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Quadro da Arquitetura no Brasil

Nestor Goulart Reis Filho

As construções durante o período colonial ocorrem com a mão de obra escrava, com
tecnologia precária, sem equipamentos adequados e seguindo tradições que garantia a
aparência das casas portuguesas. A arquitetura e o lote urbano, seguiam padrões rígidos
tornando as cidades uniformes e monótonas. As vias públicas eram sem calçamento e
passeios. As coberturas eram de duas aguas e evita-se utilizar calhas. Com o passar do
tempo os padrões passaram a ser menos rígidos e as modificações foram acontecendo aos
poucos, como o desenvolvimento da cobertura de quatro aguas, a substituição de beiras por
calhas ou condutores, além do uso de platibandas e a multiplicação de ruas, calçadas e
passeios. A separação de classes sociais refletida na arquitetura. Pessoas mais importantes
tinham suas casas construídas de pedra e barro e normalmente viviam nos sobrados com
piso de assoalho (casas de porão alto e sobrado com porão); pessoas mais pobres viviam
em casas térreas com piso de chão batido. Raramente se utilizava tijolo ou pedra e cal e as
técnicas construtivas eram de pau-a-pique, adobe ou taipa de pilão. A distância entre as
classes sociais perdura e aumenta a cada dia. Mesmo com a decadência da escravidão e o
trabalho remunerado, a riqueza está sob o poder de poucas pessoas e o domínio que antes
acontecia com a escravidão ocorre agora, século XXI, através do endividamento e com o
desrespeito as condições de trabalho. Ainda hoje a classe média tenta copiar as casas dos
mais ricos, como aconteceu no século XIX, momento em que a arquitetura passou a ser
desenvolvida por profissionais e, por influência de estrangeiros, houve o incentivo e o
desenvolvimento dos bairros jardins. No século atual os bairros passam a ser condomínios
fechados, com muros altos, criando literalmente barreiras e distanciamento maior entre ricos
e pobres. A monocultura, no período colonial, gerava dificuldades de abastecimento e por
isso muitos proprietários de moradas urbanas resolviam tal problema com a plantação de
pomares, criação de aves e porcos, cultivo da mandioca e outro legume. Por sua vez, as
chácaras, situada na periferia, eram mais utilizadas por proporcionarem maior conforto
devido a facilidade de abastecimento de cursos d’aguas. O Brasil tem passado pela crise da
falta de agua, principalmente devido à má distribuição. Problemas de gestão pública e
planejamento de infraestrutura também são motivos causadores da falta de abastecimento.
O impacto deste problema pode ser catastrófico, atrasando ainda mais o desenvolvimento
do país. Uma das soluções são as diversas obras que deveriam ter sido feitas no sistema
de abastecimento, além da preservação, administração e utilização eficiente não apenas da
agua, mas dos diversos recursos naturais. Com a integração do país no mercado mundial,
a abertura dos portos permitiu a importação de equipamentos e por consequência a
alteração da aparência das construções, além do aumento da imigração e o
aperfeiçoamento das técnicas construtivas. O desenvolvimento da imigração ajudou a
difundir a arquitetura neoclássica, com tipos mais refinados de construção e aos poucos foi-
se abandonando as velhas soluções coloniais. Com as mudanças nos códigos, ocorrem
mudanças nas implantações e dimensões dos lotes. Os recuos das casas passaram a ser
mais frequentes, com esquemas de implantação afastados dos vizinhos e com jardins
laterais. A entrada foi transferida para a lateral e a introdução do paisagismo trouxe mais
arejamento e iluminação. Nota-se o desaparecimento da uniformidade marcante do período
colonial e o desenvolvimento do Ecletismo, além da introdução da Art Nouveau e
Neocolonial, movimentos modernistas que trouxeram renovações nas formas de
implantação. As cidades passaram a ter serviços de agua, redes de esgoto, abastecimento,
iluminação e transporte coletivo. A melhora na higiene com as instalações hidráulicas mudou
os costumes e passou-se a instalar banheiros com agua corrente nas residências. As casas
passaram a ser mais afastada em relação as vias públicas e com o desenvolvimento das
calçadas, jardins começaram a ser incorporados. O aperfeiçoamento permanente,
principalmente com o aumento da experimentação, buscando melhor aproveitamento de
uso, ocorreu por conta dos benefícios da industrialização que acompanhava as
transformações da tecnologia e dos costumes. Apesar da “necessidade” dos Planos
Diretores e diversos outras leis e normas que devem ser seguidas pelos arquitetos e
urbanistas também nos dias atuais, muitas críticas são apontadas na aplicação de tais
documentos. Com a leitura do livro percebemos que mudanças nos códigos são capazes de
mudar e até melhorar o tipo de habitação. Por trás desses Planos existem mais interesses
políticos em detrimento de interesses sociais capazes de promover o crescimento e melhoria
das cidades. Em outros países, percebemos que planos de habitação social permitem que
os arquitetos sejam criativos e desenvolvam projetos inovadores, que passam a ser
valorizados pelos moradores. O programa “Minha casa, minha vida” do governo brasileiro,
por sua vez, com suas inúmeras restrições e principalmente com a grande influência das
empreiteiras e imobiliárias que tem interesse apenas com os lucros dos imóveis, não
permitem o desenvolvimento e participação criativa dos arquitetos, quanto mais a
participação dos futuros habitantes. Percebemos que os programas sociais brasileiros de
habitação, com algumas exceções, têm se tornado favelas, pouco conservadas pelos
moradores, aumentando problemas de violência e caos no trânsito. Com o desenvolvimento
da indústria aparecerem os arranha céus. Todavia, a indústria brasileira ainda era fraca no
século XIX, e muitos equipamentos e materiais ainda eram importados. O aumento de
operários devido a industrialização fez surgir os bairros e as vilas operárias para
acomodação. As construções eram feitas pelos proprietários, amigos e vizinhos, com
padrões mínimos de construção e higiene. O surgimento das favelas ocorre por conta das
dificuldades sociais e econômicas, além da rigidez e atraso na formulação dos lotes. Nota-
se a despreocupação com aspectos urbanísticos e o distanciamento do progresso entre
pequenos centros e grandes centros, além da desatualização das vias de transporte. Um
dos maiores problemas enfrentados pelas grandes cidades atualmente está relacionado as
vias de trânsito e os meios de transporte. Assim como ocorreu o crescimento, o excesso e
a concentração populacional, séculos passados, hoje a ineficiência no sistema de transporte
público, entre outros fatores, contribuem para o excesso de automóveis nas vias,
responsáveis pelos longos congestionamentos e entre outros problemas. A verticalização e
a multiplicação dos conjuntos de construções foram a solução para atender as novas
necessidades e funções do século XIX até o momento. Soluções para os transportes
também estão surgindo, como corredores expressos para ônibus e por consequência
mudanças na infraestrutura urbana e viária, porém ainda estão aquém de uma solução
efetiva. O desenvolvimento de uma nova paisagem urbana, como é a cidade de Brasília,
exigiu a racionalização do sistema viário, sem desconsiderar o pedestre. Com propostas
renovadoras, através da divisão da cidade em setores, nos mostra uma nova perspectiva,
sendo exemplo de uma cidade planejada e integradora. Apesar disso, o planejamento é
permanente, buscando sempre soluções urbanísticas mais avançadas e atualizadas,
capazes de garantir o mínimo de conforto, seja externamente através dos parques e jardins
ou internamente com iluminação e ventilação favorável, por exemplo, devendo envolver
diversos profissionais. O desenvolvimento urbano deve ser racional, em que cada área
territorial possui funções, formando um conjunto de acordo com a finalidade. Seguindo este
princípio, o autor mostra que deve haver controle das relações entre arquitetura e
urbanismo, e o fio condutor para a racionalização das estruturas urbanas e o relacionamento
entre cada elemento ou conjunto é feita através das vias de circulação. Por ser um livro que
relata fatos, ele continua atual e objetivo para todos aqueles que tenham interesse no
desenvolvimento e mudanças ocorridas na arquitetura e urbanismo do país. Assim como
hoje, a dinâmica dos acontecimentos, seja ela política, econômica, comportamental e
cultural nos mostra que tudo isso tem impacto nas construções arquitetônicas e por
consequência na infraestrutura urbana. Analisando o passado podemos tentar imaginar as
tendências para o futuro, buscando, antecipadamente, as soluções arquitetônicas e
urbanísticas, sempre fazendo a conexão entre as mais diversas áreas, como foi feito pelo
autor.

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