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Fisiopatologia dos Diferentes Cânceres

Brasília-DF.
Elaboração

Luciana Tocci Belpiede

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO....................................................................... 19

CAPÍTULO 1
EPIDEMIOLOGIA DAS NEOPLASIAS........................................................................................... 19

UNIDADE II
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER...................................................................... 27

CAPÍTULO 1
PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES E CARACTERÍSTICAS DO CÂNCER............................................... 27

CAPÍTULO 2
FISIOPATOLOGIA DE DIFERENTES TIPOS DE CÂNCER................................................................. 40

UNIDADE III
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER............................................................................... 103

CAPÍTULO 1
INTERAÇÕES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER........................................................ 103

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 111
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Iniciaremos nosso estudo com um painel de definições de algumas sentenças importantes
utilizadas no conteúdo abordado na apostila, além da contextualização do que é câncer,
descritos nos próximos tópicos.

Serão demonstradas as taxas de incidência dos principais tipos de neoplasias e as


principais regiões do Brasil e do mundo acometidas por essa ocorrência.

Estudaremos, também, as principais características relacionadas ao desenvolvimento


de neoplasias nos diferentes sistemas fisiológicos, bem como os fatores de risco para
seu desenvolvimento.

Ainda, discutiremos aspectos moleculares e expressão gênica relacionados às neoplasias,


bem como compararemos a genética familiar envolvida e identificaremos os principais
genes envolvidos nesse processo.

É importante entender que os sistemas fisiológicos, quando acometidos pelo


desenvolvimento neoplásico, desenvolvem-se de maneiras distintas e apresentam
características peculiares. Nesse sentido, para que possamos compreender ou prescrever
qualquer tipo de intervenção ao paciente em oncologia, é necessário entender quais
mecanismos e regulações estão envolvidas.

Portanto, o estudo da fisiopatologia de diferentes tipos de câncer é fundamental para


todos os profissionais envolvidos no cuidado do paciente com neoplasia.

Painel de definições
Nesta disciplina, vamos abordar os aspectos fisiopatológicos dos diferentes tipos de
câncer. Neste momento, acompanharemos um painel de definições para enfatizar
algumas denominações de suma importância e que serão abordadas ao longo do
conteúdo da apostila. Em seguida, haverá uma breve introdução sobre o conteúdo para
facilitar a compreensão do tema.

O termo fisiologia é utilizado para mencionar o estudo das funções do organismo


ou estudo das funções de determinado sistema. Assim, quando nos referimos à
fisiologia cardiovascular, estamos caracterizando o estudo das funções do sistema
cardiovascular.

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Quanto ao termo “patologia”, refere-se ao “estudo das doenças” ou ao “estudo de
determinada doença” em questão. Neste sentido, para falarmos sobre algum aspecto
da doença, devemos dizer “doença” e não “patologia”. Podemos defini-la da seguinte
forma: A doença é caracterizada por um quadro em que há alterações morfológicas
(alterações na estrutura e forma das células) ou funcionais (alterações na função das
células). Normalmente, as duas alterações costumam ocorrer ao mesmo tempo, então,
chamamos de alterações morfofuncionais.

O termo etiologia indica o estudo da causa da doença e pode se dar por fatores intrínsecos
(do próprio organismo) ou extrínsecos (adquiridos pelo ambiente, por exemplo, pela
dieta). Quanto aos fatores intrínsecos, podemos destacar as alterações genéticas e as
doenças autoimunes; já os fatores extrínsecos, destacam-se os vírus, bactérias, falta de
oxigênio entre outros. A etiologia da gripe e da AIDS, por exemplo, é uma infecção viral.

Patogenia é o termo que designa a forma de descrição do que ocorre desde a causa até
o aparecimento final da doença. Percebe-se quais são as alterações que foram sofridas
devido ao estímulo ocorrido. A patogenia da AIDS relaciona-se a destruição e redução
do número de linfócitos TCD4. O sinal da doença refere-se a alterações visíveis que a
caracteriza.

Nas definições estatísticas das doenças, são utilizados alguns termos que nem sempre
possuem definição esclarecida aos leitores. O termo epidemiologia designa a ciência que
estuda quantitativamente a distribuição dos fenômenos de saúde/doença e os fatores
que influenciam sua existência, em outras palavras, estuda a frequência, a distribuição
e os determinantes do estado de saúde/doença.

A incidência também é bastante utilizada nos estudos em estatística e epidemiologia


e caracteriza a ocorrência (números ou proporção) de novos casos da doença em
uma determinada população, em certo período de tempo. Em contrapartida, o termo
prevalência designa o número ou proporção total de casos existentes da doença, em
determinada população em um intervalo específico de tempo. Assim, a diferença seria:
a incidência se refere a novos casos da doença e a prevalência descreve o total de casos
existentes da doença.

Para o estudo das neoplasias, é bastante abordado o estadiamento da doença. Este


termo, também conhecido como estágios do câncer, tenta demonstrar a dimensão do
acometimento do câncer pelo corpo, ou seja, o quanto o câncer já se espalhou pelas
regiões do corpo. Para isso, a classificação em estágio leva em consideração o tamanho
do tumor, qual a profundidade de penetração do mesmo, se já houve invasão de tecidos
adjacentes, quantos linfonodos entraram em metástase e se se espalhou para tecidos
distantes, entre outros aspectos que veremos mais adiante.

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Outro termo bastante abordado nas áreas da saúde é o prognóstico da doença, o qual
indica uma predição médica de como ficará a relação entre a doença e o paciente,
ou, como esta relação se encontrará com o desenvolvimento da doença e quais as
possibilidades de cura.

Contextualizando o câncer

A todo o tempo, nossas células recebem estímulos “exógenos” (do ambiente), como
temperatura, pressão, nutrientes ou “endógenos” (do próprio organismo), como
hormônios. No caso destes estímulos, ocorrerem com frequência e intensidade
“normais”, as células estarão em homeostase (equilíbrio), sem que se instale o estado
de doença. Vale lembrar que estes estímulos recebidos pelas células também estão
relacionados com a ingestão de nutrientes, pela dieta.

No entanto, podem ocorrer estímulos com características diferentes do fisiológico e,


neste caso, quando apresentarem baixa intensidade, a célula terá a capacidade de se
adaptar (o que chamamos de adaptação celular), mas, no caso de um estímulo excessivo,
haverão lesões celulares que poderão ser reversíveis (quando há melhora das lesões,
caso os estímulos sejam retirados) ou irreversíveis (quando esta melhora não é possível
e, então, ocorre morte celular).

Tanto a intensidade do estímulo quanto o tipo de célula que o recebe são muito
importantes para entender se há ou não adaptação. Seguem alguns exemplos:

»» Tomar sol durante 2 horas/dia nas férias: considerado um estímulo leve


em que a célula produz melanina e realiza a adaptação celular.

»» Tomar muito sol: considerado um estímulo excessivo em que não há


adaptação, resultando em morte celular e descamação da pele.

Assim, as adaptações celulares são as respostas dos tecidos a estímulos patológicos ou


fisiológicos. Para preservação das células, ocorrem algumas modificações, para que
ela possa continuar viva. Essas adaptações/modificações podem ser de crescimento
(hiperplasia, hipertrofia, atrofia, metaplasia e displasia) ou por acúmulos intracelulares
(água, gordura, pigmentos, hialina).

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Resposta a estímulos por adaptações celulares

Figura 1.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A figura 1 mostra os tipos de adaptações celulares realizadas após a recepção de um


estímulo diferente do normal. Estas adaptações celulares são respostas relacionadas
com o tamanho da célula, tais como hiperplasia, hipertrofia, atrofia; ou relacionadas ao
fenótipo e função da célula, tais como metaplasia e displasia. Acompanhe mais detalhes
de cada um destes processos no texto abaixo.

Hiperplasia

Na hiperplasia, há o aumento no número de células, o que pode levar a um aumento no


volume do órgão. Este processo ocorre, apenas, em células que possuem a capacidade
de se dividir e nem sempre é de origem patológica e relacionada às doenças.

A hiperplasia, quando de origem fisiológica, pode ocorrer pelos seguintes estímulos:

a. Hiperplasia por estímulo hormonal: ocorre quando a etiologia da


hiperplasia for hormonal, por exemplo, no caso do útero gravídeo
→ durante a segunda fase do ciclo menstrual, ocorre o aumento da
camada mais interna do útero (endométrio) devido à ação de estrógenos
(hormônios). Estas células novas, após o parto, morrem e a estrutura
uterina volta ao normal. Outro exemplo de hiperplasia por ação hormonal é
referente ao crescimento das mamas durante a adolescência, que, também,
está relacionado à secreção de hormônios (estrógenos, por exemplo).

b. Hiperplasia por estímulo compensatório: este tipo de hiperplasia ocorre,


por exemplo, no caso da perda de órgãos (fígado e intestino) → como forma

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compensatória, a geração de novas células é induzida. Outro exemplo é o
caso da dificuldade de defecação, em que pode haver descamação, mas o
organismo compensa este quadro por meio da hiperplasia celular.

Já a hiperplasia patológica pode ocorrer pelas seguintes causas:

a. Hiperplasia por estimulação hormonal excessiva: é o que ocorre com o


excesso de GH (hormônio de crescimento), em indivíduos adultos → na
fase adulta, o GH é liberado durante o sono ou após a prática de atividade
física em determinada concentração e frequência, mas se este estímulo
for exacerbado, pode estimular uma hiperplasia patológica.

b. Hiperplasia induzida por fatores de trauma: ocorre quando se traumatiza


muito o mesmo local, estimulando, então, a geração de novas células.

c. Hiperplasia por infecções: nestes casos, no local da infecção, há formações


de verrugas sinalizando o processo de hiperplasia.

d. Hiperplasia induzida por cicatrização: para que o processo de cicatrização


ocorra de forma adequada, há estímulo para o processo de hiperplasia.

Quando há hiperplasia, aumenta-se o risco de neoplasias (tumor benigno ou maligno).


A grande maioria dos tumores ocorre quando há erro na divisão celular e, como na
hiperplasia há divisão celular, este risco está presente durante esse tipo de adaptação
celular. Assim, alguns locais do corpo se destacam por existir maior prevalência de
tumores, como por exemplo, no útero, intestino ou mamas.

Hipertrofia

A hipertrofia é caracterizada pelo aumento de tamanho das células, havendo sempre


aumento do órgão em questão. Isso ocorre pela síntese/produção aumentada dos
componentes de sua estrutura (por exemplo, mitocôndrias, Complexo de Golgi, entre
outros).

É causada quando se exige mais de um órgão (como na prática de musculação → quando


há elevação no número de filamentos de actina-miosina, aumentando o tamanho da
célula) ou pode ocorrer por estímulo hormonal.

Por exemplo, as células musculares da perna de um corredor, possui maior número


de mitocôndrias e as células possuem tamanho aumentado. As células musculares da
perna de um aterofilista possuem maior número de filamentos actina-miosina.

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Atrofia

A atrofia é caracterizada pela diminuição do tamanho das células, havendo redução do


tamanho do órgão. É o contrário da hipertrofia, havendo perda de substância celular
(como, por exemplo, a redução de filamentos actina-miosina).

Pode ser fisiológica, em que ocorre comumente na embriogênese e no envelhecimento.


Por exemplo, no idoso, há atrofia das papilas gustativas, resultando em redução do
paladar. No entanto, a atrofia também pode ser patológica, sendo causada pela redução
na carga de trabalho do órgão (por exemplo, quando não se ingere água, há redução dos
glomérulos → o órgão percebe que está em desuso).

Existem alguns aspectos que estão relacionados a este tipo de adaptação celular:

»» Desnervação (perda do nervo).

»» Isquemia (falta de sangue no local).

»» Desnutrição (falta de nutrientes, falta de energia, a célula “elimina” seus


componentes para reduzir o consumo de energia).

»» Pressão (quando uma área é pressionada por muito tempo).

»» Perda de estímulo endócrino (quando não há mais estímulo hormonal).

Metaplasia

Ocorre substituição de um tipo celular adulto por outro tipo celular adulto. Este tipo
de adaptação celular pode ocorrer, por exemplo, quando há irritação crônica do trato
respiratório, com substituição das células colunares por células escamosas (o que pode
aumentar a prevalência de neoplasias), já que estas células produzem queratina que
protege o trato respiratório da fumaça do cigarro. Assim, este tipo de metaplasia faz
com que haja queratinização (como forma de proteção) das papilas gustativas e há
perda de paladar.

Portanto, se há troca de um tipo celular por outro, como ocorre na metaplasia, também
haverá divisão celular e maior risco para ocorrência de neoplasias.

Displasia

A displasia é caracterizada pela modificação do fenótipo celular de um tecido. É a


substituição de um tipo celular adulto por células anormais. Este tipo de adaptação

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celular é o que mais aumenta a probabilidade de neoplasias. De um modo geral, só é
possível saber que houve displasia, após realização de uma biópsia.

Resposta a estímulos por lesões celulares

Lesões reversíveis

Nas lesões reversíveis, ocorrem alterações do metabolismo celular e, devido a estas


alterações, há acúmulo intracelular de metabólitos tóxicos. Nem todas as lesões são
revertidas e nem todas as lesões que são revertidas, ocorrem da mesma maneira.
Existem diferentes graus de reversibilidade, que dependerão de alguns fatores que
serão mencionados a seguir:

Grau de reversibilidade:

1. Célula que foi lesada: algumas células se recuperam mais rapidamente


do que outras. Se houver infecção viral no intestino, há recuperação mais
rápida do que no fígado, por exemplo.

2. Intensidade do estímulo: quanto mais intenso o estímulo, mais difícil de


revertê-lo. Por exemplo, a catapora: quanto maior o estímulo, mais lenta
será a reversibilidade;

3. Frequência do estímulo: quanto mais vezes as lesões ocorrem, mais difícil


de serem revertidas. Muitas vezes, a lesão pode não se reverter e, então,
ela se torna irreversível, dependendo destes três fatores citados.

Assim, quando há um estímulo na célula respondido por meio de lesão e, se esta lesão for
do tipo reversível, a célula pode responder pelo processo de degeneração ou infiltração.

A degeneração é caracterizada pela produção de metabólitos pela própria célula, os


quais não podem ser eliminados devido à lentificação das reações químicas decorrentes
de alterações no metabolismo celular e, assim, estes metabólicos tornam-se tóxicos e
pioram a lesão da célula.

A infiltração ocorre pelo acúmulo de metabólitos produzidos por outras células.


Haverá excesso destes metabólitos na circulação sanguínea e estes entrarão nas células
e se acumularão em seu interior. Em uma célula não lesada, pode haver entrada dos
metabólitos que estão em excesso e a célula é capaz de eliminá-los ou não, dependendo
da intensidade e frequência.

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Figura 2.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A lesão celular reversível é caracterizada por alterações no metabolismo celular;


lentificação das reações químicas que, comumente, ocorriam na célula e acúmulo de
metabólitos tóxicos. Este acúmulo de metabólitos tóxicos acaba por piorar a lesão e
o metabolismo celular. Quando ocorre o acúmulo dos metabólitos tóxicos, o que
caracteriza a infiltração, estes podem alcançar a circulação sanguínea e atingir as células
pelo processo de infiltração; ou, conforme mencionado na figura anterior, este acúmulo
pode piorar a lesão e estimular o processo de degeneração celular.

Dentre os metabólitos tóxicos, destacam-se: lipídeos ectópicos (lipídeos localizados


fora das células adiposas), ácido úrico, radicais livres.

Lesões irreversíveis

Ocorre morte celular e interrupção total do metabolismo celular. Este processo de


morte celular pode ocorrer por dois processos: apoptose ou necrose.

Figura 3.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

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A figura acima ilustra os tipos de lesões irreversíveis que podem ocorrer na célula que
recebeu o estímulo. São elas: necrose ou apoptose. Ambas indicam a morte celular, no
entanto, não ocorrem de forma semelhante.

A necrose é a morte acidental de uma célula. Ela morre “fora da hora” que deveria
ocorrer. O estímulo é sempre patológico. Não existe necrose fisiológica. Estes estímulos
podem ocorrer por agentes físicos, tais como temperatura, pressão, radiação; por
agentes químicos, tais como álcool (pode causar morte instantânea → há rompimento
da membrana da célula), medicamentos (por exemplo, a quimioterapia → que tem
por objetivo a necrose), inseticidas ou por agentes biológicos e pela falta ou excesso de
oxigênio:

»» Hipóxia: há falta de oxigênio (quando há isquemia, haverá hipóxia no


local), mas pode haver hipóxia sem haver isquemia.

»» Excesso de oxigênio: esse excesso pode ser encontrado em câmaras


específicas com grande volume de oxigênio (câmaras hiperbáricas) e isso
ajuda a lesar ainda mais uma célula já lesada para indução de necrose,
seguida de regeneração.

A célula em necrose é caracterizada pelos seguintes eventos (ocorre tudo ao mesmo


tempo): acidez citoplasmática (acúmulo de ácido láctico); produção de enzimas
digestivas (produzidas pela própria célula que está morrendo, autólise; ou por células
imunes, heterólise) → estes eventos induzem a degeneração de organelas e do núcleo,
desnaturação de proteínas e lise da membrana celular. Destes processos, resultará o
“resto” celular, denominados restos necróticos. A célula que morreu será retirada por
macrófagos que fagocitarão estes restos.

A apoptose é caracterizada por uma morte celular programada (morte programada no


código genético da célula). As células da pele vivem em média uma semana, depois
deste período entram em apoptose. Normalmente, a apoptose é um processo fisiológico
e ocorre para as seguintes funções:

»» Renovação celular: auxilia na renovação das células; com o passar do


tempo elas diminuem seu funcionamento; por exemplo, a menstruação:
as células morrem por apoptose para que venham células novas.

»» Controle do sistema imunológico: infecção bacteriana → as células do


sistema imunológico combatem bactérias; as células imunes morrem
(após determinado tempo de vida) para renovação; cada célula possui
determinado tempo de vida e esse é mais um motivo para renovação de
vacinas.

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»» Prevenção do aparecimento de tumores: conforme a célula se divide e
origina uma célula “imprópria”, esta célula terá o gene recebido que a
caracteriza como “imprópria” e, então, ela entra em processo de apoptose
celular, evitando transtornos futuros.

A apoptose pode ser causada por estímulos patológicos (por exemplo a hepatite C).
É considerado um processo mais organizado do que a necrose. Caracteriza-se pela
condensação do núcleo e das organelas; fragmentação celular sem que haja rompimento
da membrana (como se ela se dividisse em pequenos pedaços); formação de corpos
apoptóticos; fagocitose dos corpos apoptóticos e retirada dos tecidos.

Tanto com necrose quanto com apoptose, elimina-se células mortas e o espaço que era
ocupado por estas células fica vazio e, então, pode ocorrer um processo de recuperação
tecidual.

No quadro 1, estão descritos os processos de reparação tecidual que ocorrem após a


morte de uma célula, seja por necrose ou por apoptose. A reparação tecidual ocorre por
regeneração ou cicatrização. Veja a descrição abaixo:

Quadro 1.

Reparação tecidual
Ocorre após morte de uma célula, por meio da necrose ou apoptose. Este processo se dá de duas formas:
A célula que morreu é substituída por outra célula igual, não lesada. Na maioria dos casos, ocorre após
Regeneração
apoptose.
A célula morta é substituída por tecido fibroso, em especial por fibras colágenas. Geralmente, ocorre após
Cicatrização necrose. Esse processo atrapalha a função do órgão. Com infarto, as células do coração morrem e são
substituídas por colágeno.

Figura 4.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A figura 4 mostra a diferença entre os processos de apoptose e necrose. Na apoptose,


há formação de corpos apoptóticos, há condensação do núcleo e das organelas,
fragmentação celular sem que haja rompimento da membrana (como se ela se dividisse

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em pequenos pedaços) e os corpos apoptóticos são fagocitados e retirados do tecido.
Já no processo de necrose, há acidez citoplasmática, produção de enzimas digestivas
e estes eventos induzem a degeneração de organelas e do núcleo, desnaturação de
proteínas e lise da membrana celular.

Após a leitura da introdução da apostila, você deve ter percebido que existem
diversos tipos de processos que ocorrem no metabolismo celular e que cada um
dele possui uma definição e uma característica peculiar.

Com base nestes conceitos estudados, tente elaborar uma espécie de mapa
conceitual agrupando todas estas informações estudadas pelos esquemas com
palavras-chave, setas, símbolos etc.

Caso tenha interesse, leia um pouco mais sobre mapas conceituais em:

<http://www5.usp.br/40901/mapas-conceituais-organizam-conhecimento-e-
favorecem-aprendizagem/>.

Vídeo sobre biologia do câncer:

<https://www.youtube.com/watch?v=jjfYQMW_nek>.

<https://www.youtube.com/watch?v=8VSgOeJy4dQ>.

<https://www.youtube.com/watch?v=bdWRZd19swg>.

<https://www.youtube.com/watch?v=Ep_nCSEDeAE>.

Objetivos
»» Auxiliar na compreensão da fisiologia dos sistemas mais acometidos por
processos neoplásicos.

»» Incentivar a busca de textos científicos e aprimoramento de informações


e conhecimento.

»» Conhecer aspectos moleculares envolvidos com o desenvolvimento do


câncer, relacionados à expressão gênica.

»» Indicar a relação da genética familiar envolvida como fator de risco para


o desenvolvimento do câncer e quais os principais genes envolvidos neste
processo.

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18
EPIDEMIOLOGIA DO
CÂNCER NO BRASIL E UNIDADE I
NO MUNDO

CAPÍTULO 1
Epidemiologia das neoplasias

Para a classificação estatística e estimativa de incidência dos casos de câncer no Brasil


e no mundo, não foram contabilizados os tumores de pele não melanoma (mas serão
apresentados suas taxas de incidência também neste capítulo). As informações a seguir
foram estimadas e registradas pelo Instituto Nacional do Câncer, por meio de um
levantamento epidemiológico que prediz as taxas de incidências dos tipos de cânceres
citados, entre o ano de 2014 e 2015.

Neoplasias de células sanguíneas

No Brasil, para o período do estudo, são esperados cerca de 5 mil novos casos de leucemia
entre homens e 4 mil novos casos entre as mulheres. Na região Norte, este tipo de
câncer é considerada o quinto mais frequente entre os homens (aproximadamente 3,57
novos casos a cada 100 mil homens) e é o oitavo no Nordeste (4,15/100 mil) e ocupa a
10a posição nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (aproximadamente 8,13;
5,42 e 4,14/100 mil, respectivamente).

No caso das mulheres, é o sétimo mais frequente na região Norte (2,81/100 mil), oitavo
no Sul (6,30/100 mil), 10o no Nordeste (3,40/100 mil) e o 11o na regiões Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil (4,5 e 3,41/100 mil, respectivamente).

Quanto à frequência mundial e o índice de sobrevivência da doença, na população


masculina, as taxa de sobrevida no Japão, América do Sul, Índia e Tailândia são menores
(25, 24, 19 e 15%, respectivamente) quando comparadas às dos Estados Unidos e da
Europa Ocidental (aproximadamente 43%). Esse perfil, possivelmente, decorre do
diferente acesso ao tratamento para a doença.

19
UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO

Neoplasia de tecido linfoide

As neoplasias de tecido linfoide, conhecidas como linfomas, são classificadas em dois


grandes grupos: linfoma não Hodgkin e linfoma Hodgkin, conforme detalhado mais
adiante.

Para o tipo não Hodgkin, são esperados cerca de 4.940 novos casos em homens e 4.850
em mulheres. Em homens, esta neoplasia está em nono lugar no Norte e Sudeste do
Brasil (2,23 e 6,21/100 mil, respectivamente), em 11o no Sul e Nordeste (6,90 e 3,43/100
mil, respectivamente) e o 12o na região Centro-Oeste do Brasil (4,08/100 mil). Para as
mulheres, é considerado o oitavo mais frequente na região Sudeste (6,47/100 mil), o
10o na região Centro-Oeste (4,14/100 mil mulheres), o 11o no Nordeste (2,84/100 mil) e
o 12o no Sul e Norte (5,61 e 1,52/100 mil, respectivamente).

Foram estimados cerca de 390 mil novos casos e 199 mil óbitos por esta neoplasia no
mundo, em 2012. As mais altas taxas de incidência estão relacionadas à América do Norte,
Austrália/Nova Zelândia e alguns locais da Europa. Entretanto, na África (com exceção
do linfoma de Burkitt – subtipo do linfoma não Hodgkin; vírus da imunodeficiência
humana – HIV) estão as mais baixas taxas. Na maioria dos países desenvolvidos, houve
aumento nas taxas de incidência (durante a década de 1990), com aumento de cerca
de 4% ao ano, o que pode ter ocorrido devido às melhorias nos procedimentos para
diagnósticos. Neste período, década de 1990, também houve aumento na ocorrência da
Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS), principalmente em homens brancos.

No caso do linfoma de Hodgkin, estima-se cerca de 1.300 novos casos em homens e


880 em mulheres. É considerado o tipo de 13o tipo de câncer mais frequente nas regiões
Centro-Oeste (2,10/100 mil), Sudeste (1,41/100 mil) e Norte (0,71/100 mil), sendo que
no Sul e Nordeste (1,78 e 0,78/100 mil, respectivamente) ocupa o 14o lugar. Entre as
mulheres, classifica-se como o 16o mais frequente no Sudeste, Sul e Norte (1,08; 1,03
e 0,46/100 mil, respectivamente) e como 17o no Centro-Oeste (0,72/100 mil) e no
Nordeste (0,48/100 mil).

A doença de Hodgkin possui padrão de incidência bastante variável entre as populações.


Em 2012, quando foi publicada a última estimativa mundial, foram relatados 659 mil
novos casos (385 mil em homens e 274 mil em mulheres) e 254 óbitos no mundo por
este tipo de câncer. São observadas as mais altas taxas de incidência na América do
Norte, regiões da Europa e Austrália/Nova Zelândia e, em países menos desenvolvidos,
estas taxas mostraram-se reduzidas.

20
EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO │ UNIDADE I

Neoplasias de Sistema Nervoso Central (SNC)


Quanto às neoplasias do SNC, são estimados cerca de 4.960 novos casos em homens
e 4.130 novos casos em mulheres. Apresenta-se como o oitavo tipo mais frequente em
homens, na região Norte do Brasil (2,39/100 mil), o nono nas regiões Sul, Centro-Oeste e
Nordeste (8,72; 4,24 e 3,91/100 mil, respectivamente) e o 10o na região Sudeste (5,28/100
mil). Para mulheres, é considerado o oitavo mais frequente na região Centro-Oeste
(4,64/100 mil), o 10o nas regiões Sudeste e Norte (4,60 e 1,90/100 mil respectivamente),
11o no Sul (5,90/100 mil) e 12o no Nordeste (2,72/100 mil).

O câncer do SNC representa 1,9% de todas as neoplasias malignas, no mundo. As


maiores taxas de incidência encontram-se nos países europeus, com sobrevida de
cerca de 5 anos. Durante as últimas décadas, as taxas de mortalidade do câncer de SNC
aumentaram na maioria dos países desenvolvidos, principalmente em indivíduos com
idade avançada. Tem-se acreditado que este aumento esteja relacionado à melhoria
de tecnologias para diagnóstico (tomografia computadorizada; ressonância magnética;
tomográfica por emissão de pósitrons).

Neoplasias de pele
Estimam-se cerca de 98.420 novos casos de câncer de pele não melanoma em homens
e 83.710 nas mulheres, no Brasil. O câncer de pele não melanoma é o tipo de câncer de
pele mais incidente em homens nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (159,51; 133,48
e 110,94/100 mil, respectivamente) e o segundo mais frequente no Nordeste e Norte
(40,37 e 28, 34/100 mil, respectivamente). Quanto às mulheres, é o mais frequente em
todas as regiões do Brasil: Sudeste (112,28/100 mil); Centro-Oeste (99,31/100 mil); Sul
(86,03/100 mil); Nordeste (24,73/100 mil) e Norte (24,73/100 mil).

O tipo melanoma é altamente letal, no entanto, apresenta reduzida taxa de incidência


(2.960 novos casos em homens e 2.930 em mulheres) e as maiores taxas encontram-se
na região Sul do Brasil, tanto para homens quanto para mulheres. Quanto à distribuição
mundial, costuma se apresentar em três principais formas: melanoma, carcinoma
basocelular e carcinoma espinocelular/epidermoide. Os dois últimos são conhecidos
como câncer de pele não melanoma e os três tipos são mais frequentes, principalmente
em populações de pele mais clara. Ainda, a exposição excessiva ao sol é fator principal
de risco para ambos os tipos de câncer de pele.

Neoplasias de tireoide

Serão cerca de 1.150 novos casos de câncer de tireoide em homens e 8.050 novos casos
em mulheres, entre 2014 e 2015, no Brasil. É considerado o 13o tipo de câncer mais

21
UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO

incidente em homens, na região Sul (3,43/100 mil) e Nordeste (1,29/100 mil) e o 14o
nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste (1,29; 0,65 e 0,43/100 mil, respectivamente).
Entre as mulheres, é o sexto mais incidente nas regiões Sudeste, Nordeste e Norte (7,89;
5,68 e 3,49/100 mil, respectivamente) e o nono mais frequente na região Centro-Oeste
(4,46/100 mil mulheres).

Este tipo de câncer é considerado raro na maior parte da população mundial e representa
de 2 a 5% do total de câncer em mulheres e menos do que 2% em homens. Na última
expectativa mundial, foram relatados 300 mil novos casos de câncer de tireoide, sendo
68 mil em homens e 230 mil em mulheres. Na maioria dos países, há crescimento lento
e contínuo das taxas de incidência desta neoplasia, correspondendo à aproximadamente
1% ao ano. Em publicação do Cancer Incidence in Five Continents, de uma análise
realizada no período de 1973 a 2002, houve aumento das taxas de incidência (em cinco
vezes) e queda nas taxas de mortalidade na maior parte das populações avaliadas, o que
provavelmente se relaciona à melhoria do tratamento da doença.

Neoplasias do sistema respiratório

Quanto ao câncer de pulmão, são esperados cerca de 16.400 novos casos em homens
e 10.930 novos casos em mulheres no período da análise. No Brasil, é classificado
como o segundo tipo de câncer mais frequente em homens na região Sul (33,62/100
mil) e, também, na região Centro-Oeste (14,03/100 mil) e o terceiro mais incidente no
Sudeste, Nordeste e Norte (18,51; 9,01 e 7,69/100 mil, respectivamente). Em mulheres,
é considerado o terceiro mais frequente no Sul (21,35/100 mil) e Sudeste (11,48/100
mil), o quarto no Centro-Oeste e Nordeste (8,49 e 6,40/100 mil, respectivamente) e o
quinto na região Norte (5,11/100 mil).

A ocorrência de câncer de pulmão passou a apresentar-se aumentada a partir do


século XX e este ritmo de crescimento/aumento vem sendo associado à exposição ao
tabagismo, anterior a este período. Dados sugerem que cerca de 80% dos casos de câncer
de pulmão estão associados ao tabagismo. Acredita-se que, em países industrializados,
de 5 a 10% dos casos desta doença sejam atribuídos à exposição a carcinógenos (o que
será discutido mais adiante).

O câncer de laringe, do ponto de vista mundial, é considerado o segundo tipo de câncer


mais comum do sistema respiratório e o mais comum entre os tipos de câncer de cabeça
e pescoço. Em 2012, foram contabilizados 160 mil novos casos por ano, no mundo, com
aproximadamente uma taxa de 83 mil óbitos por ano. Em países europeus, há declínio
na mortalidade por este tipo de câncer.

22
EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO │ UNIDADE I

No Brasil, são estimados cerca de 6.870 novos casos em homens e 770 em mulheres.
Entre os homens, este tipo de câncer é considerado o sexto mais incidente no Nordeste
(4,54/100 mil), o sétimo nas regiões Sul e Norte (9,21 e 2,70/100 mil, respectivamente)
e o oitavo no Sudeste e Centro-Oeste (9,17 e 5,00/100 mil, respectivamente). Entre
as mulheres, é o 16o mais frequente no Nordeste e Centro-Oeste (1,02 e 0,99/100
mil, respectivamente) e o 17o no Sul, Sudeste e Norte (0,85; 0,55 e 0,46/100 mil,
respectivamente). Como observado nos dados estatísticos, há maior incidência em
homens e com idade acima de 40 anos.

Neoplasias do sistema gastrointestinal

São esperados cerca de 11.280 novos casos de neoplasias da cavidade oral em homens e
cerca de 4.010 em mulheres. Em homens, este tipo de câncer, no Brasil, é considerado
o quarto mais frequente no Sudeste (15,48/100 mil) e Nordeste (7,16/100 mil), o quinto
no Centro-Oeste (8,18/100 mil) e o sexto no Sul e Sudeste (15,21 e 3,21/100 mil). Para
as mulheres, é o nono mais frequente nas regiões Sudeste e Nordeste (4,88 e 3,72/100
mil, respectivamente), o 11o no Norte (1,60/100 mil), o 12o no Centro-Oeste (3,30/100
mil) e o 15o no Sul (3,09/100 mil).

Em 2012, foi detectado, no mundo, cerca de 300 mil novos casos e 145 mil óbitos por
câncer de boca e lábio. Deste total mundial de casos, aproximadamente 80% ocorreram
em países em desenvolvimento, com maiores taxas em populações da Melanésia, do
centro-Sul Asiático, da Europa Oriental, Central e Ocidental, da África e da América
Central.

Quanto ao câncer de esôfago, são estimados cerca de 8 mil novos casos em homens e
pouco mais de 2,5 mil em mulheres. Em homens, é considerado o quinto tipo de câncer
mais frequente na região Sul (15,97/100 mil), o sexto no Centro-Oeste (6,88/100 mil),
o sétimo no Sudeste e Nordeste (9,45 e 4,50/100 mil, respectivamente), e o 11o na região
Norte (1,88/100 mil). Entre as mulheres, é o 13o mais frequente na região Sul, Sudeste e
Nordeste (5,27; 2,86 e 1,80/100 mil, respectivamente) e o 14o no Centro-Oeste e Norte
(2,39 e 0,67/100 mil, respectivamente).

São mais de 450 mil pessoas afetas pelo câncer de esôfago, no mundo, a cada ano.
Apresenta-se de três a quatro vezes mais frequente em homens do que em mulheres e
é considerado de prognóstico ruim, sendo que as taxas de mortalidade se aproximam
das taxas de incidência. Ainda, como o câncer de esôfago vem sendo relacionado ao alto
consumo de erva-mate, onde este consumo é praticado, há maior frequência da doença:
além do Sul do Brasil, Argentina e Uruguai.

23
UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO

Também foram estimadas as taxas de incidência para o câncer de estômago que sugere
cerca de 12.860 novos casos em homens e 7.520 em mulheres. Em homens, é o segundo
tipo de câncer mais frequente no Norte e Nordeste do Brasil (11,10 e 10, 25/100 mil,
respectivamente), o quarto nas regiões Sul e Centro-Oeste (16,07 e 10,88/100 mil,
respectivamente) e o quinto no Sudeste (14,99/100 mil). Para mulheres, apresenta-se
como o terceiro tipo de câncer mais frequente no Norte (5,91/100 mil), o quinto no
Sudeste e Nordeste (8,20 e 6,39/00 mil) e o sexto no Sul e Centro-Oeste (8,43 e 6,32/100
mil, respectivamente).

Aproximadamente 70% dos casos de câncer de estômago, no mundo, ocorrem em


países em desenvolvimento e considera-se que a taxa de incidência é duas vezes
mais elevada em homens do que em mulheres. No entanto, existe uma tendência ao
declínio nestes casos, desde os mais primórdios. Este declínio se deu por conta da
melhor disponibilidade de alimentos frescos, acondicionados em refrigeradores,
possibilitando maior oferta de frutas e hortaliças. O maior fator de risco para
ocorrência de câncer de estômago, além da reduzida ingestão de alimentos frescos,
como frutas e verduras, é a exposição prolongada à bactéria Helicobacter pylori.
É uma das infecções mais comuns e é responsável por cerca de 60% dos casos
deste tipo de câncer, no mundo. Nos países em desenvolvimento, a prevalência
para esta infecção atinge 90%, o que em geral é adquira na infância e persiste por
toda a vida.

Segundo estimativas, o câncer de cólon e reto caracteriza-se como o terceiro tipo de


câncer mais comum entre os homens e o segundo entre as mulheres. São previstos,
aproximadamente, 15.070 casos novos em homens e 17.530 em mulheres. Entre homens,
é considerado o segundo tipo de câncer mais frequente na região Sudeste (22,67/100
mil), o terceiro nas regiões Sul (20,43/100 mil) e Centro-Oeste (12,22/100 mil), o
quarto no Norte (4,48/100 mil) e o quinto no Nordeste (6,19/100 mil). Para mulheres,
é o segundo tipo mais frequente na região Sudeste (24,56/100 mil) e Sul (21,85/100
mil), o terceiro no Centro-Oeste e Nordeste (14,82 e 7,81/100 mil, respectivamente) e o
quarto na região Norte (5,30/100 mil).

Tem sido observado que, em países onde o risco era considerado baixo, por exemplo, no
Japão e em outras nações asiáticas, existe um aumento na incidência destas neoplasias.
Em contrapartida, países considerados de alto risco apresentaram certa estabilidade
ou, ainda, declínio nas taxas de incidência, como é o caso da Europa Ocidental, Norte
Europeu, América do Norte e Austrália.

24
EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO │ UNIDADE I

Neoplasias de mama feminina

Considerando o câncer de mama, o risco estimado para 2014/2015 é de 57.120 novos


casos, ou seja, a cada 100 mulheres, aproximadamente 56 podem ter diagnóstico
para o câncer de mama. Mulheres da região Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste
do Brasil são as mais acometidas pela neoplasia (71,18; 70,98; 51,30 e 36,74/100 mil,
respectivamente). Do ponto de vista mundial, as maiores taxas registradas foram na
Europa Ocidental, com, aproximadamente, 96 novos casos a cada 100 mil mulheres e
com menores taxas na África Central e Ásia Ocidental (27,00/100 mil).

Neoplasias do sistema reprodutor feminino

Entre 2014 e 2015, são esperados cerca de 15.590 novos casos de câncer de colo de útero.
Este tipo de câncer ocorre em maior extensão na região Norte do Brasil (23,57/100
mil); é o segundo mais frequente no Centro-Oeste e Nordeste (22,19 e 18,79/100 mil,
respectivamente), o quarto no Sudeste (10,15/100 mil) e o quinto no Sul (15,87/100
mil). Possui maior incidência nos países em desenvolvimento e, em 2012, foi o tipo de
câncer responsável por 265 mil óbitos, sendo 87% destes óbitos ocorridos em países em
desenvolvimento.

As neoplasias também podem afetar a região do corpo do útero e as estimativas para


incidência, no Brasil, são de cerca 5.900 novos casos. O câncer de corpo de útero é
considerado o sexto tipo mais incidente na região Sudeste (7,58/100 mil), o sétimo no
Centro-Oeste (5,22/100 mil), oitavo no Nordeste (4,00/100 mil) e nono nas regiões Sul
e Norte (6,30 e 2,16/100 mil, respectivamente). No mundo, é considerado o sexto tipo
mais frequente, com aproximadamente 319 mil novos casos por ano e é responsável pelo
óbito de 76 mil mulheres por ano. Apresentam maiores taxas de incidência a América
do Norte e Europa Ocidental e, em contrapartida, Ásia e África apresentam as menores
taxas. As taxas de mortalidade são reduzidas em países desenvolvidos, fato este que
pode ser atribuído à possibilidade de detecção precoce da doença.

No que se diz respeito ao câncer de ovário, são esperados cerca de 5.680 novos casos,
entre 2014 e 2015. Este é o quinto tipo de câncer mais incidente na região Centro-Oeste
(6,96/100 mil), o sétimo nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste (6,63; 6,58 e 4,03/100
mil, respectivamente) e o oitavo na região Norte (2,52/100 mil). Na última estimativa
mundial realizada, foram constatados 238 mil novos casos de câncer de ovário, sendo
as mais altas taxas de incidência observadas em países ocidentais e no Norte da Europa
e na América do Norte. Em contrapartida, na África, são encontradas as menores taxa
de incidência. Atualmente, estas taxas se mantém estáveis, mesmo em países que
apresentam alto risco para doença.

25
UNIDADE I │ EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL E NO MUNDO

Neoplasias de próstata

São estimados 68.800 novos casos de câncer de próstata no Brasil. Este tipo de câncer
é classificado como o mais incidente entre os homens em todas as regiões do país, com
maiores taxas na região Sul (91,24/100 mil), Sudeste (88,06/100 mil), Centro-Oeste
(62,55/100 mil), Nordeste (47,46/100 mil) e Norte (30,16/100 mil). No mundo, cerca
de 70% dos casos diagnosticados relacionam-se a países desenvolvidos. As maiores
taxas de incidência foram registradas na Austrália/Nova Zelândia, Europa Ocidental e
América do Norte. Esta doença também está relacionada com a localização geográfica.

Neoplasias de bexiga

São esperados cerca de 6.750 novos casos de câncer de bexiga em homens e 2.190
em mulheres. Em homens, é o sexto tipo de câncer mais frequente na região Sudeste
(10,00/100 mil), o sétimo no Centro-Oeste (5,86/100 mil), o oitavo no Sul (9,10/100
mil), 10o no Norte (1,98/100 mil) e 11o no Nordeste (2,82/100 mil). Parar as mulheres,
é o 13o mais incidente no Centro-Oeste e Norte (2,72 e 0,70/100 mil, respectivamente)
e o 14o no Sul, Sudeste e Nordeste (3,29; 2,55 e 1,24/100 mil, respectivamente).

Em 2012, no mundo, foram 430 mil novos casos desta neoplasia e 165 mil óbitos, sendo
as mais altas taxas de incidência na Europa, América do Norte e Norte da África, mais
frequente em homens do que em mulheres.

Neoplasias pediátricas

São esperados, no Brasil, cerca de 11.840 novos casos de câncer que acometam crianças
e adolescentes até os 19 anos de idade. As maiores taxas devem ocorrer no Sudeste
e Nordeste (5.600 e 2.790, respectivamente), seguido do Sul (1.350), Centro-Oeste
(1.280) e Norte (820).

Figura 5. Estimativa para o período entre 2014 e 2015, por gênero (feminino ou masculino), de distribuição dos 10

tipos de câncer mais incidentes no Brasil.

Fonte: Adaptado de INCA, 2014.

26
BASES
FISIOPATOLÓGICAS UNIDADE II
E METABÓLICAS DO
CÂNCER

CAPÍTULO 1
Principais classificações e
características do câncer

A neoplasia é caracterizada por uma massa celular anormal, cujo crescimento se dá


de forma desorganizada (sem frequência específica) e autônoma (sem depender de
estímulo algum). São tumores benignos ou malignos, sendo os malignos popularmente
conhecidos como câncer. Os tumores são qualquer aumento de volume: edema,
cisto ou outros; possuem importante base genética (é imprescindível que haja alguma
predisposição/alteração genética para ser desencadeado) e base ambiental. De acordo
com os hábitos de vida da população, há maior incidência de câncer em locais específicos
do organismo.

O desenvolvimento da neoplasia relaciona-se a danos na molécula de DNA e estes danos se


acumulam ao longo do tempo. Conforme estas células com DNA danificado não realizam
mecanismos moleculares adequados, instala-se a doença (MAHAN; ESCOTT-STUMP,
2005).

O câncer acomete as células durante seu mecanismo de replicação. Neste sentido, os


padrões da doença são diferentes em crianças e em adultos. Nas fases mais iniciais de
vida, o cérebro, o sistema nervoso,os ossos, os músculos e o tecido conjuntivo estão em
constante crescimento e, por isso, em crianças, estes tecidos estão mais relacionados ao
desenvolvimento de células cancerosas quando comparado à fase adulta. No entanto,
tumores envolvidos em revestimentos epiteliais são mais comuns em adultos e muito
raros em crianças (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).

Neoplasias
As neoplasias podem ser classificadas como “benignas” ou “malignas” e funcionam
como parasitas para o organismo, já que captam oxigênio e nutrientes do organismo,
27
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

causando destruição das células normais. Existem algumas características que auxiliam
na diferenciação entre as neoplasias.

Neoplasias benignas
Nome da célula que originou + sufixo “oma”:

»» Neoplasia benigna originada em osteoblastos = OSTEOMA.

»» Neoplasia benigna originada em cartilagem = CONDROMA.

»» Adenoma: neoplasias benignas que provém das glândulas (tireoide,


parótida).

»» Papiloma: neoplasias benignas que surgem em mucosa; são neoplasias


benignas com padrão semelhante à verrugas (digitiforme).

Quanto às características anatomopatológicas, as células que compõem a neoplasia


benigna são semelhantes as que originaram o tumor, em outras palavras, as células da
neoplasia são semelhantes às do órgão onde estão.

Outra característica muito peculiar das neoplasias benignas é o crescimento lento e


o fato de suas células não serem invasivas, não se infiltram em tecidos ao redor da
lesão (tecidos adjacentes), crescem de forma a empurrar as estruturas encontradas pelo
caminho e podem apresentar cápsulas de fibras.

Ainda sobre as características das neoplasias benignas, suas células não induzem
angiogênese (formação de vasos sanguíneos dentro do tumor) e, estas células (benignas),
possuem limites visíveis, delimitados, o que facilita a remoção destes tumores.

Neoplasias malignas
Recebem nome de sarcoma (células provenientes do mesênquima) ou carcinoma
(células provenientes do epitélio).

Nome da célula que originou + sarcoma/carcinoma → Melanocarcinoma.

São caracterizadas por bordas irregulares; relevo irregular; coloração irregular e


sangramento. O estágio terminal de um paciente que possui neoplasia maligna é
denominado de caquexia. As células destes pacientes apresentam desnutrição intensa
e começam a morrer. Há perda de memória, perda dos sentidos, perda do controle dos
esfíncteres. Associa-se quadro de anorexia por fatores fisiopatológicos e psicológicos. A
caquexia pode ocorrer em outros casos, também, causando os mesmos sintomas.

28
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Quanto às características anatomopatológicas, as neoplasias malignas são


caracterizadas por apresentar células indiferenciadas, ou seja, não possuem
especificidade (células-tronco), podendo ser comuns a qualquer local, além disso, o
crescimento celular das neoplasias malignas é rápido.

As células neoplásicas malignas, conforme vão crescendo, invadem e se infiltram em


tecidos adjacentes, os destruindo.

Ainda sobre as características das neoplasias malignas, suas células induzem a


angiogênese em seu interior, em outras palavras, a própria célula neoplásica maligna
produz vasos sanguíneos para sua nutrição, facilitando seu crescimento, além disso,
estas células captam oxigênio e nutrientes do organismo, o que debilita ainda mais.

As células da neoplasia maligna possuem limites difusos, espalhados, dificultando sua


remoção e, por isso, nestes casos, as cirurgias são realizadas com certa margem de
segurança, removendo-se, então, não só as células neoplásicas, mas também parte do
tecido saudável.

Apenas nas neoplasias malignas, há metástase, ou seja, há surgimento da mesma


neoplasia em outro órgão. A metástase ocorre em cerca de 30% destes tumores (os
malignos) e pode ocorrer por três vias:

a. Implantação direta: ocorre sempre em cavidades e seria uma célula da


neoplasia que se solta e cai em outra região; é mais comum na cavidade
peritoneal e é a forma mais simples e mais fácil de ser encontrada.

b. Disseminação linfática: ocorre através dos vasos linfáticos; é mais


comum nos carcinomas; a célula da neoplasia entra nos vasos linfáticos
e alcança outros órgãos via linfática; os vasos linfáticos são responsáveis
pela desintoxicação/proteção do organismo, através dos linfonodos. O
que entra nestes vasos é “resto” tóxico e nele não há célula e, quando
a célula tumoral alcança a circulação linfática, é percebida como um
corpo estranho e, o organismo, reagirá contra podendo ser percebido
pelo inchaço e edema que ocorre nos linfonodos; para tirar essas células,
faz-se o esvaziamento linfático e, então, retiram-se os vasos linfáticos
daquela região.

c. Dispersão hematógena: ocorre por meio da circulação sanguínea; as


células chegam a outro órgão através do sangue; é a via mais comum dos
sarcomas e, normalmente, ocorre por via venosa e não por via arterial,
pois a espessura da parede arterial é maior do que a venosa e a célula
deve passar para o sangue pelos poros da parede vascular. Normalmente,
as metástases por dispersão hematógena ocorrem no fígado e pulmões, já
que são os órgãos mais vascularizados do corpo.

29
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

As metástases só ocorrem em neoplasias malignas, pois suas células são indiferenciadas,


podendo se implantar em qualquer órgão. As células neoplásicas devem conseguir
passar pela membrana basal do vaso sanguíneo e apenas as malignas conseguem, já
que produzem uma enzima denominada colagenase, que lisará a lâmina basal para seu
acesso nos vasos.

Figura 6.

Fonte: Adaptado de INCA, 2012.

Na figura 6, estão duas ilustrações sobre o desenvolvimento de neoplasias. Pode-se


reparar que na figura A há uma representação característica de neoplasia benigna em
que a massa celular que originou o tumor, conforme vai crescendo, pode empurrar
as células adjacentes, mas sem invadi-las. Em B, está representado um esquema de
neoplasia maligna, na qual o crescimento celular é rápido e a massa tumoral invade
células adjacentes.

A figura 7 traz um esquema didático sobre o processo de metástase, que ocorre em casos
de neoplasias malignas. Note que o tumor original, pode se disseminar pela circulação
sanguínea e parte dele capturado pelas células do sistema imune e parte dele atinge
órgãos distantes, se disseminando e se proliferando.

Figura 7.

Fonte: Adaptado de INCA, 2012.

30
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Biologia do crescimento neoplásico

O crescimento das neoplasias malignas compreende quatro principais etapas:

1. Início da neoplasia: deve haver alteração maligna de uma célula, ou seja,


a célula normal deve sofrer uma mutação e se transformar em maligna; a
transformação de uma célula normal em maligna depende, geralmente,
de dois fatores: exposição da célula a agentes carcinogênicos e alterações
genéticas (não adianta, apenas, haver agentes carcinogênicos).

2. Desenvolvimento/crescimento: deve haver crescimento e divisão das


células transformadas.

3. Invasão local: a neoplasia começa a invadir os tecidos adjacentes.

4. Formação de metástases: a neoplasia acomete outras regiões do corpo.

Agentes carcinogênicos

Os agentes carcinogênicos são responsáveis por iniciar a formação da neoplasia. Podem


ser de vários tipos: agentes físicos (como radiação solar e nuclear); agentes químicos
(medicamentos, substâncias químicas variadas, alimentos) e agentes biológicos (vírus).

Alimentos carcinogênicos

Existem muitas substâncias que se relacionam com o aparecimento de tumores:

»» corantes do tipo AZO;

»» aflatoxina B1 (relacionada a neoplasias malignas hepáticas) – fungo


em amendoim e grãos que ocorre quando não são estocados de forma
adequada;

»» nitritos (presentes nos enlatados, conservas e embutidos);

»» alcatrão (defumados, churrasco);

»» álcool;

»» sal: consumo excessivo de sal pode provocar o desenvolvimento


carcinogênico, no entanto, não existem muitos estudos que comprovem
este efeito;

31
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

»» organocloridas: pesticidas usadas nas plantações;

»» método de preparo: alimentos grelhados e assados apresentam maior


teor de radicais livres; para evitar a incidência de câncer, é preferível
alimentos cozidos.

Ainda, alimentos gordurosos estimulam o crescimento dos tumores e outros alimentos


protegem contra a formação das neoplasias, tais como as frutas e verduras, vitamina A
e E, entre outros que serão abordados em disciplina específica.

De um modo geral, os agentes carcinogênicos podem causar câncer por indução na


lesão do DNA celular. Existe um gene específico a ser lesado e, normalmente, nossas
células possuem sistema específico para proteção contra estas lesões. Estes mecanismos
de defesa ocorrem quando o agente está lesando o DNA e incluem:

»» reparação do DNA: a célula volta ao seu estado normal;

»» morte celular: apoptose → ocorre se a célula não reparar o DNA;

»» lesão permanente do DNA: ocorre caso a célula não faça apoptose e,


então, há aparecimento do tumor.

Os fatores que podem ocorrer dependerão da susceptibilidade genética do indivíduo.


Nas neoplasias, existem dois genes importantes: “proto-oncogenes” e “anti-oncogenes”.
Todas as células do organismo possuem esses dois genes.

»» Proto-oncogenes: é um gene inativo, não possui nenhuma atividade,


porém, quando sofre mutações, se transformam em oncogêneses, que são
genes responsáveis pela transformação da célula normal em uma célula
maligna. Os causadores desta mutação são os agentes carcinogênicos.
Podem ocorrer mutações espontâneas. Não adianta lesar qualquer local
no DNA, deve-se lesar o gene proto-oncogene.

»» Anti-oncogenes: também é denominado de gene supressor de tumor,


o qual está presente em todas as células e sua formação é a de analisar o
DNA e repará-lo, caso haja lesão, ativando o gene da apoptose, caso ele
não consiga reparar o DNA. É o gene supressor que vai determinar se
haverá reparação ou morte. Para que haja tumor, deve haver inativação
do anti-oncogene. Tanto a ativação de um gene quanto a inativação do
outro, na mesma célula e ao mesmo tempo, estimula o surgimento de
câncer (tumor).

32
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Podem existir dois agentes carcinogênicos que ativam a mesma célula. Cada agente ativa
um e inativa outro: fumar e tomar sol (ambos ativam para a ocorrência de câncer, mas
cada um é em uma célula diferente). A predisposição genética ocorre quando, sem ser
esperado, há mutação espontânea: quando um indivíduo tem mais chance de realizar
mutação espontânea do que outro. O gene supressor é recessivo, ou seja, devem-se
inativar os dois genes supressores (1 em cada hélice do DNA).

Estadiamento das neoplasias malignas

Os casos de câncer costumam ser classificados em estádios/estágios, visto que as taxas


de sobrevida do paciente diferem de acordo com a invasão do tumor: se a doença está
restrita ao órgão de origem ou se ela se estendeu para outros órgãos. Assim, o estádio
da doença também reflete o tipo de tumor e sua relação com o hospedeiro.

Existem diversos tipos de estadiamento utilizados para o câncer, mas o mais comum é
o preconizado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) que é denominado de
“Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos”, o qual é baseado na extensão
anatômica da doença e considera as seguintes categorias: T (tumor); N (node, linfonodo);
M (metástase). T: indica a extensão do tumor primário e pode ser classificado em T0,
T1, T2, T3 e T4.

»» N: indica a presença ou ausência, bem como a extensão de metástase em


linfonodos, e pode ser classificada em N0, N1, N2 e N3.

»» M: Indica a presença ou ausência de metástase à distância.

Neste sentido, os parâmetros avaliados recebem graduações, como por exemplo: T0,
T4, N0, N3, M0, M1, entre outras. As graduações, também, podem ser expressas pelo
uso de letras, como a, b, c, ou por meio da utilização e classificação por letras maiúsculas
(A, B, C). Quando alguma categoria não pode ser avaliada, recebe o símbolo “X”. Para
praticamente todas as localizações topográficas e tipos morfológicos dos tumores o
estadiamento pode ser resumido nas classificações seguintes.

De um modo geral, são utilizadas duas classificações para cada localização anatômica:
classificação clínica e classificação patológica, conforme descrito no quadro 2.

33
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Quadro 2. Tipos de classificações existentes para compor o estadiamento da doença.

Tipo de classificação Características


Esta classificação é baseada nas evidências coletadas e observadas antes do tratamento, pelo exame físico,
Clínica (cTNM/TNM)
diagnóstico por imagem, endoscopia, biópsia, exploração cirúrgica, entre outros exames relevantes.
Baseia-se em evidências coletadas antes do tratamento, complementadas ou modificadas por evidência
adicional conseguida pela cirurgia e pelo exame histopatológico. Para a avaliação histopatológica do tumor
primário (pT), é necessária a biópsia do tecido para avaliação da categoria pT. A avaliação histopatológica
Patológica (pTNM)
dos linfonodos regionais (pN) exige a remoção representativa de nódulos para comprovar a ausência de
metástase ou para avaliar a categoria pN. A investigação histopatológica de metástase à distância (pM) exige
exame microscópico.
Fonte: Adaptado de UICC, 2004.

Quanto à classificação clínica das neoplasias malignas, podem-se utilizar as seguintes


definições:

T: tumor primário.

»» TX: o tumor primário não pode ser avaliado.

»» T0: não há evidências de tumor primário.

»» Tis: carcinoma in situ.

»» T1, T2, T3 e T4: tamanho crescente e/ou extensão local do tumor primário.

Veja na figura 8 um exemplo de classificação clínica para tumor primário:

Figura 8. Exemplo de classificação de tumor primário de mamas. Acompanhe a definição geral mencionada

anteriormente para interpretação das “siglas”.

Fonte: Adaptado de INCA, 2012.

34
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

N: linfonodos regionais.

»» NX: os linfonodos regionais (aqueles localizados no mesmo lado do tumor


em questão) não podem ser avaliados.

»» N0: ausência de metástase em linfonodos regionais.

»» N1, N2 e N3: comprometimento crescente dos linfonodos regionais.

Na figura 9 apresenta um exemplo de classificação clínica para linfonodos regionais.

Figura 9. Exemplo de classificação de linfonodos regionais de mamas. Acompanhe a definição geral

mencionada anteriormente para interpretação das “siglas”.

Fonte: Adaptado de INCA, 2012.

M: Metástase à distância.

»» MX: a presença de metástase à distância não pode ser avaliada.

»» M0: ausência de metástase à distância.

»» M1: metástase à distância.

35
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Para a categoria M1 são utilizadas as seguintes notações.


Quadro 3.

Pulmonar PUL Cerebral CER


Medula óssea MO Adrenal ADR
Óssea OSS Linfonodal LIN
Pleural PLE Pele CUT
Hepática HEP Outros OUT
Peritoneal PER
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Figura 10. Exemplo de classificação de metástase à distância. Acompanhe a definição geral mencionada

anteriormente para interpretação das “siglas”.

Fonte: Adaptado de INCA, 2012.

36
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Quanto à classificação patológica das neoplasias malignas, podem-se utilizar as


seguintes definições:

pT: Tumor primário

»» pTX: o tumor primário não pode ser avaliado histologicamente.

»» pT0: não há evidência histológica de tumor primário.

»» pTis: carcinoma in situ.

»» pT1, pT2, pT3 e pT4: aumento crescente de tamanho crescente e/ou


extensão local do tumor primário, comprovado histologicamente.

pN: Linfonodos regionais

»» pNX: os linfonodos regionais não podem ser avaliados histologicamente.

»» pN0: ausência histológica de metástase em linfonodos regionais.

»» pN1, pN2 e pN3: comprometimento crescente dos linfonodos regionais,


comprovado histologicamente.

pM: Metástase à distância

»» pMX: a presença de metástase à distância não pode ser avaliada


microscopicamente.

»» pM0: ausência de metástase à distância microscopicamente.

»» pM1: aetástase à distância, comprovada microscopicamente.

Assim, neste sentido, a partir destas classificações, podem-se agrupar as características


da doença em diferentes estádios:

37
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Figura 11. Grupamento em estádios das neoplasias malignas.

Fonte: Adaptado de INCA, 2012.

Alguns autores utilizam classificações como a descrita no quadro 3, a qual apresenta


de forma mais resumida as principais características da neoplasia de acordo com cada
estádio.

Quadro 4. Denominação e principais características dos estádios de câncer.

Estádios Características principais

Estádio 0 Carcinoma in situ;

Estádio I Invasão local inicial;

Estádio II Tumor primário limitado ou invasão linfática regional mínima;

Estádio III Tumor local extenso ou invasão linfática regional extensa;

Tumor localmente avançado ou, como é quase o critério geral de classificação, presença de metástase à
Estádio IV
distância.

Fonte: Adaptado de Gadelha, Costa; Almeida, 2005.

38
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

No entanto, não existe um consenso quanto ao estadiamento do câncer. Diferentes


grupos que estudam a doença acabam utilizando uma “linguagem própria” para a sua
classificação.

A classificação do tumor quanto ao seu estádio é base para que se defina a terapêutica do
paciente já que permite inferir sobre o comportamento biológico do tumor, selecionar
condutas terapêuticas, além de prevenir complicações, estimar prognósticos, organizar
a avaliação de resultados terapêuticos, padronizar a publicação destes resultados,
facilitar a troca de informações entre os especialistas e contribuir para a pesquisa
oncológica.

Elabore um quadro com as principais diferenças entre as neoplasias benignas


e malignas. Se achar necessário, tente buscar mais informações em artigos
científicos ou livros, para aprimorar o processo de busca científica, que é de
extrema importância para a vida profissional de todos.

A seguir, há um exemplo simples de quadro que pode ser realizado, mas fique à
vontade caso queira criar algo mais elaborado.

Características principais Neoplasias benignas Neoplasias malignas


Crescimento celular
Angiogênese
Processo metastático

Obs.: neste exemplo, foram mencionadas 3 características a serem comparadas,


no entanto, existem outras que podem ser exploradas! Leiam atentamente os
tópicos anteriores e anotem para completar o exercício.

39
CAPÍTULO 2
Fisiopatologia de diferentes tipos de
câncer

Neoplasias de células sanguíneas


A hematopoese é um processo dinâmico que envolve a produção, diferenciação e
maturação das células sanguíneas. O sistema hematopoético é formado por diversas
estruturas: fígado, baço, medula óssea, linfonodos e timo. Estes órgãos atuam nas
diferentes fases de desenvolvimento dos indivíduos na produção, maturação e destruição
das células do sangue. Os primeiros vasos sanguíneos são originados durante o período
embrionário. A partir da terceira semana de gestação, ocorre a formação de células
sanguíneas primitivas e indiferenciadas, denominadas megaloblastos. Veja não quadro
5 as principais fases do processo de hematopoese desde o período embrionário.

Em condições normais, a medula óssea de um adulto chega a produzir cerca de 6 bilhões


de células/dia/Kg de peso, dando origem aos seguintes tipos celulares: eritrócitos (por
meio do processo de eritropoese); granulócitos e monócitos (por meio do processo de
granulopoese e monopoese) e plaquetas (por meio do processo de trombopoese). A
produção de linfócitos (linfopoese) ocorre inicialmente no timo e medula óssea (órgãos
considerados linfoides primários) e, posteriormente, ocorrem nos órgãos linfoides
secundários (linfonodos, baço, por exemplo). A produção de linfócitos depende de
células-tronco (stem-cell) indiferenciadas e pluripotentes e potencial autorregenerativo.

Quadro 5. Descrição das principais fases do processo de hematopoese, desde a vida intrauterina até a

senescência.

Período intrauterino
Período Características
Os megaloblastos migram para o fígado e, a partir do segundo mês de vida, este órgão assume o
Fase pré-hepática processo de hematopoese (produção e diferenciação das células hematopoéticas), pela formação
inicial de glóbulos vermelhos.
Ao final do terceiro mês, o baço também auxilia na produção das células. Neste período, há formação
Fase hepato-esplênica
de glóbulos brancos e plaquetas, além dos glóbulos vermelhos.
Por volta do sétimo mês de vida intrauterina, a medula óssea começa a assumir o comando da
produção das células. A medula dos ossos fetais passa a ser o maior local de produção, em que
gradativamente localiza-se a população de glóbulos vermelhos, leucócitos, plaquetas e células
Fase mieloide progenitoras. Durante a vida fetal, alguns linfócitos vão sendo formados em linfonodos. Após
o nascimento, o fígado e o baço perdem a função realizada nas fases pré-hepática e hepato-
esplênica, na vida intrauterina e passam a participar do processo de destruição celular, denominado
hemocaterese.

40
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Período extrauterino
Período Características
Conforme já mencionado, após nascimento, a medula óssea passa a ser produtiva em todos os ossos
(até aqui denominada de medula vermelha), permitindo um microambiente adequado para o processo
Fase infantil de hematopoese. À medida que as células tornam-se maduras e diferenciadas, deixam a medula
óssea e alcançam tecidos periféricos. Nesta fase, há intensa atividade de outros órgãos: o timo e os
linfonodos.
Após os 4 anos de idade, surgem depósitos de células gordurosas nos ossos longos (estas
denominam-se medula amarela) e , ao longo dos anos, a medula vermelha se restringe, apenas, nos
Fase adulta
ossos do tronco. Com 20 anos de idade, a medula é ativa no esterno, nas costelas, pélvis, vértebras e
crânio.
Após os 40 anos de idade, a produção mantém-se equilibrada nos ossos do tronco. Os depósitos
Fase senil
gordurosos nos ossos do tronco aumentam até que atinjam igual quantidade de tecido hematopoético.
Fonte: Adaptado de Oliveira, 2003.

As células hematopoéticas localizam-se na matriz da medula óssea, que é formada


por proteínas (colágeno, fibronectina, hemonectina) e outros tipos celulares (células
adiposas, fibroblastos, células endoteliais) e, nesta matriz, são produzidos fatores
estimuladores da proliferação celular e de diferenciação celular. Quando estes fatores
interagem com as células-tronco, ocorre a produção de colônias de células progenitoras
de duas linhagens distintas: a linhagem mieloide (que é a unidade formadora de colônias
para granulócitos, eritrócitos, monócitos e megacariócitos) e a linhagem linfoide (que
é a unidade formadora de colônias para linfócitos). Assim, a proliferação, maturação e
diferenciação destas colônias dependem de interleucinas e de fatores estimuladores de
colônias.

a. Eritropoese

A eritropoese dura cerca de 7 dias e é regulada por um fator de crescimento, a


eritropoietina, que é produzida pelas células justaglomerulares do rim. Este fator de
crescimento atua na proliferação e diferenciação das unidades formadoras de colônias
para eritrócitos, principalmente nos estágios mais iniciais de transformação. Além
da eritropoietina, o hormônio de crescimento e os andrógenos também estimulam a
eritropoese.

Ainda, fatores exógenos provenientes da dieta, como ácido fólico e vitamina B12 são
de suma importância na proliferação celular, além disso, o ferro e a vitamina B6 são
necessários para a maturação celular (síntese de hemoglobina).

b. Granulopoese

Os neutrófilos, eosinófilos e basófilos são granulócitos produzidos pela medula óssea.


Estas células permanecem pouco tempo no sangue periférico e são capazes de migrar
para os tecidos pela presença de fatores quimiotáticos, ou seja, fatores liberados durante
um processo inflamatório. O processo de granulopoese dura cerca de 11 dias.

41
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

c. Linfopoese

As células progenitoras dos linfócitos são capazes de se diferenciarem em células T ou


células B, dependendo do local de produção. Os linfócitos T são originados no timo, já
os linfócitos B, tem sua origem na medula óssea, portanto, estas células são originadas
em órgãos linfoides primários, conforme já mencionado anteriormente. Nos adultos, a
linfopoese ocorre em tecidos linfoides secundários.

Os linfócitos T e B caracterizam-se pela presença de marcadores específicos na


membrana que podem ser estudados pelas técnicas laboratoriais em imunologia, como a
imunofluorescência ou citometria de fluxo. Com a utilização destas técnicas foi possível
identificar um terceiro tipo de linfócito, conhecido como null cell (não T, não B).

d. Monocitopoese

A origem dos monócitos decorre de células precursoras mieloides, as quais realizam a


diferenciação das células-tronco, até unidades formadoras de colônias para monócitos,
gerando, então, os monoblastos que, durante o processo de maturação, formam
monócitos e, em seguida, macrófagos.

e. Trombocitopoese

A trombocitopoese relaciona-se à origem das plaquetas (conforme já citado


anteriormente), a qual ocorre a partir da fragmentação citoplasmática de megacariócito.
Os megacariócitos descendem de células-tronco e vão se diferenciando e sofrendo
modificações morfológicas até que gerem plaquetas.

Nesse sentido, a leucemia constitui uma proliferação neoplásica generalizada de


células hematopoéticas. Este processo decorre de uma ou mais alterações genéticas
que atingem a célula-tronco (ou as células progenitoras da medula óssea), levando à
expressão anormal de proto-oncogenes, o que caracteriza um clone de células que se
sobrepõe às células normais. São considerados os seguintes fatores para a instalação
do processo leucêmico: dominância clonal (quando o clone de células se sobrepõe às
células normais); insuficiência da medula óssea; infiltração das células neoplásicas em
órgãos e tecidos; além da imunodeficiência e efeito dos produtos gerados por células
tumorais.

Acredita-se que a mutação da célula leucêmica ocorra como resultado de um ou


mais determinantes ambientais que atuem em determinado momento, em indivíduo
susceptível. Estes fatores estão descritos a seguir. Veja:

42
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Fatores desencadeantes da leucemia:

1. Ambientais:

a. Radiação ionizante: após ocorrência de acidentes nucleares, muitos casos


foram observados de leucemia em médicos radiologista e em indivíduos
tratados com radioativos. De modo geral, as leucemias que ocorrem após
radiação são mieloides agudas.

b. Drogas e agentes químicos: são consideradas estimulantes de leucemia


o uso de cloranfenicol, fenilbutazona ou benzeno, dependendo do tempo
de exposição e concentração utilizada da droga. Estas drogas podem
desencadear anemia aplásica (produção anormal de células sanguíneas
pela medula óssea) com lesão medular e posterior desenvolvimento de
linhagem anormal de células.

c. Vírus: existem alguns vírus que incorporam no genoma celular, tornando


as células instáveis e aumentando o risco para estabelecimento de clone
anormal. São os casos do vírus Epstein-Baar (também conhecido como
herpesvírus humano 4: HHV-4), retrovírus, HTLV-I e HTVL-II.

2. Próprios: do hospedeiro:

a. Fatores genéticos: a influência e predisposição genética para a leucemia


são sugeridas, uma vez que existam relatos de casos da doença em uma
mesma família. Esta doença também está relacionada com anormalidades
cromossomais (é bastante observada em casos de Síndrome de Down).
Ainda, 95% dos portadores de leucemia mieloide crônica apresentam o
fenômeno de translocação entre o cromossomo 9 e o 22 e, assim, passa a
ser denominado de cromossomo “Philadélfia” (local onde foi descoberto).
Nesta translocação, proto-oncogenes do cromossomo 9 é transferido ao
cromossomo 22;

b. Imunodeficiência e disfunção crônica da medula óssea: pacientes com


imunodeficiência apresentam maior susceptibilidade para doenças
linfoproliferativas.

Segundo dados do INCA (2014), foram estimados cerca de 350 mil novas casos e 265
mil óbitos por leucemia, no mundo, no ano de 2012.

De modo geral, as leucemias classificam-se em “leucemias agudas” e “ leucemias


crônicas”. Na leucemia aguda, há um rápido aumento de células sanguíneas imaturas,

43
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

o que faz com que a medula óssea seja incapaz de reproduzir células sanguíneas
saudáveis (nesta leucemia, há predominância de blastos: células jovens, imaturas). Em
contrapartida, a leucemia crônica é caracterizada pelo aumento excessivo de células
maduras anormais, podendo levar de meses a anos para progredir.

Além desta classificação (aguda ou crônica), as leucemias podem ser denominadas de


acordo com o tipo celular afetado. Pode acometer linfoblastos, levando a doença chamada
de “leucemia linfoide”; ou células granulocíticas ou monocíticas, sendo denominadas
“leucemias mieloides”. Vamos acompanhar as características dos diferentes tipos de
leucemia nos próximos tópicos.

Figura 12. Classificações das leucemias.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Existem as leucemias mieloides, as quais acometem células granulocíticas ou monocíticas


e que podem ser agudas, com predominância de células jovens ou crônicas, com células
anormais maduras; e as leucemias linfocíticas, as quais acometem os linfoblastos,
podendo ser aguda ou crônica.

As leucemias agudas apresentam curso rápido e, na maioria dos casos, fatal. Conforme já
mencionado, é caracterizada pelo surgimento e pela predominância de células blásticas
(jovens, imaturas) tanto da série mieloide (eritrócitos, granulócitos e plaquetas),
linfoide (linfócitos) ou monocítica (monócitos). Esta leucemia também se caracteriza
pela hiperplasia de medula óssea.

As manifestações clínicas mais comumente associadas às leucemias agudas são: anemia,


o que leva à aparência pálida e à fraqueza (no início da doença); infecções e febre devido
à granulocitopenia (redução aguda de granulócitos na corrente sanguínea); púrpuras
(manchas arroxeadas na pele) e hemorragias devido à plaquetopenia (redução aguda de
plaquetas na corrente sanguínea); esplenomegalia (aumento do baço), dores reumáticas
e ósseas devido à infiltração celular característica da doença.

Neste sentido, como forma diagnóstica para a doença, pode-se investigar a presença de
eritroblastos (eritrócitos jovens); contagem de plaquetas; morfologia dos leucócitos;
exame de medula óssea, o qual revelará infiltração por células leucêmicas imaturas.

44
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Após diagnosticar a doença, o tratamento proposto, de um modo geral, visa eliminar


o clone maligno e repopular a medula óssea com células normais. Para este objetivo,
geralmente, são propostos 3 estratégias: quimioterapia, radioterapia e transplante de
medula óssea. Como terapia de suporte, realiza-se a transfusão de sangue para anemia
e de concentrados plaquetários para a trombocitopenia/plaquetopenia.

a. Leucemia linfoide aguda (LLA)

A LLA é um tipo de leucemia aguda que ocorre, principalmente, em crianças. O tipo


celular acometida são os linfoblastos (células precursoras de linfócitos) e dependendo
das características destas células, podemos classificas a LLA em três subtipos: L1, L2 ou
L3. Veja no quadro a seguir:

Quadro 6. Principais características observadas na estrutura celular nos diferentes subtipos da LLA.

Características principais
Aspecto observado L1 L2 L3
Tamanho Pequeno Grande Grande e homogêneo
Cromatina Homogênea Variável Pontilhado fino
Forma Regular Irregular Oval ou redonda
Nucléolos Raros Presentes Um a três
Citoplasma Escassos Moderado Moderado
Basofilia Moderada Variável Intensa
Fonte: Adaptado de Oliveira (2003).

b. Leucemia mieloide aguda (LMA)

A LMA acomete mieloblastos (células precursoras dos mielócitos). Existem marcadores


imunológicos que detectam a natureza mieloide dos blastos: marcador do tipo CD13 e
CD33. Acompanhe a classificação das LMA a seguir:

I. M0: Blastos indiferenciados.

II. Predominância de componentes granulocíticos:

M1: leucemia mieloblástica sem maturação;

M2: leucemia mieloblástica com maturação;

M3: leucemia mieloblástica hipergranular.

III. Predominância de componentes monocíticos:

M4: leucemia mielomonocítica;

M5: leucemia monoblástica.

45
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

IV. Predominância de componentes eritroides:

M6: eritroleucemia.

V. Predominância de componentes trombocíticos:

M7: leucemia megacariocítica.

O diagnóstico diferencial das leucemias agudas é às vezes complicado, sendo necessários


o auxílio de testes complementares, por exemplo, como a avaliação citogenética
e/ou detecção de marcadores de membrana (CD) por meio de citometria de fluxo ou
imunofluorescência.

A principal característica que diferencia a leucemia aguda da leucemia crônica é que na


crônica há proliferação de células maduras, podendo ser de série linfoide ou mieloide.
Esta doença está mais relacionada ao gênero masculino com idade média ou senil.

O início da doença, muitas vezes, passa despercebido, visto que os sintomas não são
específicos, tais como: fraqueza, anorexia, emagrecimento, dores ósseas e anemia. Ao
exame clínico, existem 3 sinais comumente encontrados: esplenomegalia em casos de
leucemia crônica mielóide; adenopatia (aumento dos linfonodos) na leucemia crônica
linfoide e anemia (perceptível em ambas leucemias crônicas).

c. Leucemia linfoide crônica (LLC)

A LLC caracteriza-se pela proliferação maligna de células linfoides maduras, havendo


interrupção da maturação funcional destas células. É rara acometer indivíduos com
menos de 40 anos de idade, sendo, portanto, predominante na fase senil.

Para diagnóstico de LLC, observa-se a proliferação linfocítica, a qual pode se manifestar


de três maneiras:

I. Tumores linfoides: é comum a presença de adenopatia indolor no


paciente que ocorre devido à infiltração de linfócitos. Esta infiltração
pode, também, atingir o baço (esplenomegalia) e, mais raramente, fígado
e pele.

II. Hemograma: são observados aumento de leucócitos (30 a 200.000/


mm3 de sangue), com predominância de linfócitos maduros. Pode, ainda,
haver anemia do tipo autoimune, trombocitopenia e granulocitopenia, o
que indica insuficiência medular.

46
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

III. Mielograma: no mielograma há evidências de infiltração medular


de linfócitos, além de contribuir para investigação de distúrbios
imunológicos.

O tratamento da LLC consiste na quimioterapia, nos casos em que há tumores linfoides e


insuficiência medular grave e, os medicamentos mais utilizados são, agentes alquilantes
clorambucil e ciclofosfamida, além da prednisona. A utilização de gamaglobulina
intravenosa previne boa parte das infecções bacterianas.

Além da LLC, são conhecidas outras doenças linfoproliferativas com significante


importância e, para que o diagnóstico seja corretamente “fechado”, é importante
conhecer algumas características destas outras doenças. São elas: Leucemia
Prolinfocítica (LPL); Hairy cell ou leucemia de células cabeludas; Síndrome de Sézary
e Leucemia de Linfócitos Granulares (LGL).

d. Leucemia mieloide crônica (LMC)

A LMC foi a primeira neoplasia descrita associada a ativação de oncogênese celulares.


Conforme já mencionado, aproximadamente 95% dos pacientes que apresentam esta
doença possuem cromossomo Philadélfia.

Neste tipo de leucemia, existe inicialmente uma fase crônica caracterizada por
hiperleucocitose (contagem de leucócitos elevada) e predominância de células mieloides
maduras. Em seguida, mantém a denominada “fase acelerada”, em que as células
perdem gradualmente a capacidade de diferenciação. A doença torna-se, então, fatal e
passa a entrar numa fase aguda, com presença de mais de 30% de blastos na medula e
na circulação periférica. Acomete com maior predominância os adultos jovens, sendo
muito raro em crianças. Nota-se, ao exame clínico, acentuada esplenomegalia, podendo
ou não estar relacionada à hepatomegalia (aumento de fígado).

Para auxiliar no diagnóstico, os seguintes exames laboratoriais podem ser solicitados:

I. hemograma: o resultado pode apresentar hiperleucocitose (de 80.000 a


1.000.000/mm3 de sangue) com predomínio da série granulocítica;

II. mielograma: auxilia na confirmação da hiperplasia granulocítica (80 a


95%), sendo que menos de 20% é correspondente a blastos;

III. outros exames:

›› biópsia de medula para confirmar o mielograma;

47
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

›› avaliação da presença de cromossomo Philadélfia, que ocorre em 95%


dos casos;

›› aumento de vitamina B12 sérica, decorrente do aumento de transcobalamina


I, a qual é produzida pelos neutrófilos.

O objetivo do tratamento para LMC é reduzir a massa circulante de leucócitos, a


qual é obtida pela quimioterapia, utilizando-se drogas inibidoras da síntese de DNA
(hidroxiureia) ou com atividade antitumoral e imunomoduladora (interferon α). Após
uma semana de tratamento, já é observada a redução na leucocitose. Ainda, vem sendo
utilizadas substâncias que inibem a atividade da proteína codificada pelo oncogene
alterado (STI 571).

Neoplasias de tecido linfoide

O sistema imunológico é composto por órgãos linforreticulares, os quais concentram


maior número de células imunes. São eles: linfonodos, baço, medula óssea, timo e tecidos
linfoides associados às mucosas (MALT), por exemplo. Além disso, possuem células
que atuam na defesa do organismo, denominadas de imunócitos: linfócitos (células
predominantes que se encontram, por exemplo, no baço e linfonodos); monócitos (são
os macrófagos: células fagocíticas); células endoteliais (revestem o corpo e as cavidades
dos órgãos internos, protegendo-os: atuam como uma barreira mecânica); eosinófilos e
mastócitos (atuam na defesa do organismo contra infecções).

O tecido linfoide (linfonodos e órgãos que participam do sistema imune, como os


linforreticulares) pode ser dividido em:

»» órgãos linfoides primários ou centrais: timo e medula óssea;

»» órgãos linfoides secundários ou periféricos: baço, linfonodos e amígdalas.

Conforme já mencionado em tópicos anteriores, o timo, durante a embriogênese (vida


embrionária), é o primeiro órgão a iniciar a produção de linfócitos. Assim, é fundamental
para o desenvolvimento e função do sistema imune, já que oferece o microambiente
necessário para a maturação das células T.

O MALT está difusamente distribuído nos tratos gastrointestinal, respiratório e


urogenital. Os linfonodos, nestes tecidos, estão estrategicamente localizados de
forma que ficam expostos ao ambiente externo, impedindo a entrada de partículas
estranhas.

48
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

As amígdalas são expostas a antígenos aéreos e alimentos. Atuam capturando antígenos


e aumentando a área de contato entre tecido linfoide e o antígeno. Nelas predominam
as células B.

O baço (localizados do lado esquerdo do abdômen) tem como principal função a retirada
de células “velhas” na circulação sanguínea; participa da conversão da hemoglobina
(liberada quando há destruição da célula velha) em bilirrubina e, esta última vai para
o fígado.

Os gânglios linfáticos (linfonodos) são órgãos encapsulados, em forma de rim. Tem como
principal função filtrar partículas estranhas, detritos celulares e, quando em infecção,
aumentam de tamanho pelo aumento na produção de linfócitos. Estão localizados na
junção dos principais vasos linfáticos. Caracterizam-se, anatomicamente, da seguinte
maneira:

»» zona cortical ou folicular: local de predomínio de linfócitos B;

»» zona paracortical entre os folículos: local que contém linfócitos T;

»» zona medula: local onde há linfócitos B e plasmócitos (células imunes


derivadas dos linfócitos B).

Os linfócitos, denominados de células linfoides, são estruturas ovoides, com 8 a 12 µm


de diâmetro; com cromatina nuclear condensada; grânulos citoplasmáticos e vacúolos.
São de dois tipos: linfócitos B e linfócitos T. Existem também as células NK, consideradas
linfócitos. Acompanhe as seguintes características:

1. Linfócitos B → são responsáveis pela produção de


imunoglobulinas/anticorpos que são as estruturas de defesa do
organismo. Os linfócitos B se proliferam e aumentam de tamanho,
gerando células B de memória (o que é muito importante na resposta
imune). Além disso, podem se diferenciar em plasmócitos, que são
células geradoras das imunoglobulinas. As classes de imunoglobulinas
(Ig) existentes são: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM.

IgA: anticorpo secretor encontrado na saliva, na lágrima, no colostro, no leite


materno, no plasma e no intestino. É um anticorpo de superfície que protege
as mucosas.

IgD: encontrado na superfície da célula B e controla a diferenciação da célula


para a produção de anticorpos específicos.

IgE: encontrado no plasma em grande quantidade em pessoas alérgicas.


49
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

IgG: é o menor e mais abundante no plasma; muito eficiente na destruição de


bactérias; o primeiro a atravessar a placenta e proteger o feto.

IgM: é o maior anticorpo e o primeiro a ser ativado em infecções bacterianas.

2. Linfócitos T → não produzem anticorpos e são divididos em subclasses,


cada uma com função específica:

a. Linfócitos Th ou CD4 (auxiliar): são os mediadores da resposta imune,


sendo necessários para atuação dos demais linfócitos T. Sua ativação
ocorre no início da resposta imune.

b. Linfócitos Tc ou CD8 (citotóxica): destroem células que expressam


antígenos estranhos.

c. Linfócitos Ts (supressor): possuem função de reduzir a resposta imune.

3. Células NK (destruidor natural) → atuam na vigilância de células


infectadas por vírus e em certos tumores; são consideradas células
citotóxicas.

Além dos linfócitos, os monócitos/macrófagos também são células linfoides e,


conforme já mencionado anteriormente, tem função de fagocitar o antígeno. Quando as
células linfoides sofrem transformação neoplásica, instalam-se os chamados linfomas.
Portanto, os linfomas se caracterizam pela modificação das células linfoides normais,
presentes em tecido linfoide, em “anormais” (neoplásicas). Geralmente, iniciam-se
nos gânglios ou nódulos linfáticos, recebendo o nome de “linfomas ganglionares” ou
“linfomas linfonodais”. É raro acometerem tecidos linfoides não ganglionares, tais
como trato gastrointestinal/digestório, ovário ou pele e, nestes casos, são chamados de
extranodais.

Os linfomas atingem tecido sólido e constituem proliferação clonal de linfócitos


B (preferencialmente) e linfócitos T, além de células reticulares. Existem algumas
condições que podem estar relacionadas ao desenvolvimento de linfoma. São elas: lupus
eritematoso sistêmico (doença inflamatória crônica autoimune), artrite reumatoide,
infecções virais, radiação ionizante, alterações genéticas, imunodeficiência e transplante
de órgãos.

Constituem dois grandes grupos: Linfoma não Hodgkin e Linfoma Hodgkin e, desde
1960, aproximadamente, a classificação dos linfomas vem sendo discutida e modificada.

Podem ser considerados de baixo ou alto grau, dependendo das características clínica,
morfológica e molecular. Os linfomas considerados de baixo grau apresentam reduzido
50
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

índice de proliferação celular; células de pequeno tamanho; formação de grandes


massas linfonodais (tumor em linfonodos); frequente envolvimento da medula óssea
e de locais extranodais. Normalmente, são tumores de baixa agressividade em que o
paciente pode sobreviver durante anos, mesmo sem tratamento e esta característica, de
um curso mais lento da doença, parece estar relacionada com alterações na regulação
do processo de apoptose, resultando em acúmulo celular (ARAÚJO et al., 2008).

Já os linfomas de alto grau caracterizam-se pelo alto grau de proliferação celular;


células grandes; linfonodomegalias (aumento de tamanho dos linfonodos) localizadas
e com alta agressividade e, se o paciente não for tratado, pode sobreviver em semanas
ou meses. Nestes casos existem alterações no ciclo celular e no processo de apoptose
(ARAÚJO et al., 2008).

Linfoma não Hodgkin (LNH)

O LHN constitui proliferações clonais, geralmente, de células B que ocorrem nos órgãos
linfoides. Está relacionada com alterações citogenéticas que resultam no descontrole
do ciclo celular.

Caracteriza-se por uma variedade de doenças com diferente padrão de incidência


entre as populações (NETO et al., 2005). O risco para seu desenvolvimento aumenta
com a idade, além de ser mais prevalente em homens (duas vezes mais) em relação a
mulheres. Na maioria dos casos, é desconhecida a etiologia desta doença, embora seja
relacionada a uma alteração na função imune. Neste sentido, indivíduos tratados com
imunossupressores para prevenir a rejeição de transplantes e indivíduos infectados com
HIV, por exemplo, possuem risco aumentado para o desenvolvimento desta neoplasia.
Além disso, o histórico familiar também é um significante fator de risco (INCA, 2014).

Como sinais da LNH ocorrem aumento dos linfonodos, os quais se apresentam firmes
e indolores. Nota-se, também, com o desenvolvimento da doença, esplenomegalia e
hepatomegalia. Em alguns casos podem ocorrer hipogamaglobulinemia (alteração da
imunidade causada por baixos níveis séricos de anticorpos) proporcionando infecções
por micro-organismos oportunistas.

Ainda, quanto aos exames laboratoriais, encontra-se anemia e leucocitose (com


predominância de linfócitos). A medula óssea pode estar infiltrada de linfócitos e,
nestas situações, é comum observar anemia e trombocitopenia. Em biopsia do gânglio
observa-se o tipo de linfoma e as alterações estruturais dos linfonodos.

O tratamento do LNH é realizado por quimioterapia, a qual deve ser agressiva, evitando
ocorrência de metástase e radioterapia recomendada para tumores localizados. O

51
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

prognóstico do paciente varia de acordo com o local e extensão do acometimento


(estadiamento do linfoma).

Linfoma Hodgkin

Neste tipo de linfoma, existe uma célula característica da doença que é indispensável
para o diagnóstico: “Célula de Reed-Stenberg”, a qual constitui um histiócito (macrófago
inativo) neoplásico com 2,3 ou 4 núcleos. Também são identificadas células com apenas
um núcleo (denominadas “Células de Hodgkin”), mas que sozinhas não possuem valor
diagnóstico.

A classificação histológica do linfoma Hodgkin, determinada pela Organização Mundial


de Saúde (OMS), se dá da seguinte forma:

1. Doença de Hodgkin clássica:

a. Esclerose nodular.

b. Celularidade mista.

c. Depleção linfocitária.

d. Predominância linfocitária.

2. Doença de Hodgkin nodular com predominância linfocitária: é mais


frequente em pacientes jovens, do gênero masculino, com perfil
diferenciado da doença de Hodgkin clássica.

O estadiamento da doença de Hodgkin ocorre a partir da classificação em estádios I,


II, III ou IV, sendo que estes apresentam uma subclassificação em A ou B, dependendo
da presença ou ausência de determinados sintomas. O subgrupo B identifica pacientes
portadores dos seguintes sintomas: perda acima de 10% do peso corporal sem explicação
nos últimos 6 meses; febre acima de 38° C sem outra causa e sudorese noturna profusa.
É utilizada a designação E, quando a neoplasia surge em tecidos não linfáticos, mas
próximos. Em estádio IV, a doença apresenta disseminação além do tecido linfático,
por exemplo, em fígado. No caso de haver comprometimento extranodal comprovado,
utiliza-se o símbolo (+) no estadiamento. Abaixo estão descritos os principais símbolos
para os sítios identificados na doença.

52
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Quadro 7. Descrição dos sítios identificados em linfoma de Hodgkin.

Descrição Sítio identificado


N Linfonodos

S Baço

H Fígado

P Pleural

L Pulmão

O Osso

M Medula óssea

D Pele
Fonte: Adaptado de Escovar (2005).

Agora, vamos visualizar os estádios da doença e as principais características de cada


um.

Quadro 8. Estadiamento pelo sistema Ann Arbour da doença de Hodgkin e as principais característica.

Classificação Características principais

Estádio I Envolvimento de um único sítio linfonodal ou extranodal (E);

Estádio II Envolvimento de 2 ou mais linfonodais do mesmo lado do diafragma;

Estádio III Envolvimento de linfonodos nos dois lados do diafragma;

Estádio IV Envolvimento de múltiplos órgãos extra-nodais com ou sem envolvimento


linfonodal ou envolvimento de um órgão extra-nodal com envolvimento
linfonodal a distância.

Fonte: Adaptado de Escovar (2005).

A doença de Hodgkin, em 90% dos casos, origina-se nos linfonodos e pode se disseminar
para o baço, fígado e medula óssea. A queixa inicial do paciente é adenopatia indolor
(aumento dos linfonodos) geralmente cervical (85%) e mediastinal (15% região central
do tórax) o que é determinado por radiografia.

As principais manifestações clínicas são: febre, sudorese noturna, prurido ou perda de


peso; além da anemia que pode ou não estar acompanhada por leucocitose. A medula
óssea é raramente atingida e as células neoplásicas não costumam invadir o sangue
periférico.

O tratamento ideal se dá pela combinação da radioterapia com quimioterapia, sendo


adequado para os diferentes estágios de progressão da doença, relacionado ao grau de
envolvimento do linfoma (se em linfonodos ou extranodais).

53
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Neoplasias do sistema nervoso central

O Sistema Nervoso (SN) é composto por duas divisões: o Sistema Nervoso Central
(SNC), incluindo encéfalo, tronco encefálico e a medula espinhal, e o Sistema Nervoso
Periférico (SNP), incluindo receptores sensoriais, nervos sensoriais e gânglios externos
ao SNC.

Figura 13. O esquema do SNC.

Fonte: Adaptado de <http://www.epub.org.br/svol/cerebro.html>. Acesso em: 3/3/2016.

Observamos que o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico formam a região denominada


de encéfalo, a qual compõe este sistema juntamente com a medula espinhal.

A medula espinhal é a porção mais caudal do SNC que se estende da base do crânio até a
primeira vértebra lombar. Esta estrutura é segmentada com 31 pares de nervos espinhais
que contém nervos sensoriais e motores. Os nervos sensoriais são responsáveis por
carregar a informação para a medula (o que denominamos de aferente), a partir da pele,
das articulações, dos músculos e das vísceras da periferia, por exemplo. Já os nervos
motores carregam as informações a partir da medula espinhal (o que denominamos
de eferentes) até a periferia. Estas informações sensoriais também podem trafegar
subindo ou descendo a medula espinhal. As vias ascendentes da medula espinhal
carregam informações sensoriais da periferia para os níveis superiores do SNC; já as
vias descendentes carregam informações motoras dos níveis superiores do SNC para os
nervos motores da periferia.

O tronco encefálico é constituído por três regiões: bulbo, ponte e mesencéfalo. No bulbo
são encontrados centros que regulam a respiração e a pressão sanguínea, bem como os
centros que coordenam os reflexos de deglutição, tosse e vômito. A ponte participa do

54
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

equilíbrio e da manutenção da postura, além da regulação da respiração. Ainda, a ponte


tem a função de transmitir informações do cérebro para o cerebelo. O mesencéfalo
participa do controle dos movimentos dos olhos, além de conter centros dos sistemas
auditivos e visuais.

Outra estrutura que compõe o SNC é o cerebelo, o qual está conectado ao tronco
encefálico e possui as funções de coordenação dos movimentos; planejamento e
execução dos movimentos; manutenção da postura e coordenação dos movimentos da
cabeça e dos olhos.

O tálamo e o hipotálamo são estruturas que formam o diencéfalo, localizado no meio


do cérebro. O tálamo é responsável pelo processamento de todas as informações que
atingem o córtex cerebral (camada mais externa do cérebro) e quase toda informação
motora proveniente do córtex cerebral para o tronco encefálico e medula espinhal.
O hipotálamo está localizado anteriormente ao tálamo e possui centros de regulação
da temperatura corporal, ingestão alimentar e balanço hídrico. O hipotálamo é,
também, uma glândula endócrina que controla a secreção de hormônios da hipófise:
o hipotálamo secreta hormônios que estimulam ou inibem a secreção de outros
hormônios. Este mecanismo de controle da secreção de hormônios é denominado de
alças de retroalimentação ou alças de feedback. Observe o exemplo da figura 14.

Figura 14.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

55
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Esse esquema ilustra o mecanismo de ação de uma alça de retroalimentação, envolvendo


a atividade do hipotálamo e da hipófise na regulação da secreção de hormônios
tireoidianos. Podemos observar que o hipotálamo, quando estimulado, libera o
hormônio TRH- hormônio liberador de tireotrofinas (neste caso em questão). Este
hormônio estimulará a liberação de outro na hipófise, o TSH- hormônio estimulador
da tireóide. O TSH, sua vez, atuará na glândula tireóide, estimulando a secreção dos
hormônios tireoidianos. No entanto, existem setas indicando sinal negativo, que
significam que, em ocasiões de maior concentração de qualquer um destes hormônios,
haverá inibição no estímulo desta alça, evitando acúmulo de hormônios e atividade das
estruturas sem necessidade.

A partir da descrição das principais estruturas que compõem o SNC, podemos concluir
que ele é de suma importância para a regulação de quase todos os processos do organismo
e que seu funcionamento adequado também é essencial para o desenvolvimento de
suas ações.

Dentre as anormalidades que podem acometer o SNC, estão as neoplasias, sendo


mais comum a ocorrência de tumores no cérebro, nervos cranianos (nervos ligados
ao encéfalo) e meninges (membranas que revestem e protegem as estruturas do
SNC). Os tipos mais frequentes de neoplasias do SNC são os gliomas (que acometes
células da glia, as quais são células de suporte, nutrição e proteção dos neurônios,
podendo ser encontradas em todas as regiões do sistema nervoso), os quais acometem
cerca de 40 a 60% dos casos e é mais comum em adultos. Existem, também, os
meningiomas (20 a 30% dos casos) e os neurilemomas (tumores originados nas
células de Schwann, que é um tipo de célula glial que formam a bainha mielina, a
qual funciona como um isolante elétrico para neurônios do SNP: ocorrem entre 5 e
10% dos casos).

Apesar de não ser muito frequente, o câncer do SNC contribui significantemente para
a morbidade mundial. Apresenta picos de ocorrência na infância e em indivíduos com
idade acima de 45 anos. A etiologia desta doença ainda é pouco esclarecida, sendo
a irradiação terapêutica a única causa confirmada, mas com rara ocorrência com
associação ao desenvolvimento dos meningiomas e neurilemomas. Traumas físicos
na região da cabeça e traumas acústicos (como o caso de trabalhadores exposto a alto
nível sonoro) também são considerados fatores de risco. Alguns estudos ainda sugerem
a relação da radiação gerada pela radiofrequência, telefonia móvel e telecomunicação
com a ocorrência de gliomas, mas não há nada conclusivo.

56
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Neoplasias de pele

A pele compõe, aproximadamente, 16% do peso corporal e desempenha múltiplas


funções. É composto por duas porções: uma porção epitelial de origem ectodérmica (que
reveste externamente) denominada “epiderme” e outra porção conjuntiva de origem
mesodérmica (que possui contato mais interno aos órgãos) denominada “derme”. A
espessura da epiderme fornece a caracterização de “pele espessa” e “pele fina”, sendo
que a primeira é encontrada na planta dos pés e em algumas articulações e a segunda,
protege o restante do corpo. Há, também, o tecido celular subcutâneo ou “hipoderme”
que serve para unir órgãos adjacentes, sendo um tecido conjuntivo frouxo, o qual pode
conter células adiposas.

É considerado o maior órgão do corpo, compreendendo uma área de superfície de 1,5 a


2,0 m2 (NICHOLS; KATIYAR, 2010) e está estrategicamente localizado entre o interior
e o exterior do corpo, sendo a primeira barreira de defesa contra injúrias externas
(CHAMCHEU et al., 2011; GARCIA-FERNANDEZ, 2014). Acompanhe as principais
funções deste órgão:

»» proteção contra desidratação e atrito (camada queratinizada da


epiderme);

»» recebimento de informações sobre o ambiente, encaminhando-as ao


sistema nervoso central (terminações nervosas sensitivas);

»» termorregulação (presença de vasos sanguíneos, glândulas e tecido


adiposo);

»» excreção de substâncias (presença de glândulas sudoríparas);

»» proteção contra raios ultravioletas (presença de um pigmento produzido


e acumulado na epiderme: melanina);

»» formação de vitamina D3 (ação da radiação ultravioleta do sol);

»» proteção contra a invasão de microrganismos (presença de células do


sistema imunológico).

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Figura 15. Composição da pele. Separação em camadas epiderme, derme e hipoderme (da mais externa a

mais interna, respectivamente); vasos sanguíneos; glândulas sudoríparas e células sensoriais, além da camada

queratinizada, também denominada de camada córnea.

Fonte: Adaptado de <http://tatices.com/wordpress/archives/250>. Acesso em: 3/3/2016.

A camada córnea é a barreira mais externa da pele e, por isso, é a primeira linha de defesa
do corpo contra a radiação ultravioleta (UV) solar, a qual é primordial para produção de
vitamina D, entretanto, é responsável pela maior parte da incidência de câncer de pele
na população humana. Embora a camada córnea seja uma barreira altamente eficiente,
algumas condições são capazes de alterar essa função, levando a danos severos na
pele, como rachaduras. Estes danos podem causar infecções e inflamação na pele, e,
futuramente, ser agravado para um quadro de dermatite atópica, xerose crônica, entre
outros (BINIEK; LEVI; DAUSKARDT, 2012).

A exposição à radiação solar é o principal fator para iniciação de muitas alterações


cutâneas, tais como formação de rugas, descamação, ressecamento, anormalidades na
pigmentação e câncer de pele.

A camada epidérmica possui epitélio estratificado pavimentoso queratinizado,


com população abundante de queratinócitos, além de outros tipos celulares, como
melanócitos, células de Langerhans e as de Merkel. A espessura desta camada varia
de acordo com o local do corpo, por exemplo, na palma das mãos ela é mais espessa e
complexa, bem como na planta dos pés e nas articulações, podendo chegar até 1,5 mm.
É composta de cinco camadas:

a. Camada basal: separa a derme da epiderme, rica em células-tronco,


apresenta intensa atividade mitótica.

58
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

b. Camada espinhosa: formado por células achatadas que possuem feixes


de queratina.

c. Camada granulosa: composta de células que expulsam seu conteúdo rico


em proteínas e lipídeos que auxiliam na formação de barreira contra
penetração de substâncias e tornam a pele impermeável à água (formação
do copo lamelar).

d. Camada lúcida: mais evidente na pele espessa, composta por células que
contém queratina.

e. Camada córnea: possui espessura variável, composta de células


achatadas, mortas e sem núcleo (corneócitos). Essas células possuíam,
em seu núcleo, uma grande concentração de queratina, a qual continua
dispersa em seu citoplasma.

(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2011).

Figura 16. Distribuição dos principais tipos celulares da camada epidérmica.

Fonte: Adaptado de Natarajan et al. (2014).

É a camada mais superior da pele, com espessura de apenas 0,1 a 0,2 mm, diretamente
exposta ao meio externo. Os queratinócitos se diferenciam a partir da camada basal
(onde se localizam as células-tronco) e, à medida que são deslocados para a camada
córnea, vão se estratificando, perdendo seus núcleos e formando um aglomerado
de queratina, sendo conhecidos como corneócitos (MACNEIL, 2007). Este tecido
estratificado envolve uma reorganização e expressão programada de várias proteínas e
lipídeos que determinam a função de barreira cutânea.

59
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Eventualmente, a diferenciação de queratinócitos resulta na formação de corneócitos.


Nas fases iniciais de diferenciação para estrato córneo, a camada espinhosa constrói
filamentos citoplasmáticos de queratina. Estes filamentos, denominados filangrinas,
relacionam-se com células vizinhas por meio dos denominados desmossomos. No estrato
granuloso, há uma variedade lipídica que, juntamente com enzimas, são “empacotados”
em vesículas e formam o corpo lamelar. A secreção dos lipídeos no meio extracelular é
seguida por modificação para produção de uma matriz lipídica. De maneira simultânea,
ocorre degradação celular e de organelas, resultando em um acúmulo de filamentos de
queratina achatados e interligados com outras proteínas. Além destes eventos, uma
camada lipídica, composta de longas cadeias de ω-hidroxiceramidas, junto de ésteres
de colesterol, esfingosinas a ácidos graxos livres, complementam uma “barreira” em
torno dos corneócitos (NATARAJAN et al., 2014).

O estrato córneo de humanos é composto por 50% de ceramidas, 25% de colesterol e


15% de ácidos graxos livres. As ceramidas possuem um alto teor de ésteres de ácidos
graxos de cadeia longa. As ceramidas com ácidos linoleico formam um grande folheto
membranoso. O colesterol e o sulfato de colesterol são as maiores espécies de esteróis
no estrato córneo, mantendo a coesão entre as matrizes lipídicas. A maior parte dos
ácidos graxos livres são saturados com mais de 20 carbonos em sua estrutura. O fluxo
de lipídeos entre a camada córnea e a granular é coordenado por enzimas presentes
nestes territórios. A atividade destas enzimas é substancialmente reduzida, com o
aumento do pH no estrato córneo.

A derme é considerada o tecido conjuntivo onde se apoia a epiderme, unindo pele


subcutânea ou hipoderme. Também possui espessura variável, podendo atingir até 3
mm na planta dos pés. Possui superfície externa irregular, com saliências denominadas
papilas dérmicas, as quais aumentam a área de contato entre a derme e a epiderme. É
constituída de duas camadas:

a. Camada papilar: delgada, com fibrilas de colágeno e pequenos vasos


sanguíneos responsáveis pela nutrição e oxigenação da epiderme.

b. Camada reticular: mais espessa, com fibras elásticas, vasos sanguíneos,


linfáticos, nervos, folículos pilosos, glândulas sebáceas e sudoríparas.

(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2011).

A hipoderme é formada de tecido conjuntivo frouxo, unindo a derme aos órgãos


adjacentes. Essa camada é responsável pelo deslizamento da pele sobre estruturas que
se apoia (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2011).

60
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

As neoplasias de pele apresentam-se em três principais formas: melanoma, carcinoma


basocelular e carcinoma espinocelular/epidermoide. Os dois últimos, conhecidos
como câncer de pele não melanoma são os tipos mais frequentes, principalmente em
populações de pele mais clara. Ainda, a exposição excessiva ao sol é fator principal de
risco para ambos os tipos de câncer de pele.

O câncer de pele não melanoma tem incidência aumentada com o avanço da idade, em
especial para o carcinoma epidermoide, no entanto, em termos gerais, o carcinoma
basocelular é mais frequente do que o epidermoide e ambos ocorrem mais em homens
do que em mulheres. Este tipo de câncer de pele (os não melanoma) costuma apresentar
bom prognóstico, com altas taxas de cura, quando tratado de forma adequada e precoce.

Quanto ao câncer de pele melanoma, este se apresenta com menor frequência e,


também, é mais frequente em populações de pele clara, expostas à radiação solar. Para
tumores localizados, possui bom prognóstico.

A proteção individual contra a luz solar é a forma ideal para o combate dos cânceres
de pele. É recomendável que, caso o indivíduo apresente qualquer risco para a doença,
procure um dermatologista ao primeiro sinal de surgimento de manchas ou sinais de
pele, além de modificações de coloração, tamanho ou bordas de lesões mais antigas.

Neoplasias de tireoide

A tireoide é uma glândula localizada na região anterior do pescoço, abaixo da cartilagem


tireóidea e da cartilagem cricoidea, estando aderida anterior e bilateralmente à traqueia.

Figura 17. Localização anatômica da glândula tireoide.

Fonte: Adaptado de <https://gersondeltreggia.wordpress.com/category/anatomia-da-tireoide/>. Acesso em: 3/3/2016.

61
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Conforme mencionado, o órgão está na região anterior do pescoço, abaixo da cartilagem


tireoidea e da cartilagem cricoidea e aderida anterior e bilateralmente à traqueia.

É um órgão ricamente vascularizado e se caracteriza histologicamente por apresentar


folículos (estruturas globulares revestidas por uma camada única de células cúbicas),
os quais são preenchidos por coloide, que é um tipo de secreção espessa, cujo
principal componente é uma proteína denominada tireoglobulina. Entre os folículos,
localizam-se células embrionárias, denominadas células C ou células parafoliculares,
as quais são responsáveis pela produção de calcitonina (hormônio relacionado ao
metabolismo do cálcio).

Figura 18. Representação de um corte histológico da glândula tireoide, mostrando as estruturas citadas ao

longo do texto: células foliculares, coloide, células C e vasos sanguíneos, além da cápsula que funciona como

envoltório mais externo da glândula.

Fonte: Adaptado de <http://pt-br.aia1317.wikia.com/wiki/Horm%C3%B4nios_Metab%C3%B3licos_da_Tireoide>. Acesso em:


3/3/2016.

Possui importante função na regulação da taxa metabólica basal, além de participar da


secreção de hormônios importantes para processo de crescimento e desenvolvimento
do organismo. Os hormônios tireoidianos (triiodotironina-T3 e tiroxina ou
tetraiodotironina-T4) são inicialmente biossintetizados nas células foliculares e, em
seguida, no coloide (onde a biossíntese é finalizada). Então, os hormônios T3 e T4
permanecem no interior da tireoglobulina, até que sejam estimulados para o processo
de secreção.

Assim, notamos que a tireoglobulina é essencial para os hormônios tireoidianos, no


entanto, existe outra substância essencial para o processo de biossíntese de T3 e T4:
o iodo, o qual pertence a composição destes hormônios e, portanto, é essencial um
adequado suprimento alimentar para garantir um aporte ideal de iodo.
62
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Figura 19. Representação das moléculas químicas dos hormônios tireoidianos.

Fonte: Adaptado de <http://www.dicasdesaude.info/doencas/disturbios-da-tireoide-saiba-mais-sobre-a-doenca>.

Pela figura 19, podemos perceber que ambos são provenientes de uma molécula de
tirosina, que é um aminoácido condicionalmente essencial que, em situações normais,
é sintetizado a partir de outro aminoácido, a fenilalanina. A partir da tirosina, pode
haver a incorporação de uma ou duas moléculas de iodo reduzidas a iodeto (o que
ocorre no intestino delgado) e, então, teremos a formação de monoiodotirosina (MIT
= 1 iodeto + tirosina) e diiodotirosina (DIT = 2 iodo + tirosina). Nesta formação, as
iodotirosinas são incorporadas às tireoglobulinas e podem ser acopladas, por meio do
auxílio de uma enzima. A união de duas tirosinas gera uma tironina e, portanto, quando
as iodotirosinas se unem, formarão iodotironinas: diiodotironinas (T2), triiodotironinas
(T3) e tetraiodotironina (T4). O T2 não possui efeito biológico, bem como outra variação
de hormônio tireoidiano, o T3r (T3 reverso).

Os hormônios tireoidianos permanecem na circulação sanguínea, em sua maior parte


acoplados a proteínas transportadoras e, apenas a fração livre é que exerce função
biológica e ainda, o T3 é o que produz maior atividade e pode ser resultado do processo
de desiodação (retirada de uma molécula de iodo através da enzima desiodase) do T4.

Vamos acompanhar no quadro 9, maiores detalhes sobre as principais funções dos


hormônios tireoidianos.

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Quadro 9. Resumo das principais funções dos hormônios tireoidianos e suas respectivas características.

Tipo de função Características principais


Gerais: os hormônios tireoidianos são um dos principais reguladores da taxa metabólica basal e imprescindíveis para
regulação da temperatura corporal. Ativam processos que aumentam a síntese e quebra de ATP; processos de geração
de calor; estimulam a atividade da cadeia respiratória, entre outras funções.
Metabolismo lipídico: apesar de potentes ativadores da lipogênese (síntese de gordura) no fígado, tecido adiposo
marrom e branco e glândulas mamárias, os hormônios tireoidianos são mais eficientes na promoção da lipólise (quebra
Metabólica de gordura) nestes mesmos tecidos; este mesmo fenômeno ocorre com a síntese e quebra de colesterol.
Metabolismo de carboidratos: estimulam a absorção intestinal de carboidratos e a produção hepática de glicose,
aumentando a concentração de glicose plasmática e, além disso, aumentam a utilização de glicose pelas células e
estimulam a síntese de transportadores de glicose (GLUTs) nas células.
Metabolismo de proteínas: Há estímulo tanto de síntese, quanto de catabolismo de proteínas, o que é bastante evidente
no músculo esquelético.
Hormônio do crescimento (GH) e fatores de crescimento: os hormônios tireoidianos estimulam a transcrição gênica do
Crescimento e GH e aumentaM a produção de fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFs).
desenvolvimento Substância surfactante: no período fetal, os hormônios tireoidianos participam da regulação da síntese e secreção do
surfactante pulmonar, o qual possui o papel de reduzir a tensão superficial dos alvéolos.
Sistema nervoso: durante a fase embrionária, o T3 é fundamental para a multiplicação celular e gênese de sinapses
(processo de comunicação entre neurônios) no sistema nervoso central. Ainda, a vascularização do sistema nervoso é
dependente de IGFs, os quais são estimulados pelos hormônios tireoidianos.
Sistema cardiovascular: os hormônios tireoidianos regulam a expressão gênica de genes que codificam proteínas muito
importantes para a função cardíaca.
Sistema respiratório: as ações destes hormônios no sistema respiratório relacionam-se com sua ação na regulação da
Sistêmico taxa metabólica basal avaliada pelo consumo de O2 e produção de CO2. Assim, quando há aumento da taxa metabólica
basal, há aumento no consumo de O2 e na produção de CO2.
Sistema muscular esquelético: o T3 participa da regulação na expressão de proteínas muito importantes para a função
do sistema muscular esquelético.
Sistema ósseo: auxiliam na regulação dos processos que determinam a massa óssea do indivíduo (osteogênese e
osteólise). Há relatos de que os hormônios tireoidianos aumentem a expressão de osteocalcina, que é um hormônio
muito importante para a mineralização óssea (participa de uma das etapas da osteogênese).
Fonte: Adaptado de Curi; Procópio (2009).

Existem muitas anormalidade relacionadas ao funcionamento da glândula tireoide, tais


como o hipotireoidismo (insuficiência na atividade da glândula), o hipertireoidismo (a
glândula produz excessivamente os hormônios tireoidianos) e tireoidite de Hashimoto
(uma doença autoimune que causa inflamação na tireoide), por exemplo. Além disso,
este órgão pode ser alvo de processos neoplásicos.

Segundo INCA (2014), os tipos morfológicos mais comuns de câncer de tireoide


são os adenocarcinomas papilares (que acometem cerca de 50 a 80% dos casos);
os adenocarcinomas foliculares (que acometem cerca de 10 a 40% dos casos) e os
adenocarcinomas medulares (que acometem cerca de 5 a 15% dos casos). Acompanhe
mais detalhadamente as características de cada tipo não quadro 10.

É considerada a neoplasia maligna mais comum que acomete o sistema endócrino,


com maior frequência em mulheres com idade entre 25 e 65 anos. Segundo pareceres
da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM, 2015) a causa exata do câncer
de tireoide não é bem conhecida, mas dentre os principais fatores de risco para esta

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

doença, destacam-se a realização de tratamentos com radiação para cabeça, pescoço


ou tórax, principalmente se realizados na infância ou adolescência; história familiar da
doença; idade superior a 40 anos e a presença de grandes nódulos na glândula tireoide.
No entanto, o fato de o indivíduo ter algum destes fatores de risco, não significa que
terá a doença.

Quadro 10: Denominação dos tipos de câncer de tireoide e suas principais características.

Tipo de câncer de tireoide Principais características


É o tipo de neoplasia de tireoide mais comum, que cresce muito lentamente, podendo
se espalhar em linfonodos, na região do pescoço (próximo à glândula tireoide). A
metástase para ossos e pulmão é muito raro. Acomete as mulheres, entre 30 e
Adenocarcinoma papilar/papilífero
50 anos de idade, cerca de duas vezes mais do que os homens. Se o tumor for
detectado quando pequeno (com aproximadamente menos de 1 cm,) a taxa de cura
é praticamente de 100% em indivíduos jovens.
É o segundo tipo mais frequente de câncer de tireoide. Raramente ocorre de se
espalha para linfonodos, mas pode ocorrer metástase em ossos e pulmão. Afeta duas
Adenocarcinoma folicular vezes mais as mulheres, com idade entre 40 e 60 anos. Se detectado enquanto o
tumor for pequeno, a taxa de cura pode atingir aproximadamente 95% em pacientes
jovens, diminuindo ligeiramente em idades mais avançadas.
É menos comum do que o papilar e o folicular e, quando há metástases, os pacientes
apresentam cerca de 90% de chance de sobreviver durante 10 anos. Esse tipo de
Adenocarcinoma medular
câncer de tireoide pode ocorrer repentinamente em membros da mesma família,
sendo ideal o estudo de risco genético entre os outros membros.
Esse é o tipo mais raro que acomete de 1 a 2% dos casos e é considerado o tipo
mais agressivo. É bastante comum a neoplasia voltar após o tratamento e a chance de
Adenocarcinoma anaplásico
sobrevivência entre 6 e 12 meses é muito baixa. Este tipo afeta mais os homens com
idade superior a 65 anos e é muito raro ocorrer em indivíduos jovens.
Fonte: Adaptado de SBEM (2015).

A radiação ionizante, seja por exposição ao tratamento seja ambiental, é o fator de risco
mais bem estabelecido para o desenvolvimento do processo neoplásico na tireoide. Há
indícios de haver maior efeito carcinogênico quando esta exposição ocorre antes dos 5
anos de idade (crianças são mais vulneráveis aos efeitos desta radiação). Estas relações
passaram a ser mais investigadas e confirmadas após as explosões atômicas no Japão e
o acidente de Chernobyl.

Ainda, a associação de câncer de tireoide e histórias de doenças benignas da tireoide


têm sido observadas na maioria dos estudos e, além disso, devido à maior ocorrência
em mulheres, discute-se o fato de existir certa influência hormonal para explicar essas
maiores taxas.

Conforme mencionado anteriormente, a síntese dos hormônios tireoidianos ocorre


na presença de iodo. No caso de um quadro de deficiência crônica ou excesso desta
molécula (iodo) no organismo, haverá hiperplasia e hipertrofia das células foliculares e
este fato pode estar relacionado a um maior risco para desenvolvimento da doença em
questão. O elevado consumo de peixes e frutos do mar está associado ao maior risco

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

para o desenvolvimento de câncer de tireoide do tipo folicular. O fator genético está


bastante atrelado ao desenvolvimento de adenocarcinoma medular da tireoide.

O tratamento para esta doença pode variar muito de acordo com o tipo de neoplasia e da
presença ou ausência de metástase. Geralmente, as opções incluem: processo cirúrgico;
terapia com iodo radioativo (ingestão de pequena quantidade de iodo radioativo, para
destruir as células neoplásicas da tireoide, não removidas pela cirurgia), radioterapia e
quimioterapia.

Neoplasias do sistema respiratório

A função principal do sistema respiratório é promover a troca de oxigênio (O2) e dióxido


de carbono (CO2) entre o ambiente e as células do corpo. Essa função ocorre a partir
da chegada de ar para o interior dos pulmões durante a fase de inspiração e, então, O2
e CO2 são trocados a partir da composição do ar e do sangue presente nos capilares
pulmonares e, após esta troca, o ar é expirado, completando-se um ciclo respiratório
(inspiração/expiração) (COSTANZO, 2011).

Figura 20. Os componentes do sistema respiratório do corpo humano.

Fonte: Adaptado de <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgZaoAJ/resumao-aula-atmosfera-medicina-aeronautica>.


Acesso em: 3/3/2016.

Conforme se observa na figura 20, em A temos uma visão mais geral deste sistema, o
qual é composto por faringe, laringe, traqueia, pulmão (direito e esquerdo), além do
diafragma e do coração que participam do ciclo respiratório. Ainda na figura A, notamos
a descrição de brônquios e bronquíolos, os quais junto com a traqueia caracterizam a
zona de condução de ar do sistema. Além disso, em B, temos a descrição dos alvéolos, que
são estruturas interligadas com os bronquíolos e são consideradas a zona respiratório,

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

onde ocorre de fato as trocas gasosas. Em C observamos um esquema da troca gasosa


descrita anteriormente a figura, em que ocorre troca de O2 e CO2 entre o ar que atinge
as estruturas alveolares e os gases dos capilares alveolares.No sistema respiratório,
existe uma zona de condução composta pela traqueia, brônquios e bronquíolos, que
são estruturas que participam da condução do ar inspirado para que este possa sofrer
o processo de troca gasosa na chamada zona respiratória, que possui como principal
representante o alvéolo, conforme detalhado na figura acima.

O diafragma é um músculo de extrema importância para que ocorra o processo de


inspiração. Conforme ele se contrai, ocorrem diversas modificações em estruturas
adjacentes a ele que promovem a redução da pressão intratorácica, o que facilita a
entrada de ar em direção aos pulmões. Além disso, o fluxo sanguíneo que atinge os
capilares é proveniente do débito cardíaco. Imediatamente ao débito cardíaco, o sangue
é ejetado pelo ventrículo direito e “entregue” para os pulmões por meio das artérias
pulmonares. Estas artérias se ramificam em artérias menores que cursam com os
brônquios em direção à zona respiratória. As artérias menores se dividem em arteríolas
e, então, em capilares pulmonares, formando uma ampla rede ao redor dos alvéolos
(COSTANZO, 2011; CURI; PROCÓPIO, 2009).

Figura 21: A distribuição dos componentes do sistema respiratório em suas respectivas regiões.

Fonte: Adaptado de <http://www.fisiotic.org/essawiki/index.php?title=Vias_A%C3%A9reas>.

Na figura 21, nota-se que os bronquíolos respiratórios fazem parte da chamada zona
de transição, visto que participa tanto da zona de condução, a qual também é formada
pela traqueia e brônquios e da zona respiratória que também é formada pelos ductos
alveolares e pelos alvéolos. Assim, quando há estímulo para o processo inspiratório,
o ar atinge os brônquios através de seu influxo e é conduzido pela zona de condução
(traqueia, brônquios e bronquíolos) até a zona respiratória (bronquíolos, ductos e
alvéolos), onde ocorrerá o processo propriamente dito das trocas gasosas.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Neoplasias do pulmão

São vários os tumores benignos ou malignos que podem acometer o pulmão e, no


caso dos tumores malignos, a maior parte deles decorre de metástases de neoplasias
iniciadas em outros órgãos. Quase 100% das neoplasias de pulmão (pouco mais do que
95%) possuem origem epitelial, tais como carcinoma espinocelular; adenocarcinoma;
carcinoma indiferenciado de pequenas células e carcinoma indiferenciado de grandes
células.

Conforme já mencionado anteriormente, o aumento nos casos de câncer de pulmão


vem sendo fortemente associados ao tabagismo. Estima-se que os usuários de tabaco
tenham cerca de 20 a 30 vezes mais risco para o desenvolvimento deste câncer se
comparados a indivíduos não fumantes. Além disso, são considerados fatores de risco,
a exposição a carcinógenos ambientais e ocupacionais (como amianto, arsênio, radônio
e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos). Ainda, repetidas infecções pulmonares,
história de tuberculose e deficiência ou excesso de vitamina A também são considerados
fatores de risco para esta doença (INCA, 2014).

Aproximadamente 85% dos pacientes que apresentam este tipo de câncer morrem em
torno de cinco anos após diagnóstico. Neste caso (do câncer de pulmão), considera-se
de suma importância o diagnóstico precoce da doença, visto que, quando em estádio I,
o paciente possui de 60 a 90% de chances para sobreviver com o tratamento cirúrgico. É
considerado que a existência de sintomas já representa um prognóstico bastante ruim.
A presença de sintomas pode ser decorrente de crescimento local do tumor, metástases,
síndromes paraneoplásicas e efeitos sistêmicos (UEHARA; JAMNIK; SANTORO, 1998).

Os principais sintomas locais detectados em pacientes com câncer de pulmão sintomático


são: tosse (45 a 75% dos casos); hemoptise (expulsão de secreção sanguinolenta pela
tosse que decorre de uma hemorragia na árvore brônquica – 27 a 57% dos casos); dor
torácica (ocorre, frequentemente, no lado em que está o tumor – 27 a 49% dos casos);
sibilos (sugerem obstrução de brônquios) e dispneia (37% dos casos).

Quando há metástases em câncer de pulmão, relaciona-se com maior frequência ao


acometimento em fígado, suprarrenais, ossos e cérebro. Dentre os sintomas para este
quadro, destacam-se:

»» Rouquidão e paralisia do diafragma → neste caso, a paralisia do diafragma


é assintomática e, geralmente, é descoberta por exame radiológico (18%
dos casos).

68
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

»» Derrame pleural → a pleura é uma fina capa membranosa que se


assemelha a um saco e envolve o pulmão; no derrame pleural, há formação
ou secreção de exsudatos/fluido inflamatório sero-sanguinolentos,
geralmente associados a carcinomas (7% dos casos);

»» Síndrome de Pancoast → ocorre quando o tumor localiza-se no ápice


pulmonar; é a forma de apresentação de cerca de 4% dos tumores de
pulmão e é caracterizada por um conjunto de sinais: compressão dos
ramos inferiores do plexo braquial (conjunto de nervos originados na
medula espinhal), causando dor em ombros e membro superior; fraqueza
e atrofia dos músculos intrínsecos da mão; compressão do gânglio
simpático.

»» Síndrome da veia cava superior → há obstrução de fluxo sanguíneo da


veia cava superior, causando sensação de aumento de volume na cabeça
e dispneia (falta de ar).

»» Metástase no coração → em 30% dos casos, há metástase e derrame em


pericárdio (membrana serosa que envolve o coração).

»» Metástase em fígado → ocorre em 30 a 60% dos casos.

»» Metástase em suprarrenal → ocorre em 25 a 40% dos casos.

»» Metástase óssea e em sistema nervoso central.

(BRESCIANI et al., 2011; UEHARA; JAMNIK; SANTORO, 1998)

As síndromes paraneoplásicas compreendem um conjunto de sinais e sintomas que


ocorrem concomitantemente à presença de um tipo de câncer. É mais comum em
pacientes portadores de carcinoma indiferenciado de células pequenas, acometendo de
10 a 20% destes casos (veja no quadro 11).

O surgimento destes sintomas característicos ao câncer de pulmão deve ser


monitorado e o paciente deve ser imediatamente investigado para que se estabeleça
um diagnóstico definitivo o mais rápido possível e se inicie o tratamento mais
adequado para o quadro.

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Quadro 11. Principais sinais e sintomas que caracterizam as síndromes paraneoplásicas e algumas observações

respectivas para cada sinal.

Sinais e sintomas Observações


São causadas tanto por efeitos locais do câncer, quanto por efeitos mais sistêmicos
Caquexia e anorexia que passam a afetar o apetite e metabolismo, além de efeitos relacionados ao
tratamento da doença.
Manifestações musculoesqueléticas São elas: esteoartropatia hipertrófica, polimiosite-dermatomiosite, entre outras.
São elas: anemia ferropriva, alterações da coagulação, aumento da incidência de
Síndromes hematológicas
tromboembolismo.
Ocorre secreção inapropriada do hormônio, resultando em aumento na reabsorção de
Hormônio antidiurético
água pelos rins.
Pode ocorrer devido à metástase óssea ou aumento de secreção do paratormônio
Hipercalemia
pelo tumor.
Síndrome de Cushing Decorre de um aumento da concentração de cortisol no organismo.
É uma doença autoimune caracterizada por fraqueza e fadiga muscular, secura na
Síndrome miastênica de Lambert-Eaton
boca e impotência sexual.

Neoplasias da laringe

A grande maioria (aproximadamente 95%) das neoplasias que acometem a laringe é do


tipo carcinoma de células escamosas, sendo que os adenocarcinomas e alguns sarcomas,
como o condrossarcoma (neoplasia maligna de cartilagem), apresentam-se em menor
frequência.

O principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de laringe é o uso de


tabaco, cujo qual, se associado com consumo de álcool, é potencializado. Ainda,
histórico familiar, maus hábitos alimentares, situação socioeconômica desfavorável,
papilomavírus humano (HPV), inflamação local (laringe) crônica causada por refluxo
gastroesofágico e a exposição a produtos químicos (pós de madeira, vapores de tinta,
fuligem ou poeira de carvão) também podem desencadear a doença.

O diagnóstico precoce auxilia para um bom prognóstico, com cerca de 80 a 100% de


chances de cura.

Neoplasias do sistema gastrointestinal

O sistema digestório é composto pelo trato gastrointestinal (boca, faringe, esôfago,


estômago, intestino delgado, reto e ânus) e órgãos anexos (glândulas salivares,
fígado, vesícula biliar e pâncreas) que, mesmo não sendo integrantes da via, secretam
substâncias em seu interior, por meio de ductos.

A principal função do sistema digestório é processar os alimentos ingeridos


(macromoléculas) em moléculas menores (nutrientes) e absorvê-las em direção ao
sangue para que sejam conduzidas até os tecidos e células-alvo do organismo. Os

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

principais nutrientes são as proteínas, lipídeos, carboidratos e vitaminas. Assim, este


sistema é responsável pelos seguintes processos: mastigação, deglutição, digestão e
absorção, além da eliminação de resíduos na forma de fezes.

Figura 22. Composição geral do sistema gastrointestinal, que compreende as seguintes estruturas: boca, língua,

faringe, esôfago, estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), intestino grosso e ânus; além dos órgãos

anexos: glândulas salivares, fígado, vesícula biliar e pâncreas.

Fonte: Adaptado de <http://andreane22.blogspot.com.br/2013/03/sistema-digestorio.html>.

O trato gastrointestinal, a partir do terço inferior do esôfago, possui aproximadamente


o mesmo arranjo ao longo de sua extensão. Nota-se quatro principais camadas: mucosa,
submucosa, muscular e serosa.

A camada mucosa se subdivide em epitélio, lâmina própria e muscular da mucosa.


O epitélio constitui uma barreira seletiva entre o conteúdo luminal do TGI e o meio
interno, além de secretar enzimas responsáveis pelo processo de digestão dos alimentos,
secreta muco e absorve produtos finais da digestão para o sangue. As células epiteliais
repousam na lâmina própria, local em que muitos componentes do sistema imunológico
estão associados, tais como os linfonodos, linfócitos e macrófagos protegendo o TGI
contra eventual invasão de microrganismos patogênicos. A camada muscular da
mucosa promove movimento independente da mucosa em relação ao tubo digestório,
aumentando o contato dos nutrientes com as células absortivas.

A camada submucosa é composta por vasos sanguíneos e linfáticos e glândulas exócrinas,


as quais possuem ductos que desembocam no canal alimentar.
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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

As camadas musculares constituem orientações circular e longitudinal, além da camada


oblíqua que é presente apenas no estômago. Estas orientações caracterizam a produção
de movimentos ao longo do TGI.

A camada serosa constitui o revestimento externo do sistema digestório, sendo composta


de células epiteliais. Não existe camada serosa no esôfago.

Neoplasias da cavidade oral

A boca é a primeira estrutura que compõe o sistema digestório. Possui uma fenda
limitada pelos lábios em sua porção anterior e, posteriormente, pela denominada parte
bucal da faringe por meio do istmo das fauces. Lateralmente, a cavidade bucal também
está limitada pelas bochechas; superiormente pelo palato e inferiormente por músculos
que constituem o assoalho da boca. Na cavidade oral, existem saliências: gengivas,
dentes e línguas (DÂNGELO; FATTINI, 2005). O teto da cavidade oral é constituído
pelo palato (palato duro – osso: localizado anteriormente; palato mole – músculo:
localizado posteriormente). Esta estrutura (o palato) é responsável por separar a
cavidade nasal da cavidade oral. Do palato mole, projeta-se uma saliência, chamada
de úvula e, lateralmente, existem duas pregas: arco palatoglosso (anterior) e o arco
palatofaríngeo (posterior) que são compostas por tecido muscular. Entre os arcos, há
um espaço que é ocupado pela tonsila palatina (popularmente conhecida por amigdala)
(DÂNGELO; FATTINI, 2005).

Figura 23. Estruturas da cavidade oral.

Fonte: Adaptado de A: <http://www.fotosearch.com.br/LIF001/9931h_hr/>; B: <http://www.atlasdocorpohumano.com/p/


anatomia/sistema-estomatognatico/boca/>. Acesso em: 3/3/2016.

Na imagem A, estão em destaque outras estruturas importantes da cavidade oral.


Temos o palato, que permite a separação entre a cavidade nasal e a cavidade oral,

72
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

sendo o palato duro (constituído por osso) e o palato mole (constituído por tecido
muscular); do palato existe uma saliência denominada úvula; na localização latera
existem duas estruturas musculares, pregas, o arco palatoglosso (mais anterior) e o
arco palatofaríngeo (mais posterior). No espaço existente entre estes arcos, localiza-se a
tonsila palatina, popularmente conhecida como amigdala; ainda, existe uma espécie de
fenda entre os dentes e a gengiva e entre os lábios e a bochecha. Em B, estão ilustradas
algumas estruturas que compõem a boca, a qual é o primeiro componente do sistema
digestório/gastrointestinal: lábios (superior e inferior); dentes; língua, istmo das
fauces, além da gengiva e da bochecha.

A língua é constituída de tecido muscular e é revestida por mucosa. Tem função


primordial nos processos de mastigação, deglutição, articulação das palavras, além de
ser um importante órgão gustativo (DÂNGELO; FATTINI, 2005). A gustação é muito
importante na proteção do homem (ou mesmo de animais) da ingestão de substâncias
tóxicas ou venenosas. Substâncias amargas, por exemplo, são geralmente detectadas
em concentrações minúsculas e instintivamente rejeitadas. Neste sentido, os quatro
sabores básicos que podem ser detectados pela língua são: doce, amargo, ácido e salgado;
além de existir um quinto sabor, que detecta a presença de glutamato monossódico
(amplamente utilizado na culinária oriental) o umami (CURI; PROCÓPIO, 2009).

Na mucosa que reveste a língua, existem projeções, denominadas de papilas linguais,


que são de vários tipos e recebem as seguintes denominações: papilas circunvaladas;
papilas foliadas e papilas fungiformes (CURI; PROCÓPIO, 2005; DÂNGELO; FATTINI,
2005). Acompanhe na figura 24.

Figura 24. Distribuição de papilas gustativas na língua.

Fonte: Adaptado de <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/FisiologiaAnimal/sentido.php>. Acesso em: 3/3/2016.

Temos 3 tipos distintos que se localizam em diferentes regiões da mucosa lingual: papilas
circunvaladas, que são as maiores e que se dispõem em V na base da língua; as papilas
foliadas que são encontradas nas bordas laterais da língua e as papilas fungiformes que
se encontram, em sua maior parte, na ponta da língua.

73
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Conforme acompanhamos na figura, as papilas circunvaladas são as maiores, porém,


menos numerosas. Estão dispostas em V na base da língua. As papilas possuem locais
específicos para receberem o estímulo do sabor, os chamados botões gustativos e,
cada papila circunvalada possui entre 250 e 300 botões gustativos. As papilas foliadas
encontram-se na região lateral da língua e cada uma delas possui centenas de botões
gustativos e, as papilas fungiformes, em sua maioria, localizam-se na ponta da língua
e cada uma dela possui, apenas, de um a cinco botões gustativos (CURI; PROCÓPIO,
2009).

Outras estruturas muito importantes que compõem a cavidade oral são os dentes e,
também, as glândulas salivares, as quais são consideradas glândulas anexas ao sistema
gastrointestinal/digestório. Existem diversos tipos de dentes e, cada um deles possui
uma função específica para o desenvolvimento dos processos relacionados ao sistema
digestório. São eles: incisivos, caninos, pré-molares e molares. Veja na figura a seguir.

Figura 25. A mostra a composição mais detalhada do dente, sendo que a porção da coroa, onde estão o

esmalte e a dentina (tecido mineralizado que forma o corpo do dente) localiza-se para fora da gengiva e, a

porção da raiz, onde estão a polpa (parte interna do dente, ricamente vascularizada e inervada); o cemento

(recobre aas estruturas da raiz); o ligamento periodontal (constitui a ligação entre o dente e o osso e possui

função de formação, nutrição, proteção e sensorial); além de nervos e suprimento sanguíneo. Em seguida, em B

temos as estruturas dos diferentes tipos de dente: incisivo, canino, pré-molar e molar.

Fonte: Adaptado de A: <http://terapiadasaude.com/definicoes-diagnostico-carie/>; B: <http://www.minhaescolaweb.com.br/


SAUDE/dentes.html>. Acesso em: 3/3/2016.

Quanto às glândulas salivares são classificadas em parótidas, sublinguais e


submandibulares, as quais secretam a saliva, que é constituída por água, eletrólitos,
muco, α-amilase e lipase lingual. A secreção salivar é controlada pelo sistema nervoso
simpático e principalmente parassimpático. As múltiplas funções da saliva ocorrem
tanto pela sua característica fluida quanto pelos componentes específicos. A limpeza da
cavidade oral, a formação do bolo alimentar, a facilitação da mastigação e da deglutição,
a solubilização de substâncias alimentares, a remoção de bactérias e alimentos, a
lubrificação da mucosa e a facilitação da fala estão relacionadas com as características

74
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

fluidas da saliva. Já a proteção dos dentes pela neutralização dos ácidos por ações
tamponantes, a ação bactericida e bacteriostática, a manutenção da saturação de fosfato
de cálcio relacionada à hidroxiapatita e a participação na formação da película adquirida
são exemplos das funções relacionadas aos componentes específicos da saliva.

Figura 26. Localização específica de cada um dos pares de glândula salivar: glândula parótida, glândula

sublingual e glândula submandibular.

Fonte: Adaptado de <http://www.todabiologia.com/anatomia/glandulas_salivares.htm>. Acesso em: 3/3/2016.

Segundo INCA (2014) o câncer da cavidade oral é considerado problema de saúde


pública na população mundial. Seus principais fatores de risco são: tabagismo, etilismo,
infecções por papilomavirus humano (HPV- principalmente pelo tipo 16) e exposição
à radiação solar UVA. No entanto, dentre estes fatores, destacam-se o tabagismo e
etilismo. Além disso, muitos autores relacionam a ingestão de frutas e vegetais na dieta
com o reduzido risco de desenvolvimento da doença.

Vem sendo reportado um aumento nos casos de câncer em amigdala, base da língua e
orofaringe na população de adultos jovens, em ambos os gêneros, e este perfil parece estar
relacionado a mudanças no comportamento sexual (INCA, 2014). Entre as neoplasias
malignas de cavidade oral, o carcinoma epidermoide é o tipo mais frequente, seguida
por neoplasias originadas nas glândulas salivares menores e de tumores de origem
mesenquimal. O pico de incidência ocorre com predomínio no gênero masculino, entre
50 e 60 anos de idade (VIEIRA et al., 2012).

Observa-se declínio na mortalidade por esta doença em homens, o que não é observado
em mulheres, visto que elas iniciaram o uso de tabaco mais tardiamente do que os
homens (INCA, 2014). Para que a incidência seja reduzida, deve-se, então, evitar os
fatores de risco e quando a doença já está instalada, o diagnóstico precoce por meio de
exames clínicos da cavidade oral, possibilitando a detecção tanto de lesões malignas
quanto do câncer em estágios iniciais e, portanto, o tratamento menos agressivo e mais
eficiente.

75
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Em um estudo epidemiológico (entre os anos de 1982 e 2002), foi realizado um


levantamento das principais neoplasias que acometem a cavidade oral, na região Norte
do Brasil. Foram levantados os seguintes resultados: dentre as neoplasias benignas,
os casos foram mais frequentes em mulheres com mais de 35 anos de idade, sendo
mais prevalente o fibroma, seguido de hemangioma e papiloma (ROCHA; OLIVEIRA;
SOUZA, 2006).

O fibroma é caracterizado por uma lesão de natureza conjuntiva, com proliferação de


fibroblastos e depósito de colágeno em diferentes direções, no entanto, os critérios
histopatológicos que definem este tipo de hiperplasia não estão bem definidos. Neste
sentido, muitos estudos acreditam que a esta lesão pode apresentar um caráter
predominantemente inflamatório ou fibroso. Clinicamente, o fibroma apresenta-se
como um nódulo de superfície plana e coloração semelhante à mucosa, podendo, em
alguns casos, apresentar superfície esbranquiçada pela irritação contínua e, geralmente,
apresentam-se assintomática.

O papiloma é uma proliferação benigna do epitélio escamoso estratificado e as


estruturas mais afetadas são língua, lábio e palato mole. Apresenta-se semelhante a
uma couve-flor ou verrugas e são indolores. Podem ser brancas, vermelho-claras ou de
coloração semelhante à mucosa e apresenta rápido crescimento (ROCHA; OLIVEIRA;
SOUZA, 2006).

O hemangioma é considerado um tumor benigno de infância, caracterizado por uma


fase de crescimento rápido com proliferação de células endoteliais e, após este período,
há involução gradual. Apresenta-se como uma mancha ou nódulo com coloração
vermelha arroxeada, flácido à palpação e de tamanho variável, encontrado com maior
frequência no lábio e língua. Geralmente, ocorre nos primeiros anos de vida ou, até
mesmo, no nascimento.

Neoplasias de esôfago

O esôfago é uma estrutura de condução do bolo alimentar da cavidade oral para o


estômago. Essa propulsão decorre de uma atividade coordenada em sua camada
muscular, entre o processo de contração e o de relaxamento. No intuito de propelir
o bolo alimentar, a porção muscular anterior ao bolo se contrai e a posterior relaxa,
estimulando este movimento. Ainda, quando este reflexo ocorre normalmente, a
epiglote (uma estrutura que fica atrás da língua, no início da laringe) se contrai e fecha a
passagem para a laringe, fazendo com que o bolo alimentar percorra o caminho correto
(figura 27).

76
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Figura 27. O processo de deglutição, em que há passagem do bolo alimentar da cavidade oral para o

estômago.

Fonte: Adaptado de <http://www.instrumentador.com.br/internas/aulas/fisiologia1.htm>.

Podemos observar que, ao percorrer este caminho, o bolo alimentar estimula a contração
da epiglote, a qual impede o acesso à laringe possibilitando, portanto, a passagem
esofágica.

Figura 28. Movimento esofágico.

Fonte: Adaptado de <http://www.uniap.org.br/noticia.asp?id=1139&areas=saude>.

Notem que à medida que o órgão vai estimulando a propulsão do bolo alimentar,
existe uma sincronia entre os movimentos de contração e de relaxamento. Para que
a condução seja efetiva, a região anterior ao bolo alimentar é contraída e a posterior é
relaxada, facilitando o processo.

As neoplasias na região esofágica não são muito comuns, mas quando ocorrem são
extremamente letais. Muitos estudos sugerem que as neoplasias esofágicas possuem
epidemiologia distinta, o que sugere um maior envolvimento de fatores de risco
ambientais e alimentares e uma predisposição genética pouco definida (QUEIROGA;
PERNAMBUCO, 2006).

77
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

São dois os principais subtipos histológicos de câncer de esôfago: carcinomas de células


escamosas (ou carcinoma epidermoide) e adenocarcinomas. Em cerca de 90% dos
casos, o primeiro é mais frequente em homens, a partir de 50 anos de idade (acomete a
porção do terço médio e inferior do esôfago); já o segundo surge na presença de refluxo
gástrico e metaplasia no epitélio, denominado “Esôfago de Barret” (acomete a porção
distal do esôfago) (INCA, 2014).

a. Carcinoma de células escamosas: são considerados fatores de risco para


este tipo de neoplasia de esôfago idade, história familiar, consumo de
álcool, fumo (fumado, mascado ou aspirado), infecções orais por fungos,
agentes infecciosos (por exemplo, HIV), deficiência de riboflavina, excesso
de vitamina A, contaminação de alimentos por micotoxinas fumonisinas
e ingestão excessivas, em alta temperatura, de erva-mate, o que é
muito comum no Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. Ocorre no epitélio
estratificado não queratinizado, característico da mucosa esofágica.

b. Adenocarcinoma: quanto a este tipo de neoplasia de esôfago, não houve


relação entre o consumo de álcool e o risco para seu desenvolvimento.
Ainda, o fumo também parece não exercer um risco potencial para seu
aumento. Entretanto, o refluxo gastroesofágico parece predispor o esôfago
de Berret, o qual, conforme mencionado anteriormente, é um importante
precursor do adenocarcinoma. O desenvolvimento de adenocarcinoma
esofágico está bastante relacionado à obesidade.

São considerados fatores protetores o uso de aspirina, além do uso de outros


anti-inflamatórios não esteroidais, bem como o consumo de frutas frescas e
vegetais e antioxidantes.

O carcinoma esofágico produz disfagia e obstrução progressiva e tardia. Há maior


dificuldade de deglutição, e sua dieta deve ser progressivamente alterada de alimentos
sólidos para líquidos. Existem, ainda, outros sintomas como odinofagia (dor no
deglutição/dificuldade de deglutir); desconforto retroesternal (dor atrás do osso
esterno); sensação de corpo estranho no esôfago proximal; dor epigástrica; anorexia;
náuseas; perda de sangue e emagrecimento. Pode ser disseminada via linfática,
hematogênica (da corrente sanguínea) ou intramural (do próprio órgão). A percepção
de linfonodos endurecidos na região das axilas (chamados Nódulos de Ireland) ou
supraclavicular (acima da clavícula – chamados de Nódulos de Virchow) geralmente
indicam a presença de metástase (QUEIROGA; PERNAMBUCO, 2006).

O exame de tomografia computadorizada pode auxiliar no estadiamento da doença.


Geralmente, é utilizada a seguinte classificação.

78
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Quadro 12. Estadiamento de carcinoma esofágico e suas principais características.

Estádios Características principais


Lesão ou espessamento localizado da parede esofágica (entre 3 e 5 mm), sem invasão
Estádio I
ou metástase.
Estádio II Espessamento da parede esofágica (> 5mm), sem invasão ou metástase.
Espessamento da parede esofágica com extensão para tecidos adjacentes; presença
Estádio III ou ausência de adenopatia local ou regional (aumento de tamanho dos linfonodos), sem
metástase à distância.
Estádio IV Metástase à distância.
Fonte: Adaptado de Queiroga; Pernambuco (2006).

Neoplasias do estômago

O estômago é composto por diferentes tipos celulares que desempenham importantes


funções secretoras: células parietais que secretam Ácido Clorídrico (HCl); células
principais que secretam pepsinogênio; células mucosas que secretam muco e células do
tipo G que secretam o hormônio gastrina.

As células gástricas também secretam o fator intrínseco, molécula essencial para a


absorção de vitamina B12.

Vamos, então, conhecer um pouco melhor sobre a importância da manutenção adequada


das células gástricas. Perceba, na figura 29, que o estômago é composto por uma grande
diversidade celular, conforme já mencionado e, cada uma delas, possui uma função
extremamente importante para a fisiologia do órgão.

Figura 29.

Fonte: Adaptado de Boron; Boulpaep (2009).

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Observamos, nessa figura, que, em 1, a estrutura geral do estômago, o qual é dividido em


porções, conforme demonstrado acima: temos a porção cárdia, que é a mais próxima do
esfíncter esofagiano inferior, em seguida, a porção do fundo do estômago; a porção mais
central recebe a denominação de corpo do estômago e, próximo ao piloro, localiza-se a
porção do antro. Em cada uma destas porções, existe uma maior população de células
específicas. Se observarmos um corte histológico do estômago, conforme demonstrado
na figura e identificado como 2, podemos observar que o tecido é formado por muitas
glândulas e, em 3, nestas glândulas, estão os diferentes tipos celulares em questão,
conforme ilustrado em 4.

O estômago é anatomicamente dividido em porções, conforme ilustrado na figura


e, em cada uma destas porções, existe uma maior população de células específicas,
as quais possuem diferentes funções para o bom funcionamento do órgão. Em uma
observação mais “íntima” deste tecido, podemos notar que é composto por muitas
glândulas/invaginações, as quais acomodam os diferentes tipos celulares que
compõem a mucosa gástrica. No quadro 13, podemos observar que cada uma destas
células é responsável pela secreção de algum componente muito importante para o
bom funcionamento gástrico.

O maior fator de risco para ocorrência de câncer de estômago, além da reduzida


ingestão de alimentos frescos, como frutas e verduras, e a ingestão de dietas com alto
cloreto de sódio, defumados e frituras (INCA, 2014; TEIXEIRA; NOGUEIRA, 2003)
é a exposição prolongada à bactéria Helicobacter pylori. É uma das infecções mais
comuns e é responsável por cerca de 60% dos casos deste tipo de câncer, no mundo. No
entanto, além dos fatores ambientais, os fatores genéticos também podem influenciar
muito para o surgimento do câncer gástrico. De um modo geral, a neoplasia gástrica
não possui bom prognóstico.

Quadro 13. Descrição dos principais tipos celulares que compõem o estômago e suas respectivas características

para o funcionamento adequado do órgão.


Tipo celular Principais características
São responsáveis pela secreção de bicarbonato (HCO-3), auxiliando na manutenção da integridade da
Células epiteliais superficiais
mucosa, protegendo da ação da secreção ácida.
São responsáveis pela secreção de muco, o qual promove a formação de uma camada protetora,
Células mucosas
dificultando a ação da secreção ácida nas células que compõem a mucosa.
Células-tronco/Células São células indiferenciadas que, ao longo da manutenção do epitélio gástrico, podem se diferenciar em
regenerativas qualquer dos outros tipos celulares, mantendo a integridade da estrutura.
São responsáveis pela secreção do ácido clorídrico (HCl) que é estimulado pela presença de alimento
Células parietais
na cavidade gástrica e do fator intrínseco (FI), o qual é essencial para a absorção de vitamina B12.
São responsáveis pela secreção de pepsinogênio, o qual, na presença da secreção ácida, é quebrado a
Células principais
pepsina e otimiza a digestão de proteínas.
As células endócrinas recebem diversas denominações e todas elas participam da secreção de
hormônios, proteínas ou compostos que exercem a função de sinalização. Existem as células G, que são
Células endócrinas responsáveis pela secreção de gastrina, que estimula a secreção ácida pelas células parietais; as células
ECL, responsáveis pela secreção de Histamina, que também estimulam a secreção ácida e as células D,
que secretam somatostatina, que inibe a secreção ácida.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

80
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

O câncer gástrico é caracterizado por alterações que ocorrem na mucosa do estômago.


Estas alterações decorrem da ação de diversos fatores e a mucosa passa a adquirir
um fenótipo regressivo, em que há substituição das células normais que existem
habitualmente em sua composição, por células “anormais”. Neste sentido, o epitélio
gástrico na situação de câncer torna-se semelhante ao da situação de gastrite e assim
se mantém, caracterizando uma perda maciça de glândulas, seguida de metaplasia,
metaplasia colônica, displasia e câncer. Além destas alterações histológicas, ocorre
redução na secreção ácida, síntese anormal de muco e presença excessiva de nitrato e
nitrito na cavidade gástrica (BRITTO, 1997).

Vem sendo demonstrada certa redução na incidência de câncer de estômago, o que se


sugere ser devido à redução na ingestão de alimentos industrializados, com alto teor
de sódio em sua composição e o que será mais profundamente abordado em nossa
disciplina de “Dietoterapia dos diferentes tipos de câncer”. O fato é que, a alimentação
tem bastante influência com a ocorrência de câncer de estômago e, além disso, também
se sugere a influência do tabagismo e da ingestão de álcool como influenciadores
(BRITTO, 1997).

Na década de 1980, muitos estudos foram conduzidos na tentativa de relacionar a


patogenicidade da Helicobacter pylori com distúrbios gástricos, sendo um destes
distúrbios, o câncer de estômago. Existe muita associação entre a presença de
Helicobacter pylori com condições inflamatórias crônicas no estômago e seu potencial
papel na carcinogênese, porém, a presença de inflamação crônica, com ou sem infecção
por Helicobacter pylori, está relacionada ao desenvolvimento de câncer (PARSONNET
et al., 1991).

O câncer gástrico se apresenta sob três tipos histológicos:

a. Adenocarcinoma: o adenocarcinoma gástrico é o tipo histológico de


câncer de estômago mais frequente (95% dos casos), com origem no
epitélio da mucosa gástrica, podendo envolver, progressivamente, a
parede do estômago, até atingir a camada serosa e estruturas adjacentes
(JUCÁ et al, 2012).

b. Linfoma: os linfomas são neoplasias que apresentam diversas


características biológicas e, por isso, podem ser classificados de muitas
formas. No caso, por exemplo, de apresentar um comportamento
mais maligno, são classificados como agressivos ou com “alto grau
de malignidade”; já no caso de serem menos malignos, classificam-se
como indolentes. Além disso, podem ser localizados primariamente em
linfonodos, denominando-se de linfomas nodais ou seu local primário

81
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

pode ser fora dos linfonodos, são os linfomas extranodais (conforme


discutido em tópicos anteriores). Um dos sítios primários mais comuns dos
linfomas extranodais é o trato gastrointestinal. No estômago, o principal
linfoma extranodal está associado a infecções por Helicobacter pylori
(YAMASHITA et al., 2006). Alguns indícios mostram que os linfomas
gástricos, inicialmente (em fases iniciais), são tumores que envolvem as
paredes gástricas (principalmente lâmina própria e submucosa), mas não
afetam a superfície epitelial da mucosa (MACHADO et al., 2002).

c. Leiomiossarcoma: os sarcomas são tumores malignos, com caráter


agressivo e capazes de apresentar crescimento invasivo e destrutivo, além
de metástase. O leiomiossarcoma é um sarcoma iniciado em tecidos que
dão origem a ossos e músculo (INCA, 2015).

Neoplasias de cólon e reto

Todos os componentes que não foram absorvidos pelo intestino delgado alcançam
o intestino grosso e, estes componentes passam a ser chamados de fezes, que serão
destinados ao processo de eliminação. Assim que atinge o intestino grosso, as fezes
passam pelo ceco e depois pelo cólon e, para que este conteúdo não retorne ao intestino
delgado (para a região mais terminal – o íleo), existe um esfíncter que permanece
contraído/fechado, evitando este refluxo (COSTANZO, 2011).

Figura 30. A composição anatômica do intestino grosso.

Fonte: Adaptado de <http://www.1papacaio.com.br/modules.php?op=modload&name=Sala_aula&file=index&do=showgall


&gid=63&offset=72&orderby=titleA>. Acesso em: 4/3/2016.

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Pode-se observar que a primeira região é o ceco, o qual faz esta comunicação entre
intestino delgado e intestino grosso. Em seguida, está a região do cólon, que se divide em
cólon ascendente, cólon transverso e cólon descendente. Logo após o cólon descendente,
encontra-se a região do reto, que seria a região final do tubo oco que compõe o sistema
gastrointestinal.

Os mecanismos celulares que compõem a região do cólon são muito semelhantes


às células do túbulo proximal distal e dos ductos coletores dos rins. Os processos
predominantes nestes locais estão relacionados à absorção do íon sódio (Na+), a
qual estimula a absorção de água para regular a osmolaridade; e secreção1 do íon
potássio (K+).

As neoplasias de colón e reto acometem segmento específico do intestino grosso (o


cólon) e a região do reto. Parte destes tumores inicialmente ocorre com o surgimento de
pólipos (lesões) que são de origem benigna, mas que podem crescer na parede interna
do órgão. Quando descoberto precocemente, a remoção destes pólipos, antes que se
tornem malignos, pode auxiliar no tratamento. Ainda, alguns sintomas podem ser
notados, quando os pólipos estão presentes, como: alterações de hábito intestinal (75%
dos casos), emagrecimento (75% dos casos), dor abdominal (62,5% dos casos) e anemia
(37% dos casos) (VIEIRA et al., 2012).

Este tipo de neoplasia pode acometer tanto homens quanto mulheres, no entanto, há
maior incidência no gênero masculino na maior parte das populações. Se diagnosticada
em estádios iniciais da doença, pode apresentar um bom prognóstico.

Conforme mencionado nos tópicos anteriores, de modo geral, muitas formas de câncer
são resultantes da interação entre fatores endógenos e ambientais, sendo o padrão da
dieta considerado de extrema importância, principalmente para este tipo em questão.
Assim, em se tratando dos agentes protetores, destacam-se a prática de atividade
física e o consumo de alimentos fontes de fibras. Além da alimentação inadequada,
são considerados fatores de risco o tabagismo e o excesso de gordura corporal e
abdominal, além do fator genético/hereditário. Os meios de detecção desta neoplasia
são a investigação de sangue oculto nas fezes e endoscopia.

Dentre os principais sintomas que podem ser observados na disfunção do intestino


grosso destacam-se as diarreias e a constipação. As diarreias podem ser classificadas
de diferentes formas e decorrem da eliminação de fezes líquidas, com aumento da
massa fecal diária acima de 200g e com frequência elevada de evacuações diárias (cerca
de 3 evacuações/dia). Já a constipação é caracterizada pela redução no número de
evacuações (inferior a 3 vezes/semana) (CURI; PROCÓPIO, 2009).
1 Lembrando que o processo de secreção, neste caso, é caracterizado pelo transporte de substâncias da circulação sanguínea para
a luz intestinal.

83
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Quadro 14. Principais características dos diferentes tipos de diarreias.

DIARREIAS
Classificação Principais características
Causada pela presença de solutos osmoticamente ativos na luz intestinal, o que pode ser decorrente da
ingestão de solutos pouco absorvíveis, tais como laxantes com manitol, sorbitol, etc.; ou pela má absorção
Diarreia osmótica
de alimentos. A presença de soluto na luz intestinal gera um gradiente osmótico para o transporte de água,
aumentando o volume das fezes.
Pode ocorrer pela absorção reduzida de íons e água ou à secreção ativa dos mesmos, ou seja, decorre do
Diarreia secretora
transporte anormal de íons pelo epitélio intestinal.
Ocorrem em consequência da eliminação de proteínas, muco e sangue de áreas acometidas por úlceras,
Diarreia exsudativa ou
infiltração ou inflamação. As fezes são purulentas, com muco e a diarreia persiste mesmo em períodos de
inflamatória jejum.
Decorre do aumento na velocidade do trânsito intestinal, seja pelo aumento ou pela redução na velocidade, o
Diarreia motora
que permite maior secreção de íons e água para o interior da luz intestinal.
Fonte: Adaptado de Curi; Procópio (2009).

Neoplasias de mama feminina

As mamas são órgãos pares localizados na parede anterior do tórax, sobre os músculos
“grande peitoral”. Possuem, em sua região central, duas estruturas mais centrais,
denominadas de aréola e papila, conforme ilustrado na figura 31.

Figura 31. Estrutura da mama.

Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde, 2002.

É composta por estruturas mais centrais, denominadas de papila (popularmente


conhecida como mamilo) e aréola. Destas estruturas, mais precisamente da papila,
originam-se orifícios ductais, os quais se projetam por ductos lactíferos e acabam por
desembocar nos ácinos, onde existem células produtoras e secretoras de leite.

A aréola é a estrutura da mama por onde se projeta a papila, também conhecida como
mamilo. Na papila mamária, existem de 15 a 20 orifícios, denominados de “orifícios

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

ductais” que são exteriorizados e correspondem às vias das unidades funcionais do


órgão, que são os lobos mamários. Os lobos mamários são unidades independentes,
separados por tecido fibroso o qual possibilita que cada lobo tenha sua via de drenagem
que converge para a papila, por meio de um sistema ductal (através de ductos lactíferos
– conforme ilustrado na figura 31).

Os ductos, partindo da papila, desembocam nos ácinos, os quais caracterizam-se


por serem a porção terminal da estrutura (“árvore” mamária) e por representarem o
chamado tecido glandular. Ainda, os ácinos são constituídos por células produtoras e
secretoras de leite. A um conjunto de ácinos, denominamos lóbulo e, a união de lóbulos
mamários, origina o lobo mamário, o qual já foi mencionado anteriormente. Os ductos
lactíferos ou ductos mamários formam um sistema de canais que conduz o leite até a
papila, o qual será exteriorizado pelo orifício ductal.

Os ligamentos de Cooper são estruturas fibrosas projetadas na glândula mamária e são


responsáveis pela retração cutânea, em casos de câncer de mama. O restante do órgão
é preenchido por tecido adiposo e sua quantidade varia muito com as características
individuais da mulher (características físicas, estado nutricional e idade).

Mulheres mais jovens possuem as mamas mais densas e firmes, devido à presença de
maior quantidade de tecido glandular (ácinos). Ao longo do envelhecimento, o tecido
mamário vai sendo substituído por tecido adiposo. A função principal das mamas está
relacionada a produção de leite para amamentação e representa um importante papel
na constituição da autoestima e autoimagem da mulher (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2002).

O desenvolvimento das mamas inicia-se na fase de puberdade, com a proliferação de


ácinos e lóbulos decorrentes da produção ovariana de estrógenos que ocorre porque a
hipófise produz dois hormônios (o Hormônio Folículo Estimulante (FSH) e o Hormônio
Luteinizante (LH)) que controlam a produção de estrógenos pelos ovários. Ainda, no
período de ovulação, há produção e liberação de outro hormônio, a progesterona, a
qual estimula o crescimento e desenvolvimento dos ductos mamários. Assim, na fase
adulta, as modificações cíclicas na secreção de estrógenos e progestágenos estimulam a
retenção hídrica nas mamas, provocando aumento de volume, endurecimento e dor. No
período pós-menopausa, há redução abrupta destes hormônios, levando a uma atrofia
glandular, com tendência de substituição por tecido adiposo (CURI; PROCÓPIO, 2009;
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

Durante a gestação, o estímulo para a liberação de estrógenos e progestágenos é


máximo. Além disso, estimula-se a secreção de outros hormônios, como a prolactina,
que está intimamente relacionada ao período de lactação. No momento da mamada, a

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

ejeção do leite ocorre por reflexo, pela contração das células mioepiteliais (localizadas
ao redor dos ácinos). Esta contração é estimulada por outro hormônio, a ocitocina, a
qual é produzida pela hipófise (CURI; PROCÓPIO, 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2002).

O tipo de câncer que mais acomete as mulheres, no mundo, tanto em países desenvolvidos
quanto naqueles em desenvolvimento, é o de mama. A menor parte dos cânceres de
mama tem origem no epitélio lobular e a grande maioria (cerca de 80%) origina-se no
epitélio ductal (INCA, 2014).

A gênese do câncer de mama é multifatorial. Dentre os fatores de risco para o


desenvolvimento desta neoplasia, destacam-se: envelhecimento, fatores relacionados
a vida reprodutiva da mulher, histórico familiar de câncer de mama, excesso de peso,
consumo de álcool, sedentarismo, exposição à radiação ionizante e alta densidade do
tecido mamário.

Ainda, encontram-se registros sobre a existência de relação positiva entre o câncer de


mama e a menarca precoce (antes dos 11 anos); menopausa tardia (após os 55 anos);
primeira gestação a termo após os 30 anos; ciclos menstruais menores do que 21 dias;
dieta rica em gordura animal e pobre em fibras; ausência de atividade sexual, entre
outros.

Segundo INCA (2014), a idade e as alterações hormonais da mulher vêm sendo


consideradas os fatores de risco mais importantes. Estimativas mostram que as taxas
de incidência tendem a aumentar até os 50 anos de idade; após este período, o aumento
ocorre de forma mais lenta, o que reforça a participação dos hormônios nesta incidência.
Dados indicam que, a cada cinco casos, quatro ocorrem em mulheres com mais de 50
anos de idade.

Quanto ao fator hereditário/genético, em cada 10 casos, nove ocorrem em mulheres que


não possuem história familiar de câncer de mama. A influência genética relaciona-se a
alterações que ocorrem nos genes BRCA1, BRCA2 (INCA, 2014) (VIEIRA et al., 2012),
os quais são genes supressores tumorais/anti-oncogenes.

De fato, todos os fatores de risco citados para o desenvolvimento de câncer de mama


(genético ou ambiental) podem culminar, de modo geral, na agressão de determinados
locais no DNA, ocasionando um acúmulo de lesões, ou pela ativação de proto-oncogenes,
ou pela redução de anti-oncogenes, levando a alterações fenotípicas do tecido normal e
ao desencadeamento da carcinogênese desta neoplasia (VIEIRA et al., 2012).

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

Em contrapartida, existem fatores que auxiliam na redução de risco para o


desenvolvimento desta neoplasia, que são: amamentação, prática de exercícios físicos,
alimentação saudável (com baixo teor de gordura, sal e açúcar e rica em grãos integrais,
tubérculos, vegetais e frutas) e manutenção do peso corporal ideal. Dados mostram que
cerca de 30% dos casos de câncer de mama, poderiam ser evitados com a prática destes
fatores.

Para a detecção precoce da neoplasia, no Brasil, são indicados o exame radiológico


(mamografia) a cada 2 anos e o exame clínico das mamas a partir dos 40 anos. Há
indícios de que a realização periódica adequada da mamografia em mulheres entre 50
e 69 anos de idade possa ser bastante significante para o diagnóstico precoce. Para
mulheres consideradas do grupo de risco, ou seja, que possuam histórico familiar
desta neoplasia (em parentes de primeiro grau) é recomendável que ambos os exames
(mamografia e exame clínico de mamas) sejam realizados anualmente, a partir dos 35
anos de idade (INCA, 2014).

Neoplasias do sistema reprodutor feminino

O sistema reprodutor feminino é composto por uma porção mais interna, que inclui
os ovários, tubas uterinas e vagina, e por uma porção mais externa caracterizada pelo
canal vaginal. Na figura 32 podemos observar todos estes componentes do sistema
reprodutor feminino.

Este sistema possui características funcionais e estruturais peculiares que são


identificadas em cada uma das fases de vida da mulher, identificadas por fase fetal,
infantil, juvenil, adulta reprodutiva, climatério e, por fim, fase senil. Na fase adulta
reprodutiva, ocorrem alterações, de forma cíclica, conhecidas como ciclo menstrual e
estes ciclos tem periodicidade constante e possuem duração de, aproximadamente, 28
dias, com o objetivo principal de preparar o organismo da mulher para a gestação.

O útero está em constante influência das modificações hormonais decorrentes da fase


adulta reprodutiva das mulheres. Neste órgão, cada ciclo se inicia pelo processo de
menstruação, o qual é caracterizado pela descamação da camada mais interna do útero
(endométrio) que sofreu proliferação durante outros momentos do ciclo. Após esta fase,
inicia-se a produção de hormônios pelos ovários. Quem estimula esta produção são os
folículos ovarianos (unidades funcionais dos ovários) que, conforme se desenvolvem e
aumentam de tamanho, aumentam o número de receptores para o Hormônio Folículo
Estimulante (FSH) o que aumenta a secreção de estrógenos pelos ovários.

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Figura 32. Componentes do sistema reprodutor feminino.

Fonte: Adaptado de Silverthorn, 2010.

São componentes do sistema reprodutor feminino: ovários, tuba uterina, útero e vagina.
O esquema A mostra como estes componentes estão apresentados no organismo da
mulher. No esquema B, temos a ilustração mais “íntima” dos ovários, apresentando as
unidades funcionais deste órgão, os folículos, em diferentes estágios de desenvolvimento.
Em C, observamos a composição histológica destes folículos e, em D, a composição
histológica do útero, sendo observadas a camada mais interna do órgão, o endométrio,
a camada intermediária muscular, o miométrio, e a irrigação por vasos sanguíneos.

Neste sentido, a medida que o folículo se desenvolve e sofre modificações em sua


estrutura, ele passa a responder mais ao hormônio luteinizante (LH). Juntamente a
esta maior resposta do folículo ao LH, ocorre um pico de outro hormônio denominado
inibina, que tem a função de inibir seletivamente os estrógenos. Desta forma, ocorre
um pico de ação do LH que culmina na fase denominada ovulação, em que o oócito
(gameta feminino) é libera do ovário e deve ser captado pela tuba uterina.
88
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

O LH estimula a secreção de progestágenos pelos ovários e, então, neste momento


do ciclo, haverá uma secreção de progestágenos acentuada, devido ao pico de LH, e
uma secreção de estrógenos mais discreta, devido a presença de inibina. Todas estas
modificações têm como objetivo preparar o organismo da mulher para a gestação e,
portanto, a progestágenos estimulam a formação de vacúolos secretórios no endométrio,
para melhor nutrição do tecido e do possível zigoto a ser implantado e os estrógenos
estimulam o espessamento desta camada para auxiliar na implantação.

Assim que o oócito for capturado pela tuba uterina e for fertilizado por um espermatozoide
(gameta masculino), há a formação do zigoto (reconstituição de uma célula diploide, ou
seja, com 48 cromossomos), o qual se desenvolverá até que possa sofrer o processo
de implantação no útero. Durante a implantação, há a formação da placenta, a qual
também inicia a produção e secreção de alguns hormônios, tais como estrógenos,
progestágenos, gonadotrofina coriônica humana e lactogênio placentar humano.

Neoplasias de colo do útero

Ao longo do período gestacional, conforme ocorre o crescimento do feto e conforme há


estímulo para a secreção de determinados hormônios, há um estreitamento e dilatação
do colo uterino, para facilitar a passagem do feto por este canal. Assim, a região do colo
do útero é muito importante para o período posterior ao da gestação, o do parto.

A mulher, em fase adulta reprodutiva, é sexualmente ativa e, neste sentido, estudos


científicos apontam que as principais causas para a ocorrência de neoplasias de colo
uterino são: início precoce da vida sexual; múltiplos parceiros sexuais; história de
doenças sexualmente transmissíveis (por exemplo, Chlamydia trachomatis e herpes
simplex vírus); multiparidade; imunossupressão; uso prolongado de anticoncepcional
oral; histórico prévio de displasia escamosa de vulva ou vagina (DIZ; MEDEIROS,
2009; VIEIRA et al., 2012).

O câncer de colo de útero, em geral, é iniciado a partir dos 30 anos de idade, com
aumento abrupto de risco para mulheres entre 50 e 60 anos. O tipo de câncer mais
comum no colo do útero é o carcinoma de células escamosas, o que representa de
85 a 90% dos casos, seguido pelo adenocarcinoma. O principal fator de risco para o
desenvolvimento neoplásico no colo do útero é a infecção pelo “papilomavírus humano”
(HPV), no entanto, é necessária a persistência desta infecção para que a neoplasia se
desenvolva. Além do mais, além dos fatores relacionados à imunidade e comportamento
sexual, já mencionados acima, a genética também está relacionados com a regressão
ou persistência da infecção por HPV e, portanto, ao desenvolvimento desta neoplasia.
Atualmente, existem cerca 13 tipos de HPV considerados oncogênicos pelo International

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Angency for Research on Cancer (IARC) e os mais comuns, responsáveis por cerca de
70% dos casos de câncer de colo de útero são o HPV 16 e o 18 (INCA, 2014).

O método promissor para prevenção deste tipo de câncer é a vacina contra HPV, a qual
atualmente vem sendo distribuída gratuitamente, pelo sistema único de saúde (SUS)
para meninas com idade entre 9 e 13 anos. Segundo INCA (2014), o Ministério da Saúde
implementou esta vacina contra o HPV 16 e 18. O câncer de colo de útero é o que apresenta
melhores condições de prevenção de tratamento (o caso do diagnóstico precoce). O
exame citopatológico convencional (conhecido como “Papanicolau”) é a principal
estratégia para monitorar a incidência deste câncer no mundo. É recomendado, no
Brasil, que mulheres entre 25 e 64 anos de idade realizem o Papanicolau periodicamente.

O tabagismo também é apontado como fator de risco para ocorrência de câncer de


colo de útero e torna-se mais grave quando associado à infecção por HPV. Além disso,
algumas deficiências nutricionais, como a de vitamina A e C, beta-caroteno e ácido fólico
também se relacionam a ocorrência de câncer de colo do útero (VIEIRA et al., 2012).

Alguns autores consideram que, da infecção por HPV até o desenvolvimento da


neoplasia invasiva, podem demorar aproximadamente 15 anos e, este período, é
caracterizado/traçado por 4 estágios (DIZ; MEDEIROS, 2009):

1. Infecção do epitélio metaplásico por alguma cepa oncogênica do vírus.

2. Persistência da infecção.

3. Progressão de um clone de célula epitelial infectada para uma lesão


“pré-cancerosa” (por exemplo, displasia).

4. Desenvolvimento do carcinoma com invasão da lesão.

Vamos conhecer melhor o HPV?

O HPV pertence à família Papillomaviridiae e ao gênero Papillomavirus que possui a


capacidade de induzir lesões, normalmente, em mucosas (NUOVO, 2000). Assim que
ocorre o contato do vírus com o hospedeiro, há infecção da camada basal da epiderme
decorrente da realização de microtraumatismos na pele ou mucosa. A infecção por este
vírus provoca a formação de verrugas, mas, geralmente, o sistema imune do hospedeiro
é capaz de combater a infecção e promover a regressão das verrugas e, portanto, na
maioria dos casos, esta infecção é transitória e autolimitada (CONCHA, 2007).

No entanto, caso o sistema imune não seja suficiente para erradicar a infecções,
partículas virais podem se propagar e infectar novas células da mucosa. Quando

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

ocorrem infecções persistentes, o DNA viral pode interagir com o DNA das células do
hospedeiro e induzir displasia de grau variável que, se não diagnosticada e tratada,
pode evoluir para carcinoma invasivo.

Para todos os tipos de HPV existentes, a estrutura genômica é semelhante. Esta


estrutura é formada por regiões denominadas E (Early regions) e regiões denominadas
L (Late regions). As regiões E (de E1 a E7) são responsáveis pelos processos iniciais
de replicação viral, controle de transcrição e transformação celular; já as regiões L
(L1 a L2) participam dos processos finais de replicação viral, tais como a síntese de
proteínas. Existe, ainda, outra região denominada LCR (Long Control Region) a qual
está relacionada com o controle de todos estes processos da região E e L na célula do
hospedeiro. Veja a figura 33:

Figura 33. Observe a estrutura genômica do HPV.

Fonte: Adaptado de Cartucho, 2009.

No esquema da figura 33, notamos regiões identificadas como E, as quais participam


responsáveis pelos processos iniciais de replicação viral, controle de transcrição e
transformação celular; regiões L, as quais participam dos processos finais de replicação
viral, tais como a síntese de proteínas e a região LCR relacionada com o controle de
todos estes processos da região E e L na célula do hospedeiro. A figura representa o
HPV-16, mas todos os tipos apresentam a mesma estrutura genômica.

Inicialmente, o HPV infecta a camada basal da epiderme, em que o vírus expressará os


genes E1 e E2 para replicação e transcrição de DNA viral. As proteínas E5, E6 e E7 tem

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

capacidade de induzir proliferação das células basais, provocando hiperplasia. Após, os


genes L1 e L2 quando expressos, estimulam a codificação de proteínas da cápsula viral,
o que permite a formação de vírus infecciosos. Neste sentido, as proteínas E6 e E7 são
consideradas as principais responsáveis pelos processos oncogênicos. A proteína E6 do
HPV 16 e 18 tem a capacidade de interagir com proteínas que participam da regulação
do ciclo celular (CONCHA, 2007).

Neoplasias de corpo do útero


Os tumores existentes no corpo do útero podem ser de origem primária ou metastásica.
Quando primários, originam-se no endométrio ou miométrio. As metástases podem ser
decorrentes de processos neoplásicos de colo de útero, ovários e tubas uterinas.

Em mais de 90% dos casos de câncer de corpo de útero há predominância de pacientes


com idade acima dos 50 anos (pós-menopausa), com pico aos 65 anos. Quando detectado
em estágios iniciais, apresenta boas taxas de sobrevivência. As taxas de mortalidade são
reduzidas em países desenvolvidos, fato este que pode ser atribuído à possibilidade de
detecção precoce da doença.

O tipo histológico mais comum das neoplasias de corpo de útero é o adenocarcinoma,


que existem de dois tipos principais: adenocarcinoma endometrial do tipo 1, também
conhecido apenas por adenocarcinoma, representando cerca de 80% dos casos, e
o adenocarcinoma endometrial do tipo 2, o qual representa cerca de 10% dos casos.
Ambos os tipos apresentam alto risco para ocorrência de metástase e o tipo 1 é mais
comumente associado a desequilíbrios hormonais (maior exposição a estrógenos).

São considerados importantes fatores de risco a idade precoce na menarca; idade


tardia na menopausa; terapia de reposição hormonal (o que leva a hiperexposição ao
estrígeno) e obesidade (que corresponde a cerca de 40% dos casos). Existem alguns
relatos de que, na obesidade, há maior risco para hiperinsulinemia e, este aumento
de insulina circulante, facilita a ligação deste hormônio a receptores de membrana
específicos, o que estimula a produção de andrógenos e, como a obesidade também
estimula a redução de proteínas transportadoras de hormônios sexuais, como a SHBG,
há aumento na concentração de estrógenos, os quais estimulam a proliferação das
células endometriais, conforme já mencionado, podendo ocorrer alterações celulares e
a ocorrência de tumores.

Em mulheres que já tiveram câncer de mama, há maior vulnerabilidade para ocorrência


do adenocarcinoma do tipo 2, o que possivelmente se deve aos fatores de risco comuns,
tais como a idade tardia da menopausa e uso de tamoxifeno (inibidor de aromatase, a
qual é uma enzima que converte andrógeno em estrógeno).

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

O sintoma mais comum que se manifesta nas pacientes é o sangramento vaginal


anormal, o qual se manifesta precocemente. Logo que se inicia o sangramento, ele fica
restrito ao útero e a doença apresenta-se em estádios iniciais. A descoberta neste grau
de evolução aumenta a taxa de cura e gera prognóstico favorável à paciente, conforme
já mencionado, com taxa de sobrevivência de 80 a 85%, num período de 5 anos.

A atividade física e o hábito alimentar são possíveis fatores protetores contra a doença,
além do uso de contraceptivos orais que também está relacionado à redução no risco.

Neoplasias de ovário
As principais formas de neoplasias ovarianas são, em cerca de 80 a 85% dos casos,
neoplasias epiteliais e, em 5% dos casos, são em células germinativas (que ocorre em
mulheres mais jovens e apresenta crescimento mais rápido).

Como principal fator de risco para o desenvolvimento de neoplasias de ovário, está a


história familiar de câncer de mama ou ovariano. Ainda, mulheres que já apresentaram
neoplasia de mama, são portadoras de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 (que,
conforme já mencionado, são antioncogenes) e apresentam risco aumentado para o
desenvolvimento do câncer de ovário. Também como herança genética, este tipo de
câncer pode-se relacionar à Síndroma de Lynch, a qual é um tipo de câncer de cólon
hereditário.

São considerados fatores de risco, a terapia de reposição hormonal pós-menopausa,


tabagismo, obesidade e a nuliparidade (quando a mulher nunca esteve gestante). Ainda,
o desenvolvimento do câncer de ovário vem sendo bastante associado a menopausa
tardia.

A presença de endometriose (doença inflamatória do útero) também é um importante


fator de risco. Os fatores que desencadeiam o surgimento da endometriose são
semelhantes aos do câncer de ovário e, quando instalada, pode causar problemas
reprodutivos e estado inflamatório crônico, fato este que pode contribuir para o
desenvolvimento das neoplasias ovarianas (considera-se 50% de chance para ocorrência
de câncer de ovários em mulheres com endometriose, quando comparadas às mulheres
que não apresentam este quadro inflamatório).

Clinicamente, é comum em pacientes idosas, a presença de ascite (acúmulo anormal


de líquido, na cavidade peritoneal) volumosa, emagrecimento e com metástase por
toda a cavidade peritoneal. Estes sinais também são observados na hepatopatia
(doenças que atingem o fígado), mas caso seja descartado qualquer alteração
hepática, deve-se investigar possível neoplasia ovariana com metástase. Estas
pacientes, também, costumam referir dor pélvica e constipação intestinal.

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

É comum que a doença se dissemine para a cavidade abdominal, por meio de esfoliação
(desprendimento) de células neoplásicas do ovário para este local. Ainda, em estádios
mais avançados da doença, é comum a disseminação para linfonodos pélvicos e
paraórticos (próximos da artéria aorta). As metástases à distância são comumente
encontradas em pulmões, fígado, pleura, rins, ossos, adrenal e baço.

Por ser uma doença de pouco conhecimento de causa, a prevenção para o câncer
de ovário é bastante limitada. Além disso, as técnicas para diagnosticar a doença
precocemente não são muito disponíveis e, geralmente, o diagnóstico acaba ocorrendo
de forma ocasional ou quando o tumor já se apresenta de forma mais avançada.

Neoplasias de próstata

A próstata é uma glândula de, aproximadamente, 20g, localizada na pelve masculina.


Possui importante função na produção de cerca de 40 a 50% dos fluidos que constituem
o esperma ou sêmen, fornecendo proteção e nutrientes adequados para sobrevivência
dos espermatozoides, auxiliando no bom funcionamento do sistema reprodutor
masculino (TONON; SCHOFFEN, 2009).

Figura 34. Composição do sistema reprodutor masculino e, no círculo vermelho, observamos o tecido em

questão, a próstata, que é responsável pela produção de fluidos que compõem o esperma.

Fonte: Adaptado de <http://treatment.hpathy.com/homeo-medicine/homeopathy-enlarged-prostate-benign-hypertrophy-


prostate-gland/>. Acesso em: 4/3/2016.

Naturalmente, ao longo do envelhecimento do homem, há um aumento de tamanho do


tecido prostático. Assim, ao atingir cerca de 50 anos de idade, é comum que o homem
perceba que o fluxo urinário está mais lento e ocorre com maior dificuldade, fato este
que atrapalha bastante o bem-estar do indivíduo. Estes sintomas são característicos
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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

devido à compressão que a próstata realiza na uretra, à medida que vai aumentando de
tamanho, tornando-se um obstáculo para a passagem da urina. Assim, o jato urinário
passa a ser fraco e fino.

A próstata é composta por uma massa celular que se prolifera, por meio da divisão
e reprodução celular, de forma ordenada e controlada, por estímulo a andrógenos.
Assim, o período da adolescência é o que apresenta maior taxa de crescimento desta
glândula, aproximadamente 1,6 g/ano e, na idade adulto, é atingido o peso máximo de
20g. A falta de estímulo androgênico resulta em perda celular maciça (LEE et al., 2001;
PINTO, 2011).

Dentre as células que compõem esta glândula estão as basais, luminais e neuroendócrinas,
que constituem, então, o epitélio da próstata. As células basais estão localizadas na
base da membrana, caracterizadas por serem achatadas e pequenas e não possuírem
receptores para andrógenos (LEE; PEEHL, 2004). Mesmo sem terem sensibilidade ao
estímulo androgênico, estas estimulam o crescimento das células mais intermediárias
(à base da membrana), as quais originarão células luminais que são sensíveis aos
andrógenos. As células luminais andrógeno-sensíveis produzem dois compostos
muito importantes: as enzimas/glicoproteínas PSA (antígeno prostático específico) e
fosfatase ácida prostática. Ainda, as células neuroendócrinas, através da secreção de
mediadores (somatostatina, calcitonina e neurotensina) possuem função regulatória
(ROEHRBORN; MC CONNELL, 2002).

Além da porção epitelial, a próstata é composta por uma porção estromal. O estroma
pode ser definido como um tecido conjuntivo vascularizado que fornece condições
nutritivas e de sustentação ao órgão ou glândula ou, ainda, a estruturas que conferem
um estado “anormal” como o tumor maligno. Esta estrutura (estroma) é composta
por inúmeros tipos de células aderidas a uma matriz de diversos tipos de colágeno e
glicoproteínas. São predominantes as células fibroblásticas e as células musculares
lisas, além de serem encontradas células andrógeno-sensíveis e células nervosas.

Após seu crescimento fisiológico até a fase adulta, a próstata encontra-se em uma fase
de manutenção, em que há crescimento de 1 a 2% por dia, com o intuito de “reposição”
das células que passaram pelo processo de apoptose. Assim, quando o crescimento
prostático perde a característica ordenada e regulada, ou mesmo quando esta reposição
celular é prejudicada, pode-se instalar um quadro de Neoplasia Prostática Benigna
(NPB) (KYPRIANOU, 2003; PINTO, 2011; SHARIAT et al., 2005) ou um crescimento
maligno, a Neoplasia Prostática Maligna (NPM), popularmente conhecida como Câncer
de Próstata (CP).

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

Existe uma clássica caracterização anatômica da próstata humana em que está


dividida em três principais zonas: transição, central e periférica. Conforme observado
na figura a seguir, a zona periférica representa cerca de 70% do total da glândula em
um indivíduo adulto jovem, a zona central representa 25% e a de transição 5%. Estas
zonas são diferentemente afetadas por processos neoplásicos, sendo que de 60 a 70%
dos carcinomas de próstata são originados na zona periférica, de 10 a 20% na zona de
transição e 5 a 10% na zona central.

Figura 35. Nesta ilustração, está descrita a classificação anatômica zonal da próstata, que foi postulada na

década de 1970. Observamos, então, a localização específica da zona de transição, zona central e zona

periférica, as quais, juntas, dão origem à próstata.

Fonte: Adaptado de Selman (2011).

O único fator de risco mais bem esclarecido para ocorrência de câncer de próstata é a
idade (GONÇALVES; PADOVANI; POPIM, 2008). Estima-se que, aproximadamente
62% dos casos de homens com este tipo de câncer ocorre em idade de 65 anos ou mais.
Neste sentido, devido à elevação da expectativa de vida, acredita-se que o número de
casos de câncer de próstata aumente progressivamente, considerando o cálculo de
acréscimo de 60% até o final de 2015.

Existe outro fator de risco relacionado à etnia e histórico familiar da doença


(GONÇALVES; PADOVANI; POPIM, 2008). O câncer de próstata é duas vezes mais
comum em homens negros, quando comparados a homens brancos, o que pode estar
atrelado a questão da hereditariedade. O tipo de dieta ingerida, também, contempla
um dos fatores de risco para este câncer (INCA, 2014), mas falaremos neste tema com
maiores detalhes na disciplina “Dietoterapia nos diferentes tipos de câncer”.

A Neoplasia Prostática Benigna (NPB) é caracterizada pela hiperplasia das células do


estroma e do epitélio da próstata, levando a um aumento de volume desta glândula e

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

interferindo no fluxo urinário, além de seu desenvolvimento estar relacionado com a


idade conforme já discutido anteriormente. Dados da literatura científica mostram que,
de um modo geral, esta condição pode acometer os homens a partir dos 40 anos de
idade (AVERBECK et al., 2010; ZIADA, ROSENBLUM; CRAWFORD, 1999).

A prevalência de NPB ocorre cerca de 20% em homens com idade entre 41 e 50 anos,
50% em homens entre 51 e 60 anos de idade e cerca de 90% em homens com idade a
partir de 80 anos (CHUTE et al., 1993; ZIADA; ROSENBLUM; CRAWFORD, 1999;
WROCLAWSKI, DAMIÃO; ORTIZ, 2003). Neste sentido, se pensarmos que a tendência
é de um aumento da longevidade, podemos entender que haverá, cada vez mais, uma
maior importância epidemiológica a NPB.

Em relação aos sintomas decorrentes da NPB, estes recebem a denominação conjunta


de “Sintomas do Trato Urinário Inferior” (STUI ou LUTS, do inglês) que, há certo
tempo, era conhecidos como “Prostatismo”.

Vamos ver, então, quais são os principais STUI

Quadro 15. Descrição dos principais sintomas do trato urinário inferior e suas características.

Sintoma Características Principais


Como o próprio nome diz, os jatos de urina tornam-se mais fracos e
Jato urinário fraco
intermitentes e este é um sintoma de alta prevalência na NPB.
A hesitância é a denominação dada ao aumento do intervalo entre o início do
Hesitância
desejo de micção e a ocorrência do evento em si.
Ocorre quando há pequeno volume urinário na uretra, devido a falha na pressão
Gotejamento terminal
adequada durante toda a micção.

Polaciúria É definida como mais de 8 micções/dia.

Noctúria Aumento do número de micções no período noturno.

Decorrem de contrações involuntárias do músculo da bexiga (detrusor),


Urgência e incontinência de urgência
podendo gerar uma resposta de obstrução crônica da bexiga.

Retenção urinária aguda É o evento final da obstrução crônica causada pela NPB.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A partir da descrição de algumas das principais características da NPB, o paciente que


apresentar estas manifestações deve consultar um médico especialista em urologia
e ser submetido aos seguintes testes para o diagnóstico de NPB: toque digital da
próstata, análise do sedimento urinário e avaliação de função renal por meio de análise
de creatinina sérica (SROUGI et al., 2008), comprovando, então, que estes sintomas
que, resumidamente, afetam o fluxo urinário, não estão relacionados ao funcionamento
renal, mas sim a obstrução na uretra, causada pelo aumento de tamanho inadequado
da próstata e pela contração involuntário do detrusor.

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

O tratamento farmacológico destes pacientes com NPB, relaciona-se a utilização


de medicamentos antiandrogênicos que promovem a atrofia da região epitelial da
próstata, para os casos relacionados ao aumento de tamanho anormal da glândula; e
também a utilização de bloqueadores α-adrenérgicos que relaxam a musculatura lisa
da bexiga, quando há obstrução urinária por contração muscular. Quanto aos agentes
antiandrogênicos, destacam-se finasterina (5 mg, 1 vez/dia) e dutasterida (0,5 mg, 1
vez/dia). Estes fármacos auxiliam na diminuição de 15 a 30% do volume da próstata,
após cerca de 6 meses de tratamento e estão relacionados com alguns efeitos adversos,
relatados em 10 a 15% dos casos: queda da libido, ereção e volume de esperma. Já dos
α-adrenérgicos, destacam-se doxazocina (4-8 mg, 1 vez/dia) e tamsulocina (0,4 mg, 1
vez/dia), quanto aos efeitos colaterais, relata-se em 10 a 30% dos casos: hipotensão
arterial, congestão nasal, tontura e ejaculações secas (SROUGI et al., 2008).

Existe, também, o tratamento cirúrgico (ressecção transuretal da próstata e a cirurgia


abdominal aberta), em que 90% dos pacientes apresentam melhora significante do
quadro e 10% apresentam persistência das manifestações.

A Neoplasia Prostática Maligna (NPM) ou Câncer de Próstata (CP) é um problema


mundial de saúde pública, o qual apresenta alta prevalência e aumento significante
de incidência. Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento do CP destacam-se
o envelhecimento, histórico familiar e a classificação étnica, conforme já mencionado
(SANTOS; LAMOUNIER, 2013). O CP acomete cerca de 50% dos homens com 80 anos
de idade (ou mais) e, muitas vezes, não causa mal algum no indivíduo portador da
doença, ou seja, possui caráter assintomático e seus portadores morrem por outros
motivos (o que representa aproximadamente 13%) (SROUGI et al., 2008).

Esta doença também está relacionada com a localização geográfica. Há relatos de que
o Canadá, Jamaica, Estados Unidos da América (destacando-se os afro-americanos) e
da Europa (principalmente em países nórdicos) possuem a maior incidência de CP no
mundo, entretanto, em países do Extremo Oriente (Japão e China), a frequência do
problema é de 6 a 25 vezes menor (REIS et al., 2006; SROUGI et al., 2008).

Assim, é possível afirmar que dentre os fatores que estimulam o desenvolvimento do


CP, os fatores ambientais possuem grande importância para esta incidência, foi o que
apontou um estudo de Saridze, Boyle e Samns (1984), em que a população japonesa,
ao se deslocar para o Hawai, apresenta aumento de risco para desenvolvimento de CP,
risco este que será ainda maior com a aproximação aos Estados Unidos da América.

O CP pode ser desenvolvido em todos os homens, já que carregam no código genético


proto-oncogenes, os quais iniciam um processo de transformação de uma célula
normal para uma célula de caráter maligno. Assim, o CP surge devido a desordens que

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BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

acometem o processo de ativação e repressão destes proto-oncogenes e estas desordens


relacionam-se a processos inflamatórios ou influência de mediadores locais.

Aproximadamente 98% das neoplasias prostáticas são adenocarcinomas (neoplasia


maligna com origem em tecido glandular) e, destes casos, 75% estão na zona periférica
da próstata, 25% na zona de transição e 5% na zona central (SROUGI et al., 2008).

Dentre os métodos diagnósticos destacam-se o exame de toque digital da próstata, dosagem


de PSA e biópsia prostática. O PSA é uma glicoproteína produzida primariamente pelas
células secretoras da próstata e pelo revestimento epitelial das glândulas periuretrais
e o aumento em seus níveis plasmáticos não estão especificamente relacionados ao
CP, visto que a NPB também caracteriza este aumento. A dosagem que apresentar-se
superior a 2,5 ng/ml já pode acompanhar um risco de 50% de desenvolvimento de
neoplasia prostática; ainda, níveis entre 10 e 20 ng/ml apresentam 55% de chance de
haver um processo maligno e níveis superiores a 100 ng/ml determinam um quadro de
CP metastático (SANTOS; LAMOUNIER, 2013).

A biópsia serve para confirmação da presença do carcinoma (neoplasia maligna


originada em células epiteliais) de próstata, ainda, a biópsia permite avaliar o grau
de agressividade biológica da neoplasia. Para avaliação da agressividade, muitos
pesquisadores utilizam a classificação de Gleason que avalia o grau de diferenciação
histológica do tumor. Esta classificação utiliza uma pontuação de 1 a 5, em que 1
equivale a um maior grau de diferenciação (aspecto uniforme) e 5 ao menor grau de
diferenciação (células com aspecto de folhas). Fazem-se duas pontuações com a mesma
escala, ou seja, ao final o escore de Gleason pode resultar de 2 a 10 pontos (REIS et al.,
2006). Confira na ilustração a seguir.

Figura 36. Classificação de Gleason para avaliar o grau de diferenciação histológico das neoplasias prostáticas.

Para um maior grau de diferenciação, com aspecto mais uniforme, utiliza-se a menor pontuação (1), no entanto,
para sinalizar menor grau de diferenciação, com células apresentando aspecto de folhas, utiliza-se a maior

pontuação (5).

Fonte: Adaptado de Reis et al. (2006).

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UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

A detecção precoce é essencial para o prognóstico da doença, sendo a terapêutica adotada


mais eficaz. Assim, recomenda-se a avaliação periódica do toque retal e dosagem de
PSA, visto que em conjunto, estes exames apresentam sensibilidade e especificidade
adequadas para a detecção da neoplasia em estágios iniciais.

Neoplasias de bexiga

A bexiga é uma bolsa que funciona como um reservatório de urina. O fluxo de urina
chega por meio de uma estrutura denominada de ureter que transforma de característica
contínua para emissão periódica (que seria o ato de micção). Em um indivíduos
adulto, quando está vazia, se achata e, quando cheia, toma forma ovoide, induzindo
certa saliência na cavidade abdominal. No feto e no recém-nascido, este órgão ocupa
posição abdominal e atinge a região pélvica na fase de puberdade. Possui estruturas
musculares com disposição complexa. Estas estruturas, bem como o esfíncter muscular
são responsáveis pelo controle da micção.

Figura 37. Principais características e modificações nas estruturas da bexiga durante o armazenamento e durante

o ato de micção.

Fonte: Adaptado de <http://equilibriumdasaude.blogspot.com.br/2011/09/pilates-contra-incontinencia-urinaria.html>. Acesso


em: 4/3/2016.

Podemos notar que a principal diferença é que, durante o armazenamento urinário, o


músculo detrusor encontra-se relaxado e o esfíncter urinário encontra-se contraído,
evitando a passagem de urina pela uretra. O contrário ocorre durante o estímulo de
micção: o detrusor está contraído e o esfíncter relaxado, facilitando a passagem de
urina.

As neoplasias que acometem a bexiga têm como principal fator de risco o consumo de
tabaco. Aproximadamente 66% dos novos casos em homens e 30% em mulheres, em

100
BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER │ UNIDADE II

populações mais industrializadas, que se relacionam-se com o tabagismo. Grande parte


dos estudos epidemiológicos aponta elevação no risco de câncer de bexiga (de 1,5 a
3,0%) em indivíduos fumantes, o que não difere entre gênero e raça. Ainda, as pessoas
que deixam de fumar, apresentam, imediatamente, redução aproximada de 40% no
risco de desenvolvimento de câncer de bexiga.

Esta relação (fumo e câncer de bexiga) é devido à presença de aminas aromáticas (são
compostos orgânicos derivados da amônia, capazes de ativas proto-oncogenes) na
fumaça do cigarro. Além disso, trabalhadores de indústria que envolvem exposição a
aminas aromáticas (por exemplo, o benzeno) possuem maior risco para desenvolvimento
desta neoplasia, bem como ocorre em outras ocupações, como o pintor, cabeleireiro,
barbeiro e trabalhador de refinaria, por exemplo, os quais ficam expostos a certa
variedade de produtos químicos carcinogênicos.

O fator genético também é bastante relevante e, quando a hereditariedade interage com


o tabagismo, há aumento em cerca de 5 vezes mais de risco para desenvolver câncer de
bexiga. Além disso, o consumo de frutas parece estar associado com a redução de risco
para esta doença.

Neoplasias pediátricas

As neoplasias pediátricas, ou também conhecidas como infanto-juvenis, são


consideradas doenças raras e acometem crianças e adolescentes até os 19 anos de idade
e correspondem de 1 a 3% de todos os tumores malignos na maioria das populações.

O câncer que acomete crianças e adolescentes deve ser estudado separadamente


daqueles que acometem os adultos, visto que apresenta características histopatológicas
próprias.

Em sua maioria, as neoplasias infanto-juvenis apresentam curtos períodos de latência,


são mais agressivos, crescem rapidamente, porém respondem melhor ao tratamento
e são considerados de bom prognóstico. Desse modo, as classificações utilizadas para
os tumores pediátricos são diferentes daquelas utilizadas para os tumores nos adultos,
sendo a morfologia a principal característica observada.

Cerca de 30% da população brasileira é composta por crianças e adolescentes com menos
de 19 anos de idade. Em alguns países em desenvolvimento, nos quais a população de
crianças chega a 50%, a proporção do câncer infantil representa de 3 a 10% do total de
neoplasias. Entretanto, analisando os países desenvolvidos, essa proporção diminui,
atingindo cerca de 1%.

101
UNIDADE II │ BASES FISIOPATOLÓGICAS E METABÓLICAS DO CÂNCER

No Brasil, em 2011, foram constatados 2.812 óbitos por câncer em crianças e


adolescentes o que caracteriza a segunda causa mais frequente (7%) de óbitos deste
grupo. A etiologia dos cânceres infanto-juvenil são alvos de muitas pesquisas. Entre
os fatores de risco estão: exposição ambiental precoce a agentes físicos, químicos e
biológicos. Nas crianças, durante a primeira infância, essa exposição se dá de forma
indireta, ou seja, o contato com os adultos é muito importante como via da exposição.

Em geral, as exposições durante a vida intrauterina são consideradas o fator de risco


mais conhecido na etiologia desse grupo de neoplasias. O tipo de câncer infanto-juvenil
mais comum na maioria das populações é a leucemia (cerca de 25 a 35%). Os linfomas
correspondem ao terceiro tipo de câncer mais comum em países desenvolvidos. Já nos
países em desenvolvimento, são o segundo, ficando atrás apenas das leucemias.

Os tumores de sistema nervoso ocorrem principalmente em crianças menores de 15


anos, com um pico na idade de 10 anos. Estima-se que cerca de 8 a 15% das neoplasias
pediátricas sejam representadas pelos tumores de sistema nervoso, o qual é considerado
a segunda causa de morte na infância, correspondendo a cerca de 4 a 5%, em crianças
de 1 a 14 anos. Esta proporção é menos acentuada nos países em desenvolvimento, essa
proporção é bem menor, cerca de 1%, já que as mortes por doenças infecciosas são as
principais causas de óbito.

Para praticar sua capacidade de interpretação de textos científicos e já prepará-lo


para a elaboração do TCC, que tal tentar investigar, na literatura científica, alguns
tipos de neoplasias que acometam outros órgãos ou sistemas que não foram
citados na apostila? Aponte ou prepare um texto sobre a fisiologia deste sistema,
quais os principais tipos de neoplasias que podem acometer este sistema e quais
possíveis fatores de risco para este desenvolvimento.

Bom trabalho!!!

102
BASES GENÉTICAS E
MOLECULARES DO UNIDADE III
CÂNCER

CAPÍTULO 1
Interações genéticas e moleculares do
câncer

Introdução
Os genes localizam-se nas moléculas de DNA, no núcleo da célula e, cada um deles
especificam sequências de aminoácidos, os quais se combinam para formar ou codificar
determinada proteína. Neste sentido, dizemos que determinada proteína realiza o
efeito biológico de um gene específico e isso ocorre da seguinte forma: quando o gene é
ativado, a célula responde sintetizando a proteína por ele codificada.

Quando ocorrem mutações (modificações) em um gene, a célula pode ser perturbada e


haver alterações tanto na quantidade, quanto na atividade de uma proteína específica
para aquele gene. No corpo humano, existem cerca de 1014 células, e bilhões delas
sofrem mutações, o que rompe o controle. Além disso, a célula que sofre mutação
pode apresentar certa vantagem em relação à possibilidade de crescimento e divisão
vigorosa, além da maior taxa de sobrevivência, quando comparada às células vizinhas.
Neste sentido, a célula que sofreu este processo (mutação) passa a ser um clone mutante
que cresce fora do contexto.

Os principais fatores que desencadeiam o desenvolvimento do câncer são: um clone


individual mutado prospera à custa de células vizinhas e seus descendentes auxiliam
na completa destruição da população celular. A mutagênese (produção de alterações
na sequência do DNA) vem sendo bastante relacionada à carcinogênese (processo
de geração de um câncer). Existem 3 principais classes de agentes que participam
desta relação. São elas: carcinógenos químicos (os quais, de modo geral, ocasionam
simples alterações na sequência de nucleotídeos); a radiação, tais como o raio X (que
causa quebras cromossômicas ou translocações) e a luz ultravioleta (que desencadeia
alterações específicas nas bases do DNA) (ALBERTS et al., 2010).
103
UNIDADE III │ BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER

Independentemente da presença de agentes mutagênicos, podem existir mutações


espontâneas, o que ocorre devido às dificuldades que a célula encontra para reparo de
DNA. Devido à alta taxa de mutações que ocorrem “normalmente” em nossas células,
não é possível afirmar que um único evento deste fenômeno seja capaz de provocar
o desenvolvimento da neoplasia. Existem muitas evidências de que seja necessária a
ocorrência de mutações, repetidamente, e de forma independente uma da outra, na
mesma linhagem de célula para desencadear o surgimento de uma célula cancerígena.

Poucos dos principais agentes carcinogênicos possuem ação direta no DNA. Dentre
os carcinógenos, muitos são inertes e passam a ser mais reativos após sofrerem
modificações por processos fisiológicos, que ocorre por um conjunto de enzimas
intracelulares, denominadas de “oxidases do citocromo p-450”.

Estas enzimas costumam agir convertendo toxinas ingeridas em compostos menos


lesivos e de fácil excreção do organismo, entretanto, sua atividade em determinadas
substâncias químicas, induzem a formação de produtos mutagênicos. Dentre os
carcinógenos ativados desta maneira, estão a toxina fúngica aflatoxina B1 e uma
substância presente na fumaça de cigarro e fuligem, o benzo(a)pireno. No entanto, nem
todas as substâncias que favorecem o desenvolvimento do câncer são consideradas
mutagênicas.

Estas substâncias são conhecidas como “promotores de tumor” (exemplos: ésteres de


forbol; acetato de tetradecanoilforbol) as quais aparentemente possuem o efeito imediato
de induzir uma resposta inflamatória induzindo a secreção de fatores de crescimento
e proteases, os quais, de forma direta ou indireta estimularão o processo de divisão
celular, no momento em que a célula estaria sem se dividir. Um bom exemplo deste
fenômeno é a exposição em alguma região da pele a um destes promotores: haveria
formação de pequenas verrugas (papilomas) resultado deste processo de proliferação.

Aproximadamente 15% dos tipos de cânceres humanos, a nível mundial, são decorrentes
de mecanismos que envolvem a participação de bactérias, parasitas ou vírus. No caso
dos vírus, é muito difícil definir qual seu papel central no desenvolvimento do câncer.
Vimos ao longo da apostila que muitas neoplasias têm como agente/fator de risco, uma
infecção viral. Veja na imagem figura 38.

Os vírus mais associados com a carcinogênese são aqueles denominados vírus de DNA,
os quais são carregadores de genes que podem desorientar o controle do processo de
divisão celular das células do hospedeiro, gerando, então, um processo de proliferação
descontrolado. Ainda, existem infecções por parasitas e bactérias que também podem
estimular a carcinogênese, como é o caso da Helicobacter pylori, bactéria relacionada
ao câncer de estômago, conforme estudado na apostila.

104
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER │ UNIDADE III

Figura 38. Os principais vírus que afetam moléculas de DNA e RNA que predispõem o paciente ao

desenvolvimento do câncer.

VÍRUS CÂNCER ASSOCIADO ÁREAS DE ALTA INCIDÊNCIA


Vírus de DNA
Família do papovavírus: Verrugas (benigno carcinoma da cérvice Universal.
uterina).
»» Papilomavírus (muitas cepas diferentes).
Família dos hepadnavírus: Câncer de fígado (carcinoma hepato-celular). Sudeste da Asia, África Tropical.
»» Vírus da hepatite.
Família dos herpevírus: Linfoma de Burkitt (câncer de linfócito B), África Ocidental, Nova Guiné (Papua), Sul da
carcinoma nasofaringeal. China, Groelândia.
» Vírus Epstein-Barr.

Vírus de RNA
Família dos retrovírus: Leucemia/Linfoma da célula T adulta. Japão, Antilhas
»» Vírus da leucemia das células T humanas Sarcoma de Kaposi. Países do Sul e do Centro da África.
tipo 1 (HTLV-1).
»» Vírus da imunodeficiência humana (HIV, o
vírus da AIDS).
Família dos flavivírus: Câncer de fígado (carcinoma hepatocelular). Universal.
»» Vírus da hepatite C.
Fonte: Adaptado de Alberts et al, 2010.

Algumas destas doenças relacionadas na figura já foram abordadas na apostila. Notem


que na segunda coluna do quadro representado, estão descritos os tipos de neoplasias
associadas e, na terceira, quais as áreas, no mundo, que mais são afetas pela incidência
desta doença.

Neste sentido, podemos perceber que muitos são os fatores que auxiliam no
“acúmulo” de alterações genéticas que podem predispor a ocorrência do câncer.
Devido a isso, para melhor compreender as alterações moleculares desta doença,
alguns genes vem sendo bastante investigados como principais alvos das alterações.
Conforme estudamos nas unidades e capítulos anteriores, são duas as classes de
genes responsáveis pelo desenvolvimento do processo neoplásico: proto-onocogenes
e os anti-oncogenes.

Quando as células normais sofrem mutações, as quais podem ocorrer de forma


espontânea ou serem estimuladas por agentes carcinogênicos (conforme já mencionado),
proto-oncogenes são ativados em oncogenes, que causam proliferações excessivas na
célula já que induzem a produção excessiva de proteínas estimuladoras de crescimento.
Por outro lado, este fenômeno (o de mutações) leva à inativação dos anti-oncogenes e,
então, haverá perda da ação de genes supressores que previne que a célula cresça de
maneira inapropriada.

105
UNIDADE III │ BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER

O ciclo celular e os genes críticos para o câncer

O ciclo celular é composto por 4 estágios, ou fases, e cada um deles é caracterizado por
eventos específicos. Na fase G1, (gap 1 = interfase) a célula é estimulada a aumentar
seu tamanho e duplicar suas organelas citoplasmáticas, se preparando para a próxima
etapa. Em seguida, ocorre a duplicação de DNA (cópia), denominando a fase S (síntese),
a qual permite que a célula duplique seus cromossomos de forma precisa. Em outra
fase, a G2 (gap 2), a célula continua crescendo e se desenvolvendo; multiplica seus
componentes enzimáticos para que esteja preparada para a próxima fase, a mitótica,
a qual é denominada fase M. Nesta última fase (fase M), a célula-mãe, aumentada,
finalmente sofre mitose, produzindo duas células-filhas com o mesmo número de
cromossomos. Estas células-filhas iniciarão, portanto, a fase G1 e, o ciclo celular se
reinicia (RIVOIRE et al., 2001).

Figura 39. Representação esquemática do ciclo celular, mostrando as fases nas quais a célula se prepara para

se replicar.

Fonte: Adaptado de <http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=Ciclo+Celular&lang=3>. Acesso em: 8/3/2016.

O ciclo é iniciado pela fase G1, onde a célula duplica suas organelas citoplasmáticas e
prossegue para a próxima etapa, que é a fase S; nesta fase, o DNA é duplicado e a célula
segue para a fase G2, onde continua em crescimento, duplicando seus componentes
enzimáticos, por exemplo, para que finalmente chegue na fase M, onde ocorrerá a
mitose, originando duas células-filhas idêntica a célula-mãe, as quais entrarão no ciclo
e passarão pelas mesmas fases.

106
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER │ UNIDADE III

Quando algum dos componentes essenciais da célula é lesado, ou quando o controle de


seu sistema é desregulado, a célula pode se defender por meio de alguns mecanismos,
como, por exemplo, a apoptose, conforme já discutido anteriormente. No entanto,
se houver qualquer alteração nestes mecanismos, pode-se desenvolver um processo
neoplásico.

Existem proteínas conhecidas como inibidoras que podem interromper a atividade


deste ciclo. Dentre elas, estão a p15 e p16, as quais bloqueiam componentes essenciais
para o desenvolvimento da fase G1 para a fase S, tais como CDK (Ciclin-dependent
kinases) e ciclinas. Outros inibidores conhecidos são o p21 (o qual está associado a um
proto-oncogene Ras) e o p53; ambos apresentam a função de monitorar a integridade
dos cromossomos e o curso correto do ciclo celular. A via de supressão de tumor por
meio da p16 encontra-se alterada (por sofrer mutações) em muitos tipos de cânceres,
como é o caso de alguns cânceres de pulmão.

Os genes relacionados ao desenvolvimento neoplásico mais conhecidos e estudados são


os anti-oncogenes p53 e Rb (gene retinoblastoma) e os proto-oncogenes Myc e Ras, os
quais estão relacionados com o controle da atividade do ciclo celular. Neste sentido,
estudos tem mostrado que mutações no gene p53 são as mais comuns em casos de
câncer em humanos, presentes em cerca de 50% de todos os casos da doença e 75% dos
casos de câncer de cólon e reto.

A proteína p53 participa da indução inicial da apoptose e sua inativação dificulta a


eliminação de células que sofreram mutações, ou seja, que são geneticamente danificadas,
o que estimula, então, a carcinogênese. Em condições normais, a proteína p53 liga-se
ao DNA e induz transcrição de outro gene regulador de outra proteína diferente dap21,
que induz a interrupção da do ciclo celular em G1 por meio da ligação a CDK e ciclina
e desfosforilação de RB (DUARTE; PASCHOAL, 2005), impedindo que a célula passe
para a fase S e replique seu DNA. Esta interrupção resulta em atraso em G1, morte ou
apoptose, o que ocorre, pois o gene p53 pode induzir Bax, que é um gene responsável
por promover apoptose. Desta forma, a proteína p53 é muito importante na apoptose
de células lesadas e a mutação deste gene é comumente associada com exposição à
carcinógenos ambientais, tais como a fumaça do cigarro.

O gene Rb é normalmente expresso em quase todas as células do corpo e a proteína


que codifica parece ser de grande importância para o controle da proliferação celular.
Ao longo do ciclo celular, a proteína Rb apresenta-se em estado fosforilado ou não
fosforilado. Em células removidas do ciclo, está sob o estado não-fosforilado e, nesta
condição, a Rb liga-se fortemente a genes de proteínas reguladoras, o que as impede
de atuarem no núcleo celular para promover a multiplicação/replicação do DNA. Caso
este gene seja perdido/mutado/inativo, a célula perde este impedimento de replicação.

107
UNIDADE III │ BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER

O gene Ras foi o primeiro proto-oncogene descoberto, o qual se encontra mutado uma
vez a cada cinco cânceres humanos. Os membros da família de genes Ras (H-Ras;
K-Ras e N-Ras) codificam proteínas que transduzem sinais mitogênicos (que estimulam
mitose/replicação). O oncogene Ras apresenta mutações pontuais que geram proteínas
Ras hiperativas. Estima-se que 30% de todos os tumores humanos e mais de 95% das
neoplasias malignas de pâncreas decorram de mutações do gene K-Ras.

Genes membros da família Myc (C-myc, N-myc e L-myc) são proto-oncogenes


frequentemente expressos em indivíduos com câncer. A proteína Myc, normalmente,
age no núcleo induzindo a proliferação celular e, portanto, quantidades excessivas
desta proteína estimularão a célula para o processo de replicação/divisão em ocasiões
em que seria mais coerente a interrupção. Esta superprodução de Myc pode ocorrer,
por exemplo, por mutações, as quais levam a ocorrência de erros na replicação do
DNA; ainda, esse fenômeno (o de superprodução) também vem sendo relacionado à
translocação cromossômica, em que o gene Myc é transferido de uma sequência, que
normalmente o carregaria, para outra que, normalmente não o carregaria. É o que
ocorre no linfoma de Burkitt, que é um tipo de linfoma não Hodgkin.

O câncer e a genética familiar


Ao longo do estudo da apostila, foi possível perceber que muitos dos fatores de risco
para o desenvolvimento dos cânceres estava relacionado, também, ao histórico familiar
da doença. A estes tipos de neoplasias hereditárias, denominamos “síndromes de câncer
hereditário” que, portanto, são neoplasias malignas que se tornam mais prevalentes em
indivíduos de uma mesma família.

Esta “transmissão” pode ocorrer de uma geração para outra ou pela herança autossômica
dominante (na qual é necessária apenas uma cópia do gene mutado para que a pessoa
desenvolva a doença).

Existem características peculiares associadas a estas síndromes hereditárias, tais como:


idade precoce ao diagnóstico; mais de um tipo neoplásico no indivíduo; vários membros
da mesma família que apresentam a doença; vários membros da mesma família que
apresentam a doença; neoplasias relacionadas e inúmeras gerações acometidas.

O câncer de tireoide pode apresentar-se de forma esporádica (70 a 80%) ou hereditária


(20 a 25%). Os casos hereditários são diagnosticados em indivíduos jovens, com idade
média em torno de 35 anos que, geralmente, provocam hiperplasia nas células C. Há
indícios de que este tipo de neoplasia esteja relacionada a mutações no anti-oncogene
APC e do proto-oncogene RET, o qual codifica um receptor de membrana específico
para tirosina-quinase (um tipo de proteínas de membrana).

108
BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER │ UNIDADE III

Quanto ao câncer gástrico, estudos têm evidenciado que uma família de moléculas
relacionada ao processo de adesão celular, as caderinas, possam apresentar relação ao
desenvolvimento de adenocarcinoma gástrico. Acredita-se que mutações do gene da
E-caderina-1 (um subtipo de molécula caderina), CDH1, ocorra com frequência nesta
doença com caráter hereditário.

Outro tipo de câncer que pode ocorrer em caráter hereditário é o de cólon e reto. Apesar
de a ocorrência esporádica ser maior (cerca de 60% dos casos) do que por herança
familiar (cerca de 20% dos casos), muitos estudos investigam os genes relacionados
ao seu desenvolvimento. A síndrome de câncer colorretal hereditária pode apresentar
quatro classificações: polipose adenomatosa familiar; polipose familiar juvenil;
síndrome de Peutz-Jegher e não polipose (ou síndrome de Lynch).

Em relação a este tipo hereditário de câncer, estudos apontam e relacionam com a


ausência na expressão das proteínas MLH1, MSH2 e/ou MSH6. Ainda, são encontradas
mutações nos genes APC e TP53, os quais são tipos de anti-oncogenes. Em 90% dos
casos de câncer colorretal do tipo não polipose, são detectadas mutações nos genes
MLH1 e MSH2. Estes genes (MLH1, MSH2 e MSH6) são bastante importantes no
reparo do DNA (após sofrerem lesões) e no controle do ciclo celular.

O gene APC é regulador de uma proteína denominada β-catenina, que tem função
relacionada à adesão celular e, além disso, também participa da regulação de processos
relacionados à divisão celular, migração celular e morte celular.

Um bom exemplo de câncer hereditário é o de mama feminino (e masculino também)


e ovários. Conforme já mencionado em tópicos anteriores da apostila, um dos fatores
para o desenvolvimento destas doenças é a mutação nos genes BRCA1 e BRCA2.

Mulheres que apresentam mutações no gene BRCA1 possuem 87% de chances para
desenvolvimento de carcinoma de mama, além de 40 a 60% de chance de desenvolver
carcinoma de ovário durante toda a vida e 65% de chance de desenvolvimento de
carcinoma de mama após os 70 anos. Ainda, mutações no gene BRCA2 levam a 85% de
chance para o desenvolvimento de carcinoma de mama por toda a vida. Quanto ao
câncer de ovários, são detectados em 90% dos hereditários desta doença são constatadas
mutações dos genes BRCA1/2. Entre 42 e 48 anos o câncer de ovário hereditário pode ser
diagnosticado e, os casos esporádicos decorrem em idade próxima aos 60 anos e nestes
casos, muitos estudos tem mostrado a influência destes genes na doença (DANTAS et
al, 2009).

Os genes BRCA são classificados como anti-oncogenes, porém, em casos de câncer de


mama, mutações que inativem estes genes acarretam no desenvolvimento da doença.

109
UNIDADE III │ BASES GENÉTICAS E MOLECULARES DO CÂNCER

As proteínas BRCA desempenham importantes funções em diferentes processos


celulares, tais como regulação transcricional; reparo de lesões na molécula de DNA;
além do controle do ciclo celular, proliferação e diferenciação celular.

A expressão de BRCA1 vem sendo funcionalmente relacionada à expressão de receptores


de estrógenos. Alguns estudos mostram que BRCA1 é capaz de regular a resposta celular
aos estrógenos, por meio da inibição da transcrição de genes regulados pelo receptor de
estrógenos, indicando que estas proteínas possam reduzir sinais iniciados pela ativação
destes receptores, durante a puberdade e a gestação, no momento em que a expressão
de estrógenos e BRCA1 estão elevadas. Neste sentido, o BRCA1 tem função protetora ao
tecido mamário sob a instabilidade induzida pelos estrógenos (AMENDOLA; VIEIRA,
2005).

De 10 a 20% dos casos de câncer de próstata, há envolvimento hereditário como fator


de risco. Muitos são os genes mutados que vem sendo associados a esta doenças.
São eles: TP53, Rb, Ras, CDKN2, AR (receptor de andrógenos) e CTNNB1. A mais
comumente encontrada é no gene TP53, observada em estágios mais avançados, que
está relacionado com a regulação de processos de divisão celular, reparo da molécula
de DNA e morte celular.

Tente pesquisar diferentes genes que possam estar relacionados com a ocorrência
de neoplasias e que não foram mencionados na apostila. É um assunto bastante
interessante e, também, pode te auxiliar na escolha de um tema para seu TCC!!!

Vídeo sobre transcrição e tradução gênica:

<https://www.youtube.com/watch?v=gG7uCskUOrA>

Vídeo sobre ciclo celular:

<https://www.youtube.com/watch?v=JcZQkmooyPk>

Vídeo sobre biologia do câncer:

<https://www.youtube.com/watch?v=jjfYQMW_nek>

<https://www.youtube.com/watch?v=8VSgOeJy4dQ>

<https://www.youtube.com/watch?v=bdWRZd19swg>

<https://www.youtube.com/watch?v=Ep_nCSEDeAE>

110
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