Para os efeitos da análise do desvio de conduta dos profissionais de
saúde, não é levado em consideração se o mal foi praticado por erro ou por ignorância. Tanto incide em responsabilidade no mau exercício da profissão, que causa dano ao paciente por erro, quanto o profissional que compromete a vida ou a saúde do paciente por ignorância (TARTUCI, 2014). Se em sua atividade profissional, o mesmo acarreta a morte do paciente ou o comprometimento de sua integridade física ou de sua saúde, por conduta culposa, este deve responder pelo seu ato. Podendo este ato ser classificado de três formas distintas: A imprudência consiste na precipitação, no agir sem cautela, no desprezo dos cuidados que devemos ter em nossos atos. O profissional que realiza técnicas em condições adversas de assepsia, conhecendo essa deficiência, é um imprudente; o clínico que prescreve um medicamento de graves efeitos colaterais, sem os levar em consideração, age com imprudência (BARROS, 2007; BITTAR, 2004). A negligência é a omissão daquilo que razoavelmente se faz; é a falta de observância de deveres exigidos pelas circunstâncias. O ortopedista que, por pressa avalia mal uma radiografia, e não detecta uma fratura que pode ter consequências danosas no ato cirúrgico, age com negligência. É um atuar negativo, um não-fazer (SZLEJF et al., 2008). A imperícia é a falta de aptidão, teórica ou técnica, no desempenho da profissão. Tanto é imperito um cirurgião que, inadvertidamente, secciona, sem necessidade, uma determinada estrutura, quanto um nutricionista que sem cautela devida prescreve um regime dietético sem a devida avaliação do paciente e o devido cuidado (BARROS, 2007; BITTAR, 2004).
Iatrogenia e Responsabilidade Legal
O erro, seja qual for, consiste num agir ou num não-agir. Tanto erra o
que faz o que não deve quanto o que não faz o que deve. Violando o dever de conduta recomendado pelos códigos de éticas de cada profissional de saúde, agir ou não-agir, por imprudência, negligência ou imperícia, de forma a causar dano ao paciente, em suas várias formas, é caracterizada como uma má prática: é o ato ilícito, que pode determinar sua responsabilidade legal (BARROS, 2007; BITTAR, 2004). A responsabilidade legal do profissional da saúde, pela má prática, espraia-se por três ramos do Direito: Direito Penal, Direito Civil e Direito Administrativo. (KFOURI, 2013). A responsabilidade é penal quando o dano, pela gravidade, causa turbação da ordem social. É a comoção da comunidade, que ultrapassa o âmbito do paciente e de sua família. A sanção é uma pena, que pode ser corporal ou pecuniária, e só recai sobre o autor da má prática (KFOURI, 2013; REIS, 2013). Na responsabilidade civil, o dano tem repercussões mais restritas: alcança o paciente e sua família, sem outros extravasamentos. A sanção tem natureza exclusivamente patrimonial e alcança o profissional responsável e seus sucessores (KFOURI, 2013). Na responsabilidade administrativa, o dano repercute na reputação da profissão médica e da instituição que a representa. Os aspectos correcionais ou corretivos estão a cargo dos Conselhos federal e estaduais respectivos ao profissional; os aspectos funcionais, derivados da má conduta do servidor público, competem à Administração Pública, em seus vários níveis (União, Estados e Municípios). As sanções são correcionais ou administrativas, numa escala que vai da simples censura ou advertência reservada até a demissão a bem do serviço público e à proibição do exercício da profissão (REIS, 2013).
Iatrogenia em pacientes idosos
O grande aumento da população de idosos faz com que os tratamentos
adquiram mais complexidade, devido à grande demanda de intervenções e doenças de longa duração, torna-se necessário um cuidado mais atento e amplo (TARTUCI, 2014). A vulnerabilidade do paciente idoso para ações iatrogenicas é maior, porém os mesmos são tratados frequentemente como qualquer outro paciente adulto, sem levar em consideração a singularidade do individuo e o processo de senescência e de senilidade (SZLEJF et al., 2008). Sendo assim, a iatrogenia tem maior relevância quando trata-se de idosos, com os quais há maior evidência e o grau de sequelas é maior. Tendo em vista que o tratamento com o idoso é de forma multidisciplinar, as iatrogenias tornam-se mais amplas devido não só à conduta médica e sim, de toda uma equipe. Porém em alguns serviços há, ainda, falta de registros dos atos cometidos, são poucos os que apresentam protocolos e documentações a respeito das condutas adotadas (VERAS, 2003). Deve-se considerar que o compromisso ao atendimento ao idoso apresenta um caráter multidisciplinar onde a equipe de saúde oferece uma assistência integral ao paciente, em seu contexto e complexidade, tratando-o de forma humana. Portanto, percebe-se que a grande parte da mortalidade de idosos em hospitais está diretamente relacionada aos eventos iatrogênicos, tempo de internação, reação adversas a medicamentos, instabilidade postural, presença de delirium e principalmente pela não prevenção, tornando-os mais suscetíveis a morte (SZLEJF et al., 2008).
Importância da reciclagem profissional
Frente a essas situações, os aspectos relacionados à profilaxia das
iatrogenias carecem ser comentados. Todos os membro da equipe de saúde são responsáveis pela prevenção da iatrogenia. O tema necessita estar na pauta dos educadores, em todas as esferas de formação do profissional de saúde; seja em níveis técnicos, bacharelados, pós graduações ou cursos de reciclagem (TARTUCI, 2014). Adotando uma posição de humildade, os profissionais são mais capazes de possuir discernimento suficiente para questionar e trabalhar em equipe numa perspectiva integradora, compreendendo e respeitando o paciente como pessoa, identificando os reais fatores que o levaram a buscar os serviços médicos (TARTUCI, 2014). Quando partimos do pressuposto da formação primária do profissional de saúde; os professores de disciplinas bases, como Semiologia, Introdução à Prática profissional bioética e demais modalidades de cadeiras clínicas e cirúrgicas devem abordar a questão, contribuindo para que o futuro profissional possa, ainda em seus primeiros contatos com os pacientes, assimilar uma visão biopsicossocial destes, aprimorando-se dessa forma a relação estudante- paciente (VERAS, 2003)
VERAS,R. Em busca de uma assistência adequada à saúde do idoso:
revisão da literatura e aplicação de um instrumento de detecção precoce e de previsibilidade de agravos. Cad. Saúde Pública. 2003. 19 (3): 705- 715
SZLEJF C et al. Fatores relacionados com a ocorrência de iatrogenia em
idosos internados em enfermaria geriátrica: estudo prospectivo. Einstein, São Paulo, 2008. 6(3):337-42,
REIS, C. Os novos rumos da indenização do dano moral, p.
9 apud MELO, Domingos Nehemias.Responsabilidade Civil por Erro Médico. 2. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2013, p. 4.
KFOURI NM. Responsabilidade Civil do Médico. 8. Ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013, p. 57.
TARTUCI, F. Direito Civil. Direito das obrigações e responsabilidade
civil. 9. Ed. Rio de Janeiro: Forense. São Paulo: Editora Método, 2014. V. 2
BARROS J.E.A.. A Responsabilidade Civil do Médico: uma abordagem
constitucional. São Paulo: Atlas, 2007, p. 58.
BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 7. Ed. Rio de