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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL –


PUC/RS
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

JUVENTUDE NA CIDADE E NOS ESPAÇOS POPULARES: o cotidiano e a


memória dos jovens moradores da cidade de Maceió em seus lugares habitados

JOSÉ DE OLIVEIRA JUNIOR

LINHA DE PESQUISA: CULTURA, SOCIEDADE E IDENTIDADE

Rio Grande do Sul – RS


2015
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1. INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA

A proposta deste projeto de pesquisa resume um pouco o foco do Programa de


Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul – PUC/RS. A mesma comunga com uma das áreas temáticas que é referência
neste programa, qual seja, cultura, sociedade e identidade, já que os questionamentos
estão relacionados a uma perspectiva interdisciplinar e pluralística, buscando diferentes
dimensões dos processos socioculturais que estão presentes na nossa
contemporaneidade, e à cotidianidade e memória de jovens moradores dos bairros
populares de Ponta Grossa, Vergel do Lago e Joaquim Leão, da cidade de Maceió/AL,
que poderão ser percebidas através das narrativas desses sujeitos e grupos, em face da
sociabilidade juvenil no espaço urbano e suas formas de agir pensando as
transformações ocorridas devido os processos de globalização e planetarização da Alta
Modernidade.
As práticas e costumes socioculturais do passado existem como lugares
presentes na memória individual e na conservação de algumas formas de tradição e
padronização cultural. Mulheres, crianças, adolescentes, jovens, velhos não são classes,
mas aspectos diversificados que existem entre essas, pois o que define uma classe social
é a posição ocupada pelos sujeitos nas relações objetivas de trabalho (BOSI, 1994).
Observa-se que as constantes transformações e mudanças comportamentais,
familiares e educacionais vêm para aumentar o processo de desencaixe e reencaixe de
novas identidades emergente e em crises (GIDDENS, 1991). Neste sentido, o estudo
poderá permitir que se lance um olhar mais cuidadoso sobre as questões relacionadas à
juventude e contribuir para se pensar a (re)formulação de políticas públicas municipais e
estaduais direcionadas a este tão importante e, por vezes, relegado segmento social.
Nesse sentido, tendo como referência o que afirma Harvey (1993), quando diz
que está ocorrendo uma mudança profunda nas práticas culturais, bem como políticas e
econômicas, é que se inserem nossos questionamentos.
Estudar o local é importante para que possamos perceber de que maneira os
processos de globalização e urbanização das cidades – e mais especificamente da cidade
de Maceió/AL – vêm se desenvolvendo e de que forma pensamos os espaços sociais e
culturais populares no Brasil, tomando como análise o ser jovem na cidade num mundo
globalizado.
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A formalização da noção de juventude como sendo uma nova ordem social


ocorre a partir dos anos de 1950. Nesse momento da história das Américas a cultura
juvenil passa a ser expandida e ampliada, justamente após a II Grande Guerra, onde
precisávamos nos reconstruir. Nesse sentido, falar do novo, do jovem, passa a fazer
pauta da ordem das coisas.

A geração que passa por um pós-guerra não compactua mais com o ideal
racional imposto nos começos da Modernidade, o que se busca após os acontecimentos
nefastos provocados pela guerra é uma liberdade maior e respeito às individualidades.
Isso porque a passagem do mundo clássico para o mundo moderno é marcada pela
ruptura com as tradições do passado. Com isso, Moreira (2011, p. 460-61), nos diz que

A juventude é exatamente o momento do presente, pois se rompe com o


passado, representado pela família, e se lança em uma ilusão de imortalidade
e onipotência que não percebe o futuro como um limite. O jovem vive
intensamente o hoje.

Dessa forma, podemos perceber como as sociedades mudam ao longo do


tempo, e como as categorias humanas, criança, adolescente, jovem, adulto e velho,
sofrem alterações das percepções dos sujeitos nos diversos lugares. Se antes, nas
sociedades pré-modernas ou tradicionais não existia um preconceito cultural em relação
ao ser idoso, na nossa sociedade esse preconceito passa a fazer parte da nossa cultura,
que vive um hedonismo e um culto ao corpo e à possibilidade de manter-se jovem
eternamente.

A juventude corresponde a uma etapa da vida do ser humano que vai da


infância à fase adulta. Dessa forma, costuma-se delimitá-la dos 15 aos 29 anos de idade
para a construção de conceitos dentro de uma categoria essencialmente sociológica.
A partir do final do século XVIII, o conceito de adolescência emergiu no
Ocidente para caracterizar a idade posterior à infância e anterior à vida adulta, antes
disso, ou se era criança ou adulto.
Nesse sentido, a adolescência encontra-se relacionada ao

Período que se estende da terceira infância até a idade adulta, marcado por
intensos processos conflituosos e persistentes esforços de auto-afirmação.
Corresponde à fase de absorção dos valores sociais e elaboração de projetos
que impliquem plena integração social. (DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA,
online, 2009)
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A partir daí, compreende-se a adolescência como um duplo processo inter-


relacionado; o primeiro configura-se com a transformação das funções biológicas e
psíquicas dos sujeitos que se encontram na transição entre as fases infantil e adulta, e o
segundo se refere às relações estabelecidas nos múltiplos contextos socioculturais nos
quais esses sujeitos se inserem (CACCIA-BAVA JUNIOR, 2004).
No Brasil existe um uso relacional entre os dois termos: adolescência e
juventude. Para Caccia-Bava Junior (2004) adolescência e juventude são definidas de
maneira homogênea, comum e indistinta, de acordo com as políticas públicas
promulgadas para essa categoria.
A categoria “adolescente” parece estar vinculada às teorias psicológicas, que
consideram o sujeito como ser psíquico, enquanto que “juventude” se torna de uso
comum nas teorias sociológicas e históricas, onde uma leitura sobre o coletivo prevalece
(SILVA, 2009).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a adolescência tem a ver com
um processo fundamentalmente biológico, durante o qual ocorrem de forma acelerada o
desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade do sujeito, dividindo-se
esse processo em duas fases: pré-adolescência e adolescência. Em relação ao conceito
de juventude, diz-se que é uma categoria essencialmente sociológica, que tem a ver com
o processo de preparação para os sujeitos assumirem seu papel de adulto na sociedade
em que estão inseridos, seja no plano familiar, ou profissional (SILVA, 2009).
De acordo com Margulis (1996) a juventude é um período da vida do ser
humano que combina maturidade biológica e imaturidade social e cultural. Com isso,
não podemos e nem devemos afirmar que a juventude é uma mesma experiência vivida
por todos os sujeitos nesse período nas diversas cidades.
Nesse sentido, a sociologia que aborda essa categoria se divide em duas
perspectivas teóricas: a corrente geracional e a corrente classista. A corrente geracional
preocupa-se com as questões das continuidades e descontinuidades intergeracionais, e a
corrente classista volta-se para as questões concernentes às relações de classe. (Pais,
1990)
Assim, as fases da vida humana, e mais particularmente a juventude, são
constituídas por meio da (re)produção da vida social e cultural.
No entendimento de Boudon (1990) a juventude configura-se como um
produto da Modernidade e dos valores de autonomia, de desabrochamento e ainda de
liberdade individual.
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Para Moreira (2011, p. 459), ao considerar trabalhos clássicos como os de


Hegel e Marx, estabelece que “A ideia de juventude aparece vinculada a um processo
temporal que revela movimentos humanos em direção a um ideal de realização, no caso
a maturidade intelectual”.
Nessa perspectiva, a juventude torna-se para diversos pensadores uma
construção histórica, pois manifesta-se como uma categoria nas sociedades industriais
modernas mediante as novas transformações e configurações do mundo. Nesse processo
de transformação e desenvolvimento, a juventude passa a ser delineada como uma
condição social. Uma esfera de sujeitos individuais que estão inseridos dentro do
processo de formação, mas que ainda não possuem uma colocação estabilizada e
hierárquica numa estrutura da divisão social do trabalho (DAYRELL, 2007).
Analisar a juventude ou os sujeitos jovens requer um alcance do olhar sobre tal
categoria não como problemas sociais, mas sim como problemas sociológicos. Nesse
sentido, a partir da compreensão do senso comum sobre a juventude, poderemos
vislumbrar alguns aspectos da realidade juvenil. Isso porque nos deparamos no
cotidiano com uma série de imagens socialmente construídas a respeito dessa passagem
na vida que acaba interferindo em nossa maneira de entendimento sobre os jovens
(PAIS, 1990; DAYRELL, 2007).
Castro (2005) descreve que a constituição do Eu na contemporaneidade está
relacionado ao monitoramento do corpo e da aparência física e social. O corpo
demonstra e afirma, além de um status social, um estilo de vida, uma cultura. Dessa
maneira, no mundo de hoje, um corpo jovem é uma qualidade apreciada pela sua
sensualidade e pelas sensações de bem-estar e prazer que proporciona.
A juventude faz parte de um momento determinado, mas não se reduz a uma
passagem. Por isso, o cotidiano e a memória apresenta-se como um locus onde os
jovens constroem sua própria base de compreensão e entendimento social e cultural.
Segundo Heller (1992, p. 17) “a vida cotidiana é a vida de todo homem. Todos
a vivem, sem nenhuma exceção, qualquer que seja seu posto na divisão do trabalho
intelectual e físico”. O cotidiano é parte intrínseca do ser humano. É tudo o que se faz
no “aqui-e-agora”. São as nossas ações e reações diante do mundo e dos
acontecimentos (atos) repetidos dia após dia. Contudo, é importante lembrar, que como
agente individual que são os seres humanos e dotados de uma consciência subjetiva e
prática, eles são portadores reais da ação e da transformação do mundo – sociedade e
cultura - ao qual pertencem e encontram-se, a partir do momento em que tem
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conhecimentos e saberes para colocar e posicionarem-se social e culturalmente dentro


do meio ao qual pertencem.
O homem cotidiano está sempre em busca da sua sobrevivência e, com isso
acaba, muitas vezes, não tendo tempo nem estímulo para desenvolver em toda plenitude
a sua potencialidade, sendo esmagados pelas imposições cotidianas colocadas. Contudo,
deve-se pensar nas possibilidades de proporcionar condições de buscar uma vida justa e
digna, o que perpassa pela necessidade de tomada de consciência de todas as imposições
auferidas por aqueles que exploram e massacram a existência humana.
A memória não é oprimida apenas porque seus suportes matérias foram tirados
e roubados, mas devido à história oficial que enaltece a vitória do vencedor e esmaga a
tradição dos vencidos. Deste modo, as memórias pessoais e grupais são invadidas por
outras histórias que roubam o sentido das primeiras, a transparência e a verdade.
Lembrar, de acordo com BOSI (1994), não é reviver e sim refazer com a reflexão
buscando uma compreensão do outrora a partir do agora. É sentimento do feito e do ido,
um fazer lembrar.
O tempo da memória é social e cultural. O indivíduo lembra o que o grupo
transmite e aquilo que vive e signifique. Tempo e espaço existem nas lembranças. No
entanto, estamos vivendo e sentindo o desencaixe desse espaço e tempo. Por isso,
segundo Rocha e Eckert (2001, pp. 31- 2), “a matéria do tempo traduz em raios
ondulatórios lembranças e reminiscências cujos feixes de ondas se transformam
reciprocamente em matéria”. O concreto habita a memória porque está na lembrança
vivida e sentida.
A memória é o antídoto para o esquecimento. Dessa forma, tanto pode
conduzir à história como distanciar-se desta. A memória resgata o tempo mediante
imagens. Por isso, Santo Agostinho nas suas Confissões diz que, lembrar é retirar da
memória o que ela contém e que foi percebido, sentido ou aprendido pela alma.
A memória dirige a vida de cada um de nós. A importância da memória
coletiva no que diz respeito ao ato individual de lembrar é tão poderosa que os fatos e
noções mais fáceis de lembrar são os de domínio comum.
A juventude ou as categorias de idade são para Dayrell (2007) construções
culturais que se transformam com o tempo e o espaço, se constituem de realidades
sociais particulares e que operam estabelecendo direitos e deveres específicos em uma
determinada população, definindo com isso as relações entre as gerações e distribuindo
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o poder e os privilégios a partir do que é estabelecido como leis regulatórias das ações
dos sujeitos.
A partir desse entendimento, a vida dos jovens brasileiros está sendo alterada
nos últimos anos devido às mudanças – econômicas, políticas, tecnológicas,
comportamentais, religiosas, educacionais, ecológicas – provocadas não somente no
cenário local, mas também no global. Tais alterações estão relacionadas com a
afirmação, atitudes e comportamentos que marcam a sociedade contemporânea. Desse
modo, provocando na juventude tanto continuidades como rupturas. As continuidades
se referem à manutenção e promoção do sistema ideológico vigente; já as rupturas se
manifestam na descontinuidade das ações políticas, culturais e na geração de emprego e
renda.
Na contemporaneidade observa-se uma forte tendência no emprego da
expressão “juventude” como sendo uma forma de enfatizar que, ao se tratar de jovens,
deve-se reconhecer que esses constituem uma realidade plural e multifacetada, pois, a
expressão aparece em discursos públicos, textos e documentos variados da esfera
governamental, acadêmica e da sociedade civil.
Refletindo sobre os discursos dos jovens do bairro de Ponta Grossa 1, que
relataram ser o bairro onde habitam um lugar violento, com tráfico de drogas,
assassinatos de jovens, aumento da mortalidade local, afirmando: “aqui não é um bom
lugar para se morar”, diante desse cenário tem-se o seguinte problema de pesquisa, de
que forma os jovens dos bairros periféricos inseridos na cidade de Maceió-AL, se
percebem no espaço e tempo vivido em sua cotidianidade diante dos processos de
transformações das intimidades e identidades em tempos de globalização e
planteraização da cultura.

Depreende-se do exposto, que os jovens são percebidos como consumidores


em potencial em detrimento dos seus direitos. A forma de organização e padronização
que essa categoria encontra para poder se diferenciar acabou por denominá-los de tribos
urbanas, e, nesse sentido, o governo pretende conhecer quem são e o que querem esses
grupos/tribos. A mídia, por conseguinte, vê nos jovens e na juventude uma forma de
manipulação e imposição de produtos e novos valores. Dessa forma as interações
cotidianas da juventude passam por processos de alteração e reestruturação, de
desencaixe e reencaixe.
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OLIVEIRA JUNIOR, José de. “É subúrbio isso aqui”. Urbanidade e memória dos moradores do bairro
de Ponta Grossa – Maceió – Alagoas. PPGS/ICS/UFAL, 2009. (Dissertação).
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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

 Investigar as sociabilidades juvenis através da cotidianidade e memória dos


moradores de bairros periféricos diante das transformações das intimidades e
identidades dos mesmos através das possíveis alterações que ocorrem no
mundo devido os processos de globalização e planetarização da Alta
Modernidade.

2.2. Objetivos Específicos

 Investigar as possíveis alterações que ocorrem na construção social e cultural


dos jovens que residem em bairros periféricos em função dos processos de
globalização e planetarização da cultura, e quais ações de políticas de
juventudes existem para essa categoria.
 compreender de que maneira os jovens da periferia de Maceió se veem e
ocupam o lugar habitado;
 descrever os itinerários percorridos pelos jovens destes bairros em seu próprio
espaço e no entorno da cidade;
 verificar o conceito de juventude e cidadania nesses grupos;
 analisar a construção e reconstrução da cultura e seus efeitos;
 analisar as narrativas dos jovens sobre suas percepções do significado de ser
jovem no cotidiano da/na periferia.
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3. HIPÓTESES

Tem crescido nos últimos anos no Brasil a atenção aos jovens por parte da
opinião pública e da academia. No Brasil, diferentemente de outros países, como os
europeus, nunca existiu uma tradição de políticas diretamente destinadas aos jovens
como sendo diferenciado das crianças. Só recentemente e lentamente observa-se entre,
os brasileiros, a preocupação com a formulação de políticas governamentais para os
jovens. Algumas prefeituras e governos estaduais esboçaram e esboçam formulações de
políticas específicas para essa categoria e segmento da população elaborando e
executando projetos de formação profissional e oferecimento de serviços especiais de
saúde, lazer e cultura, tais como “PROJOVEM”, “SEGUNDO TEMPO”,
“JUVENTUDE VIVA”, “PRONATEC”, todos com financiamento do Governo Federal.
No cenário federal nota-se uma movimentação para focar essa questão, e levá-las para
os estados e municípios da nação. Algumas iniciativas passaram a ser executadas, no
entanto, questiona-se de que forma e como tem sido conduzida.
Em meio a este cenário tem-se como hipóteses o que se segue:

 Se a defasagem e o sucateamento da educação aliadas às dificuldades


econômicas e a desestruturação familiar possuem implicações diretas na
formação e nos aspectos comportamentais da juventude, residente na periferia da
cidade de Maceió, e, na forma como os jovens se percebem e percebem o mundo
ao seu redor, impulsionando-os a entrarem no mercado de trabalho e,
consequentemente relegarem a educação formal, então é necessário, portanto,
entender e rever políticas públicas de educação e inclusão/inserção no mundo do
trabalho no contexto da periferia maceioense;
 Se os processos de globalização e planetarização da cultura se inserem no
contexto da juventude e vem transformando as vidas dos sujeitos jovens dos
bairros periféricos da cidade de Maceió, então é necessário entender o que
pensam esses sujeitos sobre essas influências em suas vidas, como vivem sua
cotidianidade, como se percebem enquanto jovem em um bairro periférico, quais
são os desafios que lhes são impostos, o que é cidadania, como é viver e estar na
cidade e, ainda, o que a cidade oferece enquanto oportunidade para o ser jovem.
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4. METODOLOGIA

Para Duarte (2002, p. 140), a pesquisa se configura como

“[...] um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar


vasculha lugares muitas vezes já visitados [...], mas um modo diferente de
olhar e pensar determinada realidade a partir de uma experiência e de uma
apropriação do conhecimento [...].”

A partir da afirmativa de Duarte (2002), esta investigação busca um olhar para


a juventude inserida em bairros periféricos da cidade de Maceió-AL. Desse modo, tem-
se como sujeitos a serem pesquisados os jovens moradores dos bairros periféricos de
Ponta Grossa, Vergel do Lago e Joaquim Leão, a partir de narrações feitas sobre seu
cotidiano e suas memórias, bem como suas compreensões acerca da juventude,
cidadania, políticas públicas, globalização e planetarização da cultura, e de que forma
esses processos tem afetado ou não suas práticas cotidianas.
Utilizamos as categorias globalização e planetarização, pois de acordo com
Melucci (1996, p. 202), existe uma distinção entre os dois termos. A globalização,
comumente utilizada em discursos e documentos, diz respeito à interdependência global
dos fenômenos sociais num contexto do sistema mundial. Planetarização tem haver com
o avanço dos limites do sistema além das fronteiras, na qual não há nem espaço, nem
tempo, mas sim o planeta.

[...] Não há outro espaço porque o sistema tornou-se um espaço único e


planetário, no qual os problemas que venham a surgir em lugares específicos
são, no entanto, globalmente interdependentes e afetam o resto do sistema
[...].

Desta forma, será possível conhecer e analisar como acontece o processo de


inserção social e sociabilidade desses jovens moradores que constroem a sociedade e a
cultura local, buscando saber o que pensam e dizem sobre o saber/fazer. Além de
procurar um entendimento sobre as transformações no mundo moderno devido ao seu
processo de globalização e planetarização da cultura.
Os jovens selecionados a participar da pesquisa deverão ter idade entre 15 a 19
anos, sendo considerado adulto os acima dessa faixa etária. Essa delimitação se dá por
uma necessidade de recorte na pesquisa, sabemos que nas pesquisas nacionais sobre
juventude o recorte utilizado por muitos pesquisadores corresponde às idades de 14 a 25
anos. (ABRAMO, 2008; SPOSITO, 2008)
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As classes, as pessoas, os cheiros, as comidas, os ruídos, músicas, eventos,


despertam e fazem a memória trabalhar. Mancuso (2000, p. 57) afirma que, “[...] Em
uma relação de pesquisa, quem entrevista, pergunta, solicita, escuta, representa o
interesse do presente e motiva o trabalho de rememorar”.
Após os grupos escolhidos serão aplicados questionários estruturados e
semiestruturados, observação participante, entrevistas para seus relatos de vida e
registros audiovisuais. O objetivo em realizar esse método de pesquisa se dá pelo fato
do objeto desta pesquisa possuir consciência histórica, isto significa que não é só o
investigador que dá sentido ao seu trabalho, mas aos seres humanos e suas ações
objetivadas.
Será desenvolvido um estudo sobre a lógica de vida, traçando um perfil e
fazendo um mapeamento dos lugares habitados pelos sujeitos e das relações
estabelecidas com os outros e a cidade.
Conforme Durham (1997, p. 26-27), na situação de campo tradicional inserida
pela prática de campo antropológica em sociedades longínquas a participação era
objetiva antes de subjetiva. Na pesquisa que se empreende na cidade, dentro de um
universo cultural comum ao do investigador essa participação passa a ser antes subjetiva
do que objetiva. Nesse contexto a pesquisa irá se concentrar mais na análise dos
depoimentos, sendo a entrevista o material empírico a ser privilegiado. Nesse sentido,
Durham nos alerta para que a observação participante não venha a ser uma participação
observante e, por com seguinte, um trabalho de militante.
Inicialmente, será realizado um levantamento bibliográfico mais aprofundado
sobre a temática para em seguida analisar perspectivas teóricas das abordagens sobre
essa problemática. Após as coletas de informações analisar-se-á as narrações que
proporcionarão conhecimento sobre a realidade e cotidianidade vivenciada por esses
sujeitos. Durante as entrevistas questionar-se-á sobre quais problemas os afligem, quais
suas ideias e pensamentos sobre a sociedade e sua cultura, para em seguida mapear as
problemáticas levantadas pelos sujeitos da pesquisa buscando, dessa forma, descobrir a
real situação da vida cotidiana e suas memórias.
Isso porque, a pesquisa pode e deve ser um momento em que se reflitam as
variadas formas e possibilidades de relacionamento existentes entre o pesquisador e o
pesquisado, pois “[...] A pesquisa é a história de um relacionamento pessoal em que o
pesquisador procura desfazer as impressões negativas da imagem do ‘dominador’ a fim
de tornar a comunicação ou o encontro possíveis [...]” (ZALUAR, 1997, p. 115).
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Por se tratar de um dinamismo do social e cultural da vida individual e coletiva


e da riqueza de significados que a sociedade possui, o objeto desta pesquisa é
essencialmente qualitativo. Segundo Chizzotti (2001), a abordagem qualitativa parte do
fundamento de que existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma
interdependência viva entre o sujeito e o objeto e um vínculo indissociável entre o
mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Desse modo, aquele que observa uma
determinada sociedade ou grupo social é parte da totalidade do processo de
conhecimento, interpretando os fenômenos de acordo com seus significados, ou
buscando os significados dos fenômenos enquanto vividos subjetivamente.
A pesquisa privilegia o método de observação participante, porque esta exige
uma atenção minuciosa para buscar na realidade do grupo escolhido explicações e
motivos que fazem com que determinados sujeitos vivam de acordo com uma situação
em que se encontram. Para Cardoso (1997, p. 100) “[...] a intensificação da participação
dos investigadores foi justificada [...] [pela aproximação] para conhecer [...] um dos
passos importantes da pesquisa participante [...].” Dessa forma, a técnica de observação
participante se realiza por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno
observado para obter informações sobre a realidade dos atores em seus próprios
contextos.
Assim, o presente projeto por meio dos métodos e técnicas elencados irá
registrar histórias de vida, bem como as experiências dos sujeitos enquanto pertencentes
a grupos (tribos) urbanos através de seus relatos orais (percepções) e de suas práticas
(experiências) cotidianas, esclarecendo o porquê, para que e para quem é importante o
registro de suas percepções, experiências, memórias e histórias, para dessa forma definir
um roteiro de resgate e reconstrução das marcas deixadas pelo passado e o presente,
como afirma Montenegro (1992).
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5. CRONOGRAMA

2015 2016 2017 2018 2019 2020


ATIVIDADES 2º 1º 2º 1º 2º 1º 2º 1º 2º 1º 2º
Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem. Sem.

Seleção

Atividades Acadêmicas
(Créditos)
Orientação (Reuniões)
Levantamento Bibliográfico
Elaboração do Projeto de
Pesquisa
à Qualificação
Exame de Qualificação
Coleta de Dados
Análise e Sistematização
dos Dados
Apresentação/Defesa
Depósito da Versão Final

6. REFERÊNCIAS
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CARDOSO, R. C. L. et al. A Aventura Antropológica: Teoria e pesquisa. Rio de
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