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Quando Vargas chega ao poder, uma das suas primeiras atitudes foi resolver

a problemática em torno dos assuntos educativos e sanitários, uma vez que esses
dois campos estavam associados diretamente com a Crise dos anos 1920, cujo
cerne era, basicamente, a nacionalidade brasileira, ou melhor, a sua debilidade
durante a Primeira República (1894-1930).
No texto da aula sete, vemos a criação do Ministério da Educação e Saúde
Pública, a 14 de novembro de 1930, poucos dias após a posse de Getúlio como
presidente, atitude essa um indicio cabal de que o novo governo e as pautas dos
anos 1920 caminharam num sentido de convergência. O encarregado de chefiar o
recém concebido órgão fora Francisco Campos, o qual fixou algumas alterações no
sistema educacional brasileiro, sobretudo nos níveis do secundário e superior, e
ainda entrou em atrito com os pedagogos e educadores ligados à Escola Nova.
Entretanto, suas reformas tenderam mais a aspectos estruturais e burocráticos, do
que um projeto visado ao nacionalismo. O responsável por essa visão seria Gustavo
Capanema, cujo comando no ministério durou onze anos, de 1934 até 1945, quando
o Estado Novo findou.
Gustavo Capanema, que começou sua reforma em 1942, já se aproximara
desde 1936 de um Projeto Nacional de Educação, de caráter centralizador e geral,
acarretando na oposição de educadores liberais partidários de um modelo mais
federalista e pulverizado quanto à educação. Nesse exemplo, podemos ver um
grande apelo à figura do Estado no afã de resolver questões e assuntos nacionais,
nesse caso, eram a educação e o ensino em jogo, mas, como veremos
posteriormente, a saúde pública também convocaria a máquina estatal.
Em relação às suas alterações, Gustavo Capanema, ao nível superior,
estabeleceu um padrão em que os currículos e cursos estavam ligados com as
profissões reconhecidas pela lei, e no ensino secundário, ele alterou a duração dos
cursos, em que o ginasial passou a ter quatro anos e o complementar três, bem
como criou os cursos profissionalizantes, aos que não fariam faculdade, havendo
uma separação educacional entre classes dominantes e operárias, e tal ensino
profissionalizante estimulou a criação do Sistema S, com SENAI, SESC, SESI,
SENAC, formulado nos anos 1940. Mas mais do que isso, Gustavo Capanema se
preocupou em tentar justificar a ditadura de 1937, com um ensino de tom patriota,
para a formação de cidadãos do Estado-Novo, premissa que ia contra, segundo ele,
a visão imparcial da Escola Nova.
Tal viés nacionalista, oriundo certamente do governo e não somente do
ministro, teve ressonâncias na pedagogia do MESP, através, durante campanha da
nacionalização do ensino em 1938, da proibição de línguas estrangeiras, compra de
livros didáticos estrangeiros e do fechamento de escolas, como as da região Sul.
Acerca dessa atitude demasiada chauvinista, fazemos alusão ao texto Os imigrantes
e a campanha de nacionalização do Estado Novo, de Giralda Seyferth, com foco no
caso sulista, a partir do qual notamos que os militares foram incumbidos de assimilar
os adventícios de origem germânica que ao Brasil se deslocaram, ou seja, há um
aniquilamento da cultura e identidade maternas, para que uma nova, brasileira, as
substitua, e, destarte, os alemães poderiam fazer parte da agenda nacionalista de
Getúlio Vargas.
Na área sanitária, a situação não seria antagônica, pelo contrário, pois os
líderes sanitaristas estavam ávidos por uma centralização em relação aos problemas
médicos pelos quais os brasileiros passaram durante a Primeira República. O
beneficiário desse anseio era a própria figura artificial do Estado brasileiro, já que
seu tamanho aumentaria assim como poderia unir o país. Gustavo Capanema
conduziu duas reformas sanitárias: uma em 1937, que mudou o nome do órgão para
Ministério da Educação e Saúde, o MES, organizou um plano de ação sanitária
chefiado pelo Departamento Nacional de Saúde, esse que passou comandar os
Departamentos estaduais sanitários. O Brasil fora dividido em oito regiões
administrativas, cada uma chefiada por uma Delegacia Federal de Saúde. A meta
dessa primeira reforma era formar um órgão capaz de funcionar pelo país inteiro,
chegando até aos sertões, desprovidos da ação estatal e comandados pelas elites
locais.
Em 1941, Capanema começa a segunda reforma sanitária, aumentando a
centralização estatal na saúde e criando os SNS, Serviços Nacionais de Saúde, 12
ao todo, cada um responsável por conter alguma doença particular. A partir dessas
reformas, Capanema fixou uma estrutura sanitária pouco mexida até 1953, quando o
Ministério da Saúde foi criado no segundo governo Vargas.
Encerradas a saúde e a educação, podemos versar sobre a cultura e
propaganda, ambas fulcrais ao projeto patriota e unificador de Vargas. Os
protagonistas dessa epopéia seriam o DIP, Departamento de Imprensa e
Propaganda, fundado em 1939 por um decreto do presidente, responsável por
divulgar e defender o regime em vigor naquela época, bem controlar seus
opositores, e todos os meios de comunicação, como rádio, os jornais e o cinema, e
também o MES, o Ministério da Educação e Saúde, do qual já falamos. Enquanto o
MES mirou nas camadas mais ricas da sociedade brasileira, o DIP teve como alvos
os grupos humildes e populares.
O DIP controlou o rádio, o mais avançado meio de comunicação daquele
momento, com destaque para a Rádio Nacional, incorporada ao governo em 1940, e
que virou um grande veiculo que difundia cultura, arte e nacionalismo. Essa
emissora controlava a audiência popular, cuja transmissão contemplava informes,
músicas, humor e emoção. A "hora do Brasil" foi uma das maiores criações do
projeto radiofônico de 1937, presente até os dias atuais, cuja finalidade era difundir
as ações do governo.
O E.N tentou "educar" as manifestações populares, querendo incorporar as
mesmas como símbolos nacionais, como o samba, carnaval, e o futebol, assim, tais
manifestações teriam seus aspectos “vulgares” apagados e depois incorporados
para a cultura nacional. Para dar certo, os valores defendidos pela ditadura, como
civismo, valorização do trabalho e a paz social, assim como o nacionalismo,
deveriam ser exaltados. O samba passou por uma grande mudança por causa
dessa tentativa controlada, cujas letras, antes mais próximas da malandragem e
boemia, agora defendiam o trabalho e os bons hábitos, e o carnaval da Praça 11
bem como o futebol foram atividades incorporadas à cultura nacional durante os
anos Vargas.
Durante a gestão Capanema, entre 1934 e 1945, diversos intelectuais
brasileiros estiveram próximos a ele, entre os quais se destaca Carlos D. de A.,
chefe de seu gabinete, e a prova de que mesmo numa ditadura, pensadores
contrários a tal regime fizeram parte dele, mas tinham o projeto nacionalista como
algo em comum. Capanema investiu nas artes e cultura, além da educação e saúde,
criando o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Instituto Nacional do
Teatro, o Instituto Nacional do Livro, o Serviço de Radiofusão Educativa, o Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos, a Comissão Nacional do Livro Didático e o
Instituto Nacional do Cinema Educativo.
O SPHAN recebe atenção em virtude de estar relacionado com o
desenvolvimento da nacionalidade por meio do cultiva da história. A primeira tarefa
desse órgão foi identificar e tombar todas as obras barrocas brasileiras seja pinturas,
esculturas ou igrejas e monumentos barrocos, e depois seriam tombadas as
tradições populares, a paisagem e o entorno.
O DIP criou a revista Cultura Política, entre 1941 e 1945, que era
comercializada em bancas para um público mais erudito e letrado, cujos temas
envolviam áreas como a política, economia, letras, técnica e artes, seus
colaboradores eram intelectuais de espectros dos mais diversos, como Nelson
Werneck Sodré e Gilberto Freire.
Portanto, podemos dizer que o projeto de unificação nacional do qual Vargas
foi líder esteve presente em quatro áreas distintas, no caso, a educação, a saúde
pública, a propaganda e a cultura, que, uma vez controladas pelo poder estatal,
seriam capazes dar conta das questões inseridas no interior de cada uma, e, desse
modo, fomentar o espirito nacional brasileiro e a união das terras tupiniquins,
atrapalhados pela agenda federalista e descentralizadora dos mandatários da
Primeira República.

Bibliografia:
SEYFERTH, Giralda. “Os imigrantes e a campanha de nacionalização do Estado Novo”. In:

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