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Vários autores
Inclui bibliografias
ISBN : 978-85-7014-055-5
Editora UTFPR
Sumário
APRESENTAÇÃO 11
Nanci Stancki da Luz
Marília Gomes de Carvalho
Lindamir Salete Casagrande
1 21
GÊNERO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO
Marília Gomes de Carvalho e Cíntia de Souza Batista Tortato
2 33
SEXUALIDADE E GÊNERO NA ESCOLA
Beatriz L. Ferreira e Nanci Stancki da Luz
3 47
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM DESAFIO À
CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Nanci Stancki da Luz
4 73
QUESTÕES DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL: AS
POSSIBILIDADES DA LITERATURA INFANTIL
Cíntia de Souza Batista Tortato
5 91
GÊNERO, EDUCAÇÃO E ARTEFATOS TECNOLÓGICOS:
OS DIFERENTES MEIOS PARA ENSINAR
Solange Ferreira dos Santos e Benedito Guilherme Falcão Farias
6 109
UM OLHAR CRÍTICO PARA OS LIVROS DIDÁTICOS:
UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DE GÊNERO
Lindamir Salete Casagrande e Marília Gomes de Carvalho
7 133
CIÊNCIA E TECNOLOGIA SOB A ÓTICA DE GÊNERO
Maria Aparecida Fleury Costa Spanger, Tânia Rosa F. Cascaes e
Marília Gomes de Carvalho
8 DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E PROFISSÕES
CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS NO BRASIL
Nanci Stancki da Luz
151
9 171
REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NA CIÊNCIA, TECNOLOGIA
E SOCIEDADE, MEDIADAS PELA PUBLICIDADE
Maristela Mitsuko Ono, Luciana Martha Silveira e
Ronaldo de Oliveira Corrêa
10 193
DESAFIOS E AVANÇOS NAS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE GÊNERO
Nanci Stancki da Luz
11 209
DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS: A
REPRODUÇÃO, A SEXUALIDADE E AS POLÍTICAS
Marlene Tamanini
12 247
HOMOFOBIA E A ESCOLA
Toni Reis
13 261
“O OLHAR NÃO É MAIS O MESMO”: UMA ANÁLISE
SOBRE OS RESULTADOS DE UM CURSO SOBRE
GÊNERO E SEXUALIDADE NA ESCOLA
Lindamir Salete Casagrande, Marília Gomes de Carvalho e
Nanci Stancki da Luz
APRESENTAÇÃO
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apresentação
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1
GÊNERO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO
Introdução
Gênero é uma palavra que necessariamente pede uma explicação a res-
peito de seu significado. Serve para classificar fenômenos os mais di-
versos tais como gêneros de literatura, de cinema, de música, dos seres
vivos na escala biológica, enfim é um termo classificatório.
No contexto deste capítulo gênero será utilizado como uma pala-
vra que serve para classificar as pessoas na sociedade, de acordo com o
sexo que possuem, ou seja, se são do sexo feminino e/ou do sexo mas-
culino. No entanto, a construção social do gênero é muito mais comple-
xa do que simplesmente uma classificação das pessoas em mulheres ou
homens. No campo das Ciências Sociais a complexidade é ainda maior
porque depende das diferentes correntes teóricas que interpretam o
gênero (mulher/homem) de formas diversas, ora considerando-o dire-
tamente relacionado ao sexo, ou seja sexo feminino = gênero feminino
e sexo masculino = gênero masculino, ora desvinculando o gênero do
sexo, sem que haja uma relação direta entre estes dois fenômenos. Para
outras correntes há dois sexos, porém múltiplos gêneros
O termo gênero possui portanto muitos significados, de acordo
com as diferentes abordagens que existem sobre o fenômeno da cons-
trução social do masculino e do feminino pela sociedade e pela cultura.
O conceito de gênero apresenta, diferentes concepções, diferentes fo-
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gênero: considerações sobre o conceito
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O uso da palavra “gênero”, como já dissemos, tem uma história que é tribu-
tária de movimentos sociais de mulheres, feministas, gays e lésbicas. Tem
uma trajetória que acompanha a luta por direitos civis, direitos humanos,
enfim, igualdade e respeito.
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gênero: considerações sobre o conceito
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MASCULINO FEMININO
Objetividade Senso Comum
Universalidade Localidade
Racionalidade Sensibilidade
Neutralidade Emoção
Dominação Passividade
Cérebro Coração
Controle Descontrole
Conhecimento Natureza
Civilizado Primitivo
Público Privado
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gênero: considerações sobre o conceito
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gênero: considerações sobre o conceito
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gênero: considerações sobre o conceito
Referências
AUAD, Daniela. Educar meninos e meninas: relações de gênero na escola. São Paulo:
Contexto, 2006.
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero – Feminismo e subversão da identidade. Rio de
Janeiro: Civilização brasileira, 2003.
BRUSCHINI, Cristina e SORJ, Bila. Novos olhares: mulheres e relações de gênero no Bra-
sil. São Paulo: Marco Zero: Fundação Carlos Chagas, 1994.
CARVALHO, Marilia Pinto. Mau aluno, boa aluna? como as professoras avaliam meninos
e meninas. Revista de Estudos Feministas, ano 9, 2o. semestre, 2001, p 554-574
CHODOROW, Nancy. A mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979.
CITELI, Maria Teresa. Fazendo diferenças: teorias sobre gênero, corpo e comportamen-
to. Revista de Estudos Feministas, ano 9, 2o. semestre, 2001, p 131 – 145.
CORRÊA, Mariza. Do feminismo aos estudos de gênero no Brasil: um exemplo pessoal.
Cadernos Pagu (16) 2001.
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31
SCHIENBINGER, Londa. O feminismo mudou a ciência? Bauru, SP: EDUSC, 2001.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realida-
de, 20(2), jul/dez. 1995. pp. 71-99.
SIMIÃO, Daniel S. Gênero no mundo do trabalho. Cadernos de Gênero e Tecnolo-
gia. ED. UTFPR, ano 1, n. 1, 2005.
TABAK, Fanny. O laboratório de Pandora: estudos sobre a ciência no feminino.
RJ: Garamond, 2002.
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2
SEXUALIDADE E GÊNERO NA ESCOLA
Introdução
A sexualidade envolve inúmeros aspectos pessoais – histórias de
vida, crenças, valores, diversidade, pluralidade e sentimentos – e
também sociais, políticos, culturais e econômicos. Tratar o tema
nem sempre é fácil, enfrenta resistências, particularmente quando
se refere à sua inclusão no currículo escolar. A escola, que cotidia-
namente produz e reproduz modelos de sexualidade, nem sempre
consegue explorar toda sua potencialidade e dimensão.
A partir da década de 1980 a escola passa a apresentar preo-
cupações com a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). A
falta de informações a respeito dessa doença, o crescimento no nú-
mero de contaminações e a associação com práticas sexuais revelou
a necessidade de discutir a sexualidade, quebrando resistências. A
inserção do tema, entretanto, ocorreu de forma bastante limitada e
com ênfase na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
O tema sexualidade revela-se polêmico, envolvendo tabus,
medos, questões religiosas, morais e éticas – o que dificulta a busca
de consensos de como a educação formal deveria abordá-lo. Essa
dificuldade muito se deve ao fato de que a sexualidade é vista de
forma restrita, associada ao ato sexual, desconsiderando a relação
com o corpo, o prazer e o desejo. Sexualidade não é sinônimo de
sexo, é muito mais que isso: é energia que possibilita encontros,
trocas e experiências; influencia pensamentos, sentimentos, ações
e interações e, portanto, tem a ver com a saúde física e mental do
ser humano.
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sexualidade e gênero na escola
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Considerações Finais
A escola pode ser um espaço gerador de transformação de comporta-
mentos e valores. Como parte do contexto social, essa instituição não
fica imune à reprodução de valores presentes na sociedade, sendo
comum a propagação de discriminações e preconceitos, o que ocorre
quando repassa uma visão androcêntrica de mundo e ensina às mulhe-
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Referências
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3
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM DESAFIO À
CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Introdução
A violência contra a mulher ganhou visibilidade graças à luta e organiza-
ção feminista que retirou o tema do âmbito privado, politizou a discus-
são e questionou as relações de poder que reproduziam e naturalizavam
esse grave problema social.
A violência doméstica, uma das inúmeras formas de expressão
dessa violência, por longo tempo foi tratada como algo da esfera fami-
liar, o que afastava a intervenção do poder público e permitia que, na
ausência de relações de afeto e proteção, imperasse a lei do mais “forte”
em grande medida personificada em uma figura masculina que, no uso
arbitrário de sua força física, considerava-se com direitos de subjugar,
humilhar ou mesmo agredir outros familiares.
Relações de poder desiguais entre homens e mulheres e a inércia
do Estado e da sociedade frente a essa realidade dificultaram a efetiva-
ção dos direitos fundamentais das mulheres vítimas de violência, entre
os quais o direito à vida, à integridade física, emocional e psicológica,
à liberdade de pensamento e de escolha, à saúde, à segurança, entre
outros.
A violência atinge homens e mulheres, entretanto, as suas formas
de manifestação, em geral, distinguem-se quando se trata de um ou de
outro gênero. Enquanto a violência contra os homens pode ser asso-
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violência contra a mulher: um desafio à concretização dos direitos humanos
A violência
A violência é um fenômeno amplo e que inclui não apenas comporta-
mentos entre indivíduos, mas também se refere a questões como de-
sigualdades (sejam elas sociais, étnicas, de gênero ou classe), pobreza,
desemprego, intensificação e precarização do trabalho, desvalorização
profissional e salarial, discriminação, falta de atendimento aos direitos
básicos, abandono, etc.
Para Ristum e Bastos (2004), é difícil abarcar a violência como um
todo, devido a sua complexidade. O próprio conceito pode sofrer inter-
ferência do julgamento social, dificultando uma formulação consensual
e ocultando formas de agressão. Embora a violência possa assumir di-
versas formas, devido a uma visão reducionista, muitas vezes, fica rela-
cionada apenas com a criminalidade, deixando de incluir a dominação
política, econômica e de gênero e todas as implicações dela decorren-
tes.
Herkenhoff (2004) destaca a necessidade de se distinguir agressi-
vidade de violência. A agressividade, cujo oposto é a passividade, tem
aspectos construtivos e significa dinamismo e energia vital. A violência,
ao contrário, tem sempre implícita a destrutividade. Essa destrutivida-
de, todavia, também pode ser libertadora quando, não havendo outra
alternativa, é utilizada como forma de defesa e de afirmação humana.
No entanto, num sentido restrito, o termo violência explicita o conjunto
de ocorrências que põem em perigo bens da vida e a integridade das
pessoas.
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violência contra a mulher: um desafio à concretização dos direitos humanos
A construção da violência
A violência contra a mulher e, particularmente, a doméstica nem sempre
foi punida. Para isso, tentou-se justificá-la com argumentos de que essa
violência é constitutiva da cultura de um povo, parte da natureza hu-
mana ou de menor poder ofensivo. Situação questionada por mulheres
do mundo todo, e cujo reflexo percebemos em mudanças, sejam na in-
terpretação e definição do que é a violência, sejam no comportamento
individual e nas ações institucionais que demonstram não mais aceitá-la
com naturalidade e buscam resgatar a dignidade e os direitos femini-
nos.
Entretanto a violência contra a mulher tem se revelado bastante
enraizada em nossa sociedade. A sua naturalização e reprodução con-
tam com importantes apoios. Desvelar esses mecanismos que con-
tribuem para a sua reprodução social pode ser o primeiro passo para
desconstruí-la.
Comportamentos violentos dos adultos ou formas de convivên-
cia e organização familiar que reforçam a subordinação feminina con-
sistem em um desses mecanismos. Fazer parte de relações em que a
violência é rotineira pode levar as crianças a considerá-la natural. Se no
âmbito familiar as crianças vivenciam a hierarquia/dominação entre os
sexos, relações violentas e se o silêncio e o conformismo são apresenta-
dos como forma de proteção, a violência pode ser aceita, suportada e
também reproduzida.
No Brasil é comum a propagação de ditados que reforçam e man-
têm a idéia de que a violência doméstica consiste em um problema do
espaço privado, ninguém poderia se opor a ela ou mesmo envolver-se
e, por mais absurdo que pareça, que poderiam fazer bem ao relaciona-
mento afetivo: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”;
“a mulher é minha e eu faço dela o que eu quiser”; “eu não sei porque eu
bato, mas ela sabe porque apanha”; “mulher gosta de apanhar”, “mulher
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é como pão, quanto mais bate, melhor fica”, entre tantos outros absur-
dos.
Todas essas frases, repetidas reiteradamente, podem levar al-
guns a acreditarem que isso seja verdadeiro, entretanto, as situações
de violência vivenciadas pelas mulheres e suas conseqüências deixam
evidente a inverossimilhança de tais afirmações. É ilógico pensar que
alguém possa gostar de apanhar, de viver sob constante ameaça, de
ser agredida ou humilhada. Talvez uma mente doentia que deseja
fazer ou faz tais crueldades busque assim justificar seus atos, mas a
sociedade aceitar e repetir tais disparates não faz sentido.
Além da inverídica afirmação de que mulher gosta de apanhar,
a sociedade cria outros mitos sobre a violência, buscando mostrar
que as mulheres agredidas consistem em um pequeno percentual
da população; que a razão das agressões é o consumo de álcool e
drogas; que os agressores têm baixa escolaridade e são pobres. A
realidade desmente tudo isso: o número de mulheres agredidas não
é pequeno, o consumo de drogas, embora possa intensificar a agres-
são, não é a sua causa; há agressores em todas as classes sociais, po-
dendo inclusive ser um intelectual, conforme relata Teles (2006).
Essa falsa realidade é reproduzida nas instituições sociais, in-
cluindo a escola que não se mantém imune a esse processo. Esse
espaço deveria se voltar prioritariamente para o desenvolvimento
pessoal, acadêmico e social de mulheres e homens, entretanto pode
ser um espaço reprodutor da violência ao desenvolver uma formação
generificada e androcêntrica , reforçando assim a dominação mas-
culina, secundarizando as atividades da mulher e contribuindo para
a baixa resistência à violência de gênero, culminando na sua aceita-
ção.
Os heróis, cientistas, intelectuais e políticos podem ser apresentados
como parte de um mundo masculino e, as mulheres podem simplesmen-
te desaparecer dos grandes feitos, das grandes descobertas, enfim, serem
apagadas da História. Mas, onde elas estariam quando a história foi vivida?
Os homens não conseguiriam construir nações, desenvolver ciência, inven-
tar ou inovar tecnologicamente sozinhos, pois a realidade sempre foi feita
de homens e mulheres.
Além da invisibilidade feminina, outro aspecto que aparece em ma-
teriais didáticos é a secundarização das suas atividades. Segundo Moreno
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violência contra a mulher: um desafio à concretização dos direitos humanos
(1999), elas aparecem nas páginas dos livros fazendo atividades do-
mésticas, aguardando o esposo que está viajando, “ajudando” os cien-
tistas, enfim, desempenhando papéis considerados adequados ao seu
sexo e mostrados como secundários.
As mulheres não desempenhem apenas atividades desse tipo
e, mesmo que assim fosse, caberia a escola discutir a relevância de-
las para a reprodução da vida, para a construção dos conhecimentos,
para as estratégias e as vitórias nas guerras, etc. A hierarquia das ati-
vidades tem contribuído para a desvalorização do trabalho feminino,
pois, “coincidentemente”, aquelas desempenhadas pelas mulheres
têm sido menos valorizadas. Assim, faz-se necessário tanto o resgate
da história de tantas mulheres que foram revolucionárias, cientistas,
guerreiras, etc., quanto à valorização das atividades ainda associadas
ao universo feminino.
As linguagens oral e escrita presentes na escola também podem
refletir a discriminação sexista e ignorar a presença feminina:
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O assassinato de mulheres
Vale destacar que as representações femininas tratadas anteriormente
contribuem para o desenvolvimento do sentimento de posse demons-
trado por alguns homens em suas relações afetivas e que, em muitos
casos, culminam em atos de extrema violência: assassinatos, agressões,
seqüestros e cárcere privado de mulheres vítimas daqueles que justifi-
cam suas atrocidades em um dos mais nobres sentimentos: o amor.
Uma importante reflexão a respeito dessa temática é apresenta-
da pela autora Eva Blay em seu livro Assassinato de mulheres e direi-
tos humanos, no qual se discute por que os crimes contra as mulheres
continuam tão disseminados em nossa sociedade. A autora revela que
não obstante as exigências de punição dos agressores há concomitan-
temente um aumento da taxa de homicídios de mulheres, crime que
se faz presente em todas as classes sociais. Embora esse tipo de violên-
cia possa parecer menor na camada alta, isso decorre do fato de que os
criminosos com maior poder aquisitivo têm maiores facilidades para
fugir ao flagrante ou mesmo de desaparecerem, auxiliados por advo-
gados, clínicas de saúde ou amigos influentes. Os dados desmentem a
visão de que a violência contra a mulher só existe entre os mais pobres
e menos escolarizados.
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Considerações finais
A aceitação social da violência contra a mulher é a própria negação dos
direitos fundamentais de toda uma população. A sua manutenção preju-
dica não só as mulheres, visto que contribui para o agravamento das injus-
tiças sociais, e isso afeta a todos, afastando-nos da justiça e da democracia.
O desenvolvimento social, econômico, cultural e político de uma nação
depende de homens e mulheres que, respeitados em suas diferenças, te-
nham a garantia de direitos inerentes ao ser humano, entre eles o de viver
sem violência.
Historicamente temos avanços significativos no sentido de enfren-
tar essa violência, particularmente, na ampliação do seu conceito e na
implementação de ações que visem coibir tal prática. Todavia, a gravida-
de do tema exige continuidade na reflexão, persistência nas ações e que
políticas públicas nessa área sejam prioritárias para o Governo Federal,
Estadual ou Municipal, reconhecendo a importância da construção de re-
lações de gênero baseadas no respeito às diferenças.
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Notas
1 O androcentrismo consiste em considerar o ser humano do sexo masculino como centro
do universo, como a medida de todas as coisas, como o único observador válido de tudo
o que ocorre no nosso mundo, como o único capaz de ditar as leis, de impor a justiça, de
governar o mundo (MORENO, 1999, p. 23)
2 Extirpação do clitóris acompanhada, muitas vezes, da retirada dos lábios internos da vul-
va.
3 Sutura ou introdução de anel ou colchete nos lábios genitais para impedir o coito ou tor-
nar a relação sexual um ato de extremo sofrimento; essa costura dos lados da vulva pode
ocorrer após a remoção do clitóris e dos pequenos e grandes lábios.
Referências
71
RISTUM, Marilena; BASTOS, Ana Cecília de Sousa. Violência urbana: uma aná-
lise dos conceitos de professores do ensino fundamental. Ciência e Saúde Coleti-
va. v. 9, n. 1, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232004000100022&lng=pt>. Acesso em: 07
set. 2008.
SILVA, Tamara da. O combate à violência contra a mulher: uma realidade ainda
incipiente. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/8303/1/o-com-
bate-a-violencia-contra-a-mulher-uma-realidade-ainda-incipiente/pagina1.html>.
Acesso em: 08 set. 2008.
TELES, Maria Amélia de Almeida. O que são direitos humanos das mulheres. São
Paulo: Brasiliense, 2006.
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QUESTÕES DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL: AS
POSSIBILIDADES DA LITERATURA INFANTIL
Introdução
A abordagem das questões de gênero e diversidade sexual, tendo a lite-
ratura infantil como elemento disparador das reflexões e discussões, foi
pensada como uma das estratégias de sensibilização valendo-se de cur-
sos de capacitação dirigidos a profissionais da educação da rede munici-
pal de ensino da cidade de Matinhos e, posteriormente, da rede estadu-
al de ensino do Paraná. O trabalho foi elaborado de forma a contemplar
as mais diversas situações que acontecem em uma escola, e que podem
proporcionar momentos preciosos para a abordagem, com as crianças
ou jovens, de questões de gênero ou de diversidade sexual. Atendendo
ao objetivo geral do curso: Preparar profissionais para a reflexão sobre as
questões de gênero e diversidade sexual na sociedade em geral e na escola
em particular, afim de que promovam uma educação democrática e inclu-
siva, sem preconceitos nem discriminações. A equipe responsável optou
por trabalhar os conceitos selecionados para o módulo por meio de di-
versas atividades,1 e uma delas foi o uso de livros de literatura infantil,
reconhecendo o trabalho com a literatura como uma forma consagrada
de prática pedagógica no espaço escolar.
Gênero e educação
Como conseqüência das lutas históricas do movimento feminista, políti-
cas públicas relacionadas à inserção da perspectiva de gênero na educa-
ção começaram a surgir nos documentos legais a partir da Constituição
de 1988, e, depois, com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacio-
nais (1997) e dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação In-
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questões de gênero e diversidade sexual: as possibilidades da literatura infantil
A escola, para que haja aprendizado, interfere nas hipóteses das crianças
sobre os conhecimentos matemáticos, científicos e lingüísticos. Da mesma
maneira, há de se intervir nos conhecimentos relativos às relações de gêne-
ro, às relações étnico-raciais, geracionais e de classe, para que as discrimi-
nações e desigualdades acabem.
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questões de gênero e diversidade sexual: as possibilidades da literatura infantil
Assim, mesmo a literatura infantil produzida nos anos mais recentes que se
pretende “emancipatória”, ou “não pedagogizante”, “não moralizante”, não
foge à contingência de carregar consigo representações de mundo, cons-
ciente ou inconscientemente nela plasmadas pelo autor, assim como não
pode sofisticar demais seus recursos, sob pena de ser rejeitada pelo leitor
infantil.
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questões de gênero e diversidade sexual: as possibilidades da literatura infantil
E as famílias?
Para introduzir a discussão a respeito dos tipos de famílias é válido pen-
sar em alguns questionamentos, como:
O que é uma família? O que transforma pessoas em família? Fa-
mília pressupõe proximidade física? E quanto aos que vivem em outro
lugar, não são considerados como família? Família pressupõe laços de
sangue?
Nos depoimentos das pessoas, comumente, fica muito marcada,
num primeiro momento, a visão de um modelo ideal de família8 – a
chamada família nuclear – composta de pai, mãe e filhos com papéis
pré-definidos. Segundo Narvaz e Koller (2006, p. 52):
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questões de gênero e diversidade sexual: as possibilidades da literatura infantil
tram o livro tem uma relação com os desenhos infantis, denotando uma
idéia de sinceridade, em que o uso das cores fortes não segue padrões.15
As famílias são representadas tanto por desenhos de pessoas como por
desenhos de animais, recurso muito utilizado para despertar o interesse
da criança.
O objetivo da leitura desse livro é problematizar a discussão sobre
tipos de famílias, mostrando e ressaltando a diversidade e questionando
o padrão de família hegemônico: pai, mãe, filho e filha. Essa atividade
pode levar à discussão acerca das datas comemorativas, bem como de
que forma essas datas estão sendo trabalhadas no ambiente escolar,
como podem ser adaptadas para que contemplem as diversas estrutu-
ras familiares e, conseqüentemente, a realidade de um maior número de
alunos e alunas.
Com essa atividade também é possível discutir os conceitos de di-
ferença e desigualdade, buscando evidenciar que todos são diferentes,
porém, as diferenças de cultura, idade, sexo, classe e raça não podem
ser traduzidas em desigualdade e em situações nas quais pessoas são
valorizadas em detrimento de outras (SILVA, 2004).
A leitura do livro comumente expõe a comoção de algumas pes-
soas diante das afirmações do texto, comentários do tipo: “Puxa, é mes-
mo...” representam a necessidade de aprender mais sobre diversidade,
respeito e possibilidades. A construção das representações referentes
aos modos de ser de homens e mulheres, traduzida na questão de gêne-
ro, deve ser bastante trabalhada depois da leitura do livro e da discussão
inicial. É muito importante que, por meio das falas, as pessoas trabalhem
com a noção de que suas concepções sobre gênero e papéis definidos
para os membros de uma família não são imutáveis, e podem ser orga-
nizados de outras formas.
Depois de um tempo de discussão e reflexão, torna-se mais fácil
compreender que a estrutura familiar vem se modificando ao longo do
tempo e das lutas sociais,16 e que é urgente que a escola e seus profissio-
nais considerem e procurem contemplar em suas atividades a diversida-
de de famílias que possam existir ou serem ainda construídas17.
Faz-se necessário também mencionar que as famílias que se en-
caixam no padrão tradicional não devem ser condenadas ou criticadas
por essa escolha, a questão é reconhecer e respeitar todas as formas de
estruturação familiar sem que uma seja tida como mais certa ou mais
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Ler e apreciar
Para o trabalho com as questões de gênero e diversidade foram esco-
lhidos alguns livros de literatura infantil que tratam desses e outros as-
suntos das mais diversas formas. No trabalho prático realizado com pro-
fissionais da educação, nos cursos de capacitação já citados, a dinâmica
proposta foi dividir as turmas em pequenos grupos e distribuir um livro
de literatura infantil para que cada grupo fizesse a leitura e identificasse
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questões de gênero e diversidade sexual: as possibilidades da literatura infantil
em que faixa etária o livro poderia ser utilizado, quais temas poderiam
ser trabalhados com ele, os pontos positivos e negativos de cada obra e
que, posteriormente, falassem para o grande grupo acerca de suas im-
pressões do material lido. Não existe outra maneira de trabalhar com
literatura infantil que não seja lendo e apreciando cada livro antes de
oferecê-lo a quem quer que seja.
Dentre os títulos selecionados, o livro Mamãe botou um ovo, de
Babette Cole, trata da temática da reprodução. As ilustrações merecem
destaque por serem adequadas à forma com que a autora aborda o
tema, com delicadeza, beleza e simplicidade. As personagens principais
são duas crianças, um menino e uma menina, cujos pais resolvem dar os
esclarecimentos acerca da reprodução, partindo desse propósito, sur-
gem várias invenções mirabolantes que explicam como os bebês vêm
ao mundo. Diante disso, as crianças resolvem explicar para os pais o
que todo mundo já sabe e, nesse momento, entram as explicações ade-
quadas, com base científica, de forma simples e lúdica, proporcionan-
do uma resposta direcionada à grande parte das dúvidas apresentadas
pelas crianças que estão passando por essa fase. Da mesma autora, o
livro Cabelinhos nuns lugares engraçados, fala sobre as mudanças físi-
cas e emocionais enfrentadas pelas crianças que adentram na fase da
puberdade. Igualmente delicado e lúdico o livro proporciona acesso a
conhecimentos científicos de forma clara e sensível, fala das alterações
hormonais colocando os hormônios como dois monstrinhos que ficam
dentro do corpo das crianças preparando poções durante a infância que
vão desencadear nas transformações da puberdade. Trata das dificulda-
des e conflitos emocionais comuns a essa fase da vida, e pode servir de
impulso para as questões de gênero que acompanham essa temática,
vivida de forma diferente por meninos e por meninas.
O livro Ceci tem pipi?, de Thierry Lenain traz um personagem me-
nino que tem dificuldades para entender o comportamento de uma
menina de sua turma de escola porque tal comportamento não se en-
caixa em seus padrões pré-estabelecidos a respeito de como uma me-
nina deve se comportar e o que pode fazer sendo menina. As ilustra-
ções são lúdicas, agradáveis, e as questões de gênero, no que se refere
a comportamentos, são abordadas, desde o início do livro, por um viés
humorístico, tornando a leitura ainda mais agradável. Até a questão do
pênis como órgão dotado de poder é trabalhada de uma forma simples
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questões de gênero e diversidade sexual: as possibilidades da literatura infantil
Considerações
Os relatos finais e a avaliação dos grupos confirmaram a importância
de se trabalhar as questões de gênero e diversidade sexual na escola e
a pertinência de se fazer esse trabalho por meio da literatura infantil. As
pessoas que participaram demonstraram prazer e satisfação na realiza-
ção das atividades com as obras infantis, pois puderam ver neles uma
ferramenta que pode lhes dar suporte no cotidiano escolar.
As falas e reações do grupo durante os cursos revelaram, em vá-
rios momentos, o movimento de naturalização dos preconceitos e discri-
minações – mesmo trabalhando com educação, questões importantes
para a formação das crianças e dos próprios profissionais passam des-
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... não vai ser fácil, mas nada que não possamos começar a tentar mudar
essa cultura... por que... eu sou uma que já tinha alguma informação, já ti-
nha ido atrás, já tinha pesquisado esses assuntos, claro que superficialmen-
te... mas esse curso pra mim tá dando vários motivos pra eu me perguntar
coisas que há cinqüenta anos eu convivo e eu nunca me perguntei... nunca
me perguntei...18
Notas
1 Foram trabalhadas atividades envolvendo brincadeiras, músicas, hora do recreio, teatro,
situações de sala de aula, situações de família, produção artística, contação de histórias,
momentos de depoimentos e de reflexões conjuntas.
2 Louro (1997, p. 30) situa a idéia da desconstrução referindo-se à historiadora Joan Scott
que coloca “a idéia de que é preciso desconstruir o caráter permanente da oposição binária
masculino-feminino”, reforçando que essa oposição também “é construída e não inerente
e fixa”. E ainda, em Louro (2004, p.42) “Desconstruir um discurso implicaria minar, escavar,
perturbar e subverter os termos que afirma e sobre os quais o próprio discurso se afirma.”
3 Pesquisa realizada visando estudar as relações de gênero que se manifestam no momento
do recreio escolar.
4 A escolha dos livros privilegiou aqueles em que a normatização por meio de representa-
ções das relações de gênero e da sexualidade é subvertida de alguma forma.
5 Para Sefon (2006, p. 1): Os livros são importantes artefatos culturais e, no Brasil, desde
1980, vêm reforçando seu lugar junto a crianças, professores, professoras e familiares, como
veiculador pedagógico, que ensina, dentre outros aspectos, o ‘certo e o errado’, o ‘bom e o
mau’, os modos de ser ‘menino e menina’, de ser ‘pai e mãe’.
6 Um trecho do livro: Não importa... se os seus pés são grandes ou pequenos, nem se você chuta
bola ou brinca com bonecas, ou os dois, ou até nenhum dos dois, nem se você usa sapato rosa ou
azul, ou até mesmo nenhum dos dois ...
7 Segundo Santos e Hessel (2006, p. 1) “Desde muito cedo, variadas instancias, como a fa-
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Referências
AUAD, Daniela. Educar meninos e meninas: relações de gênero na escola. São Pau-
lo: Contexto, 2006.
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
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DIFERENTES MEIOS PARA ENSINAR
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A literatura infantil
O uso dos livros paradidáticos na educação constitui uma riquíssima
fonte de conhecimentos e emoções. Os livros de literatura infantil
exercem um papel instigante nas crianças. Por meio do lúdico, permi-
te que elas se percebam como seres humanos, e criem seus próprios
questionamentos a respeito de si mesmas e do mundo que as rodeia.
A literatura pode ser utilizada para discutir conceitos e temas
conflituosos e considerados polêmicos na sociedade, como consumis-
mo, raça e etnia, sexualidade, gênero, apelidos, trabalho, entre outros.
Ao mesmo tempo, “não se pode deixar de perceber que nesse uso
escolar-pedagógico, ela é muito mais que mero entretenimento, ela é
aventura espiritual, capaz de engajar o leitor em uma experiência rica
de vida, inteligência e emoções” (VIDAL e NEULS, 2007, p. 1).
Na infância, a criança começa a construir suas próprias definições
acerca da sua identidade de gênero e dos papéis sociais do que é ser
homem ou mulher. Os estereótipos que representam o menino como
forte, corajoso, agitado e a menina como tímida, frágil e comportada
podem contribuir para a construção e/ou manutenção de concepções
distorcidas de masculinidade e feminilidade.
Esses estereótipos estão presentes em diversos meios de comu-
nicação como nos livros de literatura infantil, por exemplo. É impor-
tante que professores e professoras percebam essas representações
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gênero, educação e artefatos tecnológicos: os diferentes meios para ensinar
A utilização de filmes
As mudanças tecnológicas são rápidas, e nem sempre um artefato uti-
lizado como recurso pedagógico é explorado como poderia pelo gru-
po docente. O uso didático de filmes em sala de aula consiste em uma
metodologia bastante utilizada nas escolas, institutos e universidades,
nos diversos níveis de ensino.
Existem três pontos principais pelos quais os filmes podem ser
selecionados para trabalhar uma determinada temática: pelo conteú-
do, pela linguagem ou pela técnica. Napolitano (2004) argumenta que
o uso de filmes apresenta duas abordagens principais: como fonte e
como texto-gerador.
Os filmes podem ser usados como fonte “quando o professor di-
recionar a análise e o debate dos alunos para os problemas e as ques-
tões surgidas com base no argumento, no roteiro, nos personagens,
nos valores morais e ideológicos que constituem a narrativa da obra”
(NAPOLITANO, 2004, p. 1). Nesse tipo de abordagem o filme está rela-
cionado a um tema específico ou a um conteúdo curricular e permite
aprofundar a abordagem e desencadear outras questões para debate,
bem como pode levar o educando a desenvolver o pensamento crí-
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Brito, lembra que “o professor tem que primeiro assistir o filme que
irá utilizar com seus alunos, planejar as estratégias de desenvolvimento
da aula, de motivação e, principalmente, deixar seus alunos assistirem
ao filme” (2003, p. 3). Nesse planejamento, é importante pensar em um
tempo para o debate, pois o filme deve ser uma atividade integrada à
aula. É importante que as temáticas suscitadas por ele sejam debatidas
no mesmo dia da exibição.
Além dos documentários, os demais gêneros de filmes podem
ser trabalhados no ambiente escolar, desde que a seleção de temas seja
articulada ao conteúdo específico e não simplesmente utilizado como
“tapa buraco”. É importante selecionar temas, respeitando a faixa etária
da classe, as peculiaridades de cada grupo e a cultura geral e midiática
do grupo discente. No momento de selecionar um filme, deve-se refletir
a respeito de seu preparo quanto ao debate dos temas que a obra abor-
da (MORAN, 1995).
A seleção dos temas pode ser feita a partir de dois critérios. O
primeiro critério diz respeito aos conteúdos tradicionais das disciplinas
escolares, como Sociologia, História, Língua Estrangeira, Geografia, Bio-
logia, entre outras, que fazem parte do conteúdo desses programas. O
outro critério pode ser baseado nos temas transversais como drogas, se-
xualidade, gênero, preconceito, ética, meio ambiente, juventude, den-
tre outros.
Para abordar a temática de gênero e sexualidade, existe um gran-
de número de documentários e filmes disponíveis no mercado, dentre
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Os artefatos tecnológicos
Historicamente, desde os primórdios da civilização, educadores utilizam
diferentes recursos tecnológicos para comunicar e ensinar, alguns deles
são a escrita, os livros, as revistas, os jornais, o giz, a lousa, etc.
No cenário atual, a educação mediada por computador (CMC),
como a de um ambiente virtual, desde os anos 80, tem causado impacto
no ambiente escolar, impondo mudanças nos métodos de trabalho de
professores e, ao mesmo tempo, constituindo-se em um terreno fértil
que permite ser explorado para múltiplos fins. Para Tozetto e Matos o
“(...) uso de artefatos tecnológicos, principalmente o computador, im-
põe mudanças nos métodos de trabalho dos professores, gerando mo-
dificações nas instituições e no sistema educativo” (2008, p. 5).
Com o advento da internet a partir da década de 90, ampliaram-
se as possibilidades e interações no contexto escolar:
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Considerações
As abordagens contempladas nesse artigo indicam caminhos e instru-
mentos didáticos que professores e professoras poderão se apropriar para
problematizar diversos temas no espaço escolar. As informações estão
por toda a parte, cabe a esses profissionais selecionar e rever criticamen-
te as informações, levantar hipóteses, questionamentos e provocações,
construir e reconstruir o conhecimento, dia-a-dia, sem discriminação de
raça, cor, gênero, etnia ou classe social. Consiste em uma tarefa difícil, mas
possível de se realizar e contemplar o exercício da cidadania (GADOTTI,
2000).
As inúmeras informações disponíveis por meio dos meios de comu-
nicação (televisão, revistas, computadores, jornais, livros) podem servir de
instrumentos para que professores e professoras, alunos e alunas possam
discutir e problematizar importantes temas, desde que o docente esteja
preparado, como o “olhar” focado para perceber e propor discussões a
respeito das questões de gênero na escola, na tentativa de superar as de-
sigualdades e discriminação entre os gêneros.
Sendo assim, a educação emancipatória e não sexista exige ruptu-
ras e quebras de paradigmas sociais, políticos, culturais, científicos, tecno-
lógicos e de gênero em uma sociedade em constante transformação, para
a exploração do novo, do inexplorado, do diferente.
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Notas
Referências
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TOZETTO, Joseli Monteiro; MATOS, Elizete Lúcia Moreira. Tecnologia de informa-
ção e comunicação na prática pedagógica. In: ANPED-SUL, 2008.
VIDAL, Fernanda Fornari. NEULS, Janaína Souza. Contos de fadas modernos: en-
sinando modos de ser homem e mulher. Publicação disponível em: <www.fazen-
dogenero7.ufsc.br/artigos/V/Vidal-Neuls_54.pdf >. Acesso em: 09. set. 2008.
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6
UM OLHAR CRÍTICO PARA OS LIVROS DIDÁTICOS: UMA
ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DE GÊNERO
Introdução
Os livros didáticos constituem um importante material de apoio aos
professores e professoras bem como aos alunos e alunas. Muitas
vezes, esses são os únicos livros aos quais docentes e discente têm
acesso. Silva (2000, p. 140) argumenta que, “por causa da ausência de
outros materiais que orientem os professores quanto à ‘o que ensinar’
e ‘como ensinar’, e também em decorrência da falta de acesso do alu-
no a outras fontes de estudo e pesquisa”, os livros assumem um papel
significativo no dia-a-dia escolar. Passam, dessa forma, a ser o único
material de apoio às atividades de ensino e aprendizagem.
O Ministério da Educação - MEC tem empreendido esforços
para que o livro didático “passe a ser entendido como instrumento
auxiliar, e não mais a principal e única ferramenta” (SILVA, 2000, p.
140). Porém, não se pode esquecer que em algumas regiões do Bra-
sil o acesso a outros meios e materiais é extremamente difícil, quer
pela localização geográfica da escola, quer pelas condições finan-
ceiras da população local. Por esse motivo, o que está contido nos
livros didáticos assume, muitas vezes, o status de verdade absoluta,
imutável e inquestionável. Entretanto, uma análise mais apurada de
alguns livros que são distribuídos para as escolas brasileiras permite
que se perceba que muitos desses trazem, em suas imagens e textos,
estereótipos e preconceitos de gênero, classe, etnia, raça, dentre ou-
tros. Isso pode ser constatado não só pelo que encontramos nesses
livros, mas também pelas ausências. O silêncio fala, e precisamos sa-
ber ouvi-lo.
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possibilitar que elas cuidem do lar e dos filhos, sua “principal função”.
O homem é representado em profissões desenvolvidas no ambiente
externo, na rua, como, por exemplo: comerciante11, pintor12, jardinei-
ro13 e operário14, também objetivando cumprir sua “função”, a de pro-
vedor. Essas representações estão reproduzindo papéis conservado-
res de gênero e deixam a impressão de que a responsabilidade pela
manutenção material da família é dos homens. Essa idéia diverge da
realidade atual, na qual cada vez mais mulheres assumem o comando
de suas famílias, por vontade própria ou por força das circunstâncias, e
são responsáveis pelo sustento familiar.
Existe uma recomendação do Governo Federal, principal com-
prador dos livros didáticos, de que os livros se aproximem da realidade
dos estudantes. Como esses livros são destinados a escolas públicas e
a maioria dos estudantes dessas escolas é de famílias mais pobres, as
profissões anteriormente mencionadas podem ser vinculadas a reali-
dade desses alunos e alunas. Entretanto, a predominância de enun-
ciados e ilustrações que representam ofícios que requerem pouca
escolaridade pode gerar o desestímulo ao estudo, uma vez que para
exercê-los não é necessário um alto nível de escolaridade. Assim, os li-
vros didáticos poderiam mesclar os tipos de enunciados mencionados
e ilustrações de profissões que necessitam de um ensino de nível su-
perior, como medicina, engenharia e advocacia, tanto na representa-
ção de homens quanto na de mulheres. Essa mescla poderia incentivar
estudantes, meninos e meninas, a almejar essas profissões, e estimulá-
los a estudar mais.
Nas imagens que representam a professora por meio de dese-
nho, ela é jovem, esguia, alta, bem vestida e com cabelo muito bem
penteado. Imagem diferente da encontrada nas ilustrações com fotos,
que apresentam uma imagem de professora mais próxima da realida-
de, considerando-se que professoras e professores têm uma diversida-
de de tipos físicos e realidades socioeconômicas variadas. Uma ilustra-
ção encontrada no livro Matemática e vida, de Bongiovanni, Vissoto e
Laureano, para o ensino de 5ª série, página 56, o professor está repre-
sentado de forma caricaturada, escondido embaixo da mesa comendo
bombons enquanto os alunos brincam na sala de aula. Esse tipo de
ilustração pode contribuir para a construção de uma imagem negativa
do professor, como irresponsável e descuidado.
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Possibilidades de ação
Algumas pessoas podem pensar que as ilustrações dos livros didáticos
não são importantes para a construção das identidades de gênero, pois,
muitas vezes, professores e professoras sequer olham para elas. Porém,
não podemos esquecer que as imagens chamam a atenção das crian-
ças devido ao colorido e ao seu aspecto plástico, pois, em sua maioria,
as ilustrações são bonitas, alegres e divertidas. É necessário, no entan-
to, que estejamos atentos para, na medida do possível, questionar os
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precisam estar afiados para que sejamos capazes de ver, ouvir e sentir as
múltiplas formas de constituição dos sujeitos, implicadas na concepção, na
organização e no fazer cotidiano escolar.” (2001a, p. 59). Os sentidos preci-
sam estar afiados para que sejamos capazes de enxergar essas representa-
ções estereotipadas, aproveitar as possibilidades de desconstrução desses
estereótipos, e minimizar os preconceitos e discriminações no ambiente
escolar.
Considerações finais
As representações de gênero nos livros didáticos analisados ocorrem, na
maioria das vezes, de forma estereotipada. Homens e mulheres são repre-
sentados como se vivessem em mundos separados, com papéis distintos
e bem definidos, como se não interagissem. Esse tipo de representação é
encontrado em livros de diversas disciplinas como Matemática, Ciências,
Geografia e Língua Portuguesa. Porém, as mesmas imagens que podem
transmitir estereótipos e preconceitos podem também servir como ponto
de partida para o debate de seus significados, implícitos e explícitos, em sala
de aula. Para que isso ocorra, há a necessidade de que professores e profes-
soras percebam que a manutenção e reprodução de situações que podem
culminar em discriminações de gênero, classe, raça e etnia se constitui em
um problema. Somente quando identificarmos uma situação como proble-
mática, poderemos tomar atitudes e desenvolver ações para transformá-la.
Essa transformação, geralmente, é difícil e lenta, entretanto, necessária.
O papel dos profissionais da educação é fundamental no questiona-
mento dessas situações e, para que possam fazê-lo, precisam estar prepa-
rados para perceber, problematizar e debater essas temáticas que são polê-
micas e, muitas vezes, se apresentam como “tabus”. Convém salientar que
os cursos de licenciatura, em sua grande parte, não nos ensinam a utilizar
os livros didáticos, tampouco a fazê-lo de forma crítica. Cada professor ou
professora deve buscar, dentro de suas habilidades e possibilidades, as me-
lhores formas de usar criticamente o material que está em suas mãos.
Os temas sexualidade e gênero não são assuntos relacionados
somente às áreas de Ciências e Biologia. Muitas vezes, os estudantes,
sejam meninos ou meninas, criam apelidos, fazem piadas e chacotas
que causam constrangimento para alguns de seus colegas estudantes,
com base no que entendem como diferente do normal. Porém, o que é
normal? O que é anormal? O que entendemos como normal pode ser di-
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Notas
1 Dissertação defendida pela primeira autora e orientada pela segunda no ano de 2005 no
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE, da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná – UTFPR. A dissertação está disponível na íntegra no site <www.ppgte.ct.utfpr.edu.br>
e no do Domínio Público.
2 O curso “Construindo a igualdade na escola: repensando conceitos e preconceitos de gêne-
ro” foi desenvolvido durante o ano de 2008 pelo Grupo de Estudos sobre Relações de Gênero
e Tecnologia – GeTec, do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE da Universida-
de Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR junto a professores da rede estadual de ensino de
Curitiba e Região Metropolitana. Esse curso teve apoio financeiro da Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD do Ministério da Educação.
3 Dentre eles, podemos destacar os estudos de Daniela Auad (2003 e 2006), Marília Pinto de
Carvalho (1999 e 2001), Edlamar Leal de Sousa Cavalcanti (2003); Guacira Lopes Louro (1999,
2000, 2001a e 2001b).
4 O texto citado compreende por carreira científica, as ciências chamadas ‘duras’. Porém, con-
vém salientar que as ciências humanas também são ciências e nelas as mulheres têm tido
significativa atuação.
5 Todos os livros analisados neste texto são anteriores à implantação dos 9 anos para o ensino
fundamental.
6 Optou-se por descrever as imagens devido à necessidade de conseguir a liberação dos au-
tores para o uso delas.
7 Flávia tem que bordar uma toalha formada por... (PIRES; CURI; PIETROPAULO, 2003a, p. 143).
8 Em 6 dias, 4 costureiras fazem 96 paletós. Quantos... (BIANCHINI, 1991, p. 159).
9 Numa aula de Matemática, a professora Maria Helena pediu... (BONGIOVANNI; VISSOTO;
LAUREANO, 1990a, p. 32).
10 Enfermeira e dentista são representadas por meio de ilustrações.
11 O Sr. Antonio, o açougueiro, vai dar... (BONGIOVANNI; VISSOTO; LAUREANO, 1990b, p. 196).
12 O Sr. Paulo é pintor. Seguindo... (ISOLANI; et al., 2002b, p. 272).
13 O Sr. Ismael é um jardineiro caprichoso. Ele quer plantar... (DANTE, 2003a, p. 111).
14 Um operário ganha Cr$ 39.600,00 em 12 dias... (BIANCHINI, 1991, p. 156).
15 Ricardo estava estudando Matemática com seu pai. Este perguntou ao filho quantos triân-
gulos... (DANTE, 2003a, p. 190).
16 A filha de Marília tem que resolver questões de Matemática e pediu ajuda à mãe. Vamos
resolver as questões também... (IEZZI; DOLCE; MACHADO, 2000a, p. 26).
17 Marina tinha R$ 20,00. Ganhou de sua mãe R$ 3,00 e de seu pai R$ 8,00. Com quanto
Marina ficou? (ISOLANI; et al., 2002a, p. 116).
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18 Marcos foi passear com seus dois filhos, Celso e Aninha, numa trilha do parque florestal.
Para cada passo de Marcos, Celso dá 2 passos e Aninha, 3. Se o passo... (PIRES; CURI; PIETRO-
PAOLO, 2002a, p. 119).
19 No casamento de Roberta vai haver uma grande festa. Dona Carminha já está preparan-
do os doces... (IEZZI; DOLCE; MACHADO, 2000a, p. 32).
20 Clélia comprou 2,8kg de carne. Quanto ela... (ISOLANI; et al., 2002a, p. 279).
21 Seu Miguel comprou 48 bombons para repartir entre os gêmeos, de modo que Débora
receba 4 bombons a mais que Vítor. Quantos bombons Vitor vai receber?
22 Mário comprou para seu filho um livro e dois cadernos e indicou... (DANTE, 2003a, p.
262).
23 A avó de Néia está fazendo uma reforma em sua casa. Para isso... (DANTE, 2003b, p. 104).
24 Para fazer um bolo, vovó gasta 0,180kg de farinha... (ISOLANI; et al., 2002a, p. 279).
25 O despertador tocou e eu nem me mexi. Meu avô gritou: - Levanta, Marcelo! Falta um
quarto para as seis. (CENTURIÓN; JAKUBO; LELLIS, 2003, p. 130)
26 O avô de Paula e Sofia pediu que elas guardassem na geladeira dois queijos iguais, corta-
dos, para ele fazer uma receita para o jantar. Cada uma... (DANTE, 2003a, p. 139).
27 Aldo, Giba e Raul ganharam de seu avô dois tabletes de chocolate, que foram... (DANTE,
2003b, p. 79).
28 Avelino levou seu neto para assistir a uma partida de futebol entre Grêmio e Internacio-
nal. A partida teve... (DANTE, 2003b, p. 118).
29 Gilberto e Rodrigo possuem juntos 34 carrinhos. Se Rodrigo... (ISOLANI; et al.,2002a, p.
112).
30 Numa prova com 72 questões, sabe-se que Augusto acertou 3/8 delas. Mauro acertou
5/9 e Flavio 5/12 das questões. Pode-se afirmar que... (IEZZI; DOLCE; MACHADO, 2000a, p.
189). Uma prova de Geografia tinha 40 questões. Luis acertou 2/5 das questões e Maria
acertou 5/8. (BIGODE, 2000a, p. 215).
Referências
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AUAD, Daniela. Educar Meninas e Meninos: relações de gênero na escola. São
Paulo: Contexto, 2006.
AUAD, Daniela. Feminismo: Que história é essa? Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
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DANTE, Luiz Roberto. Tudo é Matemática: 5ª série. São Paulo: Ática, 2003a.
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IEZZI, Gelson; DOLCE, Osvaldo; MACHADO, Antonio. Matemática e Realidade: 6ª
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7
CIÊNCIA E TECNOLOGIA SOB A ÓTICA DE GÊNERO
Introdução
Ciência e tecnologia têm sido vistas como fenômenos associados, pois,
a partir da revolução industrial e especialmente das grandes inovações
tecnológicas do final do século XX e início do século XXI, o conhecimen-
to científico passou a ser apropriado pela tecnologia, apropriação esta
que objetivava trazer maior produtividade às empresas e ampliar a ofer-
ta de produtos cada vez mais inovadores no mercado de consumo, a
mola mestra do capitalismo. Atualmente se fala inclusive em tecnociên-
cia, um termo recente que caracteriza a íntima relação entre tecnologia
e ciência.
Não se pode esquecer que tanto a ciência quanto a tecnologia
são fenômenos sociais que adquirem as características do contexto só-
cio-cultural em que são criados e desenvolvidos. Assim, não existe uma
única maneira de fazer ciência e tampouco uma única maneira de inter-
pretar o que seja a tecnologia.
Portanto, a visão determinista de linearidade e neutralidade da
ciência e da tecnologia tem sido, a partir dos anos 60 do século XX, ques-
tionada e combatida por diversos teóricos e estudiosos do campo “Ci-
ência, Tecnologia e Sociedade” – CTS. Esse campo tem por objeto de
estudo os aspectos sociais da ciência e da tecnologia, em relação aos
fatores sociais que influenciam nas transformações científico-tecnoló-
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até então lhe havia sido negada por uma sociedade que a concebia so-
mente como procriadora. A percepção desse corpo que agora passou
a lhe pertencer foi fundamental historicamente para uma mudança no
comportamento da mulher, concedendo-lhe um poder e uma liberdade
nunca antes consentidos.
Por outro lado, mulheres e homens antes inférteis conseguem
atualmente realizar o desejo de terem filhos com a ajuda dos vários mé-
todos de concepção disponibilizados pelo avanço tecnológico da área.
Para Tamanini (2006), tratar a infertilidade passou a ser uma ne-
cessidade em nossa cultura, que se organiza em volta do casamento he-
terossexual e fértil. O tratamento da infertilidade data dos tempos bíbli-
cos, mas hoje se reveste de outros significados. Tamanini entende que:
atualmente a infertilidade interage com o medo da esterilidade social
em termos de reprodução de valores, e sobre o medo sobre a impossi-
bilidade que venha a ter a espécie humana de reproduzir-se biologica-
mente, configurando novas demandas e novas práticas reprodutivas e
sociais relativas também à maternidade, à paternidade, ao parentesco e
à filiação. (2006, p. 123)
É inegável o avanço da tecnologia na área da concepção. No en-
tanto, no afã de solucionar a questão da infertilidade, a sociedade se
fixou na questão biológica do processo de reprodução, negligenciando
as implicações sociais e culturais subjacentes.
Questões importantes como o acesso às tecnologias, às informa-
ções completas dos processos de reprodução assistida, a inserção social,
política, moral e sanitária da medicina reprodutiva não podem ser es-
quecidas. (TAMANINI, 2006).
A reprodução, que antes estava imbricada com as relações de
sexo e gênero, está sendo atualmente materializada pela tecnologia da
reprodução, facilitada pela biogenética, em intervenções laboratoriais
“artificiais”, deixando à margem uma série de reflexões a respeito de va-
lores morais ou éticos desses mesmos processos.
Ressalta-se que essas técnicas de reprodução contaram larga-
mente com a feminização da pesquisa científica e que, graças à inserção
das mulheres na ciência, áreas de interesse feminino estão sendo incor-
poradas às investigações mais recentes.
No âmbito social, conquistas significativas foram alcançadas. No
entanto, é alvo de grandes preocupações o fato de ainda não estarem
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Conclusões
O campo de estudos sobre ciência, tecnologia e gênero demonstra que
ciência e tecnologia foram socialmente construídas com as referências
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Notas
1 Mestre em tecnologia e doutoranda em tecnologia e sociedade pela Universidade tec-
nológica federal do Paraná. Pesquisadora do Grupo de estudos e pesquisas em relações de
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Referências
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8
DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E PROFISSÕES CIENTÍFICAS
E TECNOLÓGICAS NO BRASIL
Introdução
A participação das mulheres no mercado de trabalho tem se ampliado
nas últimas décadas, no entanto, as desigualdades de gênero permane-
cem marcando a presença feminina em diversas profissões. No Brasil, a
mulher está próxima de representar a metade da população economica-
mente ativa, todavia, permanece enfrentando processos de segregação
horizontal e vertical de gênero, caracterizados por discriminação, preca-
rização e desvalorização profissional.
Ainda é presente uma divisão sexual do trabalho na qual as ativida-
des das mulheres permanecem associadas a atributos considerados femi-
ninos – afeto, emotividade, minúcia, organização, repetição e paciência.
A compreensão dos fatores que possibilitam sua reprodução extrapola a
esfera produtiva, envolvendo aspectos extra-profissionais. A divisão do
trabalho doméstico, os processos de socialização de homens e mulheres
e as relações de poder entre os gêneros são aspectos relevantes para essa
análise e que interferem sobre a composição de gênero das diversas pro-
fissões.
Valendo-se de uma discussão a respeito da divisão sexual do tra-
balho, este texto apresenta uma reflexão sobre profissões que historica-
mente tiveram uma composição majoritariamente masculina: as carrei-
ras científicas e tecnológicas, entre as quais destacaremos o Magistério
Superior, a Matemática, a Física, a Química, a Estatística e a Engenharia/
Arquitetura.
Para análise, este artigo levará em consideração dados quantitati-
vos referentes à distribuição de gênero nos cursos superiores no Brasil –
com base em informações disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Es-
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A contratação de outra mulher para delegar esse trabalho, por outro lado,
tem uma condição preliminar: poder aquisitivo das mulheres, o que não
ocorre com a maioria das brasileiras.
Assim, esse modelo não se aplica a todas as mulheres, pois, sempre
se pressupõe que haverá outra mulher para assumir as atividades do âm-
bito privado, e essa “outra” em geral não têm condições financeiras para
entrar nesse círculo de delegação. Se uma executiva pode contar com
uma babá ou empregada doméstica para cuidar de suas crianças, essa re-
alidade não será a mesma para a babá ou para a empregada doméstica
que também pode ter filho que necessita ser cuidado e educado. Um mis-
to de conciliação e delegação surge para essas “outras” que acabam con-
tando com o próprio trabalho mais o auxílio de uma rede familiar ou de
políticas públicas, destacando as de educação infantil para que tenham
possibilidade de desempenhar atividade profissional.
Vale lembrar que a eliminação da desigualdade de gênero requer,
além da distribuição do trabalho doméstico, também a ruptura na nítida
distinção entre público e doméstico, o que implica encontrar formas de
integrar a vida pública e a maternidade ou paternidade, em vez de segre-
gar a criação dos filhos a uma esfera separada (KYMLICKA, 2006).
A parceria entre homens e mulheres na esfera doméstica é um
caminho a ser defendido, uma vez que ambos já possuem parcerias no
espaço público. A atuação conjunta na esfera doméstica possibilita a efe-
tivação do direito e a realização do dever, tanto materno quanto paterno,
de educar os filhos, contribui para a eliminação da exploração das mulhe-
res em relação ao trabalho no âmbito familiar, possibilita que mulheres
possam se dedicar aos estudos ou a uma carreira profissional e, enfim,
contribui para concretização da igualdade entre homens e mulheres.
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2001 2006
PROFISSÕES Feminino Masculino Feminino Masculino
Químicos 45 55 43 57
Físicos 38 62 34 66
Estatísticos 51 49 56 44
Matemáticos 37 63 44 56
Engenheiros civis 22 78 - -
e arquitetos
Arquitetos - - 55 45
Engenheiros civis - - 17 83
e afins
Engenheiros 10,2 89,8 9,7 90,3
eletricistas e
engenheiros
eletrônicos
Engenheiros 5,2 94,8 5,6 94,4
mecânicos
Fonte: elaboração própria, com base em dados da Rais 2001 e 2006.
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Considerações finais
A análise da ciência e tecnologia numa perspectiva de gênero possibilita
perceber que, nesses campos, a eqüidade é um ideal a ser construído.
Consideramos que uma divisão sexual do trabalho mais equitati-
va entre homens e mulheres – seja nos processos de pesquisa, ensino,
produção, reprodução e distribuição dos benefícios da ciência e tecno-
logia – geraria impactos nos próprios campos de conhecimento e, prin-
cipalmente, nos sociais.
A importância da inclusão de gênero na discussão desses campos
deve levar em consideração alguns elementos. O primeiro são os pró-
prios conceitos de ciência e tecnologia que, socialmente construídos,
foram frutos de relações de poder que contribuíram para classificar o
que é científico e tecnológico, valorizando os conhecimentos e as ati-
vidades de forma desigual. É certo que inúmeros outros cursos e pro-
fissões poderiam ser considerados como científicos ou tecnológicos,
todavia, muitas atividades desenvolvidas pelas mulheres não foram as-
sim consideradas. Schiebinger (2001) nos lembra que, boa parte do que
não tem sido contado como ciência tratava do lado privado da vida e
era associado às mulheres. E que entre esses campos estão a economia
doméstica, que lida com a administração e o projeto da vida familiar, e
a enfermagem, que trabalha com o cuidado e o conforto diário de pa-
cientes. De forma geral, os conceitos de ciência e de tecnologia acabam
não abarcando as atividades femininas, o que influencia a participação
das mulheres nessa área.
Considerando, todavia, apenas o que é tradicionalmente tido
como do campo científico e tecnológico, vários estudos (LOMBARDI,
2005; VELHO e PROCHAZKA, 2003; CITELI, 2005; CARVALHO, 2003) apon-
tam a baixa presença da mulher no universo científico e tecnológico –
resultado corroborado nos dados deste trabalho, em particular no caso
das Engenharias.
Devemos considerar que a divisão sexual do trabalho, ao hierar-
quizar as profissões, atribuindo maior valor às atividades “masculinas”,
contribui para que algumas profissões ao serem feminizadas sofram
desvalorização. Poderíamos questionar, no entanto, se uma profissão
ao se feminizar se desvaloriza ou se a sua desvalorização acarreta a fe-
minização?
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REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE,
MEDIADAS PELA PUBLICIDADE IMPRESSA
Introdução
Este artigo tem por objetivo contribuir com os estudos e investigações a
respeito das articulações entre ciência, tecnologia e gênero .
Os procedimentos realizados e as escolhas teóricas tomam, como
perspectiva mais ampla, uma busca por categorias de análise e teorias
que organizam ou possibilitam um encadeamento de sentidos sobre
novas diversidades culturais [como, por exemplo, os entrecruzamentos
entre níveis educativos e geracionais, de classe e raça, políticos e estéti-
cos], em sociedades complexas.
As reflexões, aqui realizadas, abarcam discussões sobre represen-
tações do feminino e do masculino na ciência, tecnologia e sociedade,
via mensagens publicitárias veiculadas pelos meios de comunicação im-
pressos [revistas semanais, gibis, entre outros]. Como recorte temporal,
focou-se em revistas publicadas na segunda metade do século XX [es-
pecialmente, nas décadas de 1950 e 1960] e aquelas em circulação no
início do século XXI.
A escolha dessas mensagens e meios de comunicação encontra
justificativa nos argumentos de alguns autores das ciências sociais e hu-
manas a respeito dos cenários midiáticos que “traduzem” ou “simulam”
práticas sociais contemporâneas (APPADURAI, 2005; CANCLINI, 2005;
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Resultados
No decorrer da história das diversas sociedades humanas, tanto ociden-
tais quanto orientais, as identidades e representações de gênero têm
assumido, de diferentes maneiras e via distintas estratégias, um papel
importante na dinâmica das mudanças sociais, científicas e tecnológi-
cas. Uma delas, aquela que esteve presente ao longo deste artigo, está
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DESAFIOS E AVANÇOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÊNERO
Introdução
As políticas públicas podem ser analisadas e conceituadas a partir de
diferentes perspectivas. Neste artigo, busca-se um conceito que esteja
em consonância com a construção da justiça social. Destaca-se, nesta
perspectiva, as políticas públicas de gênero que trazem à tona o debate
sobre as desigualdades entre homens e mulheres e a necessidade de
ações governamentais que contribuam para a sua superação. Para que
isso seja possível, é imprescindível a participação da sociedade na ela-
boração, no acompanhamento e na avaliação de tais políticas.
A construção dessas políticas em grande medida são impulsiona-
das pelos movimentos sociais, particularmente o das mulheres, buscan-
do um redirecionamento das ações do Estado e de suas prioridades no
sentido de concretizar os direitos fundamentais das mulheres, superar
as desigualdades de gênero e construir relações de poder que respei-
tem as diferenças e tenham como princípio a igualdade e a justiça. Tal
enfoque tem representado avanços na conquista da cidadania e da de-
mocracia do país, pois a democracia pressupõe igualdade de acesso a
direitos e a participação efetiva da população que é composta tanto por
homens quanto por mulheres.
Este artigo traz parte das reflexões sobre políticas públicas que
ocorreram durante o módulo 4 do curso “Construindo a igualdade na
escola: repensando conceitos e preconceitos de gênero”. Destaca-se a
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desafios e avanços nas políticas públicas de gênero
Para Schmidt (2007), a análise das políticas públicas não pode ser
feita de forma fragmentada ou isolada de uma análise do Estado e da
sociedade, pois as políticas públicas (policies) estão intimamente asso-
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Considerações finais
Este artigo trouxe uma breve reflexão sobre as políticas públicas e como
elas podem ser redirecionadas para contemplar as demandas de mulhe-
res e homens e construir a relações de gênero igualitárias. Considera-se
que as políticas públicas são instrumentos essenciais para a promoção da
eqüidade de gênero necessária para a consolidação da justiça social.
As políticas públicas de gênero representam conquistas da organi-
zação dos movimentos sociais, particularmente das mulheres, que busca-
ram concretizar os ideais de igualdade entre homens e mulheres por meio
de ações governamentais. Isso, no entanto, exige a eliminação das desi-
gualdades de gênero, além de demandar investimentos de recursos pú-
blicos, bem como a participação de homens e mulheres e o compromisso
social na elaboração, na implementação e na avaliação dessas políticas.
205
desafios e avanços nas políticas públicas de gênero
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DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS: A REPRODUÇÃO,
A SEXUALIDADE E AS POLÍTICAS
Marlene Tamanini
Preâmbulo
Inicio o texto com um poema datado de 1956, de Cecília Meireles, extra-
ído do texto de Maria Lúcia Dal Farra1. Segundo análise da autora - “Pri-
são” não se insere no espírito singular do título: ao contrário faz proliferar,
nele, uma progressão geométrica povoada de mulheres encarceradas:
“de quatro passam para quarenta, de quarenta para quatrocentas, de
quatrocentas para quatro mil, de quatro mil para quatro milhões – a
ponto de se perder a conta”2. Segundo ela, com quem concordo, trata-
se, aqui, “de estender a cela para todas as mulheres do mundo, para to-
das as mulheres do planeta, que, na verdade, estão encarceradas pelos
outros [...] ou por si mesmas”3.
Imagens femininas:
Nesta cidade
quatro mulheres estão no cárcere.
Apenas quatro.
Uma na cela que dá para o rio,
outra na cela que dá para o monte,
outra na cela que dá para a igreja
e a última na do cemitério
ali embaixo.
Apenas quatro.
Quarenta mulheres noutra cidade,
quarenta, ao menos,
estão no cárcere.
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mundo do trabalho do século XIX trouxeram essas idéias para outras esferas,
mas restabeleceram sob outros patamares a pergunta sobre a feminilidade
de uma mulher que estivesse vinculada ao mundo do trabalho, no contexto
da revolução urbano-industrial.
Desde a constituição dos direitos humanos prevaleceu, portanto, uma
concepção naturalista do direito, ocultando o fato de que esta se constituía
por meio de uma declaração, que era uma auto-declaração na qual os homens
eram simultaneamente os sujeitos e os objetos de enunciação, e, ao fazê-lo,
constituíam-se em testemunhas e juízes uns dos outros. Locke, Rousseau e
os utilitaristas haviam modelado um mundo no qual os homens podiam ser
livres e iguais, e quando esses ideais foram aplicados às mulheres ganharam
um caráter reformador da família e da ordem social. No caso dos socialistas,
ao mesmo tempo em que acusavam o capitalismo de nada ter feito para mu-
dar a degradação econômica e social das mulheres, esses mantinham a famí-
lia burguesa com sua servidão doméstica. O fracasso da revolução marxista
levou muitas feministas, como Simone de Beauvoir, a estudarem a profundi-
dade das relações existenciais entre o eu e o outro. As teorias estruturalistas
da linguagem situaram o sexismo nas próprias origens da cultura.
Nesse sentido, é preciso considerar, no âmbito do debate, que a tra-
dição dos direitos humanos ocidentais é a ausência de referências transcen-
dentes, capazes de gerar a participação democrática. A democracia contem-
porânea é um convite a substituir a noção de regime regido por leis, como
um poder legítimo, pela legitimidade de um debate do que é legítimo e do
que se constitui a ilegitimidade. Para tanto, deixa-se de considerar os pode-
res absolutos e os referenciais fora da história; assim, não há autoridade que
esteja acima da sociedade, e não há juiz capaz de dirimir os conflitos sem que
eles passem por ampla discussão e organização social e por parâmetros de
justiça social. Como conseqüência, a justiça necessita de um espaço público
de debate, e a participação na esfera pública se converte em direito e em de-
ver para evidenciar entre outros processos os de desigualdade social.
A conseqüência dessa perspectiva é que o conteúdo das reivindica-
ções e as prioridades políticas no âmbito das lutas podem variar, desde que
se afirme o direito de ter direitos – e o direito ao debate público do conteúdo
das normas e leis – bem como se visibilize a situação vivida por mulheres,
crianças e pessoas em situação de vulnerabilidade social, étnica e racial.
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento ado-
tado pelas Nações Unidas em 1948, encontra-se um marco básico para
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Feminismo e Direitos
Considerando-se os direitos sexuais e reprodutivos com sua história
vinculada aos movimentos sociais, especialmente ao movimento de
mulheres e homossexuais articulado à crítica às políticas controlistas e
ao gerenciamento da sexualidade, surgidos a partir dos anos 60, o mo-
vimento feminista representou o rompimento do processo social de
construção da opressão do feminino. Sua posição inicial foi marcada
pela crítica ao patriarcado como forma de opressão, dando visibilidade,
desse modo, à subordinação das mulheres a várias práticas econômicas,
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reitos sexuais como parte dos princípios dos direitos humanos. O que
inclui o direito a ter controle e decidir livre e responsavelmente sobre
questões relacionadas à própria sexualidade, incluindo a saúde sexual
e reprodutiva, livre de coação, discriminação e violência.
A autodeterminação e os direitos sexuais implicam tanto a liber-
dade de impedir intrusões indesejadas, violações e abusos, quanto a
capacidade de buscar e experimentar prazeres em uma variada gama
de modos e situações de experiências relativas à sexualidade.
Para melhor esclarecer que tipos de conteúdo têm os direitos
sobre os quais falamos, destacamos, conforme organizado por Chia-
rotti e Matus25, que direitos sexuais e reprodutivos incluem: a) o direito
de adotar decisões relativas à reprodução sem sofrer discriminação,
coerção ou violência; b) o direito de decidir livre e responsavelmente
o número de filhos e o intervalo entre seus nascimentos; c) o direi-
to de ter acesso a informações de métodos anticoncepcionais, meios
seguros (serviços) disponíveis, acessíveis e à toda a tecnologia dispo-
nível para ter ou não ter filhos; d) o direito de acesso ao mais elevado
padrão de saúde reprodutiva; e) a reprodução como direito de perso-
nalidade. Por sua vez, os direitos sexuais compreendem: a) o direito a
decidir livre e responsavelmente sobre sua sexualidade; b) o direito
a ter controle sobre seu próprio corpo; c) o direito a viver livremente
sua orientação sexual, sem sofrer discriminação, coação ou violência;
d) o direito a receber educação sexual; e) o direito à privacidade; f) o
direito a fruir do progresso científico e a consentir livremente com a
experimentação, com os devidos cuidados éticos recomendados pelos
instrumentos internacionais; g) o direito de ter a prática sexual desvin-
culada da gerência do Estado e da reprodução; h) a sexualidade como
direito de personalidade.
As últimas questões a que vou me reportar dizem respeito à
mortalidade materna e a esterilização de mulheres.
A mortalidade materna é um importante indicador de saúde, por
refletir as condições de assistência ao pré-natal, parto e puerpério, aos
aspectos biológicos da reprodução humana e às doenças agravadas ou
provocadas pelo ciclo gravídico-puerperal. Como mortalidade materna
se compreende a morte durante a gestação ou dentro de um período
de 42 dias após o seu término, independentemente da duração, ou da
localização da gravidez, devida a qualquer causa relacionada com, ou
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Bom, conforme você mesmo já deve ter concluído, isso já fere o direi-
to básico, de ser atendido e o direito básico de cuidado à saúde. A Constitui-
ção de 1988, em seu artigo 196, afirma:“a saúde é direito de todos e dever
do Estado”. Esse princípio está sendo ferido, quando no Brasil coexiste uma
alta medicalização da gravidez e do parto, com elevadas taxas de mortali-
dade materna e infantil, contrariando o esperado, ou seja, que, junto com a
queda da fecundidade, altas prevalências de assistência pré-natal e ao parto
favoreçam a redução daquelas taxas. A esterilização não se encontra crimi-
nalizada no Código Penal, e os que defendem a sua criminalização dizem
que se trata de uma lesão corporal de natureza gravíssima, porque resulta
em perda, ou inutilização de membros, sentido ou função. Nessa linha, con-
sideram a esterilização como um dano, uma lesão à função reprodutora da
mulher, tal ato seria passível de punição, e a pena aplicável seria de 2 a 8
anos. Assim, a esterilização cirúrgica seria passível de enquadramento nos
crimes de lesão corporal com perda de função, ou exposição da vida e da
saúde de outra pessoa. Por esses motivos, até há bem pouco tempo, ela foi
utilizada para fins de campanha eleitoral, ou com finalidades mercantilistas,
segundo Brauner37.
A lei n. 9. 263/96 cria uma previsão legal para esse procedimento,
desde que a pessoa tenha capacidade civil plena e mais de 25 anos, ou te-
nha pelo menos 2 filhos vivos. Também é permitido o procedimento, se
houver risco de vida ou à saúde da mulher, ou do concepto, atestado por
dois médicos. Além disso, é necessário um registro expresso da vontade, em
documento escrito e firmado após informações dos riscos e efeitos da cirur-
gia, observando-se ainda que deva existir um tempo de até 60 dias, entre a
manifestação de vontade e o ato cirúrgico. Se existe sociedade conjugal, é
preciso a manifestação expressa dos cônjuges, o que configura um envolvi-
mento relacional nas decisões reprodutivas. A lei não autoriza a esterilização
cirúrgica da mulher durante o parto, podendo ser realizada somente em ca-
sos de grande necessidade. Além disso, todo ato de esterilização cirúrgica
necessita ser notificado à direção do Sistema Único de Saúde38.
Esses pressupostos já são avanços significativos, mas uma CPI, pre-
sidida em 1993, por Benedita da Silva, revelou que no Brasil havia esterili-
zação em massa das mulheres - um contexto perverso, que não permitia à
mulher outras alternativas – e um percentual significativo de esterilizações
realizadas durante as cesarianas – que também eram indicadas com o obje-
tivo de realizar a laqueadura tubária.
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Notas
1 DAL FARRA, Maria Lúcia, 2006.
2 IDEM, 2006, p.363
3 IBIDEM
4 Informação retirada de correspondência pessoal
5 SCOTT, Joan W.,1994.
6 SCOTT, Joan W. 1994; RAGO, Elisabeth Juliska, 2000.
7 Laboratório, embriões, mães, médicos e éticas, apresentado no Simpósio Temático: Aborto
e tecnologias reprodutivas conceptivas: reprodução humana e sua interface com as dinâmi-
cas sociais, coordenado por mim e por Rozeli Porto.
8 PELUSO, Cezar. VOTO. Disponível em: <http://conjur.estadao.com.br/static/
text/66801?display_mode=print>. Acesso em: 19 jun. 2008.
9 TAMANINI, Marlene, Livro 120, lista 38 - Resenha para a revista Lusotopie. Livro de Valeria
Ribeiro Corossacz, Identité nationale et procréation au Brésil: Sexe, classe, race et stérilisa-
tion féminine. Paris: L’Harmatan, 2004, 180 p. (no prelo).
10 A teoria malthusiana argumenta também que o aumento da natalidade leva a um dese-
quilíbrio econômico, posto que a produção de riquezas e bens é mais lenta que o aumento
da população. Esta seria a causa da miséria. Portanto, se houvesse uma preponderância do
desejo e da paixão que não levasse em conta a questão financeira, a tendência seria uma
condição econômica bastante desfavorável. Em contrapartida, o casamento tardio ou o ce-
libato propiciariam um tempo maior para produção de trabalho e riqueza, enquanto a taxa
populacional permaneceria estável.
11 CANESQUI, 1986; DRAIBE, 1993.
12 O PAISM foi fruto da articulação e organização do movimento de mulheres frente à forma
como se dava a assistência à saúde da mulher: uma política que reiterava uma pré-dispo-
sição da mulher à reprodução alienando outras questões de sua saúde. A percepção de
integralidade nada mais é do que o resultado de que a reprodução não é uma dádiva ou um
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dom natural, mas parte do exercício da cidadania. Há uma inversão da relação reprodutiva,
esta deixa de ser o principal adjetivo da mulher para ser parte da sua humanidade. A repro-
dução começa a ser percebida como algo de foro individual, devendo habitar no universo
dos direitos civis. Além disso, esta linguagem representa um rompimento nas relações en-
tre o Estado “controlista” de natalidade para o de “planejamento”, o que implica numa ação
substancialmente provedora de informações e acesso, ou seja, incrementando o princípio
da cidadania que só se viabiliza através da autonomia.
13 ÁVILA, 2003.
14 Na antropologia sempre houve um grande interesse pela descrição das práticas sexuais
dos diversos grupos humanos, ou seja, estudar a sexualidade como esta se inseria no con-
junto das regras que regulavam a reprodução biológica e social de uma dada comunidade.
A sociologia também contribuiu com importantes pesquisas sobre o comportamento sexu-
al da população. (HEILBORN; BRANDÂO, 1999)
15 Crescimento do movimento feminista, gay e lésbico na década de 1960 e sua afirmação
ao longo dos anos 70 e 80, do mesmo século, principalmente ao se introduzirem como pau-
ta nos estudos das Ciências Sociais e no Direito.
16 TAMANINI, Marlene. 2008; TAMANINI, Marlene; PARZIANELLO, Diógenes, 2008.
17 CORRÊA, Sônia; PETCHESKY; Rosalind, Pollack, 1996.
18 IDEM
19 BARBOSA, Regina Maria; PARKER, Richard, 1999.
20 Op. cit.
21 Por exemplo: a crescente entrada da população feminina no mercado de trabalho, trans-
formação das práticas sexuais, desenvolvimento e disponibilidade de tecnologias anticon-
ceptivas, expansão dos modernos sistemas de comunicação etc.
22 Desenvolvida por conhecido Centro de Reprodução Humana assistida em convênio
com o Hospital de Clínicas.
23 PETCHESKY, Rosalind Pollack, 1996.
24 BLUGIONE, Samantha, 2002.
25 CHIAROTTI, Susana; MATUS, Verônica, 1997.
26 MEDICI, André Cezar, 1999.
27 ARAUJO, Maria José Oliveira de., 2002.
28 DataSUS, 2000.
29 Bouvier-Colle e cols, 2000.
30 Ministério da Saúde, 1998.
31 BRASIL, 2004
32 CFEMEA, 2007
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33 BEMFAM,1996.
34 IDEM
35 BERQUÓ, 2002.
36 BERQUÓ, 1999.
37 BRAUNER; Crespo, Maria Cláudia, 1998.
38 BUGLIONE, Samantha, 2002.
39 BEMFAM,1996.
40 ISRAEL; DACACH,1993.
41 BEMFAM, et al., 1997.
42 Em 1996, 40% das mulheres em união estavam esterilizadas, e 21% utilizavam pílulas
anticoncepcionais. O condom (camisinha) é o terceiro método mais utilizado (BEMFAM et
al., 1997).
43 BEMFAM et al., 1997.
44 59,5% de mulheres unidas estão esterilizadas na região Centro-Oeste, e 51,3% na re-
gião Norte, contra 29,0% na região Sul; 45,7% das mulheres com nenhuma escolarização
estão esterilizadas, contra 35,7% das mulheres com 12 anos de escolarização (BEMFAM et
al., 1997).
45 BERQUÓ, Elza, 1999.
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toni reis
12
HOMOFOBIA E A ESCOLA
Toni Reis1
Resumo
A escola é um ambiente detentor de um potencial que pode tornar a
sociedade mais solidária e justa, por meio de uma educação voltada
para a cultura da paz e ao respeito aos direitos e diversidade humana,
entre outros fatores que são capazes de produzir uma transformação so-
cial positiva. Por outro lado, a escola também é um lugar que, não raras
vezes, reproduz valores que estigmatizam quem é diferente do padrão
convencionalmente aceito pela sociedade em geral, normatizando e
enraizando na concepção de mundo dos estudantes em formação pre-
conceitos que podem levar à rejeição e até à discriminação de quem
foge à regra. Mas a escola também não é estanque, isolada ou livre da
influência da sociedade ao seu redor. Ela também é um reflexo da cultu-
ra predominante e muitos entendem que a escola tem justamente o pa-
pel de perpetuar os valores e “bons costumes” que se acreditam serem
corretos. Os estudantes na escola, bem como pessoas fora dela – que
de alguma forma não se encaixam no padrão imaginado, dependendo
do grau de não-conformidade – podem sofrer diferenciação, humilha-
ção e até rechaço social. Exemplos claros incluem pessoas com defici-
ência, pessoas com características consideradas “esquisitas” e pessoas
com orientação sexual e identidade de gênero diferentes daquelas im-
postas pelo padrão heteronormativo. Esse é o caso de lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais [LGBT]. É comum ouvir relatos de pes-
soas, notadamente aquelas cuja orientação sexual e/ou identidade de
gênero “diferentes” se manifestam de maneira mais marcada, como no
caso de travestis e transexuais (de ambos os sexos), que abandonaram
a escola por não suportar a discriminação sofrida. Pior ainda é que, em
muitos desses casos, esse processo vem acompanhado da expulsão da
247
homofobia e a escola
Introdução
A escola é um lugar privilegiado para promover a cultura do respeito
às diferenças, à diversidade e da inclusão social, rumo a uma verdadei-
ra democracia em que todos os cidadãos e cidadãs possam conviver
com igualdade e sem discriminação.
O papel da escola e das pessoas que trabalham na área da edu-
cação nesse processo é fundamental. É por meio da educação que a
promoção desses tipos de cultura pode acontecer de forma mais efeti-
va, moldando novos valores e atitudes de respeito e paz, desconstruin-
do velhos e arraigados preconceitos, formando cidadãos e cidadãs que
constituirão uma sociedade mais justa.
A homossexualidade ainda é um tema cercado de preconceitos
em nossa sociedade. O preconceito, de modo geral, surge em razão de
falta de conhecimento – sendo essa uma lacuna que compete à escola
preencher. O preconceito, quando colocado em prática, transforma-se
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homofobia e a escola
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É incorreta a suposição de que índios (...) ostentassem (...) uma conduta se-
xual homogênea. O correto é falarmos de “sexualidades indígenas...” posto
coexistirem, lado a lado na Ameríndia (...) centenas e centenas de padrões
sexuais completamente diversos e às vezes antagônicos. Em comum, po-
demos detectar duas macro-tendências: a enorme diversidade estrutural
destas sexualidades e uma menor rigidez repressiva (...). Não só os Tupi-
nambás, como diversas outras tribos nas três Américas, abrigavam em suas
aldeias grande número de “invertidos sexuais” de ambos os sexos, chaman-
do aos homossexuais masculinos de “tibira” e às lésbicas de “çacoaimbegui-
ra”. (MOTT, 2007a)
A repressão sexual
A partir do século XVIII, os Estados europeus também começaram a estabe-
lecer padrões e normas no que diz respeito à moralidade sexual e ao con-
trole sobre as ações da população. Marilena Chauí descreve o surgimento
desse papel do Estado da seguinte maneira:
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homofobia e a escola
O sistema de normas, regras, leis e valores explícitos que uma sociedade es-
tabelece no tocante a permissões e proibições nas práticas sexuais genitais...
Essas regras, normas, leis e valores são definidos explicitamente pelo direito
e, no caso de nossa sociedade, pela ciência também. (1991, p. 77)
A homossexualidade na atualidade
Em suma, embora a homossexualidade tenha existido com naturalida-
de em várias culturas da Antigüidade e também entre determinadas
tribos nas Américas, na história da cultura ocidental, ela tem sido con-
siderada pecado, crime e doença. É relativamente recente o reconhe-
cimento oficial pela Medicina da homossexualidade como mais uma
forma das múltiplas expressões da sexualidade, quando comparada
com sua milenar reprovação.
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homofobia e a escola
fobia contra LGBT assume uma natureza patológica, que pode até ser in-
voluntária e impossível de controlar, em reação à atração, consciente ou
inconsciente, por uma pessoa do mesmo sexo.
Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB) – obtidos por meio
de levantamentos de noticiários, uma vez que crimes homofóbicos não
possuem uma categoria própria nas estatísticas oficiais – foram assassina-
dos no Brasil, entre 1980 e 2007, 2.802 LGBT em razão de sua orientação
sexual ou identidade de gênero. Desses, 67% eram gays, 30%, travestis e
transexuais e 3%, lésbicas. Cabe lembrar que esses números podem estar
aquém dos casos reais de assassinatos, pois o levantamento do GGB se
baseou em casos noticiados pela imprensa.
O Terceiro Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil
(2005) – que focaliza o período de 2002 a 2005, e foi elaborado com infor-
mações coletadas pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade
de São Paulo (NEV-USP) e pela Comissão Teotônio Vilela de Direitos Hu-
manos (CTV) junto a organizações governamentais e não-governamen-
tais, nacionais ou estrangeiras – informa que “o número de homossexuais
assassinados no país passou de 126 em 2002, para 125 em 2003, e 157 em
2004. Este número recuou significativamente para 78 em 2005, mas de
fato ainda há muitos estados que não dispõem de informações consisten-
tes sobre assassinatos de homossexuais.” (MESQUITA NETO, 2007, p. 16)
Mas nem toda manifestação de homofobia se dá de maneira pato-
lógica, ao ponto de ser caracterizada como violência física ou assassinato.
Segundo Breiner (2007), há pessoas que podem se sentir desconfortáveis
em relação à homossexualidade alheia por uma série de fatores, sem que
isso gere uma reação de violência ou de discriminação.
Já Warren J. Blumfeld (1992) se aprofunda na análise da homofobia,
definindo quatro formas que vão desde o nível individual até chegar ao
nível cultural:
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homofobia e a escola
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Associações LGBT
O Movimento LGBT Brasileiro está completando 30 anos em 2008. Os
principais eventos que marcaram o início do Movimento foram o lança-
mento do jornal Lampião da Esquina (Rio de Janeiro, 1978) e a formação
do Grupo Somos – de afirmação homossexual (São Paulo, 1978).
Em 30 anos, avançamos muito. Nos anos 1980, a epidemia de
AIDS provocou retrocessos no desenvolvimento do Movimento, mas,
a partir dos anos 1990, o Movimento vem crescendo, fortalecendo-se,
estabelecendo suas identidades e se organizando.
E os resultados desse processo e de todos esses esforços estão
começando a ter um impacto positivo sobre a cidadania das pessoas
LGBT. Já foram realizados 12 Encontros Brasileiros LGBT. O Movimento
colaborou de forma significativa com a elaboração do Programa Brasil
Sem Homofobia, e vem acompanhando e contribuindo para sua imple-
mentação. Em 2008, o Brasil terá pelo menos 140 Paradas do Orgulho
LGBT. Há 15 anos não havia nenhuma. Hoje o Brasil tem mais de 300
grupos LGBT organizados. Há 15 anos havia menos de 30.
2008 é um ano especial para os direitos humanos, porque nele se
celebram 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e 20
anos da Constituição Cidadã. No entanto, para a comunidade LGBT, o
acontecimento mais significativo do ano 2008 foi a realização, pelo go-
verno federal, da I Conferência Nacional LGBT, precedida de conferên-
257
homofobia e a escola
Conclusão
Por meio de uma análise, ainda que sucinta, do contexto sociohistórico
que envolve as pessoas LGBT, tem sido possível demonstrar várias das
origens de atitudes negativas presentes na sociedade em relação a es-
ses segmentos da população. Também foi possível analisar as conseqü-
ências dessas atitudes negativas sobre a população LGBT, em especial,
no contexto escolar, graças à pesquisa da UNESCO (ABRAMOVAY et al.,
2004).
Profissionais da educação têm respaldo, ancorado na Lei de Dire-
trizes e Bases da Educação Nacional, nos Parâmetros Curriculares Nacio-
nais, no Programa Brasil Sem Homofobia, no Estatuto da Criança e do
Adolescente, nas deliberações da 1ª Conferência Nacional de Educação
Básica e também da 1ª Conferência Nacional LGBT, entre outras diretri-
zes, para tratar em sala de aula dos assuntos diversidade sexual e res-
peito às diferenças. O Programa Saúde e Educação nas Escolas também
está contribuindo nesse processo.
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Referências
259
CLAM – CENTRO LATINO-AMERICANO EM SEXUALIDADE E DIREITOS
HUMANOS. Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT, SP 2005, e outros. Dis-
ponível em: <http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?UserActiveTemplate=_EN&infoid=1447&sid=6>. Acesso em: 28 jun. 2007.
GOLDMAN, D. Estudos descobrem pistas sobre a origem da homofobia. New York
Times, Nova York, 10 jul. 1990. Disponível em: <http://homofobia.com.sapo.pt/
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KINSEY, A. C; POMEROY, W. B; MARTIN, C. E. Sexual Behaviour in the Human Male.
Philadelphia and London: W. B. Saunders Co., 1948.
MESQUITA NETO, P; ALVES, R. 3º Relatório Nacional de Direitos Humanos. São
Paulo: Universidade de São Paulo/Núcleo de Estudos da Violência, 2007. 584 p.
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MOTT, L. História da Sexualidade no Brasil. Disponível em: <http://www.luiz-
mott.cbj.net>. Acesso em: 18 out. 2007a.
_____. Memória gay no Brasil: o amor que não se permitia dizer o nome. Dispo-
nível em: <http://br.geocities.com/luizmottbr/artigos07.html>. Acesso em: 28 jun.
2007b.
OLIVEIRA, F. d’. No Brasil, homossexualismo não é mais uma “doença”. Diário de
Pernambuco, Recife, 15 abr. 1985. Seção B, p. 1.
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13
“O OLHAR NÃO É MAIS O MESMO”: UMA ANÁLISE SOBRE OS RESULTADOS DE UM
CURSO SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE NA ESCOLA
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
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Com certeza o olhar não é mais o mesmo. A partir do curso temos uma nova
visão do mundo em relação aos próprios costumes e tradições (...). (Id 7)
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
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Estava assistindo tv com meu filho de 5 anos, quando passou uma propa-
ganda de uma boneca que parecia bebê de verdade, que mamava e suja-
va a fraldinha, ele comentou que achava muito legal, então perguntei a
ele se ele queria uma e me respondeu com cara de espanto. Eu não! Vão
pensar que sou menininha! (Id 103)
265
“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
Na escola esse assunto ainda é tratado como um grande tabu, mas esse tabu
está caindo aos poucos na forma de respeito e defesa desses alunos perante
a classe. (Id 7)
266
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A decepção foi grande ao perceber que aqueles (os educadores) que deviam
ter um maior conhecimento sobre o assunto e tratá-lo de forma clara e sem
preconceitos, são os que reforçam os estereótipos e os preconceitos. (Id 24)
267
“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
Num primeiro momento pude notar que a diretora e uma professora da esco-
la que trabalhava vivia maritalmente há muitos anos. (...) naquela escola uma
aluna me contou sobre sua orientação homossexual e seu relacionamento
com outra aluna (...) me limitava a ouvi-la e aceitá-la como tal. (...) uma delas
foi chamada a conversar com a diretora e o setor psicológico. O resultado foi
a transferência dela para o período noturno enquanto a outra continuou no
período da manhã. (...) a do noturno acabou se prostituindo e a da manhã
fechou-se em seu mundo. (Id 12)
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
criar espaços para a discussão do tema com os(as) docentes, os(as) dis-
centes e pais e mães. Ressaltaram ainda que com base na sensibilização
ocorrida com a realização do curso estão conseguindo espaços para o
debate, bem como encontrando formas de buscar mais informações e
teorias sobre a temática. Porém, é importante frisar que a maioria das(os)
participantes relata que em suas escolas não estão sendo implementa-
das ações nesse sentido:
Estamos conseguindo abrir espaços para discussões, reflexões e busca de
informações e fundamentação teórica, com a consciência de que não existe
uma receita pronta (...). (Id 2)
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Inserir em uma das disciplinas esse tema como obrigatório (Id 81).
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
Não se deve apenas falar aos jovens o quê fazer, deve-se também escutar o
que esse jovem tem a dizer (...) (Id 9).
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Na maioria das situações sim. Claro que quando se foge à regra estabelecida
pelos padrões impostos pela sociedade, a pessoa encontra dificuldades. (Id
6)
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
Hoje já se tem muito mais liberdade de exercer esses direitos do que há al-
gumas décadas, mas o preconceito com os que optam por comportamento
fora do que se cristalizou como “padrão social de conduta” ainda é muito
forte. (Id 17)
As pessoas ainda não têm seus direitos respeitados (...) há muitas questões
envolvidas, em especial, as questões religiosas que entravam o debate so-
bre o assunto (Id 19).
Sim. As pessoas têm livre arbítrio para decidirem sua vida sexual. (Id 22)
É difícil exercer o direito sexual e reprodutivo (...) existem muitas leis que
proíbem o aborto, por exemplo. (Id 25)
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iniciam a vida sexual ativa motivada pelo fato de que as suas amigas já
iniciaram ou porque os seus namorados as pressionam, fazendo com
que elas acabem por ceder sem que estas se sintam preparadas para
isso e sem prevenção contra uma gravidez não planejada e contra do-
enças sexualmente transmissíveis.
É importante frisar que assegurar os direitos sexuais e reproduti-
vos não significa incentivar meninos e meninas a iniciarem a vida sexual.
Ao contrário − significa dar argumentos para que esses(as) jovens pos-
sam fazer valer sua vontade e não cedam a pressões externas (amigos/
as, namorados/as, familiares) para iniciar a vida sexual ativa antes de se
sentirem preparados para isso. Discutir sexualidade com os alunos e alu-
nas fará com eles se conheçam melhor e assim possam se cuidar e res-
peitar o seu corpo, podendo evitar o início de vida sexual irresponsável.
O conhecimento sobre o corpo, sobre a sexualidade, sobre a homosse-
xualidade, enfim, sobre os mais diversos temas pode diminuir o precon-
ceito bem como o índice de gravidez precoce. Sendo assim, a discussão
em sala de aula é de fundamental importância.
As(os) participantes foram convidadas(os) a propor políticas pú-
blicas para o enfrentamento da violência de gênero, do sexismo e da
homofobia. As propostas privilegiaram a formação de professores para
que estes possam abordar a temática de forma mais sistemática e apro-
fundada. Dentre as sugestões, destacamos:
Investir em projetos que discutam e desenvolvam ações frente à violência
de gênero, o sexismo e a homofobia. (Id 2)
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
Passei a fazer mais comentários em sala de aula, deu uma maior bagagem
para se falar do assunto, proporcionou maior segurança (...). (Id 5)
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
Estou mais atenta às minhas atitudes, dos meus colegas e dos alunos, te-
nho condições de perceber se determinados atos q1ue são considerados
inofensivos, no fundo escondem muita violência e preconceito. (Id 20)
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O curso foi objetivo e bastante claro em seus objetivos (...) Que pena que o curso
não será para todos os professores pois as vagas eram limitadas. (Id 6)
Não ficou apenas na teoria, teve espaço para discussão e troca de experiências
entre as professora e professores, como seria bom se os cursos fossem sempre
assim. (Id 9)
Foi tão bem ministrado. Todas as pessoas envolvidas tinham muita segurança e
domínio do que estavam falando. (Id 102)
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“o olhar não é mais o mesmo”: uma análise sobre os resultados de um curso sobre gênero e sexualidade na escola
Considerações finais
A análise dos trabalhos revelou que as professoras e professores estão
interessadas(os) em debater as temáticas do curso e que demonstram
estar dispostas(os) a transformar suas práticas cotidianas com o objetivo
de construir uma educação justa e democrática, que possibilite a inclu-
são de todos(as), independentemente de gênero ou orientação sexual,
diminuindo, assim, os preconceitos e discriminações.
A análise mostrou também a pertinência do curso e a necessidade
de se desenvolver propostas similares para atingir um número cada vez
maior de profissionais. Muitos manifestaram o interesse de atuar como
multiplicadores nas suas escolas, fato que é muito importante, pois, quan-
to mais pessoas estiverem disseminando o conhecimento sobre a temáti-
ca, mais rápido os objetivos propostos nos cursos serão alcançados.
O ensino, a pesquisa e a extensão são os três pilares que sustentam
e direcionam o trabalho das universidades. Este curso evidenciou a neces-
sidade de se reforçar o trabalho de extensão, pois os resultados podem
ser muito profícuos, e, por serem cursos mais curtos, atendem a um nú-
mero grande de pessoas da comunidade, apresentando resultados mais
rápidos.
Pudemos identificar transformações significativas na forma das(os)
participantes perceberem as relações de gênero na sociedade em geral
e de modo especial na escola. Isso já havia sido notado durante as aulas,
nas quais muitas(os) expressavam as transformações pelas quais estavam
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Notas
1 Como a maioria das/dos participantes era mulheres, usaremos o feminino como primeiro
elemento do par binário, com o objetivo de visibilizar essa predominância.
2 Agradecemos as mestres Solange Ferreira dos Santos e Cíntia de Souza Batista Tortato pela
cuidadosa leitura e seleção das falas significativas, o que facilitou este trabalho.
3 Para cada trabalho foi atribuído um código formado pelas letras “ID”, seguido de um nú-
mero que indica a seqüência de leitura. Esse código permite identificar as citações retiradas
do mesmo trabalho, bem como a diferenciação de trabalhos distintos. Assim, Id 25 significa
que a citação foi retirada do 25º trabalho lido.
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SOBRE AS AUTORAS E OS AUTORES
Marilia Gomes de Carvalho possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Feder-
al do Paraná, mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
e doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. Fez Pós-Doutorado
na Université de Technologie de Compiègne-França. Atualmente é professora associada da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná e docente/pesquisadora do Programa de Pós-
Graduação em Tecnologia, onde atua na área de Dimensões Sócio-culturais da Tecnologia e
dos Estudos de Gênero e Tecnologia. Coordena o GeTec e tem diversas publicações na área
de Gênero e Tecnologia em livros, periódicos e eventos científicos nacionais e internacionais.
283
Benedito Guilherme Falcão Farias Mestre em Tecnologia pela UTFPR. É graduado
em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas e em Psicologia pelo Centro de Estu-
dos Superiores de Maceió - CESMAQ. Atualmente é professor da Faculdade Teológica
Batista do Paraná. É pesquisador do GeTec e tem experiência na área de Psicologia,
com ênfase em Desenvolvimento Social e da Personalidade. É Terapeuta Sexual e Es-
pecialista em Psicologia Clínica e, em Gerontologia Social . Pós-Graduado em Teologia.
Tem publicações na área de gênero e Tecnologia em eventos científicos e periódicos.
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Maristela Mitsuko Ono possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela UFPR,
graduação em Formação de Professores pela UTFPR, mestrado em Tecnologia pela
UTFPR e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela USP. Professora do Programa
de Pós-graduação em Tecnologia da UTFPR e professora colaboradora do Programa de
Pós-graduação em Design da UFPR. Editora da Revista Tecnologia e Sociedade (UTF-
PR) e autora de diversos livros na área de design e cultura. Coordena o Núcleo de Design
de Mídias Interativas no PPGTE e lidera o grupo de pesquisa Design, Arte e Tecnologia
(DArT). Dedica-se principalmente à linha de pesquisa Design e Cultura.
Toni Reis é graduado em Letras pela UFPR, especialista em Sexualidade Humana pela
Universidade Tuiuti do Paraná e Mestre de Filosofia na área de ética e sexualidade pela
Universidade Gama Filho. Atualmente é doutorando em Educação pela Universidad de
la Empresa (Montevidéu). Foi fundador do Grupo Dignidade (Curitiba) e co-fundador
da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
Ocupa o cargo de presidente da ABGLT (gestão 2006-2009). É integrante do Grupo de
Trabalho de acompanhamento da implementação do Programa Brasil sem Homofobia
no Ministério da Educação.
285
Este livro foi composto em tipologia MyriadPro Regular 10,8pt.
Miolo em papel off-set 75 g/m2. Capa em supremo 250 g/m2.
Impresso na Ajir Artes Gráficas e Editora.
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Curitiba, Dezembro de 2009