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Inconveniências de Jesus

Por Liniker Xavier – jornalista e teólogo pentecostal

Certa vez um pastor norte-americano chamado Wilbur Rees escreveu que as pessoas
gostariam de comprar três dólares de Deus. "Eu gostaria de comprar três dólares de Deus",
disse. "Que não chegue a fazer explodir a minha alma, nem incomodar o meu sono, mas que
seja suficiente para garantir-me um copo de leite quente e uma soneca ao sol. Não quero uma
quantidade tão grande que me faça amar os diferentes de mim. Quero êxtase, não
transformação pessoal; quero o calor de um ventre materno, não um novo nascimento. Quero
um quilo da eternidade em um saquinho de papel. Por favor, três dólares de Deus". Me peguei
pensando em quanta verdade há nessa reflexão. Nos evangelhos, Jesus diz coisas muito
difíceis. Mas essa dificuldade não é de entendimento. Entendemos o que ele pede, o que ele
diz. Jesus é sempre claro ao falar porque dizia muito de forma simples. Difícil é aceitar o que
ele pede, fazer o que nos diz. Jesus diz que, quem quiser ir após ele, deve negar-se a si mesmo
e tomar a sua própria cruz todos os dias. Eu sei o que isso significa. Mas, definitivamente, eu
não quero carregar uma cruz diariamente e, muito menos, negar a mim mesmo. Ao orar o pai
nosso, outra vez Jesus nos compromete. “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos aqueles que nos têm ofendido”, ele ensina. Para ter as minhas ofensas perdoadas,
eu preciso perdoar a do outro. É uma vida em cadeia onde todos nós implicamos na vida uns
dos outros. Por isso, quando os discípulos procuraram Jesus e pediram que ele dispersasse a
multidão que o seguia para que as pessoas pudessem procurar o que comer, a recomendação
foi “dai-lhe vós de comer”. A solução estava na coletividade. Não é sobre mim apenas, mas
sobre nós todos. Na narrativa do Éden, Caim é cobrado por Deus sobre o irmão Abel com um
“onde está o teu irmão? que fizestes? O sangue dele clama a mim”. Nessa vida em cadeia onde
um depende do outro para que haja vida, Jesus pede que eu seja irmão do meu próximo. Mas
eu quero ser juiz. Nosso ímpeto é o de julgar, acusar, em que pese o fato de eu não gostar de
ser julgado por ninguém. Como é difícil colocar-se no lugar do outro! Não o fosse, Jesus não
teria alertado: “não julgueis para que não sejais julgados”. E há, ainda, o mais belo, duro e
difícil dos mandamentos de Jesus. Ele disse que estávamos acostumados a amar os nossos
amigos e odiar os nossos inimigos, mas que agora não deveria haver mais separação: ame o
seu próximo, seja ele amigo ou não. Ore por aqueles que vos maltratam e perseguem. As
verdades de Jesus são por vezes inconvenientes porque elas não representam
necessariamente os nossos próprios desejos. Não é, muitas vezes, aquilo que eu quero fazer.
Eu quero gritar, acusar, apontar. Especialmente em tempos de internet e redes sociais, a gente
quer deixar lá na postagem aquele comentário com uma carinha de raiva ao lado fazendo o
julgamento de alguém que sequer conhecemos. Mas ser seguidor de Jesus exige mais do que
ter o nome no rol de membros de uma igreja. Exige que eu seja igreja e que haja amor e
comprometimento com a vida do meu próximo. Seja meu amigo ou não. Ou é isso, ou teremos
um elefante branco na sala. E o elefante tem nome: Jesus. Estaremos comprando três dólares
de Deus.

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