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- Julho 2018

VITAMINA D
Quando solicitar a dosagem de vitamina D? Quais
são as situações de risco para a deficiência dessa
vitamina?
Introdução

Atualmente, é rara, na maioria dos países desenvolvidos, a deficiência de vitamina D fran-


camente manifesta, caracterizada por hipocalcemia e/ou hipofosfatemia, raquitismo e oste-
omalácia em crianças e osteomalácia em adultos.
Em denominação clássica de vitamina D, na verdade, trata-se de um pré-hormônio. Junta-
mente com o paratormônio (PTH), atua como importante reguladora da homeostase do cál-
cio e do metabolismo ósseo. Assim, a vitamina D é essencial em funções ligadas ao metabo-
lismo ósseo e parece também estar relacionada à fisiopatogenia de diversas doenças, como
o câncer de cólon.
▪ Em crianças, a deficiência de vitamina D leva ao retardo do crescimento e ao raquitismo;
▪ Em adultos, a hipovitaminose D leva à osteomalácia, ao hiperparatireoidismo
secundário e, consequentemente, ao aumento da reabsorção óssea, favorecendo a
perda de massa óssea e o desenvolvimento de osteopenia e osteoporose. Fraqueza
muscular também pode ocorrer, o que contribui para elevar ainda mais o risco de
quedas e de fraturas ósseas em pacientes com baixa massa óssea.
No entanto, a definição de deficiência de vitamina D, para indicar a reposição, ainda é con-
troversa. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial
(SBPC/ML) anunciou mudança do valor de referência da vitamina D (dosagem sérica da 25-
hidroxivitamina D ou 25(OH)D ou, ainda, calcidiol). Até então os valores considerados nor-
mais eram iguais ou acima de 30 ng/mL, insuficientes níveis entre 20 e 30 e deficientes os
níveis abaixo de 20. Atualmente, valores a partir de 20 ng/mL são considerados níveis sufici-
entes de vitamina D.
Mesmo em pacientes adultos com deficiência de vitamina D (ou seja, abaixo de 10 ng/mL,
segundo os novos valores de referência), não está claro se a reposição isolada de vitamina D
oferece benefícios mensuráveis à saúde, uma vez que a evidência disponível não demons-
trou impacto significativo dessa abordagem na redução de fraturas, por exemplo. O impacto
positivo só tem sido demonstrado quando a reposição de vitamina D é combinada com cál-
cio, especialmente em idosos frágeis.

Há indicação para realizar a dosagem sérica de vitamina D em


pacientes adultos assintomáticos e sem fatores de risco para
doenças ósseas? Quando recomendá-la?

Diante da evidência disponível, não há indicação de dosagem sérica de vitamina D em paci-


entes adultos assintomáticos, rotineiramente. A dosagem deve estar restrita a pessoas com
condições clínicas associadas a risco elevado de doenças ósseas, como:
▪ Osteoporose; hiperparatireoidismo primário e secundário;
▪ Doenças granulomatosas;
▪ Linfomas;
▪ Portadores de síndromes de má-absorção (fibrose cística, doença inflamatória intestinal,
doença de Crohn, doença celíaca, cirurgia bariátrica);
▪ Obesidade;
▪ Gestantes e lactentes;
▪ Insuficiência renal ou hepática;
▪ Pessoas com quadro de raquitismo ou osteomalácia;
▪ Idosos com história de quedas e fraturas;
▪ Pessoas em uso crônico e contínuo de medicações que interferem no metabolismo da
vitamina D (anticonvulsivantes, glicocorticoides, antifúngicos, antirretrovirais,
colestiramina, orlistat), especialmente se possibilidade limitada para aumentar o
consumo das fontes de vitamina D e de tomar sol;
▪ Condições que limitem a exposição solar como os indivíduos em regime de fotoproteção
por condições dermatológicas (como câncer de pele, imunossupressão por transplante,
lúpus eritematoso, etc.) e os usuários de vestimentas religiosas como véu, burca,
paramentos, batina, etc.
A dosagem está indicada na suspeita de intoxicação por vitamina D. A intoxicação aguda é
geralmente causada por ingestão acidental de suplementação de vitamina D e os sintomas
são relacionados à hipercalcemia, que incluem confusão mental, poliúria, polidipsia, anore-
xia, vômitos e fraqueza muscular. A intoxicação crônica pode causar nefrocalcinose, desmi-
neralização e dor óssea.

Qual exame solicitar?

O exame adequado para avaliar a hipovitaminose D é a dosagem sérica da


25-hidroxivitamina D.
Outras dosagens, como a de 1,25-hidroxivitamina D, estão restritas a algumas doenças oste-
ometabólicas raras e específicas, como hipercalcemia não dependente de paratormônio,
sarcoidose, raquitismos genéticos, e não devem ser solicitadas rotineiramente para rastrea-
mento de indivíduos assintomáticos.
Como tratar?

No caso de risco ou diagnóstico de hipovitaminose D (ou seja, nível sérico de


25-hidroxivitamina D abaixo de 20 ng/mL), deve-se avaliar primeiro o nível de exposição so-
lar e do consumo das fontes alimentares de vitamina D do indivíduo, recomendando a otimi-
zação dessas vias de obtenção da vitamina.
A complementação das necessidades diárias com suplementos orais, assim como o trata-
mento da deficiência, deve ser realizada somente para indivíduos com alto risco (ver item
2), quando estes apresentarem níveis insuficientes (suplementação) ou deficientes (trata-
mento) de vitamina D sérica.

Importante saber

▪ Não existe indicação para solicitar vitamina D em pacientes sem fatores de risco para
sua deficiência.
▪ Recomenda-se a ingestão diária de 600 UI em adultos com menos de 70 anos e 800 UI
naqueles acima de 70 anos.
▪ Em relação às crianças, a recomendação é de 400 UI por dia até a idade de 1 ano e 600
UI na faixa etária de 1 a 18 anos.
▪ A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a suplementação profilática de 400
UI/dia a partir da primeira semana de vida até os 12 meses e de 600 UI/dia dos 12 aos
24 meses, inclusive para as crianças em aleitamento materno exclusivo. Nos grupos de
risco, a dose mínima recomendada diária é de 600 UI, monitorando as concentrações
séricas de 25 (OH) D sempre que possível e, se necessário, reajustando a dose.
▪ A vitamina D pode ser encontrada em alimentos como óleos de salmão, atum e
sardinha, gema de ovo, fígado, leite, iogurte e queijos, carnes de boi e frango.
▪ Tomar sol é essencial para a produção endógena de vitamina D, sendo sua principal
fonte:
o De forma geral, cerca de 10 minutos de sol por dia (que pode variar dependendo do
tom de pele, da latitude, da hora do dia e da estação do ano) é geralmente
suficiente para a produção necessária de vitamina D;
o Quanto mais longa a exposição da pele ao sol, maior a produção de vitamina D por
unidade de tempo;
o O tempo de exposição solar para a produção da vitamina D é cerca de metade do
tempo necessário para produzir queimaduras pela irradiação UV, considerada assim
uma fonte segura de vitamina D;
o A prática de atividades físicas ao ar livre é uma maneira eficiente de se obter
vitamina D associada aos benefícios da atividade física.
Resumo

▪ Níveis de vitamina 25 (OH) D acima de 20 ng/mL são recomendados para a população


geral saudável;
▪ Entre 10 e 20 ng/mL são considerados insuficientes;
▪ Níveis inferiores a 10 ng/mL são considerados baixos e associados ao risco de
desenvolver defeitos na mineralização óssea, resultando em osteomalácia e raquitismo;
o Os pacientes, com essas condições podem apresentar dor óssea, fraqueza muscular
e fraturas;
▪ Acima de 100 ng/mL há risco de hipercalcemia e intoxicação;
▪ Suplementação de forma sistemática não está recomendada;
▪ A fonte principal de vitamina D é a endógena, a partir síntese cutânea pela exposição
solar.
Referências
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