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Av. Nossa Senhora de Copacabana, 1059 – Rio de Janeiro/RJ
Definição de Comportamento Verbal
Iara Andriele Carvalho

Em 1957, Skinner publicou o livro Verbal Behavior (Comportamento


Verbal), no qual ele propõe uma análise operante para os fenômenos até então
estudados através de conceitos como fala e linguagem, os quais já estavam
comprometidos com diferentes epistemologias, como por exemplo, o
estruturalismo. O termo fala, por exemplo, apresentava conotação de ser
estritamente vocal e linguagem, conforme sugere Skinner, se refere muito mais
às práticas de uma comunidade verbal específica do que ao comportamento do
falante em si. Nesse sentido, a proposta de Skinner era inovadora, pois o foco
de análise desses fenômenos passa a ser a função e não simplesmente a forma,
ou seja, sua explicação se detinha em identificar as variáveis ambientais,
antecedentes e consequentes, que tinham influência sobre a emissão dos
operantes verbais e que mantinham sua ocorrência.
Desse modo, ao propor uma concepção externalista, Skinner afasta sua
explicação de processos que ocorreriam dentro do indivíduo como a causa do
comportamento, bem como evita vínculos com outras propostas e concepções.
Ele afirma que sua proposta, embora não testada experimentalmente, é uma
interpretação que tem por base os achados experimentais do paradigma
operante.
Portanto, dado que o comportamento verbal é operante, ou seja, é um
comportamento que produz uma mudança no mundo e é selecionado por essas
consequências, os conceitos já aplicados ao estudo dos demais operantes, tais
como: reforçamento, controle de estímulos (discriminação e generalização),
extinção, esquemas de reforçamento, dentre outros, se aplicam também ao seu
estudo. Todavia, ele possui características específicas que requerem atenção e
uma terminologia própria.
Uma das características definidoras do comportamento verbal e que o
distingue do comportamento não verbal, é a mediação do reforço. Enquanto no
comportamento não verbal a ação da pessoa sobre o ambiente é direta e

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mecânica, no comportamento verbal ela é indireta e mediada por outra pessoa,
que foi treinada dentro daquela comunidade verbal para fornecer o reforço, o
ouvinte. Por exemplo, se você está com fome e prepara um sanduíche para si,
esse comportamento não é mediado, ele é uma ação direta sobre o ambiente.
Por outro lado, se você está com fome, pede comida a um amigo e ele te traz
um sanduiche, esse reforço foi mediado. Vale ressaltar que, é necessário a
emissão de uma resposta verbal que funcione como estímulo discriminativo para
o comportamento do ouvinte de mediar o reforço. Desse modo, nem todo
comportamento mediado é verbal.
A definição de comportamento verbal como comportamento cujo reforço
é mediado por um ouvinte especialmente treinado por uma comunidade verbal
teve como consequências: tornar o comportamento verbal objeto de estudo da
Psicologia, mudar a concepção de significado, o qual agora deve ser buscado
nas variáveis de controle da resposta verbal, bem como, e estabelecer como
unidade de análise do comportamento verbal a contingência de reforçamento.
Nesse sentido, comportamento verbal não necessariamente é vocal, mas
abrange linguagem de sinais e outras formas alternativas.

Introdução aos operantes verbais

Partindo da definição operante de comportamento verbal, dois de seus


aspectos merecem ser destacados: (1) ele é adquirido e mantido por suas
consequências, logo (2) ele pode ser analisado pela identificação de suas
variáveis controladoras antecedentes e consequentes, ou seja, por uma análise
funcional. Visto que, a definição é funcional, essa análise deve ocorrer
considerando o comportamento do falante e do ouvinte, bem como, os aspectos
do ambiente físico e social relacionados à emissão desse comportamento.
Nesse sentido, a unidade de análise é a contingência de reforçamento, ou seja,
engloba qualquer resposta controlada por estímulos antecedentes, podendo ser
um fonema, uma palavra ou frase, cujo reforço seja mediado (Barros, 2003).
É com base nessas descrições funcionais do comportamento verbal, suas
fontes de controle e seus efeitos sobre o comportamento do ouvinte, que Skinner
elencou alguns tipos de operantes verbais primários: ecoico, tato, mando,

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intraverbal, ditado, cópia e textual. Todavia, antes de partirmos para as
definições dessas categorias, precisamos retomar alguns conceitos introdutórios
que auxiliam na definição desses operantes verbais.
Embora Skinner tenha dado uma definição funcional, ele também se
baseou na identificação das variáveis controladoras antecedentes da reposta
verbal (estímulos verbais, estímulos não verbais e operações estabelecedoras
ou motivadoras) e em como elas se relacionam com os produtos das respostas,
se mantém similaridade formal e correspondência ponto-a-ponto. Similaridade
formal ocorre quando tanto o evento antecedente quanto a resposta são da
mesma modalidade formal, por exemplo, auditiva, motora. Já a correspondência
ponto-a-ponto se refere a quando o primeiro componente do estímulo deve
controlar o primeiro componente da resposta, mas eles não têm
necessariamente similaridade formal, por exemplo, a palavra escrita GATO e a
palavra falada “gato”. Dados esses conceitos preliminares, passemos as
definições dos operantes.
Mando (mandar): são respostas verbais sob controle de uma operação
motivadora (estados motivacionais ou afetivos), nas quais o falante determina
especificamente qual o reforçador desejado e a obtenção desse reforço
específico é a consequência que altera a ocorrência futura de respostas da
mesma classe. No mando não há correspondência ponto-a-ponto e nem
similaridade formal. Pedidos, ordens e conselhos são formas de mandos.
Tato (tatear): corresponde a respostas verbais cujos antecedentes são
estímulos discriminativos não-verbais (objetos, eventos ou propriedades desses,
externos e internos à nossa pele) e que tem como consequência reforço social,
quando identificado haver correspondência entre o que o falante diz e os
estímulos discriminativos. Nomear, descrever e categorizar são formas de tato.
Ecoico (ecoar): é um comportamento verbal sob controle de um estímulo
discriminativo verbal auditivo ou motor (por exemplo, gestos) produzido por outra
pessoa e mantido por reforço social generalizado. Apresenta similaridade formal
e correspondência ponto-a-ponto. Por exemplo: Ao ouvir alguém dizer a palavra
“gato”o falante repete “gato”. Desse modo, ecoar consiste em repetir uma
resposta verbal modelada por outra pessoa, seja vocal ou motora, de maneira
idêntica.

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Intraverbal (intraverbalizar): são respostas verbais, vocais ou escritas,
controladas por estímulos verbais produzidos pelo próprio falante ou pelo
comportamento verbal de outra pessoa, cujo fluxo o falante está acompanhando
e que tem como consequência o reforço social generalizado. São exemplos de
respostas intraverbais, responder perguntas, completar frases ditas por outras
pessoas e até mesmo montar uma linha de raciocínio, em casos onde o falante
e o ouvinte são a mesma pessoa. Por exemplo, quando você diz para a si mesmo
as coisas que precisa fazer no dia.
Textual: Consiste em respostas vocais que tem como antecedentes
estímulos verbais escritos ou impressos e cujo reforço para a sua emissão é
social. Cabe ressaltar que deve haver correspondência formal arbitrária
(estabelecida pelas práticas culturais) entre o estímulo escrito e a resposta vocal.
Por exemplo, ao ver a palavra escrita GATO, a resposta reforçada será oralizar
a palavra “gato”. O comportamento textual não implica em leitura com
compreensão, mas um estágio anterior.
Transcrição ou ditado: Consiste em respostas escritas controladas por
estímulos discriminativos verbais vocais, com correspondência ponto-a-ponto.
Por exemplo, quando o professor dita a palavra “gato” e o aluno escreve.
Além dos operantes verbais primários citados acima, Skinner também
propôs um operante verbal de segunda ordem, o autoclítico. Esse operante
verbal, diferente dos outros já citados, é controlado por aspectos do
comportamento verbal do falante, de modo que ele edita o seu comportamento
verbal para produzir diferentes efeitos no ouvinte. Por isso que o autoclítico é
chamado de operante verbal de segunda ordem, pois ele age sobre o
comportamento verbal do próprio falante e, portanto, sempre é emitido
juntamente com outro operante verbal.

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Peterson, N. (1978). An introduction to verbal behavior. Grand Rapids, MI:
Behavior Associates.

Questões do texto:

1- Diferencie comportamento verbal dos outros operantes (não


verbais).

2- Quais as principais diferenças entre a concepção de Skinner e as


abordagens tradicionais no estudo do comportamento verbal?

3- Defina e dê um exemplo de ecoico.

4- Qual a importância do ecoico.

5- Defina e dê um exemplo de mando.

6- Defina e dê um exemplo de tato.

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7- Defina e dê um exemplo de intraverbal.

8- Defina e dê um exemplo de comportamento textual.

9- Por que o textual não pode ser entendido como leitura com
compreensão?

10- Defina e dê exemplos de autoclítico.

Questões do vídeo

1- Que aspectos estão implicados na definição de comportamento


verbal como comportamento operante?
2- Qual é a unidade de análise do comportamento verbal?
3- O que é similaridade formal?
4- O que é correspondência ponto a ponto?
5- Quais os três tios amplos de variáveis controlam a emissão dos
operantes verbais primários?
6- Cite os operantes cujas variáveis controladoras são estímulos
verbais.
7- Qual a variável controladora e o tipo de reforço do operante verbal
“mando”?
8- Considere o seguinte exemplo: A mãe diz “bola” e a criança repete.
A que tipo de operante verbal se refere esse episódio?
9- Quais as fontes dos estímulos verbais discriminativos que
controlam a emissão de um intraverbal?
10- Porque o autoclítico é um operante verbal de segunda ordem?

O papel do ouvinte.

Qual o papel do ouvinte na concepção de Skinner?


Skinner definiu comportamento verbal como aquele cujo reforço é
mediado por um ouvinte especialmente treinado por uma comunidade verbal.
Nesse sentido, temos que o primeiro papel do ouvinte é o de mediador do
reforço. Mas para poder exercê-lo, ele passa por uma história de

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condicionamento. Esse processo evolve tanto pareamento de estímulos verbais
com estímulos não verbais, quanto reforçamento diferencial e discriminação de
estímulos. No primeiro caso temos que, desde muito cedo, a criança é exposta
continuamente ao pareamento de palavras a objetos, situações ou eventos etc.,
por exemplo, quando alguém mostra uma banana (estímulo não-verbal) para
uma criança e simultaneamente fala a palavra “banana”. Como, geralmente, o
comportamento de ouvinte é adquirido primeiro, é possível que a criança comece
a apontar uma banana quando solicitado como resposta a esse pareamento
(responder de ouvinte) e, posteriormente, passe a imitar o comportamento de
nomear o estímulo não-verbal “banana” (tato) emitido pelo adulto. Essas
repostas passam a ser reforçadas de modo generalizado, por exemplo, com a
atenção dos pais e outras pessoas. Partindo do conceito de discriminação de
estímulos, quando uma resposta é reforçada em um dado contexto, esse passa
a ser discriminado como a ocasião na qual é mais provável que respostas da
mesma classe sejam reforçadas se forem emitidas. Desse modo, diante do
estímulo verbal “Mostre a banana”, a resposta de escolher corretamente a
banana será reforçada e outras não. Isso faz com que essa solicitação se torne
o estímulo discriminativo que controla a ocorrência da resposta. Assim, por
meio dessa história prévia de aprendizado que vai se complexificando, o ouvinte
é capaz de compreender o que falante diz e se comportar mediando
reforçadores.
O segundo papel do ouvinte também se constitui por meio da
discriminação de estímulos. Como o ouvinte é o mediador do reforço, ele está
presente em todas as ocasiões em que o comportamento verbal do falante foi
reforçado e se torna estímulo discriminativo para a emissão de novas respostas
verbais. Nesse caso o termo utilizado para definir a função do ouvinte é
audiência. Cabe ressaltar que o ouvinte só é audiência quando ele estimula o
falante antes da emissão da resposta. Além de servir como estímulo
discriminativo que evoca respostas verbais, uma audiência também modula o
tipo de resposta a ser emitida, um exemplo é a linguagem técnica de grupos
profissionais ou mesmo como as pessoas adequam o discurso para tratar com
amigos.

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Todos os operantes verbais, exceto o mando, beneficiam principalmente
o ouvinte na medida em que entra em contato com aspectos do ambiente através
do comportamento verbal do falante, também pelo fato de ter acesso a regras
que descrevem formas de agir de modo imediato e sem a necessidade de passar
pelas contingências. Além disso, o falante reforça a reação do ouvinte com novas
verbalizações.
Desse modo, o ouvinte é uma variável muito importante no episódio
verbal, pois ele faz parte do contexto antecedente e fornece a consequência ao
comportamento do falante contribuindo na instalação e manutenção dos
repertórios verbais dele. Cabe salientar que, durante uma troca verbal, uma
mesma pessoa alterna os papéis de ouvinte e falante. Esse processo faz com
que uma ela aprenda a ser ouvinte de si mesma, por exemplo, quando é capaz
de elencar para si uma série de tarefas que vai fazer no dia.
Para Skinner, os papéis de ouvinte e falante não são duas faces da
mesma moeda, ou seja, duas formas de linguagem. Para ele, o comportamento
do ouvinte, embora esteja sob controle de estímulos verbais, é um
comportamento operante não-verbal pois atua direto sobre o ambiente, visto que
sua ação de fornecer o reforço é direta e mecânica. Essa posição é alvo de
algumas críticas e reformulações dentro da própria Análise do Comportamento
e muito tem se discutido a respeito. (Para mais detalhes consultar Dahás,
Goulart e Souza, 2008)

Dahás, L. J. S.; Goulart, P. R. K.; Souza, C. B. A. (2008) Pode o


Comportamento do Ouvinte ser considerado Verbal? Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva. Belo Horizonte, v. X, n. 2, pp. 281-291.

Questões do vídeo:
1. Cite dois processos presentes no treinamento do ouvinte?
2. Por que o ouvinte é fundamental para que um episódio verbal seja
completo?
3. Quais os papéis que o ouvinte cumpre em um episódio verbal?
4. Diferencie os papeis do ouvinte como mediador do reforço e como
audiência.

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5. Como se dá o processo de discriminação de estímulos que permite uma
pessoa se comportar diferencialmente diante de estímulos verbais?
6. Como o ouvinte se torna também audiência para o comportamento do
falante?
7. De que forma o ouvinte de beneficia do comportamento verbal do
falante?

A análise funcional do comportamento verbal

Skinner (1957), sintetizou o que posteriormente viria a ser conhecido


como o estudo do comportamento verbal. Ao categorizar os tipos de
comportamento verbal, ele priorizou a relação funcional entre seus diferentes
componentes como forma de diferenciá-los. Assim, para classificarmos um
operante verbal é necessário atentar para eventos ambientais (estímulos
antecedentes e consequência) e comportamentais (resposta), o que permite que
se verifique suas relações funcionais (Passos, 2003; Chiesa, 2006) e a
manipulação destas.
Os estímulos antecedentes são variáveis que estão presentes no
ambiente antes da emissão da resposta. Em circunstâncias passadas onde
estas variáveis estavam presentes, o organismo emitiu uma resposta e obteve
uma alteração no ambiente, ou seja, uma consequência. Quando ele se depara
novamente com condições ambientais semelhantes é extremamente provável
que ele emita a mesma resposta, caso estas consequências de exposições
anteriores tenham sido reforçadoras. Dizemos então que os estímulos
antecedentes evocam uma determinada resposta, ou seja, aumentam a
probabilidade dela acontecer.
A resposta é a ação que o organismo executa, normalmente com a
capacidade de produzir alguma alteração no ambiente ao seu redor. Para um
observador realizar uma análise funcional é essencial que ele tome alguns
cuidados ao selecionar a resposta que deseja analisar: 1) ela precisa ser
observável; 2) ela não pode ser uma “não-ação”, pois desta forma ela não vai
acontecer e não poderá ser adequadamente medida para avaliar se está
aumentando ou diminuindo de frequência.

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A resposta do organismo produzirá alterações no ambiente, as
consequências. Dizemos que as consequências são reforçadoras quando elas
aumentam a probabilidade do comportamento acontecer no futuro na presença
das mesmas variáveis antecedentes. Dizemos que as consequências são
punidoras quando elas diminuem a probabilidade do comportamento acontecer
no futuro na presença das mesmas variáveis antecedentes. Atente então que
para sabermos se determinada consequência é reforçadora ou punidora
precisamos medir sua ocorrência (frequência) em diferentes intervalos de tempo,
visando comparar se está ocorrendo um aumento ou diminuição. Em um
contexto de ensino, estamos na maior parte do tempo, tentando aumentar a
frequência de comportamentos adaptativos, então daremos mais ênfase à
planejar e produzir consequências reforçadoras.
A seguir, discutiremos cada um dos operantes verbais básicos e
aprenderemos como classificar um episódio verbal dentro destas diferentes
categorias a partir das relações funcionais entre os componentes do
comportamento.
De acordo com sua definição, o Mando é uma resposta verbal emitida em
um contexto onde o falante está sob efeito de uma operação motivadora, seja
ela aversiva ou de privação, e especifica em sua resposta qual o reforçador
necessário para cessar a operação motivadora.
Observe que nesta definição nós temos os elementos característicos do
mando definidos de acordo com suas relações funcionais: 1) estimulação
antecedente (contexto): operações motivadoras de privação ou aversivas; 2)
resposta: vocal, gestual ou de outra forma em que se especifica uma
consequência reforçadora. Normalmente possui formato de solicitação, pedido,
ordem, comando; 3) consequência: acesso ao reforçador ou condição
reforçadora especificada pela resposta.
Quando Ed vai em uma pizzaria e pede ao garçom “uma pizza grande de
calabresa, por favor”. Ele está emitindo uma resposta verbal que especifica um
reforçador. Esta resposta está acontecendo em um contexto específico, no qual
ED está com fome ou com vontade de comer pizza. Estar em uma pizzaria e não
em uma hamburgueria, bem como, a presença do garçom são contexto para o
mando. Provavelmente, ao ir em pizzarias e emitir esta resposta verbal

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anteriormente, ele foi atendido e recebeu uma pizza deste sabor. Desse modo,
a resposta foi reforçada.
No Tato, o falante emite uma resposta verbal sob controle de uma
propriedade física do ambiente e tem como consequência reforçadores
generalizados. Pormenorizadamente, temos: 1) estimulação antecedente:
propriedades físicas do ambiente; 2) resposta: verbal, consistindo em descrições
do ambiente que o falante acessou através de seu sistema perceptivo; 3)
consequência: reforçadores generalizados, por exemplo, a concordância do
ouvinte.
Ainda na rua, Ed estava passeando com sua esposa e passa em frente
de a um estabelecimento em que vê um garçom servindo pizza e outros
estímulos que indicam que aquele lugar é uma pizzaria. Ele diz: “Olha, uma
pizzaria”. Neste exemplo, a pizzaria serve como contexto ambiental, um estímulo
não verbal. Ed realiza então uma resposta verbal no formato de uma descrição
que é reforçada pela audiência de sua esposa.
O Ecóico é uma resposta verbal evocada por estímulos discriminativos
verbais que tem como consequência reforçadores generalizados. Um detalhe
importante neste operante verbal é que a resposta emitida e o estímulo
antecedente correspondem ao mesmo padrão físico, o que chamamos de
correspondência formal (Passos, 2003).
Vamos analisar esta definição: 1) estímulo antecedente: verbal que pode
ser vocal ou motor (língua de sinais, por exemplo); 2) resposta: vocal ou motora
que possui uma correspondência de suas características físicas com o estímulo
antecedente; 3) consequência: reforços generalizados providos pela
comunidade verbal.
Imagine a seguinte situação: A mãe fala para a criança “mama” e ela
repete a palavra da mesma forma dita pela mãe. A mãe então sorri e faz carinho
no filho.
Neste exemplo, o estímulo antecedente para o comportamento ecoico da
criança é a fala de sua mãe e a resposta emitida por ela também é vocal. Já a
consequência é a atenção social da mãe.
O comportamento Textual é uma resposta vocal sob controle de um
estímulo escrito que é mantida por reforçadores generalizados. Neste tipo de

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operante, dizemos que há uma correspondência ponto a ponto, visto que cada
elemento do estímulo antecedente corresponde a outro elemento na resposta
emitida. No entanto, eles não possuem características físicas entre si. Afinal, um
corresponde a uma palavra escrita e o outro a sons emitidos por uma pessoa.
Resumindo, no comportamento textual temos: 1) estímulos antecedentes: texto
escrito; 2) resposta: de natureza vocal com correspondência ponto a ponto com
o estímulo antecedente; 3) consequência: reforço generalizado da comunidade
verbal.
Uma criança pega um gibi e olha para seu título “Turma da Mônica”. Ele
então diz em voz alta: “Turma da Mônica”. Seus pais o elogiam por ter acertado
sua leitura e talvez o comprem o gibi. Neste exemplo, o título escrito na capa é
o estímulo antecedente verbal. A leitura que a criança faz “Turma da Mônica” é
a resposta textual. Embora ambos sejam estímulos de natureza física diferentes:
um deles é uma grafia em um papel e o outro é um som emitido pela criança,
dizemos que há correspondência ponto a ponto pois cada sílaba escrita
corresponde a um determinado som de acordo com as convenções da
comunidade verbal. Por fim, a interação com os pais garante o reforço
generalizado, assegurando que esta criança, provavelmente, voltará a realizar
comportamento textual no futuro quando ver outras palavras escritas.
A Transcrição corresponde a uma resposta escrita evocada por um
estímulo antecedente auditivo ou escrito, sob controle de reforçadores
generalizados. Quando a pessoa vê a palavra escrita e então a repete
escrevendo-a em outro local temos uma transição do tipo cópia. Já quando a
pessoa escreve a forma gráfica o estímulo auditivo que ouviu, temos uma
transcrição do tipo ditado. Podemos dizer que há correspondência ponto a ponto
em ambos os tipos, conforme explicamos anteriormente no tópico de
comportamento textual. Porém, no ditado não uma correspondência formal, pois
são estímulos de natureza física diferentes (auditivo e escrito). Já no caso da
cópia, o estímulo antecedente é escrito e a resposta escrita, porém, mesmo com
modalidades de estímulos físicos semelhantes, nem sempre há correspondência
formal, visto que as grafias podem variar, como quando vemos um texto
impresso e escrevemos com letra cursiva.

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Sendo assim a transcrição se constitui por: 1) estímulo antecedente:
verbal, escrito (cópia) ou auditivo (ditado); 2) resposta: escrita e com
correspondência ponto a ponto com o estímulo antecedente. Pode haver
correspondência formal no caso de uma cópia, mas não necessariamente; 3)
consequência: reforçadores generalizado.
A professora solicita que todos copiem a rotina da sala de aula para a
agenda. Ana abre sua agenda, olha para o quadro onde está escrita a rotina e
começa a escrever precisamente o que vê escrito no quadro. Este é um exemplo
de cópia. O estímulo antecedente é a própria anotação de sua professora.
Em um momento posterior, a professora se dá conta que esqueceu de pôr
a tarefa no quadro. Ela então pede para que os alunos abram sua agenda e
então diz a eles o que eles precisam escrever: “Livro de Matemática, página 45”.
Ana abre sua agenda e anota o que a professora lhe diz. A anotação de Ana é
um exemplo de ditado. O estímulo antecedente é a fala de sua professora.
O Intraverbal corresponde a uma resposta sob controle de um estímulo
verbal auditivo ou visual, sem correspondência ponto a ponto e nem
correspondência formal, mantido por reforço generalizado. Assim, os
componentes do intraverbal são:1) estímulo antecedente: verbal, auditivo ou
visual; 2) resposta verbal, sem correspondência formal ou ponto a ponto; 3)
consequência: reforço generalizado.
Em parquinho, estão brincando Gael e Pedro. Gael se aproxima de Pedro
e pergunta “Você assistiu Patrulha Canina”. Pedro então responde: “Eu assisti
ontem!”. A resposta verbal de Pedro tem como estímulo antecedente o
comportamento verbal vocal de Gael e é reforçada pela audiência de Gael.
Como pudemos ver neste texto, é preciso analisar a função e as
características de cada episódio verbal para conseguirmos classificá-lo nos
operantes verbais de Skinner. É sempre importante definir claramente qual
resposta estamos tentando analisar, visto que a os papéis de falante e ouvinte
podem ser alternar em diálogos e as funções variam de acordo com o
comportamento analisado.

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OPERANTE
ANTECEDENTE RESPOSTA CONSEQUENTE
VERBAL

Elemento
Operação
Resposta verbal especificado na
Motivadora
Mando que especifica resposta verbal,
afetando o
seu reforçador mediado pelo
falante;
ouvinte
Resposta verbal
Característica
descritiva da Reforço
Tato física do
propriedade física generalizado.
ambiente;
do ambiente;
Resposta verbal
verbal (auditivo sem Reforço
Intraverbal
ou visual) correspondência generalizado.
ponto a ponto
Resposta verbal
com
Resposta verbal correspondência
Reforço
Ecóico (vocal ou motora) formal (e, logo,
generalizado.
de outra pessoa ponto a ponto)
com o estímulo
antecedente.
Resposta verbal
com
correspondência Reforço
Texual Texto Escrito
ponto a ponto generalizado.
com o estímulo
antecedente.
Resposta verbal
com
correspondência
ponto a ponto
Estímulo verbal
com o estímulo Reforço
Transcrição escrito (cópia) ou
antecedente. É generalizado.
auditivo (ditado);
possível haver
correspondência
formal, no caso
de cópia.

Chiesa, M. (2006). Behaviorismo radical: a filosofia e a ciência. Brasília: Editora


Celeiro.

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Passos, M. D. L. R F. (2003). A análise funcional do comportamento verbal em
Verbal Behavior (1957) de BF Skinner. Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, 5(2), 195-213.

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