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CONGRESSO DA CIDADE

Edmilson Rodrigues
Jurandir Novaes
Luiz Araújo

CONGRESSO DA CIDADE

LABOR EDITORIAL
Belém do Pará
2002
Capa:
Foto:
Coordenação Editorial: Labor Editorial
Revisão formal do texto: jornalista Marta Brasil
Revisão bibliográfica: Marly Jorge Brito
Supervisão Editorial:
Editoração:

Edição: Labor Editorial

Direitos para esta edição: Labor Editorial, Belém, Pará

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada


sem autorização expressa do autor e do editor

Rodrigues, Edmilson Brito


R696c
Congresso da Cidade / Edmilson Brito Rodrigues; Jurandir
Novaes; Raimundo Luiz da S. Araújo. - Belém: Labor Editorial,
2002.
111p.

1.Planejamento Urbano – Belém 2.Congresso da Cidade


Belém 3. Participação popular – Belém I.Novaes, Jurandir
II.Araújo, Raimundo Luiz da S. III. Título
CDU 711.4(811.5)
Agradecemos

 A todos os cidadãos de Belém pela decisão de mudar o rumo da


história de nossa cidade, a partir de 1996;
 Aos que têm participado de forma ativa desta experiência de
democracia participativa, especialmente os eleitos delegados (as)
e conselheiros (as) do Congresso da Cidade;
 Aos servidores públicos da Prefeitura de Belém pelo empenho
dedicado à concretização deste projeto, com destaque aos da
Secretaria de Gestão e Planejamento (Segep), Coordenadoria de
Relações com a Comunidade (CRC) e Administrações Regionais,
sem os quais o Congresso da Cidade não teria se transformado
nesta experiência vitoriosa de construção do Poder Popular.
Aos
Companheiros
e companheiras
do sonho socialista
componentes do primeiro
Conselho da Cidade,
pela ousadia e o protagonismo
na construção do poder popular,
através da experiência democrática
participativa congressual,
o Congresso da Cidade..
Sumário

1- À guisa de introdução

2- A cidade, uma nova cultura participativa, o poder popular

3- Acerca do próximo passo: o Congresso da Cidade

4- O futuro de Belém é o povo quem decide

5- Congresso da Cidade: concepção de planejamento para além do


orçamento participativo

6- Balanço geral da participação popular em Belém do Pará

7- Convocatória: I Congresso Geral da Cidade de Belém “Milton Santos”-


Congresso da Cidade. É assim que o povo governa

8- Resoluções do I Congresso Geral da Cidade de Belém “Milton Santos”

9- Regimento Interno do Congresso da Cidade

10 - Os autores:

Edmilson Brito Rodrigues


Jurandir Novaes
Luiz Araújo
1 - À GUISA DE INTRODUÇÃO

Em 1996 elaboramos, através de conferências e seminários temáticos, um


avançado programa de governo para a Frente Belém Popular. Ele orientaria por
quatro anos o Governo do Povo – expressão que ganhou conteúdo e fincou
profundas raízes no imaginário de nossa gente. Definimos como princípios
programáticos os seguintes: participação popular, transformação da cultura
política local, democratização do Estado e inversão de prioridades. Em síntese
dizíamos: “o Programa de Governo da Frente Belém Popular está fundamentado
na democratização da gestão pública e propõe um projeto de sociedade onde a
democracia assuma valor estratégico, um projeto que visa redefinir a relação entre
o poder público e a população, inverter prioridades e criar uma nova cultura
política”.
É bem verdade que o horizonte projetado para nossa experiência de
democracia participativa estava centrado no Orçamento Participativo (OP).
Dizíamos: “A experiência consolidada do orçamento participativo, pelo qual a
população define onde, como e quando gastar as verbas públicas, acompanhando
passo a passo os projetos por ela escolhidos, tem provado ser, em toda a história do
Brasil, a forma mais democrática e eficiente de governar. A participação popular
será uma marca de nosso governo e o principal instrumento para transformar a
cultura política local”1.
Em dezembro de 1996, já eleito prefeito, participei, em Brasília, de uma mesa
redonda composta por Patrus Ananias, Raul Pont, Cristovam Buarque e a Ângela
Guadagnin, sobre “O desafio de ser governo nas grandes e médias cidades”, no
seminário nacional organizado pela Secretaria Nacional de Assuntos Internacionais
do Partido dos Trabalhadores (PT), cujo tema era “Desafios do Governo Local: o
modo petista de governar”. Nesse evento manifestei a opinião de que o
“Orçamento Participativo é muito importante como experiência histórica. Porque a
cidade tem que ser concebida como totalidade”. Mais adiante, porém, opinei:
“Creio que devemos avançar na perspectiva do planejamento urbano com

1
Programa de Governo “Edmilson Prefeito”. – Belém : Frente Belém Popular (PT/PcdoB/PPS/PSTU/PCB),
outubro de 1996.
participação popular, o que é fundamental para a administração e para a
governabilidade.
Nesse sentido, a experiência do planejamento estratégico (situacional), que
tem sido usada no PT, nos movimentos sociais e na CUT, é uma conquista
importante. Se conseguirmos estabelecer uma ponte entre ele (planejamento
estratégico situacional) e o Orçamento Participativo podemos avançar na reflexão
da cidade como totalidade e na construção de novos valores, na consolidação de
um campo democrático-popular que possa alimentar o sonho de construção de
uma sociedade mais justa, igualitária.”2
Quatro anos passaram-se de uma rica experiência de participação popular e a
idéia de avançar na perspectiva de um “planejamento urbano com participação
popular” foi sendo amadurecida. Estava plantada a desafiadora semente do
processo que viria se constituir no Congresso da Cidade.
O programa de governo elaborado para referenciar o segundo mandato do
Governo do Povo, haja vista minha candidatura à reeleição em 2000, expressou-se
como qualitativa síntese dessa primeira experiência de governo democrático-
popular. Nossa proposta falava em continuidade mas apresentávamos à sociedade
um conteúdo programático com muito mais clareza e radicalidade estratégica.
Mais do que mudar a cultura política local, desejávamos a realização do poder
popular. De acordo com essa concepção, a construção da cidade sustentável
vincula-se ao objetivo estratégico de construção do socialismo.
Abaixo, excertos do programa:
“O Governo do Povo continuará profundamente comprometido em construir
o poder popular, contribuindo para o avanço das condições objetivas e subjetivas
em vista de uma cidade sustentável e um Estado socialmente controlado. Para
tanto, serão reforçados, aperfeiçoados e ampliados os canais de participação,
ajudando a construir esferas públicas não estatais onde a sociedade dispute e
amplie direitos. A Radicalização da Democracia será buscada na combinação da
democracia direta e da democracia representativa, avançando na produção e
disponibilização das informações com novas modalidades de diálogo ativo com
entidades e movimentos da sociedade civil organizada.
As ações visam a Universalização da Cidadania, desenvolvendo estratégias
includentes, que enfrentem o neoliberalismo, buscando efetivar políticas sociais
que ampliem ao máximo o acesso dos excluídos a uma melhor qualidade de vida e
cidadania.
A conquista de uma Belém Sustentável requer a criação de novas concepções
humanas, já que o desenvolvimento sustentável só é viável na medida em que a
sociedade seja sustentável, o que implica modificar o modelo político-econômico, a
situação sócio-ambiental, as relações culturais e religiosas, as relações humanas de
gênero, raça e etnia.
O projeto de cidade defendido representa o desafio de inverter prioridades,
com um projeto estratégico de desenvolvimento que busque a universalização da

2
RODRIGUES, Edmilson. Dilemas e Desafios. In : Palocci, Antônio et alli. Desafios do Governo Local: o
modo petista de governar. São Paulo : Editora Fundação Perseu Abramo, 1997, pp. 63-8.
cidadania e a conquista da sustentabilidade. O Governo do Povo, ao aprofundar a
experiência do povo na gestão de uma das esferas do Estado, ao contribuir no
processo social de construção de um futuro mais bonito, feliz, constitui-se num
processo histórico que irriga e fertiliza o solo do sonho, bem como a luta de
construir esse sonho de desenvolvimento e felicidade humana, o socialismo.
1. Participação Popular com controle social como princípio norteador das
ações de governo;
2. Construção de valores fundados em novas relações econômico-culturais e
sociais, na perspectiva de uma sociedade socialista;
3. Inversão de prioridades, proporcionando o acesso a cidade, de todos os
seus cidadãos e cidadãs;
4. Deve assumir um caráter anti-neoliberal em defesa da soberania nacional
e dos valores internacionalistas;
5. Fortalecimento dos movimentos e organizações populares para a
construção e afirmação do poder popular;
6. Construção de um projeto de desenvolvimento local tendo como eixo
central a qualidade de vida, articulado a uma estratégia regional e nacional;
7. Aprofundamento do processo de refundação de Belém com vistas a
consolidar a construção de uma cidade a partir de sua identidade cultural;
8. Manter e aprofundar as políticas de valorização do serviço e do servidor
público;
9. Produzir e dar acesso a informação como instrumento de democratização
do poder, da participação e do planejamento da cidade.

I. Poder de decisão nas mãos do povo: Gestão Democrática e Controle


Social

Belém, um município amazônico, com 39 ilhas e significativa área de cultura


rural, somada à complexidade de ser uma metrópole de quase 1 milhão e 500 mil
habitantes, deve manter a idéia processual de Congresso da Cidade de Belém,
como processo socialmente construído, articulado com a sociedade civil
organizada e o cidadão em geral, com um cronograma de debates consultivos,
sistemático, palco real e permanente para a cidadania refletir e contribuir com as
elaborações estratégicas sobre o município, como parte do processo de construção
social do futuro da cidade que não abdica do imediato, mas que tem o papel de
pensar a totalidade, que inclui o OP, o OP-J (Orçamento Participativo da
Juventude), como processo que envolve os diversos grupos sociais.
O mais amplo espaço de participação, de planejamento da cidade é o
Congresso da Cidade. Este espaço será ampliado ainda mais e encerra em si os
aspectos fundamentais da forma de governar. Belém a partir de 1997, ao ter
assumido o compromisso com uma gestão democrática através da implementação
de mecanismos os mais diversos, como o Orçamento Participativo; os Fóruns de
Gestores dos Equipamentos Públicos; os Comitês Ambientais; a realização de obras
de parceria com os moradores de áreas que não foram demandadas pelo
Orçamento Participativo; as Conferências Temáticas, enfim o Congresso da Cidade
possibilita a participação orientada por processos organizativos que visam o
planejar a cidade seja a partir das suas necessidades imediatas, seja por via de
projetos estruturais que articulados às intervenções mais prementes, vão forjando
um projeto para Belém que já vem se realizando em cada ação, em cada passo que
o atual governo vem dando, e que vem construindo com a sociedade a Belém do
futuro no presente, sem que este futuro seja apenas a reprodução do passado, mas
a constituição efetiva de novas relações, onde cada cidadão vá se sentindo como
um governante da cidade, decidindo o seu próprio destino.
O Congresso é este espaço do livre pensar, é o movimento que se realiza
concretamente na forma de governar orientado por alguns elementos centrais
como a afirmação da identidade cultural da cidade; a criação das condições para
que esta assuma e se aproprie dela mesma de forma autodeterminada; o
reconhecimento de suas particularidades, de suas desigualdades; a radicalização
do controle social sobre os serviços públicos e a instauração do debate sobre o
financiamento do município. Elementos estes contextualizados na cidade, na
região e no âmbito nacional e mesmo na sua relação com o mundo.
Essa nova concepção de governo requisitou a implementação de um desenho
organizacional que articulasse as instâncias administrativas aos espaços de
participação social.
O Governo do Povo não só está desenhando um novo modelo de gestão e
planejamento ágil, flexível e participativo, como também, investindo maciçamente
no provimento de uma infra-estrutura de informações que hoje situa-se como uma
das mais avançadas e inovadoras do país, merecendo prêmios nacionais e
internacionais.
Consciente de que um projeto de cidade requer um conjunto de intervenções
que referencie e seja capaz de alavancar um processo de desenvolvimento
integrado que persiga a sustentabilidade democrática, está sendo construído um
sistema gestor que articula os diferentes órgãos e instâncias decisórias em torno
dos eixos estratégicos para o desenvolvimento de Belém.
Essa articulação intersetorial vem se concretizando através de Marcas de
Governo. Representa condição fundamental para o processo de construção de um
projeto de cidade e de exercício de cidadania ativa.
Assim, foram criadas e estão sendo desenvolvidas, condições institucionais e
administrativas favoráveis à articulação interinstitucional em torno de questões
sociais mais relevantes, com potencial estruturante de políticas públicas.

Diretrizes

 Consolidar a participação popular e o controle do cidadão sobre as políticas


públicas;
 Aprofundar o Processo de descentralização Político-Administrativo,
aproximando cada vez mais governo e população;
 Consolidar, aperfeiçoando o SIPA – Sistema Integrado de Planejamento e
Acompanhamento e o SMIP – Sistema Municipal de Informações e as Marcas de
Governo como estratégia institucional, para ações cada vez mais integradas e
otimizadas;
 Produzir e socializar informações, oportunizando e facilitando o acesso a
todos os interessados, aprofundando a transparência administrativa;

Instâncias e mecanismos de gestão para o Governo do Povo

1. Conselho de Belém – Instância consultiva do Congresso de Belém,


composta por representantes da sociedade de Belém de reconhecida
legitimidade e representação social;
2. Conselho Criança - Formado pelo Prefeito e crianças com faixa etária
entre 08 e 12 anos, para reflexão das políticas públicas e da situação
das crianças na cidade de Belém;
3. Conselhos Distritais – Instâncias distritais do processo organizativo
do Congresso de Belém, com representação da sociedade civil e do
governo municipal;
4. Conferências Municipais, Fóruns e Conselhos Setoriais - Saneamento
Ambiental, Desenvolvimento Urbano e Moradia, Transporte e
Circulação, Saúde, Educação, Cultura, Mulheres, Raça e Etnia,
Juventude, Funcionalismo Público Municipal, Previdência, Turismo,
Desenvolvimento Econômico e Geração de Renda, Assistência Social;
Comunicação; Conselhos Gestores nos órgãos da administração
direta e indireta;
5. Ouvidoria Pública Municipal – Estrutura de coordenação do sistema
de percepção das demandas do público interno e externo;
6. Orçamento Participativo do Povo – Para que os cidadãos e cidadãs de
Belém continuem decidindo o presente e o futuro da cidade,
consolidando a nova cultura política, ampliando a parceria com a
sociedade civil organizada, engajando cada vez mais a população e
entidades organizadas.
7. Orçamento Participativo da Juventude – Como instância articuladora
da juventude e espaço de participação ativa dos jovens na construção
da Belém Criança.
8. Fortalecimento Político-Administrativo das Administrações
Regionais - As dimensões e complexidades do Município de Belém
apontam para o aperfeiçoamento do processo de descentralização
iniciado com os Distritos Administrativos. Esta nova etapa exige
dotá-los de capacidade administrativa para dar conta das demandas
originadas do cotidiano do povo nas suas áreas de abrangências;
9. Comissões de Fiscalização e Controle Social – COFIS –As COFIS no
Governo do Povo têm funcionado como efetivo mecanismo de
controle social. E por sua efetiva interatividade entre ação concreta de
obras físicas e a cidadania, avançarão para todos os serviços
executados pelo município;
10. Fóruns de Gestores Distritais de Equipamentos Públicos Municipais –
Compostos pelos gerentes dos equipamentos localizados nas
Administrações Regionais, têm por finalidade articular ações
integradas que viabilizem as políticas setoriais e as interfaces entre
estas;
11. Conselhos de Equipamentos Públicos Municipais – Com
representação de servidores, usuários, gerentes de equipamentos,
têm a função de fiscalizar e contribuir com o planejamento e a
melhoria da qualidade do serviço público;
12. Comitês Ambientais – Formados por moradores de ruas, quadras,
travessas, dos bairros, e nos órgãos públicos municipais, por
servidores dos mesmos, funcionam como instrumentos para a gestão
ambiental da cidade;
13. Colegiado de Gestores dos Órgãos Municipais – Será ampliada para
todos os órgãos municipais a gestão colegiada com representação de
cargos diretivos e servidores que definirão o funcionamento e gestão
interna do órgão assim como a sua relação com a sociedade.

Todas estas instâncias e mecanismos representam a ampliação, bem como o


aprimoramento, daqueles já existentes no Governo do Povo. Assim, os diversos
fóruns indicados em diferentes temas neste Programa de Governo serão
articulados pela estratégia da gestão e do planejamento da cidade.”. 3
Poder-se-á observar nos escritos que compõem este livro que as centenas de
pessoas que ajudaram a construir o programa de governo em 2000, incorporaram
a essência do processo que viria se realizar como Congresso da Cidade. O
programa avançou bastante na formulação de uma proposta de estrutura e
funcionamento do Congresso da Cidade. Isso ocorreu porque, apesar dos muitos
erros, e dos muitos vícios remanescentes da cultura autoritária hegemônica na
sociedade atual, foram ficando claros os limites do OP. Mesmo que
radicalizássemos o próprio processo de OP – como fizemos -, criando o OP da
Juventude, pondo em discussão 100% da peça orçamentária e não só o percentual
de investimentos, criando mecanismos inovadores de controle social, o OP
inviabiliza um debate estratégico mais totalizante, que articule as questões locais
com as questões inerentes ao modo de produção capitalista, especialmente nesta
fase de globalização neoliberal.
Os artigos que compõem este mosaico foram sistematizados, ora
individualmente, ora coletivamente. Expressam, em momentos distintos do último
ano, o acúmulo coletivamente construído das definições mais precisas sobre a
estrutura e o funcionamento desse modo congressual de governar – o Congresso

3
O PRÓXIMO Passo: qualidade de vida por uma Belém Criança - Diretrizes Programáticas da Frente Belém
Popular (2001/2004). Belém : Frente Belém Popular, pp. 25-30, 2000.
da Cidade. A autoria e o objetivo de cada texto serão indicados em notas de
rodapé.

Edmilson Brito Rodrigues

2 - A cidade, uma nova cultura participativa, o poder popular

Objetiva-se, com este texto, refletir criticamente sobre o novo significado da


cidade no contexto histórico atual e o papel de governos democráticos e populares
locais.
Atente-se para um fato importante à apreensão do urbano, aqui identificado
como o local: o atual estágio da história da humanidade neste início de século
coincide também com início da fase urbana da sociedade. Tem-se hoje 52% da
população mundial - aproximadamente 3 bilhões e 200 milhões de habitantes –
vivendo em cidades. A estimativa feita pela Organização das Nações Unidas
(ONU) é de que 2020 pelo menos 60% da população - mais de 5 bilhões de
habitantes para uma população mundial de aproximadamente 9 bilhões – viverão
em zonas urbanas4. O mundo é hoje, efetivamente, um mundo urbano. Em termos
globais representa o início de uma fase histórica onde torna-se cientificamente
obrigatória a análise do urbano se objetiva-se projetar luzes sobre um projeto de
futuro. Esse é certamente um dos mais importantes aspectos do novo conteúdo que
o local adquire.
No Brasil, esse demarcador - superação da população rural pela urbana - já
ocorreu há mais tempo. O censo demográfico realizado em 2000 mostra que 81,2%
da população vivem em zonas urbanas. “As regiões mais urbanizadas são a Região
Sudeste (90,5%) e a Região Centro-Oeste (86,7%). As Regiões Norte e Nordeste
mantêm as maiores proporções de população rural, 30,3% e 31,0%,
respectivamente.”. Quando se fala em reserva de recursos hídricos, em
biodiversidade, em povos da floresta, das diversas etnias e culturas indígenas, etc.,
em geral lembra-se da Amazônia que, como mostrou-se, já alcançou uma taxa de
69,7% urbanização. O Estado do Pará, um dos mais representativos da Amazônia,
tem hoje uma população urbana correspondente a 66.5%5. Significa dizer que
mesmo a Amazônia, que para muitos continua sendo vista como "terra sem
homens para homens sem terra", tem um nível de urbanização bastante alto.

Texto de Edmilson Brito Rodrigues elaborado a partir de duas palestras proferidas: a primeira durante o X
Congresso Brasileiro de Sociologia sobre o tema Ressignificação do Local: uma Nova Cultura Participativa, em
Fortaleza – Ce, no dia 06 de setembro de 2001, e a segunda como Aula Inaugural do Curso de Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional do CESUPA/IPPUR, sobre o tema.... Publicado em NOVAES, Jurandir Santos
de e RODRIGUES, Edmilson B. (orgs). Luzes da Floresta: o governo democrático e popular de Belém (1997-
2001). Belém: PMB, 2002.
4
RODRIGUES, Edmilson B. Mensagem à Câmara Municipal de Belém. Belém: PMB, 2001, p. 07.
5
IBGE. Censo Demográfico 2000: resultados preliminares. Rio de Janeiro : IBGE, 2000.
Significa dizer que, há muito, tornou-se fundamental para pensar-se num projeto
alternativo de desenvolvimento para o Brasil, pautar-se a questão urbana como
estratégica.
A cidade é espaço onde vidas humanas se realizam, onde a felicidade é
buscada, onde o sonho de uma sociedade feliz se expressa fortemente nas lutas do
povo, nas lutas de classes; onde se expressam, também, com vigor as
desigualdades sócio-espaciais e ambientais. A cidade deve ser apreendida em duas
dimensões indissociáveis: como um espaço uno e dividido. É uno porque é uma
totalidade. É dividido, porque se expressa material e imaterialmente, e porque
física e socialmente é desigual. Materialmente, tridimensionalmente, na paisagem
arquitetônica ou natural; espaço tangível. Enquanto dimensão imaterial é espaço
de relações sócio-culturais que se realizam no seu próprio espaço físico ou em
circuitos que o extrapolam mas o influenciam: relações sociais de produção,
relações políticas, artísticas, etc. Nesse sentido, cada prédio, cada praça, cada via
pavimentada, a existência ou não de um prédio escolar, de uma unidade de saúde
em determinados locais; a existência ou ausência de uma rede física de
fornecimento de água potável, são resultados de relações humanas, que no
capitalismo são relações orientadas pela lógica do lucro, e nesse sentido, estão
submetidas ao processo de produção e reprodução de desigualdades sociais. A
lógica do lucro realiza uma processo desigual e combinado de desenvolvimento do
qual a cidade é expressão local. Portanto, a cidade é ao mesmo tempo una mas
diversa. É uma esfinge que deve ser aprendida, apreendida, se pretende-se pensar
um projeto alternativo de futuro para a própria cidade, ressignificando-a para a
igualdade, a justiça e a democracia, e para toda a humanidade.
Mas a cidade não é uma "ilha", que possa ser isolada, apartada, da estrutura
social na qual está inserida, submetida, no caso, o modo de produção capitalista.
As cidades são diferentes umas das outras, elas têm especificidades, características
tanto físicas quanto culturais peculiares; o tipo de paisagem natural, as formas de
relação do homem com o meio natural onde vive, as formas urbanas construídas,
um conjunto de valores e manifestações culturais, inclusive a maior ou menor
tradição de organização política, experiências de lutas entre as classes, maior ou
menor consciência de direitos, dão feições próprias a cada cidade. Ao mesmo
tempo, a cidade é palco privilegiado para a percepção da sociedade como
totalidade; o grau de internacionalização da economia e seus setores hegemônicos,
a dinâmica das transformações científicas, tecnológicas e das linguagens artísticas,
as representações do poder político, etc. As peculiaridades de cada local, em
constante processo de ressignificação, são evocações de uma história e uma
dinâmica cultural próprias. Essas identidades locais estão subsumidas
dialeticamente a estruturas regionais, nacionais e internacionais, o que lhes
inserem numa esfera cosmopolita. Nesse sentido, ainda que estejamos num mesmo
país; ainda que esse seja dependente econômica, política, cultural e
tecnologicamente; ainda que esteja submetido a lógica global de dominação
capitalista, a cidade nem por isso deixa de ser um espaço fundamental para o
exercício, a prática, o experimento, da possibilidade da construção de um futuro
diferente6.
Então, as forças do campo democrático e popular têm o dever de pensar um
projeto estratégico alternativo ao modelo liberal de sociedade. Atualmente, as
cidades são vítimas do “neoliberalismo” - padrão de acumulação capitalista que,
para realizar a acumulação ampliada, reduz o papel do estado, destrói políticas
públicas garantidoras de direitos sociais, suprime direitos conquistados ao longo
de décadas de lutas populares, destrói soberania nacional, fragiliza valores
culturais alternativos como os laços de fraternidade entre indivíduos e povos, o
internacionalismo solidário, impondo a cultura individualista, o egoísmo, afinados
com a lógica da apropriação privada, cada vez mais concentradora da riqueza
socialmente produzida, pela “minoria próspera” as custas do aumento da massa
humana socialmente excluída, a “maioria inquieta”.
Os valores culturais que se realizam como hegemônicos interferem na vida
humana no espaço urbano, na cidade. Os valores culturais de uma sociedade são
determinantes na/da cidade, sua materialidade e sua capacidade de manter ou
construir formas de superação das desigualdades sociais. No momento histórico
presente, as forças políticas críticas ao neoliberalismo, independentemente de
terem ou não compromisso estratégico com a superação do capitalismo, o que
devem fazer quando se concretiza a possibilidade de assumir um governo local?
Quais as possibilidades e limites das forças do campo democrático e popular,
ao assumirem a máquina estatal, um aparato institucional jurídico-político
submetido à lógica da sociedade de mercado, para contribuírem com mudanças
reais e não apenas cosméticas no espaço da cidade? Sabe-se que não se consegue
superar com políticas de âmbito local problemas estruturais; que a macro-política
econômica, causadora do desemprego, do aumento de mazelas como a
mortalidade infantil, o analfabetismo, as diversas formas de violência têm
determinantes que extrapolam o poder local. Logo, o que fazer quando se têm
condições de conquistar o governo e a consciência de que não se pode realizar no
espaço urbano de uma cidade particular o sonho de uma sociedade justa,
democrática, solidária e feliz? Deve-se ousar ocupar esse espaço, com a consciência
de que se não se faz socialismo a partir de um governo local, através desse as
camadas populares podem experimentar novas formas de direção política do
aparelho estatal, na perspectiva de realização de projeto transformador.7

6
Sobre concepção de cidade, entre outras referências, merecem destaque três obras de LEFEBVRE, Henri: A
Cidade do Capital. Rio de Janeiro : DP&A, 1999. (onde o autor recupera as contribuições teóricas de K. Marx e
F. Engels sobre a cidade); A Revolução Urbana. Belo Horizonte : Ed. UFMG, 1999 e O Direito à Cidade. São
Paulo : Editora Moraes, 1991; LEITE, Maria Angela Faggin Pereira. Uma história de Movimentos, In.: SANTOS,
Milton e SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro:
Record, 2001, pp. 433-446 e RODRIGUES, Edmilson. Aventura Urbana: trabalho, meio ambiente e qualidade de
vida em Belém. Belém : NAEA-UFPa., 1996.
7
Ver RODRIGUES, Edmilson Brito. Modos Petistas de Governar. In.: BARRETO, L., MAGALHÃES, I.,
TREVAS, V. (Orgs.) Governo e Cidadania: balanço e reflexão sobre o modo petista de governar. São Paulo : Ed.
Perseu Abramo, 1999.
A experiência política e organizativa de um governo popular local deve se
expressar como prática social inovadora, revolucionária. A capacidade de manter
viva a esperança, vivo o sonho da libertação humana, de uma sociedade feliz,
antagônica a sociedade atual produtora da barbárie. Um governo de caráter
democrático e popular, compromissado com o objetivo da transformação da
realidade social, deve colocar as dimensões cultural e política como centrais e
estratégicas, porque quando não se muda valores, não se muda nada!
As forças conservadoras, ao longo de séculos, têm governado os Municípios,
as Unidades Federativas, e a Federação Brasileira. Têm permanecido hegemônicos
nos aparatos estatais. E, a despeito de longos períodos de ditadura formal, a
hegemonia hoje é legitimada pelo voto popular, em geral corruptamente obtido
devido a farsa da democracia burguesa. Desse modo, pode-se questionar os
mandatários do poder político, mas eles vão continuar podendo dizer:
“governamos desse jeito porque temos legitimidade popular, porque o estado de
direito, 'a democracia', autoriza-nos a assim proceder, em nome do povo que nos
elegeu". A total apartação entre os interesses dos "representantes do povo" (a
maioria dos mandatários) e os do povo (a maioria, formada pelos que vivem-do-
próprio-trabalho) tem sido justificada por essa "democracia" que se resume na
realização de eleições de quatro em quatro anos. Quais as causas da manutenção
dessa velha hegemonia? Fundamentalmente, encontram-se no campo dos valores
culturais hoje hegemônicos.
A produção social de uma nova cultura política, onde o povo desempenhe o
papel de protagonista, deve ser um objetivo central de governos que têm
compromisso com a transformação social: a desconstrução de valores enraizados
no egoísmo, no individualismo e a construção de novos valores baseados no ideal
de um mundo novo, de relações novas entre homens e mulheres que se expressem
na associação democrática e livre, na solidariedade, na fraternidade, no amor.
Só o povo pode ser sujeito, protagonista, das transformações sociais. A
concepção espontaneísta que tenta convencer de que os governos devem assumir
uma postura de neutralidade política, é hipócrita. Nenhum governo é neutro!
Como não é neutro quem vê uma criança sendo violentada e cruza os braços, não
denuncia o agressor, não tenta evitar a continuidade do estado de violência. Ainda
que indiretamente, estaria também protagonizando a violência. Uma postura que
se pretenda neutra contribui concretamente, para a manutenção do “status quo”
social. Como conciliar a contradição de tanto o povo quanto o governo serem
protagonistas das transformações sociais? Como não transigir do princípio da
autonomia popular em relação ao governo sem negar a este o direito de, através
do aparelho do estado, contribuir para a realização de um projeto de futuro
representativo dos interesses populares? A construção social de uma esfera pública
não estatal de planejamento e de controle social do estado pode representar um
mecanismo político privilegiado para contribuir com a mudança da cultura
política permeada por valores burgueses e com o processo de acúmulo de forças
para as transformações estruturais necessárias para tornar possível o sonho de um
mundo novo. Uma esfera pública não estatal que respeite a autonomia da parcela
da população tida como organizada, sociologicamente falando, e daquela parcela
significativa que é tida como desorganizada, mas que nas reuniões de vizinhos,
nos rituais de umbanda, nos encontros de casais cristãos, nos trabalhos dos grupos
artísticos, nos mutirões comunitários, outras formas de resistência cultural e de
lutas pelo direito a condições dignas de vida, mesmo ao largo das entidades ou
movimentos sociais institucionalizados, participam como protagonistas da história.
A experiência do “Congresso da Cidade” 8 - planejamento socialmente
construído - tem, através da criação de espaços de debates estratégicos, decisão
política e controle popular das ações do governo e de todo o aparelho de estado,
principalmente na esfera municipal, ajudado na construção de uma esfera pública
autônoma em relação ao estado, porém sugerida, incentivada e financiada pelo
governo municipal.
O Congresso da Cidade, experimentado mais radicalmente em Belém em
2001, incorporou o acúmulo dos 4 anos de Orçamento Participativo do primeiro
mandato do Governo do Povo (1997-2000) que bebeu na fonte de Porto Alegre,
Belo Horizonte e outras experiências democráticas e populares de governo.
Incorporou, também, a tradição participativa e organizativa de algumas categorias
profissionais ou setores como: saúde, educação, assistência social; dos Conselhos
Municipais, os já tradicionais (Condição Feminina, Educação, Saúde, etc.) ou os
recentemente criados (Negros, Transportes, Turismo, Assistência Social, etc.). Vale
observar que alguns conselhos vem sendo redefinidos, a exemplo do de educação
que cumpria um papel estritamente burocrático e do próprio Conselho Municipal
de Saúde que, passaram a protagonizar políticas públicas e aperfeiçoar as
experiências de controle social. Os acúmulos obtidos com a juventude através do
Orçamento Participativo da Juventude (OPJ), o papel central desenvolvido pelo
Conselho do Orçamento Participativo (COP) e a inovadora experiência da
formação dos Conselhos de Acompanhamento e Fiscalização das obras do OP
(COFIS), enfim, esse conjunto de formas de participação e controle social foram

8
A idéia de Congresso da Cidade, como espaço permanente de participação popular no planejamento e de
execução socialmente controlada do plano definido nesse exercício de democracia participativa, surgiu por
avaliar-se como insuficientes outros instrumentos de gestão democrática participativa. Reconhece-se, por
exemplo, a importância da adoção de métodos de planejamento restritos aos membros do governo, a fim de
compatibilizar a construção dos objetivos estratégicos com a construção social cotidiana do governo. O
Planejamento para a Ação Estratégica (PAE), proposto e adotado por Luiz Sérgio Gomes da Silva, tem
contribuído para uma ação integrada e imprescindível para a apropriação, pelos membros do Governo do
Povo, dos mecanismos institucionais de administração; tem possibilitado a elaboração de estratégias para a
ação de governo a fim de qualificar a interlocução entre este e a sociedade e, por conseqüência, o próprio
processo de decisão popular sobre o plano para a cidade. O PAE tem servido de contra-ponto importante para
mediação junto aos processos autônomos de participação popular.
Concordando com Carlos Vainer (VAINER, Carlos B. Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre a estratégia
discursiva do Planejamento Estratégico Urbano. In.: ARANTES, O. MARICATO, E. e VAINER, C. B. A
Cidade do Pensamento Único: desmanchando consensos. Rio de Janeiro : Vozes, 2000), para governos
comprometidos “com alternativas capazes de oferecer outros valores e projetos ideais de cidade” o
Planejamento Estratégico Urbano que tem Borja e Castells como ideólogos não servem de modelo alternativo
ao “padrão tecnocrático-centralizado-autoritário de planejamento. Constata-se enormes limitações à
construção do poder popular, também, na experiência de planejamento participativo centrado exclusivamente
na elaboração do orçamento da cidade - o Orçamento Participativo (OP); dessa forma, o Congresso da Cidade
pretende significar um passo além do O P, uma negação dialética: ao negá-lo, apropria-se de suas
positividades e supera-o qualitativamente.
reunidos num único processo, o Congresso da Cidade, para entre outros objetivos,
avançar na construção de uma nova cultura política contra-hegemônica aos
valores e ideologia dominantes.
Quando se governa com um horizonte centrado apenas na realização de
reformas da sociedade atual, ainda que radicais, acaba-se por reproduzir uma
cultura meramente administrativa dos problemas locais. Nesse sentido pode-se
mostrar competência na administração da crise, mas pouco se contribuirá para dar
ao espaço local o significado de palco privilegiado da luta do povo por conquistas
a serem obtidas no nível local e, especialmente, por transformações da estrutura
social brasileira e internacional, a fim de garantir conquistas estruturantes de um
projeto de futuro democrático, justo, igualitário e feliz.
A busca de mudanças da cultura política, na perspectiva da transformação
radical do modo de produção, da construção de uma sociedade socialista como
valor estratégico, é o que medeia os processos de participação que possam resultar
na construção de espaços públicos não estatais, da consciência de direitos e a
conquista do exercício do Direitos à Cidade, à cidadania cultural, que possibilitem
ao povo a condição de sujeitos do planejamento do futuro, do controle do Estado;
que lhe permita apropriar-se do patrimônio da cidade, firmando a construção do
poder popular.

3 - Acerca do próximo passo: o Congresso da Cidade 


Texto de Luiz Araújo, elaborado como contribuição aos debates sobre o modo de realizar o segundo mandato
do Governo do Povo em Belém (Frente Belém Popular), especialmente o desafio de gerir a metrópole através
de um processo congressual permanente, programaticamente denominado de Congresso da Cidade, em
dezembro de 2000. A fim de adequá-lo a esta publicação, fez-se algumas poucas reformulações no texto
original.
Este texto, apresentado sinteticamente em treze (13) pontos, visa contribuir
com o debate sobre concepção de governo para o segundo mandato democrático e
popular em Belém, assim como sistematizar diretrizes e prioridades de ação para o
próximo período. Para sua elaboração levou-se em consideração os escritos do
companheiro Edmilson Rodrigues sobre os modos petistas de governar, as
contribuições de Carlos Vainer sobre cidades, planejamento e papel das prefeituras
de esquerda no capitalismo, no acúmulo apresentado no Programa de Governo da
Frente Belém Popular para o período 2001-2004 e nos debates realizados durante
os quatro anos do primeiro mandato.
1. É necessário partir da constatação de que estamos tratando de um governo
municipal, numa cidade periférica, parte de um país capitalista também periférico.
Isso determina os limites das conquistas materiais que o movimento social é capaz
de arrancar, pois somente mudanças estruturais profundas serão capazes de
reverter o quadro de desigualdades e de miséria social;
2. Ao mesmo tempo em que afirmamos os limites, devemos trabalhar com
uma visão de que a Cidade não é apenas reflexo da sociedade. Ela produz
riquezas, produz e reproduz relações econômicas, políticas e culturais. Ela reflete a
estrutura social, mas, ao mesmo tempo, pode alavancar dinâmicas que acabem por
definir esta estrutura. Há, portanto, um espaço de luta contra a desigualdade que
pode e deve ser travado, como parte de um processo político de lutas estratégicas,
na esfera local;
3. A construção do poder popular se realiza através da afirmação de uma
concepção antagônica à lógica capitalista. Por isso, a “desconstrução do arcabouço
de valores burgueses e a constituição de uma nova e alternativa tessitura de
valores culturais são aspectos que dão significado para uma administração
popular”9. Esta desconstrução deve se orientar em elementos estratégicos, tais
como, a defesa intransigente da soberania nacional, pois um governo do PT deve
ser instrumento de luta antineoliberal, haja vista que a globalização neoliberal só
reconhece a soberania do capital; a radicalização democrática, “como necessidade
e possibilidade do povo experimentar o aprofundamento de formas de controle
social do Estado no bojo do processo de luta de classes e do acúmulo de forças
necessários à ruptura como o capitalismo”10 e, a elevação das condições matérias e
culturais de vida do povo;
4. A concepção expressa pelo companheiro Edmilson é concordante com a
noção de “revolução urbana” defendida por Carlos Vainer, para quem os objetivos
de um governo popular devem ser a redução das desigualdades e melhoria das
condições (materiais e imateriais) de vida das classes trabalhadoras, a constituição
de sujeitos políticos coletivos expressando os interesses das classes e grupos sociais
explorados e oprimidos e, finalmente, o enfraquecimento dos grupos e coalizões
dominantes;

9
RODRIGUES, Edmilson. Modos Petistas de Governar. In : BARRETO, L., MAGALHÃES, I. TREVAS, V.
(orgs.) Governo e Cidadania: balanço e reflexão sobre o modo petista de governar. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 1999. p. 29.
10
Idem, p. 32.
5. Só é possível levar adiante uma expressiva transferência de recursos
públicos para a melhoria das condições de vida da população, caso exista
organização e luta dos trabalhadores, senão o governo ficará refém da burocracia,
da rotina administrativa e sua dispersão de recursos e, o que é pior mesmo em
governos de esquerda, ficará à mercê do jogo de pressões dos grupos econômicos.
Por outro lado, dificilmente iremos avançar de maneira efetiva no engajamento
político das camadas populares, sem que estes processos, de uma forma ou de
outra, sejam traduzidos em conquistas reais, perceptíveis e valoradas
positivamente pelos explorados. Estes dois processos combinados levam ao
enfraquecimento do clientelismo e, portanto, enfraquecem o poder de fogo e
convencimento das elites;
6. O elemento constitutivo de um acordo partidário sobre a concepção de
governo deve ser o Programa de Governo, elaborado com a participação de
inúmeros setores partidários. Nos seus princípios programáticos está dito que o
segundo mandato do governo do povo “continuará profundamente comprometido
em construir o poder popular contribuindo para o avanço das condições objetivas
e subjetivas em vista de uma cidade saudável e um Estado socialmente
controlado”11 Felizmente o documento esclarece a compreensão de
desenvolvimento sustentável, o qual só é possível com a modificação do modelo
político-econômico, da situação sócio-ambiental e de alterações nas relações
culturais, religiosas e humanas;
7. É diante deste cenário que são desenvolvidas no decorrer do programa as
prioridades de governo, as quais devem viabilizar a inversão de prioridades, um
projeto estratégico de desenvolvimento e a universalização da cidadania, assim
como buscar a sustentabilidade. E é colocado como vetor principal da ação
governamental a participação popular com controle social;
8. Deve-se tomar cuidado com a visão de que a cidade por si só basta, que a
globalização levaria a destruição dos Estados Nacionais e o único espaço de
realização de transformações seriam as cidades. Derivado desta compreensão
devemos estar atentos para o debate acerca dos limites de um desenvolvimento
planejado a partir de uma cidade periférica como Belém, pois apostamos nisso
como elemento de disputa, a fim de criar dinâmicas que questionem a ordem
vigente e não como possibilidade de realização apartada de mudanças estruturais
em nossa sociedade, perspectiva que já foi abandonada por parte da esquerda;
9. Merece atenção especial o debate sobre participação popular e controle
social. Isso se justifica pelo fato da participação popular ser decisiva para a
constituição de sujeitos coletivos, mas também por que as eleições mostraram que
é necessário avançar muitos mais na transformação do cotidiano das camadas
urbanas empobrecidas, as quais continuam sendo alvo fácil do clientelismo das
elites e da perpetuação de relações patrimonialistas e populistas. Tanto quanto as
relações de trabalho, as atitudes, comportamentos e práticas do cotidiano
diferenciam os grupos e classes sociais na cidade. “São os pobres, mais que os

11
O PRÓXIMO Passo: qualidade de vida por uma Belém Criança - Diretrizes Programáticas da Frente Belém
Popular (2001/2004). Belém : Frente Belém Popular, 2000. p. 25
ricos, que dependem dos serviços públicos para um conjunto de necessidades (...)
Os formuladores de política raramente conseguem conceber o suplício que
significa depender desses serviços”12, mesmo que seja justo advertir que a privação
de acesso a bens materiais também seja a destituição do sentido e do significado do
que seja a opressão e a própria destituição;
10. Deve-se buscar democratizar profundamente o conjunto dos serviços
públicos, colocando-os sob o controle social, através da mobilização e organização
local da população que utiliza o serviço e, através da conscientização, mobilização
e valorização do servidor. “Não se trata de simples descentralização ou
desconcentração administrativas, mas de uma nova concepção de governo,
fundada na convicção de que o povo mobilizado e consciente, estruturado em
organizações de base, pode assumir diretamente, em primeira pessoa, o governo
de sua cidade”13.
11. É neste contexto que se deve realizar um ajuste da máquina
administrativa às diretrizes programáticas. Para isso deve-se: a) assegurar que a
máquina esteja, cada vez mais, moldada pelas pressões, demandas e decisões dos
fóruns deliberativos de base, ou seja, sob controle da sociedade mobilizada b)
assegurar que esta máquina atue na direção dos objetivos prioritários expressos no
programa de governo, atendendo às diretrizes gerais emanadas do próprio
governo e às orientações oriundas do processo de autogoverno;
12. O programa de governo enumera uma série de instâncias e mecanismos
de gestão, todos como partes constitutivas de uma nova forma de governar,
denominada de Congresso da Cidade, reafirmando a necessidade de resgate da
identidade cultural e da radicalização do controle social sobre o estado e os
serviços públicos. Destaca o papel importante nesta estratégia da definição de
marcas (horizontes) de governo a serem perseguidas pela ação concreta. Destaca
como diretrizes da gestão, além do controle social já enunciado, o processo de
descentralização político-administrativo e o aprofundamento dos mecanismos de
informação;
13. Muitas questões ficaram sem resolução na formulação do programa de
governo e devem ser aprofundadas à luz das diretrizes e das reflexões aqui
apresentadas. Dentre elas merecem destaque:
13.1 Visando aprofundar o autogoverno, ou seja, o poder de decisão nas mãos
dos cidadãos, como ficará a relação entre o Conselho da Cidade e o acúmulo
experimentado pelo Orçamento Participativo (OP)? Precisa-se inserir essa
experiência, o OP como parte constitutiva do Congresso da Cidade (modo novo de
governar), evitando serem partes conflitantes. Como já se disse, materializar obras
e serviços é essencial para elevar a organização popular, mas queremos transpor os
limites orçamentários e ter uma estrutura de participação que contemple a
discussão do orçamento, mas também o controle social do serviço, o planejamento

12
VAINER, B. Carlos. Além do Orçamento Participativo: algumas teses sobre governo local e reconfiguração
das relações de poder local. Rio de Janeiro, 2000. p.20. (mimeo).
13
Idem, p. 25.
de ações estratégicas que enfrentem a lógica excludente de cidade, assim por
diante;
13.2 Neste sentido é necessário definir um organograma integrando as várias
esferas de participação, inclusive reservando papel de destaque para os fóruns e
conferências de políticas setoriais e seus respectivos Conselhos, hoje atomizados e
apartados do processo de decisões estratégicas;
13.3 Devemos realizar a descentralização dos serviços, tendo como norte o
controle popular destes serviços, os conselhos distritais como prioridade e não
apenas o repasse de serviços e a duplicação de estruturas administrativas. As
administrações distritais e seus conselhos devem estar afinados com a lógica de
participação popular e com as diretrizes das marcas de governo. Descentralizar as
decisões, mas unificar a ação política a partir de um único projeto pactuado dentro
do governo e com movimento social e,
13.4 Redesenhar a atual estrutura administrativa para se tornar compatível
com as marcas de governo, com o necessário monitoramento das ações e com a
descentralização administrativa. Menos estruturas pulverizadas, ou seja, menos
burocracia e mais poder de decisão nas mãos do povo e agilidade na execução de
suas demandas.
Por fim, deve-se orientar as decisões pelas concepções aqui expostas,
procurando priorizar as posições que melhor viabilizem as diretrizes propostas.

4 - O futuro de Belém é o povo quem decide

Planejar é preciso.
O primeiro mandato do governo popular em Belém, enriqueceu muito o
debate sobre participação popular, colocando em prática, de forma radicalizada,
diversas experiências de participação política, que podem ser organizadas em três
vertentes:
a) O Orçamento Participativo (OP), que teve a capacidade de trazer para a
política moradores da periferia que nunca tinham sonhado em decidir os destinos


Este texto balizou duas palestras de Edmilson Brito Rodrigues, no 1 o Fórum Social Mundial em janeiro de
2001 no município de Porto Alegre – RS; na plenária para a constituição da “Rede de Planejadores pela
Igualdade, a Justiça e a Democracia” e na oficina sobre Democracia Participativa: "Experiências sobre
Funcionamento do Orçamento Participativo em Belém e Porto Alegre". Foi redigido em colaboração com
Jurandir Santos de Novaes e Luiz Araújo. Posteriormente, com alterações pontuais resultantes de comissão
composta por Jurandir, Luiz Araújo e Carlos Matos (Administrador do Distrito da Sacramenta), orientou os
debates no Comitê Executivo do Plano de Governo, definindo o fundamental da estrutura e funcionamento do
Congresso da Cidade para 2001 em Belém.
da utilização dos recursos públicos. Experimentou formas de participação direta
dos cidadãos, exercitando um controle direto sobre os delegados eleitos. Inovou a
experiência da esquerda ao criar as plenárias temáticas, a eleição direta para
conselheiros, o OP da juventude e a COFIS. A tentativa de elevar o horizonte do
cidadão para além de sua rua, de suas necessidades prementes, buscando debater a
dívida social, mas também um sonho de cidade, introduzindo o debate de obras
estruturais, se inscreve entre as virtudes desta vertente de participação;
b) Os fóruns de debate sobre políticas públicas realizados nas formas de
inúmeras Conferências, Seminários, Colóquios, etc., os quais conseguiram reunir
principalmente a chamada sociedade civil, ou seja, o conjunto de organizações não
governamentais, sindicais, populares ou acadêmicas. Esta vertente se materializou
num conjunto de resoluções políticas e na constituição de conselhos e outros
espaços setoriais e/ou temáticos;
c) As experiências de controle social e co-gestão constituem a terceira vertente
de participação. Neste grupo estão a criação das Comissões de Fiscalização e
Controle Social (COFIS) vinculadas ao OP, a revitalização dos Conselhos Escolares,
os Conselhos Gestores nas Unidades de Saúde, os Comitês Ambientais, dentre
outras formas de controle da prestação do serviço público; inscrevem-se ainda
iniciativas como condomínios participativos, associações e as obras de parcerias
como estratégias de relação direta de parcelas da cidade com o governo;
Apesar destes avanços, estas três vertentes não se desenvolveram com a
necessária relação entre si e caminharam por vezes separado, excetuando-se no
caso das Comissões de Fiscalização de Obras - COFIS, um mecanismo de controle
intrínseco ao OP e os Comitês Ambientais do Congresso da Cidade, que em
alguma medida se relacionou com o próprio OP. O OP debateu e deliberou sobre o
Orçamento (forma de viabilizar obras e políticas públicas), mas não travou um
debate mais profundo sobre as políticas públicas e o desenvolvimento da cidade de
forma integral. Ao mesmo tempo, as conferências deliberaram sobre políticas sem
debater o Orçamento, embora apontassem diretrizes e por vezes ações com
implicações diretas sobre o orçamento municipal.
O OP é um marco na história da cidade, foram mais de 200 mil pessoas
participando diretamente, no entanto as diversas vertentes foram se multiplicando
quantitativamente e qualitativamente. Esta desconexão portanto, reforçou os
limites de cada vertente de participação. Há necessidade, entretanto, de envolver
todos no pensar a cidade de maneira integral, todos os que participam de
processos organizativos, seja por meio de representação ou por participação direta,
o que tem sido a ênfase e a única via para participar por exemplo do OP; de
proporcionar ao cidadão uma apropriação da cidade como um todo, ampliando o
seu olhar, mesmo quando partir do que lhe é específico (sua rua por exemplo)
conquistando-o para o debate sobre os problemas e soluções para a cidade inteira.
Esse é o maior desafio do segundo mandato do Governo do Povo, ao radicalizar e
ampliar o exercício do poder popular.

A tarefa é construir o Congresso da Cidade.


O modo de governar com participação popular e controle social,
implementado em Belém foi denominado de Congresso da Cidade. Portanto, este
novo instrumento de participação popular não é apenas um evento ou mesmo uma
instância de decisão, é um processo de mobilização social, de mudança cultural,
onde a vida da cidade passa a ser decidida pelo seu povo. Uma nova concepção de
governo, fundada na convicção de que o povo mobilizado e consciente,
estruturado em organizações de base, pode assumir diretamente, em primeira
pessoa, o governo de sua cidade. Como um movimento, um processo permanente,
uma forma de governar, o Congresso da Cidade proporciona uma reflexão
politizada, crítica, propositiva e o alcance de um novo patamar na relação entre
governo e sociedade, pois: " ... a consciência político-cultural também se
transforma na medida em que há trabalho, no campo das idéias, resultante do
envolvimento do povo em processos de participação, mediante experiências de co-
gestão, no controle pela sociedade das ações do governo..."14.
O Congresso da Cidade se constitui em um espaço público não estatal de
planejamento. Antes de 1997, o planejamento da cidade era feito por alguns poucos
técnicos e influenciado por interesses de uma minoria que dirigia a cidade em
detrimento da parcela majoritária da população, que jamais havia participado de
processos decisórios sobre o destino da cidade, na relação com o governo. No
Governo do Povo, onde o povo é chamado a decidir os seus destinos, o
planejamento é construído pelos cidadãos. Apesar de ser uma proposta
apresentada pelo Governo, o Congresso da Cidade não é governamental, é uma
esfera de poder hegemonizada pelos sujeitos sociais concretos interessados em
transformar a cidade de Belém num espaço de resistência à lógica da exclusão
social vigente, pois ao nosso ver, um bom governo não deve apenas provar que é
um bom administrador, e ao implementar uma forma de governar, esta deve ser:
"...uma luta coletiva na qual o próprio governo assume, necessariamente, o caráter
de instrumento político de construção do poder popular". 15
A experiência do Orçamento Participativo nestes últimos quatro anos
mostrou que é plenamente possível a construção de um governo popular que se
referencie num planejamento fruto da participação, do poder de decisão e da
vontade de milhares de cidadãos. O que está sendo proposto é a superação dos
limites do OP no que se refere ao debate apenas do orçamento municipal,
alargando os horizontes de discussão, incorporando a sociedade civil organizada,
as instâncias de controle social num único processo, ao mesmo tempo mais rico e
profundamente revolucionário e inovador.
O alicerce sobre o qual esta experiência de Congresso - idéia já lançada
publicamente no final de 98, e que desde então vem se configurando como
alternativa - se assenta é o OP, por ser a experiência de participação democrática
mais consolidada e por ter no seu funcionamento a virtude de trazer para a vida
política milhares de cidadãos não alcançados pelas formas tradicionais de

14
RODRIGUES, Edmilson. Op Cit.
15
RODRIGUES, Edmilson. Op Cit.
organização social. O que se propõe aqui é a fusão das três vertentes apresentadas
acima, tendo como principal sustentáculo o Orçamento Participativo.
Uma questão extremamente relevante é que a proposta pressupõe que sejam
fundidas as atuais estruturas existentes de participação popular numa único
sistema de funcionamento, preservando toda a riqueza que cada experiência
encerra e completamente aberta para novas experiências e iniciativas, sejam elas
parte ou não da estrutura neste momento. Porém, a cada uma delas se faz
necessário superar os seus limites e ampliar o seu alcance rumo à construção do
poder popular.

Uma nova proposta

4.1. Instâncias do Congresso da Cidade


Embora faça parte dos compromissos programáticos do segundo mandato do
Governo do Povo, a proposta aqui apresentada está aberta ao debate com os
diversos grupos sociais posicionados na cidade e com cidadãos que em geral
organizam-se em grupos, muitas vezes não reconhecidos por não se constituírem
em mediadores clássicos. Será estabelecido um canal privilegiado de diálogo com
aqueles atores sociais que constituem a base que sustenta o projeto transformador
ora implementado. Serão realizados debates com o Conselho do Orçamento
Participativo (COP); com os Conselhos Setoriais e Temáticos, com os delegados das
diversas conferências e fóruns temáticos, com as entidades estudantis, populares,
sindicais, empresariais, religiosas, universidades, com grupos de jovens, índios,
enfim um conjunto de atores que podem contribuir com essa nova organização e
conteúdo que agora se enriquece. Será ampliado o alcance do debate sobre temas já
iniciados como por exemplo, Centro Histórico, a arte da grafitagem, a constituição
de condomínios participativos e associações, dentre outras situações sociais
identificadas na cidade.
Esta proposta é um chamado que o governo faz, e é, ao mesmo tempo, uma
escuta por parte de um governo democrático e popular. A configuração final será
fruto desse rico diálogo.
Entretanto, como já foi mencionado, em quatro anos muito se acumulou na
direção de colocar nas mãos do povo o poder de decisão, por isso se apresenta uma
organização básica:
1. Congresso de Belém – Instância máxima com recorrência a cada dois anos,
sendo fruto da participação de milhares de cidadãos, seja decorrente da
apresentação de demandas localizadas em assembléias de micro-regiões,
seja através de conferências deliberativas, seja através de representação dos
diversos espaços de controle social, ou ainda, cidadãos que mesmo não
tendo se envolvido diretamente no processo desejem participar e contribuir
na definição de diretrizes e metas para a cidade. É portanto, uma instância
deliberativa das diretrizes e metas do planejamento da cidade, cabendo
debater os grandes temas acerca do desenvolvimento da cidade. Debaterá
também sobre obras estruturais e políticas públicas fundamentais para a
inversão de prioridades. Seus delegados serão eleitos de diversas formas,
numa combinação entre o voto direto do cidadão no seu representante com
a representação das entidades presentes nas conferências e fóruns. Poderá
ser precedido de inúmeros espaços de debate não necessariamente
deliberativos, mas que sejam considerados relevantes para atrair
segmentos sociais para o projeto de cidade e/ou para acumular as
formulações e soluções para problemas urbanos, como exemplo um
Colóquio sobre o Centro Histórico, debate sobre a influência indígena na
formação da cidade e da região, sobre negros, deficientes, blocos
carnavalescos, mulheres, grafiteiros, cabanagem, enfim uma diversidade
de temas relacionados à identidade política e social da cidade, nem sempre
representados em entidades gerais organizadas da sociedade civil como
mediadores. Pode-se mobilizar ainda através de campanha como de
erradicação do analfabetismo ou jornadas de esporte, enfim diversas
iniciativas que possibilitem a cidade se desnudar e se reconhecer como a
protagonista da sua história e o governo um recurso para que esta passe a
exercer o seu próprio controle.

2. Conselho de Belém – Instância deliberativa sobre os recursos financeiros


do município, de funcionamento mais permanente, composta de maneira
correspondente ao Congresso que elege seus representantes. É uma redefinição e
ampliação do atual Conselho do Orçamento Participativo - COP, alargando o
universo de sua representação social. Tem como tarefa acompanhar a
materialização das diretrizes aprovadas no Congresso de Belém, coordenar o
processo de elaboração de demandas de investimentos oriundas da população,
bem como de elaboração do Orçamento Público, estimulando o controle social
sobre os serviços públicos e comandando as conferências setoriais; deve assumir
posicionamento político sobre fatos que interferem na vida da cidade.
3. Congressos Distritais e Congressos Temáticos – São instâncias de
aprofundamento do debate de diretrizes e formulação de propostas e demandas;
representam a ampliação das Plenárias Temáticas do OP.
4. Assembléias de micro-regiões - Precedendo os congressos distritais,
manteremos a participação direta do cidadão e a apresentação de demandas
localizadas por região, nos moldes de como hoje é feito no atual OP; terão como
orientadores, as diretrizes e metas aprovadas no Congresso.
5. Conselhos Distritais – Instância deliberativa em nível distrital tendo como
tarefa a formulação de políticas distritais, acompanhamento da execução das
políticas públicas e estímulo e acompanhamento às formas de controle social sobre
os serviços públicos;
6. Fóruns Consultivos – É previsto a existência de fóruns e/ou conselhos de
caráter consultivo, desde que estes sirvam para alargar a base social do projeto de
cidade que queremos construir, por exemplo, um fórum de religiosos;
7. Campanhas – Serão realizadas também Campanhas de Massa, engajando a
cidade na realização de determinados objetivos, como exemplo a campanha para
erradicar o analfabetismo, projeto que depende de intensa mobilização social para
ser executado;
8. Espaços de Controle Social – Serão agrupadas e radicalizadas as
experiências de controle social dos serviços públicos, partindo do modelo
experimentado pela COFIS, a qual é eleita pelos moradores, tem regimento,
mandatos que podem ser revogados, presta contas e tem poderes para interferir no
andamento dos serviços. Este deve ser o norte destas estruturas a serem criadas ou
reconfiguradas.

Coordenação do Congresso no Governo:


Secretaria de Planejamento e Gestão (SEGEP), Coordenação de Relações com
a Comunidade (CRC) e as Administrações Regionais, em número de oito (8).

Funcionamento do Governo:
Para a coordenação do Programa de Governo, são mantidas desde o primeiro
governo, estruturas a quem compete o acompanhamento do plano e sua
coordenação política, e busca assegurar uma linha clara e combinada na sua
execução, ao mesmo tempo em que, diante de cenários desenhados, vai definindo
ou redefinindo seus tempos sem prejuízo dos compromissos assumidos. São
espaços de balanço e de reflexão política acerca do governo e de questões mais
gerais que influenciam na vida da cidade e de tomada de decisão:
a) Comitê do Plano - Consiste no colegiado de governo onde são tomadas
decisões que asseguram a viabilização do Plano de Governo e que pela dinâmica
do próprio governo requer decisões rápidas, que não permitem a todo momento
convocar o secretariado. Trata-se da instância que busca aliar representação
política no governo com o sistema de gestão através das Marcas de Governo. É
coordenado pelo Prefeito e composto pelo Vice-Prefeito; Coordenadores(as) de
Marca; Secretaria de Planejamento; de Finanças; Coordenação de Relações com a
Comunidade; Coordenadoria de Comunicação e geralmente tem a Secretaria de
Assuntos Jurídicos como convidada; quando necessário, um secretário de alguma
área específica.
b) Fórum de Secretários (as) - É composto por todos os Secretários e
constitui-se do ponto de vista do funcionamento interno do governo, a instância de
maior amplitude em relação a representação. Debate temas comuns ao governo e
analisa cenários à luz de pesquisa, fatos, enfim, é o espaço de discussão política, de
estratégia e dos rumos do governo pelos principais coordenadores de cada área
setorial.
c) Comitê Orçamentário e Financeiro - Tem a função de acompanhar e de
analisar a execução orçamentária e financeira à luz das diretrizes a ações definidas
no Plano de Governo. É composto pelas Secretarias de Finanças, Planejamento e
Gabinete do Prefeito.
d) Fórum de Administradores (as) Regionais - Passou a existir a partir de
2001, resultado da experiência de implantação de todas as Administrações
Regionais, já que antes existiam apenas 3 de um total de 8; e da redefinição do seu
papel como a representação política do governo em termos formais mais próxima
do cotidiano dos cidadãos. Até o final do primeiro governo se vinculavam ao
Gabinete do Prefeito, passam então a exercer o papel em definitivo de agente
político de representação do governo e do planejamento como aqui apresentada a
sua concepção e passam ainda a ter relação direta com a Secretaria de
Planejamento. O Fórum é o espaço de planejamento comum e definição da linha
geral de atuação à luz das diretrizes de governo.

5 - Congresso da Cidade: concepção de planejamento para além do orçamento


participativo

Os marcos da proposta

A definição política do destino das cidades pelas próprias cidades representa


uma importante evolução de sistemas representativos para a participação direta,
em que grande parte das opções concretas relacionadas com as condições de vida,
com as demandas coletivas e a organização do cotidiano, passa a ser gerida pelos
próprios cidadãos a partir do lugar onde vivem e trabalham.
Assim, em algumas cidades e particularmente em Belém, passam a ser
adotadas formas diretas de articulação entre os atores sociais da sociedade civil e
os governos, destacando-se o controle social dos recursos públicos,
particularmente no Brasil através do orçamento participativo e, também, a criação
de diversos outros fóruns, com a participação de empresários, sindicatos, ong’s,
escolas, universidades, igrejas, entidades do movimento popular e principalmente
de cidadãos que jamais haviam exercido o seu direito de decidir sobre os destinos
da cidade, que não se sentiam representados por alguma organização e que,
mesmo assim, constituem a maioria.
Assim, o Congresso da Cidade, é apresentado pelo Governo do Povo à
cidade como o seu mais amplo espaço de planejamento. É orientado por alguns
princípios centrais, como a afirmação da identidade cultural da cidade, a criação de
condições para que a cidade assuma seu destino ao ir se apropriando dela mesma,


Texto de Jurandir Santos de Novaes, originalmente publicado em NOVAES, Jurandir, RODRIGUES,
Edmilson (orgs). Luzes na Floresta: a experiência do governo democrático e popular em Belém (1997-2000), 1ª
ed. Belém, 2000. Sintetiza os debates havidos no governo, especialmente no Comitê Executivo do Plano de
Governo e com setores sociais não governamentais, inclusive o Conselho do Orçamento Participativo (COP),
então constituído pelo processo do Orçamento Participativo (OP). Apresenta a sistematização do Congresso da
Cidade realizado no ano de 2001 de maneira ao mesmo tempo sintética e abrangente.
o reconhecimento das desigualdades, o aprofundamento da relação do Estado com
a sociedade visando o seu fortalecimento, e a instauração do debate sobre o
financiamento da cidade.
O Governo do Povo reconhece ser esta uma cidade particular, como ademais
todas as outras que, no capitalismo, engendram relações sociais geradoras de
discriminação social, política, econômica. Governos democráticos e populares
buscam implementar políticas para alterar a situação aparentemente natural a que
se encontram submetidas as cidades, traduzindo-se em uma forma de governar
que reconhece as diversas cidades que subsistem a uma suposta e aparente
homogeneidade, banalizada por práticas de governos em que os diferentes são
tratados como iguais. A cidade das diferenças, dos conflitos, é essa cidade que se
desafia implementar o Congresso da Cidade. Não fora assim, não caberia fazer do
Congresso um fórum que pensa o futuro, que reconhece que a cidade tem história,
que nela podem ocorrer transformações. Não está colocada a naturalização das
situações que devem inquietar como a injustiça e a desigualdade, banalizadas em
regra, como um fato dado e imutável.
O Congresso é o espaço do livre pensar, a usina de idéias, que transforma
práticas sociais que se colocavam até então como a única via de se relacionar com
governos. Assim, o Congresso da Cidade representa o arrojamento e a
radicalização da disposição para o diálogo e para o desnudar da cidade, por quem
a constrói. Parte de um conteúdo propositivo e crítico e que possibilita o embate de
visões. Nem por isso esse espaço faz do presente uma atualização do passado e do
futuro uma mera reprodução do presente (cf. Vainer16). Ao definir como mote O
Futuro já Começou, o Congresso da Cidade assume querer ser espaço da busca da
recriação, que leva em conta a história, mas que por isso mesmo não pode ser
copiada. O Congresso da Cidade afirma a necessidade de planejar, mas, como
afirma Vainer17, longe de ser um simples exercício de futurologia ou uma
elucubração inconseqüente sobre os futuros possíveis, é um compromisso presente
com sujeitos sociais concretos.
Como espaço de planejamento, o Congresso reafirma essa dimensão numa
perspectiva em que uma cidade não é a mesma em qualquer parte do mundo, há
diferenças internas próprias da condição econômica, política, social, cultural,
enfim, diferenças que fazem com que a inserção na globalização não signifique que
a cidade se encontre inserida em um espaço homogêneo, igual. E não poderia ser
diferente, se considerarmos a importância e a necessidade do planejamento com a
participação de cidadãos em geral. Pois ele convoca todos os atores e grupos
sociais, inclusive aqueles que se confortam com a mera reprodução da situação
vigente, a dizerem o futuro que propõem e projetam. Este enunciado dos futuros
desejados, e indesejados, para uma cidade, é um exercício fundamental, a que
devemos convocar todos os citadinos. E, desta forma, fazer da cidade e do plano,
um exercício permanente de democracia e construção de sujeitos políticos18.
É portanto, uma opção política em que a cidade vai sendo forjada por e para
16
VAINER, Carlos B. op cit
17
idem
seus cidadãos ou uma cidade para o mercado, para a competição. O processo
que vimos criando em Belém é o de afirmação da cidade construída pelos seus
cidadãos, para que estes se apropriem da cidade nas suas diversas dimensões,
como um espaço político de luta pela cidadania, de parcelas de poder que podem
contribuir para a superação das desigualdades, para a formação de consciência
crítica, libertadora.
O que buscamos, portanto, ao implantar uma forma de governar por meio do
Congresso da Cidade, é abdicar das fórmulas aparentemente fáceis, que
engendram alternativas em que a cidade é apartada de si, em que as diferenças são
dissimuladas e que poderiam até gerar uma cidade para fora e uma cidade para
dentro. Para esta visão de Congresso, o que é central é a valorização da vida, a
dignidade humana, não a construção de uma cidade mercadoria, em que cada
cidadão é concebido como consumidor no mercado ou como usuário na relação
com os serviços públicos. O cidadão é o sujeito dessa construção, e o Governo do
Povo assumiu o papel de fomentar participação de todos: "o próprio governo
assume, necessariamente, o caráter de instrumento político de construção de poder
popular (...) por dentro da estrutura do governo, possibilitar os mais amplos
espaços para a participação do povo, para o debate democrático, para o controle de
poder do Estado, para a construção pelo povo na luta, do poder popular 19.
Mas desafiar a cidade a se governar na forma de Congresso não é tarefa fácil,
particularmente em uma cidade como Belém, com enormes carências sociais
acumuladas, o que tem levado, em regra, à busca de soluções apenas imediatas.
Uma cidade cujos moradores tinham a auto-estima abalada e em que sempre coube
aos governos e a pequenas parcelas da população o poder de decidir o seu futuro.
A cidade sentia-se incapaz de tal tarefa pela condição a ela imposta. Decorrente de
uma história de governos predatórios, que tornaram seus referenciais físicos e
simbólicos sinônimo de saudade do passado, o que reduz a possibilidade do sonho
de construir o futuro. A cidade passou a desejar predominantemente o passado.
Planejar o futuro, recuperar a sua história não se colocava como tarefa possível
para a maioria.
O Governo do Povo, desde de 1997, imprimiu na cidade uma forma de
governar que já apontava para a perspectiva de Congresso com a imediata
implantação do Orçamento Participativo (OP) como instrumento de participação
popular. A decisão popular sobre a aplicação dos recursos públicos municipais foi
um salto qualitativo sem precedentes na constituição de uma democracia popular
na história política de Belém e do Estado do Pará.
Mas, se a instauração do OP foi um primeiro e grande passo para que a
cidade pudesse reduzir as enormes carências sociais, historicamente
acumuladas, outras questões importantes ainda precisavam ser solucionadas.
Urgia uma discussão mais ampla, que incorporasse diretrizes e ações que

18
idem
19
RODRIGUES, Edmilson Brito. Modos petistas de governar, In: MAGALHÃES, Inês (Org.) et al Governo e
Cidadania balanço e reflexões sobre o modo petista de governar. - São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo,
1999. p.26-34.
extrapolam a dimensão localizada das intervenções, que atraísse atores que nem
sempre se movem por esse determinante e pudesse combinar as deliberações no
âmbito da rua, do bairro, do distrito a políticas globais para a cidade. Como
estabelecer, então, um mecanismo de desenvolvimento urbano que assegurasse a
sobrevivência da cidade, seu desenvolvimento, a elevação da qualidade de vida de
seus cidadãos de forma a aglutinar as ações do Governo e, ao mesmo tempo,
combinar os elementos de conjuntura nacional e internacional em que se insere a
vida da cidade?
Por essas e outras questões, o Governo do Povo elaborou uma proposição
mais desafiadora que o próprio Orçamento Participativo. Dessa forma, o
Congresso da Cidade apresenta-se como o instrumento de que se valem os
cidadãos de Belém para decidir sobre a cidade desejada.
Para ar início, do ponto de vista mais organizativo, foi constituído um Grupo
de Trabalho com a responsabilidade de articular o âmbito interno do Governo com
a sociedade, bem como de elaborar uma proposta inicial. Desencadeou-se, então,
um processo apresentação da proposta nos fóruns do governo e da sociedade. Era
necessário consolidar a concepção de que o Congresso não representa um evento,
mas um processo, uma concepção do modo de governar, como síntese de uma
prática que foi se expressando nos diversos espaços de planejamento da cidade
provocados pelo próprio governo e por setores não governamentais. Dessa forma,
ao próprio governo teve que se reafirmar de que não se inaugurara uma nova
estrutura, uma nova instância, mas sim uma dimensão conceitual e organizativa
que o governo propunha à cidade a partir mesmo das suas estruturas, assegurando
o princípio de respeito à autonomia dos movimentos emergidos na sociedade,
devendo, contudo, radicalizar na amplitude da sua ação, no aprofundamento da
participação e, particularmente, reafirmando uma concepção de planejamento.
Esse processo da criação do ambiente necessário tinha que ser tornado público. Por
isso, com a proposta básica elaborada, foi feita, em novembro de 1998, a sua
apresentação pública em uma atividade de lançamento dos mais representativos já
ocorridos na cidade, numa demonstração de que a cidade responde a esta proposta
de governo, mas nem por isso, tão somente para o governo e pelo governo, esta
proposta deve ser conduzida, apropriada. A transformação da cultura política não
se dá em um evento, mas em uma prática contínua e permanente. Por isso, o
Congresso é um processo com momentos de síntese, como os próprios momentos
das conferências, dos colóquios, das iniciativas de co-gestão de espaços públicos e
das demais que o estruturam. ou mesmo, os fóruns de recortes político-territoriais
que vêm se impondo como mais uma alternativa à sua operacionalização. Assim,
em dois anos consecutivos, teve lugar por exemplo, o Colóquio sobre o Centro
Histórico, que debateu o projeto de recuperação daquela área.
Ao governo coube então a tarefa de fazer do Congresso o seu elemento
mobilizador central. Mas o governo não é diferente do resto da sociedade: as
estruturas não são concebidas para uma proposta tão desafiadora e, muitas vezes,
a estrutura sobrepõe-se aos desafios por se apresentar setorialmente determinada.
Foi preciso então, discutir, definir mais claramente a importância das ações
governamentais no Congresso. Pouco a pouco foi se construindo a compreensão de
que as iniciativas, não propriamente surgidas no interior do governo, mantêm-se
autônomas mas integradas, capazes de gerar um projeto de cidade também
expresso em grande medida no Programa de Governo da Frente Belém Popular.
Foram sendo adotados, assim, diversos recursos, tanto no interior do
governo, quanto em grupos sociais não governamentais, como reuniões para
identificar expectativas, fóruns promovidos ou apoiados pelo governo, como o
orçamento participativo, conferências sobre as políticas públicas, colóquios sobre
temas específicos, audiências públicas, condomínios participativos, - a associação
entre governos e empresários que lutam pela valorização dos espaços onde
concentram as suas atividades - comitês ambientais formados por moradores de
bairros ou ruas específicas e por funcionários dos órgãos municipais, que
contribuem para a gestão ambiental da cidade, inclusive nos locais de trabalho.
Foram ainda desenvolvidos projetos específicos que colocaram em evidência
questões importantes, aparentemente secundárias, se pensadas fora do contexto de
que a cidade precisa, antes de tudo, gostar de si própria e descobrir potencialidade.
A arte dos jovens expressa em pichação, reelaborada, resultou em trabalhos com
técnica de grafitagem num acontecimento inédito em Belém, que reuniu diversos
grupos (mais de 300 jovens). Outros projetos nesta busca do reconhecimento da
cidade, foram implantados em Belém: O projeto Mapas de Belém, uma abordagem
metodológica a partir da cartografia como resultado das representações sociais
como um inovador instrumento de planejamento crítico; participação em
campanhas com atores sociais, como universidades, entidades estudantis,
empresariais, de trabalhadores, voltados para o estímulo de atitudes positivas em
relação à cidade, como a educação ambiental no que se refere ao tema da limpeza
pública; projetos voltados para a geração de emprego e renda, particularmente a
pequena indústria moveleira. São exemplos que demonstram a diversidade dos
espaços, que visam suscitar a participação coletiva. São experiências que mostram
o Congresso como um processo em construção e como o resultado de distintas
intervenções, que visam despertar e restabelecer a auto-estima. Tenta-se mostrar
que as iniciativas aqui mencionadas como exemplo encerram metodologias que
fazem com que a cidade vá se descobrindo ou se redescobrindo. Em 1997, este era
um grande desafio, que se iniciou com a implementação do Programa de Governo
e tudo o que de transformador propunha. Hoje assistimos à revitalização de
espaços de grande valor/ simbólico para a cidade, como o Ver-o-Peso, à realização
de ações que fortalecem a identidade local, à restituição da orla aos cidadãos
excluídos, à implementação de políticas sociais que inauguram um quadro de
reversão dos indicadores perversos. Orientaram as iniciativas citadas a idéia de
eixos temáticos que já se colocava como alternativa de integração das políticas, por
exemplo, inclusão social, identidade cultural e comunicação.
Esses temas também resultam de pesquisas qualitativas realizadas para
fortalecer o processo do Congresso como movimento amplo, que extrapola as
ações de governo. Foram feitas, até o momento, duas pesquisas, uma por
amostragem no universo da população em geral e outra com lideranças locais pré-
selecionadas. Ambas tinham por objetivo identificar a percepção prevalecente nos
grupos sociais representados. O resultado obtido foi um amplo painel das visões
sobre a cidade, que se traduzem em elementos centrais para a proposição de temas.
Todas essas referências certamente não dão conta completamente do que
significa o Congresso e poderiam naquele momento provocar perguntas, como por
exemplo, qual a sua estrutura, quais os seus espaços de síntese, quais os critérios
de participação, como se materializa a transferência de poder aos cidadãos, enfim,
uma série de questões que surgem ao se pensar tradicionalmente as dinâmicas
coletivas. A opção naquele momento foi criar um movimento, provocar questões
que contribuíssem para a construção de uma estrutura, se necessário, mais
consolidada e enraizada tanto no governo quanto em parte da sociedade.
Até então, a possibilidade apresentada era uma estrutura inspirada em
outras experiências. Com o tempo foi sendo revelada cada vez mais imbricação
entre o que já vinha ocorrendo no governo e na sociedade civil e também podia ser
percebido que poderia ser ampliado de tal forma que o Congresso é, para o
Governo do Povo, esse movimento vivo e incessante que a cidade vive e que tem
raízes na sua história, e que se tem intensificado nos últimos 5 anos.

O Congresso imprime uma nova dinâmica na cidade

Durante o processo de transição do primeiro para o segundo mandato do


Governo do Povo, o Congresso enquanto forma de governar se impôs para o novo
governo de forma unânime. Mas não era suficiente a sua necessária afirmação no
governo. Como recurso organizativo e expressão de uma concepção do papel de
um governo democrático e popular, a proposta da estrutura de funcionamento fora
apresentada em primeira instância ao Conselho do Orçamento Participativo,- até
então a maior instância representativa do processo de participação popular - como
requisito à sua implementação, maior legitimidade e adesão ao processo de
coordenação. Tiveram início as Reuniões Preparatórias, informativas, de
esclarecimento organizadas por distrito e/ou por setor.
Aos impasses mencionados anteriormente, sejam relacionados ao orçamento
participativo ou à integração das políticas públicas e apropriação da cidade de
forma mais universal, foram criados espaços que possibilitam a inserção dos
conteúdos do congresso em um debate que se comunica com a conjuntura, com
temas de interesse local, regional e com o eixo central do processo que é o controle
social dos serviço público. Teve lugar a realização de 3 Oficinas Preparatórias:
"Financiamento da Cidade"; "Amazônia em Marcha pela Soberania e a Liberdade"
e " Gestão Democrática e Qualidade Social do Serviço Público". Mas diante do
desafio de possibilitar a participação de outros setores sociais que formulam, que
atuam e lutam na cidade fez-se necessário romper com o critério da demanda
como único elemento mobilizador e da mesma foram, continuar facilitando a
participação de qualquer cidadão independente de organização formal. E nesse
conjunto se inserem aquelas parcelas que geralmente não têm voz nos fóruns em
que são discutidas as políticas públicas em geral bem como, alguns sequer
experimentaram compartilhar seus anseios, suas expectativas e situações de
discriminação a que são submetidos. Tendo "Direitos Humanos" como tema
transversal buscou-se recuperar uma dimensão da vida e da dignidade que não
fazem parte dos valores primeiros da nossa sociedade. Assim, negros, mulheres,
crianças, deficientes, índios, homossexuais, moradores de áreas de ocupação
encontraram-se pela primeira vez (Congresso Municipal dos Direitos Humanos) e
viriam separadamente realizar os seus respectivos congressos municipais num
processo cujo ineditismo revelou-se como alimento à ousadia do sonho e da
conquista.
Para dar conta das diversas esferas organizativas, de reconhecimento, foram
combinadas a dimensão territorial através dos Distritos Administrativos
( Congressos Distritais) e outras formas de organização social (Congressos Setoriais
). Mas ainda se colocava o risco da segmentação casso fossem mantidos
isoladamente como fóruns propositivos, deliberativos e de reflexão sobre a cidade.
Os Congresso Municipais cumprem este papel primeiro de síntese das diversas
contribuições (distritos, setores ) que se pautam em temas que consubstanciam os
Eixos Temáticos que consistem no núcleo organizativo central do ponto de vista do
conteúdo (Inclusão Social; Desenvolvimento Urbanístico e Ambiental; Gestão
Democrática e Qualidade Social do Serviço Público; Cidadania Cultural e
Comunicação; Economia Solidária; Juventude).
Outro desafio foi o sistema de representação e os seus mecanismos. Seja por
distrito ou por grupo social tem lugar a delegação através do estabelecimento da
paridade (10-1) para a eleição de delegadas e delegados para os Congressos
Municipais e Congresso Geral, este a instância máxima de deliberação do
congresso. Mas ainda há outros de espaços de representação mais permanentes e
que estruturam o cotidiano do congresso. Um, tem lugar o distrito (Conselhos
Distritais), eleito diretamente em urna por todos aqueles que participaram do
congresso; outro mais amplo, de representação combinada de toda a diversidade
de grupos que participam do processo e instância máxima de coordenação no
âmbito da cidade (Conselho da Cidade). Mas é um processo que permanece aberto
incondicionalmente à participação, mesmo os fóruns de delgados todos têm direito
a voz e assim é que o I Congresso Geral da Cidade, instância máxima de
deliberação reuniu mais de 3 mil pessoas para resultado de um processo em que
estiveram presentes diretamente quase 30 mil, em um contexto aparentemente
impensável considerando que consistiu em espaço de deliberação sobre um Plano,
o que supostamente não atrairia a cidade. E o desafio maior portanto, é contribuir
para a tradução concreta dos desejos em realizações que não se expressam tão
somente materialmente mas também na possibilidade de que sbmerjam novos
rostos, vozes que conduzam muitos outros rostos e vozes que vão se avolumando,
ganhando força, de peito aberto para o novo que traz em si traços marcantes do
velho e a esperança do novo. Que se traduzem no primeiro congresso dos índios,
das crianças por elas mesmas, de negros, de deficientes, enfim ampliar a
possibilidade do falar, de subverter a ordem assuma em primeira pessoa o destinos
das suas vidas.
E se o congresso, comporta hoje, uma estrutura é porque vem sendo
construída, resulta de uma dinâmica que não lhe é estranha, em detrimento da
pré-determinação que poderia Ter sido num primeiro momento. A cidade, ao ser
governada na forma de congresso, uma estrutura não hermetiza, mas aglutina e
fortalece a perspectiva histórica deste movimento, que reconhece a capacidade
organizativa e transformadora de um povo, que tem uma história de lutas, embora
abafada em nome do silêncio que destrói identidades. O Governo do Povo, ao
homenagear antepassados da cidade, seus momentos de vitória como o da
Cabanagem, ao redescobri-la para o povo, ao recuperar seus símbolos, vai nesse
movimento de Congresso, despertando as luzes do seu saber, da sua história e vai
contribuindo para que a cidade tenha um novo rosto, uma nova vida e para que
cada um se torne íntimo nas suas relações com esta história, despertando a sutileza
da paixão até então contida, não expressa, agora revelada, conduzindo a cidade
altiva e soberanamente rumo ao seu futuro, à construção da Metrópole das Luzes.
6 - Balanço geral da participação popular em Belém do Pará

Dando continuidade ao compromisso com uma gestão democrática e


participativa, a Prefeitura Municipal de Belém lançou o Congresso da Cidade 2001,
em abril deste ano, e alavancou um grande processo de participação popular e de
encontro entre o governo municipal e os cidadãos assim como entre entidades de
defesa dos direitos humanos, organizações populares, professores, pesquisadores,
parlamentares de partidos progressistas e etc.
O Congresso da Cidade é este processo de solidariedade, de transbordamento
de idéias, de concentração de energias para pensar o futuro de Belém. Que cidade
nós queremos viver? Uma cidade democrática feita para todos ou uma cidade
apartada? Queremos escolher outro caminho que o das sociedades liberais
excludentes. Queremos desenvolvimento econômico mas com inclusão social onde
a população local possa fazer parte e se beneficiar das transformações na cidade,
principalmente a população de baixa renda.
Nesses seis meses ocorreram centenas de debates consultivos, discussões em
grupos, num processo socialmente construído de participação onde a sociedade
civil organizada e o cidadão em geral, tiveram espaço para criticar, questionar,
denunciar, propor ações e atitudes que desejam das autoridades municipais assim
como pedir esclarecimentos e informações sobre como funciona o Governo
Municipal.
O Congresso da Cidade possibilitou ampliar mecanismos de participação,
permitindo à sociedade organizada apontar prioridades e propor novas ações para
os projetos estruturais do Programa de Governo. Nos grupos de discussão e
plenárias percebia-se que os cidadãos e lideranças políticas das mais diversas
instituições se sentiam governantes da cidade, interferindo nas decisões e
ajudando a definir os rumos da cidade. Com os inúmeros debates e
esclarecimentos prestados pelas principais autoridades municipais e seus
assessores, os cidadãos puderam se apropriar da forma de governar do Governo
do Povo. E mais, das suas possibilidades e de seus limites.
Esse processo participativo vem enriquecendo extremamente o planejamento
da cidade, contribuindo com as definições de ações estratégicas para o Município.
Todas as propostas elaboradas nos grupos de discussão dos Congressos Distritais e
Setoriais, estão sendo inseridas nos Programas e Projetos da PMB no âmbito de
cada Matriz Temática ou Eixos Estratégicos articulados entre si.
O processo de implementação do Congresso da Cidade 2001 foi penoso,
desgastante, cansativo para todos, mas não impediu que milhares de pessoas
saíssem de sua rotina diária para discutir a política para a cidade. Não impediu
que técnicos dos órgãos municipais trabalhassem além do horário para cumprir a
diretriz deste governo: gestão democrática - participação popular e controle social.


Dados sistematizados pela Secretaria de Gestão e Planejamento (SEGEP) mostrando a amplitude
quantitativa e do leque plural de cidadãos que, por iniciativa particular ou através de movimentos sociais,
entidades de representação de classe, organizações não governamentais, etc., participaram das várias fases do
Congresso da Cidade, até a realização do I Congresso Geral da Cidade de Belém.
Governar com participação popular não é fácil. Exige esforço extra de todos,
de pessoas que acreditam que somente participando, se informando, poderá
ocorrer alguma mudança. Somente participa quem não está acomodado, quem não
está satisfeito, quem acredita nas possibilidades de mudança.
Desde que foi lançado pela Prefeitura Municipal de Belém, sob a coordenação
geral da Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão -
SEGEP, no início de abril de 2001, o Congresso da Cidade já mobilizou mais de 25
mil pessoas. Entretanto, o volume da participação real pode ser bem maior já que
grande parte dos participantes freqüentou mais de um evento.
O Congresso da Cidade 2001 mobilizou todas as instituições da Prefeitura
Municipal de Belém e as principais instituições e organizações populares da
sociedade civil do Município de Belém. Participaram pessoas de todos os bairros
dos Distritos Administrativos do Município de Belém e até de municípios vizinhos,
que compõem a Região Metropolitana de Belém, como Ananindeua e Marituba.
Participação Geral no Congresso da Cidade – 200120
(Continua)
Municipais DISTRITO Fora de
CONGRESSOS TOTAL
DAMOS DAOUT DAICO DABEN DAENT DASAC DABEL DAGUA Belém
CONGRESSO
GERAL 2.824 2.824
DIREITOS
HUMANOS 1.444 1.444
MUNICIPAIS
SETORIAIS
Mulheres 45 79 68 120 349 195 164 55 150 1.225
Negros 15 36 29 44 35 84 31 274
Homossexuais 14 1 9 27 15 19 22 43 150
Deficientes 26 7 12 61 123 131 212 78 118 78 846
Índios 3 10 3 1 4 87 108
Total 85 86 84 215 535 370 442 191 399 196 2.603
MUNICIPAIS
TEMÁTICOS
Urbanístico e
Ambiental 16 8 36 14 14 16 24 1 129
Economia
Solidária 12 2 7 16 6 6 9 24 1 83

20
Os números relativos ao I Congresso Municipal das Crianças de Belém não constam do quadro. O congresso mirim, com a participação de mais de oito mil
crianças de até 12 anos de idade, só foi realizado no final do mês de novembro de 2001, posteriormente ao I Congresso Geral da Cidade de Belém. A coordenação
geral, direção das “mesas” de trabalho, a formulação de propostas para a Belém do futuro, os espetáculos artísticos, a apresentação de propostas ao prefeito e
demais adultos presentes, a eleição do Conselho das Crianças de Belém (oito membros efetivos e oito suplentes), enfim, todos os momentos do congresso, foram
protagonizados pelas próprias crianças, tendo à frente crianças que participaram das reuniões paralelas aos congressos distritais e municipais temáticos e/ou
setoriais, outras que participam de projetos sócio-educacionais mantidos pela prefeitura, ou crianças cujos pais participam de movimentos ou entidades sociais não
governamentais.
Participação Geral no Congresso da Cidade – 200121
(Continua)
Municipais DISTRITO Fora de
CONGRESSOS TOTAL
DAMOS DAOUT DAICO DABEN DAENT DASAC DABEL DAGUA Belém
Inclusão Social 2 6 35 30 26 6 11 27 1 144
Cidadania
Cultural 5 4 4 6 15 10 5 5 54
Gestão 4 6 7 10 6 15 15 6 69
Democrática
Total 0 23 34 61 98 67 51 56 86 3 479
DISTRITAIS
Urbanístico e
Ambiental 52 286 255 776 194 192 161 316 2.232
Economia
Solidária 187 142 95 329 199 31 78 454 1.515
Inclusão Social 553 116 470 755 275 146 187 600 3102
Cidadania
Cultural 127 135 200 118 202 198 257 219 1456
Gestão
Democrática 243 158 123 158 63 208 133 70 1156
Juventude 297 149 436 567 402 512 88 638 3089
Total 0 1459 986 1579 2703 1335 1287 904 2297 12550

21
Os números relativos ao I Congresso Municipal das Crianças de Belém não constam do quadro. O congresso mirim, com a participação de mais de oito mil
crianças de até 12 anos de idade, só foi realizado no final do mês de novembro de 2001, posteriormente ao I Congresso Geral da Cidade de Belém. A coordenação
geral, direção das “mesas” de trabalho, a formulação de propostas para a Belém do futuro, os espetáculos artísticos, a apresentação de propostas ao prefeito e
demais adultos presentes, a eleição do Conselho das Crianças de Belém (oito membros efetivos e oito suplentes), enfim, todos os momentos do congresso, foram
protagonizados pelas próprias crianças, tendo à frente crianças que participaram das reuniões paralelas aos congressos distritais e municipais temáticos e/ou
setoriais, outras que participam de projetos sócio-educacionais mantidos pela prefeitura, ou crianças cujos pais participam de movimentos ou entidades sociais não
governamentais.
Participação Geral no Congresso da Cidade – 200122
(Conclusão)
Municipais DISTRITO Fora de
CONGRESSOS TOTAL
DAMOS DAOUT DAICO DABEN DAENT DASAC DABEL DAGUA Belém
SETORIAIS
Urbanístico e
Ambiental 1621 1621
Economia
Solidária 2118 2118
Inclusão Social 1830 1830
Cidadania
Cultural 135 135
Gestão
Democrática 362 362
Juventude 1860 1860
Total 7926 7926
156 110 18 333 177 178 115 278 27.
TOTAL GERAL 12.279 8 4 55 6 2 0 1 2 199 826
Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão (SEGEP) - Departamento de Pesquisa e
Informação (DEPI)

22
Os números relativos ao I Congresso Municipal das Crianças de Belém não constam do quadro. O congresso mirim, com a participação de mais de oito mil
crianças de até 12 anos de idade, só foi realizado no final do mês de novembro de 2001, posteriormente ao I Congresso Geral da Cidade de Belém. A coordenação
geral, direção das “mesas” de trabalho, a formulação de propostas para a Belém do futuro, os espetáculos artísticos, a apresentação de propostas ao prefeito e
demais adultos presentes, a eleição do Conselho das Crianças de Belém (oito membros efetivos e oito suplentes), enfim, todos os momentos do congresso, foram
protagonizados pelas próprias crianças, tendo à frente crianças que participaram das reuniões paralelas aos congressos distritais e municipais temáticos e/ou
setoriais, outras que participam de projetos sócio-educacionais mantidos pela prefeitura, ou crianças cujos pais participam de movimentos ou entidades sociais não
governamentais.
1. Congressos Distritais - Participação Geral nas Temáticas por Distritos
Administrativos

A partir do mês de abril de 2001, foram realizadas dezenas de oficinas e


reuniões preparatórias antecedendo aos Congressos Distritais Temáticos. Nos
meses de maio e junho, aconteceram 48 Congressos Distritais, nos 8 Distritos
Administrativos de Belém com as seguintes temáticas para discussão:

 Desenvolvimento Urbanístico e Ambiental


 Desenvolvimento Humano Por Uma Economia Solidária
 Gestão Democrática e Qualidade Social do Serviço Público
 Desenvolvimento Humano Por Uma Cidadania Cultural
 Desenvolvimento Humano Pela Inclusão Social; e,
 Juventude

Participantes por Temáticas – Congressos Distritais - Belém 2001


Congressos Distritais
TEMÁTICAS DAMOS DAOUT DAICO DABEN DAENT DASAC DABEL DAGUA TOTAL %
Desenvolvimento 52 286 255 776 194 192 161 316 2.232 18
Urbanístico e
Ambiental
Desenvolvimento 187 142 95 329 199 31 78 454 1.515 12
Humano Por
Uma Economia
Solidária
Desenvolvimento 553 116 470 755 275 146 187 600 3.102 25
Humano Pela
Inclusão Social
Desenvolvimento 127 135 200 118 202 198 257 219 1.456 12
Humano Por
Uma Cidadania
Cultural
Gestão 243 158 123 158 63 208 133 70 1.156 9
Democrática e
Qualidade Social
do Serviço
Público
Juventude 297 149 436 567 402 512 88 638 3.089 25
Total 1.459 986 1.579 2.703 1.335 1.287 904 2.297 12.550 100
Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão
(SEGEP) - Departamento de Pesquisa e Informação (DEPI)
(1) Congresso Municipal de Direitos Humanos ocorreu no Distrito
Administrativo Sacramenta (DASAC), com participantes de todo Município de
Belém.
(2) Distritos Administrativos: DAMOS (Distrito Administrativo de
Mosqueiro), DAOUT (Distrito Administrativo de Outeiro), DAICO (Distrito
Administrativo de Icoaraci), DABEN (Distrito Administrativo do Benguí), DAENT
(Distrito Administrativo do Entroncamento), DASAC (Distrito Administrativo da
Sacramenta), DABEL (Distrito Administrativo de Belém) e DAGUA (Distrito
Administrativo do Guamá).

Crianças no Congresso da Cidade 2001

Nota-se no quadro abaixo que 4% dos participantes dos Congressos Distritais


possuíam idade de até 12 anos. São quase 500 crianças que participaram,
principalmente da temática Gestão Democrática e Qualidade Social do Serviço
Público.

Participantes no Congresso Municipal e Distritais, segundo


Faixa de Idade – 2001
FAIXA DE Distrito Administrativo
IDADE DAMOS DAOUT DAICO DABEN DAENT DASAC DABEL DAGUA TOTAL %
Não
declarado 0 5 2 6 1 7 6 3 30 0,2
Até 12 anos 100 34 64 48 64 37 28 88 463 3,7
13 a 14 anos 103 42 78 114 113 91 32 153 726 5,8
15 a 17 anos 249 128 330 385 196 247 101 371 2007 16,0
18 a 21 anos 198 139 229 431 216 220 107 325 1865 14,9
22 a 30 anos 275 197 314 611 263 285 181 393 2519 20,1
31 a 40 anos 217 206 293 548 233 199 193 388 2277 18,1
41 a 50 anos 171 133 164 339 134 109 119 344 1513 12,1
51 a 60 anos 82 67 88 162 75 60 87 131 752 6,0
2
61 a 70 anos 51 31 11 47 32 24 36 80 312 ,5
0
71 a 80 anos 7 3 5 10 5 8 14 20 72 ,6
Mais de 80 0
anos 6 1 1 2 3 0 14 ,1 0 1
1.4 1. 2.70 1.33 1.28 12. 901 2.29
TOTAL 59 986 579 3 5 7 4 7 550 00,0
Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão
(SEGEP) - Departamento de Pesquisa e Informação (DEPI)
A distribuição da participação entre os Distritos pode ser observada no
Gráfico 1. Os Distritos com maior número de participantes foram o DABEN e o
DAGUA, cada um representando, respectivamente, 21% e 18% do total de
participantes. Segue-se DAICO (13%), DAMOS (12%), DAENT (11%), DASAC
(10%), DAOUT (8%) e DABEL (7%).

GRÁFICO 1

Percentual de Participantes nos Congressos Distritais por Distrito

DAGUA DAMOS
18% 12%
DAOUT
DABEL 8%
7%
DAICO
DASAC 13%
10% DAENT DABEN
11% 21%

Administrativo - Belém 2001


Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e
Gestão (SEGEP) - Departamento de Pesquisa e Informação (DEPI)

As temáticas com mais participantes foram Juventude e Inclusão Social.


Nelas, estavam quase 50% dos participantes dos Congressos Distritais. Seguidas
das temáticas Urbanístico e Ambiental (18%), Economia Solidária e Cidadania
Cultural, com 12% cada uma e Gestão Democrática e Qualidade do Serviço
Público, com 9% dos participantes (Gráfico2).

GRÁFICO 2
Percentual de Participantes nos Congressos Distritais por Temáticas
Discutidas - Belém 2001

Urbanístico e
Juventude Ambiental
Gestão
25% 18%
Democrática e
Qualidade Economia
Social do Solidária
Serviço Público 12%
9% Inclusão Social
Cidadania
24%
Cultural
12%

Foram cadastradas nesses eventos 12.550 pessoas e foram eleitos 1.168


delegados e 329 suplentes. Em agosto foram eleitos 88 Conselheiros Distritais.

2. Congressos Setoriais

De junho a agosto ocorreram 117 Congressos Setoriais, de instituições e


grupos das mais variadas categorias sociais. Participaram Centros Comunitários,
Associações de Moradores, Organizações Não Governamentais, Comitês
Ambientais da Prefeitura, Idosos, Jovens, Pastoral da Juventude, Pescadores,
Estudantes, Pesquisadores, Profissionais, Rurais e Urbanos, etc., onde, após
discussões, foram apresentadas propostas para a cidade sob o ponto de vista de
cada categoria (Ver Anexo 1 - Lista das Instituições).
Participaram dos Congressos Setoriais 7.926 pessoas, sendo 51% mulheres.
Com exceção das temáticas "Economia Solidária", "Cidadania Cultural" e
"Juventude", as mulheres foram a maioria, principalmente na temática "Inclusão
Social", com 72% dos participantes.

Nos Congressos Setoriais foram eleitos 695 delegados e 187 suplentes.


Delegados e Suplentes Eleitos nos Congressos Setoriais, por Temáticas Discutidas,
Belém 2001
TEMÁTICAS DELEG % SUPLE %
ADOS NTES
Desenvolvimento Urbanístico e Ambiental 149 2 48 2
0,9 5,1
Desenvolvimento Humano Por Uma 195 2 60 3
Economia Solidária 7,3 1,4
Desenvolvimento Humano Pela Inclusão 157 2 30 1
Social 2 5,7
Desenvolvimento Humano Por Uma 11 1 2 1
Cidadania Cultural ,5
Gestão Democrática e Qualidade Social do 34 4 9 4,
Serviço Público ,8 7
Juventude 167 2 42 2
3,4 2
Total 713 1 191 1
00 00
Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão
(SEGEP) - Departamento de Pesquisa e Informação (DEPI)

3. Congressos Municipais

3.1 Congressos Municipais Temáticos

I - Direitos Humanos
Em junho, foi realizado na Aldeia Cabana o Congresso Municipal dos
Direitos Humanos, coordenado pela Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos
(SEMAJ). Foram credenciadas 1.444 pessoas. No total, entre credenciados e
convidados, participaram mais de 2 mil pessoas de toda a cidade de Belém.

Foi debatida uma política municipal baseada na garantia de direitos e


combate a todas as formas de discriminação. Participaram pessoas e organizações
ligadas ao Movimento Negro, aos Portadores de Deficiência, Mulheres, Crianças,
Jovens, Homossexuais, Índios, Profissionais do Sexo, Idosos, Funcionários
Públicos, etc (ANEXO 1 - Lista de Instituições Participantes Por Temática). Em
agosto e setembro aconteceram 11 Congressos Municipais Temáticos sendo 5
ligados à temática Direitos Humanos (negros, deficientes, mulheres, homossexuais
e índios) e 6 ligados às temáticas orientadoras do Programa de Governo, incluindo
Juventude.

No Congresso dos Direitos Humanos participaram 2.617 delegados, sendo


47% no Congresso das Mulheres, 32% no Congresso dos Deficientes, 10% no
Congresso dos Negros, 6% no Congresso dos Homossexuais e 4% no Congresso
dos Índios.

PARTICIPANTES DO CONGRESSO DOS DIREITOS HUMANOS -


2001
CONGRESSOS DIREITOS PARTICIP %
HUMANOS ANTES
Congresso dos Negros 274 1
0
Congresso das Mulheres 1.234 4
7
Congresso dos Deficientes 846 3
2
Congresso dos 150 6
Homossexuais
Congresso dos Índios 113 4
TOTAL 2.617 1
00
Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão
(SEGEP) - Departamento de Pesquisa e Informação (DEPI)

Dos Congressos Municipais Temáticos participaram 695 delegados, sendo


que 31% estavam no Congresso da Juventude, 21% na Inclusão Social, 18% no
Urbanístico e Ambiental, 12% no Economia Solidária, 10% no Gestão Democrática
e 8% no Cidadania Cultural.
PARTICIPANTES DO CONGRESSO MUNICIPAL POR TEMÁTICA
– 2001
CONGRESSOS PARTICIP %
ANTES
Inclusão Social 144 21
Economia Solidária 83 12
Urbanístico e 128 18
Ambiental
Gestão Democrática 69 10
Cidadania Cultural 54 8
Juventude 217 31
Total 695 100
Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão
(SEGEP) - Departamento de Pesquisa e Informação (DEPI)
Total de Delegados e Suplentes no Congresso da Cidade 2001
ELEITOS
CONGRESSO TOTAL %
Delegados % Suplentes %
DISTRITAIS
Urbanístico e Ambiental 212 18,1 64 19,3 276 18,4
Economia Solidária 145 12,4 46 13,9 191 12,7
Inclusão Social 267 22,8 66 19,9 333 22,2
Cidadania Cultural 137 11,7 34 10,2 171 11,4
Gestão democrática e qualidade no serviço
público 110 9,4 32 9,6 142 9,5
Juventude 298 25,5 90 27,1 388 25,8
TOTAL 1169 100,0 332 100,0 1501 100,0
SETORIAIS
Urbanístico e Ambiental 149 20,9 48 25,1 197 21,8
Economia Solidária 195 27,3 60 31,4 255 28,2
Inclusão Social 157 22,0 30 15,7 187 20,7
Cidadania Cultural 11 1,5 2 1,0 13 1,4
Gestão democrática e qualidade no serviço
público 34 4,8 9 4,7 43 4,8
Juventude 167 23,4 42 22,0 209 23,1
TOTAL 713 100,0 191 100,0 904 100,0
MUNICIPAIS
SETORIAIS
Congresso das Mulheres 126 17,1 8 16,0 134 17,0
Congresso dos Negros 29 3,9 9 18,0 38 4,8
Congresso dos Homossexuais 23 3,1 6 12,0 29 3,7
Congresso dos Deficientes 82 11,1 24 48,0 106 13,4
Índios 11 1,5 3 6,0 14 1,8
TEMÁTICAS(1)
Urbanístico e Ambiental 126 17,1 0 0,0 126 16,0
Economia Solidária 82 11,1 0 0,0 82 10,4
Inclusão Social 141 19,1 0 0,0 141 17,9
Cidadania Cultural 52 7,0 0 0,0 52 6,6
Gestão democrática e qualidade no serviço
público 67 9,1 0 0,0 67 8,5
TOTAL 739 100,0 50 100,0 789 100,0
Nota: Nas distritais foram incluídos 15 delegados e 1 suplente. Nos Congressos Setoriais foram incluídos 7
delegados.
(1) Mais de 80% que participaram dos Congressos Municipais Temáticos, são Delegados.
ANEXO 1

G. 01
PREFEITURA MUNICIPAL
DE BELÉM
CONGRESSO DA CIDADE
SECRETARIA MUNICIPAL DE COORDENAÇÃO GERAL DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO-SEGEP
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E
INFORMAÇÃO – DEPI

PARTICIPANTES, DELEGADOS E SUPLENTES


POR CONGRESSO SETORIAL

Nº Congresso Setorial PARTICIPAN % DELEGA SUPLEN TOTAL


TES DOS TES
1 Ambulantes do Panorama XXI 0,1
12 5 1 1 2
2 Ass. dos Moradores da Cremação 0,3
31 9 3 1 4
3 Assoc. Comunitária Miramar (CDP) 0,6
51 4 5 1 6
4 Assoc. dos Moradores da Vila da 0,9 1
Barca 74 3 6 4 0
5 Assoc. dos Moradores do Conjunto 0,6
Catalina 53 7 5 2 7
6 Associação AMAFLOR 0,3
25 2 2 - 2
7 Associação Comunitária Santos 0,3
Dumont 28 5 3 1 4
8 Associação dos Barraqueiros da 0,3
Praia do Marahu 31 9 3 1 4
9 Atletas e Desportistas do Belenense 0,3
Esporte Clube 31 9 3 1 4
10 C. Com. São Francisco de Assis 0,5
(Pedreira) 40 0 4 1 5
11 C. Comunitário Amazonas 0,7
57 2 6 1 7
12 C. Comunitário Nova Aliança 0,9
78 8 - - -
13 C. Comunitário União de Todos 1,8 1
144 2 14 3 7
14 CEFET 1,3
106 4 8 - 8
15 Centro Comunitário Dr. Cipriano 0,8
Santos 70 8 7 2 9
16 Centro Comunitario Fidelis 0,2
20 5 2 1 3
17 Centro Comunitário Santa Rosa 0,6
50 3 5 1 6
18 Centro Comunitário São Pedro 0,3
30 8 3 1 4
19 Colônia dos Pescadores de 0,3
Mosqueiro 26 3 3 1 4
20 Comissão de Moradores do 0,7
Pantanal 62 8 6 - 6
21 Comitês Ambientais PMB 0,8
66 3 7 1 8
22 Comunidade do Coqueiro 0,8 -
67 5 - -
23 Comunidade Jesus Cristo Libertador 0,3
26 3 2 3 5
24 Congresso da Juventude do 0,4
Napoleão Laureano 36 5 2 - 2
25 Coordenação do Assentamento 0,3
Mártires de Abril 30 8 3 1 4
26 Cursinho Nonato Reis / DASAC 0,4
39 9 4 - 4
27 Curso de Direito/UFPA 0,5
40 0 4 2 6
28 Desbravadores 1,6 1
133 8 13 - 3
29 Desenvolvimento Rural Sustentável 0,7 1
56 1 9 3 2
30 Familia Saudavel - Ass. Moradores 1,9 2
do BASA 152 2 18 4 2
31 Família Saudavel / DAICO, 0,8 1
DAOUT 65 2 5 5 0
32 Família Saudavél / DASAC 1,6 -
133 8 - -
33 Feirantes da 25 de setembro 1,1 1
87 0 8 3 1
34 Feirantes da Augusto Correa 0,3
26 3 3 1 4
35 Feirantes da B. Campos 0,5
42 3 4 1 5
36 Feirantes da Bandeira Branca 0,8
70 8 7 2 9
37 Feirantes da Cremação (DAGUA) 0,8
64 1 6 2 8
38 Feirantes da Pedreira 0,3
28 5 3 1 4
39 Feirantes da Praça da Biblia 1,3 1
(Entroncamento) 105 2 10 5 5
40 Feirantes da Sacramenta 0,1
14 8 1 1 2
41 Feirantes da São Gaspar 0,2
19 4 2 1 3
42 Feirantes da Tavares Bastos 0,1
10 3 1 1 2
43 Feirantes da Terra Firme 0,5
41 2 2 1 3
44 Feirantes de Icoaraci - 08 de 0,8
Maio/Campinas 70 8 7 2 9
45 Feirantes do Barreiro / São Benedito 0,6
50 3 6 2 8
46 Feirantes do Complexo de São Brás 0,5
47 9 5 1 6
47 Feirantes do Conj. Providência 0,2
21 6 2 - 2
48 Feirantes do Horto Mercado do 1,2 1
Guamá 101 7 10 3 3
49 Feirantes do Jurunas 1,1 1
92 6 11 1 2
50 Feirantes do Mercado da 0,5
Marambaia 42 3 4 2 6
51 Feirantes do Mercado de Icoaraci 0,7
59 4 4 - 4
52 Feirantes do Mercado do Benguí 0,3
29 7 3 1 4
53 Feirantes do Panorama XXI 0,1
11 4 1 1 2
54 Feirantes do Porto da Palha 0,6
51 4 5 1 6
55 Feirantes do Porto do Açaí 0,9
75 5 7 2 9
56 Feirantes do Ver-o-Peso 2,5 2
202 5 19 6 5
57 Forum de Comunidade da Área do 0,5
Grande Sideral 41 2 3 1 4

PARTICIPANTES, DELEGADOS E SUPLENTES


POR CONGRESSO SETORIAL2001

Nº Congresso Setorial PARTICIPAN % DELEGA SUPLEN TOTAL


TES DOS TES
58 Fórum de Empreendedores 0,4
34 3 3 1 4
59 Fórum de Informática 0,9 1
78 8 8 2 0
60 Fórum do Servidor 1,8 1
150 9 12 4 6
61 Grafiteiros do Pantanal 0,3
27 4 3 1 4
62 Grupo de Dança Paulo Roberto 0,2
18 3 2 1 3
63 Grupo De Maes da Bolsa Escola 0,2
18 3 1 1 2
64 Homossexuais 0,3
25 2 - - -
65 I Conf. Municipal de Assistência 6,2 5
Social 496 6 52 - 2
66 Idosos 1,7 1
138 4 14 4 8
67 IESAN 2,8 2
225 4 23 6 9
68 Incl. Social - Serv. Social (PARU) 0,2
22 8 2 - 2
69 Juventude – Não declarou 0,2
20 5 2 - 2
70 Juventude Bengui – Emaus 1,2 1
101 7 9 3 2
71 Juventude da Cremação/DAGUA 0,2
20 5 2 - 2
72 Juventude de Icoaraci - Micro I 1,6 1
133 8 13 4 7
73 Juventude de Icoaraci - Micro II 3,2 3
254 0 19 11 0
74 Juventude de Icoaraci - Micro III 1,3
108 6 7 1 8
75 Juventude de Icoaraci 0,7
62 8 3 - 3
76 Juventude de São Francisco, Bonfim 0,2
e Igaracôco 17 1 2 - 2
77 Juventude do Aeroporto 0,4
33 2 3 1 4
78 Juventude do Ariramba 1,0 1
79 0 8 2 0
79 Juventude dos Skatistas 1,2 1
101 7 9 1 0
80 Juventude Res. Cabano 2,9 3
234 5 23 8 1
81 Juventude Socialista Brasileira(JSB) 1,4 1
113 3 12 4 6
82 Limpeza Urbana 2,2 2
181 8 15 5 0
83 Manipuladores de Açaí 1,1
89 2 4 1 5
84 Movimento de Luta 0,7
Antimanicomial/DABEL 62 8 - - -
85 Movimento de RPG 0,9
71 0 7 - 7
86 Movimento Popular 0,3
28 5 3 1 4
87 Não declarou (1) 0,0
5 6 - - -
88 Não declarou (2) 0,1
8 0 - - -
89 ONGS (ABONG) 0,8
70 8 7 2 9
90 ONGS de Outeiro 0,3
27 4 - 1 1
91 Pastoral da Juventude 0,2
21 6 2 - 2
92 Permissionários do Complexo do 0,1
Catalina 13 6 1 1 2
93 Pescadores da Área do Cajueiro 0,4
37 7 4 1 5
94 Plenária Setorial de Mulheres de 0,3
Mosqueiro 28 5 3 - 3
95 Religiosos – Liceu do Paracuri 0,9
74 3 7 2 9
96 Rodoviários 0,5
41 2 4 1 5
97 Segmento Audiovisual 0,2
21 6 2 1 3
98 Serviço Social - UFPA (PARU) 0,2
22 8 2 - 2
99 Setorial da Associação Comercial 0,8
67 5 6 2 8
100 Setorial da Juventude do DAGUA 0,6
52 6 5 1 6
101 Setorial da Juventude do Ipixuna 0,3
25 2 3 - 3
102 Setorial da U.E.I. Rotary 0,1
14 8 1 - 1
103 Setorial das Torcidas Organizadas 0,5
42 3 5 - 5
104 Setorial de Literatura 0,2
18 3 2 1 3
105 Setorial de Turismo 1,5 1
126 9 14 2 6
106 Setorial do Parque União (Tapanã) 0,2
20 5 2 1 3
107 Setorial do Residêncial Cabano 4,2 4
335 3 34 11 5
108 Setorial dos Sindicalistas 0,6
48 1 5 1 6
109 Setorial dos Sociologos 0,7
56 1 5 2 7
110 Setorial Religiosa – ASBEV 3,6 3
289 5 27 9 6
111 Sindicato dos Carregadores do Cais 0,1
do Porto 15 9 2 1 3
112 Sindicato dos Feirantes 0,3
26 3 - - -
113 Taxistas de Mosqueiro 0,3
26 3 3 1 4
114 Taxistas do DAGUA 0,5
43 4 -
115 Taxitas do Complexo de São Bras 0,4
32 0 3 1 4
116 Trabalhadores da Pesca de 0,3
Carananduba 27 4 3 1 4
117 Trabalhadores dos Cemitérios 1,2 1
Públicos 102 9 10 2 2
7. 100,0 7 1 90
TOTAL 926 0 13 91 4
7 - Convocatória: I Congresso Geral Da Cidade De Belém “Milton Santos” –
Congresso da Cidade. É Assim Que o Povo Governa.

I Congresso Geral da Cidade de Belém é o resultado de um amplo processo


que se realiza no Congresso da Cidade enquanto espaço permanente de
planejamento construído com participação social. Representa um marco na história
da nossa cidade, da Belém do Grão Pará, que terá um momento de congraçamento
entre desejos distintos que se fundem na diferença para avançar no exercício do
poder de uma cidade decidir sobre o seu próprio destino, através da discussão
entre os que têm sonhos, inquietações e a ousadia necessária para que,
organizados, mobilizados, conquistem a liberdade e a felicidade que somente uma
sociedade justa, democrática e fraterna pode proporcionar. E dos que acreditam
mesmo em uma sociedade por definição, excludente, pode obter conquistas que
lhe dê forças e qualidade de vida para lutar, resistir e avançar na construção de
outra, aquela em que todos tenham direitos, que seja solidária, fraterna e justa.
O Congresso da Cidade promove uma ruptura na forma de realizar o
planejamento da cidade, antes circunscrito aos aparatos burocráticos impregnados
de autoritarismo e que agora se descortina dentro de um processo iniciado em 97,
mas que, particularmente em 2001, se torna mais amplo e radical rumo a
construção de uma nova cultura política. Além de continuar decidindo obras, os
cidadãos passam a decidir sobre todos as dimensões da cidade, no campo do
simbólico e da afirmação política através de posicionamento frente ao contexto
local, nacional e internacional em que se insere, o governo assumindo também um
papel propositivo e facilitador da organização da luta do povo em prol da
melhoria da sua qualidade de vida, da construção de um futuro novo que já
começa a ser construído agora.
O Congresso da Cidade representa, assim, a afirmação de uma cidade que
mantém uma identidade cultural inquestionavelmente relacionada à alegria, a
sabores, cores e uma altivez que só ela tem; uma cidade que vem se afirmando
politicamente como detentora das decisões sobre seu destino, onde um governo
democrático e popular cria mecanismos de participação social que ela jamais havia
experimentado e ao que ela responde com silêncios rompidos por que fervilhava
de desejos antes contidos e agora realçados em reflexões, em propostas, em ações,
em críticas e posicionamentos que se expressam nos diversos espaços em que vem
sendo construído o Congresso da Cidade. São debates fraternos, por vezes
conflitantes e que debatem de forma ampla todos os temas. E se em termos
organizativos, os diversos temas do Congresso assumiram um tempo particular, a
síntese cria uma combinação entre os mesmos e ao serem traduzidos no Plano da
Cidade e passam a expressar uma forma de governar a cidade, sonhos traduzidos
que representam mais do que o plano de investimentos do município- uma peça
necessária - mas uma forma de governar em que o controle social, a qualidade e a


Texto publicado em “folder” de convocação dos delegados ao I Congresso Geral da Cidade de Belém, fórum
máximo de deliberação do Congresso da Cidade, dedicado à memória do professor e geógrafo negro Milton
Santos, realizado nos dias 11 e 12 de outubro de 2001.
defesa do serviço público, os mecanismos de gestão orientam a ação sobre a
cidade.
Um tema se caracterizou como orientador geral na mobilização de outros
olhares que a cidade tem, mas são obscurecidos. Grupos tradicionalmente
excluídos e segregados inauguram em abril sob o mote dos Direitos Humanos os
congressos de âmbito municipal. O I Congresso Municipal de Direitos Humanos
realizado trouxe à cena atores sociais como mulheres, negros e negras, índios,
jovens, homossexuais; moradores de áreas de ocupação. Abriu o debate com
presença da OAB, Ministério Público, Sociedade Paraense de Defesa dos direitos
Humanos, povos indígenas dentre outros. A ele sucederam-se o I Congresso
Municipal de Negros e Negras de Belém; o primeiro também de Homossexuais; de
Deficientes; de Índios; e ainda o de Mulheres este segmento entre os citados
consiste no único tema com tradição de congressos em Belém. Portanto, é um
demarcador na história da cidade. Foram debates originais em Belém, em que por
exemplo, a identidade indígena na sua face urbana, a sua relação com a história e a
própria origem da cidade foram originalmente temas debatidos com esse segmento
em Belém. Ao conjunto de congressos municipais se denomina Congressos
Municipais Setoriais.
O I Congresso Geral da Cidade de Belém é assim, um momento de síntese do
processo desenvolvido neste ano de 2001, iniciado nos meses de janeiro e fevereiro
com reuniões internas ao governo e com o Conselho do Orçamento Participativo
ao que se sucederam as Plenárias Preparatórias do Congresso em todos os 8 (oito)
Distritos Administrativos de Belém, quando foi apresentado e discutido o
funcionamento do processo de congresso; as Oficinas Preparatórias em que foram
discutidos temas transversais como Gestão Democrática e Qualidade Social do
Serviço Público; Amazônia e Financiamento; os Congressos Distritais Temáticos
(Desenvolvimento Humano por uma Economia Solidária; por um
Desenvolvimento Urbanístico e Ambiental; por Inclusão Social; por uma
Cidadania Cultural e Comunicação; Gestão Democrática e Qualidade Social do
Serviço Público e Juventude). Foram 48 congressos realizados em todos os Distritos
Administrativos de Belém.
Dentro do processo de articulação dos setores foram realizadas quase 200
reuniões que podemos caracterizá-las como congressos que se diferenciaram entre
si pelo número de participantes mas também pela grande diversidade de setores,
como feirantes, grupos folclóricos, trabalhadores e empresários, professores e
estudantes da área de turismo (envolvendo o setor de hotelaria e agentes de
viagem); empreendedores do Banco do Povo, idosos, estudantes universitários e
artistas; empresários do comércio através da Associação Comercial do Pará, dentre
inúmeros outros.
As discussões advindas dos Congressos Distritais Temáticos também foram
debatidas no âmbito municipal com participação de delegados eleitos e atores que
se integraram no decorrer do processo de congresso. Foram os Congressos
Municipais Temáticos.
O I Congresso Geral da Cidade de Belém reúne, portanto, as contribuições
deste processo e que serão objeto de deliberação para a constituição do Plano para
a Cidade de Belém em um momento que ocorrerá muito debate, conferências, atos
de irmanamento entre cidades do Brasil e do mundo, enfim uma grande festa da
democracia e da solidariedade.

Conselho da Cidade e Conselhos Distritais: mais poder para o povo.

Estes conselhos são instâncias permanentes do Congresso, de caráter


consultivo e deliberativo com o papel de acompanhamento do Plano da Cidade,
assim como de estímulo e acompanhamento às formas de controle social sobre os
serviços públicos em geral prestados na cidade. Têm ainda a função de discutir e
contribuir para a viabilização do Plano nos aspectos políticos e financeiros.
O Conselho da Cidade composto por representantes eleitos nos congressos
distritais, em assembléias de categorias e outros diretamente em urna representam
os mais variados setores sociais locais. Estes conselhos representam uma estrutura
de poder jamais experimentada em Belém. Permite uma flexibilidade na sua
composição que acompanhe a dinâmica da cidade que ocorre em qualquer
sociedade, distintamente daquelas estruturas congeladas, herméticas com
representações apenas formais. Assim, jovens, negros e negras, mulheres, índios e
índias, feirantes, intelectuais, empresários, entidades sindicais etc. fazem parte da
sua composição expressando a própria construção do congresso como um processo
e dando conta da história de organização social na cidade.
Os Conselhos Distritais são instâncias de estímulo e acompanhamento das
formas de controle social e monitoramento do Plano no âmbito do distrito em que
foi eleito em consonância com a cidade como um todo bem como, devem buscar
formas de concretização do Plano. A escolha dos 88 conselheiros titulares e dos
suplentes foi realizada através de eleição direta, em urna e em todos os distritos.
Os 3 mais votados asseguram a representação no Conselho da Cidade

Todos se encontram no Congresso

Todos os delegados eleitos nos diversos congressos distritais e setoriais; e


todos os cidadãos de Belém, sejam individualmente como moradores dos diversos
bairros de Belém, intelectuais, artistas, idosos, entidades empresariais, de
trabalhadores, associações de categorias, trabalhadores autônomos como feirantes,
vendedores do mercado informal em vias públicas, empreendedores do Banco do
Povo, jovens, enfim, uma variedade de atores, sejam organizados em entidades ou
não e que tenham ou não participado do processo de congresso, podem participar
do evento. E aqueles que independente da forma de organização juntaram seus
pares e participaram nos diversos espaços acima referidos e puderam eleger
delegados na proporção de 1 para cada 10 presentes.
Enfim, todos os que que querem compartilhar sonhos, vivenciar um
momento coletivo do pensar, atuar na cidade de forma a tornar cada vez mais
sólido o sonho da autodeterminação do seu destino, da soberania da nossa região
amazônica, do nosso país e de todos os povos que lutam por liberdade, por
felicidade, pelo direito de fazer da prática democrático um ato de prazer na
construção de novas consciências libertadoras e construtoras da felicidade
humana. Portanto, os delegados deliberarão sobre o Plano, mas todo cidadão pode
participar e influenciar no processo.
No dia 12 será anunciado pelas crianças o I Congresso das Crianças de Belém
a ocorrer em 26 de novembro, protagonizado pelas crianças falando por si e,
também, o Fórum Social Amazônico a ser realizado em janeiro de 2002 em Belém,
antecipando o Fórum Social Mundial.
O encerramento será na Aldeia Cabana como coroamento do Congresso Geral
da Cidade de Belém, que também homenageia Milton Santos, um intelectual dos
mais respeitados do Brasil, recentemente falecido, e que dedicou grande parte de
sua obra à reflexão dos impactos da globalização sobre a humanidade; e comemora
também os 25 anos de carreira artística de Vital Lima.
No dia 12, ainda, será aprovado o Plano da Cidade de Belém e empossados os
Conselhos da Cidade e Distritais. Será um dia das Crianças digno de uma cidade,
que dá futuro às suas crianças todos os dias, que é a Belém Cidade Criança, onde
jovens, idosos e todos sonham e constróem o seu futuro, no presente.
E assim Belém vai se desenhando com traços humanos que expressam a
contradição da sociedade em que se insere, mas ressaltando o brilho nos olhos
trêmulos de quem fala pela primeira vez em público; de quem faz a crítica porque
sabe que tem eco a sua voz; de quem carrega junto filhos e filhas para viver um dia
de debate e que também se reúnem, reivindicam e discutem a cidade; dos que se
mostram pela primeira vez para a política junto com seus pares que como eles se
ofuscavam pelo receio da discriminação; dos que saem direto da noite de trabalho
para encontrar esperança; daqueles que nem bem sabem por que vêm mas se
alinham e vão se seduzindo pelo horizonte que lhe anuncia o novo; outros que
desanimam mas retornam e meio que espreitando vão decodificando frases,
gestos, discursos e vão encontrando identidade que muitas vezes não havia
percebido existir; enfim, todos os que no dia a dia ousam desfiar o mundo,
desafiar limites impostos mas que são possíveis de serem rompidos quando a
força, a fé, o poder de cada um se junta e vai recriando uma cidade que tem futuro.
E o Governo do Povo vem se colocando o desafio de contribuir para o desnudar
dessa cidade que vem florescendo na luta, reconstruindo sua história por quem a
faz cotidianamente.
8 - RESOLUÇÕES DO I CONGRESSO GERAL DA CIDADE DE BELÉM
“MILTON SANTOS” – CONGRESSO DA CIDADE 2001. É ASSIM QUE O
POVO GOVERNA

APRESENTAÇÃO

CONGRESSO DA CIDADE: É ASSIM QUE O POVO GOVERNA

O documento que ora apresentamos é resultado das contribuições de


homens e mulheres, alguns mais jovens outros com mais idade, crianças que
seguiram rumo aos encontros, ao imprevisível, para compartilhar sonhos que se
fundem entre os diversos temas do Congresso, numa combinação de sons, de letras
que se desenvolvem na diversidade, na desigualdade da cidade que quer ser una
na diferença, mas que também quer romper com a diferença que separa, que
rompe laços, para construir a cidade da solidariedade, de justiça e de dignidade,
que vem sendo cotidianamente alicerçada por milhares de cidadãos que ousam
desafiar o silêncio da opressão, da indiferença a que foram historicamente
submetidos.
Ao longo dos 06 meses desde a realização do 1º Congresso – o de Direitos
Humanos – aconteceram 48 Congressos Distritais Temáticos (06 Temáticos nos 08
Distritos Administrativos); 11 Congressos Municipais, 06 Temáticos e 05 Setoriais
(Negros, Mulheres, Portadores de Deficiência, Homossexuais e Índios) e 117
reuniões Setoriais de Grupos Sociais que se mobilizaram, discutiram e
apresentaram suas contribuições com reflexões e propostas. O resultado desse
processo foi a eleição de 2500 delegados, eleitos na proporção de 1/10 presentes; 88
Conselheiros Distritais, eleitos em eleição direta em urna, 50 Conselheiros da
Cidade, 27 e 15 suplentes, respectivamente.
Este processo foi se redesenhando a cada dia, a cada Congresso. O primeiro
Congresso Temático revelou não termos acertado no desenho, sendo necessário
mudar. Assim, foi adotada para os Congressos, uma metodologia em que os
participantes assistiram palestras, discutiram em grupos, relataram seus trabalhos,


Sob coordenação geral executiva da Secretaria de Gestão e Planejamento (SEGEP) o Congresso da Cidade
expressa-se num permanente e socialmente construído processo de reflexões e proposições que exige um
também permanente esforço coletivo de sistematização para a constituição do Plano da Belém do Pará do
futuro. Entre outros atores sociais, realizou a sistematização das propostas de todo o processo, inclusive do
momento de culminância – I Congresso Geral da Cidade de Belém “Milton Santos”-, a Comissão de
Sistematização assim constituída: Alessandra Lima, Aluísio Guapindaia, Ana Cristina Alcântara, Ana Vilacy
Galucio, Carlos Alberto Bordalo, Carmem Suely Oliveira, Celeste Medeiros, Georgina Galvão, Glória Rocha,
José Andrade Raiol, Kazumi Shinozaki, Karina Darwich, Lígia Ramos Marques de Souza, Luís Flávio Maia
Lima, Manoel Imbiriba Jr., Márcia Andréa Macedo, Márcio Meira, Maria José Diniz, Regina Cláudia de
Gusmão Penna, Regina Daibes, Roberto Rômulo Gadelha, Rosa Rocha, Rosane de Seixas Araújo, Rosâgela
Cecim, Sandra Helena Cruz, Selma Suely lopes Machado, Thaís Sarmanho, Vânia Regina Vieira de Carvalho.
Apresenta-se neste, excertos da síntese resolutiva do Congresso da Cidade em 2001, obtida até o I Congresso
Geral da Cidade de Belém. A memória completa do processo pode ser obtida na SEGEP.
debateram e elegeram Delegados; constatando que o caminho a trilhar é esse, a
despeito do imponderável que por vezes se impunha.
E foi crescendo, ora com muitos, ora com poucos, mas que chegou aos
milhares nos números e nas idéias expressadas nos Congressos Temáticos e nos
Setoriais. Negras e Negros defendem a necessidade de Unir Forças contra o
Racismo; as Mulheres afirmam que Sem as Meninas, Mulheres, não há Direitos
Humanos; os (as) Portador(a)s de Deficiência, Todos Sonham em Ter Acesso; um
Desenvolvimento Humano, Homossexualismo e Cidadania Cultural, é o que
sonham os homossexuais na sua busca pelo respeito, fortalecimento e
reconhecimento da sua identidade; os Jovens acreditam que a Juventude faz a
diferença; e os Índios da Cidade e os aldeados se encontram pela primeira vez para
debaterem e seguirem Construindo a Cidadania Indígena em Belém.
Foram debates que se traduziram em Diretrizes, Projetos e Ações para cada
Eixo Temático individualmente e que compõem este documento. As reflexões, as
propostas, foram sistematizadas a partir do agrupamento pelo critério da
semelhança e da possibilidade de serem reunidas sob a égide de uma Diretriz
Programática, a qual correspondem os respectivos projetos capazes de atender às
orientações apresentadas por esta Diretriz. Cada projeto corresponde a um
conjunto de ações que materializam as Diretrizes e os Projetos.
Isso se refere tanto aos resultados advindos dos Congressos Distritais, dos
Municipais Temáticos, quanto dos Setoriais. Em relação a estes últimos, os
Setoriais, inclusive Juventude, foram realizados Congressos sob orientação
Temática, ou seja, de alguma forma remeteram questões para as diversas políticas
públicas inseridas em cada Eixo. Por exemplo, o Congresso das Mulheres,
desenvolveu a discussão em torno dos cinco Eixos, a partir de textos-base para
orientação do trabalho de grupo e debates.
Os conteúdos aqui reunidos são parte de um processo onde foram realizadas
oficinas de temas transversais, como “Amazônia”, “Financiamento da Cidade” e
“Gestão Democrática e Qualidade Social do Serviço Público”.
A intersetorialidade, a visão integral das necessidades se refletem nas
diversas propostas que se entrelaçam, se comunicam entre os temas. Assim, é que a
síntese de um Congresso da Cidadania Cultural, por exemplo, pode trazer
conteúdos que a rigor se referem à Inclusão Social ou à Economia e assim por
diante.
A pauta de caráter geral relativa ao tema de “Direitos Humanos”, encontra-se
aqui apresentada de forma equivalente aos demais temas, reiterando que os
conteúdos pertinentes às diversas políticas, foram incorporados aos respectivos
Eixos. O mesmo procedimento foi adotado para as demais reuniões Congressuais
(feirantes, artistas, empresários, trabalhadores, dentre outros).
Contudo, encontram-se anexas a este documento, as cartas e moções
aprovadas por ocasião dos Congressos Setoriais relativas aos respectivos grupos
que as apresentaram e as propostas específicas de cada Eixo Temático, distribuídas
por Diretrizes e Projetos.
 EIXOS TEMÁTICOS

Gestão Democrática e Qualidade Social do Serviço Público

O desafio de possibilitar o exercício pleno do poder popular é o que faz com


que o eixo Gestão Democrática e Qualidade Social do Serviço Público se caracterize
como transversal a todos os temas do Congresso. A materialização dessa condição
se efetiva quando, através da implementação de mecanismos de controle social,
como as Comissões de Fiscalização, os Conselhos Gestores passam a interferir na
transformação da relação entre o poder público e a sociedade; quando o conceito
de público extrapola os domínios do aparato estatal e há um deslocamento do
poder de decisão às parcelas da população que jamais interferiram nos rumos que
a cidade deve tomar; quando a relação servidor x usuário se altera, ao mesmo
tempo em que cada cidadão vai se apropriando dos espaços que se constituem
como o lugar de pensar, de construir, de planejar o cotidiano, o imediato e de
projetar o futuro. Projetar o futuro significa ir criando, hoje, as condições para a
sua realização, e então, há que se colocar o desafio de questionar as estruturas, o
modelo de sociedade que aparta, que segrega, discrimina e aprofunda a injustiça
social. Mas, também, o desafio de criar alternativas concretas de enfrentamento,
como as iniciativas de controle social sobre serviços públicos que se expressam nas
Comissões de Fiscalização de Obras – COFIS; nos Conselhos Gestores de Unidades
de Saúde; nos Comitês Ambientais da população em geral e de servidores
municipais, que são desenvolvidos atualmente em Belém.
Mas, o desafio também se coloca globalmente. Exercer o controle social sobre
serviços públicos requer, antes de tudo, reconhecer e afirmar a valorização do
serviço e do servidor público, contrariando a tese do Estado mínimo, pelo
reconhecimento que a retirada de funções básicas do Estado que vem se realizando
através da redução progressiva do seu papel na produção e prestação de serviços
básicos à população, bem como da alteração das leis que regulam as relações
trabalhistas, tornando cada vez mais precárias essas relações em que os
trabalhadores perdem direitos e também pelo processo intenso de privatização de
empresas estatais, sem levar em conta o quadro de exclusão da maioria da
população.
Gestão Democrática e Controle Social significa o exercício pleno de uma
cidadania crítica, transformadora e de apropriação dos espaços públicos estatais e
da cidade em geral, em um contexto de mudanças profundas da sociedade que
impõe um posicionamento crítico frente a esse momento no capitalismo, designado
de neoliberalismo, como expressão das transformações que interferem de forma
drástica na vida das cidades e de seus cidadãos.

DIRETRIZ PROGRAMÁTICA

1. O Poder da Decisão nas Mãos Do Povo:


Esta diretriz visa aprofundar a participação popular, que é o principal vetor
da engenharia institucional representada pelo Congresso da Cidade e da forma de
administrar do Governo do Povo. Nesse sentido, o Programa de Governo tem
como proposta várias diretrizes compostas de mecanismos, instrumentos e
instâncias colegiadas, comissões e conselhos, que objetivam garantir a participação
popular na gestão da cidade.

2. Qualidade do Serviço Público: Dignidade ao Público e ao Servidor

O projeto Qualidade do Serviço Público defende a importância da


manutenção do serviço público. Para isso, contrariando as iniciativas neoliberais
que visam a redução do Estado e, por conseguinte, do funcionalismo público em
geral, entende ser necessária a valorização do servidor público, investindo em sua
capacitação e nas suas condições de trabalho, para que dessa forma possa prestar
melhores serviços aos habitantes do município de Belém.

Desenvolvimento Urbanístico e Ambiental

O eixo temático Desenvolvimento Urbanístico e Ambiental está diretamente


vinculado ao princípio geral de construção da nova cidade de Belém e orienta-se
pelos princípios da reforma urbana, defendendo a construção da cidade justa,
democrática e sustentável. Nessa proposição, o Estado deve agir na perspectiva do
controle social, visando combater a segregação sócio-espacial e promovendo a
justiça social. Dentro desta perspectiva, a cidade com função social deve opor-se à
cidade como mercadoria, privilegiando as demandas da sociedade e invertendo as
prioridades. Assim, reafirmamos que o desenvolvimento da cidade deve estar de
acordo com os princípios de liberdade e igualdade, para que ela seja pensada e
construída para o povo, levando em conta a diversidade de rendas da população,
mas também a diversidade das culturas e das práticas da vida social.
Viver com qualidade de vida significa continuar desenvolvendo nossa cidade
trabalhando, desfrutando seus espaços e explorando os seus recursos naturais sem
destruí-la e, ainda, preservando seu patrimônio - meio ambiente natural e
construído - para as gerações futuras. O objetivo maior deste eixo temático é,
portanto, a construção de uma melhor qualidade de vida para os habitantes de
Belém, baseada nos princípios de justiça e solidariedade, onde os interesses
coletivos predominem sobre os individuais.

DIRETRIZ PROGRAMÁTICA

1. Os Interesses Coletivos Orientam o Desenvolvimento da Cidade

Belém opta por fazer um Desenvolvimento Urbano que vai construir a


cidade cidadã, ou seja, a cidade que está voltada para os interesses públicos e
coletivos da população, uma cidade de qualidade onde predomine a justiça social
no espaço urbano, fortalecendo uma organização espacial urbana inclusiva e tendo
como referência o projeto estratégico e democrático de cidade que resgata a
dimensão política e educativa do controle social, a municipalização do saneamento
e a implantação do Conduma.

2. Assentamentos Humanos - Moradia com Dignidade

Esta Diretriz defende a cidade para aqueles que não dispõem de moradia. A
garantia do acesso à moradia digna é condição fundamental para a efetivação
desse direito:

 Implementação da Política Habitacional do Município, garantindo


qualidade de vida e inserção sócio-econômica àqueles que se encontram à margem
do acesso à moradia, priorizando as mulheres chefes de família, população negra e
servidores municipais, visando à melhoria das condições de moradia e
habitabilidade em toda a cidade com desenvolvimento de Infra-estrutura,
incorporando a dimensão habitacional nos Planos Sociais de Desenvolvimento
Ambiental.

DIRETRIZ PROGRAMÁTICA

3. Transporte Que Prioriza A Vida

O Transporte que prioriza a vida tem como plataforma a humanização do


trânsito, assumindo como prioridade o transporte público e ambientalmente
saudável. Consolidará a política municipal de mobilidade, em consonância com a
política urbana, aprofundando a participação social no planejamento e gestão do
transporte público e da circulação urbana.

4. Saneamento Integral - Qualidade de Vida na Belém Saneada,


Limpa e Organizada

Uma Belém saneada, limpa e organizada é um direito de cidadania, como


parte do processo de melhoria da qualidade de vida dos habitantes da cidade.

5. UNIVERSALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E ESGOTAMENTO


SANITÁRIO EM BELÉM

Consiste na defesa da Municipalização dos Serviços de Saneamento,


propondo a Gestão Pública desses serviços em caráter universal, com qualidade e
eficiência. É urgente e necessário que Belém tenha a gestão e o controle da
prestação dos serviços de água e esgoto para poder assegurar o aumento de
cobertura no abastecimento à população.
6. Meio Ambiente - Resultado das Aspirações Humanas

O desenvolvimento sustentável da cidade deve enfatizar as qualidades das


condições de vida dos moradores da cidade e sua relação de respeito com os
recursos e necessidades naturais da cidade.

DESENVOLVIMENTO HUMANO
POR UMA ECONOMIA SOLIDÁRIA

O eixo temático Desenvolvimento Humano por uma Economia Solidária é


compromisso do Governo do Povo com a inclusão social. Nessa concepção, o
trabalho humano tem importância central, por ser a base que, historicamente, tem
impulsionado o desenvolvimento do homem na sociedade. Na primeira gestão, o
Governo do Povo iniciou a construção de uma nova cidade, apostando na
participação popular, na transformação da cultura política, na democratização do
Aparelho de Estado Municipal, e em políticas públicas com inversão de
prioridades. Apesar do cenário adverso nos planos nacionais e internacionais,
Belém está reconquistando o papel de liderança na Amazônia como uma cidade
capaz de expor resistência ativa aos efeitos perversos do neoliberalismo.
Apesar dos avanços alcançados, ainda há muito a fazer. A dívida social
deixada nos 381 anos de desgovernos é enorme e não pode ser paga em tão pouco
tempo, principalmente em uma conjuntura dominada por um Governo Federal
que reza pela cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) de l998
mostram que 76% da população de Belém tem renda de 1 a 5 salários mínimos
sendo que destes, 50,5% tem renda de até dois salários mínimos. Entre os mais
aquinhoados vamos encontrar 9,84% com renda entre 5 a 10 salários mínimos e 8,
29% com renda superior a 10 salários mínimos, enquanto cerca de 5% declara-se
sem rendimentos.
A taxa média de desemprego, que era de 6% no período de l981 a l985, subiu
para 11,8% de 1995 a l999, e o salário médio caiu de R$ 289,00 para R$ 260,00, no
mesmo período, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD). Belém tem hoje, aproximadamente, 140 mil desempregados, dos quais
cerca de 60% atuam na economia informal.
O Congresso da Cidade é um esforço coletivo para construir novas relações
sociais e econômicas fundadas na noção de desenvolvimento econômico
ambientalmente sustentável.
Neste sentido, é fundamental entender a diferença estrutural entre: (I) um
sistema de empreendimentos mercantis e não mercantis, cujo objetivo é a
satisfação das necessidades de seus membros e que acumulam somente como
condição para maior eficiência na conquista desse objetivo; e (II) um sistema de
empresas capitalistas cujo objetivo é acumular os lucros de seus proprietários e
gerentes, que para isso manipulam o sistema de necessidades e contribuem para
que apenas as demandas solventes sejam satisfeitas.
A vinculação entre os dois sistemas é necessária, mas a relação entre essas
duas esferas deve ser redefinida para alcançar um equilíbrio justo entre ambas e
tentar resolver de maneira econômica e politicamente sustentável os problemas
sociais gerados a partir da exacerbação do modelo de uma sociedade de mercado.
Este Governo Popular quer facilitar as experiências enraizadas nas práticas
econômicas dos setores populares, para que sejam capazes de ir criando, através da
aprendizagem reflexiva, novos padrões de comportamento, mais eficazes e
eficientes, levando em conta a perspectiva do desenvolvimento sustentável,
contribuir decisivamente para a realização desse objetivo na ação conjunta de
ativistas sociais encarregados de programas de desenvolvimento local, de centros
de pesquisa e formação de agentes políticos que compartilhem da idéia de um
desenvolvimento a partir do local, que tenham como um de seus objetivos a
conformação de um sistema de Economia Popular.
Este é o fundamento deste Eixo Estratégico que pretende estruturar bases que
possibilitem um desenvolvimento humano, mobilizando o potencial da cidade
amazônica frente às enormes desigualdades sociais provocadas por uma injusta
distribuição da riqueza, e promovendo, assim, qualidade de vida com dignidade
humana.

DIRETRIZES PROGRAMÁTICAS

1. Desenvolvimento Global da Cidade: O desenvolvimento da cidade


deve considerar a riqueza que Belém oferece, incluindo a localização geográfica,
diversidade ambiental, os valores culturais (música, folclore, culinária, artesanato,
etc.) e o patrimônio histórico. Outras opções incluem a indústria de artefatos de
madeira, a indústria de lapidação, a agroindústria e o turismo, capazes de gerar
significativo número de empregos.
2. Condição de acesso ao 1o. emprego: Dá condições ao jovem de acesso
ao 1º Emprego, favorecendo sua trajetória profissional, porém privilegiando as
políticas de complementação de renda familiar que permitam a permanência dos
jovens na escola. Promover formação/capacitação profissional dos jovens para
disputar o primeiro emprego.
3. Prioridades para políticas de emprego e renda: As políticas de
emprego e renda devem fortalecer os mecanismos de crescimento da economia
popular, criando oportunidades sociais às mulheres, negros, idosos e portadores
de necessidades especiais (física, mental e transtornos mentais), homossexuais,
índios e jovens.
4. Políticas de disseminação da cultura cooperativista e solidária:
Estimula formas de organização de trabalho em cooperativas aos moldes do que já
ocorre com as famílias da Bolsa-Escola combinando com o processo de formação e
financiamento.
5. Política de Crédito Facilitado: Mantém a Política de Crédito
Facilitado para os pequenos e micro empreendedores, através da criação de cartão
de crédito da economia popular da abertura de linha de crédito para construção de
imóveis, para instalação de empreendimentos comerciais e também da criação de
cooperativas e associações. A cultura indígena deve ser incentivada através de
atividades produtivas que recebam créditos de financiamento e espaços de
comercialização.
6. Aperfeiçoamento da política fiscal e tributária: Aperfeiçoa a Política
Fiscal e Tributária diferenciada, como forma de distribuição de renda na cidade e
de melhor socialização e acesso aos equipamentos e investimentos públicos e
comunitários, respeitando a capacidade de pagamento de cada cidadão.
7. Articulação entre o urbano e o rural: Promove a articulação entre o
Urbano e o Rural de forma a integrar políticas, serviços, economias, cultura e lazer
entre os cidadãos que vivem no município, seja na parte continental seja na parte
insular.
8. Desenvolvimento sustentável na Amazônia: Apresenta como
objetivo principal lutar por um modelo de desenvolvimento na Amazônia de
caráter ecologicamente sustentável, tendo como propostas do Congresso
alternativas de organização e criação de infra-estrutura para armazenamento e
comercialização da pesca artesanal.
9. Política de incentivo à produção nas ilhas: Realização do
levantamento da produção nas ilhas, visando a criação de infra-estrutura e de
mecanismo e de escoamento, bem como a realização de estudos sobre o cultivo da
fauna e flora local, com atenção às plantas medicinais e ornamentais.
10. Apoio às lutas dos trabalhadores: Apóia as lutas dos trabalhadores
(as) rurais por reforma agrária, políticas agrícolas e infra-estrutura no campo.
11. Política de Crédito Especial - Criar crédito especial para as
associações, centros comunitários, junto ao banco do povo obedecendo aos seus
critérios de funcionamento.
12. Apoio às pequenas e micro-empresas - Valorização das pequenas
empresas nos processos licitatórios da Prefeitura Municipal de Belém.
13. Fomento aos LOTs - Fortalecimento da capacitação profissional
através dos LOTs ( Laboratórios Organizacionais de Terrenos).

DESENVOLVIMENTO HUMANO PELA INCLUSÃO SOCIAL

“(...) e, em tantas noites passadas, uma terá havido, pelo menos, em que
sonharam o mesmo sonho, viram a máquina de voar batendo as asas, viram o sol
explodindo em luz maior, e o âmbar atraindo o éter, o éter atraindo o ímã, o ímã
atraindo o ferro, todas as coisas se atraem entre si, a questão é saber colocá-las na
ordem justa, e então se quebrará a ordem (...)
(José Saramago em O Memorial do Convento)

Neste Congresso, estamos escrevendo um projeto de futuro para Belém


Não é tarefa das mais fáceis que Belém seja uma CIDADE CRIANÇA. Uma
cidade que tenha no rosto de todo homem, de toda mulher, do negro, do índio, do
caboclo, das crianças, e de todos aqueles que vivem o cotidiano da cidade, a
expressão de felicidade que é própria das crianças.

A Belém Criança desse projeto em construção é uma cidade com o povo


saudável; onde os pais possam alimentar seus filhos; onde não seja normal que um
filho de pobre, representante da maioria da população, tenha que trabalhar ao
invés de estudar, e não tenha direito à lazer e saúde; onde o jovem encontre lugar
na sociedade para suas legítimas aspirações; onde não seja comum ou suportável
ter milhares de pessoas que não tiveram acesso a ler e escrever e, por isso, tenham
mais dificuldade de compreender o mundo.

Belém faz parte de um quadro do Brasil, onde a maioria da população é


excluída daqueles que são os seus direitos mais elementares, como: emprego,
saúde, renda fixa para sustentar seus filhos, acesso aos bens culturais.

Vislumbrar a inclusão social é continuar discutindo o que é dever do governo


municipal, mas é também construir as lutas que assegurarão as responsabilidades
dos governos Estadual e Federal para a cidade. A cidade tem que ser exigente e
tem que lutar para que as políticas nacional e estadual sejam distribuídas.

O dever de cuidar do cidadão é do Prefeito, mas é também do Governador e


do Presidente. Todos foram eleitos e a população tem que exigir o que lhe é
devido. Não é admissível, por exemplo, que os governos Federal e Estadual
tenham abandonado a educação infantil, não destinem um centavo sequer para
colocar crianças de 0 a 06 anos em creche ou pré-escola, em turno integral. Hoje, o
que existe de educação infantil na cidade é graças a um sobre esforço do governo
municipal – que já acumula prêmios pela qualidade de intervenção, como é o caso
da Creche Erê, situada num dos maiores “bolsões” de exclusão —, e a uma rede de
solidariedade que compreende ONGs, instituições religiosas e entidades
comunitárias. Aqui vale destacar as 183 (cento e oitenta e três) entidades que
recebem recursos através da FUNPAPA, que prestam serviços na área da educação
infantil em suas comunidades e as creches e entidades filantrópicas conveniadas
com a SEMEC.

Atingir inclusão social é envolver todos os cidadãos em conquistas do tipo


não tolerar o trabalho infantil. É necessário atingir uma mudança de cultura, onde
um empresário não apenas reclame que há crianças perambulando em frente às
suas lojas, ou os cidadãos de classe média tão simplesmente se incomodem por
serem abordados nas ruas. É necessário que estes e toda a sociedade se engajem em
Campanhas como a “Não dê esmola, dê escola” que é essencialmente mobilização
social. Não adianta somente o governo municipal fazer a sua parte distribuindo
Bolsa Escola com o fim específico de possibilitar a saída de crianças das ruas, se
pais, parentes ou vizinhos não denunciarem redes de adultos que agenciam
crianças e adolescentes como vendedores ou em situações de prostituição. É
imprescindível uma mudança de atitude, para que um pai não diga candidamente:
“eu prefiro meu filho trabalhando, em vez de roubando”. Atingir a inclusão social
é não permitir que crianças e adolescentes tenham que ir cada vez mais cedo para
as ruas à busca do pão de cada dia, e lá encontrem as drogas, a violência, a
prostituição e tudo que lhes pode tirar a possibilidade de futuro.

Atingir a inclusão social é assegurar a manutenção da Escola Cabana, que


resgata em Belém, a escola como espaço cultural; valoriza os educandos como
sujeitos construtores do conhecimento; reconhece os diversos saberes sócio-
culturais que integram a construção e a ação do currículo escolar; trabalha as
diferenças de forma não discriminatória, garantindo na escola igualdade de
oportunidade para todos; valoriza profissionais da educação com formação
continuada; incorpora o esporte, a arte e o lazer como parte da formação da
cidadania; e intensifica a gestão democrática.

Atingir a inclusão social é reforçar os programa Família Saudável e Agentes


Comunitários de Saúde, com controle social, para que atendam cada vez mais às
necessidades da população e tornem eficientes os recursos públicos da saúde que
já são tão restritivos em função da política neoliberal do governo federal e seguida
pelo governo estadual. Com estes programas, cada membro de família, da criança
ao idoso, recebe atenção especial.

Para vislumbrar a inclusão social, é necessário compreender que há uma


lógica liberal que se traduz na globalização econômica e financeira que domina o
mundo. Lógica esta que se estende por toda parte, pretensamente triunfante, mas
negando direitos humanos mais elementares, como o de construir o próprio futuro.

Mas existe outra lógica, a lógica dos homens que sonham e se associam, que
buscam respostas novas para os problemas complexos, que mobilizam os recursos
da cidadania para encontrar saídas coletivas, que buscam combinar ajuda imediata
com a imaginação do futuro. É a lógica da experiência solidária para criar melhores
condições de vida juntos, através de políticas públicas ambiciosas. A solidariedade
que busca a inclusão é o único futuro, a única perspectiva para os problemas da
humanidade, da cidade.

Em Belém, a experiência do Congresso da Cidade, neste eixo do


Desenvolvimento Humano pela Inclusão Social, que incorpora propósito de
governo com o que “está na boca do povo” para construir uma nova síntese, é
como a menor vibração na asa de uma borboleta, a simples mudança de atitude
dos cidadãos, já mudou o mundo, já provocou repercussões possíveis na ordem
internacional.
DIRETRIZ PROGRAMÁTICA

1. Escola Cabana – Lugar de Criança e Jovem é na Escola, na Família e


na Comunidade

Esta diretriz traduz o desejo de construir uma cidade onde a Educação


assume uma dimensão global, envolvendo toda a sociedade com o compromisso
de garantir o provimento das necessidades educacionais para a toda a população, e
em especial aos grupos tradicionalmente excluídos do acesso à cidadania. Dessa
forma, orienta-se pelos princípios da igualdade e justiça, possibilitando a educação
para crianças e adolescentes, jovens e adultos trabalhadores e desempregados,
pessoas com necessidades educativas especiais, negros, índios, homossexuais. As
nossas escolas devem contribuir para a igualdade de oportunidades a todos os
cidadãos de Belém.

2. Universalizar os direitos sociais para todas as cidadãs e cidadãos de


Belém

O capital exclui coisas belas, mas a solidariedade possibilita o futuro da


comunidade humana. Belém está se construindo como uma cidade de dimensões e
funcionamentos humanos. Constrói-se com o legado dos nativos, mas combinando
história e cultura com os fazeres cotidianos dos usuários da cidade.

Em Belém, o cidadão é razão de existir da cidade. O governo, com suas


políticas, coloca-se inteiramente à disposição destes, para juntos construírem a
nova vida. Os direitos aos serviços, aos bens públicos, aos lugares vivos, aos
espaços de quietude e aos lugares de possibilidades serão assegurados a todos,
contrariando os esquemas liberais.

Sob a égide do capital, a solidariedade é forma de resistência, é possibilidade


de permitir que famílias saiam do desespero, da falta de perspectiva. A
solidariedade pode restaurar a confiança dessas famílias em si mesmas e
restabelecer a dignidade. E junto com a dignidade, a perspectiva de projetos
futuros.

Universalizar os direitos sociais básicos significa, por exemplo,


assegurar Bolsa-Escola para famílias que sem essa renda mensal passariam fome e
seus filhos seriam empurrados compulsoriamente para as ruas. Mas não basta
distribuir um salário mínimo mensal para cada família, é necessário que esta
amplie sua possibilidade de construção de vida digna. Para isso, são asseguradas
ações de fomento à geração de trabalho e renda, de qualificação e requalificação
profissional. Ao longo do benefício, certamente essa família terá maiores chances
no mercado de trabalho, poderá associar-se também, ou ainda ousar no negócio
próprio, contando em ambos os casos com a alternativa do Banco do Povo. Mas
essa mesma família poderá contar na sua comunidade com a atenção do programa
Família Saudável e com a Escola Cabana que além de ensino de qualidade, tem
esporte, arte, lazer e merenda escolar que redime a fome.

Para fazer face a um cenário complexo, as políticas de Assistência Social, a


Saúde e a Educação, Geração de Emprego e Renda devem ampliar seu campo de
intervenção se juntando a outras áreas, e reinventando um método de trabalho que
se antecipa e possibilita com ações coletivas, a entrada de novos contingentes no
processo de inclusão social. A eficácia dos serviços que traduzem as políticas
públicas serve de abertura para suscitar e organizar formas cooperadas e
integradas, seja entre os serviços municipais, seja entre instituições, seja com as
associações locais.

3. Juventude Unida. Mas, Viva a Diferença!

Diz-se que: “juventude é um estado de espírito”. Tem cores, tem tribos, tem
ânsia por estabelecer-se no mundo. A idade é um tênue limite, mas é um tempo de
experimentação, de posicionamento diante da vida, mas também de indecisão.

Historicamente as demandas da juventude têm sido por arte, lazer, cultura,


diversão, tem sido a busca do belo. Mas nesta cidade, neste país marcado pela
exclusão social, a juventude tem todas essas aspirações pela beleza, mas a
sobrevivência urge e junto com ela a necessidade de participar ativamente da
mobilização social que leve a construção de realidades mais inclusivas.

Este momento para a juventude de Belém é ímpar. É um momento de


formação cidadã, é o momento de fazer acontecer os sonhos de mudança, é o
momento da radicalidade para construir a nova vida, a nova paisagem da cidade.

4. Em Belém, Mulher é para ser feliz. Fim da discriminação e da


violência

Belém cidade das mangueiras e das mulheres, será também dos homens. Os
projetos e ações se desenvolvem para dar conta de reflexões que influenciem nos
meios de comunicação que criam estereótipos e padrões de comportamento de
maneira discriminatória e preconceituosa à imagem da mulher. Desenvolvem-se
também, para que no cotidiano de homens e mulheres, o ser humano seja
valorizado na sua totalidade. Todos terão maiores oportunidades de informação,
saúde, assistência, trabalho, renda, justiça e educação. Belém será igualmente o
espaço das pessoas mais velhas que juntamente com adultos e os jovens cultivarão
relações igualitárias, de solidariedade e cuidado entre as gerações, reconhecendo a
multiplicidade de expressões da identidade e da cidadania. E a cidade se constrói
como que iluminada, porque eles e elas seguirão “como encantados lado a lado”,
rendidos ao “tempo da delicadeza” sem violência ou discriminação.
5. Belém, Cidade Saudável

Na Belém saudável, cuidar da saúde das famílias é questão fundamental. Seja


da criança com o teste do pezinho, da assistência odontológica para o pai
trabalhador, dos exames para a mãe, dos remédios do vovô e vovó, e mais atenção
integral no Pólo dos Idosos.
Para que tenha mais Prontos socorros distritais, hospitais, para que o jovem
acidentado não espere muito, nem a mulher grávida corra riscos, pois seu bebê
bem assistido, amamentado, crescerá forte e será mais um cidadão informado e
incluído.
Na Belém saudável há espaços equipados, com pessoal qualificado e
atendimento para todos. Aqui o SUS é coisa séria e a Rede de Saúde Municipal está
consolidada, informatizada, integrando ações desde a Atenção Básica até às mais
Especializadas. Sua gestão e organização é transparente e compartilhada com os
Conselhos Municipal e Gestor, Auditorias e até eleição para diretor ou diretora das
unidades de serviços.
Belém - uma cidade saudável, construída da força e da crença de todos e
todas que partilham de um Projeto que vislumbra a Inclusão Social.

DESENVOLVIMENTO HUMANO PARA UMA CIDADANIA CULTURAL

A história e a cultura da Amazônia estão ligadas de forma indissociável à


cidade de Belém. No longo e degradante processo de colonização vive-se a ação
predominante da cultura européia. Europeizar (ou aportuguesar) significa
submeter às culturas indígenas e negras, impondo a branca. Essa era a ideologia
dos invasores. Mas a profecia real não se consagra de todo, e do encontro das
diversas etnias surge uma cultura miscigenada, resultando no conceito de cultura
brasileira.

A conquista de uma consciência crítica e interpretativa das diversas cidades


que historicamente compuseram a Belém de hoje é o passaporte necessário para a
construção do seu futuro. Devemos orientar uma visão estratégica de futuro com
base naquilo que a cidade de Belém tem, e somente ela tem, que é sua forma
própria de ser e estar no mundo, ou seja, a sua cultura.

Cidadania Cultural é a condição básica para se ter uma cidade feliz, com
qualidade de vida. Cidadania cultural não significa somente discutir ou debater e
definir quais os projetos e ações nas áreas específicas da cultura, do esporte, do
lazer e de comunicação. Isto deve ser discutido, mas também a Cidadania Cultural
como uma dimensão fundamental da própria vida. Ela extrapola, portanto, a
atividade cultural específica, diz respeito à vida cultural cotidiana, ao direito que
se tem à qualidade de vida, o direito de ter uma cidade que possa garantir o acesso
ao saneamento, à saúde, à educação, à participação democrática da população nas
decisões do governo. Isso tudo é Cidadania Cultural.

Quando se fala de cidadania cultural trabalha-se também um conceito de


cultura que permeia e que embasa toda política cultural de Belém e que tem sido
construída ao longo dos últimos quatro anos. O conceito de cidadania cultural está
baseado numa concepção de que a cultura perpassa todas as atividades do ser
humano. O ser humano produz, trabalha, concebe tanto do ponto de vista material
quanto do ponto de vista imaterial, como, por exemplo, nas danças e nas tradições
antigas da cultura popular, da cultura negra. Essa concepção incorpora uma
dimensão mais ampla da vida, incluindo o esporte, o lazer, a comunicação, enfim,
a relação social e construção de vida.

Ao propor políticas na área cultural, objetiva-se contribuir para que o


cidadão, de forma organizada, possa estabelecer um controle social nas diversas
políticas que vão sendo implementadas pelo Governo do Povo. O que se quer é
organizar a sociedade, fazer com que ela possa tomar para si a execução, o
planejamento e o desenvolvimento, junto com o governo municipal, das políticas
públicas que precisam ser estabelecidas para o desenvolvimento social, ambiental e
econômico da cidade de Belém, e isso tudo com controle social. Então é preciso que
se compreenda a importância do papel social que se tem dentro do contexto que se
vive hoje. Discutir cidadania cultural é discutir toda forma de política. Não é
portanto, somente o apoio que se deve dar para os grupos de efetiva produção
cultural. A população precisa entender tudo isso para estabelecer políticas que
permitam o desenvolvimento humano com cidadania cultural, porque isso
contribui com certeza para uma melhor convivência entre os cidadãos.
DIRETRIZ PROGRAMÁTICA

1. Belém, Capital Cultural Amazônica

A Belém, Capital Cultural Amazônica coloca o Cidadão como Produtor Social


de Cultura e define Cidadania Cultural como parte de uma discussão ampliada
sobre cultura, sem restringí-la ao debate e definição de quais os projetos culturais
serão realizados pela Administração Municipal. A Cidadania Cultural extrapola a
atividade cultural específica; diz respeito à vida cultural cotidiana, ao direito que
todos os cidadãos têm à qualidade de vida e à participação na gestão da cidade.
Nessa perspectiva, a Cidadania Cultural é concebida como uma dimensão
fundamental da vida dos homens e mulheres que fazem a cidade de Belém.

2. Comunicação Democrática
Com base no princípio da Democracia e da igualdade, consolida-se uma
política de comunicação em Belém que apóie todos os meios de comunicação, tanto
os alternativos como os utilizados oficialmente.

DIREITOS HUMANOS

Houve época em que os direitos fundamentais do homem possuíam uma


dimensão restrita. O direito à vida ou à liberdade, eram apenas o patamar mínimo
de garantia do cidadão contra a vontade despótica do rei. Um salto na história e
hoje se é capaz de pensar os direitos humanos como um agregado de requisitos a
serem buscados por aqueles que almejam a justiça plena.
Os Direitos Humanos são os direitos civis, políticos, sociais, econômicos e
culturais que o Estado deve promover e proteger para dar dignidade aos povos.
São, por isso, Direitos Universais, indivisíveis, interdependentes, e inter-
relacionados e, por essa razão, são responsáveis por eles, governos e cidadãos.
Se é possível pensar os direitos humanos nessa amplitude, o que se deve fazer
para reconhecer e garantir tais direitos? Implantar mecanismos, que sendo fruto de
um amplo debate democrático, possam servir para aplicar e proteger esses mesmos
direitos. Numa síntese, deve-se lutar pela inclusão social.
O Congresso Municipal de Direitos Humanos, realizado no mês de maio do
corrente ano, procurou fazer esse debate a partir dos grupos sociais com algum
grau de organização, mas que também são mais facilmente atingidos pela
violência, pela discriminação e preconceito. Não se pretendeu um debate que
pudesse dar conta de todo o problema, mas sim dar ênfase nas ações de nível
municipal. O resultado disso é que se construiu um rico acervo a partir do qual já
poderiam ser elaborados programas capazes de dar conta de um conjunto de
demandas do interesse dos segmentos chamados ao debate.
Para os portadores de deficiências, por exemplo, é possível se pensar num
amplo programa de acessibilidade, que não seja restrito à remoção de barreiras
físicas, mas que seja capaz de produzir toda uma infra-estrutura urbana, que
facilite o acesso dos portadores de deficiência, inclusive aos bens culturais. No
mesmo sentido, em relação aos negros, é possível se pensar um programa de
combate ao racismo, além daquelas ações que já são hoje desenvolvidas pelo
Conselho Municipal do Negro. Esse programa poderia ter uma dimensão
educativa, através de ações junto à rede municipal de ensino, e uma dimensão
cultural com o apoio a manifestações afro-culturais, como religião, dança, canto,
música, etc., de modo a resgatar a auto-estima e o orgulho da população negra.
Do mesmo modo, em relação aos idosos que poderiam ser beneficiados com
ações tendentes à construção de uma Política Municipal dos Idosos capaz de
garantir-lhes uma condição de vida mais saudável e feliz. Os índios também
debateram as questões que mais os afligem, em relação à saúde, educação, terra e
trabalho e propuseram medidas para que passem a ser respeitados como cidadãos
brasileiros. Na avaliação do grupo, do qual fizeram parte representantes das tribos
Assurini, Tembé, Mundurucu e Kayapó, a melhoria das condições de vida dos
povos indígenas depende em grande medida do apoio da sociedade civil às suas
lutas.
Na mesma direção, isto é, em vista da elaboração de políticas municipais, as
mulheres produziram naquela oportunidade material que revela traços de uma
luta histórica pela igualdade de gêneros e pelo fim da violência, luta essa que já
vem sendo desenvolvida pelos diversos grupos organizados de mulheres e, em
especial, pelo Conselho Municipal da Condição Feminina. Verificou-se que é
possível ampliar as ações nesse campo para estimular projetos de sensibilização,
capacitação e formação de profissionais na concepção de gênero, voltados para a
área da saúde, educação e trabalho, e que promovam a inclusão social e garantam
a participação política.
Crianças, adolescentes e jovens, também trouxeram importantes
contribuições, para que se possa pensar na consolidação de propostas capazes de
dar conta do muito que ainda há por ser feito no sentido de preparar o futuro da
cidade, para que a infância, a adolescência e a juventude possam ser vividas em
sua plenitude, sem a necessidade de impor a esse segmento da sociedade o
trabalho precoce. Para isso verificou-se ser fundamental uma política de geração de
emprego para os pais, um combate intransigente à violência doméstica, à
exploração e ao abuso sexual, de tal modo que não exista para crianças,
adolescentes e jovens a imposição de uma vida nas ruas, garantindo-se uma
convivência familiar e comunitária, com a garantia de alimentação, educação,
saúde, lazer e esporte, como preconizado no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Já os homossexuais revelaram um universo de problemas onde a
discriminação e o preconceito são traços preponderantes, identificando-se aí a
origem de um tipo particular de violência que, em muitos casos, levam
homossexuais (masculinos, femininos, travestis e transexuais) à morte. Vai daí que
a proposta básica aponta na direção de uma luta pelo direito de uma livre
orientação sexual e um combate firme ao preconceito e à violência. Para tanto é
fundamental o apoio aos grupos organizados de homossexuais.
Como se vê, o saldo do debate acerca dos direitos humanos é positivo, mais
ainda se for considerado os diversos segmentos que participaram do Congresso
Municipal que enfrentaram, também, temas como a segurança pública, e o direito à
terra e à moradia, produzindo igualmente, uma reflexão extremamente proveitosa
na perspectiva de um planejamento da cidade marcado pela participação popular.
A partir dessa reflexão mais ampla sobre todos esses temas, o Governo
Municipal, com a preocupação de alargar o debate para poder planejar de forma
mais detalhada as suas ações, não só no âmbito dos direitos humanos, mas em
todos os outros sobre os quais está estruturado — que incluem a saúde, a
educação, a assistência social, o transporte, o meio ambiente, etc. — propôs aos
segmentos que haviam participado do I Congresso Municipal de Direitos
Humanos, que refletissem sobre toda a cidade, com o olhar próprio de cada grupo,
e construíssem propostas para todos os eixos de governo. Esse novo momento
ocorreu através dos Congressos Setoriais, realizados entre os meses de agosto e
setembro passados, e serviram para demonstrar que o povo tem plenas condições
de analisar e propor diretrizes, políticas, projetos e ações a serem desenvolvidos
pelos governos, para dar conta de toda ordem de problemas.
Aliás, não foi outra senão essa, a proposta da realização de um Congresso
Municipal de Direitos Humanos e de Congressos Setoriais: uma radicalização da
democracia. Isso implica em alargar os horizontes de uma reflexão sobre a cidade,
incorporando o olhar dos excluídos, rompendo com a cultura política tradicional,
num processo revolucionário e inovador capaz de tornar efetivo o princípio de que
“todo o poder emana do povo”.
Para exemplificar o avanço que significou esse segundo momento, em que
ocorreram os Congressos Setoriais, cita-se a questão indígena que passou a ser
também analisada sob o prisma dos índios que vivem nas cidades, e em especial
dos que vivem em Belém, produzindo uma reflexão bem interessante a respeito
daquilo que se poderia chamar de busca de uma identidade própria, que não se
apaga mesmo quando os índios migram para as cidades. Nessa perspectiva, o
Governo Municipal foi chamado a elaborar um programa de resgate da memória
dos povos indígenas na construção da cidade, reafirmando sua identidade étnica,
valorizando suas línguas e sua cultura, possibilitando, inclusive, um Censo da
população indígena que vive em Belém ou que por aqui transita.
Vale aqui registrar que vários Programas e Projetos já vêm sendo
implementados pelo Governo do Povo, no sentido de incluir socialmente os setores
que têm sofrido de forma mais perversa os efeitos degradantes da pobreza e da
falta de acesso a políticas públicas que se traduzam em condições dignas de vida.
Assim, as reflexões e propostas aprovadas naquelas instâncias, para terem
conseqüência dentro da ação governamental, foram tratadas em cada Eixo de
governo — Urbanístico e Ambiental, Economia Solidária, Cidadania Cultural,
Gestão Democrática e Inclusão Social —, com o qual cada uma está vinculada,
inserindo-se num programa ou projeto que já vem sendo executado pelo governo,
ou constituindo um novo projeto ou programa a ser implementado.
Quanto às resoluções aprovadas no Congresso Municipal de Direitos
Humanos e nos Congressos Setoriais, que dizem respeito mais especificamente à
uma política de direitos humanos, mesmo havendo a compreensão de ser esse um
eixo que perpassa por toda a atuação do governo, foram definidas diretrizes,
projetos e ações que visam dar conta mais diretamente das necessidades e das
expectativas dos diferentes segmentos em relação a essa questão. Desse modo, o
que se apresenta a seguir é fruto dessa compreensão.
O Programa Global do Eixo Direitos Humanos é a Gestão da Política de
Direitos Humanos na Cidade de Belém. O objetivo desse programa é ampliar a
ação da PMB, como veículo de proteção e promoção dos direitos humanos, e
conscientização do cidadão, combatendo todas as formas de discriminação e
exclusão social.

DIRETRIZ PROGRAMÁTICA

1. Belém, cidade da liberdade, onde os homossexuais são respeitados,


têm direito à vida e à dignidade

A sociedade que se quer é aquela em que as diferenças sejam respeitadas —


sejam elas de corpo, de raça, de crença, de gênero, de opção sexual, ou de qualquer
outra origem. Não é possível aceitar que a opção sexual possa tornar as pessoas
vulneráveis a todo tipo de repressão e desrespeito, fazendo com que se tornem
vítimas de valores culturais que as colocam, como ocorre muitas das vezes com
homossexuais, como seres inferiores ou doentes. A construção de uma cidade
verdadeiramente democrática pressupõe antes de tudo a liberdade.
A violência contra os homossexuais — sejam eles homossexuais masculinos,
femininos, travestis ou transexuais — se manifesta não apenas fisicamente, mas
sob todas as formas de agressão expressas verbalmente, por atitudes e, em muitos
casos, dissimuladamente, o que não reduz o impacto e os danos causados. O
preconceito está presente na sociedade, a partir da família, gerando discriminação
em todos os níveis, trazendo como resultado, por exemplo, a falta de condições do
homossexual permanecer na escola ou de ter acesso a um posto de trabalho. Para
construir a cidade que se quer deve-se lutar pela liberdade de opção e pelo respeito
à dignidade de todos os cidadãos. As entidades que defendem essa causa têm um
papel importante a cumprir, mas é fundamental que os direitos dos homossexuais,
sejam assegurados por políticas públicas que dêem conta de todas as suas
dimensões.

2. Belém, cidade acessível aos discriminados e que respeita as


diferenças

A cidade acessível a todos deve beneficiar não apenas as pessoas portadoras


de deficiências, mas todas aquelas que têm dificuldade de acesso urbano, sejam
elas crianças, idosos, gestantes, negros, etc. A democratização do acesso se traduz
numa perspectiva muito mais ampla do que a da eliminação de barreiras físicas e
arquitetônicas, pois, muito embora essa questão deva merecer a atenção de todos
os governantes, outras barreiras de caráter social, político e cultural também
precisam ser vencidas. A informação, por exemplo, é um veículo de
esclarecimento e de prevenção às deficiências, que possibilita o acesso a um tema
que muitas vezes escapa à grande parte da população. O acesso à uma educação
inclusiva deve ser uma preocupação dos gestores públicos de modo que venham a
propiciar meios para a educação não só dos deficientes visuais ou auditivos, por
exemplo, mas de toda uma população que tradicionalmente tem ficado à parte do
processo de educação formal. O acesso ao mercado de trabalho, precisa ser
ampliado a tantos que estão à margem do setor produtivo e, por isso, não têm
como obter meios para uma vida digna. A cultura, as atividades esportivas e o
lazer devem ser considerados como formas de acesso a todos, deficientes ou não,
ao exercício de condições saudáveis de vida e da construção de sua cidadania.

3. Uma cidade feminina, que luta pela igualdade de gêneros e pela


justiça social

As mulheres constituem a maioria da população de Belém. Apesar dessa


realidade, em termos estatísticos, não correspondem à maioria dos que foram
absorvidos pelo mercado de trabalho em condições mais favoráveis, ou dos que
ocupam os cargos públicos eletivos, por exemplo. Isso se dá porque, não obstante
as lutas incessantes que têm travado ao longo da história desta cidade, continuam
sendo vítimas da discriminação. Essa discriminação se manifesta de várias formas,
inclusive através de alarmantes casos de violência praticada nas ruas e dentro de
casa, que levam as mulheres a procurar diariamente a Delegacia da Mulher. Para
vencer esse quadro, há necessidade, de um lado, de uma maior organização das
entidades e movimentos que defendem a causa da mulher, para fortalecer um
processo de conscientização da sociedade que leve à superação dos preconceitos
internalizados ao longo de anos de valorização do poder e da superioridade
masculina. Porém, não há como vencer barreiras que estão tão arraigadas se, de
outro lado, não forem priorizadas políticas públicas que levem à ampliação dos
direitos da mulher. Esses direitos devem ser pensados de forma ampla, incluindo o
acesso à moradia, à saúde, à participação no mercado produtivo, ao lazer, à
educação, etc., de modo que seja possível construir uma sociedade em que o ser
humano seja valorizado em sua totalidade, sem distinção de sexo ou de qualquer
espécie.

4. Uma cidade que reconhece e valoriza a sua origem e promove a


construção da cidadania indígena

A população indígena brasileira se concentra em sua maioria nos


Estados das Regiões Centro-oeste e Norte do país, havendo um percentual mais
reduzido nas demais regiões. Parte dessa população vem migrando das aldeias
para as cidades , trazendo a figura do índio urbano, cuja presença é significativa
em várias capitais e, em outras, chega a ser majoritária, como ocorre no Estado do
Amazonas. Em Belém, ainda não há dados oficiais sobre os índios que moram na
cidade, o que de início representa um desafio a ser vencido. Apesar desse fato, é
inegável que a origem indígena de nossa cidade é marcante, e está presente nos
traços físicos, nas tradições e costumes do povo. Por isso, é tão importante resgatar
a importância dos povos indígenas na construção dessa cidade e fazer com que
todos reconheçam e valorizem as suas origens. De outro lado, reafirmar a
identidade étnica, possibilitar o re-estudo das línguas, e promover ações de resgate
da cultura, é fundamental para que os índios que vivem na cidade possam
manter o seu referencial cultural. Desafios importantes devem ser vencidos para
que os direitos dos índios, em geral aplicados somente para aqueles que se
encontram nas aldeias, se estendam ao índio da cidade. Buscar a identidade
indígena de Belém, vencer o preconceito contra os índios, e promover a construção
da cidadania indígena é um desafio que está posto para a cidade.

5. A Cidade de Belém quer a igualdade entre homens e mulheres,


sem preconceito e discriminação racial

A população de Belém é em sua maioria formada de negros e pardos, de


acordo com a classificação do IBGE. No entanto, as estatísticas comprovam que, a
exemplo do que ocorre em todo o Brasil, essa maioria está concentrada na periferia
da cidade; no mercado de trabalho ocupa posições de menor destaque e com
baixos salários, o que faz com que não tenha acesso a melhores condições de vida;
os negros são violentados de todas as formas devido ao preconceito, e são as
vítimas preferenciais das ações policiais, inclusive das que resultam em morte .
Para a cidade que se quer, em que todos tenham acesso a condições dignas de vida,
sem discriminação de qualquer espécie, é preciso ampliar as ações que já vêm
sendo implementadas pelo governo municipal, no sentido de incluir socialmente o
negro, seja através de melhores condições de saúde, de maior acesso à escola, de
condições dignas de moradia, do direito ao lazer, de manter viva a cultura afro-
brasileira. A dívida social do país com o povo negro, que se iniciou com a
escravidão , é muito grande, e por isso são tão importantes e urgentes todas as
ações que visem a melhoria das condições a que têm sido submetido. Para isso,
foram enfatizadas nos programas e projetos que vêm sendo desenvolvidos pela
PMB, nos diferentes eixos de atuação do governo municipal, as ações que deverão
dar conta de ampliar o atendimento às demandas desse segmento.

 6. A Capital paraense quer ter seus direitos respeitados e viver sem violência:

No dia 10 de Dezembro de 1948, a ONU (Organização das Nações Unidas),


em Assembléia Geral aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um
instrumento, cujo objetivo seria defender e promover os direitos humanos em
todas as nações. Infelizmente, alguns países não assinaram documento de adesão
à Declaração Universal dos Direitos Humanos. O governo brasileiro, na época,
assinou, mas até os dias de hoje não cumpriu a determinação do referido
instrumento.
A Constituição Federal de 1988 contêm alguns artigos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. O Estado é o primeiro a violar a Constituição e
os Direitos Humanos.
Os movimentos sociais precisam reagir frente à violência institucional, se
organizando e lutando para impedir a ação de crimes hediondos cometidos pelo
Estado, exemplos: cinco anos de impunidade do Massacre de Eldorado dos
Carajás, assassinato de lideranças sindicais e prisões arbitrárias de lideranças do
movimento popular.

9 – REGIMENTO INTERNO DO CONSELHO DA CIDADE

Capítulo I
Da Composição e Atributos

Artigo 1º - O Congresso Geral da Cidade é a instância máxima de participação popular.

Artigo 2º - O Conselho da Cidade de Belém é um fórum de participação popular, de


caráter consultivo, deliberativo e fiscalizador sobre o planejamento da cidade.

Artigo 3º - O Conselho da Cidade tem por finalidade propor, deliberar e coordenar junto
com o governo municipal a viabilização das diretrizes e propostas emanadas do
Congresso Geral da Cidade, bem como participará do processo de elaboração do
orçamento público, deliberando sobre recursos e estimulando o controle social sobre o
serviço público.

Artigo 4º - O Conselho da Cidade será composto por 50 membros assim distribuídos:


a) 3 conselheiros mais votados, eleitos em cada distrito da cidade, componente do
Conselho Distrital;
b) 3 conselheiros eleitos no Congresso Municipal da Juventude;
c) 3 conselheiros sindicais, sendo um da CUT, um da CGT e um da Força Sindical;
d) 3 conselheiros do setor empresarial, sendo um da indústria, um do comércio e um de
serviços;
e) 2 conselheiros representando as entidades do movimento popular comunitário, sendo
um da CBB e um da FEMECCAM;
f) 1 conselheira eleitas no Congresso Municipal de Mulheres;
g) 1 conselheiro eleito no Congresso Municipal de Negros e Negras;
h) 1 conselheiro (a) eleito(a) no Congresso Municipal de Portadores de Necessidades
Especiais;
i) 1 conselheiro eleito no Congresso Municipal de Homossexuais;

Regimento reformulado em relação ao que orientou o processo de Congresso da Cidade realizado durante
2001, discutido em reuniões plenárias do Conselho da Cidade, após o I Congresso Geral da Cidade de Belém
que o empossou, foi aprovado em 03 de janeiro de 2002.
j) 1 conselheiro eleito no Congresso Municipal de Índios;
k) 1 conselheiro eleito em cada Congresso Municipal Temático;
l) 1 Conselheiro eleito na plenária setorial que congregue as ONG´s de Belém - ABONG;
m) 1 Conselheiro eleito no Fórum de Servidores Públicos do Congresso da Cidade;
n) 3 Conselheiros representando o Governo Municipal, que será representando pelo Sr.
Prefeito Municipal de Belém e mais dois representantes do poder executivo;

§ 1º - Os membros do Conselho da Cidade não serão remunerados;


§ 2º - Para cada membro titular haverá um suplente;
§ 3º - O Conselheiro só poderá representar uma região administrativa da Cidade ou uma
plenária temática;
§ 4º - Caberá o poder municipal garantir as condições para a participação dos conselheiros
em suas atividades;

Capítulo II
Da eleição de Conselheiros

Artigo 5º - Os representantes do Poder Público Municipal serão indicados pelo Prefeito, e


não terão direito a voto.
Parágrafo Único – O Suplente do Prefeito é o Vice Prefeito.

Artigo 6º - Os conselheiros representantes dos distritos administrativos da cidade serão


escolhidos entre os três conselheiros distritais mais votados de cada distrito.
Parágrafo único – Os 3 conselheiros distritais com votação consecutiva aos 3 primeiros
serão os suplentes.

Artigo 7º - Os Conselheiros Temáticos, Setoriais e da Juventude serão eleitos em seu


congresso municipal respectivo.
Parágrafo Único – A Votação para conselheiros temáticos, setoriais e da juventude será em
urna, com votação individual, sendo que os mais votados serão os titulares e os seguintes
pela ordem serão os suplentes, cabendo ao eleitor votar em até quantos candidatos forem
as vagas;

Artigo 8º - Os conselheiros das entidades da sociedade civil, de que trata o artigo 4º, letras
“c”, “d”, “e”, “l” e “m”,, serão indicados pelas mesmas através de assembléia específica
para este fim.

Artigo 9º - Somente poderão ser candidatos ao Conselho da Cidade aqueles que atenderem
aos seguintes requisitos:
a) sejam maiores de 14 anos, exceto para os Conselheiros da Juventude, cuja idade
mínima será 12 anos e máxima 25;
b) Residam no município de Belém;
c) Residam na região administrativa em que será candidato, para o caso dos conselheiros
distritais;
d) Não estejam exercendo cargo de representação política em qualquer esfera Legislativa
ou Executiva;
e) Não estejam exercendo cargo de comissão no poder Executivo, Legislativo ou
Judiciário, de qualquer esfera, exceto para aqueles que forem servidores efetivos destes
poderes.
Parágrafo Único – As populações indígenas poderão ser representadas no Conselho da
Cidade por índios, aldeados ou não, estes residentes em Belém, conforme decisão soberana
de seu Congresso Setorial;

Artigo 10º - O mandato dos Conselheiros terá duração de dois anos, podendo haver
reeleição consecutiva.
§ 1º - Os conselheiros poderão Ter seu mandato revogado a qualquer momento, em fórum
específico;
§ 2º - A perda do mandato dos Conselheiros se dará por meio de: assembléia específica
para este fim, para os representantes das entidades; assembléia com metade mais um dos
eleitores que votaram no processo de eleição direta, para o caso dos representantes
distritais; assembléia específica para este com metade mais um dos delegados eleitos para
o congresso setorial ou temático, para o caso dos representantes dos eixos temáticos ou
setores do Congresso da Cidade.

Capítulo III
Das Atribuições

Artigo 11 – Ao Conselho da Cidade compete:


I. Deliberar sobre a proposta de Plano Plurianual do Governo a ser enviada a Câmara
de Vereadores no primeiro ano de cada mandato do Governo Municipal;
II. Deliberar sobre a proposta do Governo para a LDO – Lei de Diretrizes
orçamentárias a ser enviada à Câmara Municipal.
III. Deliberar sobre a proposta de Orçamento Anual a ser enviada a Câmara Municipal.
IV. Deliberar sobre aspectos totais ou parciais da política tributária e de arrecadação
do poder público municipal;
V. Deliberar sobre o conjunto das obras e atividades constantes do Planejamento de
Governo e orçamento anual apresentados pelo executivo, em conformidade com o
processo de discussão do orçamento municipal;
VI. Acompanhar a execução orçamentária anual e fiscalizar o cumprimento do Plano
de Investimento, opinando sobre eventuais incrementos, cortes nos investimento
ou alterações no planejamento;
VII. Deliberar sobre a captação e aplicação de recursos, tais como fundos de municipais
e outras fontes;
VIII. Deliberar sobre a proposta de investimento que o executivo entenda como
necessários para a cidade, inclusive sobre remanejamento de recursos e aplicação
de sobras de verbas de determinada obra;
IX. Opinar e decidir em comum acordo com o executivo a metodologia adequada para
o processo de discussão e definição da peça orçamentária e do plano de
investimentos.
X. Receber em tempo hábil, das secretarias e órgãos do governo, bem como Ter acesso
à todos os documentos imprescindíveis à formação de opinião dos Conselheiros
relativa ao orçamento público e ao plano de Governo, especialmente aqueles sobre
as questões técnicas e complexas;
XI. Requisitar consultoria interna ou externa especializada, com ou sem ônus para a
PMB;
XII. Requisitar auditoria aos tribunais competentes sobre as contas da PMB, se
necessário;
XIII. Decidir sobre o remanejamento de verbas ou aplicação de sobras de recursos de
obras, quando da execução orçamentária;
XIV. Discutir e deliberar sobre o regimento interno de instâncias de controle social
(COFIS, Conselhos Gestores, Comitês Ambientais) e Conselhos Distritais;
XV. Deliberar sobre o ingresso de pessoal temporário no Poder Executivo;
XVI. Deliberar sobre a metodologia adequada para proceder o estudo do orçamento,
levantamento das prioridades nas comunidades, bem como, os critérios e gerais
para avaliação e hierarquização das demandas das Assembléias Micro Regionais e
o cronograma de trabalho;
XVII. Realizar reuniões para debater quando necessário temas conjunturais que afetem a
população de Belém, assumindo posicionamento político sobre fatos que interfiram
na vida da cidade;
XVIII. Encaminhar a mobilização social para engajamento da sociedade em campanhas de
interesse da Cidade;
XIX. Estimular o processo de controle social e democratização do serviço público nas
esferas municipal, federal e estadual, com a criação de fóruns de acompanhamento
e fiscalização popular;
XX. Coordenar o Congresso da Cidade a partir de 2002;
XXI. Garantir a materialização das diretrizes aprovadas no Congresso da Cidade;
XXII. Realizar as alterações sobre o processo de Congresso da Cidade a partir de 2002.

Capítulo IV
Do Funcionamento

Artigo 12 – É necessário o quorum mínimo de um terço dos conselheiros presentes para o


início das reuniões do Conselho.

Artigo 13 – É necessário o quorum mínimo de metade mais um dos conselheiros para


aprovação dos encaminhamento.
Parágrafo Único – Para serem considerados aprovados, os encaminhamentos necessitam
de maioria simples dos votos dos conselheiros presentes com direito a voto.

Artigo 14 – O Conselho da Cidade reunir-se-á ordinariamente mensalmente e em caráter


extraordinário quando necessário.

Artigo 15 – As reuniões do Conselho serão públicas, respeitada a ordem de inscrição, que


deverá ser requerida a coordenação dos trabalhos.

Artigo 16 – O Conselheiro que ausentar-se de três reuniões consecutivas ou cinco


alternadas sem justificativa perderá seu mandato e será substituído pelo suplente.
§ 1º - Nas reuniões do conselho da cidade os suplentes passam a exercer a titularidade se
após trinta minutos do início da reunião o efetivo se faça presente; no caso de reuniões
acontecerem durante o dia todo, o prazo será de sessenta minutos.
§ 2º - Em caso de vacância de Conselheiros Titulares ou suplentes, por renúncia ou perda
do mandato, a secretaria do conselho da cidade, de acordo com o item D do Artigo 19,
informará aos fóruns ou entidades que o elegeram para que indiquem novos
representantes;

Artigo 17 – Estando presentes na reunião os titulares e suplentes, no momento da


deliberação apenas os titulares tem direito a voto, ou o suplentes no exercício da
titularidade.

Capítulo V
Da Organização Interna

Artigo 18 – O Conselho da Cidade terá a seguinte organização interna:


I – Coordenação executiva
II – Secretaria Executiva
III – Pleno do Conselho

Seção 1
I – Da Coordenação:

Artigo 19 – O Conselho da Cidade será coordenado por uma coordenação executiva


composta de 12 membros.
§ 1º - A Coordenação Executiva do Conselho da Cidade será composta por 3
representantes do Governo Municipal, 3 representantes distritais, 3 representantes
de eixos temáticos ou setores e 3 representantes de entidades;
§ 2º - A Coordenação executiva contará com 3 suplentes, sendo 1 representante distrital, 1
representante setorial ou temático e 1 representante de entidade.
§ 3º - A Coordenação executiva escolherá dentre seus membros um responsável pela
secretaria executiva.

Artigo 20 – São atribuições da Coordenação:


a) Convocar e coordenar as reuniões ordinárias e extraordinárias do conselho,
observando o necessário rodízio entre os coordenadores;
b) Convocar os membros do Conselho, efetivos e suplentes, para se fazerem presentes às
atividades necessárias para o desempenho do mesmo, dando-lhes conhecimento
prévio da pauta;
c) Agendar o comparecimento das organizações sociais , entidades, órgãos do poder
público Municipal, Estadual e Federal, quando a matéria em questão exigir;
d) Apresentar para apreciação do Conselho a proposta de Lei de Diretrizes orçamentárias
do Governo a ser enviada anualmente à Câmara de Vereadores;
e) Apresentar para o Conselho o Plano Plurianual do Governo em vigor, ou a ser enviado
à Câmara de vereadores;
f) Apresentar para a apreciação do Conselho a proposta de política tributária e
arrecadação do Poder Público Municipal;
g) Apresentar para apreciação do Conselho a proposta metodológica do Governo para
discussão e definição da peça orçamentária das obras e atividades que deverão constar
no Plano de Investimentos e Custeio;
h) Convocar os delegados para informar o processo de discussão do Conselho;
i) Encaminhar junto ao Executivo Municipal as deliberações do Conselho;
j) Reservar os 15 minutos iniciais das reuniões ordinárias para informes;
k) Apresentar uma pauta técnico-política para debater outros temas da conjuntura
considerados de relevância para a cidade.

Seção 2
II - Da Secretaria executiva:

Artigo 21 – A Secretaria executiva será exercida por um membro da Coordenação


com apoio da SEGEP.

Artigo 22 – São Atribuições da Secretaria Executiva


a) Elaborar a ata das reuniões do Conselho da Cidade e da Coordenação Executiva e
apresentá-la na reunião posterior aos Conselheiros;
b) Realizar o controle da freqüência nas reuniões do Conselho e da Coordenação ou a
qualquer momento em que for solicitado, informando mensalmente para análises e
providências;
c) Organizar os cadastros dos Conselheiros da Cidade;
d) Informar aos fóruns que o elegeram quando seus conselheiros ausentarem-se por 3
vezes consecutivas ou 5 vezes alternadas para efeito de substituição ou justificativa;
e) Manter organizado o conjunto de deliberações do Congresso da Cidade, bem como
documentos do Conselho da Cidade;

Seção 3
III – Do Pleno do Conselho:

Artigo 23 – O Pleno do Conselho constitui-se na instância máxima de deliberação do


Conselho da Cidade e terá as seguintes atribuições:
a) realizar reuniões para informar os distritos, movimento popular organizado e
entidades da sociedade para informar o processo de discussão em andamento no
Conselho da Cidade e colher sugestões e ou deliberações por escrito;
b) Informas as diversas instâncias da sociedade das deliberações de seu fórum;
c) Discutir e propor sobre a LDO, e no primeiro ano de cada mandato da administração
municipal, o PPA apresentado pelo executivo;
d) Debater e definir o planejamento da cidade decidido no Congresso Geral da Cidade;
e) Conhecer, cumprir e fazer cumprir o presente regimento;
f) Ter acesso livre a qualquer documento relativo ao planejamento e orçamento
municipal;
g) Aprovar ou modificar a pauta das reuniões do Conselho da Cidade;
h) Eleger a Coordenação Executiva

Capítulo V
Disposições Gerais

Artigo 24 – Quaisquer alterações neste regimento só serão válidas para o mandato


imediatamente posterior ao mandato de sua aprovação;
Artigo 25 – As eleições para os Conselhos Distritais terão regimento próprio aprovado na
reunião do Conselho da Cidade.

Artigo 26 – Os casos omissos neste regimento serão resolvidos pelo Conselho da Cidade;

Artigo 27 – Este regimento entra em vigor na data de sua aprovação.

Belém, 03 de janeiro de 2002.

10 – SOBRE OS AUTORES

Edmilson Brito Rodrigues é arquiteto (1982) e professor, com curso de Licenciatura


Plena em Disciplinas Especializadas da Área de Construção Civil (1982); especialista em
Desenvolvimento de Áreas Amazônicas (1994) e Mestre em Planejamento do
Desenvolvimento (1995).
Atuou na execução do projeto do Programa de Recuperação de Baixadas de Belém
– Bacia do Una e na elaboração de mapas da Região Metropolitana de Belém, pela
Companhia de Desenvolvimento Metropolitano (Codem).
Como professor de carreira do Estado, atua nas disciplinas Desenho, Projeto
Arquitetônico, Topografia e Tecnologia de Construções. Como docente do Ensino Superior
Federal, é lotado no Departamento de Engenharia da Faculdade de Ciências Agrárias do
Pará (Fcap), atuando nas disciplinas Desenho Técnico, Topografia e Construções Rurais e
no desevolvimento de projetos de extensão e pesquisas científico-tecnológicas.
Ministra cursos e conferências para pós-graduandos em diversas universidades,
inclusive no exterior. Em 2001, recebeu a comenda de membro honorário da Academia de
Ciências da Universidade de Bolonha, Itália.
Além de diversos projetos no campo da Arquitetura, já publicou vários livros. A
monografia Notas sobre Ocupação do Espaço, Meio Ambiente e Qualidade de Vida na
Região Metropolitana de Belém de seu curso de especialização foi publicada pelo NAEA-
UFPA/Labor Editorial, resumida, como um dos três ensaios do seu livro: Os Desafios da
Metrópole: Reflexões sobre Desenvolvimento para Belém (2000). Sua dissertação de
Mestrado foi transformada no livro Aventura Urbana: Urbanização, Trabalho e Meio
Ambiente em Belém, pelo NAEA-UFPA/FCAP, 1996.
Organizou com o professor Doutor Carlos A. F. Lima o livro Educação: Nave do
Futuro, editado em 2000 pela Labor Editorial. Publicou ainda os livros Tembé-tenetehara:
a nação resiste (Assembléia Legislativa do Pará, 1994), e pela editora Fundação Perseu
Abramo (SP), em co-autoria, Desafios do Poder Local: o modo petista de governar (1997),
Governo e Cidadania: balanço e reflexão sobre o modo petista de governar (1999);
Instituições Políticas no Socialismo (2000), além de diversos artigos em publicações
nacionais e estrangeiras.
Fundador do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Pará (Sintepp),
exerceu sua presidência nas duas primeiras gestões; foi dirigente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE; é fundador do Partido dos
Trabalhadores (PT) do Pará; entre 1987 e 1995 foi deputado estadual. Atualmente é
prefeito municipal reeleito de Belém do Pará.

Luiz Araújo, 38 anos, graduado em licenciatura plena em História (UFPA) e Especialista


em História da Amazônia pela mesma instituição, tendo sua monografia versado sobre a
resistência popular ao baratismo em Belém. É professor de carreira da Secretaria
Municipal de Educação de Belém (SEMEC) e da Universidade do Estado do Pará (UEPa.)
Fundador do SINTEPP – Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Pará, do
qual foi presidente.
Foi vereador (1993/94) de Belém e deputado estadual (1995/96) pelo Partido dos
Trabalhadores – PT., partido do qual é fundador e já presidiu ao nível de Belém.
É Secretário Municipal de Educação de Belém desde 1997, sendo portanto coordenador do
processo coletivo de construção do projeto político-pedagógico Escola Cabana, marca
educacional do governo do povo, e ocupa hoje a Secretaria de Finanças da UNDIME –
União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação. É presidente do Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Foi coordenador da marca participação popular no Governo de Belém (99/2000) e
coordenador do eixo temático Desenvolvimento Humano pela Inclusão Social do processo
congressual da cidade realizado em2001.
Autor de diversos ensaios na área de história e outros diversos temas, tem desenvolvido
formulações científicas relevantes para o pensamento socialista. É co-autor do livro
Educação: Nave do Futuro organizado pelos professores Edmilson Rodrigues e Carlos
Lima. Editora Labor Editorial em 2000.

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