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O paradigma da

ciência tradicional e a Ciência Novo-


Paradigmática e o Pensamento
Sistêmico.

RENATA MATOS MATOS


@psirenatamatos.tita
renata.braga@ftc.edu.br
Três níveis de pensamento sistêmico...

Epistemológico
Teórico
Técnico
“Antes da cura há um diagnóstico preciso”
“Deve-se atacar um problema de cada vez”
“Cada especialista em sua área, isto não é da minha alçada”
“Os fenômenos são descritos por leis”
“É importante ser lógico e objetivo”
“Uma teoria só é válida depois de
comprovada cientificamente”
“O cientista é o detentor do saber”
“A ciência permite promover mudanças”
Pressuposto da Simplicidade
Tudo o que é microscópico é simples

• Por trás da aparente complexidade do universo, está a simplicidade


• A ciência tradicional analisa esta complexidade separando o
mundo em partes – atomização.
• Através da separação em partes, encontra-se o elemento simples, a
partícula essencial, mais fácil de se compreender.
• A separação se dá por categorias, por classificações (ex.
Psicopatologia), e a escolha é sempre uma atitude ou-ou.
• A ciência se compartimentaliza, se fragmenta em áreas ou
departamentos científicos, surge a figura do expert.

O simples não existe, existe o que foi simplificado pelo cientista.


Bachelar (apud Morin, 1990)
Pressuposto da Simplicidade
Tudo o que é microscópico é simples
Na forma de pesquisar
sobre o funcionamento
das coisas, está implícita a
causalidade linear.

Ela é linearidade
unidirecional.

Crença no mundo
cognoscível, acessado pela
razão.
• A racionalidade tenta eliminar do discurso científico a imprecisão, a
ambigüidade, a contradição.

Y Z
X
efeito de X efeito de Y
causa de Y
causa de Z
Pressuposto da Estabilidade
O mundo já é. Nele, as coisas se repetem

• O mundo é ordenado e
previsível, suas leis são simples.
• O cientista procura conhecer
as relações funcionais entre
variáveis – uma varia em função
da outra
• Objetivo do cientista: explicar,
prever e controlar os
fenômenos.
• Método clássico da ciência
tradicional: experimental e
quantificável.
Determinação - evolução dos fenômenos determinada pelas
condições iniciais e conhecimento das leis que os regem; sistemas
funcionam a partir de instruções.
Previsibilidade - previsão
segura da evolução dos
fenômenos com base no
conhecimento dos
princípios e das condições
iniciais.

Reversibilidade - o
cientista, ao inverter a
manipulação, produzirá o
retorno do sistema ao seu
estado inicial.

Controlabilidade - As
transformações reversíveis
definem a possibilidade de
controlar o sistema.
• O cientista, para descrever os eventos, deve ficar em uma posição
privilegiada para não contaminar o estudo com sua subjetividade
• O objetivo é a descrição pura.
• Descoberta científica: a tarefa do cientista é descobrir a realidade.
• O relatório é impessoal, e os dados fidedignos (observador independente)
• A subjetividade está entre parênteses (isolada como variável).
• Acesso privilegiado à realidade pelo expert, que é capaz de melhor representar
essa versão única sobre a realidade = UNI-VERSO.
• Crença no realismo do universo, tudo o que nele acontece é real,
independente de quem o descreve.
• Prova científica: Vários observadores chegam aos mesmos resultados.

Atitude de
Neutralidade
Os três pressupostos do paradigma tradicional
eram:
A ciência...

... simplifica o universo...


Simplicidade (através da análise)

... para conhecê-lo ou saber como


Estabilidade funciona...
(e controlá-lo)

Objetividade ...tal como ele é na realidade


(busca do UNI-verso).
O paradigma da
ciência tradicional e a Ciência Novo-Paradigmática e o
Pensamento Sistêmico.

Aplicação em diversas áreas de conhecimento;


✓ Família: interdependência e interseção entre os
comportamentos de seus membro

✓ O desempenho de qualquer um depende do


sistema no qual esta inserido;

✓ Necessidade de uma abordagem sistêmica


Complexidade
Instabilidade
Intersubjetividade

contextualiza os ... que são ...havendo


eventos... indeterminados, múltiplas
(relações causais imprevisíveis, representações
recursivas) irreversíveis e da realidade ...
incontroláveis ... (MULTI-verso)
Aviso importante...

No paradigma tradicional, era fácil entender


separadamente os três pressupostos. Agora, falar
de um é facilmente falar dos outros dois.
O pressuposto
da Complexidade

• Complexidade NÃO É dificuldade de compreensão, nem falta de


teoria ou tampouco insuficiência de explicações
A complexidade voltou à ciência por onde ela havia saído: pela física

• O mundo subatômico é mais complexo do que se pensava: contradição da partícula: corpúsculo x


onda (Planck, Einstein, Bohr) - COMPLEXIDADE
• As moléculas são muito mais desordenadas (calor = agitação molecular): indeterminação /
imprevisibilidade (Boltzman) - INSTABILIDADE
• Ao lançar a luz sobre um elétron, este saía de curso. (“Princípio de incerteza”
de Heisenberg). Então, o cientista é uma intervenção perturbadora sobre aquilo
que quer conhecer - INTERSUBJETIVIDADE
• Sistema complexo: aquele
constituído de um número
muito grande de unidades,
em interações múltiplas.

• Um sistema complexo se
comporta de maneira
desordenada, caótica,
emaranhada, instável...

...como a família, por


exemplo...
“Perceber um
complexo significa
perceber que suas
partes constitutivas
se comportam umas
em relação às outras,
de tal modo (e que)
não podemos nem
imaginar um objeto
a não ser em
conexão com outros
objetos.”

Wittgenstein, 1921,
apud Esteves de
Vasconcelos, 2005,
p. 110.
Pensar de maneira complexa é...

... tirar o foco exclusivo do elemento e incluir o


foco nas relações.
O pensamento
disjuntivo (“ou-ou”) é
substituído por um
pensamento integrador
(“e-e”)

Promove-se uma
articulação entre as
partes sem reduzir nem
eliminar as diferenças.
Pressupondo a instabilidade
O mundo está em processo de tornar-se

Bateson (1985, p. 32): “Eu posso jogar uma pedra no vidro e prever que
vai rachá-lo, mas não posso prever como as rachaduras acontecerão”.
Pressupondo
a instabilidade
O mundo em devir, em
processo de vir a ser.

A física, e outras áreas do conhecimento, passam a reconhecer o caos, a desordem,


a imprevisibilidade e incontrolabilidade de fenômenos do universo.
Ex.: recontar histórias é “perder” sempre um detalhe...
Pressupondo a intersubjetividade
Morin (1990): “Nas ciências sociais é
ilusório pensar que se elimine o
observador. O sociólogo está em sociedade
e a sociedade também está nele; ele é
possuído pela cultura que possui”.

“Tudo que é dito é dito por um observador” (Maturana)


“Tudo que é dito é dito a um observador “ (Foerster)
Mas, além de filósofos e profissionais da área social, Heisenberg: “princípio da
a legitimação da física... incerteza”:

“o cientista, ao medir a
velocidade da partícula,
perde a possibilidade de
fazer afirmações sobre
sua localização, e vice-
versa”.

“o próprio ato de
observação interfere e
altera o objeto em vez de
captá-lo tal como “ele é
na realidade””

Um só projetor não pode “o mapa não é o território”


iluminar toda a realidade (Korszybski)

Mantém-se o realismo do universo e introduz-se o relativismo do conhecimento


O paradigma da
ciência tradicional e a Ciência Novo-Paradigmática e o
Pensamento Sistêmico.

“A vida psíquica do indivíduo não é apenas um


fenômeno interno, mas também um processo
que se modifica na interação com o mundo que o
circula” (MINUCHI, 1988, p. 9)

✓ Evento – contexto: causalidade circular - Os


componentes de um sistema interagem em uma
sequência circular
O paradigma da
ciência tradicional e a Ciência Novo-Paradigmática e o
Pensamento Sistêmico.

Paradigma tradicional Ciência novo- paradigmática


• Simplicidade: análise, • Complexidade: contextualização;
relações causais e lineares relações causais recursivas
• Estabilidade: determinação – • Instabilidade: indeterminação –
previsibilidade; imprevisibilidade; irreversibilidade -
reversibilidade – incontrolabilidade
controlabilidade • Intersubjetividade: observador
• Objetividade: cientista em interfere na realidade observada;
posição externa, objetividade entre parênteses; diálogo
subjetividade entre crítico e reflexivo das interrelações
parênteses entre ciência, sociedade, técnica e
política
O terapeuta de pensamento sistêmico
(Esteves de Vasconcelos, 2002)

•Vê sistemas de sistemas


Ampliar o foco de observação
•Contextualiza fenômenos

•Trabalha com mudança


no sistema
Descrever com o verbo estar •Admite que não controla
o processo

•Reconhece-se parte do sistema


Acatar outras descrições •Atua como co-construtor das
soluções
Sintoma: disfunção relacional de toda família
(conflito entre continuidade e mudança; vínculos de
pertencimento e necessidade de individuação

TERAPIA FAMILIA

➢ Família: sistema no qual cada comportamento


deve ser compreendido em função da relação
estabelecida entre os comunicantes
➢ Sintoma: anomalia individual – “paciente
identificado”/ designado; expressa em nome dos
demais membros do sistema familiar
➢ Objetivo da terapia: individual alteração dos
modelos de relações entre as pessoais
Referência
• TEXTO 1.0 - GOMES, L. B. et al. As origens do pensamento
sistêmico: das partes para o todo. Pensando fam., Porto Alegre, v.
18, n. 2, dez. 2014

• TEXTO 1.1 - NICHOLS, Michael P., SCHWARTZ, C. Terapia Familiar.


ArtMed, 08/2011. P.98-123

• TEXTO 1.2 - OSORIO, L. C., VALLE, M. E. P. do cols. Manual de


terapia familiar – V1. ArtMed, 04/2011. P.144-157

• TEXTO 1.3 - VASCONCELOS, M.J.E. Pensamento sistêmico: o novo


paradigma da ciência. São Paulo: Papirus, 2002.

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