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1 INTRODUÇÃO
Este estudo sobre o vocabulário hauçá documentado por Nina Rodrigues em fins do
século XIX tem por objetivo apreender-lhe informações variadas, como os campos
informações nos trazem os termos hauçás registrados na obra Os Africanos no Brasil, de Nina
Rodrigues?”
por Nina Rodrigues pertence à classe dos substantivos, dos adjetivos e dos verbos; 3. Não
pelos termos analisados, os quais, sendo básicos, dificilmente registram material léxico
estrangeiro.
1Professora de Filologia Latina e Portuguesa na Universidade Federal do Piauí, doutora em Linguística pela
Universidade Federal do Ceará, pesquisadora da integração do Brasil na Romania Arabica. Site:
samanthamaranhao.com. E-mail: samantha.ufpi@gmail.com.
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formas hoje arcaicas, expressões atuais em que alguns vocábulos ocorrem etc.
acima especificado.
linguísticos colhidos por Nina Rodrigues sobre a língua hauçá e o fato de fornecer subsídios
para o resgate da história das línguas africanas no Brasil, notadamente daquelas do Oeste-
Africano.
importância das análises, não nos deteremos nos aspectos da história externa da língua
2 METODOLOGIA
Aqui, apresentam-se em quadro com a numeração por nós atribuída, seguida, entre
Rodrigues, ao lado do vocabulário das línguas grunce, jeje, canuri e tapa. Estas numerações
não coincidem, porque alguns conceitos não trazem a expressão hauçá, havendo, portanto,
da forma hauçá colhida no final do século XIX e documentada por Nina Rodrigues, para,
enfim, apresentar-se a forma atual dos vocábulos. Aqueles cuja identidade hauçá não foi
reconhecida se identificam com três traços centralizados (---) na coluna em que se registra a
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como o seu uso corrente, registro gráfico, correlação entre grafema e fonema, sílaba tônica,
estrutura mórfica dos vocábulos. Para as formas não identificadas como da língua hauçá,
Do mesmo modo que Petter (2013, p. 91, 93) entrevistou informantes da língua secreta
de Tabatinga para avaliação do seu léxico, sujeitamos este vocabulário hauçá à apreciação
Veterinária. Natural de Kazaure, U. A. U. frequentou a escola primária Naha dat Islam, entre
do Jigawa, de 1999 a 2001. O informante fala hauçá, como língua materna, além de árabe,
inglês e português.
O informante recebeu uma ficha na qual figuravam os termos hauçás levantados por
Nina Rodrigues. Em entrevista pessoal, analisamos cada uma das formas para saber se ele
número:
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termos a seguir.
XIX Á XXI
uwa
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claridade
(f.)10
2 Mesmo item lexical para ‘sol’, entra, por exemplo, na pergunta “Que dia é hoje?”. De acordo com o nosso
informante, não tem a acepção de ‘claridade’.
3 Segundo o nosso informante, ‘chuva’ é designado por ruwan sama, literalmente, ‘água do céu’.
5 Gulhi tem a variante fonética gulbi, ambas antigas. Da evolução da forma gulbi resultou a moderna kobi,
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26 [27] Filho Dá Đa
27 [28] Filha Iá Ya
(pl.)22
14 O vocábulo não foi reconhecido como hauçá pelo nosso informante, segundo o qual o termo designativo
de ‘irmão’ é danwua.
15 Vocábulo oxítono, a pronúncia paroxítona é a forma pela qual iorubás afetivamente chamam os hauçás.
Este registro de Nina Rodrigues pode indicar que o seu informante não fosse de língua materna hauçá, mas
um nagô que conhecesse essa língua.
16 Vocábulo não identificado como hauçá pelo nosso informante, de acordo com quem, em hauçá, ‘rei’ é sarki.
17 Forma oxítona.
18 Foneticamentetranscrita[kiʃu’rua].
19 Trata-se de proparoxítono.
21 Oxítono, [ka’i].
23 [‘hanʧi].
25 Paroxítono.
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59 [65] Touro Çá As
26 Proparoxítono.
27 Paroxítono.
28 Farce se pronuncia [par’ʧi]. Porquanto a língua hauçá tenha o grafema <f>, ele representa o [p].
30 [‘zutja].
31 [‘ʤini].
32 Oxítono.
33 [gwi’da].
34 Oxítona.
35 Forma não reconhecida como hauçá pelo informante, segundo o qual ‘camisa’ é riga [ri’ga].
36 Pronuncia-se [mala’pa].
37 Vocábulo proparoxítono, sincopado, com relação à forma documentada por Nina Rodrigues.
38 [‘sanja].
40 Oxítono.
41 [ʤa’ki].
42 Pronuncia-se [‘akuja] e se refere a ‘cabra’ ou ao ‘conjunto de bode e cabra’, sendo o oxítono bunsuru o
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47 Paroxítono.
48 Oxítono.
49 [barew’a].
50 Paroxítono.
51 Paroxítono.
53 Pronuncia-se [‘kipi].
54 Pronuncia-se [tu’ruruwa].
55 Pronuncia-se[ʃin’kapa].
56 Paroxítono.
59 Wasa [‘wasa].
60 Bako.
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61 Sanyi [‘sani].
62 Zafi [‘zapi].
63 [tsay’i]. Diz-se que uma pessoa alta é dogo [‘dogo].
66 Hannu [‘hanu].
67 Wankewa [wanke’wa].
68 Datti [da’ti].
69 Mayafi [maya’pi].
72 Maikarfi [me’karpi], com monotongação. O prefixo mai- significa ‘a pessoa que tem’, neste caso, peso.
74 Ramame é a forma masculina, sendo rama o morfema lexical, ‘magreza’. A forma feminina é ramamiya.
75 Kiba, paroxítono, significa ‘gordura’. Maikiba é ‘a pessoa que tem gordura’, adjetivo comum de dois
gêneros.
76 Makanta, oxítono.
77 Kurma, paroxítono.
78 Tsaya [‘tsaya].
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Das 111 lexias atribuídas por Nina Rodrigues à língua hauçá, 36 não foram
reconhecidas pelo novo informante, falante nativo desta língua, para as quais se
apresentado por Nina Rodrigues não seria da língua hauçá, nomeadamente: túdo
‘montanha’; cauê ‘irmão’; kariri ‘rei’; abitxi ‘camisa’; múça ‘gato’; iózum ‘medo’; têum
‘coragem’; çulaite ‘raiva’; anaban anatété ‘jogo’; gánha ‘visita’; un-ôta ‘frio’; ulún ‘quente’;
djánom ‘alto’; djáquêlêca ‘baixo’; kunalá ‘bom’; jabéo ‘mau’; pêlon ‘limpo’; djafôrôa ‘sujo’; gaite
‘coberto’; djabalum ‘fraco’; dôra ‘forte’; kudôra ‘pesado’; quandôra ‘leve’; djágala ‘magro’; obiá
‘gordo’; iêu ‘cego’; gáum ‘surdo’; kúla ‘sentado’; itzá ‘em pé’; upiá ‘morrer’; aluixékamè ‘falar’;
80 Mutuwa [mutu’wa].
81 Magana, paroxítono.
82 Dariya [‘dariya].
84 Kuka, paroxítono.
85 Kallo, oxítono.
86 Ji [ʤi]. Outras informações acrescem-se mediante o uso de morfemas: [ina’ʤinka] ‘eu estou ouvindo’;
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ou 76,6% do total de vocábulos hauçás coligidos por Nina Rodrigues: çômáu ‘céu’, kaçua
‘terra (chão)’, rãná ‘sol’, uótá ‘lua’, tramámua ‘estrela’, rãná ‘sol, claridade’, dérei ‘noite’, arádo
‘trovão’, ruá ‘chuva’, êczeka ‘vento’, ruá ‘água’, gulhi ‘rio’, uta ‘fogo, luz’, aiáki ‘fumo’, toká
‘cinza’, túdo ‘montanha’, duuti ‘pedra’, rérei ‘areia’, namizi ‘homem’, maitê ‘mulher’, côfo/côa
‘velho(a)’, iaró ‘moço’, jo ari ‘criança’, ubá ‘pai’, uá ‘mãe’, dá ‘filho’, iá ‘filha’, cauê ‘irmão’, abôki
‘amigo’, mugo ‘inimigo’, kariri ‘rei’, iaki ‘guerra’, iúma ‘fome’, kixuruá ‘sede’, mutuá ‘morte’,
iamutua ‘cadáver’, kái ‘cabeça’, idánum ‘olhos’, báinti ‘nariz’, baki ‘boca’, harixê ‘língua’, akôôri
‘dente’, kúnei ‘orelha’, gaxi ‘cabelo’, guême ‘barba’, kafáda ‘braço’, anú ‘mão’, fariti ‘dedo’, kafa
‘perna’, kaufá ‘pé’, zutia ‘coração’, gini ‘sangue’, kaiçá ‘osso’, guídá ‘casa’, gandô ‘cama’, abitxi
‘camisa’, malufá ‘chapéu’, talcalimi ‘calçado’, çá ‘touro’, çania ‘vaga’, moarréki ‘bezerro’, dôki
‘cavalo’, alfadari ‘burro’, jaki ‘jumento’, ákuia ‘bode’, tunkiá ‘carneiro’, gurçunum ‘porco’,
múça ‘gato’, kúça ‘rato’, karei ‘cão’, biri ‘macaco’, barêuá ‘veado’, guiuá ‘elefante’, kazá
‘galinha’, zakará ‘galo’, kuai ‘ovo’,kifi ‘peixe’, tururuá ‘formiga’, xingafi ‘arroz’, maçará ‘milho’,
iózum ‘medo’, têum ‘coragem’, çulaite ‘raiva’, anaban anatété ‘jogo’, gánha ‘visita’.
‘rir’, fanákamê ‘gritar’, akúmkamê ‘chorar’, anhakamê ‘olhar’ e manónkamê ‘ouvir’) e 19 itens
entre adjetivos ou formas com função adjetiva, cuja tradução portuguesa se dá por meio de
locuções adjetivas e de particípios (em pé, sentado, coberto), configurando 17,1% do total, a
saber: un-ôta ‘frio’; ulún ‘quente’, djánom ‘alto’, djakêlêka ‘baixo’, kunalá ‘bom’, jabéo ‘mau’,
pêlon ‘limpo’, djafôrôa ‘ sujo’, gaite ‘coberto’, djabalum ‘fraco’, dôra ‘forte’, kudôra ‘pesado’,
quandôra ‘leve’, djágala ‘magro’, ibiá ‘gordo’, iêu ‘cego’, gáum ‘surdo’, kúla ‘sentado’, itzá
‘empé’.
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Quadro 02: Classes de palavras representadas pelos termos hauçás coligidos por
Nina Rodrigues
Vocábulos Hauçás coligidos Número de Lexias Percentual de Lexias (%)
por Nina Rodrigues
Substantivos 85 78,4
função adjetiva
Verbos 07 6,3
Fonte: A autora.
conceitos abstratos: iúma ‘fome, kixuruá ‘sede’, mutuá ‘morte’ iózum ‘medo’, têum ‘coragem’
e çulaite‘raiva’.
Quadro 03: Substantivos concretos e abstratos entre os termos hauçás coletados por
Nina Rodrigues
Vocábulos Hauçás coligidos Número de Lexias Percentual de Lexias (%)
por Nina Rodrigues
Substantivos concretos 79 93
Substantivos abstratos 06 7
Fonte: A autora.
seguir.
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i) NATUREZA
iii) PARENTESCO
Uá‘mãe’ Iá ‘filha’
v) GOVERNO, GUERRA
Kariri‘rei’ Iaki‘guerra’
vi) SENSAÇÕES
Iúma‘fome’ Kixuruá‘sede’
vii) MORTE
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ix) HABITAÇÃO
x) VESTUÁRIO
xi) ANIMAIS
xii) ALIMENTOS
xiii) EMOÇÕES
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xv) CARACTERÍSTICAS
xvi) POSIÇÕES
xvii) AÇÕES
A distribuição das lexias pelos campos semânticos acima descritos aponta a sua
maior ocorrência nos campos, respectivamente, dos animais (19 itens), da natureza (18
itens), do corpo humano (17 itens) e de características (também 17 lexias), ao que seguem 13
outros campos com menor número de itens: ações (06 vocábulos), ser humano (05 itens
lexicais), parentesco (05 termos), relações humanas (03 lexias), morte (03 palavras), vestuário
(03 lexias), alimentos (03 unidades lexicais), emoções (03 termos), governo/guerra (02
vocábulos), sensações (02 palavras), habitação (02 termos), posições (02 unidades lexicais),
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Quadro 04: Campos semânticos das formas hauçás documentadas por Nina
Rodrigues
Animais 19 17,2
Natureza 18 16,2
Características 17 15,3
Ações 06 5,4
Parentesco 05 4,5
Morte 03 2,7
Vestuário 03 2,7
Alimentos 03 2,7
Emoções 03 2,7
Governo/Guerra 02 1,8
Sensações 02 1,8
Habitação 02 1,8
Posições 02 1,8
Jogos/Diversões/Brincadeiras 01 0,9
Fonte: A autora.
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por Nina Rodrigues indica a sua antiga aquisição ainda na África, pela diversidade de
secundárias, uma vez que os autores a que tivemos acesso para estudá-los abordam campos
semânticos distintos, como os da religião, da ciência e da educação, bem como outras classes
Michaele (1968), dado o autor não ter formação em linguística e a obra não ser de publicação
recente, sujeita a revisão tanto no que respeita ao julgamento das línguas e dos seus falantes,
Desta forma, anotam-se aqui os termos identificados como de origem árabe, nas
De acordo com Danzaki (2015, p. 449), o povo hauçá teve contato com a língua árabe
ainda no século X, mas esta se difundiu efetivamente pelo território hauçá,87no século XII,
estrangeira os seus falantes já não se dão conta, constituem 20% do léxico desta língua.
empréstimo árabe, ao abordar a neutralização das vogais médias baixas, isto é, /e/ e /o/ > /ǝ/.
Nina Rodrigues documenta a forma dérei ‘noite’, que com esta coincide fonética e
semanticamente.
Dentre os termos do campo semântico do parentesco, Michaele (1968, p. 94, 96, 97)
aponta ubá ‘pai’ como arabismo, não descartando a possibilidade de uá ‘mãe’ também o ser
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(< ár. uma).88 Yalwa (1992, p. 113) apresenta gidaa ‘casa’ como empréstimo árabe no hauçá,
verificando-se na coleta de dados realizada por Nina Rodrigues guídá com o mesmo
sentido.
112) yaaròo ‘menino’, a que relacionamos iaró ‘moço’, no vocabulário coligido por Nina
Rodrigues. No campo semântico da morte, segundo Michaele (1968, p. 94-95), teriam origem
na língua árabe mutuá ‘morte’ e iamutua ‘cadáver’.89 Baldi (1988, p. 35, 65) informa não se
tratar mutù de empréstimo árabe, mas de cognato, sendo a raiz mwt ‘morrer’ comum ao
grupo afro-asiático).
1968, p. 94, 98, 99), alfadari ‘burro’ (MICHAELE, 1968, p. 94, 96), karei‘cão’ (MICHAELE, 1968,
Apontam origem árabe para maçará, do campo semântico dos alimentos, Michaele
Uma primeira análise dos arabismos da língua hauçá indica a ocorrência de pelo
menos 18 termos ou 16,2 % das formas analisadas, considerando-se o uso metafórico de ruá
também como ‘chuva’, distribuídos por 08 dos 17 campos semânticos em que se organizam
(47 % destes). Observe-se que nenhuma delas está relacionada ao campo religioso,
lembramos que Danzaki (2015, p. 449) aponta a presença de dois tipos de arabismos nesta
língua, aqueles cujo conteúdo semântico denota referentes familiares à cultura hauçá e que,
hauçás, em virtude do prestígio do árabe, que, de acordo com Yalwa (1982, p. 104-107) é,
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Natureza 05 27,8
Animais 05 27,8
Parentesco 02 11
Morte 02 11
Habitação 01 5,6
Vestuário 01 5,6
Alimento 01 5,6
TOTAL 18 100
Fonte: A autora.
parece certo não tê-la como idioma materno. Na entrevista, o nosso informante, U. A. U.,
apontou, por exemplo, que a pronúncia paroxítona do vocábulo abôki ‘amigo’ já denotava
origem estrangeira do seu falante, talvez nagô falante de iorubá, conforme consta na nota
comum, como as designações para ‘lago’, ‘pescoço’, ‘costas’, ‘joelho’, ‘barriga’, ‘porta’, ‘boi’
mas, tendo sido o hauçá uma língua falada, inclusive como língua plena e não como língua
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‘sol, dia’, além das 36 formas não identificadas como hauçás, corroboram a ideia de um
O fato de parecer não haver arabismos entre as formas não reconhecidas como
hauçás, passíveis de identificação como cognatas, sugere se tratar de uma língua de região
não- islamizada.
Quanto ao seu falante, pode não ser muçulmano, mas ter aprendido um pouco de
dada a organização dos africanos pelo critério religioso (COSTA E SILVA, 2004, p. 290-291).
Pode ter sido islamizado na Bahia, tendo aprendido hauçá com o professor de islamismo,
uma vez que os hauçás tiveram papel ativo na islamização da comunidade africana na Bahia
(MARANHÃO, 2017, p. 569-574). Pode ter chegado à Bahia já islamizado, mas ser originário
de uma região africana em que o islamismo não predominasse e em cuja língua materna,
portanto, não houvesse empréstimos árabes ou estes não fossem numerosos ou ainda que
se restringissem a campo religioso, não coletado por Nina Rodrigues (LOVEJOY, 2000, p.
26-28).
Ainda que não seja possível resolver esta questão, ela é válida pela dimensão sócio-
Voltando à língua não identificada como hauçá pelo nosso informante, algumas
‘falar’, falakamê ‘rir’, fanákamê ‘gritar’, akúmkamê ‘chorar’, anhakamê ‘olhar’ e manónkamê
‘ouvir’.
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Apenas 01 (14,3 % dos verbos), upiá ‘morrer’, não apresenta esta marca. Tampouco
apresenta morfema lexical igual ao das outras formas integrantes do campo semântico da
morte, mutuá ‘morte’ e iamutua ‘cadáver’. Seria um verbo de outro paradigma flexional,
gramatical, como a dos adjetivos, para os quais há as formas obiá ‘gordo’ e kunalá ‘bom’? Se
upiá for efetivamente um verbo, essa diferença morfológica pode indicar serem os vocábulos
prefixos? Há, dentre os adjetivos, dôra ‘forte’, kudôra ‘pesado’ e quandôra ‘leve’, sugerindo
a prefixação. Kunalá ‘bom´ traz um prefixo, como kudôra ‘pesado’ parece trazer? Por que un-
ôta ‘frio’ indica, graficamente, formação por dois elementos? Em djánom ‘alto’, djaquêlêca
‘baixo’, djafôrôa ‘sujo’, djágala ‘magro’, a sílaba inicial integra o morfema lexical ou é um
Essas são reflexões iniciais para investigação posterior, que em breve realizaremos.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
considerando tanto as hipóteses investigadas quanto a análise dos dados apenas exposta,
constituindo vocabulário básico de qualquer língua, foi corroborada, tendo em vista que os
uso corrente.
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analisados, concluiu-se pela sua refutação, uma vez que se verificaram arabismos em quase
a metade deles.
Esperamos que estas considerações acerca dos termos hauçás documentados por
Nina Rodrigues levem a novas e sistemáticas pesquisas sobre o legado linguístico dos
REFERÊNCIAS
BALDI, S. Some additional remarks on Arabic loan words in Hausa. Disponível em:
<http://opar.unior.it/834/1/Annali_1991_51_(f1)_Note_e_discussioni_S.Baldi.pdf>. Acesso
em 01 jun. 2018.
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