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Romantismo

2ª Geração
Segunda Geração do Romantismo
Brasileira: MAL DO SÉCULO
Findada a primeira fase romântica, fase em que o índio, a natureza e a
pátria constavam entre os principais temas, tiveram início a prosa e a
poesia gótica, cujo conteúdo temático em muito diferia daquele que
despertava o interesse de escritores como Gonçalves Dias e José de
Alencar. A literatura indianista deu lugar à literatura soturna e melancólica
dos escritores ultrarromânticos.

O sofrimento, a dor existencial, a angústia e o amor sensual e idealizado


foram os principais temas da literatura produzida durante a segunda fase
do Romantismo.
A publicação do livro Poesias, de Álvares de Azevedo, em 1853, foi
considerada o marco inicial da poesia de inspiração gótica.

Outros escritores também fizeram do ultrarromantismo seu projeto


literário, entre eles Fagundes Varela, Junqueira Freire e Casimiro de
Abreu, fortemente inspirados pelo inglês Lord Byron, pelo italiano
Giacomo Leopardi e pelos franceses Alphonse de Lamartine e Alfred
de Musset.
Nunca antes a poesia e a prosa brasileira haviam experimentado assuntos
que alcançassem um grau tão elevado de subjetivismo, percorrendo
temas como o amor e a morte, a dúvida e a ironia, o entusiasmo e o tédio.
Houve uma ruptura drástica com os padrões literários vigentes e também
com os valores da sociedade, já que a literatura da segunda fase
romântica afrontou o materialismo e o racionalismo burgueses,
desbravando zonas antilógicas do subconsciente, apresentado temas
pouco ortodoxos que foram capazes de causar repulsa e estranhamento
na crítica literária e no público.
Caraterísticas:

Confissão Íntima;
Individualista;
Tristeza;
Infância;
Melancolia;
Profundo desencanto pela vida;
Extravasamento subjetivo;
Criam-se sociedades satânicas no Brasil;
Jovens entediados com a pobreza do meio ambiente;
Ociosos, vivendo orgias através do livro e da imaginação.

Álvares de Azevedo
Obras: Lira dos Vinte Anos (1853);
Conde Lopo (1886);
Noite na Taverna (1855);
Macário (1855).

A exacerbação da sentimentalidade e a morbidez


estão entre os aspectos que definem a estética
ultrarromântica. Na obra de Álvares de Azevedo,
considerado o poeta mais importante de sua
geração, é comum encontrar expressões que
transportam o leitor para um universo mórbido e
depressivo.
A inserção do cotidiano desenvolve-se sob o viés ultra-romântico,
pois resulta em um tédio totalmente mórbido. Lembremos que o
tédio existencial (considerado o Mal do século) fazia com que os
poetas góticos lançarem mão de quaisquer subterfúgios na
tentativa de vencê-lo: o vinho, os charutos ou mesmo a apologia
a uma vida de devassidão sexual e satanismo. Apelavam à
idealização da própria morte como última instância de libertação
de uma malfadada e enfadonha vida.

Noite na Taverna logo se tornou um clássico da literatura brasileira, mesmo


contendo contos fantasiosos, macabros e escabrosos.
O livro trata-se de uma tempestuosa e escura noite, onde jovens boêmios se
encontram com mulheres mundanas e bêbadas, que de tão bêbadas
adormeceram por sobre as mesas.
Por causa de um desafio, cada um deles conta uma narrativa verdadeira e
estranha que tenha vivido. Portanto, dessas narrativas a obra é composta, é
dividida em sete capítulos.
Noite na Taverna é uma narrativa (conto ou novela) constituída em sete
partes, contendo os nomes de cada personagem e suas epígrafes, como
subtítulos que antecedem as narrativas, que são contadas em uma taverna.

1ª Parte – Uma Noite do Século


Essa primeira parte da obra pode ser considerada como uma espécie de
apresentação das personagens, do ambiente da taverna, do clima boêmio
da época em que viviam.
Iniciam-se debates acerca de suas opiniões sobre as mulheres, Deus e
liberdade. É notório o clima vampiresco e sombrio que, não bastasse ao
próprio ambiente, as personagens sempre incitam ainda mais.
Dessa forma, desafiam-se a contar as histórias mais macabras que cada um
deles já havia testemunhado dando início a relatos sobre incesto, necrofilia
e várias outras atrocidades.

2ª Parte – Solfieri
Jovem alcoólatra, seu relato começa em Roma, ele contou que viu um vulto
de uma mulher que o atraiu instantaneamente. Sem pensar em nada
começa a seguir o vulto, mesmo sem saber para onde ele vai, ele perde suas
memórias por um tempo e na manhã seguinte acorda em um cemitério,
onde passou a noite debaixo de chuva e frio.
Intrigado com o acontecido, ele parte e retorna a sua rotina. No entanto,
nenhum amor, nenhum beijo o satisfazia, sentia a necessidade de encontrar
a mulher do vulto.
Durante um ano ele foi atormentado por essas lembranças, um certo dia,
após uma longa orgia e extremamente bêbado ele foi parar novamente no
cemitério, diante de um caixão aberto.

Olhou para dentro do caixão, recolheu a defunta, percebeu que era a


mulher cujo vulto o perseguia. Ele tomou-a em seus braços, a despiu e fez
amor com ela.
Levou a mulher para sua casa e descobriu que na verdade ela não estava
morta, ela era uma mulher depressiva e sofria de catalepsia. Depois que ela
acordou teve alguns delírios, após dois dias veio a falecer.
Solfieri fez em sua própria casa um túmulo para ela e ainda mandou que
fizessem uma estátua de cera da mulher que tanto amou.

3ª Parte – Bertram

Bertram era um dinamarquês, o relato dele girava em torno de uma mulher


chamada Ângela que, segundo ele mesmo, o teria levado a bebedeira e a matar
seus próprios amigos.
Mesmo com muitos desencontros eles sempre tentavam manter um caso
amoroso, mesmo quando Ângela casou-se com outro homem e tornou-se mãe.
Certa vez, Bertram recebe um chamado de sua amada Ângela, chamado por
sinal, desesperado, chegando até ela, percebe que a mulher havia matado seu
marido e filho, o motivo seria que ele tinha descoberto as traições da mulher,
então, ela queria fugir com Bertram.
Eles fogem juntos, mas Ângela por sua vez, se envolve em várias orgias e o
abandona, então, eles seguem caminhos diferentes. Bertram tenta se matar,
mas acaba sendo salvo por um navio e acaba se apaixonando pela mulher do
comandante.
4ª Parte – Gennaro

Um jovem belo e também um pintor talentoso, mas incapaz de respeitar os


sentimentos alheios. Tornou-se um aprendiz do pintor Godofredo Wlash, que o levou
para sua própria casa e criou como um filho.
Godofredo era casado com uma bela mulher chamada Nauza, ela tinha apenas 20
anos, morava também com sua filha de 15 anos, Laura, que era fruto de seu primeiro
casamento.
Laura sendo pura e inocente, se apaixonou por Gennaro, ele a desonrou em três
meses, então, Laura implorou que ele se casasse com ela, mas ele se negou, pois,
estava apaixonado por Nauza.
Muito triste, Laura sente que perdeu a razão de viver, fica fraca e morre. Gennaro,
então, se torna amante de Nauza, certa noite, Godofredo o convida para sair e partem
rumo a um penhasco.
O pintor que era muito experiente deixa claro que sabia das traições que Gennaro havia feito
por duas vezes, tanto com Laura quando com Nauza.
Gennaro é jogado do despenhadeiro, mas é salvo por ter ficado preso a uma árvore. Foi
socorrido por camponeses, decide voltar pra se vingar de Godofredo, mas o encontra morto
em sua casa junto com Neuza, ele a havia matado e se suicidou em seguida.
5ª Parte – Claudius Hermann

Um homem persistente e obstinado, e agiu de forma condizente a sua


personalidade quando viu uma bela mulher cavalgando diante dele, trata-se da
duquesa Eleonora.
A partir de então, passou a persegui-la, comprou de um de seus criados a chave
de seu castelo, e todas as noites passava em seus lábios uma droga para que
ela não acordasse enquanto ele a possuía.
Isso ocorreu durante um mês, até que ele resolveu raptá-la. A duquesa acordou,
entrou em desespero para voltar a seu castelo, mas desonrada ninguém a
perdoaria.
No entanto, chegando certo dia em sua casa, a encontrou morta junto a seu
marido traído e abandonado, que ela havia encontrado com finalidade de dar
fim a vida dos dois.
6ª Parte – Johann

Era uma jovem que tinha vicio em jogatina e em álcool, sua história começa em
Paris, quando por atritos por conta de jogo, decide duelar com seu amigo
Arthur.
O amigo Arthur pede que, caso ele morra, Johann entregue a sua mãe uma carta
que ele tem em seu bolso, e retira um bilhete com os dados para um encontro
marcado.
Como era previsto, Arthur morre e Johann decide se passar por ele nesse
encontro. Johann vai ao encontro bêbado, como sempre, e leva a namorada de
Arthur para cama, mas ao sair do quarto no escuro ele é atacado por um
homem.
Ele mata o homem e o leva para a luz para saber de quem se tratava. Em
desespero ele nota que matou seu próprio irmão. Quando ele acende as luzes
percebe que havia feito amor com sua própria irmã.
7ª Parte – Último Beijo de Amor

Após cada um deles contar seus relatos, todos caem no sono. Entra uma
mulher vestida de preto com uma lanterna na mão, parecia procurar alguém.
Quando ela avista Johann crava um punhal em seu pescoço e o mata.
Era sua própria irmã, que havia sido desonrada por ele, desde então, tornou-se
prostituta e resolveu se vingar dele por destruir sua vida. A moça desperta
Arnold, ele a reconhece rapidamente, lhe pede um beijo de despedida e se
mata ao lado do corpo de Johann.
Em desespero e horrorizado, Arnold crava um punhal em seu próprio peito e cai
em cima do corpo da prostituta.
Lira dos 20 anos

Nunca antes a poesia e a prosa brasileira haviam experimentado


assuntos que alcançassem um grau tão elevado de subjetivismo,
percorrendo temas como o amor e a morte, a dúvida e a ironia, o
entusiasmo e o tédio. Houve uma ruptura drástica com os padrões
literários vigentes e também com os valores da sociedade, já que a
literatura da segunda fase romântica afrontou o materialismo e o
racionalismo burgueses, desbravando zonas antilógicas do
subconsciente, apresentado temas pouco ortodoxos que foram capazes
de causar repulsa e estranhamento na crítica literária e no público.

Eu deixo a vida como deixa o tédio


Do deserto o poente caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como um desterro de minha alma errante,
Onde o fogo insensato a consumia...

EZA Só levo uma saudade — é desses tempos

IST Que amorosa ilusão embelecia.

TR Só levo uma saudade — é dessas sombras


Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz — e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou na vida...

Se eu morresse amanhã, viria ao menos


SE EU MORRESSE AMANHÂ
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!


Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva Mas essa dor da vida que devora
Acorda a natureza mais louçã! A ânsia de glória, o dolorido afã...
Não me batera tanto amor no peito A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã! Se eu morresse amanhã!

A obra Macário é considerada uma peça de teatro, e ao mesmo tempo uma


narrativa talvez com certo caráter pessoal. Ela é dividia em dois episódios, e conta
a história de Macário, um jovem que tem um encontro com satã, e debate
pensamento de amor com seu amigo Penseroso. Uma obra considerada por
muitos críticos como muito dramática, para alguns é tida como genial, e para
outros é vista como extravagante e sem sentido
Primeiro episódio

Na primeira parte do livro ou peça, Macário é um jovem rapaz estudante que


segue em direção à cidade para estudos. Ele está em uma estalagem,
bebendo e mal tratando a atendente do estabelecimento, sendo grosso ao
pedir bebida criticando seu serviço. Então chega um desconhecido que o
observa, e eles começam a conversar.

Eles falam sobre poesia, paisagens, o amor ideal, mulheres. No final da


conversa o desconhecido revela ser Satã. Macário não se espanta e diz que
procura por ele há alguns anos. Satã o chama para fazer uma viagem. O
destino é uma cidade poluída cheia de prostitutas. Uma clara crítica de Álvares
de Azevedo a São Paulo, cidade descrita em sua história.

Satã conta que amor e morte estão sempre unidos. Eles chegam a um
cemitério e Macário adormece, tem um pesadelo com uma mulher pálida
que beijava cadáveres. Ao acordar Satã diz que é sua mãe que está sendo
atormentada no inferno. Macário fica com raiva e o expulsa e depois acorda
atordoado na estalagem, pensando que tudo não passou de sonho, porém
ao olhar no chão vê pegadas de bode queimado. E assim termina a primeira
parte.
Segundo episódio

Já no segundo episódio Macário está na Itália e encontra em um primeiro


momento uma mulher que embala o filho morto. Depois ele encontra seu amigo
Penseroso, que debate infinitamente sobre o amor e Macário em contradição
apenas debate sobre a morte.
Macário o critica sobre ele pensar apenas no amor, um dia Pensoroso decide se
suicidar com veneno, no mesmo dia em que encontra depois de ter ingerido o
líquido uma mulher que afirma amá-lo. Por fim, Satã busca Macário para irem a
uma orgia e os dois saem juntos. A última parte é uma reflexão sobre a morte do
próprio Macário.
O final do livro lembra vagamente o fim de A noite na Taverna.
CASEMIRO DE ABREU
Obra: Primaveras (1850)
O lirismo amoroso do autor de Primaveras reveste-se de
um tom familiar, objetivado em cenários como pomares,
salas e salões, e confirmado pelas boas maneiras como
que o poeta trata as donzelas “machucando com o seu
dedo impuro as pobres flores da grinalda virgem” apenas
em sonho, jamais na realidade;
Estamos diante de um adolescente bastante sensual que
negaceia o seu erotismo através de imagens elegantes e
delicadas;
Os sobressaltos e as inquietudes da descoberta do amor
e do sexo, ele apenas os sugere os insinua com uma
ingenuidade meio ambígua.
“Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
O véu da noite me atormenta em dores
- "Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
AMOR E MEDO

A luz da aurora me enternece os seios,


E ao vento fresco do cair das tardes,
Como te enganas! meu amor, é chama
Eu me estremece de cruéis receios.
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
Que à sombra dela tão feliz crescia?
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo...
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
E a pobre nunca reviver pudera.
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
(...)
Das folhas secas, do chorar das fontes,

Das horas longas a correr velozes.

Oh ! que saudades que eu tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
MEUS OITO ANOS
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais ! Oh ! dias de minha infância !
(...) Oh ! meu céu de primavera !
Naquela doce alegria, Que doce a vida não era
Naquele ingênuo folgar ! Nessa risonha manhã !
O céu bordado d’estrelas, Em vez de mágoas de agora,
A terra de aromas cheia, Eu tinha nessas delícias
As ondas beijando a areia De minha mãe as carícias
E a lua beijando o mar ! E beijos de minha irmã !

3ª Geração: Condoreira
A Terceira Geração Romântica no Brasil é o período que corresponde de 1870 a
1880.
Conhecida como "Geração Condoreira", uma vez que esteve marcada pela
liberdade e uma visão mais ampla, características da ave que habita a Cordilheira
dos Andes: Condor.
Nesse período, a literatura sofre forte influência do escritor francês Victor-Marie
Hugo (1802-1885) recebendo o nome de "Geração Hugoana".
Importante notar que nessa fase, a busca pela identidade nacional ainda
continua, não só focada nas etnias europeia e indígena, mas também na
identidade negra do país.
Por esse motivo, o tema do abolicionismo foi bastante explorado pelos
escritores, com destaque para Castro Alves, que ficou conhecido como o "poeta
dos escravos".
Características:

Incorporam temas sociais;


A poesia deixa de ser apenas um lamento sentimental para ser também
um grito de protesto político;
Ou de reinvindicação social;
Campanha pela república e pela libertação dos escravos;
O poeta, mais do que nunca, procura ser o porta-voz de seu povo;
Amor erótico;
Denúncia da escravidão.

CASTRO ALVES
Obras: Espumas Flutuantes (1870); Os Escravos (1883);
Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875).

Por sua consciência social, política e humanitária, o poeta


representa uma evolução em relação a seus antecessores;
Os poemas liberais são indignados, ferozes, grandiloquentes,
bombásticos;
Numa série deles, o autor não se contenta em dizer o
essencial, o sugestivo, caindo na retórica provocada por
imagens de mau gostos, antíteses exóticas e repetições
desnecessárias;
Entende-se o tom oratório dessas composições, pois eram
feitas para serem declaradas em público e o público esperava
uma poesia discursiva.
A temática abolicionista, registrada em “O navio negreiro”, perpassa
outras obras poéticas de Castro Alves. Em “Vozes d’África”, por exemplo,
longo poema da obra Escravos, a denúncia à escravidão apresenta-se
em forma de súplica à justiça divina, como se evidencia nestas estrofes
do poema:
“Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes

A
Embuçado nos céus?

E S D Há dois mil anos te mandei meu grito,

Z
Que embalde desde então corre o infinito...

V O A
Onde estás, Senhor Deus?...

R IC (...)

Á F Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!


É, pois, teu peito eterno, inexaurível

De vingança e rancor?...
E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
Teu gládio vingador?!”

Nesse poema, Navio Negreiro são construídas imagens que remetem o leitor ao
cenário desumano a que a população negra era submetida quando traficada da
África para o Brasil. Essa prática persistiu no país mesmo após a aprovação da Lei
Eusébio de Queirós, em 4 de setembro de 1850, a qual proibia a entrada de
africanos escravizados. Dividido em seis partes, observa-se em cada uma delas um
enfoque que contribui para a apresentação dessa triste passagem da história
brasileira..

Parte I
Constituída por 11 estrofes, cada uma com quatro versos, essa parte do
poema serve ao eu lírico para que ele situe o leitor no espaço marítimo,
onde transcorre as ações evocadas, como se nota no seguinte trecho:

Por que foges assim, barco ligeiro?


Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Parte II
Quatro estrofes, de 10 versos cada, compõem a segunda parte de “O navio
negreiro”, momento do poema em que o eu lírico detém-se na tripulação de
marinheiros que trabalha no navio, oriunda de diversas localidades da
Europa.

Que importa do nauta o berço,


Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Parte III
Na terceira parte, composta por uma única estrofe de seis versos, o eu lírico
inicia a exposição do quadro grotesco que se desenrola nos porões do
navio:
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Parte IV
Seis estrofes compõem a quarta parte de “O navio negreiro”. Nela, a voz
poética intensifica a descrição das cenas desumanas a que eram
submetidos os negros trazidos à força da África:
Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas


Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
Parte V
Nesta parte do poema, formada por nove estrofes, cada uma com 10
versos, o leitor é remetido ao contraste entre a vida dos negros
africanos em seu lugar de origem e a degradação do porão do navio,
como ilustram os versos seguintes:

Ontem a Serra Leoa,


A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
Parte VI
As imagens construídas na última parte do poema, constituída por três
estrofes de oito versos cada, servem como um questionamento ao país
que se prestou a compactuar com a infâmia do process escravocrata:

Existe um povo que a bandeira empresta


P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?

O lirismo amoroso do poeta de Espumas Flutuantes se distingue das concepções


dominantes na poesia romântica brasileira, embora ele tenha respeito do amor
ainda uma visão típica do Romantismo;
Castro Alves não o considera impossível de ser realizado, como Gonçalves Dias,
nem se esquiva, como Álvares de Azevedo, e tampouco negaceia, como Casimiro
de Abreu;
As relações amorosas nos são apresentadas de uma maneira viril, sensual e
objetiva;

Os condoreiros, comprometidos com a causa abolicionista e republicana,


desenvolveram uma poesia voltada à exterioridade social, tendo como finalidade
convencer o leitor da pertinência da causa defendida nos seus versos.

Prosa
Poética
A prosa romântica, formatado em texto corrido (e não em versos), é
dividida em quatro tipos de romance: o regionalista, o indianista, o
urbano e o histórico. A valorização da individualidade permitiu que
inúmeros autores retratassem as diferentes características do Brasil,
que estava marcado tanto pelas diversidades locais pelo país (língua,
cultura e valores regionais) quanto pelo cenário urbano que atendia às
necessidades da burguesia. Além disso, é importante dizer que, na
prosa, não há a divisão entre gerações (como ocorre na poesia -
nacionalista, ultrarromântica e condoreira), pois muitas obras eram
publicadas de modo simultâneo, sendo o maior nome da prosa
romântica é o escritor José de Alencar.
No romance indianista, é comum vermos a construção da imagem de
índio de forma heróica, como o salvador da nação a fim de implantar
um sentimento de amor à pátria.
O romance regional foi primordial para o incentivo de uma literatura
que abordasse acerca das diversidades locais. Entre suas
características, há a valorização de aspectos étnicos, linguísticos,
sociais e culturais sobre várias regiões do país. Ademais, as principais
regiões abordadas foram o Rio de Janeiro (que era a capital do Brasil
naquele período) e as regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste.
O romance urbano foi o que melhor atendeu às necessidades da
burguesia, pois retratava sobre a vida cotidiana e seus costumes, pondo
em discussão os valores morais vividos na época, entre eles, o
casamento promovido de acordo com a classe social.
O romance histórico, como o própria nome já nos ajuda a explicar,
marcava em sua narrativa os principais acontecimentos históricos do
século XIX no Brasil. A composição da narrativa é feita a partir de relatos
e documentos informativos sobre uma determinada época ou
movimento social.

Folhetim
A difusão da prosa romântica foi impulsionada pelo folhetim. Os
folhetins eram capítulos de romances de periodicidade semanal
publicados em jornais.
Por meio deles, o romance tornou-se extremamente popular e
por ele, o sentimento de democracia aflorado no País foi
alastrado.
Com o folhetim, a literatura passa de bem destinado à aristocracia
e ultrapassa a exclusividade da nobreza.
Surgem os primeiros consumidores da produção literária e a
literatura é expandida ao leitor comum. E é pelo folhetim que a
prosa do Romantismo alcança o sucesso que obteve no Brasil.

Joaquim Manuel de Macedo


Foi um escritor brasileiro da primeira geração
romântica (1836 a 1852).
É considerado um dos fundadores do romance
no Brasil, com sua obra intitulada “A Moreninha”,
publicada em 1844.
Esse romance foi caracterizada como a primeira
obra da Literatura Brasileira, uma vez que
enfocou no retrato dos hábitos da burguesia
carioca.

Obra mais emblemática de Joaquim


Manuel de Macedo foi o romance,
publicado em 1844, o qual lhe
concedeu fama e fortuna, intitulado
“A Moreninha”.
Essa obra foi um “divisor de águas”
na sua vida, posto que com o
sucesso que obteve, abandonou
sua carreira médica, a fim de se
dedicar exclusivamente à literatura.

O romance A Moreninha conta a história de amor entre Augusto e D. Carolina (a


moreninha). Tudo começa quando Augusto, Leopoldo e Fabrício são convidados
por Filipe para passar o feriado de Sant’Ana na casa de sua avó. Os quatro
amigos estudantes de medicina vão para a Ilha passar o feriado e lá encontram
D. Ana, a anfitriã, duas amigas, a irmã de Filipe, D. Carolina e suas primas Joana e
Joaquina. Antes de partirem Filipe havia feito uma aposta com Augusto: se este
voltasse da Ilha sem ter se apaixonado verdadeiramente por uma das meninas,
Filipe escreveria um romance por ter perdido a aposta. Caso se apaixonasse,
Augusto é quem deveria escrevê-lo.
Augusto era um jovem namorador e inconstante no amor. Fabrício
revela a personalidade do amigo a todos num jantar, o que faz Augusto
ser desprezado pelas moças, menos por Carolina. Sentindo-se sozinho,
Augusto revela a D. Ana, em uma conversa pela Ilha, que sua
inconstância no amor tem a ver com as desilusões amorosas que já
viveu e conta um episódio que lhe aconteceu na infância. Em uma
viagem com a família, Augusto apaixonou-se por uma menina com
quem brincara na praia. Ele e a menina ajudaram um homem
moribundo e, como forma de agradecimento, o homem deu a Augusto
um botão de esmeralda envolvido numa fita branca e deu a menina o
camafeu de Augusto envolvido numa fita verde. Essa era a única
lembrança que tinha da menina, pois não havia lhe perguntado nem o
nome.
O fim de semana termina e os jovens retornam para os estudos, mas
Augusto se vê com saudades de Carolina e retorna a Ilha para
encontra-la. O pai de Augusto, achando que isso estava atrapalhando
seus estudos, proíbe o filho de visitar Carolina. Depois de um tempo
distantes, Augusto volta a Ilha para se declarar a Carolina. Mas ela o
repreende por estar quebrando a promessa feita a uma garotinha há
anos atrás. Augusto fica confuso e preocupado, até que Carolina
mostra o seu camafeu. O mistério é desfeito, e, para pagar a aposta,
Augusto escreve o livro A Moreninha.
O romance A Moreninha é um clássico da nossa literatura e representa a
narrativa romântica com características nacionais. O Romantismo, como
grande parte dos movimentos literários, tinha força na Europa. A obra de
Joaquim Manuel de Macedo dá os primeiros passos para o Romantismo
tipicamente brasileiro.
A obra mostra os costumes e a organização da sociedade que se
formava no século XIX no Rio de Janeiro: os estudantes de medicina, os
bailes, a tradição da festa de Sant’Ana , o flerte das moças etc. Também
está presente a cultura nacional, através da lenda da gruta, em que o
choro de uma moça que se apaixonou por um índio e não foi
correspondida se transforma na fonte que corre na gruta.

A idealização do amor puro, que nasce na infância e permanece apesar do tempo, é


uma das principais características que enquadram a obra como romântica. Além
disso, a menção à tradição religiosa (festa de Sant’Ana), o sentimentalismo e
caracterização da natureza através da ilha, da gruta e do mar contribuem para
montar o cenário do amor romântico entre Augusto e Carolina.
A linguagem da obra é simples, com a presença do popular. O narrador é
onisciente, em terceira pessoa. O romance se desenrola em três semanas e meia,
em tempo cronológico. A leitura leve, o suspense presente no decorrer do romance
e o final feliz fizeram da obra uma referência, que teve repercussão não só na
época de sua escrita, como também é lida até hoje.

Manuel Antônio de Almeida


Foi um importante escritor da primeira geração
romântica, fase marcada pelo binômio nacionalismo-
indianismo.
Um homem a frente de seu tempo, os escritos de
Manuel Antônio de Almeida, a despeito de pertencerem
ao estilo romântico, possuem tendências realistas,
repletas de humor e sarcasmo, assinaladas por uma
linguagem coloquial, direta e descompromissada.
Escreveu um único livro “Memórias de um Sargento de
Milícias” (1853) e uma peça de teatro intitulada “Dois
Amores”, em 1861.

O romance de Manuel Antônio de Almeida


destoa do romantismo convencional. Isso dá
um sabor especial ao livro, menos pelo fato
em si, e mais por mostrar a precariedade de
certas classificações excessivamente
redutoras. A narrativa tem o poder de ampliar
a concepção de literatura romântica,
mostrando que os escritores da estética
sabiam explorar tanto o sentimentalismo
quanto o humor em suas obras.

A narrativa, que se apresenta como uma sucessão de aventuras do jovem


Leonardo, tem início antes mesmo de seu nascimento, relatando o primeiro
contato entre seus pais, Maria da Hortaliça e Leonardo Pataca, no navio que
os traz de Portugal para o Brasil. Ambos trocam “uma pisadela” e um
“beliscão” como sinais de interesse mútuo e passam a namorar. Maria da
Hortaliça abandona o marido e retorna para a terra natal. Pataca, por sua
vez, recusa-se a criar o filho, deixando-o com o padrinho, o Barbeiro, que
passa a dedicar ao menino cuidados de pai.
Pataca se envolve com uma cigana, que também o abandona. Para tentar
recuperá-la, recorre à feitiçaria, prática proibida na época. Flagrado pelo Major
Vidigal, conhecido e temido representante da lei, vai para a prisão, sendo solto
em seguida.
Enquanto isso, seu filho Leonardo, pouco afeito aos estudos, convence o
padrinho a permitir que ele frequente a Igreja na condição de coroinha. O
Barbeiro vê ali uma oportunidade para dar um futuro ao afilhado. No entanto,
Leonardo continua aprontando das suas e acaba expulso. Conhece o amor na
figura de Luisinha, uma rica herdeira, mas sua aproximação é interrompida pela
ação do interesseiro José Manuel, que conquista e casa com a moça.
O Barbeiro morre e deixa uma herança para o afilhado. Leonardo volta a
viver com o pai, mas foge após um desentendimento. Envolve-se com a
mulata Vidinha e passa a sofrer as perseguições do Major Vidigal, caçador
dos ociosos do Rio de Janeiro. Para não ser preso, é forçado a se alistar.
A experiência militar não é menos problemática: continua a participar de
arruaças e desobedece seguidamente o Major. Por isso, acaba preso.
Consegue a liberdade graças à ação de uma ex-namorada de Vidigal, Maria
Regalada, que lhe promete, em troca, a retomada do antigo afeto.
Leonardo não só é solto, como é promovido a sargento da tropa regular.
Reencontra-se com Luisinha, então recém-viúva, e os dois reatam o
namoro. Ainda com a ajuda do Major Vidigal, Leonardo se torna sargento
de milícias e obtém permissão para se casar.

Memórias de um Sargento de Milícias promove uma inversão do romantismo


convencional. O humor, presente em narrativas românticas de forma tímida,
ocupa o centro, funcionando como eixo condutor da sucessão de aventuras em
que se mete o protagonista. Da mesma forma, as personagens de classes
sociais mais baixas, que, tradicionalmente, ocupavam posições secundárias,
constituem o núcleo central da ação. Esse procedimento é chamado de
carnavalização.
O próprio protagonista se apresenta como uma versão carnavalizada do herói
romântico. Sua origem é cômica, já que é descrito como “filho de uma pisadela e
de um beliscão”. Crescido, torna-se um malandro, tentando sobreviver à
margem das instituições sociais nas quais não consegue se enquadrar – família,
trabalho, igreja etc.

Algumas trajetórias são bastante sugestivas. O Major Vidigal, por exemplo, age
em defesa da lei de acordo com critérios muito particulares – manda prender e
manda soltar mais ou menos a seu bel-prazer. Acaba por se corromper no
final, ao permitir a soltura de Leonardo em troca dos afetos de uma antiga
namorada. Assim, lei vira transgressão e ordem se mistura com desordem, o
que funciona como retrato da sociedade brasileira daquele e de outros
tempos. Também é significativo o que acontece com o Barbeiro. Homem bom
e afetuoso, tem em seu passado uma mancha da qual não manifesta nenhum
remorso sério: ficara de posse de uma pequena fortuna que lhe havia sido
confiada para ser entregue a outra pessoa. Desse modo, também as categorias
de bom e mau são relativizadas.
A despeito de tudo isso, o livro pode ser entendido como romântico
graças a elementos como o registro de costumes, o final feliz, as
personagens que agem por impulso, a sucessão de aventuras nas
perseguições do Vidigal e, por fim, a história de amor envolvendo
Leonardo e Luisinha. Contudo, independente de qualquer questão
referente à classificação da obra, pode-se ver o livro simplesmente
como uma sucessão de aventuras vividas por um protagonista
humanizado pelos seus defeitos.

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