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 Comparação entre Cinema e Teatro

                                                                
Domingos Oliveira
O cinema é o sonho do homem, sua filosofia,
1. 

política e estética. Seu drama, farsa, ópera bufa,


comédia, ética. O cinema é a aventura do homem,
seu terror, seu mistério, seu medo, sua glória e
muitas outras coisas mais.
O Teatro é completamente diferente. O Teatro é
Real.
No Teatro, somente podemos ver o que os
2. 

personagens falam ou fazem. No cinema, podemos


ver o que eles pensam. O Cinema gosta de
considerar-se uma indústria, denominação que
ofenderia o Teatro.
No Teatro, o assunto é um só: o Homem. Apenas o
3. 

homem, nu, inteiro. O Cinema tem mais recursos.


Se a cena é chata, podemos sempre cortar para
uma paisagem.
Para o Ator de Cinema, basta saber o método
4. 

Stanislavski (viver o papel). No Teatro é preciso o


Stanislavski, e, além disso, mostrar que se está
fazendo Teatro.
Por isso é muito mais fácil representar no cinema.
Basta o Stanislavski. Talvez com uma ponta de
histeria (ou esquizofrenia), para fazer sucesso.
No Teatro, o Risco é peça fundamental, como no
5. 
circo. Terá aquela atriz fôlego para chegar ao fim?
Será que aquele ator vai aguentar essa voz gritada?
E o acesso de choro? Ou o frouxo de riso, pode ser
controlado? Será que Deus vai me conceder hoje a
graça de fazer bem aquela cena?
O risco é a estrela, como no Circo.
No cinema, o risco é controlado, podemos sempre
repetir o take. Nesse ponto, o cinema é morto e o
teatro, vivo.
No Teatro, o espetáculo não é feito apenas pelos
6. 

atores. É feito pelos atores e espectadores. Uma


interação tão intensa quanto mágica, chamada
Teatro, da qual quem não é ator não entende.
O Ator é um especialista de um assunto muito
particular. É aquele que entende o que acontece
quando muitas pessoas se juntam. Quando muitas
pessoas se juntam, acontece algo sério e
misterioso, que não pode ser posto em palavras.
Sensações e emoções cruzam o ar em todas as
direções. As consciências declaram, mesmo sem
verbalizar, suas profundas diferenças. Dissonam as
individualidades, mais ou menos agressivamente,
funcionando o Ator ao mesmo tempo como
catalisador e parede refletora deste violento
fenômeno. Creiam-me, não é nada sutil.
Já vi muitas vezes atores sendo derrubados (às
vezes literalmente) por um antagonismo da platéia,
ou, ao contrário, quase levitarem de prazer,
erguidos pela solidariedade dos espectadores. E não
vai aqui nenhuma vaidade.
Há um momento no teatro, raro momento, em que
as consciências todas de atores e espectadores
consonam. Este momento é sublime, inesquecível,
um orgasmo do espírito.
É também, porque não dizê-lo, transcendente ou
até místico. Ele prova que muitos homens podem,
em determinadas circunstâncias, ser um só. Faz
suspeitar que talvez sejamos um só.
Alguém disse que a maior dar artes, do ponto de
vista da forma, é, sem dúvida, a música. E do ponto
de vista do conteúdo, a Arte do Ator.
Transcendências não faltam também à sétima arte
(quais são as outras seis?)
A grande importância do cinema, na compreensão
7. 

humana da vida, vem de sua possibilidade de


manipular o tempo, creio eu.
O Tempo.
O quadro parado fixa o instante eterno.
A câmera rápida denuncia o turbilhão em que
vivemos, o quão ridículo somos todos, formigas da
Existência.
A própria montagem, o corte cinematográfico que
faz desaparecer um tempo que prendia
inexoravelmente um momento ao outro...
São recursos alucinantes!
Que descrevem com contundente objetividade
algumas das manobras mais sutis da mente humana.
E a câmera lenta? Que faz-nos perceber o mundo
em todo o seu largo mistério, permitindo-nos ver
aquilo que teríamos visto se tivéssemos a atenção
dos Deuses...
E assim vai o cinema. Um lugar onde somos eternos.
Dentro de latas, porém eternos. Jovens mesmo
quando mortos há muito tempo. 
O cinema surpreende a morte em seu trabalho.
Transcendente em sua essência técnica.
8. 

Dizer que o Cinema é o sonho do homem está longe


de ser uma metáfora. Aquela máquina inventada
pelos irmãos Franceses da Luz reproduz, com uma
fidelidade embaraçosa, o ato humano de sonhar.
Um filme é realmente como um sonho, irretocável,
livre, ilusório, incontrolável, como somente um
sonho pode ser. O cinema não parece a Imaginação
ou a Memória, embora possa retratá-las
eficientemente. Porém parece muito mais com o
Sonho. E assim sendo atinge-nos em veia profunda,
pelo inconsciente, seja isso lá o que for.
O Teatro atinge diferente. Sensorialmente,
corporalmente, sensualmente, eroticamente.
É possível, pelo menos em fantasia, viver um grande
amor com uma daquelas atrizes.
É possível que o teatro pegue fogo, que algum ator
morra...
Perdoem a hipótese, mas já aconteceu muitas
vezes, de Cacilda a Molière. O Palco é um bom lugar
para morrer.
Tento dizer que, de alguma forma, é perigoso ir ao
teatro, mesmo sem falar na falta de
estacionamento e nos assaltantes eventuais. Você
pode se emocionar demais, pode não conseguir sair
no meio da peça. Não se vai ao Teatro tão
impunemente quanto ao cinema.
O Teatro é a grande máquina simbolizadora. Um
9. 

ovo colocado no meio de um palco passa a ser O


Ovo. Um ovo na tela traz apenas a suspeita de que
há uma galinha por perto.
No cinema, você pensa, vive e sente o Momento, o
plano. No teatro você faz exatamente o mesmo,
depois repete mil vezes até perder o sentimento. E
então encontra a sua forma artística. O cinema é o
dionisíaco, o teatro é o dionisíaco feito apolíneo.
Um tipo de reflexão de outra ordem.
No fazer do cinema, importa o detalhe. O processo,
por sua dificuldade técnica, concede tempo até
demasiado para a reflexão sobre cada instante. No
teatro não, o detalhe não importa (quem se
importar com ele está perdido). No fazer do teatro
importa o conjunto da obra, ou seja, seu conteúdo.
Como a escultura, o bloco de matéria-prima vai
sendo modelado aos poucos e igualmente. Quando
uma parte estiver pronta, a escultura inteira está
pronta. No cinema, não. No cinema modela-se um
dedo com perfeição, para daí deduzir como deve
ser a mão e o braço.
Minha vida teria sido muito pior se não existisse o
10. 

cinema. Quando estou triste, deprimido, querendo


morrer - vou ao cinema ver um filme.
Se não existisse o teatro minha alma seria muito
mais pobre.
O teatro ensina o quanto a vida é uma ilusão, como
Platão queria. Somente possuímos uma vida, dizem.
No teatro, várias.
O teatro tem o tamanho da vida, é tão fugaz quanto
ele. Um monte de panos e luzes que, uma vez
terminada a função, tornam-se Nada, restando
apenas na memória dos poucos que lá estiveram.
Isto faz com que a gente do teatro seja uma gente
humilde e isso é bom.
O Teatro e o Cinema são a vida sem as partes
chatas.
Concluindo:

No cinema há o exibidor, o distribuidor, a ditadura


da técnica, enfim, muitos intermediários entre o
autor e a obra. No cinema, o ator é uma peça
relativamente sem importância, diante dos
poderosos fotógrafos e técnicos de som, diretores.
No teatro é diferente, sem intermediários. Você faz
uma peça com cinco amigos, é um fracasso, vão 20
pessoas com entrada a 15 reais. São 300 reais. Os
cinco vão na bilheteria, pegam a grana e a dividem,
ainda dão uma parte para o diretor. Fica cada um
com cinquentinha. Dá para jantar bem.
Outro dia fui ao cinema e fiquei olhando um close
de uma moça bonita naquela tela enorme...e, de
repente, pensei! Já vi isso antes! Esses rostos
enormes, essa terra de gigantes! Foi na minha
infância primeira. Era assim que eu via o rosto de
minha mãe, quando me botava no colo.
O cinema nos torna todos crianças, devolve-nos a
inocência perdida. Viva o cinema!
Porém, como aventura humana, ou seja, como Arte,
o teatro é maior.
_____________________
Artigo extraído da Revista de Teatro nº 522 (novembro/dezembro 2010), uma publicação
da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores)

Atores: o teatro e a televisão no


Brasil
Quando pensamos na profissão ator, é comum completarmos o
pensamento com: de TV ou de teatro? Existe distinção na maneira de
trabalhar entre esses dois meios, mas a realidade é que são duas artes
complementares e não opostas. As técnicas aparecem de maneira
singulares, assim como a forma de ser produzido ou apresentado.

Independente de TV, teatro ou até mesmo cinema, o ator terá que dar o
seu melhor em cada um. E isso não significa absolutamente que um bom
ator de TV será um bom ator de teatro ou vice e versa. Neste caso a
ordem dos fatores pode alterar o produto sim.

Há diferença?
Quase que por unanimidade o ator criado e desenvolvido no palco terá
mais facilidade na migração para a TV. Ambos preparam e exibem o
ator, mas o improviso na fala , os imprevistos do momento, o trabalhar
ao vivo fertiliza um terreno com mais solidez e possibilidades de
adaptação.

Na TV, onde o rosto do profissional fica absolutamente exposto, visível,


a concentração e interpretação exige uma forma diferente de se
apresentar. São as expressões faciais que muitas vezes serão a principal
forma de comunicação com o público. A intensidade das emoções
interpretadas são compostas de maneira diferente na televisão e no
palco. A qualidade das técnicas de atuação, domínio de espaço e
profissionalismo dos atores são reflexos de estudo, treino e paixão no
que fazem.

A formação do ator
As especificidades de técnicas e desenvolvimento do interpretar exige
dedicação máxima dos atores. Para capacitar melhor quem busca esse
meio, seja como profissão, seja como hobby, o Brasil oferece vários
cursos em universidades, em nível de graduação e especialização, e
mesmo cursos direcionados em escolas
(http://belas.art.br/cursos/curso-de-teatro/) ou teatros, como no caso
do Tablado do Rio de Janeiro, por exemplo.

Há cerca de cinco anos o Guia do Estudante referenciava as melhores


universidades do país, de acordo com critérios do Ministério da
Educação e Cultura – MEC, apontando as sete melhores estruturas para
se estudar Cinema. Não é de se espantar que estivessem concentradas
em São Paulo e Rio de Janeiro grandes polos de nossa dramaturgia no
Brasil, além de citar Brasília também. Mas as faculdades estão ganhando
corpo e já no ano passado tivemos a Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM no Guia com a nota máxima da avaliação: cinco estrelas. É
o nosso Sul despontando também. E como se diz nesse meio: “o ator
nunca está perfeito, está sempre aprendendo”.

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