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Em pleno mês de Carnaval, um louvor foi a música mais ouvida do Brasil na


parada semanal do YouTube. O feito inédito foi alcançado no fim de fevereiro por
"Eu Sou teu Pai", de Valesca Mayssa.

O sucesso do gospel não é repentino. O mercado de hits religiosos é forte há


décadas no Brasil.

Mas o gênero explodiu com o crescimento da população evangélica e sua


influência na sociedade.

Hoje, artistas disputam o topo de rankings com Ana Castella e Ludmilla —


estrelas pop que também gravam e cantam louvores em shows.

Nosso país é o que mais consome playlists gospel no mundo, segundo o Spotify.
As buscas pelo termo dobraram desde 2022.
A máquina de hits já produziu superastros: Gabriela Rocha, Aline Barros, Isadora
Pompeo, Fernandinho e Fabiana Anastácio (morta pela covid em 2020) estão na
lista dos 10 cantores gospel mais populares da internet no mundo.

Cachês vultosos pagos por prefeituras e estratégias espertas de marketing dão


maior dimensão ao fenômeno milionário.

A nova era gospel invadiu a cena. E parece estar só começando.

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VOZES LAICAS
No CarnaUOL de 2024, diante de 28 mil foliões, Joelma parou seu tecnobrega
para pedir "mãos para cima" e cantar "tu és santo, ó Senhor, és digno de louvor!".

Ela costuma misturar gospel e secular: a maioria dos álbuns do seu antigo
grupo, a Banda Calypso, tinha ao menos uma canção religiosa.

Caetano Veloso, cujos filhos são evangélicos, lançou "Deus Cuida de Mim" com o
pastor Kleber Lucas, louvor vencedor do Prêmio Multishow de 2023.

Foi o primeiro ano em que o evento teve uma categoria de música cristã.

Ludmilla encaixou "Arde Outra Vez", de Thalles Roberto, em sua turnê de pagode
"Numanice", em 2023.

"Eu não quero mais viver longe da Tua presença, meu Senhor", cantou ela aos
pulos para 60 mil pessoas no Engenhão, no Rio.

E a católica Ana Castela, hoje a sertaneja mais ouvida do Brasil, lançou no Natal
o louvor "Agradeço".

"Minha família é religiosa, sempre mantive a minha fé em primeiro lugar", ela


explica ao UOL.

Christian Rizzi/UOL

JESUS É TOP
O gospel chegou pela primeira vez entre as cinco mais tocadas do YouTube
brasileiro no fim de 2023.

Desde então, "Bênçãos que Não Têm Fim", da gaúcha Isadora Pompeo, 24, e "Eu
Sou teu Pai", da paulista Valesca Mayssa, 22, frequentam a lista.

Em fevereiro de 2024, Valesca registrou um inédito nº 1 para o estilo.


O gospel é mais forte nas paradas do YouTube, que é gratuito, do que nos
serviços de música pagos.

Mesmo assim, "Bênçãos que não têm fim" chegou ao 5ª lugar na parada
brasileira diária do Spotify, posição máxima já alcançada por uma música cristã
no app.

A faixa de Isadora Pompeo foi o primeiro gospel a entrar no top 10 da Billboard


Brasil, que compila as audições dos principais aplicativos.

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Catwalk

COLDPLAY E A FÓRMULA DO
'WORSHIP'
"Comecei a receber um monte de mensagens de amigos: 'Olha a Joelma
cantando sua música'", lembra o produtor musical catarinense Hananiel
Eduardo, 35, autor de "Maranata", louvor que a paraense levou ao CarnaUOL.

 Falei: 'caramba, no meio do Carnaval. É nossa mensagem


cristã saindo da igreja e atingindo outras pessoas'.

Hananiel é referência no estilo "louvor e adoração" — o "worship". É um som


próximo ao pop rock, com coros e efeitos de guitarras e teclados que lembram o
rock de arena de U2 e Coldplay.

"As letras do 'worship' são uma conversa entre o cantor e Deus. Falam da fé
pessoal, das coisas boas após situações difíceis", diz Olívia Bandeira, autora do
livro "Música Gospel: Disputas e Negociações em Torno da Identidade
Evangélica no Brasil".

Foi com essa fórmula que Hananiel produziu o hit "Bênçãos que Não Têm Fim",
de Isadora Pompeo, versão de "Counting my Blessings", do americano Seph
Schlueter.

A faixa tem 75 milhões de views no YouTube — 15 vezes mais que a original em


inglês.

"'Bênçãos que Não Têm Fim' é um respiro em um monte de coisa terrível,


palavrão, promiscuidade. De repente, tem alguém falando o que realmente
importa", opina Hananiel.

Andre Porto/UOL
NEYMAR COMO SEGUIDOR
Isadora Pompeo começou aos 15 anos como youtuber, fazendo covers na
internet. Aos 17, lançou o sucesso "Oi, Jesus".

Na época, namorava o jogador Thiago Maia (ex-Flamengo, hoje no Inter) e tinha


como seguidor um amigo dele, Neymar — até hoje um dos seus 7,8 milhões de
seguidores no Instagram.

Os números impressionantes devem crescer mais. Após o hit de 2023, a Sony


Music Gospel — braço da gravadora multinacional — gravou um DVD ao vivo de
Isadora em Belém, num show para 10 mil pessoas.

"Deus já tinha sonhos para mim. Aí lancei esse canal no YouTube e, se não desse
certo, sei que Ele faria de outra forma", diz a cantora à reportagem.

O sucesso é tratado por ela como missão: "O Evangelho é muito mais forte do
que as quatro paredes de uma igreja. Quanto mais espaço a música gospel tiver,
mais vidas curadas teremos".

Gabriel Haesbaert/iShoot/Folhapress

'SOPRO DO ALGORITMO'
Outra abençoada nas paradas gospel é Kailane Frauches, 20, que começou a
cantar ainda criança em Xerém, distrito de Duque de Caxias (RJ), onde vive
Zeca Pagodinho.
A mãe, empregada doméstica, e o pai, mecânico de bicicletas, não tinham
condições de investir na carreira, mas ajudavam como podiam.

Kailane começou a pedir para a mãe filmá-la com o celular durante a pandemia,
cantando covers para o Instagram.

"Acredito que Deus deu um sopro nesse algoritmo do Instagram, porque os


vídeos começaram a viralizar de uma forma que a gente não imaginava", conta
Kailane.

Kailane foi contratada pela Todah Music — gravadora gospel de São Paulo
destaque no YouTube com 3,2 bilhões de visualizações — e, em 2023, lançou o
sucesso "Passa lá em Casa, Jesus".

O louvor já foi entoado 58 milhões de vezes.

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Divulgacão/Todah Music
EXALTAÇÃO DIGITAL
O mercado cristão sofreu menos com a pirataria que derrubou a indústria nos
anos 2000, diz ao UOL Olívia Bandeira.

Muitos fãs de gospel continuaram comprando CDs religiosamente. O segmento


demorou assim a investir no streaming, que substituiu o consumo de álbuns
físicos.

O perfil de artistas também mudou: entraram jovens que rezam pela cartilha das
redes sociais e dependem menos da ligação com uma igreja específica.

"Muitos cantores eram influenciadores digitais antes de iniciarem no gospel", diz


a pesquisadora.

 Nosso público vem das classes C e D, tem uma vida difícil


e encontra força nas músicas, que ouve de maneira
fervorosa.

Giovani Mandelli, diretor de marketing da Todah

A produtora, uma fábrica de gospel digital, lança dois clipes por semana e tem
uma rede de canais de YouTube que publica 250 vídeos de covers por mês.

A empresa precisou alugar um segundo imóvel, ao lado da sede na Vila Romana,


zona oeste de São Paulo, para dar conta do crescimento. São 45 funcionários
fixos.

Foi de lá que saiu "Eu Sou teu Pai", de Valesca Mayssa.

"O desafio da Todah agora é crescer em outros apps", diz Giovani.


Divulgacão/Todah Music
DIVINA PROSPERIDADE
O UOL pesquisou os cachês dos artistas gospel mais tocados do Brasil, entre os
contratos publicados por prefeituras na internet para eventos entre 2023 e 2024.

Os valores já chegam perto de R$ 200 mil por show.

A AgroPlay, produtora sertaneja de Londrina (PR), que cuida da carreira de Ana


Castela, acaba de abrir um braço voltado à música evangélica, o AgroPraise —
trocadilho com o nome da empresa e "praise", palavra inglesa que pode ser
traduzida como "louvor agro".

"Por que não aplicar as técnicas do sertanejo para alavancar o gospel ainda
mais? Levar os artistas para as grandes feiras agropecuárias", profetiza o
paranaense Everton Albertoni, 33, presidente da gravadora londrinense.

"Agradeço", de Ana Castela, foi a primeira tentativa. Luan Pereira, segundo maior
artista deles, também vai gravar louvor. "O futuro do gospel no Brasil só
começou, tem muita gente para entrar", diz Albertoni.
DO FUNK AO GOSPEL
Marcelo Portuga já foi o maior agente de funkeiros do país, de nomes como
Kevinho, Kekel e Jottapê. Converteu-se na vida e na música.

Seu foco agora é o trap gospel, versão religiosa do subgênero pesado do rap
norte-americano.

"Fui me incomodando com as músicas a ponto de não conseguir postar. Me


incomodavam letras e apologias", explica Portuga, que já liderou a agenda de
artistas das duas maiores produtoras de funk de São Paulo, a GR6 e a Kondzilla.

Portuga agora bota fé em sua nova produtora, a Novidade Urbana. Da antiga


vivência no funk ele manteve a estratégia de buscar talentos na periferia.

 Cheguei a ter 10% das músicas no Top 200 do Spotify.


Sinto que, nesses dez anos de funk, Deus me preparou.
Eu estava 'estagiando' para trazer essa bagagem para
Jesus.
Lucas Lima/UOL
PRAY IN RIO
Um dos artistas da Novidade Urbana é o MC Victin, 22, nascido em Teresópolis
(RJ). Ele é fã de trap, mas não das letras do estilo laico, sobre sexo, drogas e
violência.

Victin resolveu usar as mesmas bases para cantar sobre o Pai, o Filho e o
Espírito Santo.

"Em 2019 eu não tinha um real no bolso. Comecei a falar em forma de poesia no
Instagram. Um texto chamado 'Não Desista' viralizou. O Neymar e outros
postaram. Fui de 3.000 seguidores para 200 mil em um dia",diz Victin.

 Meu sonho é tocar no Rock in Rio. Por que não? Só


porque sou gospel? Vou levar para lá a mensagem de
Jesus. Canto para o infiel se converter.

MC Victin

Publicado em 25 de março de 2024.


Reportagem Rodrigo Ortega | Edição Olívia Fraga e Leonardo Rodrigues | Arte Carol Malavolta | Direção de Arte
René Cardillo e Gisele Pungan | Gerente Geral de Reportagens Especiais Diego Assis | Diretor de conteúdo UOL
Murilo Garavello
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