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Fichamento - Mass imprisonment, social causes and consequences/ Culture of Control -

Garland

Características do encarceramento em massa:

- números enormes de pessoas encarceradas

- seletividade de grupos específicos, jovens negros, por exemplo

Culture of control

Chapter one – A history of the present

Garland pretende fazer uma genealogia das modernas formas de controle do crime,
desvelando crenças, discursos e estratégias que dão forma a esse campo social.

O autor se refere dessa maneira a um problema de pesquisa/reflexão que ocupa


simultaneamente 3 áreas: Historia, “penologia” e Sociologia.

Do ponto de vista histórico, Garland ressalta uma grande mudança no padrão histórico na
justiça penal e no controle criminal que se desenvolveu entre 1890 e 1970, que , de acordo
com autor, se caracterizou progressivamente como “penal welfarism” (welfarismo ou
previdenciarismo penal).

Do ponto de vista penológico, o autor nota também uma grande mudança nas práticas
profissionais dos agentes atuantes no campo do controle penal. Essa mudança está ligada a
uma cultura profissional que se rompeu a partir da década de 1970/80. No entanto, esse
habitus, no sentido bourdieusiano, parece ter se reacomodado, de acordo com Garland.

Do ponto de visra sociológico, Garland chama atenção para as condições socioculturais no


interior das quais as instituições do controle do crime estão inseridas. Por isso, analisar
mudanças no campo do controle criminal deve incluir uma análise das mudanças nas relações
sociais em que esse campo se estrutura.

Citação que pode ser importante:

“This crime control field is characterized by two interlocking and mutually conditioning
patterns of action: the formal controls exercised by the state.'s criminal justice agencies and
the informal social controls that are embedded In the everyday activities and interactions of
civil society. The formal institutions of crime control tend to be reactive and adaptive. They
operate in ways that seek to supplement the social controls of ordinary life, though they
sometimes inter_ fere with these social controls and undermine their effectiveness. As the
charac_ ter of everyday life changes, its changing habits and routines often have consequences
for the structure of informal controls, that can, in turn, cause problems for the functioning and
effectiveness of the institutions of formal control. We have to bear in mind, therefore, that the
field of crime control involves the social ordering activities of the authorities and also the
activities of private actors and agencies as they go about their daily lives and ordinary routines.
Too often our attention focuses on the state's institutions and neglects the informal social
practices upon which state action depends” (pp. 5-6)
Mudanças no campo do controle de crime

Garland passa então a caracterizar essas mudanças, a partir de dados do Reino Unido:

- Declínio da ideologia da reabilitação: De acordo com Garland, a lógica da reabilitação que


havia guiado o sistema penal até a década de 1970 foi abandonada. Apesar de ainda existir em
programas específicos de reabilitação, a lógica geral do sistema tende mais para um
gerenciamento de risco do que de recuperação de condenados.

- Ressurgimento das sanções clara e publicamente punitivas: a lógica retributiva, que até a
década de 1970 era criticada sob a acusação de anacronismo voltou a ocupar espaço no
debate público e nas políticas penais.

- Mudança no tom emocional a respeito da criminalidade: Garland fala sobre um


redramatização do crime, na qual figuras representativas do criminoso como produto de
desigualdades, típicas do welfarismo penal, foram substituídas por tipos mais raivosos, como a
ideia de uma juventude endemicamente rebelde, criminosos incorrigíveis e etc.

Since the 1970s fear of crime has come to have new salience. What was once regarded as a
localized, situational anxiety, afflicting the worst-off individuals and neighbourhoods, has come
to be regarded as a major social problem and a characteristic of contemporary culture. is Fear
of crime has come to be regarded as a problem in and of itself, quite distinct from actual crime
and victimization, and distinctive policies have been developed that aim to reduce fear levels,
rather than to reduce crime. Government-sponsored research now regularly investigates the
levels and character of this fear, categorizing and measuring the emotional reactions prompted
by crime-concrete fears, inchoate fears, generalized insecurity, anger, resentment-and
correlating these with actual patterns of risk and victimization. (p. 10)

- Retorno da vítima: a experiência da vítima do crime deixou de ser individual e passou a portar
a voz coletiva da sociedade

The victim is no longer an unfortunate citizen who has been on the receiving end of a criminal
harm, and whose concerns are subsumed within the 'public interest' that guides the
prosecution and penal decisions of the state. The victim is now, in a certain sense, a much
more representative character, whose experience is taken to be common and collective, rather
than individual and atypical. Whoever speaks on behalf of victims speaks on behalf of us all-or
so declares the new political wisdom of high crime societies (p. 11)

- Acima de tudo, os bens públicos devem ser protegidos: Isso demarca uma decrescente
preocupação com os direitos civis das pessoas incriminadas e uma crescente preocupação com
uma suposta proteção social, gerenciamento de risco e controle de condutas.

- Populismo penal e politização penal: as demandas sociais por penas mais duras são também
uma face das mudanças na passagem do welfarismo para o encarceramento em massa.
Garland nota o declínio da ortodoxia correcional

Reforço e reinvenção da prisão – Garland aponta para o fato de as taxas de encarceramento


nos EUA e na UK decresceram, porém entre as décadas 1970 e 1990 essas taxas explodiram.
Houve também a mudança da ideia de que a prisão funciona, porém não como reabilitadora,
mas como incapacitadora e retributiva.
Mudanças no pensamento criminológico – As criminologias do pós-guerra tendiam a elaborar
uma antropologia filosófica do indivíduo bondoso, de forma que o crime era expressão de
alguma anormalidade, um déficit na socialização, problemas psicológicos, de maneira geral
fatores que impediam o desenvolvimento do potencial humano da pessoa que cometeu crime.
Na criminologia atual, o crime e o criminoso tem sido vistos como algo normal, portanto o
combate a esse fenômeno deve ocorrer por meio de mais controle. Criminologias do dia-a-dia
postulam ideias como a do individuo que age racionalmente para o cometimento de crime.

Expansão da infraestrutura do prevenção do crime da segurança comunitária/ comercialização


do controle do crime – Garland argumenta que estratégias de policiamento comunitário e
proteção dos bairros por iniciativa própria dos moradores, bem como um mercado de
segurança que borra as linhas entre público e privado são características da mudança no
campo estudado

Citação importante: A complex, multi-dimensional field that has undergone a process of


transition will show signs of continuity and discontinuity. It will contain multiple structures,
strategies, and rationalities, some of which will have changed, some of which will not. (p. 23)

Condições sociais de existência do campo

Orientações teóricas

Garland prenuncia que buscará analisar as mudanças no campo do controle do crime da justiça
penal na seguinte chave: My argument is thus couched in the terms of a weak structuralism
that claims no more than the obvious truth that the introduction of new rationalities,
practices, and purposes into an existing field will have consequences for the operation and
meaning of the existing elements within that domain. It is these structural or figurational
qualities of the field-its discursive rules, its logics of action, the systematic constraints upon
what can credibly be said and donethat will form my primary object of study. (p.23)

Dessa maneira, Garland mostra que o campo do controle do crime e da justiça penal são seu
objeto primário de estudo e apesar de estar sujeito a mudanças nas condições sociais de
existência desse campo, pussui lógicas, discursos e práticas próprias. Issso não significa que o
campo esteja isolado, mas que diagnósticos de mudança social devem ser realizados a partir
da analises que mostrem as conxões efetivas entre o campo e suas condições sociais de
existência.

This book is an account of change in a number of different social fields and on a number of
different historical registers. In the foreground of the study is the problem of describing how
our responses to crime and our sense of criminal justice came to be so dramatically
reconfigured at the end of the twentieth century. But underlying this inquiry is a broader
theoretical concern to understand our contemporary practices of crime and punishment in
their relation to the structures of welfare and (in)security and in relation to the changing class,
race, and gender relations that underpin these arrangements. In studying the problem of crime
and crime control we can glimpse the more general problems of governing late modern society
and of creating social order in a rapidly changing social world, (p. 26)
Capítulo 2 – Modern Criminal Justice anda Penal-welfare State

O objetivo do capítulo é caracterizar o que Garland chama de justiça criminal moderna e o


estado penal de bem-estar social:

Overlaying this was a ~ore recent m~dernist superstructure, created during the course of the
twentieth century, With its distinctive correctionalist motifs (rehabilitation, individualized
treatment, indeterminate sentences, criminological research) and the specialist arrangements
that supported them (probation, parole, juvenile courts, treatment. p~ogrammes, etc.). The
result was a hybrid, 'penal-welfare' structure, combInmg the liberal legalism of due process
and proportionate punishment with a correctionalist commitment to rehabilitation, welfare
and criminological expertise. By 1970 the basic contours of this penal-welfare style were well
established and there appeared to be a settled dynamic of progressive change moving in an
increasingly correctionalist direction. (p.27)

Modernidade penal: a emergência do estado de justiça criminal

Garland faz uma breve introdução à história da modernização e portanto da estatização da


punição e do controle do crime. O autor mostra como o poder de punir faz um caminho que
parte do poder privado do soberano, para forma públicas de punir e regular a criminalidade.

Penal Welfarism and correctionalist crime control

With its roots in the 1890s and its most vigorous development in 1950s and 1960s, penal-
welfarism was, by 1970, the established policy framework in both Britain and America. Its basic
axiom-that penal measures ought, where possible, to be rehabilitative interventions rather
than negative, retributive punishments-gave rise to a whole new network of interlocking
principles and practices (p. 34)

Esses princípios do penal welfarismo se aplicavam na realidade por meio da liberdade


discricionária atribuída aos profissionais do campo, frequentemente lidos como neutros por
serem da assistência social, dos saberes psi, tidos então como apolíticos. Nesse campo aberto,
uma gramática do pensamento e ação, um habitus welfarista condicionava os discursos e
práticas dos profissionais e dos legisladores.

O limite encontrado pelo welfarismo advinha do fato de este se configurar como uma junção
da justiça criminal individualizante e o visões sociais que embasam o welfare state, ou seja,
ideias que identificam no crime um problema coletivo, social, portanto insolucionável por meio
de ações individuais. (ver pp.39-40)

Criminologia correcionalista

No penal-welfare surgiu uma penologia típica desse período, preocupada em separar os


criminosos entre normais e patológicos, para que pudesse então prescrever tratamentos para
estes últimos. A visão dessa criminologia sobre os ditos patológicos revolvia sobre a questão
da privação, estudos dessa linha criminológica buscavam a psiquiatria e a psicologia para
correlacionar os casos mais graves a um histórico de vida com maiores dificuldades
econômicas e/ou afetivas. Essa criminologia passou por uma reforma teórica, que buscou
relativizar a tese que correlaciona vida criminal e privação econômico-afetiva, mostrando que
a questão principal era a diferença entre expectativas sobre a vida e aquilo efetivamente
oferecido. Nessa segunda linha, as frustrações possuíam um papel preponderante na
explicação dos criminosos patológicos, no entanto, de acordo com Garland, o axioma
correcionalista se mantinha intacto, mesmo com esse desvio: pois o empobrecimento, ainda
assim, apresentava-se na raiz dos comportamentos criminosos.

Contexto social

O welfarismo penal surge no contexto de implantação do welfare state nos EUA e Inglaterra.
Essa aparato institucional, discursivo, disposicional e prático possuía muitos paralelismos como
welfare state. A ideia de que os crimes, em última instância, são derivados de problemas
sociais, como a pobreza. Dessa maneira, analogamente às instituições do welfare-state, que
buscavam prover uma proteção social, o welfarismo penal dependia do aparato institucional
do welfare state para por em prática os ideais correcionalistas.

Base social do welfarismo penal

Estilo de governaça: combinação de humanismo e utilitarismo nas relações entre as classes


dominantes e as subordinadas (não entendi direito)

Capacidade de controle social: as instituições do pós-guerra eram as instituições disciplinares,


escola, fábrica e etc, além disso, o controle informal da vizinhança, família e comunidade.
Essas formas de controle tinham papel importante na reintegração social pregada pelo
correcionalismo.

Economia: a expansão econômica dos anos dourados do capitalismo serviam de suporte para
as instituições do welfare state que se interconectavam com os ideiais do welfarismo penal

Autoridade de grupos de profissionais especializados: Os saberes psi ganharam grande


relevância e respaldo social para determinar as práticas correcionais e de formar as equipes
responsáveis pelo trabalho no penal welfare

Apoio das elites sociais: Apesar de não apoiarem políticas criminais específicas, as quais eram
decididas e implementadas pelos experts, havia um consenso entre as elites sobre o ethos a
ser adotado frente à criminalidade.

Percepção sobre efetividade: A legitimidade das políticas do welfarismo penal se embasavam


em uma percepção sobre sua efetividade que nem mesmo evidências contrárias, como o
aumento na criminalidade, podia diminuir. Argumentos como a necessidade de maior
treinamento e incremento de políticas welfaristas eram validados contra esse tipo de
evidência.

Falta de oposição política

Penal-welfare policies were the achievement of professionals and reforming politicians, not
the result of any widespread popular movement. Nor did such policies command a great deal
of active, popular support. Such evidence as there is suggests that public opinion, even as late
as the 19605, continued to be more punitive and 'traditionalist' than government policies.53
Penal-welfarism was, for the most part, a policy imposed from above. Importantly, however, it
was imposed with very little resistance from below, and no strong demand for any specific
alternatives. If the general public was more punitive than its representatives and less
convinced by correctionalism than were liberal elites, it was, nevertheless, not especially
excited about the issue. Those developing penal-welfare policies could rely on a good deal of
public apathy and ignorance. Aside from occasional outcries about outrageous crimes, lenient
sentences or notable escapes, there was no very active popular involvement with the crime
control politics and no very loud public criticism. As for the day-ta-day running of the system,
this was largely left to criminal justice personnel. (p. 51)

Capítulo 3 – Crise do correcionalismo

Garland argumenta que o aparato do penal welfare entra rapidamente em crise, delineando
uma trajetória anômala no campo da punição, que desde o século XIX caminhava
progressivamente para horizonte correcionalista. Apesar de passar por reformas, isso
acontecia em um ritmo muito mais lento, a partir de um acúmulo crítico que culminava em
mudanças.

Essa crise decorreu de críticas ao sistema de justiça que buscavam aumentar os direitos dos
presos, porém levaram a rumos bastante distintos de qualquer intenção progressista não
poderia prever.

O capítulo 3 se dedica a desenvolver argumentos que expliquem como o penal welfare passou
tão rapidamente de uma prática estabelecida para ser coletivamente rechaçado.

A crítica estadunidense ao correcionalismo

Garland faz comenta o trabalho de diversos que elaboraram críticas ao penal welfare.
Primeiramente ele lista publicações que fizeram críticas à esquerda, vinda de grupos que se
ligavam aos movimentos pelos direitos civis e anti-guerra da década de 1960. Esses estudos
procuraram demonstrar como o sistema de justiça criminal do welfare possuía mecanismos
autoritários, como o estabelecimento de penas por tempo indeterminado, o julgamento
baseado no histórico do acusado e a discricionariedade conferida aos profissionais. Além disso,
alguns desses estudos mostravam que a reabilitação simplesmente não funcionava, utilizando
bases empíricas solidamente construídas para que se tirasse essa conclusão.

No entanto, apesar das críticas, os estudiosos e ativistas que as elaboraram ainda


comungavam dos axiomas do modernismo penal e penal welfare a respeito da origem social
do crime. Na corrente dessas críticas à esquerda, surgiram também críticos argumentando em
favor do endurecimento penal.

A difusão do modelo da falha

As críticas ao correcionalismo se espalharam por vários setores do campo do controle criminal,


afetando as polícias, que a partir de evidências empíricas deixaram de confiar no modelo de
policiamento preventivo, as criminologias (na acepção de um saber que busca as causas dos
crimes) também receberam críticas que enfatizavam a falha em seu poder de explicativo e em
embasar políticas que efetivamente reduzissem a criminalidade.

“The assault on individualized treatment opened the floodgates for a period of change that has
been with us ever since. It was the opening phase of a transformative process that has brought
about major changes in institutions, ideas, and practices across the whole crime control
field.”(p. 63)

Mudanças na criminologia acadêmica


Garland argumenta que movimentos acadêmicos, como labelling theory, a etnometologia,
marxismo e até filosofia da ciência influenciaram críticas ao welfarismo penal nas instituições
universitárias. Essas críticas, segundo Garland, se inspiravam no ambiente libertário da década
de 1960 e propunham novos horizontes para o campo de saberes criminológicos. Apesar de
partirem de áreas díspares elas carregavam em comum um olhar que permitia ao desvio ser
tomado como um objeto mais “apreciativo” ao desvio, retirando o olhar crítico sobre os
comportamentos desviantes em si e o direcionando aos controles estatais.

Essas críticas acadêmicas tiveram grande influência no campo do controle do crime, pois um
dos fundamentos do penal welfare estava nos profissionais socialmente legitimados da área,
que se embasavam nas discussões acadêmicas para de certa forma sustentar as visões
correcionalistas sem que houvesse suporte social amplo sobre essas políticas. Portanto,
mudanças acadêmicas no campo criminológico puderam impactar tão profundamente as
visões e práticas do penal welfare.

A forma da reação

Garland argumenta que as críticas ao penal welfare foram uma forma de reação, no sentido de
ser um movimento reacionário. Essa grande frente reacionária unia esquerda, centro e direita
em críticas aos ideais correcionalistas. A reação ao penal welfare estava menos baseada em
evidências científicas, muito embora houvesse grande produção acadêmica crítica, Garland
atribui ao modismo acadêmico boa parte desse movimento, e mais em uma forma de catarse
anti welfarismo.

Porém, os arranjos institucionais que se seguiram à terra arrasada que essa frente reacionária
deixou no campo do controle do crime difere bastante do que os reformadores imaginaram.
Afinal, não era de grande circulação a ideia de que a cadeia serviria meramente como
incapacitadora .

Garland oferece nesta passagem uma introdução ao argumento que explica os motivos das
mudanças no campo terem rumado para o endurecimento penal e encarceramento em massa:

My argument will be that the new institutional arrangements originated as problem-solving


devices growing out of the practical experience of government agencies and their
constituencies rather than the ideological programmes of reformers. The crime control field is
an institutionalized response to a particular problem of order, growing out a particular
collective experience. My account of crime control change looks at the way in which the field
was affected by the emergence of new security problems, new perceptions of social order, and
new conceptions of justice, all of which were prompted by the social and economic changes of
late twentieth-century modernity. The reconfigured field of crime control and criminal justice
are the products of that history and attempts by various actors to adapt to the opportunities
and problems that it posed (p. 72)

Capítulo 4 - Mudança e ordem social na modernidade tardia

Garaland coloca os objetivos do capítulo:

This chapter will argue that the turn against penal-welfarism took a 'reactionary', all-
encompassing form because underlying the debate about crime and punishment was a
fundamental shift of interests and sensibilities. This historical shift, which had both political
and cultural dimensions, gave rise to new group relations and social attitudes-attitudes that
were most sharply defined in relation to the problems of crime, welfare, and social order.
These new group relations-often experienced and expressed as highly charged emotions of
fear, resentment and hostility-formed the social terrain upon which crime control policies
were built in the 19805 and 19905 (p. 76)

Citação sobre modernidade tardia: “My own preferred term is 'late twentieth-century
modernity'-which indicates an historical phase of the modernization process without assuming
that we are coming to the end, or even to the high point, of a centuriesold dynamic that shows
no signs of letting up. Unfortunately such a phrase is even more cumbersome than the others
and is of limited use for theoretical generalization. So I will use the term 'late modernity' for
convenience, though readers should bear in mind the sense of my usage.” (p. 77)

Características da modernidade tardia para Garland:

(i) the dynamic of capitalist production and market exchange and the corresponding advances
in technology, transport and communications; (ii) the restructuring of the family and the
household; (iii) changes in the social ecology of cities and suburbs; (iv) the rise of the electronic
mass media; and (v) the democratization of social and cultural life. (pp. 77-78)

A dinâmica capitalista – 1950/1970

Nos chamados anos dourados do capitalismo houve expansão da produção e do consumo de


mercadorias, de forma que modos de vida anteriormente reservados apenas aos ricos se
tornaram acessíveis às classes trabalhadoras nos EUA e Reino Unido. Poíticas de pleno
emprego, consumo de bens duráveis, como carros e eletrodomésticos, de roupas, casa própria
e etc passaram a fazer parte de amplos setores das sociedades capitalistas graças ao
crescimento econômico progressivo e sustentado atingido por meio de políticas keynesianas e
energia barata. Junto com esse período próspero houve surgimento e expansão dos direitos
sociais .

Crise – 1970/1980

Após a crise do petróleo em 1973 esse cenário de crescimento passou a ruir. A reestruturação
dos mercados levou a mudanças no emprego, com progressiva precarização do trabalho –
expansão de trabalhos de meio período, de baixos salários e o trabalho feminino (uma vez que
um salário se tornou insuficiente para sustentar uma família) se tornaram cada vez mais
comuns. Houve, então, aumento da desigualdade e aumento da pobreza como consequência.

Mudanças na estrutura familiar e doméstica

Entre os anos dourados e o fim do século XX houve grandes mudanças no tamanho e na


estrutura das famílias. A entrada da mulher no mercado de trabalho, mudanças culturais e as
transformações produtivas levaram a famílias menos numerosas e a diferentes modelos
familiares, em contraste à ideia de família nuclear patriarcal.

Mudanças na ecologia social e demografia


A popularização dos automóveis e o advento dos transportes de massa tornaram possível a
reestruturação das cidades, que passaram a ter malhas mais extensas uma vez que a
necessidade de proximidade entre casa e trabalho se tornou desnecessária. Dessa forma,
crescem os subúrbios americanos e também a segregação racial, subúrbios branos e guetos
negros.

Impacto social da mídia de massa (TV)

De acordo com Garland a popularização da televisão levou a mudanças psicológicas


profundas, como a expansão das formas de reconhecimento das desigualdades, uma vez que a
vida e os padrões de consumo dos ricos se tornaram visíveis. Mudaram também os padrões de
privacidade e transparência, com a transmissão dos backstages das vidas pessoais das
celebridades e também das instituições.

Democratização da vida social e da cultura

Algumas hierarquias sociais começaram a ruir com as transformações culturais e econômicas


da segunda metade do XX. As demandas por tratamento igualitário de mulheres, LGBTQIs,
prisioneiros e outros grupos oprimidos se colocam no bojo do estabelecimento de relações
mais horizontalizadas. Com maior abertura para a diversidade e diferença, com os controles
morais relaxados abre-se espaço para maiores liberdades individuais e o cultivo de valores
como o relativismo, que se faz presente não somente nas relações interpessoais, mas também
em outros campos, como no pensamento social.

Impactos da modernidade tardia no campo do controle do crime

Na segunda metade do XX houve um grande e inquestionável nas taxa de criminalidade nos


EUA e Reino Unido. De acordo com Garland, esse aumento pode ser visto como o impacto da
modernidade tardia nos seguintes termos: (i) increased opportunities for crime, (ii) reduced
situational controls, (iii) an increase in the population 'at risk', and (iv) a reduction in the
efficacy of social and self controls as a consequence of shifts in social ecology and changing
cultural norms (p.90).

(i) aumento no número de produtos de alto valor, como eletrônicos, cujo roubo se torna
lucrativo

(ii) Crescimento populacional da parcela jovem e masculina, com a adolescência se mostrando


como período com menor agência dos controles sociais e instituições disciplinares

(iii) O crescimento do desemprego e da pobreza aumentam o contingente populacional que


pode se ver tentado a cometer crimes para obter vantagens econômicas relativas, ou para
compensar as desvantagens a que está submetida

(iv) a ascensão do liberalismo individual, relaxando a moral e os controles anteriormente


exercidos pela igreja, vizinhança e família

O telefone e o automóvel mudaram o padrão de policiamento, que passou a atender


chamadas de emergência, quando anteriormente era realizado por meio da presença e
interação dos agentes policiais nos bairros.

Impactos no welfare state

De acordo com Garland, as mudanças sociais que foram moldadas pelas instituições do welfare
state criaram as bases para que elas mesmas passassem a ser destruídas. A afluência
econômica criou expectativas crescentes na população, porém o estado era incapaz de
entregar resultados compatíveis com o esperado. A memória coletiva dos tempos do pré-
guerra foi substituída por uma memória de abundância, o que fez erodir a base sobre a qual o
welfare state se construiu.

Leitura progressista do welfare state

Muitas das críticas que solaparam as bases do welfare state possuíam um caráter progressista,
ou seja, criticava-se a insuficiência das políticas welfristas na perspectiva de estende-las e
aprofundá-las. O lema controle econômico e liberdade social resume essa corrente de críticas
ao welfare

Chegada dos neoliberais ao poder

As crescentes críticas ao welfare state foram se acumulando ao longo das décadas em que ele
ainda estava de pé foram catalisadas pela crise de 1973 de modo que convenceram o
eleitorado com o discurso contrário às mudanças culturais da modernidade tardia e com
políticas econômicas radicalmente distintas.

Leitura reacionária do welfare state

Na crítica reacionária ao welfare state, o lema se inverte e torna-se liberdade econômica e


controle social.

Capítulo 5 – Adaptação, Negação e Encenação

As críticas ao sistema de justiça e ao campo de controle do crime, como foi enunciado


anteriormente, criaram uma atmosfera que garalnd nomeia como nothing Works, referindo-se
às constatações de que não haveria o que ser feito nesse campo, pois nada funcionava.

Nessa atmosfera de descrença geral, começa a cair por terra o mito da soberania estatal e do
poder do estado em prover lei e ordem e a de fato conter os índices de criminalidade. Diante
dessas constatações, três alternativas políticas de delineavam: a adaptação, ou seja, a
aceitação pragmática de que o estado é incapaz de conter o crime; a negação, a manutenção
de políticas que ignoram o fato da incapacidade do estado em prover lei e ordem de fato; e a
encenação, cuja preocupação não se localiza no controle do crime, mas na expressão da raiva
e frustração que o crime geram.

Em um ambiente de altas taxas de crimes e de falta de credibilidade no estado, as instituições


do campo do controle do crime passaram por adaptações. Houve um amplo processo de
racionalização e profissionalização do sistema de justiça, que passou a operar a partir de
protocolos mais rígidos, o que acabou por diminuir o poder discricionário dos profissionais da
área. Alem disso, a digitalização e a introdução de reformas gerencialistas de caráter
neoliberal, nas quais a performance e a produtividade eram nortes do trabalho também
corroboraram o cenário de maior monitoramento e diminuição do poder de decisão dos
profissionais do sistema de justiça.

Nas adaptações a esse novo ambiente, as agências publicas do campo do controle do crime
passaram a responder a metas e avaliações de performance. Porém os critétios de avaliação
passaram a ser autoreferenciados e desligados do âmbito social do crime. Dessa maneira,
metas da policia não dizem respeito à diminuição da criminalidade, mas a quanto tempo em
patrulha as unidades fizeram em dado período; nas prisões as metas não dizem respeito a
quantos internos foram recuperados, mas a quantidade de horas despendidas em atividades
edificantes para os presos.

Outro deslocamento ocorrido no contexto dos novos dilemas impostos ao campo do controle
do crime é a mudança para o tratamento dos efeitos da criminalidade e não das causas. Assim,
o medo do crime e a atenção as vitimas passam a ocupar o lugar antes ocupado pelas
tentativas de diminuição das taxas de criminalidade.

Outra adaptação à nova realidade criminal é a tentativa de reestruturar programas de


policiamento cominitário que perderam espaço para a polícia motorizada e solucionadora de
casos de urgência. Porém , uma solução de caráter governamentalista é o acionamento da
responsabilização coletiva pelo controle dos crimes: cooperação entre agências do estado e
organizações comunitárias de segurança do bairro, iniciativas que mobilizam indivíduos,
comunidade e o estado na responsabilização mútua é uma tendência frente aos novos dilemas
postos no campo do controle do crime.

Criminologias do cotidiano

The new criminologies of everyday life are a set of cognate theoretical frameworks that
includes routine activity theory, crime as opportunity, lifestyle analysis, situational crime
prevention, and some versions of rational choice theory. (p. 128)

Diferente da criminologia correcionalista, essas novas criminologias normalizam a prática de


crimes e possuem formas superficiais de explicar essas práticas.

Essas criminologias do cotidiano levam a pequenas ações preventivas que podem ser tomadas
sem a necessidade de se recorrer ao estado, estratégias de incentivos negativos À pratica
criminal, proteções individuais e comunitárias de fácil implementação.

Respostas não-adptativas (negação e encenação) e as criminologias do outro

Outro tipo de resposta aos novos dilemas do campo são reconhecíveis pelas medidas mais
autoritárias. As que negam a decomposição da soberania buscam implementar políticas para
restabelcer a confiança publica no estado por meio de penas mais duras condutas mais
autoritárias. No extremo dessa resposta estão as respostas de encenação que buscam
apresentar soluções punitivistas e populistas ao extremo, sem que haja o mínimo nexo
racional entre a política defendida e uma possibilidade de impacto negativo sobre a curva da
taxa de crimes. Essas são respostas mais expressivas e midiáticas e são ligadas as chamadas
criminologias do outro, que não normalizam o crime, mas buscam explica-lo na chave da
alteridade essencializada e vilanificada: o criminoso é um outro amoral ou simplesmente
malvado, frequentemente membro de uma minoria racial ou étnica.

Behind these contradictory policies and [government] practices stand criminological


frameworks that are diametrically opposed in crucial respects. There is a criminology of the
self, that characterizes offenders as normal, rational consumers, just like us: and there is a
criminology of the other, of the threatening outcast, the fearsome stranger, the excluded and
the embittered. One is invoked to routinize crime, to allay disproportionate fears and to
promote preventative action. The other functions to demonize the criminal, to act out popular
fears and resentments, and to promote support for state punishment. The excluded middle
ground between these two poles is, precisely, the once-dominant welfarist criminology that
depicted the offender as disadvantaged or poorly socialized and made it the state's
responsibility, in social as well as penal policy, to take positive steps of a remedial kind. This
older social democratic criminology has not disappeared or been scientifically discredited. But
it has become increasingly irrelevant to policy-makers as they struggle to come to terms with
the new predicament of crime control, and the politics of reaction that followed in the wake of
the welfare state. (p. 137)

Capítulo 6 – Crime complex: The culture of high crime societies

Garland nesse capítulo passa a desenvolver com maior profundidade as duas estratégias de
controle delineadas no capítulo anterior: preventative partnership e punitive segregation.

A) Punitive segregation features:

i. the ideal of protection of the public and expression of their sentiments (insecurity, fear...)

ii. politicized a populista measures instead of the expert oriented policies from the welfare
state

iii. the new place taken by the victim, which has become the central figure in the discussions
and de policies of crime control

(Garland fala em estratégias de controle do crime frente ao aumento nas taxas de


criminalidade a partir das décadas de 1960-70 nos EUA e UK)

“'spontaneous' social controls-which is to say, the learned, unreflexive, habitual practices of


mutual supervision, scolding, sanctioning, and shaming carried out, as a matter of course, by
community members.” (p. 159)

crime control practices that are more deliberate, more focused, and more reflexive (p.159)

As we saw, the development of late modernity reduced the extent and effectiveness of
'spontaneous' social controls-which is to say, the learned, unreflexive, habitual practices of
mutual supervision, scolding, sanctioning, and shaming carried out, as a matter of course, by
community members. The current wave of crime prevention behaviour tries to revive these
dying habits, and, more importantly, to supplement them with new crime control practices
that are more deliberate, more focused, and more reflexive.

The offenders dealt with by probation, parole, and the juvenile court are now less likely tob e
represented in offical discourse as socially deprIve citizens in need of support. They are
depicted instead as culpable, undeservingand .-somewhat dangerous individuals who must be
carefully controlled for the protection of the public and the prevention of further offending.
Rather than clients in need of support they are seen as risks who must be managed. Instead of
emphasizing rehabilitative methods that meet the offender's needs, the system emphasises
effective controls that minimize costs and maximize security (p. 175)

If the official aim of penal-welfare was the promotion of social welfare the overriding concern
today is, quite unashamedly, the efficient enhancement of social control. (176)

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