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Resumo: o presente artigo visa expor a Abstract: this article aims to explain the
fenomenologia da evidência no phenomenology of evidence in Heidegger's
pensamento de Heidegger. Toma-se como thought. It takes as a starting point and
ponto de partida e fio condutor a guideline the intentionality. Knowledge is
intencionalidade. O conhecer é um an intentional relationship, which may
relacionamento intencional que pode show various degrees of intuitive fullness.
apresentar diversos graus de plenitude The fullest degree is that of perception.
intuitiva. O grau mais pleno é o da With perception occurs the filling of the
percepção. Com o perceber se dá o empty intentions and performs the act of
preenchimento das intenções vazias e se identification: the coincidence between the
realiza o ato de identificação: a coincidência presumed and intuited. Evidence is the act
entre o presumido e o intuído. Evidência é of identification that clarifies himself. It is
o ato de identificação que se clareia a si not a feeling of a closed consciousness.
mesmo. Não é um sentimento de uma The clarification of evidence presupposes
consciência fechada em si mesma. O the open-ness of the lighting-process of
clarear da evidência pressupõe a abertura Being, in which the human being
da clareira do ser na qual o homem demora establishes dwelling as a being, which exists
como ser-no-mundo. in the mode of to-be-in-the-World.
modo como ele é apreendido, quer dizer, imagem [Bildding], eu posso conhecer algo
interpretado, consiste em se mostrar ao da sua arte, isto é, da sua arquitetura, obra
pensamento em diversos aspectos e de Niemeyer, bem como da sua arte visual,
perspectivas (HEIDEGGER, 1994a: 55). isto é, da obra de Portinari. O visado, o
Assim, por exemplo, se estou em Belo intencionado, neste ato apreensivo é o ente
Horizonte e penso no aeroporto de mesmo, no caso, o que é retratado [das
Confins, considerando os seus aspectos, Abgebildete] por meio da coisa-imagem, ou
sob diversas perspectivas, então eu realizo seja, no nosso exemplo, é a Igreja de São
um ato de simples presentificação, que é Francisco da Pampulha retratada por meio
diverso, tanto do ato de recordar, como do do livro de fotografias. Temos, então, uma
ato de imaginar o aeroporto de Confins. presentificação do ente mesmo em
Isto quer dizer: quando presentifico questão, mas não em carne e osso. Bem
alguma coisa eu estou junto desta coisa outra coisa é se vou à Pampulha e visito a
mesma. A presentificação tem o caráter do Igreja de São Francisco da Pampulha e
ser-junto-a [den Charakter des Seins bei…]; no contemplo a sua arte. A consciência
caso, do meu ser junto ao aeroporto de perceptiva de alguma coisa é, com efeito,
Confins. Estando em Belo Horizonte, bem diversa, em sua estrutura, da
tenho em mente, viso, o aeroporto de consciência da imagem. Naquela eu vejo a
Confins. E, tendo-o em mente, visando-o, coisa mesma, diretamente, em carne e osso.
estou junto a ele. Se, por exemplo, devo Nesta eu vejo o que é retratado por meio
pegar uma condução do transporte público de uma coisa-imagem. A evidência de uma
ou se devo dirigir um carro para chegar ao coisa retrata e a evidência de uma coisa
aeroporto de Confins, isto só é possível, percebida diretamente, em carne e osso,
por que, tendo-o em mente, visando-o, já têm uma pregnância intuitiva diversa.
estou junto a ele. Este pensar-em é, pois, Assim, se falo da arte da Igreja de São
mais do que um simples recordar; é, em Francisco, que está na Pampulha, apenas
visando, um estar-junto da coisa mesma por ter ouvido falar dela, ou apenas por ter
que é visada. Este ser-junto-ao-ente da visto um livro de fotografias dela, e se falo
simples presentificação apresenta, pois, o dela por ter estado lá, por tê-la tido
caráter de um estar-aberto [Offenstehen] para presente em carne e osso, este falar e
o ente em sua vigência. Neste sentido, em discorrer sobre ela tem uma plenitude
visando o aeroporto de Confins, estou intuitiva cada vez diversa (HEIDEGGER,
junto a ele, enquanto um carro estacionado 1994a: 55-57).
no aeroporto de Confins, que não o pode
visar, não (HEIDEGGER, 1987: 86-96). Em quarto lugar, vem a simples e originária
percepção [Wahrnehmung]. O que nela acontece
Em terceiro lugar, vem a presentificação que não é um presentificar [Vergegenwärtigen],
se dá na percepção de imagem [Bildwahrnehmung]. mas é, mais do que isto, um tornar
Esta apreensão, em seu grau de plenitude presente [Gegenwärtigen], um presentar
intuitiva, está a meio caminho, entre a [Präsentieren] a coisa mesma, tal como ela se
simples presentificação e a simples dá em carne e osso [leibhaftig] (HUSSERL,
percepção. Digamos que eu, estando na 1993c: 116). O intencionado do simples
Universidade, tenha em mãos um livro de perceber é a coisa mesma em sua doação
fotografias da Igreja de São Francisco, que em carne e osso. Assim, se apreendo um
está na Pampulha. Por meio desta coisa- ipê amarelo florido, o visado da minha
prova de si mesma, sabe de si mesma, sabe seu intencionar, eo ipso se clareia [erhellt]
que ela se auto-mostra, se documenta e se a si mesmo (HEIDEGGER, 1995:
legitima. A realização intencional da 108).
identificação traz consigo a mirada
intelectiva [Einblick] para dentro da auto-
mostração documentadora e comprovadora Evidência é, assim, autoclarificação e
[Ausweisung]. Esta não é algo que se cola à autocompreensão do ato de identificação,
representação vazia, mas é um modo de ou melhor, de sua captação identificadora.
sua execução, ou seja, de sua realização ou Aqui se dá, de antemão, a imediata unidade
consumação [Vollzug] (HEIDEGGER, 1995: de nóesis-e-nóema, ou seja, de intencionar
107). (ato identificador) e intencionado: o
percebido no seu caráter de idemidade, isto
A intuição não se perde na coisa intuída e é, o idêntico enquanto idêntico. O
no seu conteúdo objetivo. O conhecimento, intencionar não só visa, intenciona [meint] e
enquanto apreensão intuitiva, vive não capta [erfasst] o intencionado, mas, ao
somente junto do que ele conhece. O mesmo tempo, por si mesmo, se clareia
conhecimento vive junto de si mesmo. É, [erhellt] a si mesmo, se esclarece [klärt sich auf]
por assim, dizer, conhecimento de ser a si mesmo. E isto, operativamente, em sua
conhecimento e de ser conhecimento própria realização, execução ou consumação
correto. Sua correção [Rechtmässigkeit], [Vollzug], antes de qualquer reflexão e
porém, é o caráter de poder ser provado e tematização.
documentado a partir de uma auto-mostração
[Ausweisbarkeit] e, respectivamente, o caráter Evidência é, pois, um autoclareamento, um
de ter sido provado e documentado junto à coisa autoesclarecimento de uma intencionalidade.
[Augewiesenheit an der Sache]. A identificação, Evidente quer dizer manifesto [offenbar], notório
a prova, é uma questão de intencionalidade. [offenkundig]. Traz consigo, portanto, em
Em sua realização intencional, sem uma primeiro lugar, o sentido de abertura [offen
r e f l e x ã o p r ó p r i a , a i d e n t i f i c a ç ã o, = aberto], e, em segundo lugar, o de
respectivamente, a prova, cumpre um clareamento e esclarecimento [Aufklärung],
esclarecimento [Aufklärung] sobre si e, por fim, o de dar a conhecer [kundgeben].
mesma. Este autoesclarecimento que se dá Em latim há o verbo “evideri”, que
na realização da identificação mesma, sem podemos traduzir “deixar-se ver” [sich sehen
precisar recorrer a uma compreensão lassen]; e, em grego, há o adjetivo enargés,
reflexiva própria, pode ser chamado de que quer dizer “manifesto”, “claramente
evidência (HEIDEGGER, 1995: 107-108). visível”, mas no sentido do que está
E então vem a definição de evidência: “aparecendo de modo fulgente”. Este vem da
composição de ejn [en] mais argós: o que se dá
Evidência é o ato de identificação no modo esplendente, luzente. Da mesma raiz
[Identifizierung] que se compreende a si de argós é a palavra latina argentum (prata).
mesmo como tal; o compreender-se é dado Portanto, a experiência grega que vem à
com o ato mesmo, porque o sentido fala na palavra enargés, põe em relevo a
intencional do ato intenciona algo de significância decisiva que a luz tem para os
idêntico enquanto idêntico [etwas gregos na compreensão do ser, tomado
Selbiges als Selbiges] e, com isto, com o