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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO DEPARTAMENTO DE INQUÉRITOS

POLICIAIS DA COMARCA DA CAPITAL - SP

Autos nº 0079564-58.2012.8.26.0050
DIPO 4.1.1
Preventa a 29ª Vara Criminal

FELIPE OLIVEIRA DOS SANTOS (tel. 2054-3976 / 6789-6308), já qualificado nos


autos em epígrafe, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por meio da Defensora Pú blica
que esta subscreve, informar e requerer o que segue:

I – DOS FATOS

O indiciado foi preso em flagrante no dia 20 de agosto de 2012 pela prá tica do prá tica
do crime de ROUBO.

Contudo, consoante a seguir demonstrado, ausentes estã o os requisitos necessá rios à


manutençã o da custó dia, sendo, portanto, de rigor a soltura de Felipe. Vejamos:

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II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) Da não configuração do crime de roubo

Inicialmente, cumpre esclarecer que, de acordo com os fatos narrados dos autos,
verifica-se claramente que a suposta conduta do indiciado configurou, NO MÁ XIMO, o crime de
FURTO, já que aquele nã o teria se utilizado de efetiva violência física ou grave ameaça para tentar
subtrair os pertences da suposta vítima.

Neste sentido, informou a pró pria vítima em sede policial, in verbis:

“Que estava saindo da escola (...), quando viu um indivíduo em uma bicicleta que tentou
abordar outro aluno mas este correu, oportunidade em que tal indivíduo então abordou
o declarante dizendo ‘eu sou o crime’ e tentou subtrair seu boné. Que então tal indivíduo
estava tentando jogá-lo ao solo dizendo que queria seu tênis, oportunidade em que
surgiram os policiais militares que abordaram-nos e separaram-nos (...).”

A testemunha Kayque, por sua vez, afirmou:

“Que no horário de saída avistou quando um indivíduo em uma bicicleta abordou seu
amigo Cleyson Vitor tentando roubar o boné dele. Que então Cleyson Vitor segurou seu
boné para evitar o roubo. O declarante então correu para tentar ajudar seu amigo
pois percebeu que assim que o indivíduo roubador percebeu que o tênis de Vitor era
mais caro, também tentou subtraí-lo, tentando jogá-lo no chão. Que nesse momento os
policiais chegaram (...).”

Ora, da rá pida leitura dos fatos acima narrados, percebe-se que, de fato, a suposta
ameaça supostamente utilizada pelo indiciado foi praticamente mínima, tanto que a vítima, não se
sentindo amedrontada, não teria deixado que seu boné fosse subtraído.

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Ainda, a “força física” empregada, se é que existiu, consistiu em nada mais do que um
movimento muscular voluntá rio, ou seja, o processo pelo qual o indiciado tentou cometer o ato, não
caracterizando, portanto, violência ou grave ameaça.

Assim, nã o havendo emprego de efetiva violência ou grave ameaça, não há que se


falar em configuraçã o do crime de roubo, mas, no má ximo, em crime de furto.

E, em se tratando de crime de furto e, ainda, sendo o indiciado absolutamente


primá rio, evidente que, com o advento da Lei 12.403/11, a sua prisã o se revela ilegal.

Com efeito, considerando a idéia, agora expressamente positivada, de que a prisã o


preventiva, por ser medida extrema de restriçã o da liberdade daquele que é presumidamente
inocente, deve ser aplicada de forma subsidiá ria, como sendo a ú ltima alternativa para aquele caso
concreto, o noviço diploma legal alterou o Có digo Processo Penal, estabelecendo, em seu artigo 313, a
expressa previsã o de que a decretaçã o da prisã o preventiva apenas será cabível nos seguintes casos:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima


superior a 4 (quatro) anos; 

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada


em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-
Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có digo Penal; 

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,


criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir
a execuçã o das medidas protetivas de urgência; 

IV - (revogado). 

Pará grafo ú nico.  Também será admitida a prisã o preventiva quando houver
dú vida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta nã o fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade apó s a identificaçã o, salvo se outra hipó tese
recomendar a manutençã o da medida.” (NR) 

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Assim, in casu, o indiciado, em tese, praticou um crime cuja pena má xima em abstrato
não supera 4 anos, é ABSOLUTAMENTE PRIMÁ RIO e, ainda, já foi devidamente identificado em sede
administrativa, nã o sendo, portanto, nos termos da Lei 12.403/11, possível a decretaçã o da prisã o
preventiva.

Ante todo o exposto, sendo absolutamente dedada a conversã o da prisã o em


flagrante em prisã o preventiva em casos como este, nos termos da Lei 12.403/11, de rigor o
relaxamento da prisã o do indiciado.

Cumpre destacar que ainda que Vossa Excelência entenda que restou configurado o
crime de roubo, e nã o de furto, consoante a seguir demonstrado, ausentes estã o os requisitos
necessá rios à conversã o da prisã o em flagrante em prisã o preventiva, sendo, portanto, imperiosa a
concessã o da liberdade provisó ria ao indiciado Vejamos:

b) Da ausência dos requisitos necessários à conversão da prisão em flagrante em


prisão preventiva

Sabe-se que a prisã o preventiva, por trazer como conseqü ência a privaçã o da
liberdade antes do trâ nsito em julgado, especialmente após a edição da lei 12.403/11, apenas se
justifica enquanto e na medida em que for efetivamente apta à proteçã o da persecuçã o penal, em todo
seu iter procedimental, e, mais, apenas quando se mostrar a ú nica maneira de se satisfazer tal
necessidade.

Nesta toada, dispõ e o artigo 312 do CPP, “a prisão preventiva poderá ser decretada
como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria.”

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Frisa-se que, de acordo com pacífica doutrina e jurisprudência, por conveniência da
instruçã o criminal há de se entender a prisã o decretada em razã o de perturbaçã o ao regular
andamento do processo, por exemplo, quando o acusado, ou qualquer outra pessoa em seu nome,
estiver intimidando testemunhas, peritos ou o pró prio ofendido, ou, ainda, estiver provocando
qualquer incidente de qual resulte prejuízo manifesto para a instruçã o criminal.

No que diz respeito à decretaçã o da prisã o preventiva para garantir a aplicaçã o da lei
penal, deve haver um risco real de fuga do acusado, e, assim, risco de nã o-aplicaçã o da lei penal em
caso de futura decisã o condenató ria. Frisa-se que a decisã o do magistrado deve sempre se basear em
dados concretos de realidade, nã o podendo revelar-se fruto de mera especulaçã o teó rica dos agentes
pú blicos, como ocorre com a simples alegaçã o de ausência de comprovante nos autos de residência
fica ou ocupaçã o lícita pelo indiciado ou acusado.

No tocante à ordem pú blica, tema dos mais controvertidos nos tribunais e na


doutrina, de acordo com o autor Eugenio Pacelli de Oliveira, a jurisprudência pá tria tem dado sinais
de ter optado pelo entendimento da noçã o de ordem pú blica como “risco ponderável da repetição da
ação delituosa objeto do processo, acompanhado do exame acerca da gravidade do fato e de sua
repercussão.” (Curso de Direito Processual Penal, 10ª Ed., p. 435).

Neste sentido, recente jurisprudência, a fim de se atender ao princípio da presunçã o


de inocência e, assim, afastar uma eventual antecipaçã o de culpabilidade, tem entendido que apenas a
“barbárie na execução do crime, a repercussão social do fato criminoso – que se revela atual e intensa -,
bem como a existência da decisão de pronúncia – a reforçar indícios de autoria - , são elementos que, se
conjugados, autorizam a prisão para garantia da ordem pública, como cautela do meio social.” (ob cit.,
p. 437, HC 41.857 – RS, STJ)

Ressalta, ainda, aquele doutrinador:

“Todavia, repetimos: toda a cautela é pouca. A prisão preventiva para garantia da


ordem pública somente deve ocorrer em hipóteses de crimes gravíssimos, quer quanto à pena,

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quer quanto aos meios de execução utilizados, e quando haja o risco de novas investidas
criminosas e ainda seja possível constatar uma situação de comprovada intranqüilidade no seio
da comunidade. (ob. Cit. p. 437).

Por fim, a decretaçã o da prisã o preventiva como garantia da ordem econô mica,
hipó tese trazida pela Lei 8.884/94, que possui como origem histó rica o combate aos chamados
“crimes do colarinho branco”, visa a impedir que o indiciado ou o réu continue sua atividade
prejudicial à ordem econô mica e financeira.

Salienta-se, ainda, que a mera referência vernacular a qualquer dos requisitos acima
referidos ou, ainda, a simples alusã o à gravidade do delito, nã o possuem o condã o de corresponder à
teleologia do artigo 312 do CPP, cabendo ao magistrado, caso entenda ser impossível a concessã o da
liberdade ao indiciado, com base no quadro fático presente nos autos, fundamentar de forma
pormenorizada o respectivo decreto da prisã o cautelar.

Neste sentido, vale citar:

HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. PRISÃ O EM FLAGRANTE.


SUPERVENIÊ NCIA DE SENTENÇA. MANUTENÇÃ O DA PRISÃ O. AUSÊ NCIA DE
FUNDAMENTAÇÃ O. SEGREGAÇÃ O CAUTELAR QUE PERDURA HÁ MAIS DE 3 (TRÊ S)
ANOS. DESPROPORCIONALIDADE.
1. Medida de exceção que é, a prisão cautelar só pode ser imposta (ou mantida)
caso venha acompanhada, sempre e sempre, de exaustiva fundamentação, que
evidencie a necessidade de restrição ao sagrado direito à liberdade.
2. Na hipó tese, a manutençã o da segregaçã o provisó ria foi lastreada tã o somente no
fato de o paciente ter permanecido preso durante a instruçã o. De se ver que foram
reconhecidas a primariedade, os bons antecedentes e a ausência de circunstâ ncias
judiciais desfavorá veis.
3. Além disso, mostra-se desproporcional a manutençã o da custó dia há mais de 3
(três) anos, sendo que o apelo defensivo se encontra pendente de julgamento desde
março de 2008.
4. Ordem concedida, para assegurar possa o paciente aguardar em liberdade o
julgamento da apelaçã o.
(HC 124644 / SP. Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139). Ó rgã o Julgador T6 -
SEXTA TURMA. Data do Julgamento 30/06/2010. Data da Publicaçã o 02/08/2010.)

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Isto posto, cumpre ressaltar que, in casu, sã o se pode alegar ser a manutençã o da
custó dia necessá ria à garantia da ordem pú blica, da ordem econô mica, por conveniência da instruçã o
criminal ou para assegurar a aplicaçã o da lei penal. E a nã o ser que tais critérios estejam
demonstrados pormenorizadamente quando da decretaçã o da prisã o preventiva, nã o se sustentaria a
assunçã o de sua existência pela simples alusã o ao fato típico que está sendo imputado ao indiciado.

No que tange à garantia da ordem pú blica ou à ordem econô mica, ressalta-se que,
além de o indiciado ser primá rio, o suposto delito nã o foi praticado com uso de arma de fogo, nã o
houve violência física contra a vítima e nenhum objeto foi efetivamente subtraído, sendo, ainda,
impossível de serem feitas assertivas lombrosianas sobre a periculosidade do agente e sobre sua
medida de responsabilidade no fomento de outras ocorrências.

Outrossim, não há fundamento para que deva ser mantida a prisã o do indiciado como
exigência da viabilizaçã o da instruçã o criminal, uma vez que não há nos autos provas de que, apó s a
prá tica do delito, as possíveis vítimas e testemunhas tenham sido ameaçadas de alguma maneira.

No tocante à necessidade de se assegurar a aplicaçã o da lei penal, cabe frisar que o


indiciado possui residência fixa, conforme afirmou em sede administrativa, nã o havendo motivos,
portanto, para se afirmar que aquele se furtará à eventual aplicaçã o da lei penal.

Ademais, na presente data, parentes do indiciado compareceram à Defensoria Pú blica


na posse de documentos que comprovam que Felipe, de fato, possui residência fixa situada na Rua
Mohamad Ibrahin Saleh, nº 148, bloco 02, Sã o Paulo – SP.

No mais, como acima mencionado, nenhuma arma lesiva foi utilizada pelo indiciado. A
possibilidade de dano físico, portanto, comprovou-se inexistente. Entendem o E. Superior Tribunal de
Justiça e o Tribunal de Justiça de Sã o Paulo, respectivamente, que, diante de tais circunstâ ncias e da
primariedade do requerente, a menor ofensividade do delito imputado se demonstra – o que seria
critério favorecedor:

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HABEAS CORPUS LIBERATÓ RIO. CRIME DE ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO
CONCURSO DE PESSOAS (ART. 157, § 2o., II DO CPB). PRISÃ O PREVENTIVA.
AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA CUSTÓDIA CAUTELAR. CRIME
COMETIDO SEM USO DE ARMA OU EXCESSIVA VIOLÊNCIA. PACIENTE PRIMÁRIO.
PRISÃ O QUE PERDURA HÁ MAIS DE 1 ANO. SENTENÇA AINDA NÃO PROFERIDA.
PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃ O DA ORDEM. ORDEM CONCEDIDA, PARA
DEFERIR A LIBERDADE PROVISÓ RIA EM FAVOR DO PACIENTE, SE POR OUTRO
MOTIVO NÃ O ESTIVER PRESO, MEDIANTE CONDIÇÕ ES A SEREM ESTABELECIDAS
PELO JUÍZO PROCESSANTE.
1. No caso concreto, o paciente foi preso em flagrante e teve indeferido o pedido de
liberdade provisó ria ao fundamento de que a gravidade do crime fazia presumir sua
periculosidade.
2. É uníssono o entendimento desta Corte e do colendo STF de que apenas a
gravidade do crime, desacompanhada de qualquer outra justificativa baseada
em dados concretos, é insuficiente para a manutenção da prisão cautelar.
3. Na hipó tese, nã o foi apontada qualquer circunstâ ncia, seja relativa ao modo de
execuçã o da conduta criminosa, seja quanto à
pessoa do acusado, que demonstrasse a efetiva necessidade da custó dia cautelar para
garantia da ordem pú blica. O delito não foi praticado com uso de arma de fogo,
não houve excessiva violência e os bens foram recuperados; ademais, o
paciente é primário, possui residência no distrito da culpa e assistência
familiar, nada
indicando, ainda, que seja voltado à prática delituosa.
4. Por fim, a prisã o perdura há mais de um ano, não tendo sido prolatada, ainda, a
sentença condenató ria.
5. Parecer do MPF pela denegaçã o da ordem.
6. Ordem concedida, para deferir a liberdade provisó ria em favor do paciente, se por
outro motivo não estiver preso, mediante condiçõ es a serem estabelecidas pelo juízo
processante, sem prejuízo de que venha a ser decretada nova custó dia cautelar, com a
estrita observâ ncia do disposto no art. 312 do CPP.
(HC 102.590/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃ O NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA,
julgado em 04/12/2008, DJe 02/02/2009. Grifos inseridos)

A d. Defensora Pú blica Amanda Ruiz Babadopulos impetra este habeas corpus, com
pedido de liminar, em favor de ANDERSON NASCIMENTO MELO, pleiteando possa
aguardar em liberdade até julgamento do mérito do presente pedido. Visa, na questã o
de fundo, à concessã o de liberdade provisó ria, sustentando estarem presentes os
requisitos necessá rios ao benefício. Argumenta com a ausência de fundamentaçã o
sobre as razõ es do indeferimento. O paciente, ao que se dessume do processo, é
primá rio. Vê-se processado por infraçã o ao artigo 157 caput c.c. artigo 14, II, ambos
do Có digo Penal. O crime, ao que tudo indica, foi cometido sem emprego de
qualquer tipo de arma, somente utilizada a força física, crime de menor
expressão, comparativamente a tantos outros vistos no pretório. A prisão

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preventiva é medida excepcional que se deve guardar especialmente a casos de
criminalidade violenta. No caso, ainda que condenado, poderá vir a ser
beneficiado com sursis ou regime prisional mais brando. A circunstâ ncia de ter o
paciente residência fixa (fls. 30 a 31) o favorece. Depois, em um exame sumá rio, nã o
se evidencia os requisitos da prisã o preventiva. Isso posto, concede-se a liminar para
permitir possa o paciente aguardar em liberdade até o julgamento do presente por
esta C. Câ mara. Expeça-se, pois, alvará de soltura clausulado. Comunique-se, com
urgência, por fac-símile. Processe-se, requisitando-se informaçõ es, com urgência.
(TJSP – HC Nº 990.10.477611-2. Des. Rel. Eduardo Pereira. Liminar publicada em
25/10/2010)

Ainda, imperioso mencionar recente decisã o do E. Tribunal de Justiça de Sã o Paulo em


que foi concedida liminarmente a liberdade provisó ria ao indiciado que supostamente praticou crime
de roubo, in verbis:

“Vistos. Cuida-se de pedido de habeas corpus em favor de Diego Oliveira dos Santos,
alegando a impetrante, em síntese sofrer o paciente constrangimento ilegal diante de
ato do Juízo que lhe indeferiu o pedido de liberdade provisó ria. Sustenta que o
indeferimento do benefício está baseado na suposta gravidade do delito. Defende ser
o paciente primário, possuir residência e emprego fixos. Pede a concessã o da
ordem para que o paciente possa responder ao processo em liberdade. Diante dos
argumentos apresentados pelo impetrante e das circunstâ ncias comprovadas pelas
có pias anexadas, entendo presentes os requisitos autorizadores da medida liminar
pleiteada. Ao que se verifica da impetraçã o e do auto de prisã o em flagrante aqui a fls.
07/17, trata-se de roubo de um aparelho celular (art. 157, caput, do Có digo Penal).
A r. decisão que denegou a liberdade provisória, aqui às fls. 21/23 e 27 não traz
fundamentação quanto às hipóteses dispostas no artigo 312 do Código de
Processo Penal, autorizadoras da manutenção da prisão. Limita-se a fazer
menção à gravidade do delito, como também à garantia da ordem pública e da
instrução criminal. Entretanto, respeitada a convicção do d. Magistrada,
insuficiente a fundamentação tida como alicerce da excepcional restrição da
liberdade da paciente. Em análise sumária do pedido e dos documentos
carreados, verifica-se inexistir óbice à concessão da liberdade provisória
pleiteada, posto que ausentes elementos seguros suficientes à prisão cautelar,
nos termos do art. 312, do Código de Processo Penal, a embasar o decreto
prisional. A capitulação, por si só, não é alicerce para a prisão processual. Se
assim fosse, seria expressamente previsto pelo legislador a vedação da
concessão da liberdade provisória ao crime de roubo, o que não fez. A gravidade
em abstrato do delito também não serve para calcar a custódia cautelar,
conforme reiteradamente vem decidindo o Supremo Tribunal Federal.
Ademais, o paciente possui residência fixa e ocupaçã o lícita, conforme fls. 25/26,
no distrito da culpa e nã o se verificam argumentos concretos que apontem o risco de

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o paciente, se em liberdade, vir a afrontar a ordem pú blica. Assim, ad referendum da
Colenda Turma julgadora, concedo a liminar para que o paciente aguarde em
liberdade o julgamento do habeas corpus. Expeça-se alvará de soltura. Comunique-se,
com urgência, via fac-símile. Oficie-se, inclusive requisitando-se as informaçõ es,
encaminhando-se, apó s, à douta Procuradoria de Justiça e tornem. Int. Sã o Paulo, 20
de junho de 2011. NEWTON NEVES RELATOR” (TJ/SP, HC nº 0130759-
72.2011.8.26.0000, publicado em 29-06-2011 no DJ Eletrô nico nº 983).

Ante o exposto, ausentes os requisitos necessá rios à manutençã o da custodia, de rigor


a concessã o da liberdade provisó ria ao indiciado.

Caso novamente nã o seja este o entendimento de Vossa Excelência, requer-se,


subsidiariamente, seja aplicada alguma das novas medidas cautelares previstas no CPP. Vejamos:

c) Da aplicação das novas medidas cautelares

Dando continuidade a uma série de reformas já implementadas na legislaçã o


processual penal, o Congresso Nacional aprovou recentemente a Lei nº 12.043/11, de 04 de maio de
2011, que, além de trazer diversas alteraçõ es no que diz respeito aos aspectos da prisã o processual,
da liberdade provisó ria, da fiança, inovou ao prever um rol de medidas cautelares pessoais a serem
aplicadas ao acusado ou investigado, de forma a evitar, sempre que possível, a segregaçã o social ao
longo do curso do processo.

Referidas medidas sã o, na verdade, nas palavras de Gustavo Henrique Badaró ,


“medidas cautelares alternativas à prisão (arts. 319 e 329 do CPP) informadas pelo caráter subsidiário
da prisão preventiva (art. 282, § 6º CPP).” (texto “Reforma das Medidas Cautelares Pessoais o CPP e os
Problemas de Direito Intertemporal Decorrentes da Lei nº 12.403, de 04 de maio de 2011” – Boletim
IBCRIM – ano 19 – nº 223, junho – 2011).

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Dessa forma, se o magistrado verificar que determinada medida cautelar alternativa à
prisã o for igualmente eficaz para atingir a finalidade para a qual for decretada, deverá aquele aplicar
tal medida, sempre menos gravosa se comparada à prisã o processual, não lhe sendo possível,
portanto, decretar a prisã o preventiva.

Em outras palavras, deverã o os magistrados se inspirarem na idéia, agora


expressamente positivada, de que a prisã o preventiva, por ser medida extrema de restriçã o da
liberdade daquele que é presumidamente inocente, deve ser aplicada de forma subsidiá ria, como
sendo a ú ltima alternativa para aquele caso concreto.

Neste sentido, novamente de acordo com Gustavo Badaró “(...) com o início de vigência
da Lei 12.403/11, (...), caberá ao juiz, motivadamente, justificar porque, naquele caso concreto e
segundo a situação do momento, não será adequada aos fins cautelares uma medida cautelar
alternativa à prisão cautelar. Sem isso, a prisão preventiva passará a ser ilegal, devendo ser relaxada.”
(ob. cit.)

Pierpaolo Cruz Bottini, traçando críticas positivas ao noviço diploma legal, “porque
permite a superação da medíocre dicotomia do processo penal, pela qual o juiz não dispunha de
alternativa diferente da prisão para assegurar a ordem processual e a aplicação da lei penal”, reafirma
o cará ter excepcional da prisã o processual, na medida em que aquela apenas poderá ser aplicada
quando nã o for cabível a sua substituiçã o por outra medida cautelar, “exigindo do juiz uma
fundamentação a mais quando da decretação da preventiva: a razão da dispensa de outras cautelares.”
(texto “Mais Reflexõ es sobre a Lei 12.403/11”, Boletim IBCRIM – ano 19 – nº 223, junho – 2011).

Paulo Sergio de Oliveira, por seu turno, igualmente tecendo elogios à elaboraçã o da
Lei 12.403/11, parafraseando Amilton Bueno de Carvalho, afirma “que o juiz deve sempre partir do
pressuposto de que, a princípio, nenhuma restrição à liberdade do indiciado/acusado deverá ser
aplicada. Excepcionalmente, por motivo absolutamente relevante é que o juiz deverá impor alguma
medida, porém, alternativa à prisão. Se esta medida, após análise criteriosa de
razoabilidade/proporcionalidade/eficácia/necessidade, não se mostrar suficiente para o caso em

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concreto, poderá o magistrado cumular mais de uma medida cautelar do artigo 319 do CPP alterado.
Superada esta análise, e verificada insuficiente esta medida, bem como se não houve outra possibilidade
para o caso concreto, ou seja, sendo absolutamente necessária a segregação, somente ai estaria o juiz
autorizado a decretar a prisão preventiva do agente, o que deve ser feito mediante concisa
inequivocada fundamentação.” (texto – “A aplicaçã o da Lei 12.404/11 Durante a Vacatio Legis” -
Boletim IBCRIM – ano 19 – nº 223, junho – 2011).

O noviço diploma legal, ao estabelecer a imposiçã o das medidas cautelares a serem


aplicadas de forma preferencial em relaçã o à prisã o temporá ria e preventiva, demonstra o intuito do
legislador de se evitar que a prisã o processual ganhe ares de “definitividade”, tornando-se uma
verdadeira antecipaçã o da eventual pena a ser aplicada, de forma a violar entendimento já
consagrado pela Corte Maior.

Nesse sentido, a defesa entende que a medida restritiva da liberdade a ser aplicada,
de forma subsidiá ria, no presente caso, é a prevista no art. 319, I, CPP, qual seja, o comparecimento
perió dico em Juízo, pois, dessa forma, se asseguraria, de forma efetiva, a instruçã o criminal, tendo em
vista que o indiciado poderia ser citado e cientificado dos atos processuais em Cartó rio.

Destarte, entendendo Vossa Excelência estarem presentes os “fumus comissi delicti”


e o “periculum in libertatis”, ou seja, constatados os indícios de autoria e a razoá vel suspeita da
ocorrência do crime, além do efetivo risco da liberdade ampla e irrestrita do agente, de forma a
prejudicar o resultado prá tico do processo, considerando, ainda, as atuais disposiçõ es do CPP trazidas
pela Lei 12.403/11, requer seja aplicada, de forma subsidiá ria, qualquer das medidas cautelares
previstas no referido diploma legal, preferencialmente aquela consistente no comparecimento
perió dico em Juízo, evitando, assim, a decretaçã o da prisã o preventiva, medida esta, como acima
demonstrado, que deverá , agora, ser tida como a ú ltima opçã o a ser considerada pelo magistrado,
reservando-se a situaçõ es extremamente graves.

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III – DO PEDIDO

Ante todo o exposto, restando configurado o crime de furto e, ainda, sendo o indiciado
absolutamente primá rio, pugna-se pelo relaxamento da sua prisã o, ante o advento da Lei 12.403/11.

Caso nã o seja este o entendimento de Vossa Excelência, nã o se encontrando presentes


os requisitos necessá rios à manutençã o da custó dia, requer-se a concessã o da liberdade provisó ria,
expedindo-se em favor do indiciado o competente alvará de soltura.

Subsidiariamente, requer seja aplicada qualquer das medidas cautelares previstas no


artigo 319 do Có digo de Processo Penal, de forma preferencial, aquela consistente no
comparecimento perió dico em Juízo, de forma a privilegiar a ulima ratio da Lei 12.403/2011: a prisã o
processual como medida extrema, nos moldes como vem sendo defendido pela doutrina penal e
criminoló gica moderna.

Termos em que pede deferimento.

Sã o Paulo, 21 de agosto de 2012.

Luciana de Oliveira Marçaioli


Defensora Pública

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Regional Criminal, Unidade Dipo, Fórum Criminal da Barra Funda, Av. Dr. Abrahão Ribeiro, nº 312, 2º andar, sala 439, São Paulo –
SP.

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