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Sexo Cerebral: Um Caminho Que Começa a

Ser Percorrido atualização

R E S UM O Durval Damiani
Daniel Damiani
Fi ca cada vez mais claro que ocorre um dimorfismo sexual no cér ebro
de homens e mulheres , e experi ênci as em animais têm mostrado que
Taísa M. Ribeiro
ci r cui tos especí fi cos se desenvol vem de acordo com o sexo do animal. Nuvarte Setian
Desde os trabalhos i ni ciai s de Gorski em rato s, que descreviam o
núcleo sexualm ente di mórfico n a áre a pré-óptica (SDN-POA), tem sido
aceito que, por ação do estradiol , convertido l ocal mente pela aro-
matase a part i r de testoster ona, faz-s e o i mprint para sexo masculi -
no, i nibindo-se a apoptose das célul as do SDN-POA e, portanto, levan-
do a um núcleo anatomicamente maior e m machos quando comparado ao
de fêmeas. Outras regiões têm mostrado dimor fi smo sexua l e neces-
si tamos de um marcador par a que tais estrut uras sejam difer enciadas
e possam ser avali adas na prática clí nica. Este dado será de grande
val ia na atribui ção de gênero a paci entes portadores de anomal ias da
diferenc i ação sexua l , que nascem com ambigüidade genital. Têm havi -
do muitas dúvi das na atribuição do gênero a alguns desses pacientes e
não têm sido infreq üentes i nadequações sexuais, com mudanças de
opções sexuais em época puberal , com grandes traumas tanto para o
paciente como para seus fami li ares. A evol ução dos conhecimentos
nessa ár ea poderá nos trazer elementos muito i mportantes para nos
auxil iar na atri buição do sexo de criação em vários estados intersex-
uais e é um caminho que, apesar de estar ainda no seu iníci o, merece
ser percorri do. ( Arq Bras E n d o c r i n o l Metab 2 0 0 5 ; 4 9 / 1: 3 7 -
4 5)

D e s c r i t o r e s : Dimorf i smo sexual; Genitál ia ambígua; Inters exo;


Sexo cerebra l ; Sexo soci al; Siste ma nervos o central

A B S T RACT
Unidade de Endocrinologia
Brain S ex: Just Beginning To Pave The W a y . Pediátrica (DuD & NS),
It has become clear that a sexual brain dimorphism exists between males and Instituto da Criança, Hospital
females and animal studies have shown specific circuits developing depending on das Clínicas da Faculdade de
the sex. Since the first studies by Gor ski, in rats, character izing a sexually
Medicina da Universidade de São
dimorphic nucleus in the pre optic area (SDN- POA) it has been accepted that the
male sex imprint is done by estradiol, locally conver ted from testosterone Paulo – USP; e Universidade de
through the action of a local aromatase. The presence of estradiol inhibits the Santo Amaro – UNISA
apoptosis of the cells of SDN, making it bigger in the male sex. Other CNS r egions (DaD & TMR), São Paulo, SP.
have shown sexual dimor phism and we need a marker to allow us to identify
these str uctures and, eventually, apply this information to clinical practice. In
intersex patients, it may be of value to know which the brain sex of the patient
is, since we have had many doubts in choosing the sex of rearing in many of these
patients. It has not been uncommon that sexual inadequacies have occurr ed in
some patients, causing a lot of discomfort and suffering for the patient himself
as well as to his family. The pr ogr ession of the knowledge in the field of brain sex
may bring us another tool to deal with difficult cases of sex assignment in inter-
sex patients. ( Ar q Br as Endocr i nol M etab 2005; 49/ 1: 37- 45)

K e yw o r d s : Ambiguous genital ia; Bra i n sex; Central nervou s sys- Recebido em 08/10/04
tem; I ntersex; Sexual dimorphism ; Social sex Aceito em 30/10/04

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zoológica, em que não é o patrimônio genético ou o


N AS ÚLTIMAS DÉCADAS, muito se tem aprendido
com relação aos mecanismos de determinação
gonadal (entendida como a fase de desenvolvimento
ambiente hormonal que comandam a diferenciação
sexual, mas a necessidade de manutenção da espécie,
desde uma gônada indiferenciada, bipotencial, até um percebida pela ausência do líder macho no grupo (5).
testículo ou um ovário) e de diferenciação sexual (os Do ponto de vista prático, a opção quanto ao
mecanismos a partir de uma gônada já definida que sexo de criação tem se baseado no tamanho do falo e
levam o indivíduo ao seu sexo final, masculino ou femi- no posicionamento do meato uretral e não tem sido
nino). Particularmente, a partir da década de 80, com infreqüente a opção feminina em pseudo-hermafrodi-
o advento de técnicas de Biologia Molecular, muitos tas masculinos, com cariótipo 46,XY e testículos. A
genes têm sido incorporados a uma verdadeira “casca- evolução desses pacientes, que muitas vezes assumem
ta de determinação gonadal”, receptores hormonais o sexo psicológico masculino em época puberal, tem
têm sido caracterizados, defeitos em hormônios, feito com que se reconsiderem os critérios de indicação
receptores e em ações pós-receptor têm sido descritos do sexo de criação (6-9).
e nos ajudam a compreender as causas de muitos casos Se, por um lado, evolui o conhecimento de
de anomalias da diferenciação sexual. mecanismos que levam uma gônada indiferenciada a
O campo de estudo das anomalias da diferencia- testículo ou a ovário, bem como mecanismos envolvi-
ção sexual sempre tem procurado subsídios nas dos na construção de um fenótipo não ambíguo, por
exceções: desde uma proposta inicial em que a presença outro ficamos sem saber o que acontece no aspecto
de um cromossomo Y era necessária e suficiente para o cognitivo, cerebral e a questão que fica é: há diferença
desenvolvimento de um indivíduo para o sexo masculi- entre o cérebro masculino e o feminino? Ou seja, o
no e sua ausência justificava o desenvolvimento para o cérebro é um órgão sexualmente dimórfico? Não se
sexo feminino, casos que não se enquadravam no mo tem avançado muito neste aspecto e isto é compreen-
delo, tais como homem XX, mulher XY, hermafroditas sível, dadas as dificuldades de exploração de uma estru-
verdadeiros XX obrigaram a procura de mecanismos tura da complexidade do cérebro, mas uma série de
mais finos para justificar tais ocorrências. Dessa forma, evidências têm se acumulado e tornam, hoje, impe-
surgiu a fase do antígeno HY que, se presente em um rioso o enfrentamento deste desafio que, a bem da ver-
indivíduo que não tivesse cromossomo Y justificava o dade, tem sido feito há algumas décadas, como inicia-
desenvolvimento para sexo masculino. Logo, no entan- tivas isoladas. Há indicações de que tanto estruturas
to, verificou-se que estávamos com o “candidato erra- neurais e não neurais XX e XY diferenciam-se antes
do” e, a partir dos primeiros trabalhos com técnicas de mesmo de serem influenciadas por hormônios (10).
biologia molecular, surge o ZFY (1,2) e, logo após, o Se a resposta à questão da diferença entre um
SRY (Sex-determining Region of the Y chromosome) (3), cérebro masculino e feminino for afirmativa, como
hoje o sinalizador reconhecido como TDF (Testis realmente parece ser, uma série de outras perguntas se
Determining Factor), localizado no braço curto do cro- seguem:
mossomo Y. Muitos outros genes têm sido acrescenta- Por que e como diferem os sistemas nervosos de
dos a esse circuito e a lista cresce a cada dia (4). machos e fêmeas?
Quando se analisa, na escala zoológica, a dife- Em que fase ocorre tal diferenciação? Ela pode
renciação sexual, vários aspectos são chamativos e ser reversível?
trazem grandes questionamentos quando se procura Quem comanda a diferenciação cerebral? Hor-
compreender que mecanismo está por trás de uma mônios? Fatores genéticos? Fatores ambientais?
determinada modificação. Apenas a título de exempli- Quais as implicações práticas do conhecimento
ficação, interessante notar que em alguns peixes do dimorfismo sexual cerebral?
(sheepshead, um peixe da Califórnia), a diferenciação Neste artigo, reunimos trabalhos que têm abor-
sexual segue um estímulo visual! Esses peixes vivem dado o assunto e percebemos que este caminho, que
em cardumes de cerca de 20 fêmeas, comandadas por começa a ser percorrido, pode nos trazer informações
um macho, distinto das fêmeas fenotipicamente (cor, de grande valia, não somente no sentido acadêmico,
aspecto físico, tipos de nadadeiras, órgãos sexuais, mas também no campo da aplicabilidade clínica.
gônadas). Quando este macho é retirado do cardume,
uma fêmea, para manter o equilíbrio da espécie, em Por q ue e como diferem os s i s t e m a s
alguns dias sofre todas as transformações para sexo nervosos de ma c hos e f ê m e a s ?
masculino e passa a comandar o cardume. Estes acha- Há uma enorme complexidade quando estudamos
dos nos dizem claramente que há situações, na escala os sistemas envolvidos no comportamento sexual dos

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animais, desde comportamentos expressivos para vezes maior em machos comparados a fêmeas. Estímu-
atração do parceiro até a amamentação de filhotes. lo funcional dessa área, com eletrodos implantados,
Uma vez que o comportamento depende da estrutura aumentava a agressividade sexual masculina, ao passo
e da função do sistema nervoso, podemos imaginar e que lesões ablativas não produziam alterações de com-
elaborar teorias de que o sistema nervoso de machos e portamento em ratos sexualmente maduros, nem evi-
fêmeas não é igual, tanto na forma anatômica como tava a maturação sexual em ratos em período neonatal.
também nas atividades fisiológicas. Isto fica ainda mais Alguns estudos mostram que a ablação ou mesmo
claro quando imaginamos que estruturas corporais lesão na área pré-óptica interrompe o ciclo estral em
exclusivas de machos ou fêmeas possuem mecanismos fêmeas e, em machos, reduz a freqüência de cópulas.
de regulação cerebral distintos, próprios de cada um Há vários grupos de neurônios chamados de
dos sexos (11). núcleos intersticiais do hipotálamo anterior (INAH): o
Nos cérebros humanos os dimorfismos são grupo chamado de INAH-1 parece ser o análogo
pequenos, sutis, difíceis de serem encontrados; núcleos humano do SDN-POA de ratos. Já os grupos INAH-
hipotalâmicos variam em seus volumes médios quando 2 e INAH-3 são evidentemente maiores (cerca de duas
comparamos homens e mulheres, mas as variações são a três vezes) em homens do que em mulheres.
tais que não conseguimos ainda determinar um perfil a Na estria terminalis, em sua porção que se cora
ser seguido. Já nos roedores, pesquisadores con- em negro, encontramos o núcleo BNST (Bed Nucleus
seguem dizer se o cérebro pertence a um macho ou a of the Stria Terminalis). Nas mulheres, o componente
uma fêmea baseando-se apenas no volume hipotalâmi- central do BNST e da área médio sagital da comissura
co, com pequena probabilidade de erro. Em algumas anterior estão aumentados, o esplênio do corpo caloso
espécies de aves canoras, apenas os machos cantam e, é mais bulboso, o istmo do corpo caloso é maior e a
analisando seus cérebros, verificamos uma área para o massa intermédia está freqüentemente ausente quando
canto muito mais desenvolvida do que em fêmeas comparados aos homens. As mulheres mostram um
(12). Para dificultar ainda mais nosso estudo, as varia- corpo caloso diminuído em relação aos homens, mas a
ções nos comportamentos sexuais dos animais são comissura anterior é 12% maior em mulheres e em
cíclicas, variando ao longo do tempo. Vários neurônios homens homossexuais do que em homens heterosse-
na área pré-óptica medial de macacos rhesus machos xuais. No entanto, quando a massa intermédia está
aumentam muito sua atividade durante fases específi- presente nas mulheres, ela mostra-se maior do que nos
cas do comportamento sexual, incluindo a excitação e homens. Quando se estudam transexuais avaliando-se
a cópula. a quantidade de neurônios do BNST que expressam
receptores de somatostatina, nota-se que, a despeito
O cérebro é um órgão sexualmente da orientação sexual, os homens apresentam o dobro
dimórfico? de neurônios expressando somatostatina. Nos transe-
Uma das melhores evidências de que o cérebro é um xuais masculinos que optam pelo sexo feminino, o
órgão sexualmente dimórfico vem de trabalhos experi- número é semelhante ao das mulheres, ao passo que
mentais de Gorski, realizados em 1963, que mos- nos transexuais femininos que optam pelo sexo mas-
travam alterações do comportamento sexual em ratas culino, o número é igual ao de homens. Estes achados
expostas à testosterona intra-útero (13). Suas pri- apontam que, no caso dos transexuais, a diferenciação
meiras observações mostravam que a castração de ratos sexual cerebral pode caminhar em sentido oposto à
em período neonatal produzia um macho que exibia diferenciação genital (14).
comportamento feminino (postura lordótica). Por Até o momento, não temos uma noção clara do
outro lado, a administração de testosterona a fêmeas significado funcional de tais dimorfismos, mas sabemos
aumentava a incidência de comportamento masculino. que algumas dessas estruturas neurais, como o BNST,
A partir desses achados, Gorski passou a observar alte- encontram-se na área de regulação do comportamento
rações no sistema nervoso central que poderiam estar reprodutivo. Estudos realizados em pacientes que sofre-
correlacionadas a esses comportamentos, chegando ao ram acidente vascular cerebral com lesão num único
achado de um grupo de neurônios localizados no hemisfério mostraram que as funções do encéfalo fe-
hipotálamo, numa área acima do quiasma óptico. Este minino podem ser menos lateralizadas (menos depen-
núcleo foi chamado de “núcleo sexualmente dimórfi- dentes da conexão inter-hemisférica) (13).
co, situado na área pré-óptica (SDN-POA)”, também A conclusão que podemos tirar é que as estru-
conhecido como “núcleo intersticial do hipotálamo turas dimórficas nos cérebros humanos são previsivel-
anterior”. O volume desse núcleo é quatro a cinco mente poucas, já que há grande semelhança no com-

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portamento sexual das mulheres e dos homens.


Em que fase ocorre a diferenciação
c e r e b r a l pa r a m a s cu l i n a o u fem i n i na?
No atual estágio de entendimento, acreditamos que o
“programa” inicial de desenvolvimento tanto do cére-
bro quanto do corpo é feminino. Ambos os sexos apre-
sentam os primórdios (anlagen) para órgãos sexuais
internos masculinos ou femininos e, ao menos em
parte, a influência hormonal dirige a diferenciação:
testosterona e seu metabólito reduzido, dihidrotestos-
terona, promovem a diferenciação de ductos internos
e da genitália externa, respectivamente, para o sexo
masculino, enquanto que, em ausência desses hor- F i gu ra 1. Evolução temporal da produção de testosterona
desde a concepção até o pico puberal.
mônios, expressa-se o “programa” inicial para sexo
feminino.
Em animais de laboratório, a manipulação do direção do sexo masculino.
ambiente hormonal durante o desenvolvimento peri- Se o cérebro é um órgão sexual, quem
natal altera permanentemente tanto a estrutura quan- comanda a diferenciação cerebral? Hor-
to a função do SNC: expor fêmeas a hormônio mas- mônios? Fatores genéticos? Fatores
culino viriliza componentes do SNC, enquanto a cas- amb ient ais?
tração química ou cirúrgica do macho permite o A primeira suspeita do que levaria o cérebro ao sexo
desenvolvimento de um SNC do tipo feminino. Há masculino ou feminino estaria nos hormônios
evidências de que a aromatização local da testosterona esteróides, diferencialmente produzidos em ambos os
a estrógeno é a responsável pela masculinização das sexos: testosterona no sexo masculino, estradiol no
estruturas cerebrais, ou seja, a testosterona atravessa feminino. Tem havido crescente evidência de que as
a barreira hêmato-liquórica e, nas células cerebrais flutuações nos níveis hormonais nos adultos estejam
do núcleo sexualmente dimórfico, é convertida a estra- relacionadas a diferenças anatômicas das estruturas
diol, inibindo a apoptose dessas células. Já nas fêmeas, cerebrais em ambos os sexos. Como esses hormônios
como o estrógeno circula perifericamente ligado à alfa- são esteróides, atuam no interior das células, tendo
feto-proteína, sua passagem ao SNC fica dificultada, livre passagem através da membrana celular graças à
não podendo exercer sua ação de inibição de apoptose sua solubilidade em lípides. O complexo hormônio-
em núcleos pré-ópticos (15). receptor citosólico dirige-se ao núcleo onde atua
Parece haver um “período crítico” para a dife- sobre o DNA induzindo ou reprimindo a transcrição
renciação sexual, e este período é próprio para cada de fatores que resultam num efeito final, específico
espécie. Dados experimentais em ratos apontam que para cada tecido. A idéia inicial é a de que a ausência
o período crítico segue-se à diferenciação das células de testosterona durante períodos críticos de desen-
de Leydig e o início da produção de testosterona volvimento do sistema nervoso central levaria à for-
(16). No ser humano, a partir de 7-8 semanas de vida mação de circuitos neurais diferentes no cérebro fe-
intra-uterina inicia-se a produção de testosterona e, minino, comparado ao masculino. Meyer-Bahlburg e
de 14 a 18 semanas, as células de Leydig ocupam cols. estudaram o efeito de um estrógeno sintético
metade do volume do testículo fetal, involuindo pro- (Dietilstilbestrol-DES) que foi utilizado em ges-
gressivamente até o termo. O pico de produção de tações de risco até 1971, quando sua associação com
testosterona ocorre entre 14 e 16 semanas de vida adenocarcinoma de células claras da vagina e da
intra-uterina, atingindo valores encontrados em cérvix uterina apressaram sua retirada do mercado.
homens adultos. Após o nascimento, a produção de As comparações entre as meninas expostas ao DES
testosterona é elevada nos 2 primeiros dias de vida, pré-natal com suas irmãs indicavam que a exposição
cai em seguida, voltando a subir com 2 semanas, ao DES pode aumentar o desenvolvimento de um
mantendo-se elevada até 4-6 meses, sendo aos 2 o comportamento bissexual ou homossexual nessas
pico máximo de produção (figura 1) (5). Em analo- mulheres. Três mecanismos são aventados: 1) ação
gia ao que ocorre em outras espécies, podemos supor do DES através da estimulação da produção de
que esses picos de produção de testosterona tenham andrógenos; 2) efeitos tóxicos do DES sobre o cére-
significado especial no desenvolvimento sexual na bro em diferenciação; 3) uma ação do DES seme-

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lhante à do estradiol na diferenciação sexual do sis- tivessem formado. O gene que mostrava a maior
tema nervoso central (17). expressão diferencial era o Xist, localizado no cromos-
Talvez o modelo mais “simples” para a com- somo X, que se expressava 18,5 vezes mais em fêmeas.
preensão de como os hormônios esteróides orques- O peptídeo DEAD Box (Dby) e o fator de iniciação da
tram a diferenciação de circuitos neurais esteja no tradução 2,Y (Eif2s3Y), ambos no cromossomo Y,
núcleo espinhal bulbocavernoso em mamíferos (SNB), apresentavam a maior expressão diferencial em machos
adjacente à base do pênis. Trata-se de uma pequena (10 e 8,8 vezes mais expressos nos machos, respectiva-
população de neurônios motores localizados na medu- mente). Isto sugere que, em mamíferos, os cérebros
la lombar que inerva a musculatura peniana em masculino e feminino iniciam as vias cerebrais de dife-
machos e é reduzido em tamanho nas fêmeas. Esses renciação sexual antes mesmo da formação gonadal
músculos têm um papel na ereção peniana e auxiliam (21). Tentando explorar a hipótese de que os genes
na micção. Homens e mulheres possuem um músculo atuam diretamente na diferenciação sexual cerebral e
bulbocavernoso. Nas mulheres, ele circunda a abertu- no comportamento sexual, de Vries e cols. compararam
ra da vagina e serve para constringi-la levemente. O ratos XX e XY com ovários com ratos XX e XY com
grupo de neurônios motores que controlam os mús- testículos. Apesar de a maioria dos fenótipos correla-
culos bulbocavernosos em humanos é chamado de cionar-se com a presença de ovários ou testículos e,
núcleo de Onuf e está localizado na região sacral da portanto, serem influenciados pelo ambiente hormo-
medula espinhal. O núcleo de Onuf é moderadamente nal, tanto os ratos machos e fêmeas com complemento
dimórfico (há mais neurônios motores em homens do cromossômico XY eram mais masculinos que os ratos
que em mulheres) já que o músculo bulbocavernoso XX na densidade de fibras imunorreativas a vasopressi-
nos homens é maior em relação ao das mulheres. Nos na no septo lateral, concluindo-se que os genes nos
ratos, as diferenças no número de neurônios do SNB cromossomos sexuais contribuem diretamente com o
ocorrem em período pós-natal. A partir de um número desenvolvimento de diferenças sexuais no cérebro (22).
de neurônios igual em machos e fêmeas, ocorre degene- Na espécie humana, temos a situação das insen-
ração dos neurônios motores desse núcleo, juntamente sibilidades completas a andrógenos em que, devido a
com a atrofia da musculatura peniana nas fêmeas. Já uma mutação do receptor androgênico, um indivíduo
nos machos, os níveis androgênicos circulantes que 46,XY, com testículos e produção adequada de testos-
ocorrem logo após o parto são responsáveis pela terona e de dihidrotestosterona, não consegue virilizar
inibição da apoptose desses neurônios. Se as fêmeas sua genitália interna e externa, apresentando-se
forem tratadas precocemente com andrógenos, resga- fenotipicamente como sexo feminino. Esses indivíduos
ta-se a função dos neurônios motores do SNB (17). apresentam uma adequada adaptação ao sexo femini-
Manfred Gahr, um neurocientista na Free Uni - no, sentindo-se como mulheres. Isto sugere um papel
versity of Amsterdam na Holanda, criou seu próprio dos hormônios gonadais no dimorfismo cerebral
“pássaro confuso sexualmente” (18,19). Antes do humano, mediado por receptor androgênico, apesar
desenvolvimento gonadal, a região cerebral que de não haver, até o momento, estudo nos cérebros de
comanda o comportamento sexual adulto foi alterada tais pacientes (7,13,23).
cirurgicamente. Se o conceito prevalente de que o Mesmo sem dimorfismos sexuais nítidos, os cir-
cérebro sofre a ação dos hormônios gonadais fosse cor- cuitos neuronais mostram-se diferentes, justificando
reto, o pássaro com o cérebro trocado não teria altera- diferenças nos comportamentos masculino e feminino.
ções, desde que as gônadas são preservadas. O que Os hormônios sexuais determinam a identidade sexual
ocorreu, no entanto, é que as fêmeas que receberam o do sistema nervoso durante o desenvolvimento inicial.
cérebro masculino comportavam-se como fêmeas mas A diferenciação sexual do sistema nervoso depende dos
os machos que receberam cérebros femininos não se andrógenos produzidos pelos testículos desencadean-
comportavam como machos. Os seus testículos tam- do a “masculinização” do sistema nervoso central ao
bém não se desenvolveram normalmente, indicando regular a expressão de uma variedade de genes rela-
que, pelo menos nesta espécie, um cérebro genetica- cionados ao sexo. Na ausência dos andrógenos, o sis-
mente masculino é requerido para completar o desen- tema nervoso em desenvolvimento passa a ter dife-
volvimento gonadal (20). rentes características. Parece também haver uma dis-
Dewing e cols. estudaram, com a técnica de creta “feminização”, o que significa que o cérebro das
microarray, 12.000 genes ativos no cérebro em ratos fêmeas não é simplesmente um sistema que deixou de
machos e fêmeas, encontrando 51 com níveis diferentes sofrer a ação dos andrógenos.
de expressão em embriões, antes que as gônadas se Os esteróides podem influenciar os neurônios

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de duas formas gerais: 1) eles podem atuar rapida- O hipocampo de animais estudados experimental-
mente para alterar a excitabilidade da membrana, a mente pode ser mais facilmente superexcitado, isto é,
sensibilidade aos neurotransmissores ou mesmo a li- desempenhar atividade epileptiforme, quando os níveis
beração dos mesmos. Os esteróides fazem isso, em de estrógeno aumentam. Woolley e McEwen demons-
geral, ao se ligarem diretamente e por modularem as tram que é verdadeiramente o estradiol que desen-
funções de várias enzimas, canais e receptores. Certos cadeia um aumento no número de ramificações den-
metabólitos da progesterona ligam-se ao receptor dríticas e que, à medida que os neurônios hipocampais
GABAérgico do tipo A e potencializam a quantidade desenvolvem mais ramificações, eles também passam
de corrente de cloreto ativada pelo GABA. São efeitos a ter mais sinapses excitatórias. Mais ainda, as novas
muito parecidos aos ocasionados pelo uso de sedativos ramificações parecem ter mais receptores n-metil
benzodiazepínicos e barbitúricos. 2) Os esteróides d-aspartato (NMDA) para o glutamato. Isto pode
podem se difundir através da membrana e se ligar a explicar, também, porque o estradiol aumenta a plasti-
tipos específicos de receptores para esteróides no cito- cidade sináptica de longo prazo no hipocampo. Estu-
plasma e no núcleo. Os receptores podem tanto inibir dos recentes mostram que a ação do estrógeno no
como promover a transcrição gênica específica para hipocampo serve para diminuir a inibição sináptica. Os
cada tipo de hormônio sexual (24). receptores para estradiol no hipocampo estão princi-
Estudos em roedores mostram que a testos- palmente em interneurônios inibitórios, os quais, para-
terona não possui efeito “masculinizante” no sistema doxalmente, não são as células que desenvolvem mais
nervoso central, sendo rapidamente transformada em ramificações. Contudo, o estradiol faz com que as
estradiol pela ação da aromatase, e esse estradiol pos- células inibitórias produzam menos GABA, tornando
sui efeito “virilizante” no desenvolvimento do sistema sua inibição menos eficiente. Mulheres com atividade
nervoso dos machos. Uma vez que o pico estrogênico epileptiforme relatam que a freqüência e a gravidade
não ocorra, na presença das gônadas femininas, o cére- de suas crises variam com os ciclos menstruais. Em
bro das fêmeas escapam da transformação observada geral, uma baixa quantidade de progesterona pode
nos machos e, além disso, a ligação do estrógeno a contribuir para a susceptibilidade às crises. Sendo o
alfa-feto-proteína dificulta sua passagem ao SNC (15). hipocampo uma estrutura extremamente relevante na
Uma vez que hormônios, e não cromossomos, habilidade de navegação e memória espacial, Woolley
determinam diretamente as características sexuais do notou que o pico do número de ramificações dendríti-
sistema nervoso, é possível existirem animais genotipi- cas hipocampais coincide com o pico de fertilidade no
camente femininos com encéfalos masculinos e rato. Durante esse período, as fêmeas procuram ativa-
genotipicamente masculinos com encéfalos femininos. mente os parceiros, o que pode requerer uma maior
O tratamento com testosterona no início do desen- habilidade para localização espacial que advém de um
volvimento de alguma forma afeta a plenitude do com- hipocampo mais excitável e repleto de receptores do
portamento feminino a longo prazo, o que pode ser tipo NMDA (26,27).
bem observado em indivíduos com hiperplasia adrenal
congênita que mostram, ao longo do desenvolvimen- Quais as implicações práticas do con-
to, um comportamento mais agressivo por parte das hecimento do dimorfismo sexual cere-
mulheres (7,25). b ral?
Pesquisadores da universidade de Rockefeller Estudos recentes dos INAH sugerem que haja dife-
descrevem um efeito fascinante dos esteróides: eles renças entre os cérebros de homo e heterossexuais que
contaram as ramificações dendríticas nos neurônios do poderiam estar relacionadas com a orientação sexual.
hipocampo de ratas e descobriram que o número de LeVay mostra diferenças estruturais no hipotálamo de
ramificações mudava intensamente durante o ciclo homossexuais quando comparados aos heterossexuais,
estral de cinco dias. A densidade de ramificações e os confirmando os dados de Laura Allen, da UCLA,
níveis de estradiol aumentavam paralelamente. Nos de que o INAH-3 é cerca de duas vezes maior em
animais em que a produção própria de estradiol era homens do que em mulheres. Avaliando o cérebro de
mantida baixa, a injeção deste hormônio causava homossexuais, observa-se também uma acentuada
aumento do número de ramificações. Tendo em vista diminuição da região INAH-3 em homens homosse-
que as ramificações dendríticas são locais de sinapse no xuais, com tamanho comparável ao de mulheres he-
sistema nervoso, esses dados nos sugerem uma possí- terossexuais. Apesar dessa diferença anatômica e con-
vel explicação para o fato de que a excitabilidade seqüentemente fisiológica, é difícil avaliarmos o com-
hipocampal também pareça acompanhar o ciclo estral. plexo comportamento sexual e o correlacionarmos

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com essa alteração. A lesão do núcleo homólogo ao do receptor a ponto de permitir uma adequada função
INAH-3 em ratos pouco interfere no comportamento no sexo masculino. Mais desconfortável é a situação
sexual (28). em que ocorre uma deficiência de 5-redutase tipo 2,
Questões de lateralidade também têm sido em que a testosterona não é convertida a dihidro-
avaliadas comparando-se homo e heterossexuais. testosterona, o hormônio responsável pela virlização
Diferentes padrões de assimetria funcional cerebral são da genitália externa. Esses pacientes, mesmo quando
observados em homossexuais masculinos ou femini- criados no sexo feminino, tendem a assumir o papel
nos, comparados a heterossexuais (29). masculino na época da adolescência, mostrando que
Dan Hamer e cols. acreditam haver um gene havia uma “marca” hipotalâmica já previamente esta-
correlacionado com o dimorfismo sexual cerebral. Seu belecida para o sexo masculino. As dúvidas chegam a
trabalho mostra uma maior probabilidade de um tal ponto que há autores preconizando que se deixe a
homem heterossexual vir a ser homossexual se houver criança sem ter seu sexo definido, e se aguarde que ela
na família algum indivíduo homossexual. Essa maior própria, mais tarde, decida qual seu sexo. Conve-
probabilidade estava mais diretamente relacionada a nhamos que é uma conduta complicada, levando-se
indivíduos homossexuais por parte materna do que em conta que essas crianças serão obrigadas a viver em
paterna. Esse achado sugeriu que poderia haver algu- uma sociedade em que a definição sexual já deve estar
ma relação entre o cromossomo X e a orientação se- estabelecida cedo. Em alguns países como a República
xual. No estudo de Hamer e Bocklandt, o DNA do Dominicana, Nova Guiné, onde há alta incidência de
cromossomo X foi analisado em 40 pares de irmãos, deficiência de 5-redutase tipo 2, aceita-se um “ter-
não gêmeos, que fossem ambos homossexuais. Como ceiro sexo”, temporário, e essas crianças são mantidas
sabemos que qualquer segmento específico de DNA, nesse estágio de espera até que, na puberdade, ocorra
paterno ou materno, seria o mesmo para os dois a definição para o sexo masculino. Mesmo assim, as
irmãos somente 50% das vezes, passou-se a verificar se crianças passam por grande sofrimento em vista de
essa proporção era mantida nesses irmãos estudados. serem proibidas de participarem de algumas atividades
Constatou-se que isso era verdade para a maior parte próprias do sexo masculino.
dos segmentos de DNA, exceto para uma porção na Se dispusermos de métodos que avaliem a carac-
extremidade do cromossomo X que era muito mais terística cerebral de pacientes com anomalias da dife-
provável de ser a mesma em irmãos homossexuais. A renciação sexual teremos aí um elemento importante
implicação para isso era de que essa parte do DNA, para a atribuição do gênero e poderemos, talvez, evitar
localizada na porção terminal braço longo do cromos- que mudanças de sexo em idades posteriores ocorram,
somo X (Xq28), poderia codificar proteínas que de com grande dose de sofrimento para os pacientes e para
alguma forma fariam os encéfalos mais propensos a seus familiares. Em um estudo de 27 crianças com
“funcionar” de uma forma homossexual (30). HCSR comparadas a 47 controles pareados por sexo e
Muitas questões têm sido levantadas com idade, foram avaliados por ressonância nuclear mag-
relação a crianças com anomalias da diferenciação se- nética os volumes do cérebro, ventrículos, lobo tempo-
xual, que nascem com graus variados de ambigüidade ral, hipocampo e amígdala, demonstrando-se redução
genital. Esses casos têm sido encarados como ver- no tamanho da amígdala, estrutura com grande impli-
dadeiras “emergências médicas” e procura-se chegar a cação funcional que merece exploração posterior (31).
um diagnóstico etiológico precocemente, para que se Este “mapeamento cerebral” em busca da característica
possa atribuir um sexo de criação a estas crianças. Se sexual presente num determinado indivíduo merece ser
em algumas situações as opções são claras, como por perseguido e novos métodos de imagem devem ser
exemplo, nas meninas virilizadas por hiperplasia con- desenvolvidos para tentarmos a caracterização do
gênita de supra renais, onde a opção é pelo sexo femi- padrão anatômico e funcional do cérebro como
nino (são crianças com cariótipo 46,XX, estruturas definidor do sexo de criação do indivíduo.
internas e gônadas femininas, com potencial de fertili-
dade), em outras situações temos grandes dúvidas
quanto à atribuição do gênero. É o caso, por exem- CON CLU SÕES
plo, das insensibilidades androgênicas onde tenha ocor-
rido um pequeno grau de virilização da genitália exter- Um longo caminho está por ser percorrido para que se
na, denotando uma grande resistência do receptor desvendem os mistérios da caracterização sexual do
androgênico. Nesses casos, questiona-se se o uso de cérebro humano. O conhecimento de estruturas
testosterona exógena será capaz de vencer o bloqueio específicas de cada sexo tem mostrado, ao menos em

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Sexo Cerebral
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animais de experimentação, que o dimorfismo sexual tiation. E n d oc r i n o l ogy 2 00 4;145:1057-62.


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