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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO....................................................................... 19
CAPÍTULO 1
EPIDEMIOLOGIA DAS NEOPLASIAS........................................................................................... 19
UNIDADE II
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER...................................................................... 27
CAPÍTULO 1
PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES E CARACTERÍSTICAS DO CÂNCER............................................... 27
CAPÍTULO 2
FISIOPATOLOGIA DE DIFERENTES TIPOS DE CÂNCER................................................................. 40
UNIDADE III
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER............................................................................... 103
CAPÍTULO 1
INTERAÇÕES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER........................................................ 103
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 111
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
Iniciaremos nosso estudo com um painel de definições de algumas sentenças importantes
utilizadas no conteúdo abordado na apostila, além da contextualização do que é câncer,
descritos nos próximos tópicos.
Painel de definições
Nesta disciplina, vamos abordar os aspectos fisiopatológicos dos diferentes tipos de
câncer. Neste momento, acompanharemos um painel de definições para enfatizar
algumas denominações de suma importância e que serão abordadas ao longo do
conteúdo da apostila. Em seguida, haverá uma breve introdução sobre o conteúdo para
facilitar a compreensão do tema.
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Quanto ao termo “patologia”, refere-se ao “estudo das doenças” ou ao “estudo de
determinada doença” em questão. Neste sentido, para falarmos sobre algum aspecto
da doença, devemos dizer “doença” e não “patologia”. Podemos defini-la da seguinte
forma: A doença é caracterizada por um quadro em que há alterações morfológicas
(alterações na estrutura e forma das células) ou funcionais (alterações na função das
células). Normalmente, as duas alterações costumam ocorrer ao mesmo tempo, então,
chamamos de alterações morfofuncionais.
O termo etiologia indica o estudo da causa da doença e pode se dar por fatores intrínsecos
(do próprio organismo) ou extrínsecos (adquiridos pelo ambiente, por exemplo, pela
dieta). Quanto aos fatores intrínsecos, podemos destacar as alterações genéticas e as
doenças autoimunes; já os fatores extrínsecos, destacam-se os vírus, bactérias, falta de
oxigênio entre outros. A etiologia da gripe e da AIDS, por exemplo, é uma infecção viral.
Patogenia é o termo que designa a forma de descrição do que ocorre desde a causa até
o aparecimento final da doença. Percebe-se quais são as alterações que foram sofridas
devido ao estímulo ocorrido. A patogenia da AIDS relaciona-se a destruição e redução
do número de linfócitos TCD4. O sinal da doença refere-se a alterações visíveis que a
caracteriza.
Nas definições estatísticas das doenças, são utilizados alguns termos que nem sempre
possuem definição esclarecida aos leitores. O termo epidemiologia designa a ciência que
estuda quantitativamente a distribuição dos fenômenos de saúde/doença e os fatores
que influenciam sua existência, em outras palavras, estuda a frequência, a distribuição
e os determinantes do estado de saúde/doença.
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Outro termo bastante abordado nas áreas da saúde é o prognóstico da doença, o qual
indica uma predição médica de como ficará a relação entre a doença e o paciente,
ou, como esta relação se encontrará com o desenvolvimento da doença e quais as
possibilidades de cura.
Contextualizando o câncer
A todo o tempo, nossas células recebem estímulos “exógenos” (do ambiente), como
temperatura, pressão, nutrientes ou “endógenos” (do próprio organismo), como
hormônios. No caso destes estímulos, ocorrerem com frequência e intensidade
“normais”, as células estarão em homeostase (equilíbrio), sem que se instale o estado
de doença. Vale lembrar que estes estímulos recebidos pelas células também estão
relacionados com a ingestão de nutrientes, pela dieta.
Tanto a intensidade do estímulo quanto o tipo de célula que o recebe são muito
importantes para entender se há ou não adaptação. Seguem alguns exemplos:
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Resposta a estímulos por adaptações celulares
Figura 1.
Hiperplasia
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compensatória, a geração de novas células é induzida. Outro exemplo é o
caso da dificuldade de defecação, em que pode haver descamação, mas o
organismo compensa este quadro por meio da hiperplasia celular.
Hipertrofia
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Atrofia
Existem alguns aspectos que estão relacionados a este tipo de adaptação celular:
Metaplasia
Ocorre substituição de um tipo celular adulto por outro tipo celular adulto. Este tipo
de adaptação celular pode ocorrer, por exemplo, quando há irritação crônica do trato
respiratório, com substituição das células colunares por células escamosas (o que pode
aumentar a prevalência de neoplasias), já que estas células produzem queratina que
protege o trato respiratório da fumaça do cigarro. Assim, este tipo de metaplasia faz
com que haja queratinização (como forma de proteção) das papilas gustativas e há
perda de paladar.
Portanto, se há troca de um tipo celular por outro, como ocorre na metaplasia, também
haverá divisão celular e maior risco para ocorrência de neoplasias.
Displasia
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celular é o que mais aumenta a probabilidade de neoplasias. De um modo geral, só é
possível saber que houve displasia, após realização de uma biópsia.
Lesões reversíveis
Grau de reversibilidade:
Assim, quando há um estímulo na célula respondido por meio de lesão e, se esta lesão for
do tipo reversível, a célula pode responder pelo processo de degeneração ou infiltração.
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Figura 2.
Lesões irreversíveis
Figura 3.
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A figura acima ilustra os tipos de lesões irreversíveis que podem ocorrer na célula que
recebeu o estímulo. São elas: necrose ou apoptose. Ambas indicam a morte celular, no
entanto, não ocorrem de forma semelhante.
A necrose é a morte acidental de uma célula. Ela morre “fora da hora” que deveria
ocorrer. O estímulo é sempre patológico. Não existe necrose fisiológica. Estes estímulos
podem ocorrer por agentes físicos, tais como temperatura, pressão, radiação; por
agentes químicos, tais como álcool (pode causar morte instantânea → há rompimento
da membrana da célula), medicamentos (por exemplo, a quimioterapia → que tem
por objetivo a necrose), inseticidas ou por agentes biológicos e pela falta ou excesso de
oxigênio:
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»» Prevenção do aparecimento de tumores: conforme a célula se divide e
origina uma célula “imprópria”, esta célula terá o gene recebido que a
caracteriza como “imprópria” e, então, ela entra em processo de apoptose
celular, evitando transtornos futuros.
A apoptose pode ser causada por estímulos patológicos (por exemplo a hepatite C).
É considerado um processo mais organizado do que a necrose. Caracteriza-se pela
condensação do núcleo e das organelas; fragmentação celular sem que haja rompimento
da membrana (como se ela se dividisse em pequenos pedaços); formação de corpos
apoptóticos; fagocitose dos corpos apoptóticos e retirada dos tecidos.
Tanto com necrose quanto com apoptose, elimina-se células mortas e o espaço que era
ocupado por estas células fica vazio e, então, pode ocorrer um processo de recuperação
tecidual.
Quadro 1.
Reparação tecidual
Ocorre após morte de uma célula, por meio da necrose ou apoptose. Este processo se dá de duas formas:
A célula que morreu é substituída por outra célula igual, não lesada. Na maioria dos casos, ocorre após
Regeneração
apoptose.
A célula morta é substituída por tecido fibroso, em especial por fibras colágenas. Geralmente, ocorre após
Cicatrização necrose. Esse processo atrapalha a função do órgão. Com infarto, as células do coração morrem e são
substituídas por colágeno.
Figura 4.
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em pequenos pedaços) e os corpos apoptóticos são fagocitados e retirados do tecido.
Já no processo de necrose, há acidez citoplasmática, produção de enzimas digestivas
e estes eventos induzem a degeneração de organelas e do núcleo, desnaturação de
proteínas e lise da membrana celular.
Após a leitura da introdução da apostila, você deve ter percebido que existem
diversos tipos de processos que ocorrem no metabolismo celular e que cada um
dele possui uma definição e uma característica peculiar.
Com base nestes conceitos estudados, tente elaborar uma espécie de mapa
conceitual agrupando todas estas informações estudadas pelos esquemas com
palavras-chave, setas, símbolos etc.
Caso tenha interesse, leia um pouco mais sobre mapas conceituais em:
<http://www5.usp.br/40901/mapas-conceituais-organizam-conhecimento-e-
favorecem-aprendizagem/>.
<https://www.youtube.com/watch?v=jjfYQMW_nek>.
<https://www.youtube.com/watch?v=8VSgOeJy4dQ>.
<https://www.youtube.com/watch?v=bdWRZd19swg>.
<https://www.youtube.com/watch?v=Ep_nCSEDeAE>.
Objetivos
»» Auxiliar na compreensão da fisiologia dos sistemas mais acometidos por
processos neoplásicos.
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EPIDEMIOLOGIA DO
CÂNCER NO BRASIL E UNIDADE I
NO MUNDO
CAPÍTULO 1
Epidemiologia das neoplasias
No Brasil, para o período do estudo, são esperados cerca de 5 mil novos casos de leucemia
entre homens e 4 mil novos casos entre as mulheres. Na região Norte, este tipo de
câncer é considerada o quinto mais frequente entre os homens (aproximadamente 3,57
novos casos a cada 100 mil homens) e é o oitavo no Nordeste (4,15/100 mil) e ocupa a
10a posição nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (aproximadamente 8,13;
5,42 e 4,14/100 mil, respectivamente).
No caso das mulheres, é o sétimo mais frequente na região Norte (2,81/100 mil), oitavo
no Sul (6,30/100 mil), 10o no Nordeste (3,40/100 mil) e o 11o na regiões Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil (4,5 e 3,41/100 mil, respectivamente).
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UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO
Para o tipo não Hodgkin, são esperados cerca de 4.940 novos casos em homens e 4.850
em mulheres. Em homens, esta neoplasia está em nono lugar no Norte e Sudeste do
Brasil (2,23 e 6,21/100 mil, respectivamente), em 11o no Sul e Nordeste (6,90 e 3,43/100
mil, respectivamente) e o 12o na região Centro-Oeste do Brasil (4,08/100 mil). Para as
mulheres, é considerado o oitavo mais frequente na região Sudeste (6,47/100 mil), o
10o na região Centro-Oeste (4,14/100 mil mulheres), o 11o no Nordeste (2,84/100 mil) e
o 12o no Sul e Norte (5,61 e 1,52/100 mil, respectivamente).
Foram estimados cerca de 390 mil novos casos e 199 mil óbitos por esta neoplasia no
mundo, em 2012. As mais altas taxas de incidência estão relacionadas à América do Norte,
Austrália/Nova Zelândia e alguns locais da Europa. Entretanto, na África (com exceção
do linfoma de Burkitt – subtipo do linfoma não Hodgkin; vírus da imunodeficiência
humana – HIV) estão as mais baixas taxas. Na maioria dos países desenvolvidos, houve
aumento nas taxas de incidência (durante a década de 1990), com aumento de cerca
de 4% ao ano, o que pode ter ocorrido devido às melhorias nos procedimentos para
diagnósticos. Neste período, década de 1990, também houve aumento na ocorrência da
Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS), principalmente em homens brancos.
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EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO │ UNIDADE I
Neoplasias de pele
Estimam-se cerca de 98.420 novos casos de câncer de pele não melanoma em homens
e 83.710 nas mulheres, no Brasil. O câncer de pele não melanoma é o tipo de câncer de
pele mais incidente em homens nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (159,51; 133,48
e 110,94/100 mil, respectivamente) e o segundo mais frequente no Nordeste e Norte
(40,37 e 28, 34/100 mil, respectivamente). Quanto às mulheres, é o mais frequente em
todas as regiões do Brasil: Sudeste (112,28/100 mil); Centro-Oeste (99,31/100 mil); Sul
(86,03/100 mil); Nordeste (24,73/100 mil) e Norte (24,73/100 mil).
Neoplasias de tireoide
Serão cerca de 1.150 novos casos de câncer de tireoide em homens e 8.050 novos casos
em mulheres, entre 2014 e 2015, no Brasil. É considerado o 13o tipo de câncer mais
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UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO
incidente em homens, na região Sul (3,43/100 mil) e Nordeste (1,29/100 mil) e o 14o
nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste (1,29; 0,65 e 0,43/100 mil, respectivamente).
Entre as mulheres, é o sexto mais incidente nas regiões Sudeste, Nordeste e Norte (7,89;
5,68 e 3,49/100 mil, respectivamente) e o nono mais frequente na região Centro-Oeste
(4,46/100 mil mulheres).
Este tipo de câncer é considerado raro na maior parte da população mundial e representa
de 2 a 5% do total de câncer em mulheres e menos do que 2% em homens. Na última
expectativa mundial, foram relatados 300 mil novos casos de câncer de tireoide, sendo
68 mil em homens e 230 mil em mulheres. Na maioria dos países, há crescimento lento
e contínuo das taxas de incidência desta neoplasia, correspondendo à aproximadamente
1% ao ano. Em publicação do Cancer Incidence in Five Continents, de uma análise
realizada no período de 1973 a 2002, houve aumento das taxas de incidência (em cinco
vezes) e queda nas taxas de mortalidade na maior parte das populações avaliadas, o que
provavelmente se relaciona à melhoria do tratamento da doença.
Quanto ao câncer de pulmão, são esperados cerca de 16.400 novos casos em homens
e 10.930 novos casos em mulheres no período da análise. No Brasil, é classificado
como o segundo tipo de câncer mais frequente em homens na região Sul (33,62/100
mil) e, também, na região Centro-Oeste (14,03/100 mil) e o terceiro mais incidente no
Sudeste, Nordeste e Norte (18,51; 9,01 e 7,69/100 mil, respectivamente). Em mulheres,
é considerado o terceiro mais frequente no Sul (21,35/100 mil) e Sudeste (11,48/100
mil), o quarto no Centro-Oeste e Nordeste (8,49 e 6,40/100 mil, respectivamente) e o
quinto na região Norte (5,11/100 mil).
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EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO │ UNIDADE I
No Brasil, são estimados cerca de 6.870 novos casos em homens e 770 em mulheres.
Entre os homens, este tipo de câncer é considerado o sexto mais incidente no Nordeste
(4,54/100 mil), o sétimo nas regiões Sul e Norte (9,21 e 2,70/100 mil, respectivamente)
e o oitavo no Sudeste e Centro-Oeste (9,17 e 5,00/100 mil, respectivamente). Entre
as mulheres, é o 16o mais frequente no Nordeste e Centro-Oeste (1,02 e 0,99/100
mil, respectivamente) e o 17o no Sul, Sudeste e Norte (0,85; 0,55 e 0,46/100 mil,
respectivamente). Como observado nos dados estatísticos, há maior incidência em
homens e com idade acima de 40 anos.
São esperados cerca de 11.280 novos casos de neoplasias da cavidade oral em homens e
cerca de 4.010 em mulheres. Em homens, este tipo de câncer, no Brasil, é considerado
o quarto mais frequente no Sudeste (15,48/100 mil) e Nordeste (7,16/100 mil), o quinto
no Centro-Oeste (8,18/100 mil) e o sexto no Sul e Sudeste (15,21 e 3,21/100 mil). Para
as mulheres, é o nono mais frequente nas regiões Sudeste e Nordeste (4,88 e 3,72/100
mil, respectivamente), o 11o no Norte (1,60/100 mil), o 12o no Centro-Oeste (3,30/100
mil) e o 15o no Sul (3,09/100 mil).
Em 2012, foi detectado, no mundo, cerca de 300 mil novos casos e 145 mil óbitos por
câncer de boca e lábio. Deste total mundial de casos, aproximadamente 80% ocorreram
em países em desenvolvimento, com maiores taxas em populações da Melanésia, do
centro-Sul Asiático, da Europa Oriental, Central e Ocidental, da África e da América
Central.
Quanto ao câncer de esôfago, são estimados cerca de 8 mil novos casos em homens e
pouco mais de 2,5 mil em mulheres. Em homens, é considerado o quinto tipo de câncer
mais frequente na região Sul (15,97/100 mil), o sexto no Centro-Oeste (6,88/100 mil),
o sétimo no Sudeste e Nordeste (9,45 e 4,50/100 mil, respectivamente), e o 11o na região
Norte (1,88/100 mil). Entre as mulheres, é o 13o mais frequente na região Sul, Sudeste e
Nordeste (5,27; 2,86 e 1,80/100 mil, respectivamente) e o 14o no Centro-Oeste e Norte
(2,39 e 0,67/100 mil, respectivamente).
São mais de 450 mil pessoas afetas pelo câncer de esôfago, no mundo, a cada ano.
Apresenta-se de três a quatro vezes mais frequente em homens do que em mulheres e
é considerado de prognóstico ruim, sendo que as taxas de mortalidade se aproximam
das taxas de incidência. Ainda, como o câncer de esôfago vem sendo relacionado ao alto
consumo de erva-mate, onde este consumo é praticado, há maior frequência da doença:
além do Sul do Brasil, Argentina e Uruguai.
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UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO
Também foram estimadas as taxas de incidência para o câncer de estômago que sugere
cerca de 12.860 novos casos em homens e 7.520 em mulheres. Em homens, é o segundo
tipo de câncer mais frequente no Norte e Nordeste do Brasil (11,10 e 10, 25/100 mil,
respectivamente), o quarto nas regiões Sul e Centro-Oeste (16,07 e 10,88/100 mil,
respectivamente) e o quinto no Sudeste (14,99/100 mil). Para mulheres, apresenta-se
como o terceiro tipo de câncer mais frequente no Norte (5,91/100 mil), o quinto no
Sudeste e Nordeste (8,20 e 6,39/00 mil) e o sexto no Sul e Centro-Oeste (8,43 e 6,32/100
mil, respectivamente).
Tem sido observado que, em países onde o risco era considerado baixo, por exemplo, no
Japão e em outras nações asiáticas, existe um aumento na incidência destas neoplasias.
Em contrapartida, países considerados de alto risco apresentaram certa estabilidade
ou, ainda, declínio nas taxas de incidência, como é o caso da Europa Ocidental, Norte
Europeu, América do Norte e Austrália.
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EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO │ UNIDADE I
Entre 2014 e 2015, são esperados cerca de 15.590 novos casos de câncer de colo de útero.
Este tipo de câncer ocorre em maior extensão na região Norte do Brasil (23,57/100
mil); é o segundo mais frequente no Centro-Oeste e Nordeste (22,19 e 18,79/100 mil,
respectivamente), o quarto no Sudeste (10,15/100 mil) e o quinto no Sul (15,87/100
mil). Possui maior incidência nos países em desenvolvimento e, em 2012, foi o tipo de
câncer responsável por 265 mil óbitos, sendo 87% destes óbitos ocorridos em países em
desenvolvimento.
No que se diz respeito ao câncer de ovário, são esperados cerca de 5.680 novos casos,
entre 2014 e 2015. Este é o quinto tipo de câncer mais incidente na região Centro-Oeste
(6,96/100 mil), o sétimo nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste (6,63; 6,58 e 4,03/100
mil, respectivamente) e o oitavo na região Norte (2,52/100 mil). Na última estimativa
mundial realizada, foram constatados 238 mil novos casos de câncer de ovário, sendo
as mais altas taxas de incidência observadas em países ocidentais e no Norte da Europa
e na América do Norte. Em contrapartida, na África, são encontradas as menores taxa
de incidência. Atualmente, estas taxas se mantém estáveis, mesmo em países que
apresentam alto risco para doença.
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UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO
Neoplasias de próstata
São estimados 68.800 novos casos de câncer de próstata no Brasil. Este tipo de câncer
é classificado como o mais incidente entre os homens em todas as regiões do país, com
maiores taxas na região Sul (91,24/100 mil), Sudeste (88,06/100 mil), Centro-Oeste
(62,55/100 mil), Nordeste (47,46/100 mil) e Norte (30,16/100 mil). No mundo, cerca
de 70% dos casos diagnosticados relacionam-se a países desenvolvidos. As maiores
taxas de incidência foram registradas na Austrália/Nova Zelândia, Europa Ocidental e
América do Norte. Esta doença também está relacionada com a localização geográfica.
Neoplasias de bexiga
São esperados cerca de 6.750 novos casos de câncer de bexiga em homens e 2.190
em mulheres. Em homens, é o sexto tipo de câncer mais frequente na região Sudeste
(10,00/100 mil), o sétimo no Centro-Oeste (5,86/100 mil), o oitavo no Sul (9,10/100
mil), 10o no Norte (1,98/100 mil) e 11o no Nordeste (2,82/100 mil). Parar as mulheres,
é o 13o mais incidente no Centro-Oeste e Norte (2,72 e 0,70/100 mil, respectivamente)
e o 14o no Sul, Sudeste e Nordeste (3,29; 2,55 e 1,24/100 mil, respectivamente).
Em 2012, no mundo, foram 430 mil novos casos desta neoplasia e 165 mil óbitos, sendo
as mais altas taxas de incidência na Europa, América do Norte e Norte da África, mais
frequente em homens do que em mulheres.
Neoplasias pediátricas
São esperados, no Brasil, cerca de 11.840 novos casos de câncer que acometam crianças
e adolescentes até os 19 anos de idade. As maiores taxas devem ocorrer no Sudeste
e Nordeste (5.600 e 2.790, respectivamente), seguido do Sul (1.350), Centro-Oeste
(1.280) e Norte (820).
Figura 5. Estimativa para o período entre 2014 e 2015, por gênero (feminino ou masculino), de distribuição dos 10
26
BASES
FISIOPATOLÓGICAS UNIDADE II
E METABÓLICAS DO
CÂNCER
CAPÍTULO 1
Principais classificações e
características do câncer
Neoplasias
As neoplasias podem ser classificadas como “benignas” ou “malignas” e funcionam
como parasitas para o organismo, já que captam oxigênio e nutrientes do organismo,
27
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
causando destruição das células normais. Existem algumas características que auxiliam
na diferenciação entre as neoplasias.
Neoplasias benignas
Nome da célula que originou + sufixo “oma”:
Ainda sobre as características das neoplasias benignas, suas células não induzem
angiogênese (formação de vasos sanguíneos dentro do tumor) e, estas células (benignas),
possuem limites visíveis, delimitados, o que facilita a remoção destes tumores.
Neoplasias malignas
Recebem nome de sarcoma (células provenientes do mesênquima) ou carcinoma
(células provenientes do epitélio).
28
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
29
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Figura 6.
A figura 7 traz um esquema didático sobre o processo de metástase, que ocorre em casos
de neoplasias malignas. Note que o tumor original, pode se disseminar pela circulação
sanguínea e parte dele capturado pelas células do sistema imune e parte dele atinge
órgãos distantes, se disseminando e se proliferando.
Figura 7.
30
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Agentes carcinogênicos
Alimentos carcinogênicos
»» álcool;
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
32
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Podem existir dois agentes carcinogênicos que ativam a mesma célula. Cada agente ativa
um e inativa outro: fumar e tomar sol (ambos ativam para a ocorrência de câncer, mas
cada um é em uma célula diferente). A predisposição genética ocorre quando, sem ser
esperado, há mutação espontânea: quando um indivíduo tem mais chance de realizar
mutação espontânea do que outro. O gene supressor é recessivo, ou seja, devem-se
inativar os dois genes supressores (1 em cada hélice do DNA).
Existem diversos tipos de estadiamento utilizados para o câncer, mas o mais comum é
o preconizado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) que é denominado de
“Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos”, o qual é baseado na extensão
anatômica da doença e considera as seguintes categorias: T (tumor); N (node, linfonodo);
M (metástase). T: indica a extensão do tumor primário e pode ser classificado em T0,
T1, T2, T3 e T4.
Neste sentido, os parâmetros avaliados recebem graduações, como por exemplo: T0,
T4, N0, N3, M0, M1, entre outras. As graduações, também, podem ser expressas pelo
uso de letras, como a, b, c, ou por meio da utilização e classificação por letras maiúsculas
(A, B, C). Quando alguma categoria não pode ser avaliada, recebe o símbolo “X”. Para
praticamente todas as localizações topográficas e tipos morfológicos dos tumores o
estadiamento pode ser resumido nas classificações seguintes.
De um modo geral, são utilizadas duas classificações para cada localização anatômica:
classificação clínica e classificação patológica, conforme descrito no quadro 2.
33
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
T: tumor primário.
»» T1, T2, T3 e T4: tamanho crescente e/ou extensão local do tumor primário.
Figura 8. Exemplo de classificação de tumor primário de mamas. Acompanhe a definição geral mencionada
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
N: linfonodos regionais.
M: Metástase à distância.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Figura 10. Exemplo de classificação de metástase à distância. Acompanhe a definição geral mencionada
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Tumor localmente avançado ou, como é quase o critério geral de classificação, presença de metástase à
Estádio IV
distância.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
A classificação do tumor quanto ao seu estádio é base para que se defina a terapêutica do
paciente já que permite inferir sobre o comportamento biológico do tumor, selecionar
condutas terapêuticas, além de prevenir complicações, estimar prognósticos, organizar
a avaliação de resultados terapêuticos, padronizar a publicação destes resultados,
facilitar a troca de informações entre os especialistas e contribuir para a pesquisa
oncológica.
A seguir, há um exemplo simples de quadro que pode ser realizado, mas fique à
vontade caso queira criar algo mais elaborado.
39
CAPÍTULO 2
Fisiopatologia de diferentes tipos de
câncer
Quadro 5. Descrição das principais fases do processo de hematopoese, desde a vida intrauterina até a
senescência.
Período intrauterino
Período Características
Os megaloblastos migram para o fígado e, a partir do segundo mês de vida, este órgão assume o
Fase pré-hepática processo de hematopoese (produção e diferenciação das células hematopoéticas), pela formação
inicial de glóbulos vermelhos.
Ao final do terceiro mês, o baço também auxilia na produção das células. Neste período, há formação
Fase hepato-esplênica
de glóbulos brancos e plaquetas, além dos glóbulos vermelhos.
Por volta do sétimo mês de vida intrauterina, a medula óssea começa a assumir o comando da
produção das células. A medula dos ossos fetais passa a ser o maior local de produção, em que
gradativamente localiza-se a população de glóbulos vermelhos, leucócitos, plaquetas e células
Fase mieloide progenitoras. Durante a vida fetal, alguns linfócitos vão sendo formados em linfonodos. Após
o nascimento, o fígado e o baço perdem a função realizada nas fases pré-hepática e hepato-
esplênica, na vida intrauterina e passam a participar do processo de destruição celular, denominado
hemocaterese.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Período extrauterino
Período Características
Conforme já mencionado, após nascimento, a medula óssea passa a ser produtiva em todos os ossos
(até aqui denominada de medula vermelha), permitindo um microambiente adequado para o processo
Fase infantil de hematopoese. À medida que as células tornam-se maduras e diferenciadas, deixam a medula
óssea e alcançam tecidos periféricos. Nesta fase, há intensa atividade de outros órgãos: o timo e os
linfonodos.
Após os 4 anos de idade, surgem depósitos de células gordurosas nos ossos longos (estas
denominam-se medula amarela) e , ao longo dos anos, a medula vermelha se restringe, apenas, nos
Fase adulta
ossos do tronco. Com 20 anos de idade, a medula é ativa no esterno, nas costelas, pélvis, vértebras e
crânio.
Após os 40 anos de idade, a produção mantém-se equilibrada nos ossos do tronco. Os depósitos
Fase senil
gordurosos nos ossos do tronco aumentam até que atinjam igual quantidade de tecido hematopoético.
Fonte: Adaptado de Oliveira, 2003.
a. Eritropoese
Ainda, fatores exógenos provenientes da dieta, como ácido fólico e vitamina B12 são
de suma importância na proliferação celular, além disso, o ferro e a vitamina B6 são
necessários para a maturação celular (síntese de hemoglobina).
b. Granulopoese
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
c. Linfopoese
d. Monocitopoese
e. Trombocitopoese
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
1. Ambientais:
2. Próprios: do hospedeiro:
Segundo dados do INCA (2014), foram estimados cerca de 350 mil novas casos e 265
mil óbitos por leucemia, no mundo, no ano de 2012.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
o que faz com que a medula óssea seja incapaz de reproduzir células sanguíneas
saudáveis (nesta leucemia, há predominância de blastos: células jovens, imaturas). Em
contrapartida, a leucemia crônica é caracterizada pelo aumento excessivo de células
maduras anormais, podendo levar de meses a anos para progredir.
As leucemias agudas apresentam curso rápido e, na maioria dos casos, fatal. Conforme já
mencionado, é caracterizada pelo surgimento e pela predominância de células blásticas
(jovens, imaturas) tanto da série mieloide (eritrócitos, granulócitos e plaquetas),
linfoide (linfócitos) ou monocítica (monócitos). Esta leucemia também se caracteriza
pela hiperplasia de medula óssea.
Neste sentido, como forma diagnóstica para a doença, pode-se investigar a presença de
eritroblastos (eritrócitos jovens); contagem de plaquetas; morfologia dos leucócitos;
exame de medula óssea, o qual revelará infiltração por células leucêmicas imaturas.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Quadro 6. Principais características observadas na estrutura celular nos diferentes subtipos da LLA.
Características principais
Aspecto observado L1 L2 L3
Tamanho Pequeno Grande Grande e homogêneo
Cromatina Homogênea Variável Pontilhado fino
Forma Regular Irregular Oval ou redonda
Nucléolos Raros Presentes Um a três
Citoplasma Escassos Moderado Moderado
Basofilia Moderada Variável Intensa
Fonte: Adaptado de Oliveira (2003).
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
M6: eritroleucemia.
O início da doença, muitas vezes, passa despercebido, visto que os sintomas não são
específicos, tais como: fraqueza, anorexia, emagrecimento, dores ósseas e anemia. Ao
exame clínico, existem 3 sinais comumente encontrados: esplenomegalia em casos de
leucemia crônica mielóide; adenopatia (aumento dos linfonodos) na leucemia crônica
linfoide e anemia (perceptível em ambas leucemias crônicas).
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Neste tipo de leucemia, existe inicialmente uma fase crônica caracterizada por
hiperleucocitose (contagem de leucócitos elevada) e predominância de células mieloides
maduras. Em seguida, mantém a denominada “fase acelerada”, em que as células
perdem gradualmente a capacidade de diferenciação. A doença torna-se, então, fatal e
passa a entrar numa fase aguda, com presença de mais de 30% de blastos na medula e
na circulação periférica. Acomete com maior predominância os adultos jovens, sendo
muito raro em crianças. Nota-se, ao exame clínico, acentuada esplenomegalia, podendo
ou não estar relacionada à hepatomegalia (aumento de fígado).
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
O baço (localizados do lado esquerdo do abdômen) tem como principal função a retirada
de células “velhas” na circulação sanguínea; participa da conversão da hemoglobina
(liberada quando há destruição da célula velha) em bilirrubina e, esta última vai para
o fígado.
Os gânglios linfáticos (linfonodos) são órgãos encapsulados, em forma de rim. Tem como
principal função filtrar partículas estranhas, detritos celulares e, quando em infecção,
aumentam de tamanho pelo aumento na produção de linfócitos. Estão localizados na
junção dos principais vasos linfáticos. Caracterizam-se, anatomicamente, da seguinte
maneira:
Constituem dois grandes grupos: Linfoma não Hodgkin e Linfoma Hodgkin e, desde
1960, aproximadamente, a classificação dos linfomas vem sendo discutida e modificada.
Podem ser considerados de baixo ou alto grau, dependendo das características clínica,
morfológica e molecular. Os linfomas considerados de baixo grau apresentam reduzido
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
O LHN constitui proliferações clonais, geralmente, de células B que ocorrem nos órgãos
linfoides. Está relacionada com alterações citogenéticas que resultam no descontrole
do ciclo celular.
Como sinais da LNH ocorrem aumento dos linfonodos, os quais se apresentam firmes
e indolores. Nota-se, também, com o desenvolvimento da doença, esplenomegalia e
hepatomegalia. Em alguns casos podem ocorrer hipogamaglobulinemia (alteração da
imunidade causada por baixos níveis séricos de anticorpos) proporcionando infecções
por micro-organismos oportunistas.
O tratamento do LNH é realizado por quimioterapia, a qual deve ser agressiva, evitando
ocorrência de metástase e radioterapia recomendada para tumores localizados. O
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Linfoma Hodgkin
Neste tipo de linfoma, existe uma célula característica da doença que é indispensável
para o diagnóstico: “Célula de Reed-Stenberg”, a qual constitui um histiócito (macrófago
inativo) neoplásico com 2,3 ou 4 núcleos. Também são identificadas células com apenas
um núcleo (denominadas “Células de Hodgkin”), mas que sozinhas não possuem valor
diagnóstico.
a. Esclerose nodular.
b. Celularidade mista.
c. Depleção linfocitária.
d. Predominância linfocitária.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
S Baço
H Fígado
P Pleural
L Pulmão
O Osso
M Medula óssea
D Pele
Fonte: Adaptado de Escovar (2005).
Quadro 8. Estadiamento pelo sistema Ann Arbour da doença de Hodgkin e as principais característica.
A doença de Hodgkin, em 90% dos casos, origina-se nos linfonodos e pode se disseminar
para o baço, fígado e medula óssea. A queixa inicial do paciente é adenopatia indolor
(aumento dos linfonodos) geralmente cervical (85%) e mediastinal (15% região central
do tórax) o que é determinado por radiografia.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
O Sistema Nervoso (SN) é composto por duas divisões: o Sistema Nervoso Central
(SNC), incluindo encéfalo, tronco encefálico e a medula espinhal, e o Sistema Nervoso
Periférico (SNP), incluindo receptores sensoriais, nervos sensoriais e gânglios externos
ao SNC.
A medula espinhal é a porção mais caudal do SNC que se estende da base do crânio até a
primeira vértebra lombar. Esta estrutura é segmentada com 31 pares de nervos espinhais
que contém nervos sensoriais e motores. Os nervos sensoriais são responsáveis por
carregar a informação para a medula (o que denominamos de aferente), a partir da pele,
das articulações, dos músculos e das vísceras da periferia, por exemplo. Já os nervos
motores carregam as informações a partir da medula espinhal (o que denominamos
de eferentes) até a periferia. Estas informações sensoriais também podem trafegar
subindo ou descendo a medula espinhal. As vias ascendentes da medula espinhal
carregam informações sensoriais da periferia para os níveis superiores do SNC; já as
vias descendentes carregam informações motoras dos níveis superiores do SNC para os
nervos motores da periferia.
O tronco encefálico é constituído por três regiões: bulbo, ponte e mesencéfalo. No bulbo
são encontrados centros que regulam a respiração e a pressão sanguínea, bem como os
centros que coordenam os reflexos de deglutição, tosse e vômito. A ponte participa do
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Outra estrutura que compõe o SNC é o cerebelo, o qual está conectado ao tronco
encefálico e possui as funções de coordenação dos movimentos; planejamento e
execução dos movimentos; manutenção da postura e coordenação dos movimentos da
cabeça e dos olhos.
Figura 14.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
A partir da descrição das principais estruturas que compõem o SNC, podemos concluir
que ele é de suma importância para a regulação de quase todos os processos do organismo
e que seu funcionamento adequado também é essencial para o desenvolvimento de
suas ações.
Apesar de não ser muito frequente, o câncer do SNC contribui significantemente para
a morbidade mundial. Apresenta picos de ocorrência na infância e em indivíduos com
idade acima de 45 anos. A etiologia desta doença ainda é pouco esclarecida, sendo
a irradiação terapêutica a única causa confirmada, mas com rara ocorrência com
associação ao desenvolvimento dos meningiomas e neurilemomas. Traumas físicos
na região da cabeça e traumas acústicos (como o caso de trabalhadores exposto a alto
nível sonoro) também são considerados fatores de risco. Alguns estudos ainda sugerem
a relação da radiação gerada pela radiofrequência, telefonia móvel e telecomunicação
com a ocorrência de gliomas, mas não há nada conclusivo.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Neoplasias de pele
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Figura 15. Composição da pele. Separação em camadas epiderme, derme e hipoderme (da mais externa a
mais interna, respectivamente); vasos sanguíneos; glândulas sudoríparas e células sensoriais, além da camada
A camada córnea é a barreira mais externa da pele e, por isso, é a primeira linha de defesa
do corpo contra a radiação ultravioleta (UV) solar, a qual é primordial para produção de
vitamina D, entretanto, é responsável pela maior parte da incidência de câncer de pele
na população humana. Embora a camada córnea seja uma barreira altamente eficiente,
algumas condições são capazes de alterar essa função, levando a danos severos na
pele, como rachaduras. Estes danos podem causar infecções e inflamação na pele, e,
futuramente, ser agravado para um quadro de dermatite atópica, xerose crônica, entre
outros (BINIEK; LEVI; DAUSKARDT, 2012).
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
d. Camada lúcida: mais evidente na pele espessa, composta por células que
contém queratina.
É a camada mais superior da pele, com espessura de apenas 0,1 a 0,2 mm, diretamente
exposta ao meio externo. Os queratinócitos se diferenciam a partir da camada basal
(onde se localizam as células-tronco) e, à medida que são deslocados para a camada
córnea, vão se estratificando, perdendo seus núcleos e formando um aglomerado
de queratina, sendo conhecidos como corneócitos (MACNEIL, 2007). Este tecido
estratificado envolve uma reorganização e expressão programada de várias proteínas e
lipídeos que determinam a função de barreira cutânea.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
O câncer de pele não melanoma tem incidência aumentada com o avanço da idade, em
especial para o carcinoma epidermoide, no entanto, em termos gerais, o carcinoma
basocelular é mais frequente do que o epidermoide e ambos ocorrem mais em homens
do que em mulheres. Este tipo de câncer de pele (os não melanoma) costuma apresentar
bom prognóstico, com altas taxas de cura, quando tratado de forma adequada e precoce.
A proteção individual contra a luz solar é a forma ideal para o combate dos cânceres
de pele. É recomendável que, caso o indivíduo apresente qualquer risco para a doença,
procure um dermatologista ao primeiro sinal de surgimento de manchas ou sinais de
pele, além de modificações de coloração, tamanho ou bordas de lesões mais antigas.
Neoplasias de tireoide
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Figura 18. Representação de um corte histológico da glândula tireoide, mostrando as estruturas citadas ao
longo do texto: células foliculares, coloide, células C e vasos sanguíneos, além da cápsula que funciona como
Pela figura 19, podemos perceber que ambos são provenientes de uma molécula de
tirosina, que é um aminoácido condicionalmente essencial que, em situações normais,
é sintetizado a partir de outro aminoácido, a fenilalanina. A partir da tirosina, pode
haver a incorporação de uma ou duas moléculas de iodo reduzidas a iodeto (o que
ocorre no intestino delgado) e, então, teremos a formação de monoiodotirosina (MIT
= 1 iodeto + tirosina) e diiodotirosina (DIT = 2 iodo + tirosina). Nesta formação, as
iodotirosinas são incorporadas às tireoglobulinas e podem ser acopladas, por meio do
auxílio de uma enzima. A união de duas tirosinas gera uma tironina e, portanto, quando
as iodotirosinas se unem, formarão iodotironinas: diiodotironinas (T2), triiodotironinas
(T3) e tetraiodotironina (T4). O T2 não possui efeito biológico, bem como outra variação
de hormônio tireoidiano, o T3r (T3 reverso).
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Quadro 9. Resumo das principais funções dos hormônios tireoidianos e suas respectivas características.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Quadro 10: Denominação dos tipos de câncer de tireoide e suas principais características.
A radiação ionizante, seja por exposição ao tratamento seja ambiental, é o fator de risco
mais bem estabelecido para o desenvolvimento do processo neoplásico na tireoide. Há
indícios de haver maior efeito carcinogênico quando esta exposição ocorre antes dos 5
anos de idade (crianças são mais vulneráveis aos efeitos desta radiação). Estas relações
passaram a ser mais investigadas e confirmadas após as explosões atômicas no Japão e
o acidente de Chernobyl.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
O tratamento para esta doença pode variar muito de acordo com o tipo de neoplasia e da
presença ou ausência de metástase. Geralmente, as opções incluem: processo cirúrgico;
terapia com iodo radioativo (ingestão de pequena quantidade de iodo radioativo, para
destruir as células neoplásicas da tireoide, não removidas pela cirurgia), radioterapia e
quimioterapia.
Conforme se observa na figura 20, em A temos uma visão mais geral deste sistema, o
qual é composto por faringe, laringe, traqueia, pulmão (direito e esquerdo), além do
diafragma e do coração que participam do ciclo respiratório. Ainda na figura A, notamos
a descrição de brônquios e bronquíolos, os quais junto com a traqueia caracterizam a
zona de condução de ar do sistema. Além disso, em B, temos a descrição dos alvéolos, que
são estruturas interligadas com os bronquíolos e são consideradas a zona respiratório,
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Figura 21: A distribuição dos componentes do sistema respiratório em suas respectivas regiões.
Na figura 21, nota-se que os bronquíolos respiratórios fazem parte da chamada zona
de transição, visto que participa tanto da zona de condução, a qual também é formada
pela traqueia e brônquios e da zona respiratória que também é formada pelos ductos
alveolares e pelos alvéolos. Assim, quando há estímulo para o processo inspiratório,
o ar atinge os brônquios através de seu influxo e é conduzido pela zona de condução
(traqueia, brônquios e bronquíolos) até a zona respiratória (bronquíolos, ductos e
alvéolos), onde ocorrerá o processo propriamente dito das trocas gasosas.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Neoplasias do pulmão
Aproximadamente 85% dos pacientes que apresentam este tipo de câncer morrem em
torno de cinco anos após diagnóstico. Neste caso (do câncer de pulmão), considera-se
de suma importância o diagnóstico precoce da doença, visto que, quando em estádio I,
o paciente possui de 60 a 90% de chances para sobreviver com o tratamento cirúrgico. É
considerado que a existência de sintomas já representa um prognóstico bastante ruim.
A presença de sintomas pode ser decorrente de crescimento local do tumor, metástases,
síndromes paraneoplásicas e efeitos sistêmicos (UEHARA; JAMNIK; SANTORO, 1998).
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Quadro 11. Principais sinais e sintomas que caracterizam as síndromes paraneoplásicas e algumas observações
Neoplasias da laringe
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Figura 22. Composição geral do sistema gastrointestinal, que compreende as seguintes estruturas: boca, língua,
faringe, esôfago, estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), intestino grosso e ânus; além dos órgãos
A boca é a primeira estrutura que compõe o sistema digestório. Possui uma fenda
limitada pelos lábios em sua porção anterior e, posteriormente, pela denominada parte
bucal da faringe por meio do istmo das fauces. Lateralmente, a cavidade bucal também
está limitada pelas bochechas; superiormente pelo palato e inferiormente por músculos
que constituem o assoalho da boca. Na cavidade oral, existem saliências: gengivas,
dentes e línguas (DÂNGELO; FATTINI, 2005). O teto da cavidade oral é constituído
pelo palato (palato duro – osso: localizado anteriormente; palato mole – músculo:
localizado posteriormente). Esta estrutura (o palato) é responsável por separar a
cavidade nasal da cavidade oral. Do palato mole, projeta-se uma saliência, chamada
de úvula e, lateralmente, existem duas pregas: arco palatoglosso (anterior) e o arco
palatofaríngeo (posterior) que são compostas por tecido muscular. Entre os arcos, há
um espaço que é ocupado pela tonsila palatina (popularmente conhecida por amigdala)
(DÂNGELO; FATTINI, 2005).
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
sendo o palato duro (constituído por osso) e o palato mole (constituído por tecido
muscular); do palato existe uma saliência denominada úvula; na localização latera
existem duas estruturas musculares, pregas, o arco palatoglosso (mais anterior) e o
arco palatofaríngeo (mais posterior). No espaço existente entre estes arcos, localiza-se a
tonsila palatina, popularmente conhecida como amigdala; ainda, existe uma espécie de
fenda entre os dentes e a gengiva e entre os lábios e a bochecha. Em B, estão ilustradas
algumas estruturas que compõem a boca, a qual é o primeiro componente do sistema
digestório/gastrointestinal: lábios (superior e inferior); dentes; língua, istmo das
fauces, além da gengiva e da bochecha.
Temos 3 tipos distintos que se localizam em diferentes regiões da mucosa lingual: papilas
circunvaladas, que são as maiores e que se dispõem em V na base da língua; as papilas
foliadas que são encontradas nas bordas laterais da língua e as papilas fungiformes que
se encontram, em sua maior parte, na ponta da língua.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Outras estruturas muito importantes que compõem a cavidade oral são os dentes e,
também, as glândulas salivares, as quais são consideradas glândulas anexas ao sistema
gastrointestinal/digestório. Existem diversos tipos de dentes e, cada um deles possui
uma função específica para o desenvolvimento dos processos relacionados ao sistema
digestório. São eles: incisivos, caninos, pré-molares e molares. Veja na figura a seguir.
Figura 25. A mostra a composição mais detalhada do dente, sendo que a porção da coroa, onde estão o
esmalte e a dentina (tecido mineralizado que forma o corpo do dente) localiza-se para fora da gengiva e, a
porção da raiz, onde estão a polpa (parte interna do dente, ricamente vascularizada e inervada); o cemento
(recobre aas estruturas da raiz); o ligamento periodontal (constitui a ligação entre o dente e o osso e possui
função de formação, nutrição, proteção e sensorial); além de nervos e suprimento sanguíneo. Em seguida, em B
temos as estruturas dos diferentes tipos de dente: incisivo, canino, pré-molar e molar.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
fluidas da saliva. Já a proteção dos dentes pela neutralização dos ácidos por ações
tamponantes, a ação bactericida e bacteriostática, a manutenção da saturação de fosfato
de cálcio relacionada à hidroxiapatita e a participação na formação da película adquirida
são exemplos das funções relacionadas aos componentes específicos da saliva.
Figura 26. Localização específica de cada um dos pares de glândula salivar: glândula parótida, glândula
Vem sendo reportado um aumento nos casos de câncer em amigdala, base da língua e
orofaringe na população de adultos jovens, em ambos os gêneros, e este perfil parece estar
relacionado a mudanças no comportamento sexual (INCA, 2014). Entre as neoplasias
malignas de cavidade oral, o carcinoma epidermoide é o tipo mais frequente, seguida
por neoplasias originadas nas glândulas salivares menores e de tumores de origem
mesenquimal. O pico de incidência ocorre com predomínio no gênero masculino, entre
50 e 60 anos de idade (VIEIRA et al., 2012).
Observa-se declínio na mortalidade por esta doença em homens, o que não é observado
em mulheres, visto que elas iniciaram o uso de tabaco mais tardiamente do que os
homens (INCA, 2014). Para que a incidência seja reduzida, deve-se, então, evitar os
fatores de risco e quando a doença já está instalada, o diagnóstico precoce por meio de
exames clínicos da cavidade oral, possibilitando a detecção tanto de lesões malignas
quanto do câncer em estágios iniciais e, portanto, o tratamento menos agressivo e mais
eficiente.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Neoplasias de esôfago
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Figura 27. O processo de deglutição, em que há passagem do bolo alimentar da cavidade oral para o
estômago.
Podemos observar que, ao percorrer este caminho, o bolo alimentar estimula a contração
da epiglote, a qual impede o acesso à laringe possibilitando, portanto, a passagem
esofágica.
Notem que à medida que o órgão vai estimulando a propulsão do bolo alimentar,
existe uma sincronia entre os movimentos de contração e de relaxamento. Para que
a condução seja efetiva, a região anterior ao bolo alimentar é contraída e a posterior é
relaxada, facilitando o processo.
As neoplasias na região esofágica não são muito comuns, mas quando ocorrem são
extremamente letais. Muitos estudos sugerem que as neoplasias esofágicas possuem
epidemiologia distinta, o que sugere um maior envolvimento de fatores de risco
ambientais e alimentares e uma predisposição genética pouco definida (QUEIROGA;
PERNAMBUCO, 2006).
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Neoplasias do estômago
Figura 29.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Quadro 13. Descrição dos principais tipos celulares que compõem o estômago e suas respectivas características
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Todos os componentes que não foram absorvidos pelo intestino delgado alcançam
o intestino grosso e, estes componentes passam a ser chamados de fezes, que serão
destinados ao processo de eliminação. Assim que atinge o intestino grosso, as fezes
passam pelo ceco e depois pelo cólon e, para que este conteúdo não retorne ao intestino
delgado (para a região mais terminal – o íleo), existe um esfíncter que permanece
contraído/fechado, evitando este refluxo (COSTANZO, 2011).
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Pode-se observar que a primeira região é o ceco, o qual faz esta comunicação entre
intestino delgado e intestino grosso. Em seguida, está a região do cólon, que se divide em
cólon ascendente, cólon transverso e cólon descendente. Logo após o cólon descendente,
encontra-se a região do reto, que seria a região final do tubo oco que compõe o sistema
gastrointestinal.
Este tipo de neoplasia pode acometer tanto homens quanto mulheres, no entanto, há
maior incidência no gênero masculino na maior parte das populações. Se diagnosticada
em estádios iniciais da doença, pode apresentar um bom prognóstico.
Conforme mencionado nos tópicos anteriores, de modo geral, muitas formas de câncer
são resultantes da interação entre fatores endógenos e ambientais, sendo o padrão da
dieta considerado de extrema importância, principalmente para este tipo em questão.
Assim, em se tratando dos agentes protetores, destacam-se a prática de atividade
física e o consumo de alimentos fontes de fibras. Além da alimentação inadequada,
são considerados fatores de risco o tabagismo e o excesso de gordura corporal e
abdominal, além do fator genético/hereditário. Os meios de detecção desta neoplasia
são a investigação de sangue oculto nas fezes e endoscopia.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
DIARREIAS
Classificação Principais características
Causada pela presença de solutos osmoticamente ativos na luz intestinal, o que pode ser decorrente da
ingestão de solutos pouco absorvíveis, tais como laxantes com manitol, sorbitol, etc.; ou pela má absorção
Diarreia osmótica
de alimentos. A presença de soluto na luz intestinal gera um gradiente osmótico para o transporte de água,
aumentando o volume das fezes.
Pode ocorrer pela absorção reduzida de íons e água ou à secreção ativa dos mesmos, ou seja, decorre do
Diarreia secretora
transporte anormal de íons pelo epitélio intestinal.
Ocorrem em consequência da eliminação de proteínas, muco e sangue de áreas acometidas por úlceras,
Diarreia exsudativa ou
infiltração ou inflamação. As fezes são purulentas, com muco e a diarreia persiste mesmo em períodos de
inflamatória jejum.
Decorre do aumento na velocidade do trânsito intestinal, seja pelo aumento ou pela redução na velocidade, o
Diarreia motora
que permite maior secreção de íons e água para o interior da luz intestinal.
Fonte: Adaptado de Curi; Procópio (2009).
As mamas são órgãos pares localizados na parede anterior do tórax, sobre os músculos
“grande peitoral”. Possuem, em sua região central, duas estruturas mais centrais,
denominadas de aréola e papila, conforme ilustrado na figura 31.
A aréola é a estrutura da mama por onde se projeta a papila, também conhecida como
mamilo. Na papila mamária, existem de 15 a 20 orifícios, denominados de “orifícios
84
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Mulheres mais jovens possuem as mamas mais densas e firmes, devido à presença de
maior quantidade de tecido glandular (ácinos). Ao longo do envelhecimento, o tecido
mamário vai sendo substituído por tecido adiposo. A função principal das mamas está
relacionada a produção de leite para amamentação e representa um importante papel
na constituição da autoestima e autoimagem da mulher (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2002).
85
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
ejeção do leite ocorre por reflexo, pela contração das células mioepiteliais (localizadas
ao redor dos ácinos). Esta contração é estimulada por outro hormônio, a ocitocina, a
qual é produzida pela hipófise (CURI; PROCÓPIO, 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2002).
O tipo de câncer que mais acomete as mulheres, no mundo, tanto em países desenvolvidos
quanto naqueles em desenvolvimento, é o de mama. A menor parte dos cânceres de
mama tem origem no epitélio lobular e a grande maioria (cerca de 80%) origina-se no
epitélio ductal (INCA, 2014).
86
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
O sistema reprodutor feminino é composto por uma porção mais interna, que inclui
os ovários, tubas uterinas e vagina, e por uma porção mais externa caracterizada pelo
canal vaginal. Na figura 32 podemos observar todos estes componentes do sistema
reprodutor feminino.
87
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
São componentes do sistema reprodutor feminino: ovários, tuba uterina, útero e vagina.
O esquema A mostra como estes componentes estão apresentados no organismo da
mulher. No esquema B, temos a ilustração mais “íntima” dos ovários, apresentando as
unidades funcionais deste órgão, os folículos, em diferentes estágios de desenvolvimento.
Em C, observamos a composição histológica destes folículos e, em D, a composição
histológica do útero, sendo observadas a camada mais interna do órgão, o endométrio,
a camada intermediária muscular, o miométrio, e a irrigação por vasos sanguíneos.
Assim que o oócito for capturado pela tuba uterina e for fertilizado por um espermatozoide
(gameta masculino), há a formação do zigoto (reconstituição de uma célula diploide, ou
seja, com 48 cromossomos), o qual se desenvolverá até que possa sofrer o processo
de implantação no útero. Durante a implantação, há a formação da placenta, a qual
também inicia a produção e secreção de alguns hormônios, tais como estrógenos,
progestágenos, gonadotrofina coriônica humana e lactogênio placentar humano.
O câncer de colo de útero, em geral, é iniciado a partir dos 30 anos de idade, com
aumento abrupto de risco para mulheres entre 50 e 60 anos. O tipo de câncer mais
comum no colo do útero é o carcinoma de células escamosas, o que representa de
85 a 90% dos casos, seguido pelo adenocarcinoma. O principal fator de risco para o
desenvolvimento neoplásico no colo do útero é a infecção pelo “papilomavírus humano”
(HPV), no entanto, é necessária a persistência desta infecção para que a neoplasia se
desenvolva. Além do mais, além dos fatores relacionados à imunidade e comportamento
sexual, já mencionados acima, a genética também está relacionados com a regressão
ou persistência da infecção por HPV e, portanto, ao desenvolvimento desta neoplasia.
Atualmente, existem cerca 13 tipos de HPV considerados oncogênicos pelo International
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Angency for Research on Cancer (IARC) e os mais comuns, responsáveis por cerca de
70% dos casos de câncer de colo de útero são o HPV 16 e o 18 (INCA, 2014).
O método promissor para prevenção deste tipo de câncer é a vacina contra HPV, a qual
atualmente vem sendo distribuída gratuitamente, pelo sistema único de saúde (SUS)
para meninas com idade entre 9 e 13 anos. Segundo INCA (2014), o Ministério da Saúde
implementou esta vacina contra o HPV 16 e 18. O câncer de colo de útero é o que apresenta
melhores condições de prevenção de tratamento (o caso do diagnóstico precoce). O
exame citopatológico convencional (conhecido como “Papanicolau”) é a principal
estratégia para monitorar a incidência deste câncer no mundo. É recomendado, no
Brasil, que mulheres entre 25 e 64 anos de idade realizem o Papanicolau periodicamente.
2. Persistência da infecção.
No entanto, caso o sistema imune não seja suficiente para erradicar a infecções,
partículas virais podem se propagar e infectar novas células da mucosa. Quando
90
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
ocorrem infecções persistentes, o DNA viral pode interagir com o DNA das células do
hospedeiro e induzir displasia de grau variável que, se não diagnosticada e tratada,
pode evoluir para carcinoma invasivo.
91
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
92
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
A atividade física e o hábito alimentar são possíveis fatores protetores contra a doença,
além do uso de contraceptivos orais que também está relacionado à redução no risco.
Neoplasias de ovário
As principais formas de neoplasias ovarianas são, em cerca de 80 a 85% dos casos,
neoplasias epiteliais e, em 5% dos casos, são em células germinativas (que ocorre em
mulheres mais jovens e apresenta crescimento mais rápido).
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
É comum que a doença se dissemine para a cavidade abdominal, por meio de esfoliação
(desprendimento) de células neoplásicas do ovário para este local. Ainda, em estádios
mais avançados da doença, é comum a disseminação para linfonodos pélvicos e
paraórticos (próximos da artéria aorta). As metástases à distância são comumente
encontradas em pulmões, fígado, pleura, rins, ossos, adrenal e baço.
Por ser uma doença de pouco conhecimento de causa, a prevenção para o câncer
de ovário é bastante limitada. Além disso, as técnicas para diagnosticar a doença
precocemente não são muito disponíveis e, geralmente, o diagnóstico acaba ocorrendo
de forma ocasional ou quando o tumor já se apresenta de forma mais avançada.
Neoplasias de próstata
Figura 34. Composição do sistema reprodutor masculino e, no círculo vermelho, observamos o tecido em
questão, a próstata, que é responsável pela produção de fluidos que compõem o esperma.
devido à compressão que a próstata realiza na uretra, à medida que vai aumentando de
tamanho, tornando-se um obstáculo para a passagem da urina. Assim, o jato urinário
passa a ser fraco e fino.
A próstata é composta por uma massa celular que se prolifera, por meio da divisão
e reprodução celular, de forma ordenada e controlada, por estímulo a andrógenos.
Assim, o período da adolescência é o que apresenta maior taxa de crescimento desta
glândula, aproximadamente 1,6 g/ano e, na idade adulto, é atingido o peso máximo de
20g. A falta de estímulo androgênico resulta em perda celular maciça (LEE et al., 2001;
PINTO, 2011).
Dentre as células que compõem esta glândula estão as basais, luminais e neuroendócrinas,
que constituem, então, o epitélio da próstata. As células basais estão localizadas na
base da membrana, caracterizadas por serem achatadas e pequenas e não possuírem
receptores para andrógenos (LEE; PEEHL, 2004). Mesmo sem terem sensibilidade ao
estímulo androgênico, estas estimulam o crescimento das células mais intermediárias
(à base da membrana), as quais originarão células luminais que são sensíveis aos
andrógenos. As células luminais andrógeno-sensíveis produzem dois compostos
muito importantes: as enzimas/glicoproteínas PSA (antígeno prostático específico) e
fosfatase ácida prostática. Ainda, as células neuroendócrinas, através da secreção de
mediadores (somatostatina, calcitonina e neurotensina) possuem função regulatória
(ROEHRBORN; MC CONNELL, 2002).
Além da porção epitelial, a próstata é composta por uma porção estromal. O estroma
pode ser definido como um tecido conjuntivo vascularizado que fornece condições
nutritivas e de sustentação ao órgão ou glândula ou, ainda, a estruturas que conferem
um estado “anormal” como o tumor maligno. Esta estrutura (estroma) é composta
por inúmeros tipos de células aderidas a uma matriz de diversos tipos de colágeno e
glicoproteínas. São predominantes as células fibroblásticas e as células musculares
lisas, além de serem encontradas células andrógeno-sensíveis e células nervosas.
Após seu crescimento fisiológico até a fase adulta, a próstata encontra-se em uma fase
de manutenção, em que há crescimento de 1 a 2% por dia, com o intuito de “reposição”
das células que passaram pelo processo de apoptose. Assim, quando o crescimento
prostático perde a característica ordenada e regulada, ou mesmo quando esta reposição
celular é prejudicada, pode-se instalar um quadro de Neoplasia Prostática Benigna
(NPB) (KYPRIANOU, 2003; PINTO, 2011; SHARIAT et al., 2005) ou um crescimento
maligno, a Neoplasia Prostática Maligna (NPM), popularmente conhecida como Câncer
de Próstata (CP).
95
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Figura 35. Nesta ilustração, está descrita a classificação anatômica zonal da próstata, que foi postulada na
década de 1970. Observamos, então, a localização específica da zona de transição, zona central e zona
O único fator de risco mais bem esclarecido para ocorrência de câncer de próstata é a
idade (GONÇALVES; PADOVANI; POPIM, 2008). Estima-se que, aproximadamente
62% dos casos de homens com este tipo de câncer ocorre em idade de 65 anos ou mais.
Neste sentido, devido à elevação da expectativa de vida, acredita-se que o número de
casos de câncer de próstata aumente progressivamente, considerando o cálculo de
acréscimo de 60% até o final de 2015.
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
A prevalência de NPB ocorre cerca de 20% em homens com idade entre 41 e 50 anos,
50% em homens entre 51 e 60 anos de idade e cerca de 90% em homens com idade a
partir de 80 anos (CHUTE et al., 1993; ZIADA; ROSENBLUM; CRAWFORD, 1999;
WROCLAWSKI, DAMIÃO; ORTIZ, 2003). Neste sentido, se pensarmos que a tendência
é de um aumento da longevidade, podemos entender que haverá, cada vez mais, uma
maior importância epidemiológica a NPB.
Quadro 15. Descrição dos principais sintomas do trato urinário inferior e suas características.
Retenção urinária aguda É o evento final da obstrução crônica causada pela NPB.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Esta doença também está relacionada com a localização geográfica. Há relatos de que
o Canadá, Jamaica, Estados Unidos da América (destacando-se os afro-americanos) e
da Europa (principalmente em países nórdicos) possuem a maior incidência de CP no
mundo, entretanto, em países do Extremo Oriente (Japão e China), a frequência do
problema é de 6 a 25 vezes menor (REIS et al., 2006; SROUGI et al., 2008).
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Figura 36. Classificação de Gleason para avaliar o grau de diferenciação histológico das neoplasias prostáticas.
Para um maior grau de diferenciação, com aspecto mais uniforme, utiliza-se a menor pontuação (1), no entanto,
para sinalizar menor grau de diferenciação, com células apresentando aspecto de folhas, utiliza-se a maior
pontuação (5).
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Neoplasias de bexiga
A bexiga é uma bolsa que funciona como um reservatório de urina. O fluxo de urina
chega por meio de uma estrutura denominada de ureter que transforma de característica
contínua para emissão periódica (que seria o ato de micção). Em um indivíduos
adulto, quando está vazia, se achata e, quando cheia, toma forma ovoide, induzindo
certa saliência na cavidade abdominal. No feto e no recém-nascido, este órgão ocupa
posição abdominal e atinge a região pélvica na fase de puberdade. Possui estruturas
musculares com disposição complexa. Estas estruturas, bem como o esfíncter muscular
são responsáveis pelo controle da micção.
Figura 37. Principais características e modificações nas estruturas da bexiga durante o armazenamento e durante
o ato de micção.
As neoplasias que acometem a bexiga têm como principal fator de risco o consumo de
tabaco. Aproximadamente 66% dos novos casos em homens e 30% em mulheres, em
100
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II
Esta relação (fumo e câncer de bexiga) é devido à presença de aminas aromáticas (são
compostos orgânicos derivados da amônia, capazes de ativas proto-oncogenes) na
fumaça do cigarro. Além disso, trabalhadores de indústria que envolvem exposição a
aminas aromáticas (por exemplo, o benzeno) possuem maior risco para desenvolvimento
desta neoplasia, bem como ocorre em outras ocupações, como o pintor, cabeleireiro,
barbeiro e trabalhador de refinaria, por exemplo, os quais ficam expostos a certa
variedade de produtos químicos carcinogênicos.
Neoplasias pediátricas
Cerca de 30% da população brasileira é composta por crianças e adolescentes com menos
de 19 anos de idade. Em alguns países em desenvolvimento, nos quais a população de
crianças chega a 50%, a proporção do câncer infantil representa de 3 a 10% do total de
neoplasias. Entretanto, analisando os países desenvolvidos, essa proporção diminui,
atingindo cerca de 1%.
101
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER
Bom trabalho!!!
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BASES GENÉTICAS E
MOLECULARES DO UNIDADE III
CÂNCER
CAPÍTULO 1
Interações genéticas e moleculares do
câncer
Introdução
Os genes localizam-se nas moléculas de DNA, no núcleo da célula e, cada um deles
especificam sequências de aminoácidos, os quais se combinam para formar ou codificar
determinada proteína. Neste sentido, dizemos que determinada proteína realiza o
efeito biológico de um gene específico e isso ocorre da seguinte forma: quando o gene é
ativado, a célula responde sintetizando a proteína por ele codificada.
Poucos dos principais agentes carcinogênicos possuem ação direta no DNA. Dentre
os carcinógenos, muitos são inertes e passam a ser mais reativos após sofrerem
modificações por processos fisiológicos, que ocorre por um conjunto de enzimas
intracelulares, denominadas de “oxidases do citocromo p-450”.
Aproximadamente 15% dos tipos de cânceres humanos, a nível mundial, são decorrentes
de mecanismos que envolvem a participação de bactérias, parasitas ou vírus. No caso
dos vírus, é muito difícil definir qual seu papel central no desenvolvimento do câncer.
Vimos ao longo da apostila que muitas neoplasias têm como agente/fator de risco, uma
infecção viral. Veja na imagem figura 38.
Os vírus mais associados com a carcinogênese são aqueles denominados vírus de DNA,
os quais são carregadores de genes que podem desorientar o controle do processo de
divisão celular das células do hospedeiro, gerando, então, um processo de proliferação
descontrolado. Ainda, existem infecções por parasitas e bactérias que também podem
estimular a carcinogênese, como é o caso da Helicobacter pylori, bactéria relacionada
ao câncer de estômago, conforme estudado na apostila.
104
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER │ UNIDADE III
Figura 38. Os principais vírus que afetam moléculas de DNA e RNA que predispõem o paciente ao
desenvolvimento do câncer.
Vírus de RNA
Família dos retrovírus: Leucemia/Linfoma da célula T adulta. Japão, Antilhas
»» Vírus da leucemia das células T humanas Sarcoma de Kaposi. Países do Sul e do Centro da África.
tipo 1 (HTLV-1).
»» Vírus da imunodeficiência humana (HIV, o
vírus da AIDS).
Família dos flavivírus: Câncer de fígado (carcinoma hepatocelular). Universal.
»» Vírus da hepatite C.
Fonte: Adaptado de Alberts et al, 2010.
Neste sentido, podemos perceber que muitos são os fatores que auxiliam no
“acúmulo” de alterações genéticas que podem predispor a ocorrência do câncer.
Devido a isso, para melhor compreender as alterações moleculares desta doença,
alguns genes vem sendo bastante investigados como principais alvos das alterações.
Conforme estudamos nas unidades e capítulos anteriores, são duas as classes de
genes responsáveis pelo desenvolvimento do processo neoplásico: proto-onocogenes
e os anti-oncogenes.
105
UNIDADE III │ BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER
O ciclo celular é composto por 4 estágios, ou fases, e cada um deles é caracterizado por
eventos específicos. Na fase G1, (gap 1 = interfase) a célula é estimulada a aumentar
seu tamanho e duplicar suas organelas citoplasmáticas, se preparando para a próxima
etapa. Em seguida, ocorre a duplicação de DNA (cópia), denominando a fase S (síntese),
a qual permite que a célula duplique seus cromossomos de forma precisa. Em outra
fase, a G2 (gap 2), a célula continua crescendo e se desenvolvendo; multiplica seus
componentes enzimáticos para que esteja preparada para a próxima fase, a mitótica,
a qual é denominada fase M. Nesta última fase (fase M), a célula-mãe, aumentada,
finalmente sofre mitose, produzindo duas células-filhas com o mesmo número de
cromossomos. Estas células-filhas iniciarão, portanto, a fase G1 e, o ciclo celular se
reinicia (RIVOIRE et al., 2001).
Figura 39. Representação esquemática do ciclo celular, mostrando as fases nas quais a célula se prepara para
se replicar.
O ciclo é iniciado pela fase G1, onde a célula duplica suas organelas citoplasmáticas e
prossegue para a próxima etapa, que é a fase S; nesta fase, o DNA é duplicado e a célula
segue para a fase G2, onde continua em crescimento, duplicando seus componentes
enzimáticos, por exemplo, para que finalmente chegue na fase M, onde ocorrerá a
mitose, originando duas células-filhas idêntica a célula-mãe, as quais entrarão no ciclo
e passarão pelas mesmas fases.
106
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER
O gene Ras foi o primeiro proto-oncogene descoberto, o qual se encontra mutado uma
vez a cada cinco cânceres humanos. Os membros da família de genes Ras (H-Ras;
K-Ras e N-Ras) codificam proteínas que transduzem sinais mitogênicos (que estimulam
mitose/replicação). O oncogene Ras apresenta mutações pontuais que geram proteínas
Ras hiperativas. Estima-se que 30% de todos os tumores humanos e mais de 95% das
neoplasias malignas de pâncreas decorram de mutações do gene K-Ras.
Esta “transmissão” pode ocorrer de uma geração para outra ou pela herança autossômica
dominante (na qual é necessária apenas uma cópia do gene mutado para que a pessoa
desenvolva a doença).
108
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER │ UNIDADE III
Quanto ao câncer gástrico, estudos têm evidenciado que uma família de moléculas
relacionada ao processo de adesão celular, as caderinas, possam apresentar relação ao
desenvolvimento de adenocarcinoma gástrico. Acredita-se que mutações do gene da
E-caderina-1 (um subtipo de molécula caderina), CDH1, ocorra com frequência nesta
doença com caráter hereditário.
Outro tipo de câncer que pode ocorrer em caráter hereditário é o de cólon e reto. Apesar
de a ocorrência esporádica ser maior (cerca de 60% dos casos) do que por herança
familiar (cerca de 20% dos casos), muitos estudos investigam os genes relacionados
ao seu desenvolvimento. A síndrome de câncer colorretal hereditária pode apresentar
quatro classificações: polipose adenomatosa familiar; polipose familiar juvenil;
síndrome de Peutz-Jegher e não polipose (ou síndrome de Lynch).
O gene APC é regulador de uma proteína denominada β-catenina, que tem função
relacionada à adesão celular e, além disso, também participa da regulação de processos
relacionados à divisão celular, migração celular e morte celular.
Mulheres que apresentam mutações no gene BRCA1 possuem 87% de chances para
desenvolvimento de carcinoma de mama, além de 40 a 60% de chance de desenvolver
carcinoma de ovário durante toda a vida e 65% de chance de desenvolvimento de
carcinoma de mama após os 70 anos. Ainda, mutações no gene BRCA2 levam a 85% de
chance para o desenvolvimento de carcinoma de mama por toda a vida. Quanto ao
câncer de ovários, são detectados em 90% dos hereditários desta doença são constatadas
mutações dos genes BRCA1/2. Entre 42 e 48 anos o câncer de ovário hereditário pode ser
diagnosticado e, os casos esporádicos decorrem em idade próxima aos 60 anos e nestes
casos, muitos estudos tem mostrado a influência destes genes na doença (DANTAS et
al, 2009).
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UNIDADE III │ BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER
Tente pesquisar diferentes genes que possam estar relacionados com a ocorrência
de neoplasias e que não foram mencionados na apostila. É um assunto bastante
interessante e, também, pode te auxiliar na escolha de um tema para seu TCC!!!
<https://www.youtube.com/watch?v=gG7uCskUOrA>
<https://www.youtube.com/watch?v=JcZQkmooyPk>
<https://www.youtube.com/watch?v=jjfYQMW_nek>
<https://www.youtube.com/watch?v=8VSgOeJy4dQ>
<https://www.youtube.com/watch?v=bdWRZd19swg>
<https://www.youtube.com/watch?v=Ep_nCSEDeAE>
110
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