitude ou gravidade com que acome-
tem a população nordestina, apresentam potencial para danos à saúde dos indivíduos,
além disso, são importantes problemas de Saúde Pública.

Em razão da ocorrência da grave pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2)


em 2020, que colocou em alerta as autoridades nacionais e internacionais, tais como a
Organização Mundial de Saúde (OMS), a tiragem desta edição foi ampliada no propó-
sito de somar esforços para garantir a atenção necessária para esse problema.

É importante ressaltar que, todos os autores dos capítulos têm interesse em con-
tribuir para a literatura científica brasileira com temas relevantes e de qualidade, para
assegurar, sobretudo, os profissionais de saúde informações sobre os avanços no que
se refere à vigilância epidemiológica, além de outras particularidades vinculadas às
doenças infecciosas de interesse para a saúde coletiva.

Portanto, agradecemos o empenho das nossas equipes de pesquisa que cami-


nhou conosco durante a realização desse projeto e que agora fazem parte uma obra
que contribuirá para melhoria da saúde no nordeste brasileiro.

Desejamos a todos uma excelente leitura.

Bárbara Letícia de Queiroz Xavier


Brenda dos Santos Teixeira
(Organizadoras)
CAPÍTULO 1

CORONAVÍRUS: ANÁLISE DA
DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS E MEDIDAS DE
ENFRENTAMENTO EM UM MUNICÍPIO DA
REGIÃO METROPOLITANA DO ESTADO DO
CEARÁ

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz1


MARINHO, Francielly Karoliny Barbosa Dantas2
TEIXEIRA, Brenda dos Santos3
SOARES, Amanda4

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.1

1  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em Saúde da Fa-
mília pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Pós-graduada em Unida-
de de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@hotmail. com
2  Pós-graduada em Gestão de Urgência e Emergência e em Unidade de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido
Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail:
francielly_karol@hotmail.com
3  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Pós-graduada em Enfermagem Ginecológica e Obsté-
trica pela Universidade Cândido Mendes. Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco. E-mail: b.teixeirast@gmail.com
4  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Especialista em Emergência e UTI pelo Centro Universi-
tário São Camilo. Mestra em Saúde Pública pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: amandar_soares@hotmail.
com
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NORDESTE BRASILEIRO
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Resumo

O coronavírus trata-se de uma família de vírus que causam infecções respirató-


rias, que provoca a doença conhecida por COVID-19, este foi identificado na China
no final de 2019 e logo foi disseminado para outros países. O presente estudo tem por
objetivo analisar a distribuição espacial de casos de COVID-19 e medidas de enfren-
tamento no município de Maranguape no estado do Ceará. Trata-se de estudo trans-
versal descritivo, a partir do banco de dados secundários coletado no (IntegraSUS)
Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, em 06 de julho de 2020. Até julho foram no-
tificados no município um total de 3.548 casos, desses: 1.622 foram confirmados, 1.688
descartados, 1.379 curados e 99 registrados como óbitos. Ainda há 238 suspeitos e em
investigação aguardando resultados laboratoriais da Central de Saúde Pública do Cea-
rá. Ao analisar a distribuição de casos por áreas a maior concentração é na sede, sendo
registrados 1.234 casos confirmados, 30 suspeitos e 67 óbitos. Ao analisar a distribui-
ção espacial de casos, verifica-se que a maior concentração é na sede, sendo registrados
1.234 casos confirmados, 30 suspeitos e 67 óbitos, esse comportamento se manteve
durante todas as semanas epidemiológicas. Maranguape conta com as medidas insti-
tuídas pela gestão municipal para obter redução de casos. Dessa forma, conclui-se que
no município analisado, foi perceptível o acúmulo de casos na sede em comparação as
demais regiões. Infere-se que a densidade demográfica na região supracitada interfira
na maior notificação de casos.

Palavras-chave: Infecções por coronavírus. Epidemiologia descritiva. Pandemias.

Introdução

O coronavírus é uma infecção viral com alta capacidade de transmissibilida-


de, apresenta potencial poder de virulência e pode cursar com infecções
respiratórias graves, já é classificada como uma Emergência de Saúde Pública de im-
portância internacional (MONTE et al., 2020).

Sabe-se que em toda a história as pandemias já causaram graves danos. Destas,


já ocorreram pelo menos dez grandes pandemias nos últimos três séculos, em poucas
semanas, causaram grande impacto na morbimortalidade, afetando principalmente
crianças e adultos jovens e provocando situações de ruptura social (LIMA et al., 2020).

A doença causada pelo coronavírus denominada de SARS-CoV-2, foi identifica-


da pela primeira vez na China, em dezembro de 2019 (ZHU et al., 2020). A Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) em 30 de janeiro de 2020, declarou que a epidemia da
COVID-19 constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacio-

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nal (ESPII), passando a ser classificada como uma pandemia em 11 de março de 2020
(WHO, 2020).

A doença COVID-19 evolui na maioria dos casos, podendo cursar de forma as-
sintomática e com atípicas manifestações como anosmia, conjuntivite, insuficiência re-
nal e manifestação cutâneas, além de casos da infecção pelo vírus durante a gestação e
na população pediátrica (MONTE et al., 2020).

Nos casos assintomáticos o quadro clínico apresenta curso com sintomas leves ou
ausentes. No entanto, se a doença for transmitida a grupos de risco, poderá se apresen-
tar em formas graves e a letalidade aumenta. A doença COVID-19 é de rápida dissemi-
nação geográfica e demonstra que seu controle poderá ser difícil (MONTE et al., 2020).

Após a divulgação dos principais marcos epidemiológicos sobre a COVID-19 no


Brasil, através dos meios de comunicação, houve grande aumento do interesse e busca
sobre a doença. Além disso, estudos apontam possíveis lacunas de informação sobre
algumas das principais formas de prevenção (FILHO et al., 2020). No Brasil, o Minis-
tério da Saúde (MS) atuou imediatamente, a partir da detecção dos rumores sobre a
doença emergente (CRODA; GARCIA, 2020).

A chegada do novo coronavírus tem fatores agravantes no Brasil, visto que já


conta-se com a redução de investimentos no sistema único de saúde (SUS) e pesquisa
científica. Com isso, é necessário descentralizar insumos e equipamentos e que haja
abertura de novos leitos com urgência, educação em saúde para conscientização da
população sobre a importância do distanciamento e isolamento social, a fim de desa-
celerar um colapso que já se encontra em evidência (ARAÚJO; MORAIS, 2020).

Norteia-se a elaboração e execução desta pesquisa, de caráter epidemiológico, na


distribuição por áreas de concentração de casos notificados por COVID-19 em Maran-
guape no estado do Ceará está relacionada às medidas de enfrentamento?

Neste sentido, este estudo tem como objetivo, analisar a distribuição espacial de
casos de COVID-19 e medidas de enfrentamento no município de Maranguape no
estado do Ceará.

Metodologia

Trata-se de um estudo transversal, descritivo e documental. Realizado com os


registros de casos notificados de COVID-19 no município de Maranguape/CE no pe-
ríodo referente até 06 julho de 2020.

CAPÍTULO 1
CORONAVÍRUS: ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS E MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO EM UM MUNICÍPIO DA
REGIÃO METROPOLITANA DO ESTADO DO CEARÁ
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
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Os dados foram coletados na plataforma de Integração das informações da Se-


cretaria da Saúde do Estado do Ceará (IntegraSUS). A ferramenta integra informações
sobre todos os seus municípios do estado do Ceará, alocando as informações através
endereço eletrônico (https://integrasus.saude.ce.gov.br).

Para complementar a discussão dos dados, foi realizada uma busca nas bases de
dados virtuais: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Ame-
ricana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysisand
Retrieval System Online (MEDLINE). Para o levantamento das publicações nas bases
eletrônicas de dados, foram utilizados descritores controlados do vocabulário Des-
critores em Ciência da Saúde – DeCS e, constantes nas língua portuguesa: “Infecções
por coronavírus”, “Epidemiologia descritiva”, “Pandemias” pesquisados através das
bases de dados.

Para seleção do material empírico foram estabelecidos os critérios de inclusão:


que respondessem à pergunta de partida, artigos disponíveis integralmente, publica-
ção em português, inglês, com indexação nas bases de dados referidas e disponíveis
de forma gratuita no período de janeiro a julho de 2020. Foram excluídos os estudos
duplicados, publicações do tipo monografias, dissertações, teses, em formato de edito-
rial, carta ao editor e desvio à temática.

Para análise e categorização dos artigos foi realizada uma leitura interpretativa
dos que se enquadravam nos critérios do estudo e realizada a análise descritiva dos
resultados de acordo com os objetivos propostos.

Resultados

No que se refere à análise da distribuição dos casos covid-19 e medidas de enfren-


tamento em um município da região metropolitana do estado do ceará e que compu-
seram a essência deste estudo descritivo, destaca-se: dos 09 artigos que fizeram parte
da amostra do estudo, foi encontrado oito em publicação de revista nacional e apenas
um em publicações internacionais. Quanto ao idioma dos artigos que compuseram a
amostra, constatou-se a predominância no português.

No município, o primeiro caso suspeito e investigado surgiu na segunda quin-


zena de março, desde então até o dia 06 de julho de 2020 foram notificados um total
de 3.548 casos, desses: 1.622 foram confirmados, 1.688 descartados, 1.379 curados e 99
registrados como óbitos. Ainda há 238 em investigação aguardando resultados labora-
toriais da Central de Saúde Pública do Ceará (Gráfico 1).

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Gráfico 1- Distribuição de casos notificados de COVID-19 no município de Maranguape no período de


março de julho de 2020.

Fonte: IntegraSUS, 2020.


Ao analisar a distribuição espacial de casos, verifica-se que a maior concentração
é na sede, sendo registrados 1.234 casos confirmados, 30 suspeitos e 67 óbitos. Esse
comportamento se manteve durante todas as semanas epidemiológicas (SMS–MA-
RANGUAPE, 2020).

O acúmulo de casos na sede em comparação as demais regiões pode-se relacionar


a densidade demográfica na região supracitada, interferindo na maior notificação de
casos de COVID-19, o que é esperado para outras doenças de notificação compulsória,
bem como na proximidade e acesso da população com os centros de saúde hospitalar,
Unidade de Pronto Atendimento e Unidades Básicas de Saúde, bem como aos investi-
mentos nas testagens rápidas fornecidas pelo município.

Devido ao grande fluxo de mercadorias que circulam diariamente pelos quadran-


tes espaciais, as pessoas também transitam cada dia mais nos grandes fluxos urbanos,
seja por mobilidade pendular, pela busca de serviços ofertados nos grandes centros
comerciais, longas viagens a lazer ou mesmo negócios (SAID; SILVA, 2020).

Conforme nota técnica da Fundação Oswaldo Cruz (2020), existem muitos de-
safios para comportar essa demanda por cuidados em centros de maior aglomeração
populacional, onde já são locais com maiores números de casos de COVID-19, bem
como também é onde se situam mais recursos.

Produzimos initerruptamente concentração e buscamos mobilidade, desse modo


o vírus apresenta muito mais condições de se distribuir espacialmente no bojo da mo-
bilidade urbana cada vez maior e mais frenética (SPOSITO; GUIMARÃES, 2020).

As aglomerações urbanas, em casos de pandemia, acometem toda a população,


visto que nesse meio o vírus encontra as condições ideais e extremamente férteis para
se propagar, aumentando sobremaneira o grau de transmissibilidade, generalizando
CAPÍTULO 1
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ainda mais o pandemônio em meio a pandemia de uma situação já caótica em termos


de organização social voltada a produção e consumo desenfreado de mercadorias,
bens e serviços (SAID; SILVA, 2020).

Discussão

O primeiro caso confirmado de COVID-19 no Brasil, foi em 26 de fevereiro de


2020, o registro foi de um homem idoso residente em São Paulo/SP, esse senhor havia
retornado de sua viagem da Itália. Com menos de um mês após o primeiro caso con-
firmado da doença, a COVID-19 se propagou rapidamente e logo já se iniciou a trans-
missão comunitária em algumas cidades. O primeiro óbito por COVID-19 no Brasil
ocorreu em 17 de março de 2020, tratava-se de outro homem idoso residente em São
Paulo/SP, que apresentava comorbidades como diabetes e hipertensão, sendo esse
caso sem histórico de viagem ao exterior. Então, a transmissão comunitária em todo o
território nacional foi reconhecida em 20 de março de 2020 (BRASIL, 2020a).

As estratégias de mitigação começaram a ser implementadas em decorrência do


crescimento do número de casos da COVID-19 e a ocorrência de transmissão comuni-
tária, com o objetivo de evitar a ocorrência de casos graves e dos óbitos pela doença.
Estão inclusas nessas estratégias as medidas de isolamento para casos leves e contatos,
além das medidas de atenção hospitalar para os casos mais graves (BRASIL, 2020b;
BRASIL, 2020c).

O Ministério da Saúde (MS) orienta desde o princípio, no sentido de reforçar a


importância de seguir com as medidas de prevenção da transmissão do coronavírus,
que incluem: a lavagem das mãos com água e sabão ou sua higienização com álcool
em gel; a “etiqueta respiratória” (cobrir o nariz e a boca ao espirrar ou tossir); o dis-
tanciamento social; o não compartilhamento de objetos de uso pessoal; e o hábito de
se manter os ambientes ventilados. A partir de abril de 2020, o MS passou a orientar a
população para o uso de máscaras de pano, objetivando atuar como barreira à propa-
gação do vírus (BRASIL, 2020d).

A pandemia da COVID-19 expõe as fragilidades estruturais e os pontos de es-


trangulamento do SUS, em particular a falta ou distribuição desigual, no território, de
profissionais da saúde e de infraestrutura da atenção de média e alta complexidade,
bem como a capacidade limitada de produção e realização de testes diagnósticos. To-
davia, também traz à tona as fortalezas do maior sistema de saúde público e universal
do mundo, que tem um papel preponderante na vigilância e na assistência à saúde,
assim como no ordenamento e articulação das ações de enfrentamento à pandemia,
nos três níveis de gestão, em todas as unidades da federação brasileira (OLIVEIRA et
al., 2020).
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Além disso, é fundamental fortalecer o SUS e direcionar melhor os recursos, de


modo a reduzir iniquidades de acesso e oferecer a população atendimento de quali-
dade, desde a atenção primária à saúde, onde são atendidos os casos leves da doença,
até a assistência hospitalar direcionada aos casos de maior complexidade (MASCARE-
NHAS et al., 2020).

A atenção primária à saúde, indicada como acesso preferencial no atendimento


de pessoas com suspeita de COVID-19, é um componente fundamental do sistema de
saúde, devendo estar preparada para o atendimento oportuno, manejo clínico adequa-
do e referenciamento dos casos graves, assim como, prestar atenção integral às condi-
ções sensíveis neste nível de atendimento (MASCARENHAS et al., 2020).

A velocidade de propagação da COVID-19 precisa ser reduzida na população


brasileira, realizar este controle será fundamental para suavizar a sobrecarga do sis-
tema de saúde, permitindo maior tempo para a reorganização da oferta. Dada a hete-
rogeneidade regional, tanto em relação à oferta como em relação às taxas de infecção,
torna-se impossível adotar apenas uma medida de enfrentamento da propagação do
vírus no Brasil. Diferentes medidas de contenção estão sendo implantadas no cenário
internacional (NORONHA et al., 2020).

Para o atendimento dos casos graves e que requerem internação ou cuidados


intensivos é necessário que haja ampliação da estrutura, por meio de: aquisição de
equipamentos e insumos; da construção de unidades hospitalares; da ampliação da
capacidade das unidades existentes; da contratação de leitos em hospitais privados
ou do setor suplementar; bem como do apoio à montagem de hospitais de campanha.
Priorizou-se o incentivo, não somente à aquisição, como também à produção de venti-
ladores mecânicos, cuja disponibilidade e distribuição são essenciais para atender aos
casos graves (BRASIL, 2020e).

É necessário expandir os leitos disponíveis. O setor privado contribui para amor-


tecer o déficit de demanda, porém, em várias macrorregiões, dependendo da velocida-
de com que a infecção se propaga, a oferta dos dois setores juntos se torna insuficiente.
Algumas medidas podem contribuir para ampliar a oferta dos serviços hospitalares,
além da colaboração com o setor privado. A construção de hospitais de campanha se
torna uma necessidade e deve vir acompanhada de política de alocação de profissio-
nais de saúde e insumos adequados (NORONHA et al., 2020).

Conforme a Prefeitura de Maranguape (2020), o município conta com as medidas


instituídas pela gestão municipal para obter redução no número de casos, dentre ela
pode-se destacar: o espaço de acolhimento a população em situação de rua; distri-
buição de máscaras à população; vacinação contra a gripe; desinfecção dos espaços
CAPÍTULO 1
CORONAVÍRUS: ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS E MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO EM UM MUNICÍPIO DA
REGIÃO METROPOLITANA DO ESTADO DO CEARÁ
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públicos; estratégia do lockdown; telemedicina; testagem rápida de toda a população;


videoconferência entre familiares e pacientes internados no Centro Intensivo de Com-
bate ao Coronavírus (CICC); funcionamento de plantão em unidades básicas de saúde
no interior do município também durante o fim de semana e ampliação do hospital
municipal com a aquisição do CICC.

A colaboração da sociedade no enfrentamento à COVID-19 será determinante


para a evolução da epidemia. Todas e todos devem seguir as orientações das autori-
dades sanitárias, baseadas nas evidências científicas disponíveis e alinhadas às reco-
mendações da OMS, respeitando o isolamento, a quarentena e as restrições de deslo-
camentos e de contato social, conforme indicado em cada situação. O bom senso e a
solidariedade devem guiar as ações de todos os brasileiros e brasileiras, para que seja
possível reduzir o impacto da COVID-19 na saúde da população e na economia (OLI-
VEIRA et al., 2020).

Considerações finais

No município analisado foi perceptível a concentração de casos na sede em com-


paração as demais regiões. Infere-se que a densidade demográfica na região supra-
citada interfira na maior notificação de casos de COVID-19, o que é comum também
para outras doenças de notificação compulsória, bem como na proximidade e acesso
da população com os centros de saúde hospitalar, Unidade de Pronto Atendimento e
Unidades Básicas de Saúde.

Faz-se necessário refletirmos se mesmo diante das medidas de enfrentamento a


população esteve mais exposta não respeitando as medidas de isolamento social, o que
seria fator suficiente para aumento expressivo dos casos.

Nesse contexto, a recomendação é que as medidas de enfrentamento sigam


rigorosas no município estudado, uma vez que adotar essas medidas nos permitirá
acompanhar registro de achatamento da curva epidêmica da COVID-19, dessa forma
podemos impedir que haja um crescimento abrupto dos casos confirmados.

Referências

ARAÚJO, I. G.; MORAIS, A. C. L. N. Cenário da covid-19 no estado do Ceará, Brasil.


InterAm J Med Health, v.3, p. 3, 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Saúde declara transmissão comunitá-


ria nacional. Brasília, 2020a. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/
agencia-saude/46568-ministerio-da-saude-declaratransmissao comunitaria-nacional.
Acesso em: 04 de jul. de 2020.

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz


MARINHO, Francielly Karoliny Barbosa Dantas
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SOARES, Amanda
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
19

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CAPÍTULO 1
CORONAVÍRUS: ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS E MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO EM UM MUNICÍPIO DA
REGIÃO METROPOLITANA DO ESTADO DO CEARÁ
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
20

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XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz


MARINHO, Francielly Karoliny Barbosa Dantas
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SOARES, Amanda
CAPÍTULO 2

ANÁLISE DAS INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR


COVID-19 NO ESTADO NO CEARÁ

MAIA, Jéssica Karen de Oliveira1


ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de2
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa3
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes4
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz5
TEIXEIRA, Brenda dos Santos6

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.2

1  Enfermeira pela Universidade de Fortaleza. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Resi-
dência Multiprofissional em Saúde – ênfase em Infectologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Pós-graduada em
Enfermagem em Nefrologia pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail: jessikarenmaia@gmail.com
2  Enfermeiro pela Universidade Federal do Ceará. Mestrando em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará.
Residência Multiprofissional em Saúde – ênfase em Infectologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Pós-graduado
em Terapia Intensiva pelo Centro Universitário Farias Brito. E-mail: junioraraujoenfermagem@gmail.com
3  Enfermeira pela Universidade de Fortaleza. Mestra em Patologia pela Universidade Federal do Ceará. Pós-graduada
em Enfermagem em Nefrologia pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail: priscila.travassos@ymail.com
4  Fisioterapeuta pelo Centro Universitário Estácio do Ceará. Residente Multiprofissional em Saúde – ênfase em Infec-
tologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. E-mail: nunesllys@gmail.com
5  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em Saúde da Fa-
mília pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Pós-graduada em Unida-
de de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@hotmail. com
6  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Pós-graduada em Enfermagem Ginecológica e Obsté-
trica pela Universidade Cândido Mendes. Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco. E-mail: b.teixeirast@gmail.com
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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Resumo

O Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a reportar casos relacio-
nados a SARS-CoV-2, denominado como COVID-19, após o estado de pandemia ser
declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020. Objetivou-se
analisar as internações e óbitos por COVID-19 no Ceará no primeiro semestre de 2020.
Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal, de natureza descritiva. Dados ex-
traídos da plataforma IntegraSUS. Análise feita por meio de estatística de frequência e
percentual simples. A taxa de ocupação de UTI foi considerável (73%), com destaque
para UTI Adulto (76%) e enfermaria adulto (40%), média de 9 dias de internação hos-
pitalar, maior número de altas por dia de 592 e o menor, 78. O pico de óbitos por dia
foi de 129, e o menor 33, sendo o total 6.441 pessoas, com 584 ainda suspeitos, e média
de idade de 70 anos. Cerca de 40% doas pacientes com comorbidades evoluíram para
óbito, com destaque para doença cardiovascular crônica (DCV) com 26%. Os resulta-
dos apontam forte incidência da doença no estado, confirmando que as desigualdades
não se limitam somente às geográficas, pois esta doença e outras estão acometendo as
regiões mais vulneráveis e com maior população no Brasil. Diante disso, a ocupação
de UTIs, enfermarias está elevada tendo como motivo essa causa básica, levando a
sobrecarga dos serviços de saúde. Evidencia-se, portanto a urgente necessidade de
fortalecimento do suporte oferecido à população para enfrentamento da pandemia.

Palavras- chave: Internações por coronavírus. Hospitalização. Óbitos. Epidemiologia.

Introdução

O Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a reportar casos re-
lacionados a SARS-CoV-2, denominado como COVID-19, após o estado de
pandemia ser declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020
(BURKI, 2020). Pouco mais de três semanas após o primeiro caso de infecção por CO-
VID-19 ter sido registrado no país, o Ministério da Saúde declarou, em 20 de março
de 2020, o reconhecimento da transmissão comunitária do vírus em todo o território
nacional (WERNECK; CARVALHO, 2020).

Como esperado desde o início da pandemia, as regiões com maior incidência de


casos necessitariam, consequentemente, de reestruturação para suprir o aumento na
demanda por serviços de saúde tanto na rede pública como na rede particular. Dessa
maneira, houve a urgente demanda de abertura de novos leitos hospitalares em Uni-
dades de Terapia Intensiva (UTI), considerando as consequências clínicas pulmonares
deletérias as quais exigem suporte ventilatório mecânico, devido a quadros de síndro-
me respiratória aguda (MARINELLI; ALBUQUERQUE; SOUZA et al., 2020).

MAIA, Jéssica Karen de Oliveira


ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
23

Até o dia 06 de maio de 2020 foram registrados 116.243 casos confirmados da


COVID-19 e 8.014 óbitos decorrentes dessa enfermidade no Brasil, além de um coefi-
ciente de letalidade de 6,9%. Esse rápido avanço da transmissão comunitária também
representa a discrepância socioeconômica entre as regiões do Brasil, cuja a extensão
territorial carrega múltiplas desigualdades (MENDONÇA et al., 2020).

Nas regiões mais vulneráveis do país, os impactos das doenças respiratórias no


Sistema Único de Saúde (SUS), que já eram importantes, agravaram-se durante essa
pandemia, demonstrando fragilidades quanto ao acesso, acessibilidade e assistência
em saúde, características essas que são determinantes para taxa de transmissão e seve-
ridade da doença (MENDONÇA et al., 2020; BUCCHIANERI, 2010; COELHO; LANA;
CRUZ, 2020).

Além disso, existem fatores de risco para infecção e agravo pelo COVID-19, os
infectados que possuem doença renal crônica e diabetes apresentaram taxas de inter-
nação em UTI, respectivamente 11 e 8,5 vezes maiores do que os que não se enqua-
dram nos grupos de risco. Pessoas com doenças pulmonares crônicas como bronquite
e asma são demonstradas com 3,4 vezes maior taxa de internação e 6,5 vezes maior de
transferência para UTI (NASSIF-PIRES et al., 2020).

As regiões mais pobres do país são consideradas as mais vulneráveis aos im-
pactos da pandemia pelo COVID-19, pois os fatores de risco relacionados ao agravo
pela infecção do vírus tão pouco parecem estar distribuídos igualmente na população,
tendo uma prevalência maior em regiões de baixa e média renda (NASSIF-PIRES et al.,
2020).

Quando se observa apenas pelo traço social da escolaridade, a maior parte das
pessoas que possuem pelo menos um dos fatores de risco declarou ter frequentado
apenas o ensino fundamental (54%). O mesmo foi relatado por uma parcela bem me-
nos considerável entre as pessoas que chegaram a cursar o ensino superior ou pós-
-graduação (34%). Essa diferença é ainda mais relevante quando se considera que a
presença de dois ou mais fatores de risco é três vezes maior entre aqueles que frequen-
taram apenas o ensino fundamental do que entre aqueles que frequentaram o ensino
médio (PIRES; CARVALHO; XAVIER, 2020).

A região Nordeste, já bastante marcada por todo o seu contexto histórico de vul-
nerabilidade social da maior parte de sua população, enfrentou uma situação bastante
agravada dentro do cenário da pandemia de 2020. O estado do Ceará liderou tanto o
índice do número de casos como os registros de óbitos na região, sendo o estado que
mais realizou notificações durante o período (MARINELLI; ALBUQUERQUE; SOU-
ZA et al., 2020).
CAPÍTULO 2
ANÁLISE DAS INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR COVID-19 NO ESTADO NO CEARÁ
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
24

Dentro dessa perspectiva social, sendo a região Nordeste a segunda do país em


número de casos de COVID-19, tendo o Ceará como o estado com a maior taxa de mor-
talidade, considerando-se a relevância epidemiológica das consequências da infecção
para o contexto da saúde pública no panorama mundial e cearense, objetivou-se anali-
sar as internações hospitalares e óbitos por COVID-19 no estado do Ceará.

Metodologia

Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal e de natureza descritiva. A


população do estudo é composta pelos registros de internações e mortalidade por CO-
VID-19 no estado, referentes ao primeiro semestre de 2020, com dados obtidos até o
dia 04/07/2020. Os dados foram extraídos da plataforma de Integração das informa-
ções da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (IntegraSUS).

A ferramenta integra sistemas de monitoramento e gerenciamento epidemioló-


gico, hospitalar, ambulatorial, administrativo, financeiro e de planejamento da Secre-
taria da Saúde do Estado (SESA/CE), concentrando informações sobre todos os seus
184 municípios, no endereço eletrônico (https://integrasus.saude.ce.gov.br). O acesso
para a coleta dos dados aconteceu entre 30 de junho a 04 de julho de 2020.

As variáveis relacionadas às notificações dos casos coletadas foram: taxa de ocu-


pação de unidades de terapia intensivas (UTI) (adulto, gestante, infantil, neonatal), en-
fermarias (adulto, gestante, infantil, neonatal), unidade de pronto atendimento (UPA),
número de altas em hospitais por dia, número de óbitos em hospitais por dia, número
de óbitos em UPAs por dia, total de óbitos acumulados desde o início da pandemia,
óbitos suspeitos, letalidade, média de óbitos por dia, tempo médio de internações,
proporções de óbitos com alguma comorbidades, número de óbitos segundo comorbi-
dades, média de idade dos óbitos.

Após a coleta, a análise dos dados foi realizada por meio de estatística de fre-
quência e percentual simples. Por tratar-se de dados secundários obtidos do próprio
IntegraSUS, e por não possuir conflitos de interesses, o estudo não necessitou ser sub-
metido à apreciação de Comitê de Ética em Pesquisa, pois os dados são de uso público
e divulgados de forma agregada, não havendo identificação dos indivíduos.

Resultados

Considerando o período de estudo, a taxa de ocupação da UTI com pacientes


diagnosticados com COVID-19 foi bastante considerável, com 73% dedicados apenas
a estes pacientes. Ao considerarmos as classificações conforme o perfil de unidade de
terapia intensiva, a UTI Adulto foi a que apresentou o maior índice de ocupação (76%),

MAIA, Jéssica Karen de Oliveira


ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
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EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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seguido da UTI gestante (50%), da UTI pediátrica (48%) e, por fim, a UTI neonatal
(14%).

A taxa de ocupação das enfermarias cearenses durante o primeiro semestre este-


ve em situação menos preocupante em comparação às unidades de terapia intensiva,
com 39% de seus leitos ocupados com pacientes diagnosticados com COVID-19. As
enfermarias com perfil adulto estiveram ocupação com maior proporção (40%), logo
seguido pela enfermaria pediátrica (37%), enfermaria gestante (22%) e, por fim, enfer-
maria neonatal (11%).

De acordo com o número de alta hospitalar registrada por dia, o maior número
de altas por dia foram 592 e o menor 78. Ao considerarmos, o número de óbitos regis-
trados no ambiente hospitalar por dia, o maior número de óbitos foi 129, e o menor 33.
Acerca número de óbitos na UPAs por dia, o maior foi 42 óbitos e o menor foi zero.

O total de óbitos acumulados desde o início da pandemia no estado do Ceará é de


6.441 pessoas. Além deste número, ainda existe 584 óbitos que são considerados como
casos suspeitos, ainda podendo complementar o número total de casos após confirma-
ção ou exclusão da suspeita.
Figura 1- Número acumulado de óbitos por dia

IntegraSUS, 2020
Fonte:
A letalidade registrada no estado apresenta-se no patamar de 5%. O estado do
Ceará apresentou, no período estudado, uma média de óbitos por dia bastante eleva-
da, com 63%. (Figura 1) O tempo médio de internação de um paciente diagnosticado
com COVID-19 nos hospitais cearenses é de 9 dias.

A proporção de pacientes que evoluíram para óbito e possuíam alguma comor-


bidades associada, foi de 40%. Entre as comorbidades mais predominantes, podemos
elencar a doença cardiovascular crônica (DCV) com 26%, seguido de Diabetes mellitus

CAPÍTULO 2
ANÁLISE DAS INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR COVID-19 NO ESTADO NO CEARÁ
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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Figura 2- Tempo decorrido desde o início dos sintomas para internação, receber os exames e ir a óbito.

Fonte: IntegraSUS, 2020


(DM) 22%. (Figura 3) A média de idade dos pacientes que evoluíram para óbito foi de
70 anos.
Figura 3 - Número de óbitos segundo comorbidades

Fonte: IntegraSUS, 2020

Discussão

Logo após os primeiros registros de crescimento vertiginoso do número de casos


no Ceará, os gestores estaduais determinaram medidas de isolamento social, por meio
de decretos a nível estadual, orientando o fechamento de comércios e outros equipa-
mentos sociais com o intuito de conter a rápida disseminação da doença entre a popu-
lação, possibilitando o tempo necessário para que houvesse a reorganização necessária
do sistema de saúde (CEARÁ, 2020; LIMA et al., 2020).

A proporção de leitos de terapia intensiva ocupados especificamente para pa-


cientes com covid-19 no Ceará demonstra que, muito embora o estado tenha tomado
MAIA, Jéssica Karen de Oliveira
ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
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diversas medidas cabíveis para buscar conter o avanço de propagação da doença e,


dessa maneira oferecer todo o suporte de cuidados hospitalares eventualmente ne-
cessários à sua população no período de pandemia, a oferta e disponibilização destes
leitos ainda se mostrou bastante inferior à demanda necessária pela população (RO-
DRIGUEZ-MORALEZ; GALLEGO; ESCALERA-ANTEZANA et al., 2020).

Este entendimento é reforçado ao considerarmos estudos que apontam a impor-


tância de o sistema de saúde público brasileiro oferecer suporte à sua população, inde-
pendentemente de sua classe social, garantindo todo o suporte necessário às deman-
das relacionadas aos sintomas causados pela COVID-19 (MOREIRA, 2020).

Neste sentido, a taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva nos hospitais
cearenses acompanhou a taxa apresentada a nível nacional de 77%. Estudo realizado
sobre o perfil nacional de ocupação de leitos de terapia intensiva a nível nacional,
aponta que as diferenças regionais dentro do estado do Ceará, podem comprometer
a qualidade de vida das pessoas afetadas pela infecção, o que pode ser complicado
mesmo no cenário de diminuição das taxas de infecção, tendo em vista a incapacidade
de diversas regiões do estado em oferecer o suporte necessário aos pacientes que de-
mandem cuidados intensivos (NORONHA et al., 2020).

Neste mesmo cenário, evidencia-se a busca por parte dos gestores em oferecer a
garantia de leitos a pacientes diagnosticados com covid-19 no que diz respeito a de-
mandas a nível de enfermaria, pois o nível de ocupação esteve coerente com o apresen-
tado em níveis nacionais de 37% assim como a níveis internacionais 39% (NORONHA,
2020; ZHANG, 2020).

A intensificação dos investimentos em disponibilização de leitos de enfermaria


por meio da disponibilidade de hospitais de campanha na capital do estado, trouxe a
prontidão necessária para a manutenção da assistência a estes pacientes. Neste contex-
to, a disponibilização de porta aberta de atendimento nos eixos da atenção primária
aos finais de semana assim como na atenção nas Unidades de Pronto Atendimento,
ajudaram a diluir a demanda de cuidados por consequência da covid-19 (NORONHA,
2020).

A maior proporção de pacientes que evoluíram a óbito, mas possuíam comorbi-


dades relacionadas à doença cardiovascular crônica vai de encontro ao demonstrado
na literatura. Estudo publicado que comparou os dados de dois hospitais chineses,
demonstrou o maior risco de óbito de pacientes que possuíam alguma doença cardio-
vascular (RUAN et al., 2020). Outro estudo retrospectivo realizado na China, apontou
que houve maior risco de óbito entre pacientes com hipertensão arterial ao comparar
com outros pacientes (WANG et al, 2020).
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ANÁLISE DAS INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR COVID-19 NO ESTADO NO CEARÁ
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A incidência de óbito mais acentuada entre pacientes acima de 70 anos é coerente


com o apontado na literatura, a qual demonstra a maior vulnerabilidade fisiológica
destas pessoas ao desfecho óbito. Este achado mostra-se convergente, com o demons-
trado em pesquisas realizadas na China que comprovam maior ocorrência e vulnera-
bilidade de idosos a evoluir para óbito causado por complicações de covid-19 (ZHOU
et al., 2020).

O protocolo definido até o momento pelo Ministério da Saúde brasileiro reforça


o risco elevado para pacientes brasileiros e idosos que possuem idade acima de 60
anos. Quando consideramos ainda, a maior proporção de idosos que possuem comor-
bidades associadas, a preocupação dos gestores deve ser ainda mais considerada em
promover medidas de proteção a esta população, tendo em vista o maior risco de de-
senvolvimento do quadro desta parcela da população ao óbito (BRASIL, 2020).

O registro proporcional de óbitos encontrado no presente estudo cabe um apon-


tamento no sentido de ainda ser necessário, por parte do Ministério da Saúde, a de-
terminação de um protocolo a nível nacional para as definições claras a serem dispos-
tas aos profissionais para a identificação e precisão deste diagnóstico no processo de
envolvimento do desfecho óbito. Dessa maneira, um claro perfil sobre o impacto dos
óbitos na população ainda precisa considerar futuros ajustes causados pela publicação
destes protocolos (FRANÇA et al., 2020).

Considerações finais

Conclui-se que o COVID-19 possui uma incidência bastante considerável no con-


texto pandêmico no estado do Ceará. Este achado confirma que as desigualdades não
se limitam somente às limitações geográficas, pois esta doença segue afetando de ma-
neira desigual e com maior impacto entre as pessoas com maior vulnerabilidade so-
cial, algo que é percebido em outras regiões mais vulneráveis e com maior população
no restante do território nacional.

Diante disso, a ocupação de UTI’s, enfermarias está elevada, tendo como motivo
essa causa básica, levando a sobrecarga dos serviços de saúde. As variáveis que esti-
veram associadas aos óbitos foram a presença de comorbidades, sendo as principais
doenças: cardiovascular crônica e diabetes mellitus, outro fator também importante
que está relacionado ao óbito é a idade avançada.

Os achados do presente estudo reforçam a urgente necessidade de que sejam for-


talecidas as políticas públicas de enfrentamento à pandemia de COVID-19 no estado,
considerando o teor de rápida disseminação da doença e dos aspectos relacionados à

MAIA, Jéssica Karen de Oliveira


ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
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vulnerabilidade de pessoas pertencentes a grupos de risco específicos, as quais pos-


suem maior chance de evolução para óbito.

Orienta-se a investigação acerca da relação entre os fatores sociais como escola-


ridade, renda e sexo, tendo em vista a relevância apontada pela literatura acerca da
relação entre estes fatores e a maior vulnerabilidade de pessoas com baixa escolari-
dade e renda assim como homens a serem infectados e afetados por situações como a
pandemia de COVID-19.

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XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
31

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CAPÍTULO 2
ANÁLISE DAS INTERNAÇÕES E ÓBITOS POR COVID-19 NO ESTADO NO CEARÁ
CAPÍTULO 3

ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE


SÍFILIS EM GESTANTES NO BRASIL

TEIXEIRA, Brenda dos Santos1


ANDRADE, Gabriela Santos2
TENORIO, Maria Eduarda da Macena3
MATIAS, Guilherme Lages4
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz5
SOARES, Amanda6

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.3

1  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Pós-graduada em Enfermagem Ginecológica e Obsté-
trica pela Universidade Cândido Mendes. Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco. E-mail: b.teixeirast@gmail.com
2  Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco. E-mail: gsantosandrade@gmail.
com
3  Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco. E-mail: mariaeeouricurii@gmail.
com
4  Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco. E-mail: guilhermelagesm@
gmail.com
5  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em Saúde da Fa-
mília pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Pós-graduada em Unida-
de de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@hotmail. com
6  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Especialista em Emergência e UTI pelo Centro Universi-
tário São Camilo. Mestra em Saúde Pública pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: amandar_soares@hotmail.
com
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
34

Resumo

O Treponema pallidum é bactéria causadora da sífilis, doença que precisa de aten-


ção, principalmente em gestantes, devido sua transmissão vertical, que apresenta gran-
de risco de danos à saúde, tanto para a mãe quanto para o recém-nascido. A pesquisa
tem por objetivo analisar a partir de dados da literatura a epidemiologia e o perfil epi-
demiológico da sífilis em gestantes no Brasil. Trata-se de uma revisão integrativa da
literatura, realizada nas bases de dados LILACS e SciELO. Foram utilizados os descri-
tores “Sífilis”, “Gestantes” e “Epidemiologia”, sendo inclusos os artigos publicados no
período de 2018 a 2020. Foram analisados dez artigos, seguindo os critérios de inclu-
são e exclusão previamente estabelecidos. A partir desses artigos, avaliou-se os dados
epidemiológicos da sífilis gestacional no Brasil, levando em consideração a taxa de
prevalência e incidência da doença, como também o perfil epidemiológico, analisando
dados referentes à idade, cor/raça e escolaridade. Conclui-se, portanto, que ocorreu
um aumento no número de casos de sífilis gestacional no Brasil no período analisado,
principalmente em mulheres jovens, brancas e com menor nível de escolaridade, reve-
lando a necessidade de oferecimento do tratamento de forma mais atenciosa e precoce
para esse público.

Palavras-chave: Sífilis. Gestantes. Epidemiologia.

Introdução

T odos os anos, mais de 1 milhão de novas gestantes, em todo o mundo, são in-
fectadas pelo Treponema pallidum, bactéria causadora da sífilis. Sua transmis-
são acontece principalmente através do contato sexual, mas também pode ocorrer por
via transplacentária, ou seja, infecção vertical (CUNHA; BISCARO; MADEIRA, 2018).
Na grande maioria das gestações, há um grande risco de desfecho adverso, causando
danos à saúde, tanto para a mãe quanto para o recém-nascido. Para tanto, foram toma-
das iniciativas em todo o mundo para a eliminação da transmissão vertical através de
estratégias e políticas públicas (NUNES et al., 2018).

A atenção primária possui um importante papel na prevenção e no tratamento


da sífilis gestacional, ela pode detectar não apenas desconforto materno, mas também
graves complicações ao recém-nascido, culminando inclusive com a morte fetal em
alguns casos (Santos, 2018). A infecção pode desencadear alguns problemas como,
aborto espontâneo, malformações congênitas, natimorto ou morte perinatal em cerca
de 40% das crianças infectadas. É visto que quanto mais avançada a gestação, maior a
chance de transmissão, porém, menor a gravidade (CONCEIÇÃO; CÂMARA; PEREI-
RA, 2019).

TEIXEIRA, Brenda dos Santos


ANDRADE, Gabriela Santos
TENORIO, Maria Eduarda da Macena
MATIAS, Guilherme Lages
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
SOARES, Amanda
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
35

Para reduzir a transmissão vertical da sífilis é necessário que o diagnóstico e


tratamento sejam precoces, pois sabe-se que gestantes tratadas tardiamente apresen-
tam um maior número de desfechos desfavoráveis. Com a finalidade de monitorar
os casos de sífilis no Brasil, a vigilância epidemiológica classifica a sífilis gestacional
como um agravo de notificação compulsória. Além disso, existem consequências ao
recém-nascidos, podendo apresentar baixo peso ao nascer, obstrução nasal, alteração
respiratória, danos neurológicos, entre outras sequelas causadas pela sífilis congênita.
Consequentemente, a assistência a estes casos gera um alto custo direto ou indireto
para a saúde pública e estão diretamente ligados à assistência pré-natal recebida pela
gestante (SILVA et al., 2020).

Desde de 1986 a sífilis congênita vem sendo notificada no Brasil. Em gestantes, a


notificação iniciou-se em 2005 e a sífilis adquirida, em 2010 (LIMA et al., 2013). Segun-
do a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (2014), a eliminação da sífilis congê-
nita é uma das metas propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) prevista
dentre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estipulando assim como
taxa de incidência 0,5 caso por 1.000 nascidos vivos.

A sífilis é uma doença de notificação compulsória nacional e obrigatória. De acor-


do com o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), em 2016 fo-
ram notificados 37.436 casos de sífilis materna, no Brasil. Entre 2010 e 2016, a taxa de
detecção em gestantes aumentou de 3,7 para 12,4 casos por cada 1.000 nascidos vivos
(MOREIRA et al, 2019).

Esse dado remete ao aumento progressivo da sífilis congênita, uma vez que sua
taxa de transmissão é de 70 a 100% e a de mortalidade é de 40%, podendo aumentar,
caso a gestante não tenha um acompanhamento adequado durante a gravidez (BRA-
SIL et al., 2014). De acordo com esses dados, é visto que tal problema ainda persiste,
uma vez que, segundo os números divulgados pelo Ministério da Saúde em 2019, o
número de casos de sífilis congênita aumentou 3,8 vezes no país, passando de 2,4 para
9,0 casos em 1000 nascidos vivos (BRASIL, 2019).

Com base nos dados apresentados é notória a importância de um maior desen-


volvimento de pesquisas sobre esse assunto, para que esse problema ganhe mais visi-
bilidade e seja melhor discutido no âmbito da Saúde Pública. Assim, a presente pes-
quisa teve por objetivo analisar a partir de dados da literatura a epidemiologia e o
perfil epidemiológico da sífilis em gestantes no Brasil.

CAPÍTULO 3
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE SÍFILIS EM GESTANTES NO BRASIL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
36

Metodologia

Tipo de estudo

Trata-se de uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL), a fim de possibilitar


uma síntese dos estudos e gerar um conhecimento a respeito da temática. Este método
possibilita sumarizar as pesquisas já concluídas e incorporar a aplicabilidade de resul-
tados de estudos significativos na prática. Constitui basicamente um instrumento da
Prática Baseada em Evidências (PBE) e caracteriza-se por uma abordagem voltada ao
cuidado clínico e ao ensino fundamentado no conhecimento e na qualidade da evidên-
cia (SOUZA, SILVA, CARVALHO, 2010).

Sua execução foi seguida por as seguintes etapas: identificação da temática e ela-
boração das questões de pesquisa, busca na literatura, categorização dos estudos, ava-
liação dos estudos selecionados, interpretação dos resultados e exibição da síntese do
conteúdo.

Coleta dos dados

O objeto de estudo foi a produção do conhecimento em periódicos sobre a epi-


demiologia da sífilis gestacional no Brasil conforme as bases de dados Literatura Lati-
no-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library
Online (SciELO). Para o levantamento dos artigos foram utilizados os descritores em
saúde (Decs): “sífilis”, “gestantes” e “epidemiologia”. Realizou-se o agrupamento dos
descritores combinados com operadores booleanos: “sífilis AND gestantes”; “sífilis
AND epidemiologia”; “epidemiologia AND gestantes”. A coleta de dados foi realiza-
da no mês de maio de 2020.

Para a inclusão de artigos na amostra, adotaram-se como critérios: artigos dis-


poníveis integralmente, publicação em português, inglês ou espanhol em periódicos
nacionais e internacionais, mas que abordassem dados do Brasil, com indexação nas
bases de dados referidas e disponíveis de forma gratuita no período de 2018 a 2020.
Foram excluídos: estudos duplicados, publicações do tipo relato de caso, editorial, in-
formes técnicos, monografias, teses e dissertações, não condizentes ao tema.

Análise dos dados

No sentido de viabilizar a análise dos artigos que integram esta revisão integrati-
va foi utilizado um formulário, que continha as questões pertinentes à coleta de dados
e contemplava os objetivos do estudo, com as seguintes informações: Título, Autores,
Ano de publicação e periódico, Delineamento e Cidade/Estado.

TEIXEIRA, Brenda dos Santos


ANDRADE, Gabriela Santos
TENORIO, Maria Eduarda da Macena
MATIAS, Guilherme Lages
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
SOARES, Amanda
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NORDESTE BRASILEIRO
37

A avaliação dos dados foi realizada através da técnica de análise de conteúdo,


método eficaz que pode ser aplicado nesse tipo de pesquisa. Esse recurso produz sig-
nificados e sentidos aos estudos encontrados, direciona as discussões referidas nas
publicações e categoriza novas ideias sobre a temática discutida (BARDIN, 2014).

Durante o primeiro passo foram efetivadas a análise em pré-análise, codificação,


inferência e a interpretação dos dados. Depois organizou-se o material em banco de
dados em formato de pastas para sua leitura na integra, analisando de acordo com as
etapas propostas pela revisão integrativa e buscando atingir o objeto proposto pelo
presente estudo. Por último, foi realizada a fase da organização propriamente dita, que
consistiu na leitura flutuante, escolha dos documentos e a preparação deste material.

Resultados e discussão

A partir de uma amostra inicial de 339 artigos, foram selecionados 10 artigos


como corpus de análise, por se tratarem de estudos inclusos nos critérios estabelecidos
e diretamente relacionados ao tema. Destas pesquisas, 6 são indexadas na LILACS e 4
na SciELO, como mostra a figura a seguir (Figura 1).
Figura 1– Fluxograma de seleção de artigos conforme critérios de eleição baseados no tema
da sífilis em gestantes.

Fonte: Dados da pesquisa, 2020

Foi observado que a maioria dos estudos desta revisão foram descritivos, com
abordagem quantitativa e majoritariamente realizados na região sul e sudeste, com
apenas 3 estudos realizados da região norte-nordeste. A amostra final de 10 artigos foi
disposta em um quadro sinóptico (Quadro 1).

CAPÍTULO 3
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE SÍFILIS EM GESTANTES NO BRASIL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
38

Quadro 1- Distribuição dos estudos acerca da temática em foco, segundo as características dos artigos,
2018 a 2020.
Ano de
Cidade/E
Nº Título Autores publicação e Delineamento
stado
periódico
Prevalência de sífilis em 2018
parturientes atendidas CUNHA Estudo transversal, Criciúma,
1 em uma maternidade na BISCARO; Arquivos de abordagem Santa
cidade de Criciúma, MADEIRA. Catarinenses de quantitativa Catarina
Santa Catarina Medicina
2018
Sífilis em gestantes e Estudo descritivo,
GUIMARÃ
2 sífilis congênita no Arquivos de retrospectivo e Maranhão
ES et al
Maranhão Ciências da quantitativo
Saúde
Sífilis gestacional e
congênita e sua relação 2018
com a cobertura da
NUNES et
3 Estratégia Saúde da Epidemiologia e Estudo Ecológico Goiás
al
Família, Goiás, 2007- Serviços de
2014: um estudo Saúde
ecológico
2018
Estudo
Análise epidemiológica Macaé,
SOUZA et Rev. da observacional,
4 de casos notificados de Rio de
al Sociedade descritivo e
sífilis Janeiro
Brasileira de retrospectivo
Clínica Médica
Prevalência da sífilis
2018
gestacional e congênita
RAMOS et Estudo descritivo e Maringá,
5 na população do
al Revista Saúde e retrospectivo Paraná
município de Maringá -
Pesquisa
PR
Sífilis na gestação: 2018
associação das Estudo
PADOVANI
6 características maternas Revista Latino- retrospectivo e Paraná
et al
e perinatais em região Americana de transversal
do sul do Brasil Enfermagem
Análise dos casos de
2018
sífilis gestacional e
CARDOSO Fortaleza,
7 congênita nos anos de Estudo transversal
et al Ciência & Saúde Ceará
2008 a 2010 em
Coletiva
Fortaleza, Ceará, Brasil
Epidemiologia da sífilis
2019
congênita e materna em Carapicuí
Estudo descritivo e
8 um hospital público do MOREIRA ba, São
Journal Health quantitativo
município de Paulo
NPEPS
Carapicuíba/SP
Perfil epidemiológico de
2019 São José
pacientes com sífilis
do Rio
congênita e gestacional
9 LIMA et al Revista Brasileira Estudo ecológico Preto,
em um município do
Saúde Materno São
estado de São Paulo,
Infantil Paulo
Brasil
Análise epidemiológica Estudo
de casos notificados de 2020 retrospectivo,
Teresina,
10 sífilis gestacional no SILVA et al exploratório
Piauí
município de Teresina, BJSCR descritivo e
Piau quantitativo
Fonte: Dados da pesquisa, 2020

Dados epidemiológicos

Os artigos analisados nesta pesquisa mostraram que a sífilis aumenta progres-


sivamente em mulheres grávidas no Brasil. Foi evidenciado, em seis dos 10 artigos
selecionados, o número de casos de sífilis em gestantes, destes, quatro explanavam de
dados de cidades brasileiras e dois tratavam de dados a nível estadual. O período de

TEIXEIRA, Brenda dos Santos


ANDRADE, Gabriela Santos
TENORIO, Maria Eduarda da Macena
MATIAS, Guilherme Lages
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
SOARES, Amanda
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
39

análise geral foi de 2007 até 2018 e, em todos eles, foi verificado um aumento dos casos
ao longo dos anos.

Com relação aos estudos realizados com dados municipais, foi visto que os arti-
gos com codificação, conforme quadro 1, nº 4, 5 e 9 obtiveram quantitativos semelhan-
tes (SOUZA et al., 2018; RAMOS et al., 2018; LIMA et al., 2019), com bastante discre-
pância dos altos números encontrados em Teresina/PI (SILVA et al., 2020). Apesar de
serem estudos realizados em locais diferentes, mas com períodos similares, uma das
causas que sugere a ocorrência da diferença em número de casos é a subnotificação no
SINAN, pois nas pesquisas em que foram utilizadas esta plataforma para a obtenção
dos dados, tiveram os menores quantitativos, enquanto que, no estudo em que foi
utilizado as fichas de consultas encontradas na ESF do município, obteve os maiores
resultados.

A subnotificação torna-se evidente quando comparamos as pesquisas realizadas


a nível estadual, como o artigo nº 6, no qual evidenciou, no Estado do Paraná, apenas
306 casos de sífilis em gestantes no período de 2011 a 2015 (PADOVANI et al., 2018) e o
artigo nº 3, que identificou, no estado de Goiás, um quantitativo de 3.890 casos de sífi-
lis em gestantes de 2007 a 2014 (NUNES et al., 2018). Dessa forma, o combate a subno-
tificação e os subregistros são importantes ações de vigilância em saúde para diminuir
os casos de sífilis em mulheres em idade fértil (LIMA et al., 2019).

No que diz respeito a taxa de prevalência, apenas dois artigos fizeram essa aná-
lise, obtendo níveis crescentes de 2011 a 2016. Já a taxa de incidência foi analisada por
três artigos, dois destes mostraram picos em 2014, o outro em 2015.

Segundo o estudo de Cunha, Biscaro e Madeira (2018), a taxa de prevalência em


Santa Catarina foi de 0,61%, sendo crescente no período de janeiro de 2012 a dezembro
de 2016, com exceção do ano de 2016, no qual se observou queda. Esse dado que corro-
bora com os encontrados por Padovani et al. (2018), o qual a prevalência no Paraná foi
de 0,57%, com um discreto aumento de casos notificados, passando de 2,93% em 2011
para 3% em 2015.

Nota-se que esses altos números de notificações ainda persistem, provavelmente,


devido a falhas quanto ao tratamento das gestantes e seus parceiros, o que mostra o
reflexo de uma assistência de pré-natal deficitária. Além disso, é necessário medidas
que levem à população informações sobre a doença, suas formas de transmissão e
prevenção são ações fundamentais para redução de novos casos (CUNHA; BISCARO;
MADEIRA, 2018).

CAPÍTULO 3
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE SÍFILIS EM GESTANTES NO BRASIL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
40

No tocante à taxa de incidência, na pesquisa de Nunes et al. (2018) e Lima et al.


(2019), os dados foram crescentes em Goiás, indo de 2,8/1.000 nascidos vivos, em 2007,
para 9,5/1.000 nascidos vivos em 2014 e em São José do Rio Preto- SP, indo de 1,2 ca-
sos/1.000 nascidos vivos em 2007 para 11,1 casos/1.000 nascidos vivos em 2014, res-
pectivamente. Já no estudo de Padovani et al. (2018), a taxa de detecção no Paraná che-
gou a 12,79 casos/1.000 nascidos vivos em 2015. Uma possível causa que contribuiu
para a observação desses dados foi a diminuição nos estoques da penicilina benzatina,
em 2014, medicamento considerado essencial para controle da transmissão vertical
de sífilis, desta forma em muitos locais do país não houve tratamento adequado das
mães, parceiros e crianças (SILVA et al., 2020).

Perfil epidemiológico

Ao analisar os estudos realizados foi observado nos artigos nº 4, 7 e 9 que a fai-


xa etária mais afetada com a sífilis gestacional (SG) encontrava-se entre 20 e 29 anos
(SOUZA et al.; 2018; CARDOSO, 2018; LIMA et al., 2019), havendo, no entanto, diver-
gência, quando comparado com os artigos nº 2 e 10, nos quais essa faixa etária possuiu
uma amplitude maior, o primeiro entre 20 e 34 anos e o segundo entre 20 e 39 anos
(SILVA et al., 2020; GUIMARÃES et al., 2018). Esses resultados mostram que a faixa
etária mais acometida foi na idade fértil, provavelmente, por ser o período em que a
maioria das mulheres apresentam uma vida sexual mais ativa, portanto estão expostas
à um maior risco de infecção (CUNHA; BISCARO; MADEIRA, 2018). Esse fato, repre-
senta-se como uma preocupação para a Saúde Pública, devido ao risco de contamina-
ção vertical se ocorrer uma gravidez.

A análise da faixa etária não foi a única variável discutida, sete dos artigos sele-
cionados avaliaram a variável também a cor/raça das gestantes que possuíam sífilis.
Neste quesito, houve certa discrepância, visto que três deles expõem que a SG é en-
contrada em maior taxa em mulheres brancas (CUNHA; BISCARO; MADEIRA, 2018;
LIMA et al., 2019; RAMOS et al., 2018 ), dois afirmam ser mais presente em mulheres
pardas (SILVA et al., 2020; MOREIRA, 2019), enquanto os demais demonstram que
essa maior taxa está presente em gestantes não brancas (PADOVANI et al., 2018; CAR-
DOSO, 2018). Como os artigos analisados possuem diferentes localidades geográficas,
sugere-se que esta evidência tenha relação com as variáveis observadas, não havendo
como avaliar de maneira mais aprofundada esse quesito.

Concomitante ao exposto, foi observado que a maioria das gestantes infectadas


por sífilis possuem ensino fundamental incompleto (LIMA et al., 2019; SILVA et al.,
2020; GUIMARÃES et al., 2018; RAMOS et al., 2018; CARDOSO, 2018) ou não chega-
ram à 12 anos de estudo (SOUZA et al., 2018). O destaque de mulheres com menor ní-

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ANDRADE, Gabriela Santos
TENORIO, Maria Eduarda da Macena
MATIAS, Guilherme Lages
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
SOARES, Amanda
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
41

vel de escolaridade pode ser reflexo do contexto social em que a sífilis está inserida, já
que acomete, majoritariamente, gestantes que se encontram em situação de vulnerabi-
lidade social (LIMA et al., 2019). Esses dados corroboram com o estudo de Domingues
et al. (2016), no qual foi identificado que existe um risco de até 3,2 vezes maior de con-
trair a sífilis nas mulheres que apresentam baixa escolaridade, existindo uma relação
inversamente proporcional entre a escolaridade da mulher e a frequência de sífilis, ou
seja, quanto menor a escolaridade, maior a frequência da doença.

Esses dados mostram a importância de ações de educação em saúde, para que


através do conhecimento sobre esse problema, consiga diminuir os casos de sífilis no
país, uma vez que, segundo Droomers e Westert (2004), a baixa escolaridade está dire-
tamente relacionada à baixa renda familiar, que por conseguinte, está relacionada ao
menor acesso à informação e aos serviços de saúde.

Considerações finais

O aumento significativo do número de gestantes com sífilis ao longo dos anos é


evidente na maioria dos estudos, tornando -se um dado preocupante devido a possi-
bilidade do aumento da transmissão vertical. Observou-se ainda que este fato ocorreu
pincipalmente após 2014, ano em que houve um desabastecimento da penicilina ben-
zatina no Brasil, que é um medicamento primordial para o controle da sífilis, fortale-
cendo a necessidade de maior controle no fornecimento destes e no tratamento correto
precocemente, a fim de evitar um aumento do número de infectados.

Sabe-se que em alguns lugares do Brasil a subnotificação ainda é um desafio que


precisa ser sanado, e para isso é importante uma formação continuada dos profissio-
nais de saúde da assistência e gestão de serviços, para que esses consigam identificar e
notificar os casos, com o preenchimento dos dados adequadamente.

Foi possível concluir também que o perfil predominante das gestantes infectadas
pela sífilis é composto por mulheres jovens, brancas e de baixa escolaridade. Nessa
perspectiva, é necessária a formulação de novas medidas e políticas de saúde que aten-
dam a esse público e ações de educação em saúde, para que essas mulheres tenham
acesso a esclarecimentos de sobre prevenção e evitando assim a transmissão da sífilis,
como também uma maior oferta de preservativos. Além disso, para reduzir a preva-
lência de sífilis na gestação, é importante que os profissionais de saúde proporcionem
mais informações durante as consultas e se atentem para o diagnóstico precoce e o
tratamento eficaz da mulher e de seu parceiro.

CAPÍTULO 3
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE SÍFILIS EM GESTANTES NO BRASIL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
42

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CAPÍTULO 3
ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE SÍFILIS EM GESTANTES NO BRASIL
CAPÍTULO 4

CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E
CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊNICAS EM UM
MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO PARAIBANO

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz1


TEIXEIRA, Brenda dos Santos2
NASCIMENTO, Maria Mônica Paulino do3

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.4

1  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em Saúde da Fa-
mília pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Pós-graduada em Unida-
de de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@hotmail. com
2  Enfermeira pela Universidade Estadual do Ceará. Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Católica de Santos.
Especialização em Gestão dos Hospitais Universitários Federais no SUS. E-mail: enfmonicapaulino@hotmail.com
3  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Pós-graduada em Enfermagem Ginecológica e Obsté-
trica pela Universidade Cândido Mendes. Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco. E-mail: b.teixeirast@gmail.com
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
46

Resumo

Os estados reacionais ou reações hansênicas são períodos de inflamação aguda


no curso de uma doença crônica e é principal causa de lesões dos nervos e de incapa-
cidades provocadas pela hanseníase. O estudo teve como objetivo conhecer as carac-
terísticas epidemiológicas e clínicas dos casos de reações hansênicas em um município
do alto sertão paraibano. Trata-se de um estudo exploratório descritivo com aborda-
gem quantitativa, utilizou-se um questionário estruturado, aplicado nas residências
dos portadores e ex-portadores da hanseníase que desenvolveram reações hansênicas,
cadastrados nas três Unidades de Saúde da Família com mais casos de hanseníase
no município de Cajazeiras-PB. Entre os 22 participantes, a maior parte era do sexo
masculino, com idade acima de 61 anos e ensino fundamental incompleto. Com rela-
ção à classificação da hanseníase, 90,9% eram multibacilares e 77,2% da forma clínica
dimorfa. Quando avaliado o tipo de reação, 68,2% foram considerados casos de reação
reversa ou reação do tipo 1, 45,5% desenvolveram as reações durante o tratamento e
40,9% após a alta por cura. Conclui-se, portanto, que o presente estudo demonstra a
necessidade de qualificação dos profissionais da atenção primária para um maior e
melhor acompanhamento destes casos, tanto para que as reações hansênicas sejam
diagnosticadas precocemente no decorrer do tratamento e após a alta, como principal-
mente para realização de condutas de monitoramento do dano neural e de prevenção
das incapacidades físicas, evitando que se instalem deformidades que comprometam
as atividades diárias e o convívio destas pessoas na sociedade.

Palavras-chave: Hanseníase. Inflamação. Perfil epidemiológico.

Introdução

A hanseníase caracteriza-se como uma doença infectocontagiosa crônica, de


grande potencial incapacitante, tendo como agente etiológico o bacilo My-
cobacterium leprae, ocasionando lesões na pele e nos nervos periféricos dos olhos,
membros superiores e inferiores. Apresenta variadas formas clínicas que são determi-
nadas de acordo com níveis de resposta imune celular a esta bactéria, sendo classifica-
das como: indeterminada, tuberculóide, dimorfa e virchowiana (ARAÚJO et al., 2014).

Mesmo com todos os esforços e avanços empreendidos na integração do controle


da hanseníase na rede de atenção à saúde, esta doença ainda é considerada um pro-
blema de saúde pública (MONTEIRO et al., 2013). Segundo Lastória e Abreu (2012), o
Brasil é o único país que não atingiu a meta de eliminação da doença, que é de¬finida
pela prevalência menor que 1 caso/10.000 habitantes. Em 2011, 33.955 casos novos fo-
ram detectados, tendo como coeficien¬te de prevalência 1,54/10.000 habitantes.

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz


TEIXEIRA, Brenda dos Santos
NASCIMENTO, Maria Mônica Paulino do
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
47

Seguindo a Índia, o Brasil é o segundo país do mundo com maior número de


casos de hanseníase (MAIA; TEIXEIRA, 2014). Considerado um problema de saúde
pública, o Ministério da Saúde (MS) tem o compromisso de eliminar a hanseníase até
2015, ou seja, alcançar menos de 1 caso por 10.000 habitantes, para isso lançou o Pla-
no Integrado de Ações Estratégicas para Eliminação da Hanseníase e outras doenças,
que representam importantes agravos para saúde pública e constitui basicamente no
aumento da detecção precoce e na cura dos casos diagnosticados da doença. Embora o
Brasil registre decréscimos contínuos nos coeficientes de prevalência e de detecção de
casos novos de hanseníase, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são considera-
das mais endêmicas, com áreas de importante manutenção da transmissão (BRASIL,
2009; MOURA et al., 2012; BRASIL, 2012).

Os estados reacionais ou reações hansênicas caracterizam-se por reações do siste-


ma imunológico do doente ao bacilo (SOUZA, 2010). Conforme a Secretaria do Estado
de Saúde de Minas Gerais (2007), estas reações são períodos de inflamação aguda no
curso de uma doença crônica, é uma característica da hanseníase e pode afetar os ner-
vos do paciente. Para Teixeira, Silveira e França (2010), os indivíduos portadores da
hanseníase podem ser surpreendidos por quadros ou estados reacionais, intercorrên-
cias no curso da doença, que se apresentam em cerca de 10 a 50% dos casos, ocorren-
do principalmente nas formas multibacilares. Constituem importantes fatores de risco
para retratamento da hanseníase, além de responsáveis por abandono de tratamento
e pelas incapacidades.

Durante os primeiros meses do tratamento quimioterápico da hanseníase, os


estados reacionais ocorrem, mas podem ocorrer antes ou até mesmo após a cura do
paciente. Sendo estes estados reacionais a principal causa de lesões dos nervos e de
incapacidades provocadas pela hanseníase (SOUZA, 2010). De acordo com Antônio et
al. (2011), as reações hansênicas são divididas em três formas clínicas: reação reversa
(RR), eritema nodoso hansênico (ENH) e neurite isolada (NEU). A RR é uma reação de
imunidade celular, causada por uma resposta exacerbada do hospedeiro aos antígenos
liberados pela destruição bacilar. O ENH envolve a imunidade humoral, ligada à des-
truição de bacilos com exposição de antígenos e estímulo à produção de anticorpos. A
NEU caracteriza-se pela inflamação de troncos nervosos periféricos, com alteração das
funções sensitivas, motoras e autonômicas, desencadeando incapacidades.

O interesse pela temática foi despertado durante o Curso de Graduação em En-


fermagem, especificamente nas aulas da disciplina Enfermagem Clínica II e no decor-
rer do Estágio Curricular Supervisionado I, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS)
do município de Cajazeiras-PB. Também a partir das vivências enquanto monitora da
referida disciplina, no qual se pode observar a existência de casos de hanseníase com

CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊNICAS EM UM MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO
PARAIBANO
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
48

reações hansênicas e a associação com o surgimento de incapacidades físicas, bem


como o quanto estes agravos interferem nas atividades da vida diária destas pessoas e
até mesmo na crença de que a doença possui cura, exibindo um grande problema para
a vida destes pacientes.

Este trabalho justifica-se pela escassez de estudos sobre as características epide-


miológicas e clínicas dos casos de reações hansênicas e por reconhecer a importância
deste conhecimento para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias que
possam melhorar a qualidade do acompanhamento a estes indivíduos pelos serviços
de saúde, em especial pelas Unidades de Saúde da Família, pois observa-se que ainda
é insuficiente o acompanhamento destes casos pelas Unidades de Saúde da Família
(USF), tanto durante como após o tratamento com a poliquimioterapia (PQT).

A divulgação dos resultados do estudo também poderá contribuir com a cons-


cientização dos profissionais de saúde, inclusive do enfermeiro, visando o monitora-
mento mais efetivo dos estados reacionais e das funções neurais, o que demonstraria o
reconhecimento da importância das ações de prevenção de incapacidades físicas para
a melhoria da qualidade de vida destas pessoas. Assim, o presente estudo tem por
objetivo descrever as características clínicas dos casos de reações hansênicas em um
município do alto sertão paraibano.

Metodologia

Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem quantitativa, rea-


lizado com portadores e ex-portadores de hanseníase cadastrados nas três USFs que
apresentaram o maior número de casos notificados da doença no município de Caja-
zeiras, o qual apresenta alta incidência e prevalência de casos da doença no Estado da
Paraíba.

A população-alvo foi constituída pelos casos de hanseníase notificados entre os


anos de 2010 e 2014 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação da Secretaria
Municipal de Saúde referente as três USFs selecionadas, correspondendo a um total de
99 casos. A seleção da amostra ocorreu de forma intencional, sendo composta por por-
tadores e ex-portadores de hanseníase que desenvolveram ou estivessem desenvol-
vendo reações hansênicas durante o período de estudo, totalizando 22 participantes.

Definiram-se como critérios de inclusão: possuir idade igual ou superior a 18


anos, estar em uso da PQT ou ter concluído o tratamento de hanseníase e apresentar
reações hansênicas. Foram excluídos do estudo os indivíduos que, embora tenham
sido registrados como caso de reação hansênicas.

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz


TEIXEIRA, Brenda dos Santos
NASCIMENTO, Maria Mônica Paulino do
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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A coleta de dados foi realizada no domicílio dos participantes, mediante entre-


vista com roteiro estruturado, contendo dados sociodemográficos e informações das
características clínicas da hanseníase e dos episódios reacionais. Os dados coletados
foram armazenados em planilha eletrônica elaborada pelo programa Microsoft Excel,
sendo analisados através da estatística descritiva simples, utilizando frequência e per-
centual.

O projeto dessa pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do


Centro de Formação de Professores/Universidade Federal de Campina Grande sob
CAAE nº 44860115.8.0000.5575 e número do parecer 1.171.900.

Resultados

Participaram do estudo 22 indivíduos, dos quais a maior frequência de reações


hansênicas ocorreu entre o sexo masculino (68,2%), com idade superior a 61 anos
(40,9%), casados (59,1%), de cor/raça parda (54,5%), com ensino fundamental incom-
pleto (45,4%), aposentados (40,9%), de religião católica (72,7%) e que possuíam renda
familiar de até um salário mínimo (95,5%).

No que concerne às características da hanseníase, 90,9% da amostra apresen-


tam classificação operacional multibacilar, sendo mais predominante a forma clínica
Dimorfa (77,2%), com baciloscopia negativa no diagnóstico (45,5%). Sobre as reações
hansênicas, 68,2% foram do tipo 1, 45,5% ocorreram durante o tratamento e 31,8%
não possuíam conhecimento sobre a possibilidade de desenvolvimento de tais reações,
conforme observado na Tabela 1.

A Tabela 2 apresenta a distribuição dos casos de reações hansênicas segundo


o dano neural e os sinais clínicos evidenciados. Os nervos mais acometidos foram o
mediano (40,9%) e o ulnar (36,4%). Quanto aos sinais clínicos, houve maior frequência
de dor ou perda de sensibilidade na pele e nos nervos (77,3%), nova diminuição da
acuidade visual (63,6%) e dor e vermelhidão (59,1%) nos olhos, e inchaço no(s) pé(s)
(59,1%).

Em relação ao desenvolvimento de incapacidades físicas provocadas pelas rea-


ções hansênicas, observa-se na Tabela 3 que houve maior prevalência do grau dois
(54,5%) e que o seu surgimento ocorreu durante e após o tratamento (27,3% para am-
bos).

Discussão

A amostra estimada correspondeu a 25 participantes, mas devido a mudanças de


endereço, não foi possível aplicar o questionário com 3 destes, sendo a amostra final

CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊNICAS EM UM MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO
PARAIBANO
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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Tabela 1. Distribuição das características da hanseníase e das reações hansênicas. Cajazeiras - PB, 2015.

*Havia a possibilidade de haver mais de uma resposta.


Fonte: Pesquisa direta, 2015.

do estudo composta por 22 participantes entre casos de portadores e ex-portadores da


hanseníase, com histórico de reações hansênicas. Destes participantes, 4 eram portado-
res da hanseníase e 18 ex-portadores.

Ocorreram muitas dificuldades no desenvolvimento da pesquisa, desde a obten-


ção de informações sobre a população, principalmente a localização das residências
dos participantes durante a coleta dos dados e até mesmo a própria identificação des-
tes casos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Essas dificul-
dades já eram esperadas ao iniciar a pesquisa de campo, pois foi possível observar o
não preenchimento ou preenchimento inadequado das lacunas referentes às reações
hansênicas na ficha de notificação do SINAN, o que pode indicar uma deficiência no
monitoramento destes casos pelos serviços de saúde e a baixa preocupação com o
acompanhamento, além de dificultar a realização de outras pesquisas com o mesmo
sistema de informação.

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz


TEIXEIRA, Brenda dos Santos
NASCIMENTO, Maria Mônica Paulino do
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
51

Tabela 2. Distribuição dos casos de reações hansênicas segundo o dano neural e os sinais clínicos. Ca-
jazeiras-PB, 2015.

*Havia a possibilidade de haver mais de uma resposta.


Fonte: Pesquisa direta, 2015.

Tabela 3. Distribuição dos casos de reações hansênicas segundo o desenvolvimento de incapacidades


físicas. Cajazeiras - PB, 2015.

*Havia a possibilidade de haver mais de uma resposta.


Fonte: Pesquisa direta, 2015.
Além disso, outra dificuldade foi o não conhecimento da doença por parte dos
entrevistados, o que tornou imprescindível o esclarecimento de algumas dúvidas no

CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊNICAS EM UM MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO
PARAIBANO
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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decorrer da aplicação do questionário, pois a maioria das pessoas não conhecem ou


não entendem o que é uma reação hansênica, até mesmo alguns profissionais de saúde
demonstraram essa dificuldade.

Quanto a classificação operacional, a multibacilar correspondeu a 90,9% dos ca-


sos. Este achado foi encontrado em diversas literaturas estudadas, confirmando uma
ligação direta com o desenvolvimento de reações hansênicas em algum momento du-
rante o tratamento, ou por alguns anos após o tratamento ter sido concluído. Para
Silva e Griep (2007), essa forma clínica apresenta maior frequência de reações durante
e após a cura.

Um maior índice de pacientes multibacilares também foi encontrado no estudo


de Araújo et al. (2014). O alto percentual das formas multibacilares demonstram atraso
no diagnóstico, permitindo questionar a falta de detecção de casos nas formas iniciais
pela rede básica de saúde, reforçando a importância da capacitação para as equipes de
saúde (CARNEIRO et al., 2012).

Para a International Federation of Anti-Leprosy Associations (2002), pessoas que


desenvolvem hanseníase multibacilar, que já tiveram apresentado danos neurais no
momento do diagnóstico, devem ser acompanhadas com mais atenção pela equipe de
enfermagem, com o objetivo de verificar o surgimento de novos sinais que requeiram
tratamento, pois essas pessoas são mais propensas em cerca de 65% de desenvolver
novos danos neurais.

Ao analisar a forma clínica dos participantes, a mais predominante foi a dimor-


fa 77,2%, seguida da virchowiana com 13,6%. Esse resultado pode demonstrar que o
diagnóstico da hanseníase foi realizado tardiamente, aumentando a probabilidade de
transmissão da doença, além serem as formas clínicas esperadas para o desenvolvi-
mento de complicações neurais e incapacidades físicas no paciente.

Estes achados também são encontrados na pesquisa de Neves et al. (2013), reali-
zada em Palmas/TO durante o período de 2005 e 2010 com 1362 casos de hanseníase
notificados, em que a forma clínica dimorfa aparece com o percentual de 48,6%, se-
guida pela forma virchowiana 21,3%, assim como no estudo de Corrêa et al. (2012). Já
o trabalho de Rodini et al. (2010) diverge deste, pois a forma clínica que obteve maior
frequência foi virchowiana com 35%.

Com relação ao resultado da baciloscopia, 45, 5% dos resultados foram negati-


vos. Quando observado que nesse estudo o maior percentual de pacientes foi multiba-
cilar (MB) (17 dimorfa e 3 virchowiana). Sendo que na forma dimorfa, espera-se que
a baciloscopia seja negativa ou positiva, sendo obrigatoriamente positiva apenas na

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz


TEIXEIRA, Brenda dos Santos
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EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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forma virchowiana. Corroborando com os estudos de Carneiro et al. (2012), que ava-
liou a situação endêmica da hanseníase em uma cidade do interior do Rio Grande do
Sul, a baciloscopia negativa apresentou-se em maior percentual, com 39,5% dos casos
avaliados.

Do total de pacientes com reações hansênicas neste estudo, 68,2% eram do tipo
1- reação reversa, 31,8% do tipo 2- eritema nodoso hansênico. Pessoas com hanseníase
MB podem desenvolver tanto reação do tipo 1 como do tipo 2, onde no presente estu-
do é concordante com a literatura ao apresentar elevado percentual dos pacientes com
os dois tipos de reação.

Conforme identificado por Teixeira, Silveira e França (2010), em seu estudo, o


maior percentual de casos foi de reação do tipo 1, seguida do tipo 2 e por último do
tipo mista. Nos estudos realizados por Nery (2006) e Rego (2007), o maior percentual
foi de pacientes com eritema nodoso hansênico, uma vez que ambas pesquisas foram
compostas por indivíduos multibacilares, sendo que este tipo de reação ocorre com
maior frequência nas formas dimorfa e virchowiana, divergindo dos dados da presen-
te pesquisa em que os maiores percentuais foram de reação do tipo 1.

O maior contingente de reações hansênicas surgiu durante o tratamento com


45,5% e depois no tratamento 40,9%. O monitoramento do episódio reacional deve
fazer parte da rotina da rede de serviços de saúde, pois esta é uma medida de prevenir
a evolução da piora das funções neurais, além de reduzir os custos com o tratamento e
melhorar a qualidade de vida do paciente.

Condizente com o estudo de Monteiro et al. (2013), onde os achados evidencia-


ram uma associação entre a ocorrência de episódios reacionais durante e depois do
tratamento da poliquimioterapia. No estudo realizado por Souza et al. (2010), entre os
pacientes registrados no serviço de Dermatologia e Hansenologia da Unidade Antônio
Carlos Pereira no município de Juiz de Fora, 52,5% tiveram reações hansênicas duran-
te ou após a poliquimioterapia PQT.

É extremamente importante compreender a correlação entre as formas clínicas


e os estados reacionais, principalmente quando estes estados ocorrem após a alta por
cura, podendo ser confundidos com recidiva (SHETTY; WAKADE; ANTIA, 2001).
Para Teixeira, Silveira e França (2010), quando os quadros reacionais ocorrem tardia-
mente, após a alta medicamentosa, o diagnóstico é mais difícil devido à necessidade
de diferenciação com os quadros de recidiva.

A presença de episódios reacionais após o término do tratamento torna os indi-


víduos mais propensos ao desenvolvimento de deformidades físicas, pelo fato de já

CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊNICAS EM UM MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO
PARAIBANO
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
54

estarem fora do registro e não serem mais acompanhados. Isso pode levar os pacientes
a não considerar sinais e sintomas como possíveis complicações, fazendo com que
procurem tardiamente os serviços de saúde. Portanto, o monitoramento pós-alta deve
fazer parte da rotina dos serviços de saúde (ORSINI, 2008).

Devido às deformidades, pessoas acometidas pela hanseníase podem sofrer pre-


juízo na sua capacidade de trabalho e, consequentemente, no auto sustento e da fa-
mília, gerando repercussões de ordem psicológica, social e física (DIFFEY et al., 2000;
TEIXEIRA; SILVEIRA; FRANÇA, 2010). Embora 68,2% participantes tenham afirmado
possuir conhecimento sobre a reação hansênica, os mesmos ainda a confundem com a
hanseníase acreditando ser seu reaparecimento. Esse fato deixa evidente a necessidade
de estratégias mais eficazes na disseminação da informação da diferença entre as duas
condições, esclarecendo para a população que a hanseníase raramente recidiva quan-
do tratada adequadamente.

Foi verificado no presente estudo que a taxa de abandono no tratamento foi de


68,2%, representando 15 de um total de 22 dos pacientes estudados, considerada muito
alta. Durante a coleta dos dados foi possível observar que o abandono esteve relacio-
nado à descrença na cura da doença com a realização da PQT, a mudança na coloração
da pele e a piora do quadro clínico quando surgiram as reações hansênicas.

Estudo realizado para avaliar a prevenção de incapacidade na hanseníase com


apoio em um manual de autocuidado, 29 dos 55 pacientes estudados não aderiram à
intervenção completa da poliquimioterapia. Esta não adesão pode se justificar pelas
condições socioeconômicas e culturais, por dependência de transportes, pela baixa ex-
pectativa em relação ao tratamento não medicamentoso e por se tratar de uma doença
crônica e estigmatizante (RODINI et al., 2010).

Os pacientes com reações hansênicas podem desenvolver quadro clínico variado


e diversos tipos de danos neurais. Nesse estudo foi possível observar a manifestação
de sinais clínicos em todos os nervos, geralmente associada a queixas álgicas. Para
Almeida, Almeida e Magalhães (2003), as lesões ou comprometimentos dos nervos
fibular e tibial acarretam perdas sensitivas em todo o pé. Conti, Almeida e Almeida
(2013), citam em seu estudo que, os nervos afetados geralmente são mistos, isto é,
possuem fibras sensitivas, motoras e autonômicas e as alterações acontecem em todos
esses aspectos.

Na pele, os participantes apresentaram lesões inflamadas e nódulos subcutâneos.


Nos olhos, incômodos referentes a acuidade visual e força muscular. São escassos os
estudos que abordem o aspecto descritivo da ocorrência de danos neurais nas reações
hansênicas. Outra limitação do estudo foi o auto-relato, pois como na maioria dos ca-
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TEIXEIRA, Brenda dos Santos
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EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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sos o questionário foi aplicado durante o tratamento do episódio reacional, os sinais e


sintomas foram relatados com base em histórias de episódios anteriores, o que pode
comprometer a fidedignidade dos resultados.

Quando avaliado os sinais clínicos nos membros, constatou-se que 59,1% dos
casos desenvolveram pé inchado. Observa-se uma menor proporção no desenvolvi-
mento dos sinais clínicos nas mãos, por ser uma região de percepção precoce e por sua
fácil aplicabilidade das medidas de autocuidado, diminuindo a frequência de incapa-
cidades.

Estes achados estão de acordo com os encontrados por Carvalho e Alvarez (20000,
os autores encontraram elevada frequência de incapacidades nos pés, isoladamente,
quando comparada com os resultados encontrados nas mãos. Para Araújo et al. (2014),
a maior presença e o aumento da frequência de incapacidades físicas, principalmente
nos pés, pode ter sido influenciado pelo descuido nas orientações relacionadas ao au-
tocuidado.

Isso nos leva ao questionamento quanto ao desenvolvimento de ações que pode-


riam ter sido efetuadas na prevenção desse cenário. Para prevenção de incapacidades
a nível domiciliar, faz-se necessário além de intervenções educativas, um monitora-
mento atento às funções neurais destes pacientes, tanto durante o tratamento como
após a alta por cura. Croft (2000), acredita que o grau de incapacidade está diretamente
relacionado com o tempo de evolução da doença.

De acordo com a “Estratégia Global Aprimorada para Redução Adicional da


Carga da Hanseníase: 2011 – 2015”, a atual meta mundial para a redução da carga
da hanseníase define a redução da taxa de casos novos diagnosticados com grau 2 de
incapacidade por 100 mil habitantes em, pelo menos, 35% até o final de 2015 (OMS,
2010).

Observa-se que o momento de surgimento das incapacidades físicas foi igual


durante o e depois do tratamento, com 27,3%, sendo baixa a frequência anteriormente
ao tratamento. Esse percentual pode estar ligado ao não seguimento clínico dos pa-
cientes durante o período de tratamento ou após sua saída do registro ativo dos casos
de hanseníase. Estes dados concordam com os achados nas pesquisas realizadas por
Schiapati (2005) e Araújo et al. (2014), onde foi encontrado menor taxa de incapacida-
des físicas no início do tratamento.

Aproximadamente 23% dos pacientes com hanseníase desenvolvem incapaci-


dade física após a alta (GONÇALVES; SAMPAIO; ANTUNES, 2009). Para Goulart,
Penna e Cunha (2002), para identificar precocemente as complicações neurais e inca-

CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊNICAS EM UM MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO
PARAIBANO
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
56

pacidades é necessário avaliação e monitoramento do estado em que se encontram os


pacientes, essencial para a preservação da estrutura e função do nervo periférico.

Um maior percentual esteve relacionado a variável não informado, com 36,7%.


Porém não significa que estes pacientes não desenvolveram espessamento neural ou
dores no decorrer do tratamento. Pode indicar uma falha na disseminação de informa-
ções ao próprio paciente, como a falta de avaliação no registro de incapacidades.

Os serviços de saúde devem concentrar um maior número de atividades para o


seguimento qualificado dos casos de hanseníase, não só no momento do diagnóstico
e durante o tratamento, como também após a alta da poliquimioterapia, pois este é o
momento em que ocorre o comprometimento da função neural, sendo um fator deter-
minante no desenvolvimento da incapacidade ou deformidade física (CROFT et al.,
2000).

Considerações finais

Os resultados permitem inferir que as reações hansênicas ocorrem com maior


frequência nas formas multibacilares durante ou após o tratamento com a PQT, cor-
roborando com a literatura. Estes dados representam um grande desafio para os pro-
gramas de hanseníase em todos os níveis de atenção à saúde, sendo ideal a promoção
de estratégias mais eficazes para o diagnóstico, controle e tratamento de episódios
reacionais.

Os achados reforçam a necessidade de monitoramento clínico pela equipe de


saúde da família após o término do tratamento, por um período de pelo menos seis
meses a sete anos após a alta, visto que em alguns pacientes o comprometimento neu-
ral possa ocorrer de forma lenta e silenciosa.

Com relação aos danos neurais, observou-se que o grau de incapacidade 2 foi o
mais perceptível entre estes indivíduos, levando-se em conta que esse potencial inca-
pacitante acarreta prejuízo físico, comprometimento na participação social, além de
danos psicológicos e dificuldade nas atividades da vida cotidiana destas pessoas. Mas
pode-se observar que eles receberam orientações para o autocuidado e prevenção das
incapacidades, o que levanta o questionamento de que a assimilação das informações
pode ter sido dificultada pelo baixo nível de escolaridade.

Entende-se que os dados aqui apresentados podem oferecer subsídios para ela-
boração de estratégias educativas para os pacientes e para os profissionais da saúde,
capacitações por meio de cursos e treinamentos. Principalmente focando na qualidade
de vida dos pacientes que finalizam o tratamento, com maior atenção não só aos que

XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz


TEIXEIRA, Brenda dos Santos
NASCIMENTO, Maria Mônica Paulino do
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
57

apresentem incapacidades já instaladas, como também os que não tenham apresenta-


do incapacidades no momento da alta.

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CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS E CLÍNICAS DE REAÇÕES HANSÊNICAS EM UM MUNICÍPIO DO ALTO SERTÃO
PARAIBANO
CAPÍTULO 5

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PESSOAS COM


DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS NO
ESTADO DE ALAGOAS

SANTOS, Ellys Maynara Soares Batista dos1


FREITAS, Ana Paula Santos2
TEODOZIO, Fernanda Jessica de Melo3
TEIXEIRA, Brenda dos Santos4
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz5
ROCHA, Thiago José Matos6

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.5

1  Enfermeira pelo Centro Universitário CESMAC. Pós-graduada em Obstetrícia pela Faculdade Integrada de Patos.
Pós- graduanda em Avaliação em Saúde Aplicada à Vigilância pela Universidade Federal de Pernambuco. Pós-gra¬-
duanda em Gestão de Políticas de Saúde Informadas por Evidências pelo Instituto Sírio Libanes. E-mail: ellysmay-
na¬ra@outlook.com
2  Enfermeira pelo Centro Universitário CESMAC. Pós-graduada em Urgência, emergência e UTI pela
faculdade Integrada de patos. Pós-graduanda em Avaliação em Saúde Aplicada à Vigilância pela Univer-
-sidade Federal de Pernambuco. E-mail: anapaulasf92@hotmail.com
3  Enfermeira pelo Centro Universitário CESMAC. Pós-graduanda em Cardiologia e Hemodinâmica pela
CEFAPP. E-mail: nanda.teodozio@gmail.com
4  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Pós-graduada em Enfermagem Ginecoló-
gica e Obsté¬trica pela Universidade Cândido Mendes. Discente do curso de medicina pela Universidade
Federal do Vale do São Francisco. E-mail: b.teixeirast@gmail.com
5  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em Saúde da Fa-
mília pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Pós-graduada em Unida-
de de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@hotmail. com
6  Pesquisador da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e do Centro Universitário Cesmac. E-mail:
Tmatosrocha@cesmac.edu
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
62

Resumo

A situação epidemiológica das doenças transmissíveis tem apresentado mudan-


ças significativas no Brasil. O presente estudo teve como objetivo analisar o perfil epi-
demiológico das doenças infectocontagiosas em Alagoas, durante os anos de 2014 e
2015. Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa, rea-
lizado a partir de dados secundários. Os dados relacionados ao estudo foram obtidos
mediante as informações fornecidas pela Secretaria Estadual da Saúde do Estado de
Alagoas, contidas no Banco de Dados do Sistema de Informação de Agravos e Notifi-
cações (SINAN), onde foi possível analisar os números de casos notificados de doen-
ças infectocontagiosas em Alagoas. Foi verificado que, de todas as doenças notificadas,
a tuberculose apresentou-se com maior percentual de notificação, com 1122 e 954 casos
em 2014 e 2015, respectivamente, seguida de hanseníase, aids e hepatite C. Conclui-se,
portanto, que é fundamental o investimento em ampliações das redes sanitárias, novas
tecnologias e maior acessibilidade aos serviços públicos de saúde, para que o quadro
de doenças infectocontagiosas diminua a cada ano.

Palavras-chave: Epidemiologia. Doenças transmissíveis. Saúde pública.

Introdução

N a década de 1930, as doenças transmissíveis eram a principal causa de mor-


te no país, respondendo a mais de um terço dos óbitos registrados. A partir
do momento em que houve melhorias nas condições sanitárias, o desenvolvimento de
novas tecnologias (vacinas, antibióticos, recursos de diagnóstico), ampliação ao acesso
de saúde, observou-se uma expressiva redução da taxa de mortalidade. Todavia as
doenças infecciosas e parasitarias continuam a produzir um impacto importante no
quadro de adoecimento do país, sendo a população de baixa renda, que vive em con-
dições de moradias inadequadas tem mais chances de contrair doenças (BATISTELLA,
2006).

O conceito de doença contagiosa compreende apenas a transmissão por contato


direto, onde o microrganismo passa diretamente do indivíduo doente para o indiví-
duo sadio. Mas a transmissão pode acontecer de forma indireta, quando o indivíduo
sadio entra em contato com objetos ou superfícies contaminadas. Este tipo de contagio
realiza-se frequentemente na chamada cadeia mão-boca. Pode-se incluir no conceito
de transmissão por contato indireto o caso da emissão de gotículas de saliva através
de tosses, espirros, entre indivíduos que estejam relativamente próximos. A transmis-
são pode ocorrer também pela água, alimentos etc., que estabelecem a ligação entre o
agente infestante e o hospedeiro (NICHIATA et al, 2004).

SANTOS, Ellys Maynara Soares Batista dos


FREITAS, Ana Paula Santos
TEODOZIO, Fernanda Jessica de Melo
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
ROCHA, Thiago José Matos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
63

Atualmente, estas doenças em que há transmissão de microrganismo, deno-


minam-se genericamente doenças transmissíveis. O termo contagioso aplica-se à
transmissão por contato direto (NICHIATA et al, 2004). Caracteriza-se como doença
transmissível, qualquer doença causada por um agente infeccioso especifico, ou seus
produtos tóxicos, que se manifesta pela transmissão deste agente ou de seus produtos
de uma pessoa infectada para outro sadio, como é o caso do HIV, hepatite C, hansenía-
se e tuberculose (SOARES, 2013).

Nota-se que a situação epidemiológica das doenças transmissíveis vem apresen-


tando mudanças significativas, observadas através dos padrões de morbimortalidade
em todo o mundo, que por conseguinte, continuam a oferecer desafios aos programas
de prevenção (BRASIL, 2010). Nesse sentido, a motivação pela escolha do problema
a ser investigado se deu a partir da frequência de pessoas portadoras dos principais
grupos dessas doenças como, AIDS/HIV, hepatite C, hanseníase e tuberculose.

A AIDS é a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) e o HIV é o seu


agente etiológico. Pelo fato de ter atingido vários países é considerada uma pandemia.
O vírus causador da doença é o HIV (sigla do inglês para vírus da imunodeficiência
humana), que afeta o sistema imunológico, impedindo-o de realizar a tarefa de pro-
teger o organismo de agressões. Com o avanço da doença e do comprometimento do
sistema imunológico, o corpo humano torna-se mais vulnerável às doenças oportunis-
tas (CUNICO et al., 2008).

A hepatite C (HC) é uma doença caracterizada por inflamação hepática causada


pelo vírus da hepatite C (VHC). A infecção aguda da doença geralmente é assinto-
mática, apenas 25% dos pacientes manifestam algum tipo de sintoma, porém a evo-
lução para a cronicidade ocorre em torno de 85% dos casos de infecção. A HC crônica
manifesta-se tardiamente – em média 20 anos após a contaminação – e pode levar a
danos hepáticos graves: fibrose, com potencial evolução a cirrose e hepatocarcinoma.
Ela também é a principal causa de indicação do transplante hepático, o que torna essa
doença bastante relevante para o âmbito da Saúde Pública (SMITH et al., 2007).

A hanseníase é uma doença conhecida biblicamente como a doença de Lázaro,


como era conhecida antigamente: lepra. A hanseníase é conceituada como uma doença
grave crônica que causa lesões na pele, mucosas, nervos e quando em estado avançado
também pode afetar outros órgãos. O agente etiológico Microbacterium leprae é um
bacilo que infecta somente seres humanos. Esta bactéria também é chamada de bacilo
de Hansen, morfeia ou simplesmente lepra. O tempo de multiplicação do bacilo é len-
to, podendo durar, em média, de 11 a 16 dias. (ARAUJO, 2003). Percebe-se que há uma
incidência maior da doença nos homens do que nas mulheres em muitas regiões do

CAPÍTULO 5
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PESSOAS COM DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS NO ESTADO DE ALAGOAS
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
64

planeta, afetando especialmente indivíduos dos países subdesenvolvidos e em desen-


volvimento, como no Brasil. Possui também uma maior ocorrência em crianças, a não
ser em casos endêmicos em que o contato direto ou indireto por fômites contaminados,
facilite a transmissão (SANTOS, 2014).

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium


Tuberculosis, afeta geralmente os pulmões e pode levar à morte. Pode ser tratada, atin-
gindo a cura do paciente, e prevenida através de certas medidas, pois a bactéria possui
a capacidade de ser transmitida de pessoa a pessoa (FERRI, et al., 2014). Ela representa
a segunda maior causa de óbitos no mundo, ficando atrás apenas do HIV. Em 2011, 8,7
milhões de pessoas adquiriram a doença e 1,4 milhões morreram devido a essa enfer-
midade. No Brasil, neste mesmo ano, a prevalência de TB foi em torno de 91 mil casos,
as mortes estimadas foram em torno de 5,6 mil, com 71,337 novos casos notificados.
Apesar da incidência de TB ainda ser alta, o número de no- vos casos está diminuindo
gradualmente a cada ano (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2013).

Diante disso, espera-se que o conhecimento a respeito da ocorrência de letali-


dade por doenças infectocontagiosas em Alagoas possa subsidiar o planejamento e
organização de atividades de promoção de saúde com a realização de ações de pre-
venção dessas doenças na população alagoana. Desse modo, o objetivo dessa pesquisa
foi analisar o perfil epidemiológico das pessoas infectadas por AIDS/HIV, hepatite C,
hanseníase e tuberculose no estado de Alagoas. A questão que norteou a elaboração e
execução desta pesquisa foi: qual o perfil epidemiológico de pessoas com essas doen-
ças infectocontagiosas no estado de Alagoas?

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo, com abordagem quantitativa que


estudou as variáveis: gênero, faixa etária, AIDS, hepatite c, tuberculose, hanseníase em
Alagoas entre 2014 e 2015. Os dados epidemiológicos foram obtidos mediante as infor-
mações fornecidas pela Secretaria Estadual da Saúde do Estado de Alagoas contidas
no Banco de Dados de Sistema de Informação de Agravos e Notificações (SINAN). Foi
obtido uma amostra total de 601 casos notificados de AIDS, 77 de hepatite C, 2076 de
tuberculose e 729 de hanseníase no estado de Alagoas.

A análise das informações do Banco de Dados do SINAN foram aquelas em que a


notificação da AIDS, hepatite c, tuberculose, hanseníase no estado de Alagoas estives-
se devidamente compreendida entre o período de 2014 a 2015, levando em considera-
ção as variáveis: gênero e faixa etária. Após a realização da coleta de dados, os mesmos
foram transcritos para o programa de computador Microsoft Excel 2010 e tabulados

SANTOS, Ellys Maynara Soares Batista dos


FREITAS, Ana Paula Santos
TEODOZIO, Fernanda Jessica de Melo
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
ROCHA, Thiago José Matos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
65

para posterior realização da análise estatística e descritiva. Por se tratar de um estudo


de dados secundários não foi necessária a submissão de pesquisa do comitê de ética.

Resultados e discussão

No que se refere às doenças analisadas durante o período de 2014-2015, segundo


os dados fornecidos pelo SINAN, o resultado deste estudo revela que a tuberculose foi
a doença com maior número de notificações, com 1122 e 954, nos anos de 2014 e 2015,
respectivamente, seguidas de hanseníase, aids e hepatite C.

Em 2014 e 2015 foram notificados 2.076 casos de TB no estado de Alagoas, sendo


o maior número de casos ocorrido no ano de 2014, com 1.122 casos e no ano 2015, com
954 casos, conforme apresentadas nos gráficos (Gráfico 1 e 2).
Gráfico 1- Casos notificados de tuberculose segundo gênero e faixa etária residente em Alagoas no ano
de 2014.

Fonte: SINAN, 2016.

Gráfico 2- Casos notificados de tuberculose segundo gênero e faixa etária residente em Alagoas no ano
de 2015.

Fonte: SINAN, 2016.

CAPÍTULO 5
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PESSOAS COM DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS NO ESTADO DE ALAGOAS
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
66

Como observado no gráfico 1 e 2, em 2014 a predominância nos casos de TB eram


entre o gênero masculino com (31,07%) na faixa etária de 35 a 49 anos e gênero femini-
no com (29,79%), na faixa etária de 20 a 34 anos. Durante o ano de 2015 foi observado
que os homens na faixa etária de 35 a 49 anos, estão menos infectados que na mesma
idade em 2014.

No estado do Pará em 2010, foram registrados 2.796 novos casos de tuberculose,


já no ano de 2012 ocorreu uma queda de novos casos, tendo sido registrado 2.623 casos
de tuberculose (BRASIL, 2013; JUNIOR; MENDES; ALMEIDA, 2015). Em 2014 a inci-
dência da doença no Brasil foi de 33,5 casos por 100 mil habitantes, contra 43,4/100 mil
em 2014 (BRASIL, 2015). Nesse estudo podemos observar a redução de casos de TB no
estado de Alagoas, com uma porcentagem de (38,05) para o gênero feminino em 2014
e (37,21) para o gênero feminino em 2015.

A TB é uma doença infecciosa que se mantém como importante causa de mor-


bimortalidade. Os avanços no seu conhecimento e a tecnologia disponível para seu
controle não têm sido suficientes para impactar significativamente em sua morbidade
e mortalidade, principalmente nos países em desenvolvimento. Embora contando com
quimioterapia eficaz e métodos de diagnóstico e prevenção amplamente conhecidos,
a TB constitui-se, ainda, em importante problema para a Saúde Pública (MUNIZ, et al.
2006).

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009, assinalou como principais


causas para a gravidade da situação atual da tuberculose no mundo a desigualdade
social, o advento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, o envelhecimento da
população e os grandes movimentos migratórios (BOWKALOWSKI; BERTOLOZZI,
2010).

A AIDS é uma doença definida como um distúrbio da imunidade mediada por


células, causada por um vírus da família Retroviridae e subfamília Lentivirinae. A
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS) é a mais grave manifestação
relacionada à um espectro de condições do HIV (FERREIRA, 2011).

Os gráficos a seguir mostram os casos notificados de AIDS segundo as variáveis,


gênero e faixa etária, dos portadores residentes no estado de Alagoas no ano de 2014
e 2015 (Gráfico 3 e 4).

Ao observar o gráfico, nota-se que a aids atingiu portadores com faixa etária de
30 a 39 anos, do gênero masculino com (36,7%) e de 20 a 29 anos do gênero feminino
com (27,9%), no ano de 2014. Em 2015 o maior número de portadores da doença pre-
valeceu na faixa etária de 30 a 39 anos, do gênero masculino com (31,38%), porém, o

SANTOS, Ellys Maynara Soares Batista dos


FREITAS, Ana Paula Santos
TEODOZIO, Fernanda Jessica de Melo
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
ROCHA, Thiago José Matos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
67

Gráfico 3- Casos notificados de AIDS segundo gênero e faixa etária residente em Alagoas no ano de
2014.

Fonte: SINAN, 2016.


Gráfico 4- Casos notificados de AIDS segundo gênero e faixa etária residente em Alagoas no ano de
2015.

Fonte: SINAN, 2016


gênero feminino sofreu um aumento nos números de casos da faixa etária de 40 a 49
anos com (28,81%), sofrendo também um aumento na faixa etária de 20 a 29 anos com
(28,81%), em relação a 2014.

No estado de Alagoas foram notificados 158 casos de AIDS no sexo masculino


e 86 casos no sexo feminino no ano de 2014. Houve um aumento significativo no ano
de 2015, levando o gênero masculino á 239 casos masculinos notificados e 118 casos
femininos

De acordo com Santel et al. (2015), atualmente, o departamento de Doenças Se-


xualmente Transmissíveis (DST), aids estimam aproximadamente 734 mil pessoas vi-
vendo com HIV/aids no Brasil no ano de 2014, correspondendo a uma prevalência de

CAPÍTULO 5
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PESSOAS COM DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS NO ESTADO DE ALAGOAS
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
68

0,4%. Segundo Pedrosa et al. (2015), no Ceará, em 2012, foram notificados cerca de 800
casos de aids, das quais 53,7% residem na capital. O Ceará se encontra em uma região
que sofre severas disparidades relacionadas à aids. Foi observado nesse estudo que na
população feminina os casos de AIDS aumentaram de 25,94 em 2014, para 28,81 em
2015. Porém ainda assim as mulheres continuam com proporção inferior a população
masculina.

Apesar de todos os avanços conseguidos durante mais de 20 anos de epidemia,


em termos de tratamento, melhora da qualidade de vida e prognóstico não se pode
esquecer que a aids continua sendo uma doença incurável. A descoberta tardia em
relação a ser soropositivo, além de piorar o prognóstico, causa e continua causando
danos irreversíveis em termos de não prevenção, na medida que o indivíduo infectado
permanece longos anos transmitindo o HIV sem estar ciente de sua situação, expondo
a risco um número considerável de pessoas (GABRIEL; BARBOSA; VIANNA, 2005).

A hanseníase é uma doença crônica, que tem a capacidade de infectar um grande


número de indivíduos, ou seja, apresenta alta infectividade, no entanto apresenta bai-
xa patogenicidade, ou seja, poucos adoecem dela. Essas propriedades além de depen-
derem das características intrínsecas do bacilo, dependem também, da sua relação com
o hospedeiro e o grau de endemicidade do meio (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Além disso, apresenta baixa letalidade e baixa mortalidade, podendo ocorrer em qual-
quer idade, raça ou gênero.

Os gráficos a seguir exibem os casos notificados de hanseníase segundo as variá-


veis, gênero e faixa etária, dos portadores residentes no estado de Alagoas no ano de
2014 e 2015 (Gráfico 5 e 6).
Gráfico 5- Casos notificados de hanseníase segundo gênero e faixa etária residente em Alagoas no
ano de 2014.

Fonte: SINAN, 2016.

SANTOS, Ellys Maynara Soares Batista dos


FREITAS, Ana Paula Santos
TEODOZIO, Fernanda Jessica de Melo
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
ROCHA, Thiago José Matos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
69

Gráfico 6- Casos notificados de hanseníase segundo gênero e faixa etária residente em Alagoas no
ano de 2015.

Fonte: SINAN, 2016.

Observou-se no gráfico que a hanseníase atingiu portadores com idade de 30 a


39 anos, do gênero masculino (21,68%) e de 50 a 59 anos, do gênero feminino (18,37%),
no ano de 2014. Em 2015 o maior número de portadores possuía idade de 50 a 59 anos,
do gênero masculino e feminino (18,94% e 22,34%, respectivamente). Percebe-se que
houve uma oscilação de números nos dois anos, no qual o gênero masculino, no ano
de 2015, reduz o seu número a 2,74%, que é um percentual pequeno ao esperado, já
o gênero feminino, aumentou quase 4%, o que é preocupante, pois o esperado a cada
ano, é que haja redução do número de casos.

Segundo Araújo (2003), apesar de todo o empenho em sua eliminação, o Brasil


continua sendo o segundo país em número de casos no mundo. Aproximadamente,
94% dos casos conhecidos nas Américas e 94% dos casos novos diagnosticados são
notificados pelo Brasil. Ao longo das últimas décadas, as taxas de prevalência têm
declinado ano a ano. Para Gomes et al. (2005), em 2003, 513.798 novos pacientes foram
diagnosticados em todo o mundo. As maiores prevalências da doença encontram-se
no sudeste asiático, na América do Sul e na África. O Brasil é considerado o segundo
país com maior número de casos de hanseníase no mundo, respondendo, em 2003, por
9,6% da detecção mundial, perdendo apenas para a Índia, que foi responsável por 71%
do total de casos novos, naquele ano. Percebeu-se então que a hanseníase constitui
importante problema de saúde pública no Brasil e em vários países do mundo, no qual
a prevalência pode apresentar declínio, mas continua sendo um grande problema de
saúde pública.

Os gráficos a seguir a seguir expõe os casos notificados de hepatite C segundo as


variáveis, gênero e faixa etária, dos portadores residentes no estado de Alagoas no ano
de 2014 e 2015 (Gráfico 7 e 8).

CAPÍTULO 5
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PESSOAS COM DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS NO ESTADO DE ALAGOAS
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
70

Gráfico 7- Casos notificados de hepatite C segundo gênero e faixa etária residente

Fonte: SINAN, 2016.

Gráfico 8- Casos notificados de hepatite C segundo gênero e faixa etária residente

Fonte: SINAN, 2016.

Percebe-se que a hepatite C teve maior prevalência na faixa etária de 50 a 64 anos,


do gênero masculino e feminino, tanto no ano de 2014, quanto ao ano de 2015 (90%
e 46,66%; 63,33 e 63,63 respectivamente). Observou-se também, uma redução notória
no gênero masculino de 26,67%, entre os dois anos, no entanto em 2015, ocorreu um
aumento de mais de 15% do gênero feminino.

A hepatite C é uma doença viral com infecções assintomáticas e sintomáticas, em


que sua transmissão pode ocorrer principalmente, por via parenteral (BRASIL, 2010).
Segundo Amaral, et al. (2013), a HC afeta cerca de 170 milhões de pessoas, aproxima-
damente 3% da população mundial e, no Brasil, a prevalência é incerta, não obstante
há relatos de 1 a 2% da população geral. Atualmente a hepatite C é responsável por
70% das hepatites crônicas, 40% dos casos de cirrose e por 20% a 30% dos transplantes
de fígado. A partir disso percebemos que a hepatite c não há grande número de relatos
SANTOS, Ellys Maynara Soares Batista dos
FREITAS, Ana Paula Santos
TEODOZIO, Fernanda Jessica de Melo
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
ROCHA, Thiago José Matos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
71

populacional, comparando com a prevalência do estudo de 2014 e 2015 que só obteve


percentual a partir das faixas etárias acima de 35 anos.

Considerações finais

Em virtude dos fatos mencionados, a tuberculose foi a doença com maior núme-
ro de notificações, nos dois anos de análise, seguidas de hanseníase, aids e hepatite C.
Esse maior número de notificações da TB, deve- se a fatores como, a desigualdade so-
cial, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, o envelhecimento da população e os
grandes movimentos migratórios. O menor número de casos, provavelmente, deve-se
ao fato da hepatite C apresentar infecção assintomática, tornando sua prevalência in-
certa, o que observa-se a necessidade de uma maior investigação dessa doença.

Como foi detectado no presente estudo, a incidência das doenças infectoconta-


giosas obteve aumento do ano de 2014 para 2015. De todas as faixas etárias estabeleci-
das, as de 20 a 49 anos, de uma forma geral, se mostrou mais suscetíveis às infecções,
em especial, o gênero masculino. Esses dados se mostram preocupantes para o âmbito
da Saúde Pública e revela a necessidade de ampliações das redes sanitárias, novas tec-
nologias, acessibilidade e serviços de Saúde Pública, sobretudo, para esse grupo mais
vulnerável, visando assim, a redução no índice de doenças infectocontagiosas.

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CAPÍTULO 5
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CAPÍTULO 5
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PESSOAS COM DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS NO ESTADO DE ALAGOAS
CAPÍTULO 6

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE


ADOLESCENTES COM AIDS EM MACEIÓ- AL

SANTOS, Dayane Menezes1


SILVA, Francisca Girlândia da2
RODRIGUES, Deborah do Nascimento3
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz4
TEIXEIRA, Brenda dos Santos5
SILVA, Elvya Lylyan Santos6

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.6

1  Enfermeira pelo Centro Universitário CESMAC. Pós-graduada em Vigilância em Saúde, pela Universidade Federal
de Alagoas. Pós- graduanda em Cardiologia e Hemodinâmica. E-mail: menezes_338@hotmail.com
2  Enfermeira pelo Centro Universitário CESMAC. E-mail: girlandia_fran@hotmail.com
3  Enfermeira pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. Pós-graduanda em Urgência e Emergên¬-
cia pela FAVENI. E-mail: deboraah_rodrigues@hotmail.com
4  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em Saúde da Fa-
mília pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Pós-graduada em Unida-
de de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@hotmail. com
5  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Pós-graduada em Enfermagem Ginecológica e Obsté-
-trica pela Universidade Cândido Mendes. Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco. E-mail: b.teixeirast@gmail.com
6  Enfermeira pelo Centro Universitário CESMAC. Mestra em Terapia Intensiva pelo Instituto Brasileiro de Terapia
Intensiva – IBRATI. E-mail: elvyalylyan@hotmail.com
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
76

Resumo

A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) ao longo desses anos vem


mudando seu perfil. O objetivo desta pesquisa foi estudar o perfil epidemiológico de
casos de AIDS em Adolescentes residentes em Maceió - AL, no período de 2000 a
2010. Trata-se de um estudo descritivo e transversal, através da análise de dados se-
cundários obtidos na Secretaria Estadual da Saúde. Foram utilizados casos da referida
patologia citada em adolescentes de 10 a 19 anos, diagnosticados no SINAN. Maceió
registrou 37 casos de AIDS em adolescentes, sendo 54% no sexo feminino e 46% sexo
masculino. Quanto à categoria de exposição, a maior proporção de casos foi em hete-
rossexuais, atingindo 60%. Através da análise realizada foi possível identificar que,
existe em Maceió um número considerável de adolescentes vivendo com AIDS, onde
muitas vezes estes adolescentes contraem o vírus no início da adolescência sendo iden-
tificado apenas na fase adulta, o que intensifica a responsabilidade da sociedade, da
escola e dos pais, objetivando ajudá-los no tocante ao esclarecimento adequado sobre
a prevenção da Aids e do sexo seguro.

Palavras-chave: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Adolescente. Epidemio-


logia.

Introdução

A adolescência é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como faixa


etária entre 10 e 19 anos (DIAS et al., 2005). Constitui um momento de transformações
físicas, psicológicas, sociais e cognitivas intensas, que progridem inexoravelmente, po-
dendo gerar ao jovem e a seus familiares muitas dúvidas e receios (BRASIL, 2006).
Existe uma série de dificuldades a serem enfrentadas, para tomar decisões e definir a
própria identidade, fatores estes que influem diretamente na adoção ou não de hábitos
de comportamento saudáveis para a prevenção das doenças sexualmente transmissí-
veis (DST) assim como, do vírus da imunodeficiência humana (BRASIL, 1990).

A atividade sexual na adolescência vem se iniciando cada vez mais precocemen-


te, com consequências indesejáveis imediatas, com o aumento da frequência das DST’s
nesta faixa etária, com risco de contrair AIDS e gravidez muitas vezes indesejável
(REIS, 2009). O percentual de infecções na adolescência se torna mais significativo se
considerarmos que a AIDS se manifesta entre sete a dez anos após a infecção pelo HIV.
Logo, supõe-se que parte significativa das notificações da faixa etária de 25 a 29 anos
corresponda a indivíduos que se infectaram na adolescência ou no início da juventude
(TOLEDO; TAKAHASHI; GUANILO, 2011).

SANTOS, Dayane Menezes


SILVA, Francisca Girlândia da
RODRIGUES, Deborah do Nascimento
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Elvya Lylyan Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
77

A pandemia da AIDS tornou-se um ícone de grandes questões que afligem o


planeta, como direitos humanos, qualidade de vida, políticas de medicamentos e pro-
priedade industrial. Constitui-se, por conseguinte, um fenômeno, cuja forma de ocor-
rência, nas diferentes partes do mundo, configura-se como epidemias regionais com
características e determinantes próprias (PINTO et al., 2007).

Na América Latina, o Brasil é o país mais afetado pela epidemia de AIDS em


números absolutos (RODRIGO et al., 2008). Para podermos fazer uma reflexão sobre
a situação da AIDS no mundo vamos ressaltar alguns dados, sendo eles: diariamente
14 mil pessoas são infectadas pelo HIV e desde o início da epidemia 20 milhões de
pessoas vieram a óbito. Estima-se que, atualmente, 10 milhões de adolescentes são
portadores do HIV ou estão propensos a desenvolver a AIDS nos próximos 3 a 15 anos
(THIENGO; OLIVEIRA; RODRIGUES, 2005). Segundo a projeção da OMS, 70 milhões
de vidas estarão afetadas nos próximos 20 anos, caso não sejam implantadas ações
eficazes em todo o mundo (PINTO et al., 2007).

O primeiro caso de AIDS em jovens brasileiros foi notificado em 1982, atin-


gindo o número de 10.337 casos entre jovens de 13 e 19 anos, considerando-se neste
período de 1982 a 2006 um possível atraso de notificações e dificuldade de acesso do
adolescente à testagem rápida (SALDANH; CARVALHO, 2008). No Nordeste foram
notificados mais de 26 mil casos de AIDS, no período 1980-2003, a Bahia e Pernambuco
foram responsáveis por cerca de metade dos casos nordestinos. Já o estado do Ceará
contribuiu com 19% das notificações na região. O Maranhão respondeu por apenas
8,5%, a Paraíba participou com 6% das notificações e os estados do Piauí, Rio Grande
do Norte, Alagoas e Sergipe, conjuntamente, participaram com 16% do total de casos
da região (SZWARCWALD et al., 2000)

Acreditava-se que a AIDS era, predominantemente masculina, exclusiva de ho-


mossexuais e/ou usuários de drogas injetáveis (UDI), jovens e de altas classes sociais,
mas o perfil epidemiológico do paciente portador do HIV/AIDS está, cada vez mais,
passando por um momento de transição. Essa mudança vem sendo marcada por pro-
cessos como: feminização, envelhecimento, pauperização, heterossexualização e inte-
riorização (RODRIGO et al., 2008).

A notificação de casos tem sido a principal estratégia de vigilância da epidemia


no Brasil. A AIDS é considerada doença de notificação compulsória no país desde
1986. Essa notificação é pautada por uma vigilância epidemiologia descentralizada,
utilizando, principalmente, os dados registrados no Sistema de Informação de Agra-
vos de Notificação (SINAN) (GLATT, 2005).

CAPÍTULO 6
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE ADOLESCENTES COM AIDS EM MACEIÓ- AL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
78

Devido a AIDS ser uma doença transmissível e até o momento incurável,


cujos índices vêm aumentando no mundo inteiro e ainda ser muito presente entre
os jovens, faz-se necessário estudar sobre esse tema, em especial, nos adolescentes
residentes de Maceió – AL. Acredita-se que, o início precoce da atividade sexual sem
proteção e o baixo nível de escolaridade, são fortes determinantes para o aumento de
casos de AIDS, considerando que estes indivíduos não teriam acesso a informações
relacionadas às formas de contrair a patologia.

Desse modo, a partir da análise desse perfil, poderão ser traçadas estratégias que
subsidiarão nas ações de promoção e prevenção da doença, considerando que os com-
ponentes efetivos para o seu controle são: a informação e a educação. Nesse sentido,
esta pesquisa teve como objetivo estudar o perfil epidemiológico de casos de AIDS em
adolescentes residentes em Maceió- AL.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo e transversal, realizado no município de Ma-


ceió- AL. Na referida pesquisa foram analisados todos os casos de AIDS notificados no
SINAN no período de 2000 a 2010 em adolescentes, na faixa etária compreendida entre
10 a 19 anos, segundo descreve a Organização Mundial de Saúde. As variáveis selecio-
nadas foram: sexo, idade, escolaridade, raça, local de residência e ano de diagnóstico.

O referido estudo teve como critério de inclusão: casos de AIDS em adolescentes


que foram diagnosticados no SINAN residentes em Maceió- AL, que estivessem re-
gistrados entre os anos de 2000 a 2010. Como critério de exclusão: casos de AIDS em
adolescentes que foram notificados e não diagnosticados, considerando que somente
seria viável para a realização da pesquisa, os casos já diagnosticados no SINAN.

Foi realizado levantamento de dados secundários, através dos relatórios


gerenciais do SINAN, onde por si só, fornece todas as informações necessárias, confor-
me as variáveis selecionadas. Posteriormente os dados foram tabulados e analisados.
Os relatórios foram emitidos por meio do Software de tabulação Tabwin e transferidos
para o programa de computador Microsoft Excel 2010 para construção de gráficos e
tabelas. Por se tratar de uma pesquisa construída a partir de dados secundários, não
foi necessária sua submissão em comitê de ética.

Resultados e discussão

A AIDS é um dos mais graves problemas de saúde pública da atualidade. Esta


doença tem características particulares, como crescente causa de morte em adultos jo-
vens5. A infecção pelo HIV e o adoecimento pela AIDS configuram-se como temáticas

SANTOS, Dayane Menezes


SILVA, Francisca Girlândia da
RODRIGUES, Deborah do Nascimento
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Elvya Lylyan Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
79

contemporâneas nas ciências da saúde e sociais, por sua natureza sociológica, política,
econômica e clínico-epidemiológico (RIBEIRO et al., 2010).

Pinto, et al. (2007) fez a análise das tendências da epidemia e seus rumos em nos-
so país, em que identificou três direções importantes. Na primeira direção, há relativa
tendência de expansão do número de casos entre as populações com baixo nível de
renda e escolaridade, atingindo camadas sociais sem nenhuma ou quase nenhuma
proteção social, tendência que é denominada por alguns autores como a “pauperiza-
ção” da epidemia brasileira. Na Segunda direção, apesar dos casos se concentrarem
nas áreas urbanas e regiões metropolitanas, verificam-se um processo de interiorização
da infecção no país, para municípios de pequeno porte e médio. Na terceira direção,
consubstanciando a assim chamada feminização da epidemia, cresce significamente o
número de mulheres infectadas pelo vírus. Isso decorre do fato das mulheres serem
biológica, epidemiológica e socialmente mais vulneráveis.

Nota-se que, essa vulnerabilidade feminina refere-se, entre outros fatores, às


diferenças marcantes nos aspectos culturais, sociais e econômicos, que conferem às
mesmas oportunidades desiguais na proteção, promoção e manutenção à saúde13. Ao
analisar o componente social da vulnerabilidade, quando relacionado ao acesso que os
indivíduos têm às informações, às instituições de saúde e de educação, às condições de
bem-estar e lazer, como também ao poder de influenciar decisões políticas, há possibi-
lidade de enfrentar barreiras culturais e de estar livre de coerções violentas de todas as
ordens (RODRIGO et al., 2008).

O gráfico a seguir mostra os casos notificados de AIDS segundo a variável, gê-


nero, dos portadores residentes em Maceió- AL no período de 2000 a 2010 (Gráfico 1).

Gráfico 1- Frequência de casos de AIDS por sexo, em Maceió-AL no período 2000 a 2010.

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012

CAPÍTULO 6
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE ADOLESCENTES COM AIDS EM MACEIÓ- AL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
80

Percebe-se que ao longo dos anos a AIDS vem mudando o seu perfil, onde no
período de 2000 a 2010, no município de Maceió-AL, foram diagnosticados no SINAN,
37 casos de AIDS em adolescentes com faixa etária compreendida entre 10 a 19 anos.
Deste total, 20 (54%) casos eram do sexo feminino e 17(46%) do sexo masculino.

O perfil epidemiológico da AIDS caracterizava-se, no início, por ser predomi-


nante de homossexuais/ bissexuais masculinos, de alto nível socioeconômico, e que
habitavam grandes centros urbanos, começou-se a observar ao final da primeira déca-
da, uma progressiva mudança do perfil epidemiológico inicial (RODRIGO et al., 2008).

O gráfico 2 mostra a proporção dos casos notificados de AIDS dos adolescentes


residentes em Maceió-AL, de acordo com a orientação sexual, no período de 2000 a
2010.
Gráfico 2- Casos de AIDS em adolescentes, segundo categoria de exposição, em Maceió-AL no perío-
do 2000 a 2010.

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012


Segundo a categoria de exposição, foi observado que inicialmente na década de
1980, a AIDS foi considerada uma doença que atingia, preferencialmente, a população
de homossexuais masculinos, no entanto, com o passar dos anos foi identificado que a
maior proporção de casos passou a ser na categoria heterossexual atingindo 57% dos
casos.

É notório que em apenas três décadas o percentual na categoria heterossexual


cresceu de forma considerável, talvez pela preocupação e cuidado da comunidade de
homossexuais tornando-a mais acessível ao sistema preventivo, enquanto que entre os
heterossexuais, por convivência afetiva tenha desprezado a importância de ser acom-
panhada no sistema de saúde. No Brasil, 70% dos casos de AIDS se concentram na
faixa entre 20 e 39 anos, indicando que as novas infecções pelo HIV (que leva anos para
evoluir para AIDS) acontecem principalmente também entre os mais jovens (THIEN-
GO; OLIVEIRA; RODRIGUES, 2005).

O gráfico a seguir dispõe do número de casos de AIDS em adolescentes, segundo


ano de ocorrência, Maceió-AL no período de 2000 a 2010. Revela que em 2009 ocorreu

SANTOS, Dayane Menezes


SILVA, Francisca Girlândia da
RODRIGUES, Deborah do Nascimento
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Elvya Lylyan Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
81

o maior percentual de casos, em oposição aos anos de 2001 e 2006, os quais foram no-
tificados os menores números (Gráfico 3).
Gráfico 3- Número de casos de AIDS em adolescentes, segundo ano de ocorrência, Maceió-AL no pe-
ríodo de 2000 a 2010.

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012

No período da análise segundo ano de ocorrência, do total de casos observou-se


que o maior registro ocorreu em 2009 com 22%, porém em 2010 houve decréscimo con-
siderável, atingindo 8% dos casos, no entanto é prematuro afirmar que está havendo
um declínio dos casos, considerando que em vários estudos realizados no estado e no
país observa-se existir um atraso de notificação.

A transmissão vertical correspondeu a 90% dos casos entre menores de 5 anos


com 9.929 registros, entre 5 e 12 anos 3.083 registros, e entre 13 e 19 anos com 9.331 re-
gistros. A população de adolescentes que têm HIV/AIDS é composta por dois grupos,
segundo a categoria de exposição do HIV: transmissão vertical e transmissão horizon-
tal. O primeiro grupo nasce infectado pelo vírus devido à condição sorológica materna
positiva ao HIV, o segundo grupo se infectou por via sexual ou uso de drogas, carac-
terizando a transmissão horizontal (KEELS, 2005).

A pesquisa verificou que o maior número de casos foi encontrado em indivíduos


com menor escolaridade, conforme mostra as tabelas a seguir (Tabela 1 e 2).
Tabela 1- Casos de AIDS em adolescentes, segundo a escolaridade em Maceió-AL, no período de 2000
a 2006.

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012

CAPÍTULO 6
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE ADOLESCENTES COM AIDS EM MACEIÓ- AL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
82

Percebe-se que a escolaridade tem sido utilizada como um dos marcadores da


situação socioeconômica de uma população, ela é também uma variável com maior
poder explicativo das diferenças sociais. Portanto, considera-se o aumento na propor-
ção de casos de AIDS em indivíduos com menor escolaridade como tendência à pau-
perização da doença (RODRIGO et al., 2008).
Tabela 2- Casos de AIDS em adolescentes, segundo a escolaridade em Maceió-AL, no período de 2000
a 2006.

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012

Verifica-se que no período de 2009, 20% dos casos de AIDS correspondia ao cam-
po Ignorado / Branco, onde caracteriza deficiência do preenchimento adequado da
notificação quanto à variável escolaridade, considerando que a mesma é de grande
magnitude, pois mede o grau de conhecimento desses adolescentes, ou seja, quanto
menor o nível de escolaridade, mais vulnerável os mesmos estarão. Os dados coleta-
dos mostram que existe carência no que diz respeito a notificações de casos registrados
nos bancos de dados, o que pode se caracterizar falha na notificação e nas pesquisas.

Com relação à contaminação de jovens negros pelo HIV/AIDS, as estatísticas


apontam para uma situação ainda mais grave. Segundo Keels (2005), na Carolina do
Norte, a incidência de HIV/AIDS é 14 vezes maior entre mulheres afrodescendentes
heterossexuais entre 18 e 40 anos do que em mulheres brancas da mesma idade. Além
disso, 70% dos homens jovens com HIV/AIDS na Carolina do Norte e nos Estados
Unidos são afrodescendentes.

No Brasil, segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde em


2007, a razão entre brancos e afrodescendentes contaminados pelo HIV está diminuin-
do, sendo essa diferença mais proeminente em relação ao sexo feminino (de 1,6:1 em
2001 para 1,1:1 em 2006) (CAMARGO et al., 1998).

A tabela a seguir mostra o numero de casos de AIDS em adolescentes residentes


em Maceió- AL, segundo a variável raça, no período de 2000 a 2010, verificando que a
maioria desses jovens são pardos (Tabela 3).

SANTOS, Dayane Menezes


SILVA, Francisca Girlândia da
RODRIGUES, Deborah do Nascimento
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Elvya Lylyan Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
83

Tabela 3- Casos de AIDS em adolescentes, segundo a raça em Maceió-AL, no período de 2000 a 2010

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012


Observa-se, portanto, uma predominância na cor parda, com 26 casos correspon-
dendo a 70%, porém não há estudos que comprovem uma maior suscetibilidade para
AIDS nesse grupo de indivíduos. É importante ressaltar que, o próprio indivíduo rela-
ta sua cor no preenchimento da ficha de notificação/investigação de AIDS, ou seja, se
trata de uma autodeclaração, o que não dar segurança suficiente quanto a esse aspecto,
pois culturalmente não se sabe definir ou declarar a cor, haja vista as incertezas quanto
à mesma.

Para notificação/investigação de pacientes com AIDS no SINAN, o Ministério da


Saúde disponibiliza dois tipos de fichas para preenchimento, sendo uma para pacien-
tes menores de 13 anos, onde a ocupação é referente à mãe, e outra para pacientes com
13 anos ou mais, relacionado à ocupação do adolescente em pauta.

No gráfico a seguir apresenta os casos notificados de AIDS em adolescentes de 13


a 19 anos residentes em Maceió/AL, segundo a ocupação, no período de 2000 a 2010
(Gráfico 4).
Gráfico 4- Casos de AIDS em adolescentes de 13 a 19 anos, segundo ocupação, em Maceió-AL no ano
de 2000 a 2010

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012

CAPÍTULO 6
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE ADOLESCENTES COM AIDS EM MACEIÓ- AL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
84

Para tanto, foi identificado que 34% correspondem ao campo não preenchido/
branco, sendo acompanhado respectivamente de 24% dos casos em Dona de Casa e
24% estudantes. Vale salientar que, a maioria dos adolescentes depende economica-
mente de um pai ou outro responsável.

As estatísticas no estado de São Paulo, mostram que agrupando-se as mulheres


segundo o tipo de ocupação ou atividade exercida, constatou-se a distribuição apre-
sentada. Verifica-se que 54,2% das mulheres exercem ou exerciam atividade fora do
lar e que 41,0% delas dedicam-se ou dedicavam-se às prendas domésticas (SILVA,
Tabela 4- Casos de AIDS em adolescentes, segundo bairro de residência em Maceió-AL no ano de
2000 a 2010.

Fonte: SINAN e SES-AL, 2012


2009). Além disso, o atual quadro da epidemia de HIV/AIDS reforça a tendência de
associação com a exclusão social, uma vez que as pessoas mais vulneráveis à infecção
são aquelas que sofrem com as consequências da pobreza e/ou pertencem a grupos
minoritários (NUNES; ANDRADE, 2009).

SANTOS, Dayane Menezes


SILVA, Francisca Girlândia da
RODRIGUES, Deborah do Nascimento
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Elvya Lylyan Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
85

A maior taxa de incidência segundo local de residência é observada no bairro do


Tabuleiro, com 05 casos, seguido de Benedito Bentes com 04 casos, conforme descrito
na Tabela 4.

A enfermagem possui papel essencial frente às ações de controle da infecção pelo


HIV/AIDS, com foco na promoção e prevenção das DST’s na adolescência, que re-
presenta um grupo de vulnerabilidade, por trata-se de uma fase de transformações e
desejos.

Comprometida em assistir o portador do HIV/ AIDS, o enfermeiro, via consulta


de enfermagem, oportuniza um trabalho voltado para a melhoria da qualidade de
vida e responde pela preparação do cliente para o autocuidado. A consulta de enfer-
magem constitui atividade exclusiva do enfermeiro que, usando sua autonomia pro-
fissional, desenvolve um modelo assistencial para atender às necessidades de saúde de
sua clientela, conforme estabelecido na Lei nº 7.498/86, regulamentada pelo Decreto nº
94.406/ 87(2) (CAETANO; PAGLIUCA, 2006).

Considerações finais

Através da análise realizada foi possível identificar que, existe em Maceió/AL


um número considerável de adolescentes vivendo com AIDS, onde muitas vezes es-
tes adolescentes contraem o vírus no início da adolescência e só é identificado na fase
adulta, o que intensifica a responsabilidade da sociedade, da escola e dos pais, objeti-
vando ajudá-los no tocante ao esclarecimento adequado sobre a prevenção da AIDS e
do sexo seguro.

Nota-se também, que estes indivíduos uma vez expostos a tal agravo, podem
comprometer seu desenvolvimento, gerando no mesmo e em seus familiares receios,
medos, angústia e sofrimento, além de ter que enfrentar a situação de discriminação
e isolamento. O início precoce da atividade sexual sem uma orientação adequada e o
uso de drogas ilícitas pode ser considerado agravante para o comportamento de risco
frente ao HIV, tornando-os mais susceptíveis a contrair o vírus, o que mostra a impor-
tância de trabalhar no sentido de sensibilizar o grupo estudado indicando a responsa-
bilidade que eles têm com sua saúde.

Nesse sentido, percebe-se que o acometimento a saúde dos jovens, assim como
sua infecção e a transmissão do vírus HIV para seus parceiros dependem de um traba-
lho social e cultural permanente com os mesmos, fazendo-os entender as consequên-
cias de uma prática sexual sem proteção, assim como comportamentos que apresen-
tem perigo real a sua vida, sendo os educadores, cuidadores e profissionais de saúde,
principalmente os enfermeiros que estão frente à Estratégia Saúde da Família os maio-

CAPÍTULO 6
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE ADOLESCENTES COM AIDS EM MACEIÓ- AL
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
86

res responsáveis no processo de conscientização, orientação e sensibilização quanto à


responsabilidade que eles apresentam com sua saúde e de outrem.

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NORDESTE BRASILEIRO
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CAPÍTULO 6
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CASOS DE ADOLESCENTES COM AIDS EM MACEIÓ- AL
CAPÍTULO 7

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM SAÚDE


COLETIVA: UMA ANÁLISE DOS CASOS DE
DENGUE NO CEARÁ

MAIA, Jéssica Karen de Oliveira1


ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de2
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa3
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes4
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz5
TEIXEIRA, Brenda dos Santos6

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.7

1  Enfermeira pela Universidade de Fortaleza. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Resi-
dência Multiprofissional em Saúde – ênfase em Infectologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Pós-graduada em
Enfermagem em Nefrologia pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail: jessikarenmaia@gmail.com
2  Enfermeiro pela Universidade Federal do Ceará. Mestrando em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará.
Residência Multiprofissional em Saúde – ênfase em Infectologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Pós-graduado
em Terapia Intensiva pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail: junioraraujoenfermagem@gmail.com
3  Enfermeira pela Universidade de Fortaleza. Mestra em Patologia pela Universidade Federal do Ceará. Pós-graduada
em Enfermagem em Nefrologia pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail: priscila.travassos@ymail.com
4  Fisioterapeuta pelo Centro Universitário Estácio do Ceará. Residente Multiprofissional em Saúde – ênfase em Infec-
tologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará. E-mail: nunesllys@gmail.com
5  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em Saúde da Fa-
mília pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Pós-graduada em Unida-
de de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduada em Enfermagem pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@hotmail. com
6  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Pós-graduada em Enfermagem Ginecológica e
Obstétrica pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Discente do curso de medicina pela Universidade Federal do
Vale do São Francisco (UNIVASF). E-mail: b.teixeirast@gmail.com
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
90

Resumo

A dengue é a arbovirose urbana de maior magnitude nas Américas. Essa doença


possui como agente etiológico o vírus dengue (DENV), com quatro sorotipos distintos
(DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Objetivou-se analisar os casos de dengue no
Ceará. Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal e de natureza descritiva. A
população do estudo é composta pelos registros de dengue, referentes ao ano de 2020.
Os dados foram extraídos da plataforma de Integração das informações da Secretaria
da Saúde do Estado do Ceará (IntegraSUS). As variáveis relacionadas às notificações
dos casos de dengue coletadas foram: distribuição geográfica dos casos notificados
por superintendência regional de saúde (SRS), classificação dos municípios segundo
incidência acumulada de dengue. Análise dos dados foi feita por meio de estatística
de frequência e percentual simples. Por tratarem-se de dados secundários e por não
possuir conflitos de interesses, o estudo não necessitou ser submetido à apreciação de
Comitê de Ética em Pesquisa. Foram notificados 26.612 casos de Dengue no Ceará. De
acordo com a Superintendência regional de saúde, Fortaleza apresentou predominân-
cia dos casos (11.210 – 46%). A incidência de casos nas últimas cinco semanas 34,8%,
incidência acumulada de 292,6/100mil habitantes. Conclui-se que o Ceará, apesar dos
índices se encontrarem dentro dos parâmetros epidemiológicos de normalidade, ainda
apresenta incidência considerável de casos de Dengue. Todas as medidas preventivas
já conhecidas devem ser e combinadas. Deve-se investigar precocemente o sorotipo
agente dessas infecções.

Palavras-chave: Infecções por Arbovírus. Dengue. Epidemiologia.

Introdução

As Doenças infecciosas possuem natureza imprevisível e intensa a nível mun-


dial. Sua propagação está relacionada diretamente com o meio ambiente, o compor-
tamento humano e a adoção de medidas de prevenção e promoção da saúde (FAUCI;
MORENS, 2012).

A transmissão dessas patologias de um modo geral, apresentam um ciclo silves-


tre, sendo definidas como de origem zoonótica. Porém, em consequência das mudan-
ças ambientais causadas por ações antrópicas relacionadas sobretudo às atividades
econômicas, muitos vetores, como os mosquitos, tornaram-se sinantrópicos, apresen-
tando um ciclo humano e transmitindo as diversas enfermidades ao homem (NORRIS,
2004).

Nos últimos 10 anos, houve a emergência de algumas doenças transmitidas por


artrópodes, com destaque em especial às arboviroses, que tem como principal vetor o

MAIA, Jéssica Karen de Oliveira


ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
91

Aedes aegypti, são elas a Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela e Febre do Oeste
do Nilo. Essas enfermidades ornaram-se um dos principais problemas de saúde públi-
ca no mundo, especialmente no cenário brasileiro, onde tomou proporções endêmicas
(BRASIL, 2019a).

A dengue é a arbovirose urbana de maior magnitude nas Américas. Essa doença


possui como agente etiológico o vírus dengue (DENV), com quatro sorotipos distintos
(DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Estima-se que, todos os anos, ocorram cerca
de 390 milhões de novas infecções e 20 mil mortes em consequência dela no mundo
(BRASIL, 2019a).

Os sintomas da doença incluem febre, dor de cabeça, dores musculares e articu-


lares e uma erupção cutânea característica. Alguns casos podem evoluir para a for-
ma grave com risco de vida, causando sangramento, redução dos níveis de plaquetas
sanguíneas, extravasamento de plasma no sangue ou até queda da pressão arterial a
níveis perigosamente baixos. É a mais importante arbovirose a afetar o ser humano,
sendo em sério problema de saúde pública em todo mundo (MONTEIRO, ARAUJO,
2020).

No Brasil, no ano de 2019, foram notificados 1.544.987 casos prováveis de den-


gue com uma taxa de incidência de 735,2 casos por 100 mil habitantes. Em relação as
regiões brasileiras com maiores e menores taxas de incidência, a região Centro Oeste
apresentou a maior taxa de incidência com 1.349,1 casos/100 mil habitantes, seguida
das regiões Sudeste (1.159,4 casos/100 mil habitantes), Nordeste (376,7 casos/100 mil
habitantes), Norte (195,8 casos/100 mil habitantes) e Sul (165,2 casos/100 mil habi-
tantes). Os estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás destacaram-se com 67,9% dos
casos prováveis do país (BRASIL, 2019b).

Ate a Semana Epidemiológica 23, foram notificados no Brasil 823.738 casos


prováveis de Dengue, com uma taxa de incidência de 392,0 casos por 100 mil habitan-
tes. No estado do Ceará, as 16 primeiras semanas epidemiológicas de 2020 trouxeram a
notificação de 11.165 casos suspeitos de dengue com uma incidência de 133,9/100 mil
habitantes, valor semelhante aos índices nacionais, 3.921 casos confirmados e 1 óbito
(CEARÁ, 2020).

Mesmo considerando as diversas ações de prevenção e controle do vetor e da


doença no cenário estadual, a população ainda está sob risco constante de novos surtos
epidêmicos, o que justifica a realização de estudos que busquem compreender o con-
texto de disseminação da doença, o que pode auxiliar no fortalecimento das ações de
controle e vigilância (OLIVEIRA; ARAÚJO; CAVALCANTI, 2018).

CAPÍTULO 7
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM SAÚDE COLETIVA: UMA ANÁLISE DOS CASOS DE DENGUE NO CEARÁ
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
92

Diante do cenário exposto, considerando a relevância epidemiológica especifica-


mente da dengue para o contexto da saúde pública cearense, objetivou-se analisar os
casos de dengue no estado do Ceará nos anos de 2019 e 2020.

Métodos

Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal de natureza descritiva e re-


trospectiva realizado no ano de 2020. Os dados foram extraídos da plataforma de In-
tegração das informações da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (IntegraSUS) de
transparência da gestão pública de saúde do Ceará.

A ferramenta integra sistemas de monitoramento e gerenciamento epidemiológi-


co, hospitalar, ambulatorial, administrativo, financeiro e de planejamento da Secreta-
ria da Saúde do Estado (Sesa), concentrando informações sobre todos os seus 184 mu-
nicípios, no endereço eletrônico (https://integrasus.saude.ce.gov.br). O acesso para a
coleta dos dados aconteceu entre 26 a 30 de junho de 2020.

As variáveis relacionadas as notificações dos casos de dengue coletadas foram:


distribuição geográfica dos casos notificados por superintendência regional de saúde
(SRS), classificação dos municípios segundo incidência acumulada de dengue.

O cálculo da taxa de incidência de dengue foi calculado conforme a fórmula apre-


sentada (CEARÀ, 2020):

Taxadeincidencia=Númerodenotificaçõesdolocal/Populaçãodolocal x100mil

Após o levantamento dos dados acerca da incidência de casos de dengue por


cada superintendência regional de saúde, cada valor é classificado entre três possíveis
categorias (CEARÁ, 2020):

Baixa incidência: Abaixo de 100 casos por 100 mil habitantes

Média incidência: 100 a 300 casos por 100 mil habitantes

Alta incidência: Acima de 300 casos por 100 mil habitantes

A análise dos dados foi realizada por meio de estatística de frequência e percen-
tual simples. Por tratar-se de dados secundários obtidos do próprio IntegraSUS, e por
não possuir conflitos de interesses, o estudo não necessitou ser submetido à apreciação
de Comitê de Ética em Pesquisa, pois os dados são de uso público e divulgados de
forma agregada, não havendo identificação dos indivíduos.

MAIA, Jéssica Karen de Oliveira


ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
93

Resultados

Considerando o período de estudo, houve uma considerável incidência de casos


suspeitos de dengue notificados no estado do Ceará (26.612 – 100%), a qual representa
a maior incidência entre as arboviroses no estado (91,72%).

De acordo com a Superintendência regional de saúde, Fortaleza apresentou pre-


dominância dos casos suspeitos (11.210 – 46%), seguido pelo Cariri, na região sul do es-
tado (8.810 – 36%). A intensa concentração de casos nestas regiões se evidencia quando
observamos que a região seguinte em número de casos, Litoral Leste, apresenta uma
proporcionalidade bem menor (1.691) (SESA, 2020) (Figura 3).
Figura 3. Total de Casos Notificados por Superintendência Regional de Saúde.

Fonte: IntegraSUS, 2020


Considerando informação disponível até 30/06/2020, a incidência de casos nas
últimas cinco semanas foi de 34,8%, o total da incidência acumulada 292,6/100 mil
habitantes. Acerca da classificação de municípios segundo a incidência acumulada,
prevalece a incidência baixa em 50,54% mantendo esta característica nas últimas cinco
semanas com 57,61% (SESA, 2020) (Figura 4).

Discussão

O controle efetivo da dengue necessita da combinação de diversas medidas de


controle, entre as quais que podem ser elencadas: a sensibilização da população acerca
da sua importância no processo de quebra do ciclo do vetor; investimentos financei-
ros necessários para investimentos em campanhas de conscientização e manutenção

CAPÍTULO 7
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM SAÚDE COLETIVA: UMA ANÁLISE DOS CASOS DE DENGUE NO CEARÁ
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
94

Figura 4. Proporção de classificação de municípios segundo incidência acumulada.

Fonte: IntegraSUS, 2020


de profissionais de apoio para suporte à população e, consequentemente, intervindo
diretamente na interrupção do ciclo do vetor (ARAÚJO, SOUSA, SOUSA et. al., 2014).

Entre outras ações que podem ser realizadas, estão: o reforço na contratação de
agentes de controle de endemias para propiciar a cobertura das visitas domiciliares;
a descentralização das ações voltadas para a dengue; a intensificação da dispersão de
informações relacionadas à dengue na mídia; a educação permanente dos profissio-
nais de saúde, fortalecendo estratégias de prevenção e identificação precoce de casos
graves; e a sensibilização dos gestores da importância de investirem na educação am-
biental da população em geral para combater a dengue (ARAÚJO, SOUSA, SOUSA et.
al., 2014).

Apesar da implantação, implementação e manutenção dos programas de con-


trole das arboviroses, em especial a dengue, verifica-se que o estado do Ceará ainda
apresenta uma incidência considerável de casos a cada ano, o que evidencia a neces-
sidade de buscar ações mais efetivas que realmente impactem a longo prazo (HORTA
et al., 2014).

Outro fator importante no contexto da dengue diz respeito ao risco de uma pes-
soa ser infectada com sorotipos distintos, o que possibilita um maior risco de desen-
volvimento de um quadro grave e, consequentemente, eventual óbito. O estado do
Ceará apresenta predominância dos tipos DENV-1 e DENV-2 (CAVALCANTI, COE-
LHO, VILAR et al, 2010).

Neste sentido, o rastreio cuidadoso do perfil de pessoas que estão mais propen-
sas a evoluir para o quadro de dengue grave e, consequentemente, com maior risco de
evolução para óbito é algo de extrema relevância a ser realizado por todos os profissio-
MAIA, Jéssica Karen de Oliveira
ARAUJO JUNIOR, Antonio José Lima de
TRAVASSOS, Priscila Nunes Costa
REBOUÇAS, Ellys Rhaiara Nunes
XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
95

nais de saúde, a fim de que sejam evitados os desarranjos nos gastos já tão insipientes
do sistema de saúde brasileiro (CAVALCANTI; BARRETO; OLIVEIRA et al., 2018).

No Brasil, os gastos públicos específicos com a dengue excedem os gastos dire-


cionados a outras doenças virais, como o rotavírus e o papiloma vírus humano (HPV),
principalmente quando consideramos o fator mais clinicamente agudo apresentado
pela dengue na população. Logo, identificar esses indivíduos ocasionará uma eco-
nomia de recursos, possibilitando que as equipes responsáveis pelas estratégias de
prevenção e controle possam subsidiar melhor a orientação acerca dos investimentos
públicas para este agravo (SHEPARD, COUDEVILLE, HALASA et al., 2011).

Além disso, é essencial que seja realizado o constante monitoramento dos soro-
tipos circulantes em cada região, analisando a eventual reintrodução de um sorotipo
que não havia afetado a população até então. Caso contrário, esta reintrodução, ao
afetar uma localidade, condiciona o acometimento de indivíduos não afetados ante-
riormente, abrangendo jovens e crianças não nascidos à época, fator este que eleva os
riscos tanto de dengue grave como de síndrome do choque da dengue, para as quais
crianças têm 15 vezes mais chances de vir a óbito (VICENTE, LAUAR, SANTOS et al.,
2013)

Considerações finais

O aumento nos casos, na maioria das vezes acontece em virtude da elevação da


temperatura e pluviosidade, causando aumento da população do mosquito vetor. É
fato confirmado a água acumulada em poças ou recipientes diversos favorece a proli-
feração das larvas do Aedes aegypti.

O estado do Ceará, apesar dos índices se encontrarem dentro dos parâmetros


anualmente registrados, estão apresentando elevada incidência de casos de Dengue,
principalmente entre a população da capital e em alguns municípios, a qual concentra
a maior parte dos casos suspeitos e confirmados registrados, sendo necessário um tra-
balho georreferenciamento para identificar as microrregiões e solucionar os possíveis
problemas a fim de soluciona-los.

Todas as medidas conhecidas devem ser mantidas e combinadas. Ressaltando


que a melhor maneira de controlar o crescimento de casos de dengue é combatendo
criadouros dos mosquitos, através de campanhas de eliminação de criadouros e sen-
sibilização da população das áreas afetadas e de risco. Além disso, deve-se investigar
precocemente o sorotipo agente dessas infecções a fim de controlar e prever possíveis
epidemias.

CAPÍTULO 7
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM SAÚDE COLETIVA: UMA ANÁLISE DOS CASOS DE DENGUE NO CEARÁ
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
96

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NORDESTE BRASILEIRO
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CAPÍTULO 7
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA EM SAÚDE COLETIVA: UMA ANÁLISE DOS CASOS DE DENGUE NO CEARÁ
CAPÍTULO 8

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE


TÉTANO ACIDENTAL EM UM HOSPITAL DE
REFERÊNCIA, 2007-2013

PEREIRA, Andressa Pedroza1


XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz2
TEIXEIRA, Brenda dos Santos3
SILVA, Ivanise Tibúrcio Cavalcanti da4
NUNES, José Ronaldo Vasconcelos5

DOI: 10.46898/rfb.9786599175268.8

1  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande. Mestranda no Programa de Pós-Gradua-


ção em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Especialista em Infec-
tologia na modalidade residência pelo Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Recife-PE. E-mail: andres-
sapedrozap@gmail.com
2  Pós-graduanda em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Pós-graduada em
Saúde da Família pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).
Pós-graduada em Unidade de Terapia Intensiva pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Gradua-
da em Enfermagem pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: barbaraleticiaqx@
hotmail. com
3  Enfermeira pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Pós-graduada em Enfermagem
Ginecológica e Obstétrica pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Discente do curso de medicina
pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). E-mail: b.teixeirast@gmail.com
4  Bacharelado em enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Saúde Cole-
tiva pela FIOCRUZ. Email: ivanisetiburcio@gmail.com
5  Doutorando em Educação, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Pernambuco. Mestre em Saúde Coletiva Universidade Federal de Pernambuco. E- mail: ronatriunfo@
yahoo.com.br
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
100

Resumo

O tétano continua representando um problema de saúde pública nos países em


desenvolvimento, mesmo depois de transcorridos mais de 80 anos da descoberta da
vacina antitetânica. O objetivo desse estudo foi de descrever o perfil epidemiológico
dos casos de tétano acidental em um hospital de referência no Estado de Pernambuco,
no período de 2007-2013. Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, quantitativo,
baseado em dados secundários. Foram confirmados 126 casos da doença; a maioria
(88,9%) do sexo masculino e proveniente da zona urbana (77%). As profissões mais
frequentes foram, trabalhador agropecuário em geral e pedreiro (31,7%), com faixa
etária entre 35-49 anos (39,7%). A perfuração foi o ferimento mais evidente (48,4%); os
membros inferiores a região mais afetada (65,1%) e o sinal clínico predominante foi o
trismo (90,5%). A letalidade foi de 19,0% e o tempo médio de permanência hospitalar
foi de 49,4 dias. Concluímos que o tétano acidental é uma doença imunoprevenível,
a vacina é de elevada eficácia imunológica, entretanto, continua sendo um problema
de saúde pública em Pernambuco, apresentando alta letalidade e elevado tempo de
permanência no serviço.

Palavras-chave: Tétano. Perfil Epidemiológico. Letalidade.

Introdução

Antigamente, o tétano acidental estava entre as doenças mais prevalentes na Eu-


ropa e na América do Norte, contudo, atualmente é uma patologia que se apresen-
ta discretamente nestes países devido ao seu desenvolvimento social e educacional,
principalmente em virtude da imunização realizada corretamente na população. Em
contrapartida, na maioria dos países em desenvolvimento, a doença não se apresenta
de forma epidêmica na comunidade, porém, ainda é importante causa de morbimor-
talidade (MOURA et al., 2012).

O tétano continua representando um problema de saúde pública nos países em


desenvolvimento, mesmo depois de transcorridos mais de 80 anos da descoberta da
vacina antitetânica. Estima-se que a incidência mundial desta doença seja de um mi-
lhão de casos por ano e ocorrem predominantemente na África, Ásia e América Latina
(NEVES, et al., 2009).

No Brasil, entre o período de 2007a 2013 ocorreu cerca de 1.950 casos da doença,
correspondendo a uma média de 278 casos por ano, sendo a região Nordeste a que
possui maior número de casos (36,54%) (ZATTI, 2013). Em 2004, 15% dos casos noti-
ficados nesta região, foram do Estado de Pernambuco, com notificação média de 40
casos de tétano acidental por ano nos últimos seis anos (GOUVEIA et al., 2009). Sua

PEREIRA, Andressa Pedroza


XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Ivanise Tibúrcio Cavalcanti da
NUNES, José Ronaldo Vasconcelos
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NORDESTE BRASILEIRO
101

tendência é para uma redução do número de casos, entretanto apresenta-se ainda com
alto índice de letalidade (MOURA et al., 2012).

Observa-se que apesar de ser uma doença imunoprevenível e passível de erra-


dicação no Brasil, ela ainda se faz presente e apresenta uma taxa de mortalidade sig-
nificativa. Segundo o Ministério da Saúde, a letalidade contínua está acima de 30%,
sendo mais representativa nos idosos. No ano de 2008, esta letalidade foi de 34%, sen-
do considerada elevada quando comparada com os países desenvolvidos, nos quais a
letalidade encontra-se de 10 a 17% (BRASIL, 2009).

Além de apresentar letalidade, o tratamento do tétano é de custo elevado, pois


necessita de cuidados intensivos em casos graves. Por assim ser, esta situação requer
ações que garantam ampla proteção da população, mediante vacinação e melhorias na
assistência médico-hospitalar (MOURA et al., 2012).

O fato de a incidência e letalidade do tétano se mostrarem bem superiores no


Brasil, quando comparada aos países desenvolvidos, e que a doença está relacionada
a riscos ambientais e comportamentais, é imprescindível que haja a caracterização da
doença nos pacientes hospitalizados no país.

O presente estudo teve como objetivo descrever os perfis epidemiológico e clíni-


co dos casos de tétano acidental dos pacientes hospitalizados em um hospital de refe-
rência, no estado de Pernambuco, PE; como também apresentar a taxa de letalidade e
conhecer o tempo médio de permanência hospitalar dos mesmos.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, com análise quantitativa, basea-


do em dados secundários. O estudo foi desenvolvido em um Hospital Universitário
de referência para região Nordeste em doenças infecciosas e parasitárias, situado na
cidade do Recife, PE.

A amostra foi composta pela totalidade dos pacientes com diagnóstico de tétano
acidental (CID- A35), internados no referido serviço e notificados através do Sinan
(Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no período de 2007 a 2013. Fize-
ram parte da amostra pacientes com idade maior que 28 dias. Foram excluídos os casos
que tiveram como classificação final o diagnóstico descartado.

Para a coleta, utilizaram-se os dados das fichas de investigação epidemiológica


do Sinan. A compilação dos mesmos foi feita por meio do software Tabwin®, gerado a
partir do Sinan. Para o cálculo do tempo médio de permanência hospitalar, utilizou-se

CAPÍTULO 8
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE TÉTANO ACIDENTAL EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA, 2007-2013
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
102

o sistema de gerenciamento MV 2000i, no qual foi possível observar o período decor-


rido entre a admissão e a alta hospitalar do paciente.

As análises descritivas para as variáveis categóricas foram analisadas por fre-


quências simples, enquanto que as variáveis numéricas foram analisadas segundo
medidas de tendência central (médias e medianas) e de dispersão (desvio-padrão). O
projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Uni-
versitário Oswaldo Cruz, sob o CAAE 36259514.3.0000.5192.

Resultados

No período estudado (2007-2013), foram notificados 126 casos de tétano aciden-


tal, hospitalizados no referido serviço. Observou-se neste período, uma média de 18
casos por ano, e uma redução de mais de 50,0% dos casos nos últimos dois anos. Quan-
to à idade, a maioria dos acometidos pelo agravo está na faixa etária de 35-49 anos
(39,7%), seguido de 50-64 anos (25,4%). Houve predominância do sexo masculino, com
88,9%; sendo a maior parte dos casos proveniente da zona urbana (77,0%). Em relação
à ocupação, a maior parte dos casos se concentrou entre os trabalhadores agropecuá-
rios em geral e os pedreiros. Porém, em 12,7% dos casos analisados essa variável esta-
va ignorada, conforme dados da tabela 1.

Em relação à história vacinal, apenas 2,4% dos pacientes apresentou esquema


completo de vacinação; enquanto que a maioria, 46,8%, não apresentava registro de
vacinação prévia em períodos anteriores. Além destes, 41,3% tiveram esta informação
ignorada na ficha de investigação do Sinan, de acordo com os dados da tabela 2.

Quanto ao tipo de ferimento, a perfuração foi o mais frequente com 48,4% dos ca-
sos; e os membros inferiores foi a região mais afetada, correspondendo a 65,1%. Entre
os sinais característicos da doença encontrou-se o trismo (90,5%), as crises de contra-
turas (68,2%) e a rigidez de nuca (48,4%), constituindo os principais sinais, associados
ou não uns aos outros (Tabela 3).

No tocante à classificação final, dos 126 casos notificados de tétano acidental,


74,6% evoluíram para a cura; e a letalidade no período correspondeu a 19,0% (Tabela
4). Observou-se que a média de permanência hospitalar dos pacientes acometidos pelo
tétano acidental foi de 49,4 dias, desde a admissão até a alta hospitalar.

Discussão

O presente estudo descreve o comportamento epidemiológico do tétano aciden-


tal de pacientes hospitalizados em um hospital de referência, no estado de Pernam-
buco, durante 7 anos. Neste período evidenciou-se, ao longo dos anos, uma redução

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TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Ivanise Tibúrcio Cavalcanti da
NUNES, José Ronaldo Vasconcelos
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Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos Casos de Tétano Acidental em um Hospital Universitário de


Pernambuco, 2007-2013. Recife, PE, Brasil. 2015.

Fonte: Sinan, 2014


Tabela 2: Esquema vacinal dos Casos de Tétano Acidental em um Hospital Universitário de Pernam-
buco, 2007-2013. Recife, PE, Brasil, 2015.

Fonte: Sinan, 2014

CAPÍTULO 8
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE TÉTANO ACIDENTAL EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA, 2007-2013
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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Tabela 3: Perfil clínico dos Casos de Tétano Acidental em um Hospital Universitário de Pernambuco,
2007-2013. Recife, PE, Brasil, 2015.

*respostas múltiplas
Fonte: Sinan, 2014

Tabela 4 – Classificação final dos casos notificados de tétano acidental em um Hospital Universitário
de Pernambuco, 2007-2013. Recife, PE, Brasil, 2015.

Fonte: Sinan, 2014 .


significativa na ocorrência do número de casos da doença, especialmente durante os
últimos dois anos. O declínio do agravo é uma tendência em vários países em desen-
volvimento, como também nas demais regiões do Brasil. É possível que este fato seja
resultado do melhor desenvolvimento social, econômico e educacional no Brasil, do
aumento da cobertura vacinal da população e do melhor atendimento aos pacientes
com ferimento resultantes de trauma (ZATTI, 2013; FOCCACIA et al., 2009).

Os resultados desta pesquisa apontam para predomínio dos casos no sexo mascu-
lino. Outros estudos brasileiros semelhantes evidenciaram que esta parcela da popula-
ção é a mais atingida pela doença (MOURA et al., 2012; NEVES et al., 2011; GOUVEIA
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XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Ivanise Tibúrcio Cavalcanti da
NUNES, José Ronaldo Vasconcelos
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NORDESTE BRASILEIRO
105

et al., 2009; OLIVEIRA; NUNES, 2013). Esta situação tem sido explicada pelo fato de os
homens estarem em maior número no mercado de trabalho e, consequentemente, mais
expostos a riscos de acidentes ocupacionais, bem como as estratégias de saúde dire-
cionadas para esse público ainda serem incipientes no país (VIEIRA; SANTOS, 2011).

Em relação à procedência dos casos de tétano acidental, geralmente a predomi-


nância se dá na zona rural. Entretanto, os resultados desta pesquisa revelam que a
maior parte dos casos ocorreu na zona urbana, corroborando com estudos epidemio-
lógicos desenvolvidos nos estados do Ceará e de Santa Catarina (MOURA et al., 2012;
VIERTEL; AMORIM; PIAZZA, 2005). A partir da década de 90, o Brasil apresenta au-
mento do número de casos de tétano acidental ocorridos na zona urbana, o que pode
ser atribuído ao êxodo rural (GOMERI; GAGLIANI, 2011).

No que diz respeito à ocupação dos pacientes, as profissões mais frequentes entre
os casos estudados foram trabalhador agropecuário em geral e pedreiro (construção
civil), somando-se 31,7% do total de acometidos pelo tétano; repetindo os resultados
encontrados em um estudo realizado com 131 pacientes no Estado do Ceará, em 2007,
no qual estas profissões somaram 32,0% dos casos. Tais resultados revelam a relação
direta entre o adoecimento e o risco ocupacional a que estes indivíduos estão expostos
(FEIJÃO; BRITO; PERES, 2007). Por assim ser, são grupos para os quais é imprescindí-
vel repensar as estratégias de ampliação das coberturas vacinais e ações de educação
em saúde com ênfase nesta população.

A população mais atingida pelo agravo se encontrava na faixa etária entre 35-49
anos de idade, seguidas de 50-64 anos, reforçando os resultados encontrados em estu-
do epidemiológico de tétano acidental desenvolvido no Brasil (GOMERI; GAGLIANI,
2011). Há evidências de que o tétano atinge, em maior proporção, a faixa etária mais
produtiva, podendo ser justificado pela maior exposição deste grupo a ferimento trau-
mático, havendo maior facilidade de infecção no exercício do trabalho (OLIVEIRA;
NUNES, 2013).

Ainda, a população idosa foi atingida pela doença de forma significativa, reite-
rando os resultados encontrados em outros estudos (NEVES et al., 2011; GOUVEIA et
al., 2009; VIERTEL; AMORIM; PIAZZA, 2005). O risco de acometimento maior desse
grupo se justifica pela diminuição da imunidade, pois os níveis de anticorpos pro-
tetores para o tétano decrescem com o avançar da idade (VECKY et al., 2006). Além
disto, com o passar dos anos, o ser humano vai perdendo a capacidade psicomotora e
as percepções de espaço, estando mais propenso a acidentes (PAGLIUCA; FEITOSA;
FEIJÃO, 2001).

CAPÍTULO 8
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE TÉTANO ACIDENTAL EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA, 2007-2013
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
106

Para controle adequado do tétano, é necessário que seja realizado o esquema


vacinal completo com três doses do toxóide tetânico e uma dose de reforço a cada 10
anos, a partir da última dose (BRASIL, 2009). Alguns estudos imunológicos apontam
que apenas duas doses da vacina contra o tétano proporcionam proteção imunoló-
gica em 90,0%, e com as três doses do esquema vacinal esta proteção chega próximo
aos 100,0%, evidenciando, desta forma, sua elevada eficácia imunológica (OLIVEIRA,
2008).

Da faixa etária mais atingida pela doença, nenhum dos pacientes apresentou es-
quema completo de vacinação contra o tétano, e a grande maioria referiu nunca ter
sido vacinada, demonstrando uma lacuna em medidas preventivas contra a doença,
uma vez que estes pacientes não estavam inseridos nos programas regulares de imu-
nização, mesmo com a ampliação do programa da Estratégia Saúde da Família,

Outro aspecto importante em relação à vacinação foi o elevado percentual de


casos com o preenchimento da variável situação vacinal ignorada. Logo, infere-se que
tal informação talvez seja resultado do desconhecimento da situação vacinal, o qual é
um dos maiores problemas que se enfrenta quando se trata da vacinação em adultos,
os quais não preservam o seu comprovante de vacinação (MOURA et al., 2012).

Ao associar a ocupação com o histórico de vacinação anterior, os trabalhadores


agropecuários em geral e os pedreiros (construção civil), na sua maioria, nunca foram
vacinados ou tiveram a dose ignorada, ou ainda tiveram esquemas de vacinação in-
completos, o que justifica a falha da vacinação e consequentemente a alta frequência
da doença nesses grupos.

Como tipo de ferimento mais comum, a perfuração foi descrita na maior parte
dos casos estudados, em consonância com outros estudos nacionais (MOURA, et al.,
2012; NEVES, et al., 2011). Observou-se também que as escoriações e as lacerações fo-
ram portas de entrada para a doença corroborando com dados encontrados na região
sul do país (VIERTEL; AMORIM; PIAZZA, 2005). Qualquer solução de continuidade
com presença de tecido necrosado, contaminado com terra, poeira e fezes, favorece
a colonização da bactéria após a deposição dos esporos; justificando a ocorrência de
casos decorrentes de queimaduras, feridas cirúrgicas, aborto infectado, cárie dentária
e úlcera de pernas. Os membros inferiores também foram a topografia do ferimento
mais acometida, corroborando com outras casuísticas (MOURA et al., 2012; NEVES et
al., 2011; OLIVEIRA, 2008; VIERTEL; AMORIM; PIAZZA, 2005).

No tocante ao quadro clínico, o trismo foi o sinal característico mais evidente


nos casos analisados. Dados semelhantes foram confirmados em estudos realizados no

PEREIRA, Andressa Pedroza


XAVIER, Bárbara Letícia de Queiroz
TEIXEIRA, Brenda dos Santos
SILVA, Ivanise Tibúrcio Cavalcanti da
NUNES, José Ronaldo Vasconcelos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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Ceará e no interior de São Paulo, onde encontraram este achado em 50 a 75% e 72,7%
dos casos, respectivamente (MOURA et al., 2012; NEVES et al., 2011).

A pesquisa revela que a letalidade por tétano foi considerada alta (19,0%), quan-
do comparada a um estudo realizado no interior de São Paulo, onde não houve mor-
talidade por tétano em 20 anos (1990-2009) (NEVES et al., 2011) e outro realizado neste
mesmo Estado no ano de 2011, o qual evidenciou uma letalidade de 9,1%, taxa compa-
rável à dos serviços de alta qualidade em países desenvolvidos (SANTOS; BARRETO;
HO, 2011).

No ano de 2009 foi realizado um estudo no Estado de Pernambuco, no mesmo


centro de referência da presente pesquisa, no qual avaliou o impacto da assistência
em unidade de terapia intensiva sobre a letalidade por tétano, onde foi encontrada
uma taxa de letalidade de 12,6%, após a introdução dos cuidados em terapia intensiva
(GOUVEIA et al., 2009). Tal evidência confronta os resultados encontrados neste estu-
do, demonstrando uma necessidade de melhoria da qualidade assistencial da rede de
saúde neste Estado.

Ao associarmos o óbito com a faixa etária, pôde-se observar que a letalidade pre-
domina nos indivíduos entre 35-49 anos, faixa etária que apresentou maior frequência
neste estudo. Ainda, aqueles entre 65-79 anos foi a segunda faixa etária mais acome-
tida pelo óbito. Pode-se concluir que além da doença acometer os indivíduos com
imunização ausente, incompleta ou inadequada, a idade acima de 51 anos também se
configura como um fator de risco para este agravo (OLIVEIRA, 2008).

A média de permanência hospitalar dos casos estudados foi maior quando com-
paradas a outras casuísticas. No Estado do Ceará, os pesquisadores observaram uma
média de 22 dias de internação, desde a chegada ao hospital até a obtenção da alta
(MOURA et al., 2012). No Estado da Bahia, em estudo no qual analisaram-se 119 casos
de tétano acidental entre os anos de 2004 e 2010, esta média foi de 20 dias (OLIVEIRA,
2008).

Levando-se em consideração que o tratamento do tétano, na maioria das vezes,


necessita de um cuidado em unidade de terapia intensiva devido às suas complica-
ções, e que o custo deste cuidado se torna muito oneroso para o Estado em decorrência
do aumento dos dias de internação hospitalar dos pacientes, conclui-se que a vacina-
ção efetiva da população é a melhor estratégia para reduzir a frequência da doença.

Considerações finais

Apesar das limitações encontradas nos dados da ficha de notificação e investi-


gação epidemiológica, que impediram a análise de informações importantes para al-
CAPÍTULO 8
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE TÉTANO ACIDENTAL EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA, 2007-2013
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
108

cançar os objetivos propostos, conclui-se que este estudo contribui para a descrição da
situação epidemiológica do tétano acidental no Estado de Pernambuco, evidenciando
que esta patologia continua sendo um grande problema de saúde pública, sobretudo,
por ser uma doença imunoprevenível. Portanto, espera-se que ele sirva de base e sub-
sídios na formulação e avaliação de medidas assistenciais (preventivas e curativas),
sobretudo, nas estratégias que aumentem a cobertura vacinal nos grupos mais atingi-
dos, e de controle da doença, com o tratamento adequado pós-ferimento, bem como
fomente a realização de outros estudos.

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NUNES, José Ronaldo Vasconcelos
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
109

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CAPÍTULO 8
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE TÉTANO ACIDENTAL EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA, 2007-2013
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
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SOBRE AS ORGANIZADORAS
Bárbara Letícia de Queiroz Xavier

Bacharela em Enfermagem pela Universidade Federal de Campina Grande


(2015). Especialista em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva pela Univer-
sidade Cândido Mendes (2016). Especialista em Saúde da Família pela Universidade
da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (2018). Pós-graduanda em
Saúde pública pela Escola de Saúde Pública do CE/ ESP-CE (2019). Enfermeira assis-
tencial do Hospital Municipal Dr. Argeu Braga Herbster, Maranguape-CE, nos setores:
clínicas médica, cirúrgica, classificação de risco e emergência. Atuou como enfermeira
assistencial do Hapvida, unidade Ana Lima, Maracanaú-CE, nos setores: centro ci-
rúrgico e centro obstétrico, clínica médica, maternidade, translado e psiquiatria, na
emergência adulto e pediátrica. Preceptora da disciplina de Estágio Supervisionado II
- Internato II da UNIFAMETRO - Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza. Mi-
nistra cursos e palestras em empresas e hospitais. Atuou como docente do curso Téc-
nico em Enfermagem nas instituições: Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF
(Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC), Escola
Técnica do Maracanaú e no Instituto de Formação Superior do Ceará - IFESC. Durante
a graduação atuou como extensionista do Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX -
UFCG), intitulado de ‘Integração ensino-serviço na humanização do cuidado às crian-
ças e adolescentes hospitalizados’, realizado no Hospital Universitário Júlio Bandeira,
Cajazeiras - PB (2014). Desenvolveu atividades de iniciação à docência, como monitora
da disciplina Enfermagem Clínica II - doenças transmissíveis (2014 e 2015).

Brenda dos Santos Teixeira

Bacharela em Enfermagem pela Universidade Federal de Campina Grande- UFCG


(2015). Especialista em Enfermagem Ginecológica e Obstétrica pela Universidade Cân-
dido Mendes-UCAM (2016). Atuou como enfermeira assistencial e coordenadora no
setor materno infantil da Clínica de Pronto Socorro Infantil e Hospital Geral- CLIPSI,
em Campina Grande-PB (2016-2017). Enfermeira representante do Círculo do Coração
de Pernambuco (RCP- CirCor) (2016-2017). Membro do Grupo Condutor, Comissão
da Rede Cegonha e Comissão de morte materna, infantil e fetal em Campina Grande
-PB (2016-2017). Durante a graduação atuou como extensionista do Programa de Bol-
sas de Extensão (PROBEX - UFCG), intitulado de Integração ensino-serviço na huma-
nização do cuidado às crianças e adolescentes hospitalizados, realizado no Hospital
Universitário Júlio Bandeira- HUJB, Cajazeiras - PB (2014). Desenvolveu atividades
de iniciação à docência, como monitora da disciplina de Enfermagem em Saúde Cole-
tiva II durante os períodos letivos 2014.1 e 2014.2. Atualmente é discente do curso de
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS NO
NORDESTE BRASILEIRO
111

medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e diretora de


pesquisa da Liga Acadêmica de Cuidados da Criança (LACCRI).
O livro “Epidemiologia das Doenças Infecciosas no
Nordeste Brasileiro” é uma coletânea que reúne pesqui-
sas em diversos lugares do Brasil, com foco na região
nordeste. Esses estudos apresentam uma visão macro e
micro da epidemiologia e tem como objetivo possibilitar
aos leitores uma reflexão sobre os temas de interesse da
comunidade científica.

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