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Rimas, de Luís de Camões

Leia o soneto de Luís de Camões.

Oh! como se alonga, de ano em ano

Oh! como se alonga, de ano em ano,


a peregrinação1 cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano2!

5 Vai-se gastando a idade e cresce o dano;


perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha3,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;


10 no meio do caminho me falece4,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,


se os olhos ergo a ver se inda parece5,
da vista se me perde e da esperança.
Luís de Camões, Rimas, ed. de A. J. Costa Pimpão, Michelangelo, Criação do Sol, Lua e plantas,
Coimbra, Almedina, 2005, p. 129.
1511-1512 (pormenor).

1 3
peregrinação: viagem em romaria a lugares santos e de devoção, se por experiência se adivinha: se a experiência de vida ensina
percurso longo e fatigante; 2 discurso humano: percurso de vida; a prever o que acontece; 4 falece: desaparece; 5 parece: aparece.

1. Faça a análise formal deste poema.

2. Identifique o recurso expressivo que está presente no verso «Vai-se gastando a idade e
cresce o dano» (verso 5) e explicite o seu valor.

2.1. Relacione o verso anterior com o conteúdo da primeira estrofe. Ilustre a resposta
através de transcrições textuais.

3. Indique a que «remédio» é feita referência no verso 6.

3.1. Aponte o motivo pelo qual o eu afirma ter perdido esse remédio.
4. Complete as afirmações apresentadas, selecionando a opção correta para cada uma das
alíneas.

No primeiro terceto, o eu afirma ter passado toda a sua existência a a) __________. Através
da b) __________ presente no verso 11, bem como do segundo terceto, sublinha o facto
de c) __________.

a) b) c)

1. buscar algo que considera


1. comparação 1. o caminho ser feito sem qualquer percalço
inalcançável

2. procurar algo que só a ele 2. o seu objetivo estar permanentemente


2. personificação
estava vedado diante dos seus olhos

3. tentar fazer um percurso sem 3. o trajeto estar muitas vezes associado ao


3. hipérbole
falhas fracasso e à perda da esperança
Leia agora este poema de Luís de Camões.

Pastora da serra
a esta cantiga alheia:
Pastora da serra,
da serra da Estrela
perco-me por ela

VOLTAS

Nos seus olhos belos De alguns que, sentindo,


tanto Amor se atreve seu mal vão mostrando,
que abrasa entre a neve se rim1, não cuidando
quantos ousam vê-los. 25 que inda paga, rindo.
5 Não solta os cabelos Eu, triste, encobrindo
Aurora mais bela: só meus males dela,
perco-me por ela. perco-me por ela.

Não teve esta serra Se flores deseja


no meio da altura 30 por ventura delas,
10 mais que a fermosura das que colhe, belas,
que nela se encerra. mil morrem de enveja.
Bem céu fica a terra Não há quem não veja
que tem tal estrela: todo o milhor nela:
perco-me por ela. 35 perco-me por ela.

15 Sendo entre pastores Se na água corrente


causa de mil males, seus olhos inclina,
não se ouvem nos vales faz luz cristalina
senão seus louvores. parar a corrente.
Eu só por amores 40 Tal se vê, que sente,
20 não sei falar nela: por ver-se, água nela:
sei morrer por ela. perco-me por ela.
Luís de Camões, Rimas, ed. de A. J. Costa Pimpão, William Adolphe Bourguereau,
Coimbra, Almedina, 2005, p. 6. A jovem pastora, 1885.

1
rim: ri.
1. Proceda à análise formal do poema.

2. Identifique o sentimento que o eu manifesta em relação à figura feminina referida no


poema.

3. Tendo em conta a primeira volta, caracterize fisicamente a pastora.

4. Identifique os recursos expressivos presentes nos versos «Bem céu fica a terra / que tem
tal estrela» (versos 12-13) e explicite o seu valor.

5. Com base na terceira volta, indique o efeito que a figura feminina tem sobre os pastores e
sobre o sujeito poético.

6. Explique a reação da pastora em relação àqueles que lhe declaram os seus sentimentos,
bem como a forma como esta atitude é perspectivada pelas figuras masculinas.

7. Especifique o impacto que a figura feminina tem sobre os elementos da natureza, segundo
a penúltima estrofe.

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