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Recentemente, as vendas do livro A Cabana aproximaram-se de [sete] milhões de cópias.

Já se fala em transformar o livro em filme. Mas, enquanto o romance quebra os recordes


de vendas, ele também rompe a compreensão tradicional de Deus e da teologia cristã. E é
aí que está o tropeço. Será que um trabalho de ficção cristã precisa ser doutrinariamente
correto?

Quem é o autor? William P. Young [Paul], um homem que conheço há mais de uma década.
Cerca de quatro anos atrás, Paul abraçou o “Universalismo Cristão” e vem defendendo essa
visão em várias ocasiões. Embora freqüentemente rejeite o “universalismo geral”, a idéia de
que muitos caminhos levam a Deus, ele tem afirmado sua esperança de que todos serão
reconciliados com Deus, seja deste lado da morte, ou após a morte. O Universalismo Cristão
(também conhecido como a Reconciliação Universal) afirma que o amor é o atributo supremo
de Deus, que supera todos os outros. Seu amor vai além da sepultura para salvar todos
aqueles que recusaram a Cristo durante o tempo em que viveram. Conforme
essa idéia, mesmo os anjos caídos, e o próprio Diabo, um dia se arrependerão,
serão libertos do inferno e entrarão no céu. Não pode ser deixado no universo
nenhum ser a quem o amor de Deus não venha a conquistar; daí as palavras:
reconciliação universal.

Muitos têm apontado erros teológicos que acharam no livro. Eles encontram
falhas na visão de Young sobre a revelação e sobre a Bíblia, sua apresentação
de Deus, do Espírito Santo, da morte de Jesus e do significado da
reconciliação, além da subversão de instituições que Deus ordenou, tais como
o governo e a igreja local. Mas a linha comum que amarra todos esses erros é
o Universalismo Cristão. Um estudo sobre a história da Reconciliação
Universal, que remonta ao século III, mostra que todos esses desvios
doutrinários, inclusive a oposição à igreja local, são características do William P.
Universalismo. Nos tempos modernos, ele tem enfraquecido a fé evangélica na Young, autor
Europa e na América. Juntou-se ao Unitarianismo para formarem a Igreja de A
Unitariana-Universalista. Cabana.

Ao comparar os credos do Universalismo com uma leitura cuidadosa de A


Cabana, descobre-se quão profundamente ele está entranhado nesse livro.
Eis aqui algumas evidências resumidas:
1) O credo universalista de 1899 afirmava que “existe um Deus cuja natureza é o amor”.
Young diz que Deus “não pode agir independentemente do amor” (p. 102),[1] e que Deus
tem sempre o propósito de expressar Seu amor em tudo o que faz (p. 191).

2) Não existe punição eterna para o pecado. O credo de 1899 novamente afirma que Deus
“finalmente restaurará toda a família humana à santidade e à alegria”. Semelhantemente,
Young nega que “Papai” (nome dado pelo personagem a Deus, o Pai) “derrama ira e lança
as pessoas” no inferno. Deus não pune por causa do pecado; é a alegria dEle “curar o
pecado” (p. 120). Papai “redime” o julgamento final (p. 127). Deus não “condenará a maioria
a uma eternidade de tormento, distante de Sua presença e separada de Seu amor” (p. 162).

3) Há uma representação incompleta da enormidade do pecado e do mal.


Satanás, como o grande enganador e instigador da tentação ao pecado,
deixa de ser mencionado na discussão de Young sobre a queda (pp. 134-
37).

4) Existe uma subjugação da justiça de Deus a seu amor – um princípio central


ao Universalismo. O credo de 1878 afirma que o atributo da justiça de Deus
“nasce do amor e é limitado pelo amor”. Young afirma que Deus escolheu “o
caminho da cruz onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do
amor”, e que esta maneira é melhor do que se Deus tivesse que exercer justiça
(pp. 164-65).

5) Existe um erro grave na maneira como Young retrata a Trindade. Ele


afirma que toda a Trindade encarnou como o Filho de Deus, e que a Trindade
toda foi crucificada (p. 99). Ambos, Jesus e Papai (Deus) levam as marcas da
crucificação em suas mãos (contrariamente a Isaías 53.4-10). O erro de
Young leva ao modalismo, ou seja, que Deus é único e às vezes assume as
diferentes modalidades de Pai, Filho e Espírito Santo, uma heresia
condenada pela igreja primitiva. Young também faz de Deus uma deusa; Será que um
além disso, ele quebra o Segundo Mandamento ao dar a Deus, o Pai, a trabalho de
imagem de uma pessoa. ficção cristã
precisa ser
6) A reconciliação é efetiva para todos sem necessidade de exercerem a fé. doutrinariam
Papai afirma que ele está reconciliado com o mundo todo, não apenas com ente
aqueles que crêem (p. 192). Os credos do Universalismo, tanto o de 1878 correto?
quanto o de 1899, nunca mencionaram a fé.

7) Não existe um julgamento futuro. Deus nunca imporá Sua vontade sobre as
pessoas, mesmo em Sua capacidade de julgar, pois isso seria contrário ao amor (p. 145).
Deus se submete aos humanos e os humanos se submetem a Deus em um “círculo de
relacionamentos”.

8) Todos são igualmente filhos de Deus e igualmente amados por ele (pp. 155-56). Numa
futura revolução de “amor e bondade”, todas as pessoas, por causa do amor, confessarão
a Jesus como Senhor (p. 248).

9) A instituição da Igreja é rejeitada como sendo diabólica. Jesus afirma que Ele “nunca
criou e nunca criará” instituições (p. 178). As igrejas evangélicas são um obstáculo ao
universalismo.
10) Finalmente, a Bíblia não é levada em consideração nesse romance. É um livro sobre
culpa e não sobre esperança, encorajamento e revelação.

Logo no início desta resenha, fiz uma pergunta: “Será que um trabalho de ficção precisa ser
doutrinariamente correto?” Neste caso a resposta é sim, pois Young é deliberadamente
teológico. A ficção serve à teologia, e não vice-versa. Outra pergunta é: “Os pontos positivos
do romance não superam os pontos negativos?” Novamente, se alguém usar a impureza
doutrinária para ensinar como ser restaurado a Deus, o resultado final é que a pessoa não é
restaurada da maneira bíblica ao Deus da Bíblia. Finalmente, pode-se perguntar: “Esse livro
não poderia lançar os fundamentos para a busca de um relacionamento crescente com Deus
com base na Bíblia?” Certamente, isso é possível. Mas, tendo em vista os erros, o potencial
para o descaminho é tão grande quanto o potencial para o crescimento. Young não apresenta
nenhuma orientação com relação ao crescimento espiritual. Ele não leva em consideração
nem a Bíblia, nem a igreja institucional com suas ordenanças. Se alguém encontrar um
relacionamento mais profundo com Deus que reflita a fidelidade bíblica, será a despeito de A
Cabana e não por causa dela. (extraído de uma resenha de James B. De Young, Western
Theological Seminary - The Berean Call - http://www.chamada.com.br)

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