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Na batida do Funk

Nos últimos meses o Funk, literalmente, dominou. "Tá tudo dominado" pela batida: a TV, o
Rádio, os jornais... A cada dia, surge um novo grupo, inspirado no sucesso repentino de Tigrão e
seu Bonde. Bonde que carrega a cultura de lixo, aquela onde reina o besteirol. Depois dos
Mamonas e suas letras assassinas, do pagode e seus melodramas de infidelidade conjugal, de
Carla Perez, Tiazinha e Feiticeira com seus apelos eróticos, é a vez da sexualidade explícita
através da música. Coreografias eróticas e vulgares são exibidas sem vergonha pelas "dançarinas"
dos grupos Funk. Tudo tão explícito, com letras tão grotescas, que já tem provocado desarmonia e
tristes melodias...

No Rio de Janeiro, berço da nova onda, os órgãos de Saúde e proteção ao menor estão em
alerta: mais bailes para funkeiros, mais adolescentes grávidas. Elas estariam mantendo relações
sexuais com vários parceiros por conta das "brincadeiras" ao ritmo funk. Com isso, aumenta
também o risco de transmissão do vírus HIV e outras doenças. Mas esse é só mais um problema
gerado nos salões onde já foi denunciada há muito tempo a violência entre gangs juvenis.

Funk Gospel

Enquanto explodem as canções que instigam a violência contra a mulher, chamada de


"cachorra", vista como objeto sexual ou simplesmente "popozuda" e pedindo para apanhar, já que
"um tapinha não dói", tem gente usando a mesma batida para chamar a atenção da juventude à
outras questões. Embora o Brasil esteja vivendo uma "febre funk", ele já existe há muito tempo.
Tanto que já tem até "funkeiro gospel", aquele que, em lugar de usar as letras para falar de sexo,
fala do amor de Deus.

O mais conhecido é o DJ Alpiste, que já foi rapper famoso nos bailes funk de São Paulo e há
quase 8 anos se converteu a Cristo. Com o mesmo visual street, ele agora usa a batida para
exaltar a Jesus.

No final do ano passado, em entrevista ao jornal carioca O Dia, DJ Alpiste contou que não só
canta, mas faz questão de contar seu testemunho durante os shows - ele é um ex-viciado em
cocaína. "Podem falar que não gostam da minha música ou minha roupa, mas meu testemunho, o
que Deus fez por mim, ninguém pode negar", declarou à reportagem. E diz que não se preocupa
com as críticas: "Não vou esperar a cabeça de ninguém mudar para fazer a obra que tenho que
fazer; com o Rock foi a mesma coisa e, hoje, todo mundo aceita".

Dançando para Jesus

Miriiã dançou. Davi dançou. Os salmos nos convidam a dançar... Se está na Bíblia, porque
então um cristão do século XXI não pode se entregar aos ritmos e dançar também? Com o avanço
tecnológico, a globalização e o crescimento das igrejas essa talvez seja uma das perguntas mais
perturbadoras e polêmicas no meio evangélico, principalmente entre os mais jovens. São inúmeras
e longas as discussões que envolvem cristianismo e ritmo. O próprio DJ Alpiste mostra que sabe
disso.

No caso do Funk Gospel, muitos pastores defendem a mesma tese que abriu espaço para
outros ritmos no meio cristão: é importante, mas para evangelizar. Outros, por sua vez, preferem
não abrir mão e são totalmente contra as batidas, mesmo que venham acompanhadas de letras
que falem de Deus.

Rick Warren, fundador e presidente da igreja de Saddleback, na Califórnia, uma das maiores
dos EUA, faz em seu livro "Uma Igreja com propósitos" uma abordagem sobre a música na Igreja e
diz que não existe "música cristã", e sim "letras cristãs". Em passagem pelo Rio de Janeiro, onde
foi o preletor de um seminário este mês, o pastor falou à revista Eclésia sobre o mesmo tema. E
reafirmou: "Não devemos sacralizar o que é apenas uma questão cultural. No contexto de ritmos,
não há sagrado ou profano." Warren diz isso porque é defensor de que a igreja não pode estar

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distante da sociedade e deve não se contaminar, mas transformar e influenciar. É o ser sal da
Terra e luz do mundo.

A cada cristão, portanto, cabe a tarefa de refletir e pedir orientação ao Espírito Santo antes
de criticar ou erguer a bandeira do ritmo. Deus usa o que Ele quer, da forma como quiser, mas é
preciso estar claro que a música na Igreja não é entretenimento, é adoração a Deus. Você pode
adorar a Deus na batida do Funk? Se pode, então o faça. Se não pode, cale-se. É melhor.

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