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JUÍZO DA 3ª VARA CRIMINAL DE CUIABÁ

Processo nº: …

PEDRO DA SILVA, devidamente qualificado nos autos do processo em


epígrafe, por meio de seu procurador infra-assinado, conforme procuração anexa,
vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, ofertar
RESPOSTA À ACUSAÇÃO,
o que faz com esteio no artigo 396-A do Código de Processo Penal, pelos
fatos e fundamento a seguir expostos:

I - DOS FATOS:

O réu foi abordado ao sair de casa por dois meliantes, que invadiram sua
residência. Os bandidos, ameaçando matar a esposa e filhos do mecânico, exigiram
dinheiro, que o réu não detinha. Os assaltantes, mantendo como reféns os
familiares de Pedro, exigiram que este descontasse cheques de sua titularidade
junto ao comércio local, como forma de levantar rapidamente a quantia exigida (R$
2.000,00 – dois mil reais).
Com as ameaças dos bandidos aumentando, o réu, desesperado, dirige-se à
farmácia de Mário, apresentando-lhe um cheque e solicitando que trocasse o título
por dinheiro. Logo a seguir dirige-se ao posto de gasolina de Caio adotando o
mesmo procedimento. Com isso consegue obter a quantia exigida e entrega o
resgate aos bandidos, que ainda o ameaçaram, mandando-o ficar calado, caso
contrário voltariam para matá-lo.
O réu, ao saber da “queixa” contra ele prestada,dirigiu-se à casa de Mário e
Caio, onde quitou o débito, e, em seguida, apresentou os cheques resgatados na
delegacia.

II - DOS FUNDAMENTOS:

II.I - PRELIMINARMENTE:

De acordo com o acervo probatório trazido pelo Ministério Público, consta


nos autos que o réu realizou a quitação do valor dispensado nos cheques dados a
Caio e a Mário após ter conhecimento da queixa na delegacia, antes mesmo de ser
recebida a denúncia em juízo. É redação da Súm. 554 do STF:
O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,
após o recebimento da denúncia, não obsta ao
prosseguimento da ação penal.
De igual forma, o entendimento jurisprudencial caminha na mesma esteira:
Apelação criminal. Estelionato. Cheque. Devolução por
insuficiência de fundos. Ressarcimento do prejuízo antes do
recebimento da denúncia. Extinção da punibilidade.
Ausência de justa causa para a ação penal. Súmula 554 do
STF. APELAÇÃO CRIMINAL N° 1.0056.04.067998-9/00. 15ª
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais - Comarca de Barbacena - Apelante: Camila
Marcelina Fernandes Dielle - Apelado: Ministério Público do
Estado de Minas Gerais - Relator: DES. EDUARDO
MACHADO
HABEAS CORPUS. CHEQUE SEM FUNDOS.
PAGAMENTO ANTERIOR A DENUNCIA. AUSÊNCIA DE
FRAUDE. FICA DESCARACTERIZADO O CRIME DO ART.
171-VI DO CÓDIGO PENAL SE O CHEQUE SEM FUNDOS
E PAGO ANTES DA DENUNCIA, DESDE QUE NÃO
TENHA HAVIDO FRAUDE NA OPERAÇÃO.RECTE:
GERALDO CASSEMIRO FERREIRA ADVS: GERALDO
CASSEMIRO FERREIRA E OUTRA RECDO:TRIBUNAL DE
ALÇADA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. RHC 64454 /
MG - MINAS GERAIS RECURSO EM HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. FRANCISCO REZEK Julgamento:
18/11/1986 Publicação: 06/02/1987 Órgão julgador:
Segunda Turma
Portanto, diante do exposto, fica claro que cabe ao presente caso o
reconhecimento da preliminar com a extinção da punibilidade do réu, tendo em vista
que não existe justa causa para propositura da ação penal, uma vez que os
cheques foram quitados antes do recebimento da denúncia.
Assim, conforme prevê o art. 397, IV, do CPP:
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos,
deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando
verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
(...)
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
É caso de absolvição sumária do réu pela extinção de punibilidade.

II.II - DA COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL

É redação da Súm. 246 do STF: “Comprovado não ter havido fraude, não se
configura o crime de emissão de cheque sem fundos”. Insta salientar que o presente
caso não trata-se de fraude, uma vez que o agente agiu mediante coação moral
irresistível.
Ponto a ser ressaltado dentro da culpabilidade é a coação moral irresistível,
que se dá quando a conduta é mantida pelo agente, mas não há liberdade de
vontade. Por tal motivo, ainda que se denote um fato típico e ilícito, não será
culpável por ter a vontade viciada (JUNQUEIRA, 2009).
Diante do exposto, só resta ao juízo formalizar a absolvição sumária do réu,
prevista no art. 397, II e III, do CPP:
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos,
deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando
verificar:
(...)
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
(...)
Diante do exposto o juízo pode entender tanto que não houve crime de
emissão de cheque sem fundo, pela falta de dolo na fraude e realizar a absolvição
sumária pelo inciso III, como pode entender que existiu coação moral irresistível e
realizar a absolvição sumária pelo disposto no inciso II. O que deve ficar claro é que
em momento algum o réu teve a vontade de produzir o resultado, uma vez que
dependia de tomar tal atitude para salvar a vida de sua família.

II.III - DO CRIME CONTINUADO:

No caso do juízo não reconhecer nenhuma das hipóteses anteriormente


elencadas, a defesa entende que o crime de estelionato se consuma no momento e
no lugar em que o agente obtém vantagem indevida, e portanto, é a redação do art.
71 do Código Penal:
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-
lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Ainda que tenha ocorrido duas situações em que foram dispensados os
cheques, a defesa entende que no caso de condenação a aplicação do aumento de
pena se dê na classificação mínima de ⅙.
Tendo em vista entendimento pacificado pelo Acórdão 1193187,
20151010089137APR, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, 2ª Turma
Criminal, data de julgamento: 8/8/2019, publicado no DJE: 16/8/2019, de que no
caso de crime continuado, deve ser adotado o critério da quantidade de crimes
cometidos, ficando estabelecido que do cometimento de dois crimes o acréscimo
será de um sexto (⅙).

III - DOS PEDIDOS:

Diante do exposto, requer:

a) que seja reconhecida a preliminar de extinção da punibilidade, nos termos da


Súmula 554 do STF e as jurisprudências colacionadas;
b) que seja o réu absolvido sumariamente pela tese da preliminar da atipicidade
da conduta do réu ou excludente de culpabilidade, tendo em vista o exposto,
como também o previsto no art. 397, II e III, do CPP;
c) caso não aceite a tese de defesa anterior, que a pena do réu seja aumentada
no mínimo, uma vez que teria cometido somente dois crimes.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Cuiabá, data...

Advogado…,
OAB/UF nº...

ROL DE TESTEMUNHAS:
1. Nome..., CPF nº..., endereço ...
2. Nome..., CPF nº..., endereço ...
3. Nome..., CPF nº..., endereço ...

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