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Diplomacia 360o – Módulo Atena – Economia – Aula 11

Prof. Daniel Sousa – 10.10.2018

MACROECONOMIA → POLÍTICA FISCAL → Estados Unidos da América / Zona do Euro

POLÍTICA FISCAL DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA)

Num passado recente, até o fim do governo de Bill Clinton (1993-2001), os EUA apresentavam
superávit fiscal nominal (sempre que forem feitas análises fiscais internacionais, serão
mencionados os resultados em termos nominais e não primários). Era um período de muito
crescimento na economia americana, quando cresceu consideravelmente a arrecadação e as
despesas eram bastante controladas.

A partir do governo de George W. Bush (2001-2009), houve corte de impostos já de início,


sobretudo para os mais ricos, no intuito de atrair grandes fortunas para o país. Houve também
um aumento de despesas públicas, principalmente devido aos gastos com guerras, e um
aumento bastante expressivo do déficit público, o que foi usado como política anticíclica.

Durante o governo de Barack Obama (2009-2017), houve a continuidade do uso do déficit como
política anticíclica, havendo, porém, uma pequena melhora ao final do governo. O déficit era um
elemento anticíclico, pois havia um cenário de crise financeira. Depois, houve queda no déficit
e uma melhora da economia americana, com aumento também da arrecadação.

No governo de Donald Trump (2017-hoje), houve uma extensa reforma tributária, com redução
agressiva de impostos cobrados de empresas. A lógica era de que empresas com a Apple
obtinham lucros fora dos EUA, que não eram repatriados, devido à alta carga tributária
americana. Esses recursos eram mantidos em paraísos fiscais, o que diminuía a arrecadação do
governo americano e causava efeitos negativos nas contas públicas. A intenção era incentivar o
retorno de capitais para os EUA, incentivando investimentos.

Entretanto, houve um aumento do déficit, com a redução da arrecadação e com o aumento do


endividamento. A dívida pública americana já ultrapassou os 100% do PIB, ultrapassando 20
trilhões de dólares. Isso é um elemento de insegurança e instabilidade para o futuro econômico
do mundo. Se o governo tiver dificuldade de refinanciar suas dívidas devido ao aumento
excessivo de seu endividamento, o mercado exigirá juros maiores para a compra de títulos
americanos.

O aumento da taxa de juros nos EUA não tem ocorrido apenas devido ao endividamento, mas
também como forma de conter a pressão inflacionária. O governo americano ainda continuou
tendo muita facilidade para refinanciar suas dívidas, ainda têm prazos maiores para o
vencimento de seus títulos, que ainda têm juros baixos. A situação está sob controle, mas esse
endividamento representa, inegavelmente, um risco para o futuro.
POLÍTICA FISCAL DA ZONA DO EURO

Os países da Zona do Euro não podem emitir moeda individualmente como forma de conter
suas crises fiscais, pois há uma moeda única que só pode ser emitida com a autorização do Banco
Central Europeu. Em 1992, no Tratado de Maastricht, ficou estabelecido que o máximo de
endividamento aceitável para os países da Zona de Euro seria de 60% do PIB. Nenhum país
conseguiu até hoje atingir essa meta.

Na Zona do Euro, os países apresentam baixo crescimento, no máximo até 2%, pois já são
economias maduras, onde existem menos oportunidades de novos negócios e investimentos e
custos muito elevados. O crescimento dentro da Zona do Euro é baixo e continuará sendo baixo.
O grande problema é que o crescimento de grande parte desses países foi associado a déficits
elevados.

A adoção do Euro inicialmente representou um fator de estabilidade, com o aumento da liquidez


nos países da Zona do Euro. A partir de 2002, por mais de 10 anos, economias periféricas da
Zona do Euro tiveram cada vez mais facilidade de financiar seus déficits. Antes, esses países
tinham que pagar juros altos, mas com moedas nacionais pouco seguras. Juros continuaram
altos, mas baseados numa moeda segura como o Euro. Porém, fato é que o endividamento
desses países em proporção do PIB cresceu de forma muito acelerada.

A crise de 2008 colocou em xeque uma série de princípios e dogmas que estavam até então
estabelecidos. A crise foi enfrentada por meio de políticas anticíclicas, o que tornou os déficits
ainda maiores. O aumento do endividamento levou a uma crise fiscal. O primeiro país da Zona
do Euro que teve dificuldades de financiar suas dívidas foi a Grécia, que não conseguiu vender
seus títulos. Para sair dessa situação, a Grécia teve de implementar medidas de austeridade, a
fim de diminuir seu déficit (causador da crise), mas também como medida punitiva e exemplar,
para prevenir que isso ocorresse em outros países.

Mesmo assim, houve um recuo no apetite por títulos de países periféricos da Zona do Euro
(como Portugal, Chipre, Irlanda e Itália). Não demorou para que a Zona do Euro tivesse que
socorrer esses países, exigindo deles também a adoção de medidas austeras. O “pacote de
maldades” era um receituário que demandava, sobretudo aumento de impostos e redução de
despesas com seguridade social (reforma da previdência, com aumento da idade mínima e
redução dos benefícios mais altos). Essas medidas geravam tensões nesses países, mas também
nos países centrais da Zona do Euro que estavam ajudando os periféricos.

Em 2015, o governo grego resolveu realizar um plebiscito para consultar a população para saber
se queriam que continuassem as medidas de austeridade. A população escolheu que não
continuasse a austeridade, mas o Banco Central Europeu não deu importância para essa decisão
popular da população local. O governo grego, em razão desse impasse, entrou em default com
a Zona do Euro. A Grécia parou de receber Euros do Banco Central Europeu e houve carestia de
Euros em circulação no mercado europeu.

Diante desse impasse, o governo grego chegou a cogitar o retorno a sua antiga moeda, o
Dracma, o que seria um problema, já que a dívida continuaria sendo em Euros, ficando cada vez
mais cara, já que o Dracma iria rapidamente se desvalorizar. Outro problema é que seria uma
medida extremamente impopular, pois o patrimônio dos gregos, que é totalmente em Euros,
sofreria enorme desvalorização ao ser convertido para o Dracma. Esses possíveis problemas
fizeram com que o governo grego voltasse atrás e concordasse em adotar o pacote de medidas
impopulares exigidas do Banco Central Europeu.
Desde 2015, o Banco Central Europeu tem adotado o quantitative easing, emitindo Euros em
maior quantidade. As economias da Zona do Euro não têm tido dificuldades para refinanciar
suas dívidas desde então. A própria Grécia recentemente saiu da supervisão do Banco Central
Europeu, passando a andar com as próprias pernas, pois não tem tido dificuldades em vender
títulos para refinanciar sua dívida. O próprio Banco Central Europeu tem comprado esses títulos
gregos por meio da emissão de moeda.

Esse quantitative easing pôde ser feito naquele momento, pois o barril de petróleo havia sofrido
uma expressiva queda, o que representava um risco de deflação da economia europeia,
associada à recessão. Para evitar isso, o Banco Central começou a imprimir Euros. De lá para cá,
o cenário mudou e a economia europeia se recuperou, devido a essa política expansionista e
também por conta do recente aumento do preço do barril de petróleo.

Esses fatores estão gerando pressão inflacionária sobre a Zona do Euro, o que denota que o
quantitave easing deverá parar, o que poderá fazer com que os países periféricos da Zona do
Euro voltem a ter problemas de financiamento de suas dívidas. Desde 2015, a relação dívida-PIB
nesses países vem aumentando – devagar, mas aumentando – o que muito perigoso.
Atualmente, os governos de Portugal e Itália têm uma relação dívida-PIB de 130%; o governo
grego 180%. Governos importantes da Zona do Euro, como Espanha, França e Alemanha, já têm
uma relação dívida-PIB de 100%.

Se o Banco Central Europeu emitisse os títulos públicos, assumindo as dívidas dos países, seria
ainda mais fácil financiar a dívida dos países da Zona do Euro. Parece ser uma solução definitiva
para essa dificuldade de financiamento, mas é algo a ser decidido pela política. Isso aumenta
tensões nos países da Zona do Euro, que não aceitariam ficar subordinados ao Banco Central
Europeu, sem terem a liberdade de emitir seus próprios títulos.

Com o final do quantitative easing, há a possibilidade de que aumente o pensamento


eurocético, com ameaças de saída de países da Zona do Euro. Ressurge a ideia dos “Estados
Unidos da Europa”, que era originalmente a meta para a integração europeia, com uma perda
ainda maior de soberania dos poderes locais. Haveria uma capacidade de financiamento ainda
maior, se a política fiscal fosse feita coletivamente. Essa ideia não é de fácil implementação e
gera enorme resistência localmente pois os países europeus perderiam ainda mais suas
soberanias, em nome de um projeto supranacional.

Os cada vez mais fortes “eurocéticos” acreditam na inexistência de uma estabilidade na


integração. Ou se aprofunda a integração ou se recua. Os eurocéticos também pensam que o
aprofundamento da integração não é desejável, pois não querem abrir mão da soberania, ou
que não seria nem mesmo possível ou viável. O grupo dos eurocéticos é muito heterogêneo, e
não necessariamente de extrema-direita.
TRADE-OFF

É uma escolha que tem ônus e bônus, vantagens e desvantagens. O trade-off mais conhecido é
aquele entre inflação e desemprego. Se você quiser ter desemprego mais baixo, terá que tolerar
uma inflação mais alta. Se você quiser inflação mais baixa, terá que tolerar um desemprego mais
alto. Seria necessário escolher uma ou outra situação.

→ A primeira vez que essa ideia aparece é na chamada Curva de Phillips (1958):

O neozelandês William Phillips (1914-1975) tentou


observar a relação que existiria entre inflação e
desemprego. Para isso, lançou dados de países em
diferentes momentos em uma curva negativamente
inclinada, e encontrou um padrão entre combinações
de inflação e desemprego.

De acordo com esse padrão, quando a inflação


estivesse mais alta, o desemprego estaria mais baixo.
Por outro lado, quando o desemprego estivesse mais
alto, a inflação estaria mais baixa.

Os resultados obtidos nessa curva comprovariam a existência de um trade-off entre inflação e


desemprego. Há uma escolha a ser feita entre inflação e desemprego, que deve ser levada em
consideração quando for pensada a política econômica de um país. O trade-off explicado pela
Curva de Phillips ficará associado a uma visão mais keynesiana.

VISÃO KEYNESIANA – TRADE-OFF

Com inflação de 8%, desemprego será de 2% (ponto A). Mas,


com inflação de 2%, haverá desemprego de 10% (ponto B).
Cabe ao governo decidir se prefere o ponto A ou o ponto B.

Para passar do ponto B para o ponto A, é preciso realizar uma


política econômica expansionista (tanto monetária quanto
fiscal). Para passar do ponto A para o ponto B, é preciso
realizar uma política econômica contracionista (tanto
monetária quanto fiscal).

Há uma escolha a ser feita (trade-off):

Política econômica expansionista → aumento da demanda efetiva → aumento da inflação →


gerando mais emprego e estimulando a produção → mais crescimento econômico.

Política econômica contracionista → redução da demanda efetiva → queda da inflação →


gerando menos emprego e desestimulando a produção → menos crescimento econômico.

A crítica dos classicistas em relação à Curva de Philips é de que se trata de uma análise de curto
prazo; não é permanente, valendo para um período relativamente curto. Ao se pensar em um
horizonte de longo prazo, esse argumento proposto por Phillips não se sustentaria. Surge,
portanto, uma resposta classicista à Curva de Phillips, o Modelo Friedman-Phelps (1968).
VISÃO CLÁSSICA

Na versão criada em 1968 por Milton Friedman (1912-2006) e Edmund Phelps (1933-*), em um
horizonte de longo prazo, a Curva de Philips não seria negativa inclinada, mas sim vertical. Essa
curva vertical definiria uma taxa de desemprego natural, que envolve dois outros conceitos:

(i) Desemprego voluntário, quando pessoas ou fatores de produção não aceitam a remuneração
oferecida pelo mercado, ficando voluntariamente desempregados; e

(ii) Desemprego friccional, quando pessoas estão procurando um novo emprego ou trocando
de um emprego para o outro.

Quando a taxa de desemprego está no seu patamar natural, a economia está no pleno
emprego. Pleno emprego não significa inexistência de desemprego, mas sim inexistência de
desemprego involuntário.

Numa economia em que o desemprego natural seja de 5%, pode-se escolher um ponto A ou um
ponto B, pode-se escolher entre uma inflação de 10% (ponto A) ou de 3% (ponto B).

Para passar do ponto A para o ponto B, é preciso realizar uma política econômica contracionista
(tanto monetária quanto fiscal). Para passar do ponto B para o ponto A, é preciso realizar uma
política econômica expansionista (tanto monetária quanto fiscal). A política econômica
expansionista não faz sentido, pois trará mais inflação, sem nenhuma alteração da taxa de
desemprego.

Política econômica expansionista → expansão da demanda agregada → aumento de preços →


estímulo à produção → aumento dos custos de produção → produção e emprego se estabilizam
→ situação de produção e emprego estáveis.
Política econômica contracionista → redução da demanda agregada → queda dos preços →
desestimulo à produção → queda dos custos de produção → recuperação e pleno emprego a
custos mais baixos.

Conclusão: não existe, no longo prazo, uma escolha (trade-off) entre inflação e desemprego.
Não importa se há um cenário de inflação mais alta ou mais baixa. Haverá, em ambos os casos,
o mesmo desemprego natural (cenário de pleno emprego).

Esse debate acadêmico surgiu, ao final da década de 1960, porque, durante a hegemonia do
pensamento keynesiano, a inflação passou a subir de forma acentuada. Questionava-se se o
papel da inflação na economia seria mesmo aquele proposto por Keynes. Nos anos 1970, esse
debate ganha ainda mais força, com a ascensão da ideia de que inflação não é mais capaz de
gerar crescimento econômico, colocando a teoria keynesiana em xeque.
RESUMO DE POLÍTICA FISCAL

❖ CLASSICISMO
Na teoria Clássica, verifica-se a existência da flexibilidade nos preços dos fatores de produção,
garantindo a tendência ao pleno emprego. Com isso, a oferta agregada fica vertical, e as
variações na demanda agregada passa a ter impacto nominal nos preços, mas não real.

Política Monetária:
O único objetivo da política monetária deve ser o combate à inflação, afinal ela vai mexer na
demanda, não tendo impactos sobre variáveis nominais, mas apenas em variáveis reais. Por isso
recomenda-se o regime de metas de inflação, mas não um regime de meta de crescimento
econômico. Há também a ideia da neutralidade da moeda.

Política Fiscal:
→ Estado mínimo (efeito deslocamento / desestímulo à produção);
→ Disciplina fiscal; e
→ Não existe um trade-off entre inflação e desemprego.

❖ KEYNESIANISMO

Não há flexibilidade nos preços dos fatores de produção e não existe tendência ao pleno
emprego (apesar de existir o pleno emprego como conceito). A demanda efetiva faz com que a
economia se aproxime do pleno emprego, influenciada pelas expectativas, que determinam o
emprego dos fatores e o crescimento.

Política Monetária:
Aumentar a demanda efetiva, gerando mais inflação e mais emprego.

Política Fiscal:
O governo deve ter um tamanho proporcional à sua importância (capaz de corrigir falhas de
mercado, coordenar expectativas, aumentar a demanda efetiva e fazer a economia crescer).
Deve haver uma certa tolerância com a indisciplina fiscal; em cenários de crise, indisciplina fiscal
torna-se uma recomendação.

→ Existe um trade-off entre inflação e desemprego.


- Uso da curva de Philips segundo a proposição original.

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