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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO – UFTM
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
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RELATÓRIO FINAL
Tipo de Bolsa: Órgão de Fomento

RELATÓRIO FINAL DE PROJETO DE PESQUISA

PERÍODO:      /     à      /    


TÍTULO DO PROJETO: O fascismo pelas telas do cineasta Pier Paolo Pasolini
AUTOR PRINCIPAL (bolsista): Bruno Augusto da Costa
ORIENTADOR: Rodrigo Freitas Costa
COLABORADORES:      

INTRODUÇÃO
Esta Iniciação Científica tem como objetivo analisar o impacto do fascismo na obra de
Pasolini por meio da película “Salò ou 120 dias de Sodoma”. Para alcançar esta meta é
necessário aplicar revisão bibliográfica a partir vínculo entre a psicologia social e a
historiografia. Busca-se com este embasamento teórico inicial, a possibilidade de
problematização do fascismo através da inserção dos dados levantados na Matriz
Disciplinar do historiador e filósofo alemão Jörn Rüsen. A pesquisa é divida em três
etapas. A primeira contém introdução com a contextualização da temática e a descrição
do aparato teórico-metodológico adotado. Esta etapa é generalista é visa trazer
elementos fundamentais do debate sobre o fascismo. A segunda etapa é de
aprofundamento e desenvolvimento teórico e visa fornecer ao discurso os subsídios
conceituais e categóricos. Esta etapa realiza revisão bibliográfica sobre o Estado
burguês, enquanto categoria percussora do nazifascismo, e reflete a importância da
ideologia na produção das subjetividades de modo econômico. A terceira etapa é
analítica e conclusiva. A partir da reflexão, sobretudo, da película “Saló 120 dias de
Sodomia”, e de outros documentos de sustentáculo busca-se observar o fascismo
segundo Pier Paolo Pasolini (1922 — 1975).
Justifica-se a pesquisa pelos seguintes argumentos: 1 – O fascismo está muito longe de
ser uma espécie obsoleta em termos de política mundial contemporânea; 2 – Quanto ao
valor de pesquisa em História, a Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos são
muito caros a academia de forma geral; 3 – O significado do termo fascismo faz parte
do jogo político e está na boca das massas, entender o fascismo sobre o crivo
acadêmico é construir significados e juízos que vão além do senso comum; 4 – Seguir a
hipótese de que é possível pensar o fascismo pelas telas de Pasolini é válido por si, por
se tratar de um artista ímpar na história do cinema; 5 – É preciso meditar o papel da
academia ou da Universidade Pública diante do fascismo e na esfera cultural; 6 – Os
discursos antiacadêmicos que atacam instituições democráticas até atingirem os
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campos de busca pelo conhecimento tem inspiração fascista; 7 – Uma grande


comunidade científica tem pesquisado os temas subjacentes ao recorte, contudo ainda
existe um vasto campo a ser descoberto e aprofundado pela ciência brasileira. Outra
forma de justificar a importância deste trabalho é que ele coloca em exercício categorias
de Wilhelm Reich e Jörn Rüsen. Tratam-se pensadores com trajetórias intelectuais que
são pertinentes ao fênomeno e documentação investigada. É notório também o avanço
no Brasil aos temas transversais da pesquisa. Justifica-se por dar prolongamento a
práxis espitemológica e atualizar estas demandas de busca pelo saber histórico.

OBJETIVO(S)
Objetivo Geral: Analisar o fascismo a partir da perspectiva de Pier Paolo Pasolini;
Objetivos Específicos: Introduzir os embasamentos teórico-filosóficos sobre fascismo;
Refletir o fascismo no âmbito da convergência historiográfica entre história e cinema;
Problematizar o fascismo através do filme “Salò ou 120 dias de Sodoma”.

MÉTODOS
A metodologia é composta de duas etapas, a primeira ação é de fundamentação teórica
e visa apresentar o assunto com base nas ideias da filosofia política. Trata-se de uma
revisão bibliográfica para basear o tópico do fascismo na visão de Pasolini. A segunda
etapa é analítica e tem como ação problematizar os elementos idieológicos e de história
do filme “Salò ou 120 dias de Sodoma”. Destaca-se que os teóricos foram eleitos tendo
em consideração suas biografias e bibliografias sensíveis ao recorte investigado. A
produção intelectual sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à
problematização da arte, também podem ser desenvolvidas mediante fontes
bibliográficas. O último objetivo específico tem procedimento conclusivo e visa aplicar
os dados coletados do filme à Matriz Disciplinar, de Jörn Rüsen. Frisa-se que este
historiador é também filósofo e no livro “Razão Histórica” estabelece os fundamentos da
ciência histórica por meio de cinco fatores: Interesses, Ideias, Métodos, Formas e
Funções.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Enquanto ficção, o fascismo torna-se real à medida que subordina as massas a sua
própria liturgia. Os aspectos principais da mitologia fascista envolvem o culto a
masculinidade, o amor à violência, a apologia da morte, o fascínio pelos heróis artificiais
e demagógicos, o interesse sádico de dominação junto ao paradoxal prazer masoquista
da submissão, e a exaltação do espírito radical e revolucionário que tem como alvo
manter a tradição e o belicismo. Em a “Doutrina do Fascismo”, publicado pela primeira
vez em 1932, Mussolini coloca que: “O Estado fascista é um padrão internamente aceito
de regra de conduta, uma disciplina da totalidade da pessoa, permeia a vontade não
menos que permeia o intelecto.”. (MUSSOLINI, 2019, p.19). Seu movimento enquanto
conteúdo cultural é idiossincrático em todos os países em que se estabeleceu, mas
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organiza-se, essencialmente, como modo de autoritarismo burguês sustentado pelas


massas pequeno-burguesas.
Wilhelm Reich (1897 — 1957) entende a influência do fascismo a partir da Psicologia
Política, como um “fator subjetivo da história”, aquele fator que trata “da estrutura do
caráter do homem numa determinada época e da estrutura ideológica da sociedade que
ela forma.”. (REICH, 2001, p. 15). Explica: “À medida que desenvolvem as ideologias,
os homens se transformam; é no processo de formação das ideologias que vamos
encontrar o seu fundo material.” (REICH, 2001, p. 74), ou seja, a estrutura do fascismo
caracteriza-se pelo pensamento metafísico que provém de uma base econômica. Há
uma política fascista que se dirige tanto aos valores e aos costumes do indivíduo,
quanto existe uma política fascista que se manifesta no campo social mais amplo:
família, religião, escola, universidade, trabalho, quartel, tribunal, mídia, partido... Afirma
que: “Existe uma relação essencial entre a estrutura econômica da sociedade e a
estrutura psicológica das massas dos seus membros.”. (REICH, 2001, p. 22). No
sentido de que a ideologia dominante é sempre a ideologia da classe dominante, ao
passo que diante da crise capitalística, a alternativa política prática adotada pelo
subalterno está em reforçar o que lhe é estrutural. Daí o pacto entre as formas sociais
reacionárias, aquelas que são contrárias ao progresso ou a transformação do modo de
produção da sociedade capitalista.
Pasolini pertenceu, economicamente, a classe pequeno-burguesa italiana, que de
maneira genérica defendeu os valores morais tradicionais do fascismo, mas encontrou
oposição ideológica entre parte dos indivíduos que buscavam a superação das ideias
nacionalistas e patrióticas dominantes no decorrer da Segunda Guerra Mundial. A
resistência ao nazifascismo permanece em Pasolini como pressuposto e pode ser
destacada em diferentes obras literárias e cinematográficas do autor. É a partir da
resistência a extrema direita que ele organiza sua crítica à burguesia moralmente
fascista, à política conservadora conduzida pelo viés católico e à sociedade
padronizada de massa do capitalismo.
Sem os recursos de identificação das referências contidas nas imagens, de pouco
diálogo e muita barbárie, “Salò” poderia se passar por um filme grotesco e superficial,
que não possui relação com o autoritarismo na perspectiva da filosofia política, porém,
pelo contrário, demonstra crítica frontal ao fascismo na Itália e a sociedade que
historicamente lhe deu adesão quando observadas as dimensões de interesses
expressos pelo diretor na representação cinematográfica. É necessário ressaltar que a
visão de mundo do autor surge muito próxima da Segunda Guerra Mundial e seus
horrores estavam latentes na mentalidade do contexto de criação da filmagem.

CONCLUSÕES
Falas do filme (SALÒ...1975): "Em todo o mundo, nenhuma volúpia agrada os sentidos
mais do que o privilégio social."; "Sempre que os homens são iguais, sem que haja
diferença, a felicidade não pode existir."; "É quando vejo os outros degradados, que eu
me regozijo, sabendo que é melhor ser eu do que ser a escória do povo." São frases
que os dominadores discursam e que revelam o caráter hierárquico, um exboço do
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capitalismo repesentad pela exloração sexual e gravado como uma grande orgia letal
de desmembramento e decepamento dos dominados. O fascismo histórico é
demagógico, porque adotou narrativas anticapitalistas e antiburguesas e quando
alcançou o poder por vias democráticas não cumpriu suas ameaças. No Estado paralelo
que se abre na representação de Saló os jovens são manipulados pelo sadismo, as
compulsões sexuais, as perverções, as manias, de tudo que existe de mais violento e
encontra prazer, gozo na tortura psicólogica e física dos dominados. Há um livro de leis
que regula e pune os corpos cativos na “Escola da Libertinagem” ao modo da barbárie.
Entre as narrativas das meretrizes experientes, a pedofilia e outras patologias, são
contadas na forma de poesia, enquanto o estupro, exibicionismo e o voyeurismo são
praticados. A mensagem é clara apenas como a arte pode ser. Aqueles que detém o
poder político e ecônomico, por conseguinte atingem o monopólio da força que
desumaniza o outro. Diz o Magistrado: “Não há perdão sem o derramamento de
sangue. Sem derramamento de sangue não há perdão”. (SALÒ...1975). De forma que o
filme nos permite experimentar o fascismo nos seus momentos mais vicerais.

REFERÊNCIAS
MUSSOLINI, Benito; TRÓTSKI, Leon. A Doutrina do Fascismo/ Fascismo – O que é
e como combatê-lo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2019;
REICH, Wilhelm. Psicologia de Massas do Fascismo. São Paulo, Martins Fontes,
2001;
RÜSEN, Jörn. Razão histórica - Teoria da História I: os fundamentos da ciência
histórica. Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 2001.
SALÒ OU OS 120 DIAS DE SODOMA (SALÒ O LE 120 GIONARTE DI SODOMA).
Direção: Pier Paolo Pasolini. Itália: Produzioni Eropee (PEA)/ Les Production Artistes
Associés, 1975.

Uberaba/MG, 22 de março de 2022.

Assinatura do(a) Orientador(a):


(digitar o nome por extenso e assinar em cima)

Assinatura do(a) Bolsista:


Bruno Augusto da Costa
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ANEXOS:

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