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Disciplina: Literatura Brasileira II

A Carne, de Julio Ribeiro – A figura feminina naturalista em paralelo com


protagonistas Romântico-Realistas

A obra naturalista A Carne de Julio Ribeiro, foi lançada no inicio do século XIX
e foi alvo de inúmeras criticas, ao ponto de ser proibida a leitura no território
nacional, felizmente, em meados do século XX a obra foi resgatada e obteve uma
grande notoriedade, se tornando a principal obra do autor. Dentre muitos outros
temas relevantes, o exemplar aborda de maneira singular o papel da protagonista
feminina.
O romance gira em torno de Lenita, que desde recém nascida foi criada
apenas por seu pai, e ela foi crescendo de uma maneira incomum para uma mulher
naquela época, foi instruída de maneira excelente e dominada muitas áreas de
conhecimento “Leitura, escrita, gramática, aritmética, álgebra, geometria, geografia,
história, francês, espanhol, natação, equitação, ginástica, música, tudo isso Lopes
Matoso exercitou a filha porque em tudo era perito”, de certo modo, seu pai a criou
da mesma maneira que eram criados os meninos da época, fazendo com que ela
ascendesse, grandiosamente, em uma sociedade que apenas tinha como padrão,
homens cultos e inteligente
Superiora e determinada, a protagonista não desejava se casar “É i-los
despedindo, meu pai, respondia ela. Escusa que me consulte. Já sabe, eu não me
quero casar”. E conhecendo que a mulher tinha como único objetivo o matrimônio,
Lenita rompeu um ciclo que, até então, definia o único caminho possível para uma
dama, unir-se a um homem.
Outro aspecto, senão o mais importante, foi à escolha do autor em apresentar
em uma personagem feminina o instinto humano. Supondo ser surpreendente que
uma mulher, quase uma figura decorativa no século XIX, sentisse tais desejos
carnais como a protagonista, deixando-se levar pelo prazer da carne e se rendendo
a seus instintos biológicos “Lenita ofegava em estremeções de prazer, mas de
prazer incompleto, falho, torturante. Abraçando o fantasma de sua alucinação, ela
revolvia-se como uma besta-fera no ardor do cio.”
Extremamente liberal, a protagonista envolveu-se com um homem divorciado
sem problema algum, ressaltando que o divórcio ainda não era legalizado. Depois
do tórrido romance, o desfecho é abrupto e admirável, ao contrário de obras como
Senhora de José de Alencar e Madame Bovary de Gustave Flaubert, depois de
Lenita descobrir supostas traições do seu amante, ela decide deixá-lo “Pois ela era
mulher para chorar, Caíra, mas caíra vencida por si, só por si, por seu organismo,
por seus nervos.” E assim, parte para São Paulo, sem arrependimentos e grávida,
meses depois, ela escreve a Manuel que já estava de três meses e que arranjou um
pai oficial para seu filho, o informando que já tinham seguido em frente e o deixado
para trás. O desfecho é angustiante, pois, acompanhamos Manuel cometendo
suicidicio e seus últimos pensamentos são de grande tristeza e tormento “O remorso
personificado na figura lastimosa e quase hedionda de sua desgraçada mãe ali
estava sobre ele, abraçando-o, devorando-o, bebendo-lhe os últimos alentos. Oh !
ele queria viver!”.
Por fim, a obra é de todos as formas, um marco feminino, sobretudo para a
época. Aborda uma personagem feminina forte, inteligente e decidida, que não se
importa com instituições e maneiras impostas pela sociedade, mas age como
deseja, domina-se e decide seu próprio destino.

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