RECORRENTE: RADIALL DO BRASIL COMPONENTES ELETRÔNICOS
LTDA. RECORRIDOS: PCI COMPONENTES S/A E IBM BRASIL-INDÚSTRIA MAQUINAS E SERVIÇOS LTDA EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. RESPONSABILIDADE PELA QUEBRA DE CONFIANÇA. DANOS EMERGENTES E LUCROS CESSANTES. PREJUÍZO. DEVER DE INDENIZAR.
1 – RELATÓRIO
Trata-se de ação ordinária em que a produtora de componentes
eletrônicos Radiall do Brasil Componentes Eletrônicos Ltda moveu contra a as empresas IBM Brasil - Indústria, Máquinas e Serviços Ltda e PCI Componentes S/A, por lhe causarem prejuízo, quando contratada para fabricar conectores coaxiais e, que já iniciado a produção das peças, as contratantes informou- lhe que deveria modificar o diâmetro dos conectores, o que causava transtorno quanto ao estoque já produzido, que no entanto não teriam mais utilidade. Desta feita, a justiça de primeiro grau julgou procedente o pedido da Radiall do Brasil Componentes Eletrônicos Ltda e afirmou a responsabilidade solidária das requeridas, pronunciando-se que aquela responsabilidade decorria, em suma, em relação à IBM, do excesso das encomendas e da modificação das especificações do produto, quando já iniciada a produção dos materiais e, no que diz respeito à PCI, reconheceu que havia concorrido para o impasse do erro de planejamento. Ademais, concordando com o juiz sentenciante, o Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu a responsabilidade da IBM pelos prejuízos suportados pela Radiall e a existência de obrigação formal entre as empresas recorridas, de compra e venda das peças produzidas pela apelante. Por conseguinte, em face da sentença, a PCI Componentes S/A e IBM Brasil - Indústria, Máquinas e Serviços Ltda interpuseram apelação e o Tribunal Paulista à unanimidade, deu parcial provimento a ambos os apelos.
2 – FUNDAMENTAÇÃO
A norma utilizada para fundamentar o parecer em questão, está
elencada no Código Civil/2002 em seu artigo 927 a responsabilidade civil: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Nesse sentido, o dever de indenizar é orientado pelo mesmo diploma
legal, nos artigos 944 e 945 CC/2002, a saber:
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa
e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a
sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
Nessa linha, Sergio Cavalieri Filho (2009, p. 2) conceitua
responsabilidade civil da seguinte forma: Em apertada síntese, responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. Só se cogita, destarte, de responsabilidade civil onde houver violação de um dever jurídico e dano. Em outras palavras, responsável é a pessoa que deve ressarcir o prejuízo decorrente da violação de um outro dever jurídico. E assim é porque a responsabilidade pressupõe um dever jurídico preexistente, uma obrigação descumprida.
A partir desse pressuposto, para que se tenha o entendimento do que
possa ser a responsabilidade civil, é importante saber que haja um dano, uma vez que não se pode falar em indenização sem a existência clara de um dano. Nesse mister conceitua-se dano como sendo "o prejuízo causado, em virtude de ato de outrem, que vem causar diminuição patrimonial". Corroborando com essa ideia, Stoco, afirma que o dano é elemento essencial e indispensável para responsabilidade civil. Nesse derradeiro, pode- se dividir o dano em: patrimonial ou material e extrapatrimonial ou imaterial. E no caso em tela, podemos dizer que houve dano patrimonial ou material, como será demonstrado na conclusão.
CONCLUSÃO
Como foi demonstrado anteriormente, não se pode olvidar que a
Radiall do Brasil Componentes Eletrônicos Ltda, teve dano patrimonial e material, haja vista que esses danos traduzem em lesão aos bens jurídicos economicamente apreciáveis de seu titular. Igualmente, cabe salientar que outros bens, personalíssimos, poderão ser atingidos, o que poderá gerar a responsabilidade civil ao agente infrator. Quanto mais, a responsabilidade pela quebra da confiança possui a mesma ratio da responsabilidade pré-contratual, conforme assevera Flávio Tartuce, que prossegue com o entendimento de que o ponto que as aproxima é o fato de que uma das partes pode gerar na outra uma expectativa legítima que após não se concretiza. O autor ainda frisa que o que as diferencia é que na responsabilidade pré-contratual a formalização de um contrato é o escopo perseguido, enquanto que na outra ele não será inicialmente almejado. Assim, é importante salientar que foi gerado para o autor expectativa de contratação. Cabe aqui enfatizar que o dano material da empresa recorrente pode ser analisados sob dois prismas distintos: o dano emergente, que diz respeito ao prejuízo efetivo do agente, e os lucros cessantes, que têm o condão de lucro que o agente deixou de receber ou ganhar em razão da culpa, negligência, imperícia e omissão por parte das corrés. Por fim, diante do caso em tela, confirma-se que houve dano a empresa Radiall e que asseguradamente deverá ter a devida indenização com vistas nos danos emergentes e lucros cessantes.