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VILSON JOSÉ KOTVISKI

PÊSSANKA
DA UCRÂNIA PARA O BRASIL
contexto histórico e manual ilustrado da arte

VERSÃO DIGITAL - E-BOOK 2020


UNIÃO DA VITÓRIA-PR
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha esposa Oksana, meus filhos Miguel


e Helena, aos meus pais José e Cecília, ao Daniel pelo apoio e
credibilidade, à Prof. Fahena, Pe. Jaroslau Susla (in memorian), ao
compadre Pe. Jorge e ao João Marcos.
Kotviski - Nov/2013.

“Estudem irmãos meus!


Pensem, Leiam!
Aprendam o alheio,
Mas não reneguem o que é seu,
Pois quem da mãe esquece,
Por Deus é castigado,
Por estranhos é renegado,
Em seus lares não é convidado”
Taras Schevschenko – poeta maior da Ucrânia
APRESENTAÇÃO
Presentes no solo brasileiro há mais de um século, os ucranianos
que em grandes levas imigraram para cá, trouxeram poucas coisas
materiais na bagagem, mas no coração e na mente grandes tesouros
culturais e religiosos foram transportados para a nova pátria. Vivência
religiosa, fidelidade à pátria, companheirismo e amor aos costumes
étnicos são riquezas trazidas e que não se perderam, mas que foram
cultivadas e deixadas como herança para filhos, netos e bisnetos dos
primeiros imigrantes.
Esta herança cultural e religiosa é cada vez mais cultivada entre
os descendentes de ucranianos espalhados nas regiões sul e sudeste
brasileiro. A mística bizantina, as belezas do artesanato e do folclore
encantam as novas gerações e este encantamento é transmitido para
os outros povos que admiram como a chama da tradição se mantém
acesa por tanto tempo em terras distantes da pátria de origem.
Durante o período de domínio soviético, pouco contacto havia
entre os imigrantes e a Ucrânia. Mas as tradições se mantiveram vivas
nas comunidades formadas no Brasil. Construíram-se igrejas no estilo
ucraíno-bizantino, grupos folclóricos foram criados, escolas se
estruturaram, centros comunitários se organizaram, tudo em torno de
um único objetivo: viver os costumes e as tradições ucranianas na
nova terra.
Esta chama da tradição se manteve acesa e continuou a arder nos
corações dos descendentes de ucranianos porque pessoas entusiasmadas
se interessaram em cultivar, ensinar e divulgar a sua cultura. Se hoje os
ucranianos são cada vez mais conhecidos e admirados, é graças ao
trabalho de grandes líderes leigos e religiosos. Liderança essa despertada
no jovem Vilson Kotviski que nos presenteia com o livro “Pêssanka – da
Ucrânia para o Brasil”.
Além dos dados históricos sobre a Ucrânia e da arte da pêssanka,
o livro nos revela um Vilson pesquisador e artista. O amor que tem
pela cultura, desperta nele a vontade de conhecer cada vez mais
sobre os ucranianos e seus costumes. O conhecimento adquirido com
minuciosas pesquisas e o talento de “pintar” pêssankas que o torna
uma das maiores referências desta arte no Brasil, são as riquezas que
ele quer nos transmitir.
O cultivo de riquezas como estas que Vilson nos oferece em seu
livro é que mantiveram e manterão vivas as nossas tradições ucranianas
na diáspora.

Pe. Jorge Chainiuk


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................... 06

1. A UCRÂNIA ........................................................................ 07
1.1 BREVE HISTóRICO ........................................................ 08
1.2 GALÍCIA NA DÉCADA DE 1890 ..................................... 10
1.3 A IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL. .................................... 11
1.4 O AGRUPAMENTO E O TRANSPORTE
DE IMIGRANTES ................................................................. 12
1.5 IMIGRAÇÃO UCRANIANA NO PARANÁ ....................... 14
1.6 A CULTURA UCRANIANA ............................................. 16
1.6.1 A páscoa ucraniana .................................................... 18

2. A PÊSSANKA ....................................................................... 20
2.1 A PÊSSANKA NA UCRÂNIA ........................................... 22
2.2 A CULTURA TRYPILLIAN ............................................... 23
2.3 SIMBOLISMO DO OVO ................................................ 24
2.4 SIMBOLOGIA DAS PÊSSANKAS ..................................... 25
2.4.1 Símbolos solares ......................................................... 28
2.4.2 Linhas ......................................................................... 29
2.4.3 Variação de linhas ...................................................... 30
2.4.4 Cruz ........................................................................... 31
2.4.5 Igrejas ........................................................................ 32
2.4.6 Plantas ........................................................................ 33
2.4.7 Animais ...................................................................... 34
2.4.8 Cores ......................................................................... 36
2.5 PÊSSANKAS REGIONAIS UCRANIANAS ........................ 37
2.5.1 Lemkivchena .............................................................. 38
2.5.2 Polissia ........................................................................ 38
2.5.3 Hutsulchena ............................................................... 38
2.5.4 Haletchená ................................................................. 39
2.5.5 Poltavtchena ............................................................... 39
2.5.6 Kyiv ........................................................................... 39

3. PROCESSO PARA A CRIAÇÃO DE PÊSSANKAS .................. 40


3.1 MATERIAIS..................................................................... 40
3.2 PREPARO DAS TINTAS .................................................. 41
3.3 CONFECÇÃO DAS PÊSSANKAS ..................................... 42

4. PASSOS PARA A CRIAÇÃO DAS PÊSSANKAS ..................... 43


4.1 DESENVOLVIMENTO DA PÊSSANKA ............................ 47
4.1 OBSERVAÇÕES .............................................................. 68

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 70

REFERÊNCIAS .......................................................................... 71
INTRODUÇÃO
A Pêssanka é uma das mais antigas formas de arte do povo
ucraniano, inclusive considerada como verdadeiro fenômeno da
cultura ucraniana. Foi iniciada pelos ancestrais da cultura Trypillian,
tendo continuidade na era pré-cristã, em que prevaleciam os cultos
ao deus do Sol - “Dajbóh”, e prosseguiu com a implantação do
cristianismo, para chegar até os nossos dias.
Neste trabalho procuramos desenvolver um pequeno estudo
sobre elas, e para tanto, dividimo-lo em três etapas.
A primeira parte fala da Ucrânia, país de onde se origina a
pêssanka, a imigração para o Brasil e outros aspectos culturais. Dessa
forma o leitor terá uma boa noção da profundidade da relação desta
arte com o povo ucraniano e seus descendentes em outros países.
Na sequencia daremos uma explanação sobre os conceitos
relativos à existência de tal forma de manifestação popular, falando
da cultura Trypillian, que deu inicio à essa arte na Ucrânia, e em
especial dos simbolismos que envolvem de magia a pêssanka, e
que acabam descrevendo muito da cultura desse povo. E para
concluir esta etapa, também teremos um caráter histórico-cultural
das pêssankas, por meio de caracterização de alguns exemplares
de regiões da Ucrânia, notando-se as suas características específicas.
Na terceira fase do estudo, daremos ao leitor um manual de
criação de pêssankas, que se restringe ao processo utilizado pelos
ucranianos da Diáspora no Brasil, com suas ferramentas e estilo,
podendo ser utilizando por qualquer pessoa, descendente de
ucraniano ou simpatizante da etnia, já que é todo ilustrado e contém
informações de fácil entendimento.
O objetivo deste trabalho é registrar um pouco da arte das
pêssankas no Brasil, dando oportunidade para aqueles que querem
aprender, sendo também uma forma de agradecimento ao povo
brasileiro pela acolhida aos nossos antepassados, que vieram para
este país, cheios de sonhos, que hoje se realizam, com uma
comunidade ucraniana que vive no Brasil, sem esquecer suas belas
raízes.
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1. A UCRÂNIA

A palavra Ucraína (pronúncia do nome Ucrânia na língua do


país) tem sua origem histórica. O vocabulo Ucraína é formado de
dois elementos eslavos: U – junto de, e KRAI – extremidade,
fronteira. Sendo assim, o sentido do nome do país relativo à Região
ou Estado Político situado numa extremidade (extremo oriente
europeu) ou numa zona fronteiriça. A Ucrânia, no período do século
XII, limitava-se com os territórios dos tártaros, mongóis e moscovitas,
campos de lutas contínuas entre poloneses, russos, tártaros e turcos
(HANEIKO, 1985).
A mais antiga denominação da atual Ucrânia foi a de Rush e de
seus habitantes, de ruthenos. O nome atual surgiu muito mais tarde,
quando, no século XII, os Príncipes de um pequeno principado,
chamado de Moscóvia, constituído de algumas tribos eslavas,
húngaro-finesas e siberianas, adotaram o título de “Grão-Duque da
Rússia”, fato que provocou o ataque do Príncipe de Moscóvia,
Boholiúbskyi, em 1169, contra o Estado de Kyiv, declarando que ia
contra a “Rush”, reconhecendo, assim, claramente, que o seu
território da Moscóvia não era a “Rush” (Ucrânia).
Mas foi somente durante o reinado de Pedro I (1672-1725),
então tzar (czar) do “Principado de Moscóvia”, que o nome “Rússia”
substituiu definitivamente a primeira denominação de Moscóvia
ou Estado de Moscou.
Segundo Haneiko (1985), o povo ucraniano lutou muito pela
conservação do seu verdadeiro nome, ligado a tradições milenares
do seu genuíno berço natal, mas, observando que Moscou criara
propositadamente uma ardilosa confusão de nomes, renunciou ao
seu nome histórico de Rush, adotando o de Ucrânia, para sublinhar
as fronteiras da sua pátria, já em uso no século XII, como “Ucrânia-
Rush”.
Convêm esclarecer que havia outros nomes para designar a
Ucrânia, como “Pequena Rússia”, “Ruthênia”, nomes todos
inventados pelos colonizadores estrangeiros, ocasião em que era
proibido por lei o idioma ucraniano, principalmente da parte dos
polacos.

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1.1 BREVE HISTóRICO

Segundo Szewciw (1988), estendendo-se dos Montes Cárpatos,


no oeste, ao longo da margem superior do Mar Negro, até o sapé
dos Montes Cáucasos, fazendo fronteira com o Oriente Médio,
encontra-se a Ucrânia, um dos maiores e mais ricos países da Europa,
em recursos naturais.
Nessa terra fértil, por muitos séculos circularam conquistadores
e mercadores, que se deslocavam do Mar Báltico ao Mar Negro e
da Europa Ocidental até a Ásia. A Ucrânia emergiu no cenário da
história do século IX, com o nome de Estado (ou Principado) de
Kyiv.
Esse principado reuniu as primitivas tribos circunstantes, que
levou a efeito vitoriosas campanhas nas margens opostas do Mar
Negro, em Constantinopla, na Bulgária, nas regiões do Cáucaso e
em terras do outro lado do Mar Cáspio, fundando uma confederação
que adquiriu grande respeito no mundo europeu, durante a Idade
Média.
O crescimento cultural e econômico da Ucrânia recebeu um
grande impulso, com o advento do cristianismo como religião oficial,
pelo grande príncipe Volodymyr, no ano de 988. Kyiv, a capital da
Ucrânia, tornou-se, então um próspero centro cultural e comercial
da Europa Oriental. Combinando antigos padrões culturais bizantinos,
com elementos locais, os artistas e arquitetos kyivenses criaram uma
arte nacional, altamente original, marcada pelo esplendor e
variedade de formas.
Enquanto se sujeitava a várias mudanças de fronteiras e controle
dinástico, o Estado de Kyiv sofria contínuas molestações por parte
de ferozes hordas vindas do norte e do leste. A impiedosa e
devastadora invasão dos mongóis, no século XIII, paralisou, em grande
escala, o desenvolvimento da vida cultural do Estado de Kyiv e da
própria Europa Oriental.

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Após o declínio de Kyiv, o fio condutor da tradição histórica da
etnia ucraniana é reassumido pela Ucrânia Ocidental, que passou a
ser um importante centro político e cultural, sendo Lviv, a nova
capital.
No entanto, nos meados do Século XIV, o poder desse Estado
entrou em decadência e o território da Ucrânia Ocidental caiu sob
o controle da Polônia e Lituânia.
Um vigoroso crescimento da Ucrânia ocorre no final do Século
XVI, com o surgimento da ordem militar dos cossacos. Vistos como
defensores da liberdade e da justiça, os cossacos de Zaporija
conseguiram manter uma turbulenta independência em meio das
concorrentes ambições dos poloneses, russos, turcos e tártaros.
Com a restauração da totalidade da antiga Ucrânia, por meio
dos cossacos, surgiu um significativo renascimento cultural, com a
religião, música, artes gráficas e outras manifestações, atingindo o
mais alto nível do desenvolvimento. Kyiv tornou-se novamente o
centro da vida cultural e política, e a Academia Kyivense, o centro
dominante de educação na Europa Oriental.
No Século XVIII, o Estado de Moscou crescia e tornava-se uma
ameaça à independência ucraniana, e mesmo uma série de tratados
realizados pela Ucrânia não conseguiu deter o avanço dos russos.
Com a queda da última fortaleza dos cossacos, em 1775, seguiu-
se um período de opressão nacional e social, que visava à erradicação
de tudo que fosse caracterizado como ucraniano. Como que por
ironia, essa tentativa de extinguir os últimos raios de liberdade na
Ucrânia coincidiu com o estabelecimento da liberdade, nos Estados
Unidos da América, e com a Revolução Francesa, na Europa
ocidental.
A desintegração tanto da Rússia quanto do Império Austro-
Húngaro, durante a Primeira Guerra Mundial , fez surgir a aspiração
dos ucranianos por sua autodeterminação, e proporcionou essa
situação, em 1918. Mas, infelizmente, a República Nacional da
Ucrânia, como Estado soberano, durou somente três anos, vindo a
cair novamente, com o surgimento de uma nova potência: a Rússia
comunista.
O regime soviético russo trouxe o terror para o povo ucraniano,
atingindo o seu cume nos anos de 1932 e 1933, com a coletivização

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compulsória das propriedades agrícolas. Esse processo confiscou os
alimentos produzidos pelos camponeses ucranianos, fazendo com
que mais de 7 milhões de pessoas morressem vítimas da fome,
artificialmente introduzida, para quebrar a resistência do povo
ucraniano (Stevart, 1983).
No dia 24 de agosto de 1991, a Ucrânia declara independência,
aproveitando o momento de instabilidade do regime soviético,
sendo hoje um Estado soberano.
Os períodos de domínio deixaram profundas marcas neste país,
que hoje passa por dificuldades econômicas e sociais, procurando
se estabilizar no novo cenário mundial (Tsvietkov, 1994).

1.2 GALÍCIA NA DÉCADA DE 1890

A Galícia (ou Haletchená, para os ucranianos) foi um dos maiores


centros culturais do século XIII, sendo a sede do governo da Ucrânia
depois da queda de Kyiv. Sua capital era a cidade de Lviv, hoje uma
das maiores cidades ucranianas.
Conforme artigos e notas elucidativas do Prof. Nikolas Hec,
contido no livro de poesias de Ivan Franco, “Para o Brasil”, editado
e traduzido pela Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana em
1981, a Haletchená, como província autônoma de 1772 a 1918,
abrangia uma área de 55.337 km², em que 3/5 da área eram
utilizados na agricultura e pastagens e o restante eram florestas.
Em 1890, a população atingia a 4,3 milhões de habitantes, dos
quais 65% eram ucranianos, 15% poloneses, 12% judeus, 7% austro-
alemães e 1% outros povos. O Brasil contava, naquela época, com
14,5 milhões de habitantes e o estado do Paraná com apenas 250
mil.
De toda a Europa, a Haletchená era a região agrícola mais
densamente povoada. Em cada 100 hectares de terra explorável na
agricultura, viviam mais de 100 agricultores (na Alemanha 51 e na
Holanda 70). Essa superpopulação atingia principalmente os
ucranianos, pois 92% deles se dedicavam exclusivamente ao cultivo
da terra. Em melhores situações encontravam-se as minorias
nacionais, pois na agricultura viviam: 45% dos poloneses e 7% dos

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alemães. Os judeus mantinham em suas mãos quase todo o comércio
e parte da indústria. Além disso, havia uma grande desproporção
étnico-social quanto à ocupação das terras. A maioria ucraniana
detinha apenas 48% de todo o território. Mais de 30% de todas as
terras pertenciam a aproximadamente 2 mil famílias de latifundiários
da nobreza polonesa. As restantes 22% cabiam à população agrícola
polonesa, às colônias alemães e a proprietários urbanos (poloneses
e judeus).
Em média, uma família ucraniana de agricultores vivia de 2,6
hectares de terra, e o governo austríaco não tomava nenhuma
providência para alterar ou melhorar o quadro econômico, nem
mesmo favorecer a industrialização do país, a fim de desviar parte
da população agrícola para as fabricas, construções, etc.
E devido ao quadro econômico-social de uma região pobre e
carente de terras, iniciou-se um processo de emigração do povo,
partindo, primeiramente, para os Estados Unidos e, a partir de 1891,
para o Canadá e Brasil.

1.3 A IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL

Em 1890, o governo brasileiro iniciou uma grande ação


imigratória, cobrindo as custas das passagens e alimentação dos
interessados, desde os portos europeus até as localidades de
colonização. A arregimentação de imigrantes confiou às companhias
de navegação marítima o transporte dos imigrantes, pagando um
preço elevado na época, por cada pessoa que desembarcasse no
Rio de Janeiro.
E em 1891, cerca de 30 famílias ucranianas deixaram a Galícia
e se dirigiam ao Brasil, estabelecendo-se no Paraná.
Num afã de lucro fácil e elevado, as companhias de transporte
marítimo desenvolveram uma intensa propaganda imigratória na
imprensa, em folhetos e por intermédio de seus agentes espalhados
pela Europa. Os agentes, valendo-se da total ignorância do povo a
respeito do Brasil, pintavam-no como “o verdadeiro paraíso na terra”,
e aos desejosos de deixar a Europa, faziam as mais incríveis e
absurdas promessas.

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Dentre tais agentes, ficou particularmente “famoso” o italiano
Gergoletto. Em 1893, o mesmo apareceu na Galícia, visitando
centenas das mais pobres aldeias ucranianas, e apresentando-se
como herdeiro do trono Austríaco. Como impostor, Gergoletto
promoveu a propaganda de imigração para o Brasil, não se limitando
apenas à motivação de ordem econômica. Aliou-os a certos
momentos de caráter político-social, pois além das promessas de
campos férteis e florestas em quantidade ilimitada, casas, gado,
cavalos, sem nada ter que pagar, esse agente inescrupuloso prometia
fundar no Brasil o “Reino Rutheno”, livre da nobreza polonesa e
dos judeus.
E devido a toda propaganda, influenciando o povo, iniciou-se
a partir de janeiro de 1895, não uma imigração , mas uma verdadeira
debandada de camponeses ucranianos da Galícia para o Brasil.
No decorrer de dois anos (época em que o governo brasileiro
cobria as custas de passagens), abandonaram a sua terra natal mais
de 5 mil famílias de ucranianos e, com a renovação do transporte
gratuito, em 1907, emigraram até a Primeira Guerra Mundial outras
5 mil famílias, que, na maioria (90%), fixaram-se no Paraná.
Quanto às minorias étnicas da Galícia, estas imigraram
relativamente menos, já que se encontravam em situação econômica
melhor.

1.4 O AGRUPAMENTO E O TRANSPORTE DE IMIGRANTES

A partir de 1895, o recrutamento de imigrantes para o Brasil


era realizado de forma particular, para evitar as possíveis barreiras
por parte dos poderosos latifundiários que, com a emigração, ficariam
privados da mão-de-obra barata de que dispunham. Desse processo
ocupavam-se também os comerciantes da aldeia, em parceria com
algum agente ou subagente.
De cada candidato à emigração usurpavam eles taxas as mais
diversas e desiguais, como: taxa de inscrição, despesas de
correspondência, comissões próprias e dos agentes e, muitas vezes,
até propinas para aliciar latifundiários ou subornar funcionários do
governo.

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Esses comerciantes-intermediários compravam, pela metade
do preço, e revendiam com enormes lucros as casas e pequenas
propriedades rurais dos candidatos à imigração. Estes, a par dessas
práticas, sem controle qualquer, eram expostos a grandes despesas
e prejuízos e, além disso, levados a pagar antecipadamente os
bilhetes de viagem, por ferrovia até os portos da Itália ou Alemanha.
O ponto de confluência para embarque de imigrantes ficava
em Lviv, capital da Galícia, onde as autoridades policiais procediam
o controle dos passaportes e registros, além da prevista provisão
monetária por família, no valor de 600 coroas. Muitas vezes, a família
não dispunha da importância e, na hora da fiscalização, uns pediam
emprestado dinheiro dos outros.
Normalmente todos os emigrantes se registravam em listas dos
que se destinavam ao povoamento do Paraná, já que tinham notícias
das primeiras 30 famílias que se fixaram em 1891, de que o governo
oferecia maiores garantias para a aquisição de terras e o clima se
assemelhava ao europeu.
Essa vontade geral de se dirigir ao Paraná era motivo de
verdadeiros motins e lamentáveis incidentes na própria Itália, quando
os agentes se empenhavam em dirigir os emigrantes para outros
estados, como o Espírito Santo e Minas Gerais.
O roteiro da saída da Galícia era normalmente de Lviv, até os
portos da Itália, onde já havia o consulado brasileiro, que ajustava as
últimas formalidades e distribuía gratuitamente as passagens por via
marítima.
Uma viagem normal de Lviv a Gênova, durava, naqueles
tempos, de 3 a 4 dias, mais isso ocorria raramente com um
embarque numeroso, pois as autoridades militares austríacas detinham
de 3 ou até 4 vezes os comboios em busca de recrutas militares,
passageiros ilegais ou de diversos especuladores que imiscuíam-se
entre os emigrantes. Uma vistoria dessas durava, pelo menos, um
dia inteiro, o que gerava altos custos aos bolsos dos emigrantes (Prof.
Nikolas Hec, artigo contido no livro de poesias de Ivan Franco,
editado e traduzido pela Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana,
em 1891).

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1.5 IMIGRAÇÃO UCRANIANA NO PARANÁ

O Paraná foi o estado brasileiro que mais recebeu imigrantes


ucranianos. Cerca de 80% de todos os imigrantes escolheram o
Paraná como segunda Pátria. Um dos subúrbios de Curitiba, tinha
até pouco tempo a denominação de Campo da Galícia (atual bairro
Bigorrilho), nome dado em homenagem à região da Ucrânia da
qual veio a maioria dos imigrantes ucranianos para o Brasil.
Segundo dados coletados nos livros Uma Centelha de Luz, de
Valdemiro Haneiko (1985), Imigração Ucraniana no Paraná, de Paulo
Horbatiuk (1989), O Milênio do Cristianismo na Ucrânia de I.
Szewciw (1988) e A Imigração Ucraniana no Brasil, de Valdomiro
Burko (1963), em janeiro de 1891, seis famílias ucranianas se
estabeleceram em Papanduva, Santa Catarina, vindo depois para
Curitiba, na região metropolitana. Em maio do mesmo ano, chegou
outra família, estabelecendo-se no município de Mallet-PR. E, em
agosto, chegou um grupo mais numeroso (27 famílias), que se
estabeleceu em Santa Bárbara, município de Palmeira-PR.
Mas somente no ano de 1895 e no ano seguinte é que ocorreu
a expressiva imigração ucraniana, quando chegaram mais de 5.000
pessoas, estabelecendo-se na Colônia Marcelino, município de São
José dos Pinhais, Colônia Marco Cinco (município de General
Carneiro) e ainda em Mallet e Prudentópolis.
Em 1896, os imigrantes se fixaram em União da Vitória, Antonio
Olinto, Mallet e Dorizon, além daqueles que acabaram indo
principalmente para Itaiópolis, Santa Catarina. No ano de 1907,
chegaram outros grupos de imigrantes ucranianos, para as regiões
de Cruz Machado, Mallet e Dorizon.
No período entre as duas guerras mundiais, houve um declínio
da imigração ucraniana, mas, mesmo assim, mais de 7.000 ucranianos
se estabeleceram nas mesmas cidades dos primeiros imigrantes,
porém permanecendo em centros urbanos, ocupando-se no
comércio e nas indústrias, ao contrário dos imigrantes anteriores,
que se estabeleceram na zona rural.
Após a Segunda Guerra Mundial, a imigração ucraniana ganha
novo impulso, chegando até o ano de 1951, com média de 1.200
imigrantes por ano.

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Passando esse período, o governo brasileiro adota medidas
restritas quanto à entrada de imigrantes estrangeiros no país e um
período importante da História do Brasil e dos países que enviaram
imigrantes chega ao fim.
Logo na chegada dos primeiros imigrantes ucranianos, as
promessas de paraíso e riquezas abundantes foram instantaneamente
substituídas pela triste realidade e falta de apoio adequado. Ao
chegarem aos portos brasileiros, os imigrantes ucranianos
enfrentavam um período de cadastro e regularização de sua chegada.
Em Curitiba, ou quando desembarcavam no Porto de Paranaguá,
muitos imigrantes se queixavam de que as poucas economias que
traziam consigo eram gastas em hospedagem e alimentação nesse
período.
Após serem liberados, seguiam em tortuosa viagem pela Serra
do Mar, até as colônias a que seriam destinados. As viagens eram
feitas, na maioria dos casos, no lombo de cavalos, burros ou em
carroças rudimentares. Os poucos pertences trazidos eram roupas,
alguns utensílios e ferramentas.
Havia em toda parte, do governo brasileiro, uma certa
participação na instalação do imigrante, mas o notório “jeitinho
brasileiro”, de desviar e empregar mal os recursos públicos, mostrou-
se presente na imigração. Há vários relatos de casos de agentes de
imigração que não empregavam o dinheiro público corretamente.
Até as passagens de navio, prometidas pelo governo brasileiro eram
cobradas mediante trabalho, logo que aqui desembarcavam.
As dificuldades naturais de qualquer pessoa em se adaptar a
uma terra estranha, florestas virgens, clima, idioma, alimentação e
costumes muito diferentes dos seus, foram somados a outras
adversidades. A falta de estradas, sementes para o plantio, material
adequado para construir suas casas, enfim, todas as dificuldades que
possamos imaginar para construir um novo lar em um lugar tão
distante de sua Pátria, esses ucranianos enfrentaram.
Acostumados a provocações e lutas durante toda a história, os
ucranianos sobreviveram e se puseram de pé, enfrentando a fome
e a saudade da terra natal, e, com muita união, entregues à sua fé
religiosa, cultivavam a esperança de dias melhores, livres da opressão
e das perseguições sofridas na Galícia. Conseguiram vencer os

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obstáculos que o destino lhe reservou e acabaram contribuindo
sensivelmente para o engrandecimento cultural e econômico do
Paraná.
Segundo dados do Consulado Ucraniano no Brasil, há 350.000
ucranianos e descendentes em todo o estado do Paraná. A cidade
de Prudentópolis, nos Campos Gerais é onde se encontra a maior
concentração de ucranianos e descendentes, ou seja, 70% da
população de seus 50.000 habitantes. A etnia também é
numericamente expressiva em Curitiba, União da Vitória, Pitanga,
Irati e Cruz Machado.

1.6 A CULTURA UCRANIANA

Os imigrantes ucranianos que chegavam ao Paraná traziam


pouca bagagem material, mas uma cultura milenar de um povo que
se manteve coeso nas piores adversidades.
A adaptação era difícil para os pioneiros, as condições eram
precárias, mas a religiosidade foi o grande trunfo para que hoje
tenhamos uma comunidade viva e atuante.
A igreja se tornou um importante centro de preservação e
difusão da cultura entre os imigrantes, já começando pela própria
arquitetura adotada, com templos semelhantes aos conhecidos na
Ucrânia, com seu característico estilo bizantino.
O motivo que leva a construção das igrejas ucranianas é a
própria índole do povo, que sempre foi muito religioso. Doía-lhes
no peito não poder manifestar seu amor a Deus, da forma que era
habituado na Ucrânia.
Assim também começaram surgir as sociedades ucranianas, que
prezavam pela cultura dos seus membros, sendo fundadas bibliotecas,
escolas, corais, grupos folclóricos, teatros, além de serem lugares de
reuniões importantes, onde se definiam os rumos da comunidade
como um todo.
A cultura ucraniana além de estar presente nas organizações,
como a igreja e as sociedades, é preservada nos próprios lares
ucranianos. Temos a representação dela em diversas formas, como
na culinária, na decoração, na forma de educação dos filhos, no

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artesanato, enfim, são vários motivos que dão um diferencial todo
especial às famílias de ucranianos.
Em se tratando de culinária, as mulheres ucranianas
preservavam até os dias de hoje, todos os pratos típicos trazidos
pelos primeiros imigrantes, e, como todo o restante da cultura, é
passado de geração a geração. Fazem pratos como o varêneke
(perohê), holouptshi, borch, kutiá, e os utilizam em ocasiões
especiais, como nas datas de Natal e Páscoa, além de serem também
utilizados no dia-a-dia das famílias. Esses pratos são muito apreciados
por pessoas que não pertencem à etnia, e são procurados em festas
e eventos das comunidades ucranianas no Brasil, e hoje são
encontrados inclusive em supermercados e restaurantes, mostrando
a influência da presença dos imigrantes na sociedade em geral.
Uma característica marcante da cultura ucraniana são os
bordados em ponto cruz, utilizados para ornamentos de ícones,
como tolhas de mesa, nas igrejas em altares e paramentos litúrgicos,
e também na própria vestimenta típica ucraniana, significando
proteção, por serem aplicados em partes vulneráveis.
A educação dos filhos é feita de forma a se preservar a
identidade ucraniana. Desde cedo, as crianças aprendem o rito
ucraniano e também aspectos da cultura, inclusive a língua falada e
escrita.
Também encontramos interessantes caracacterísticas da cultura
ucraniana com o artesanato feito com madeira. São diversas as suas
formas, mas seguindo, em geral, as características dos traços
ucranianos, muito trabalhados e com motivos geralmente com
significados. Temos essa arte estampada nas igrejas, em altares,
castiçais, iconostás (portais de altares), pratos decorativos,
ornamentos, e peças de uso cotidiano, como vasilhas, baús, etc.
(Fontes: Arquivos da Paróquia São Basílio Magno, 2002;
Arquivos do Clube Ucraniano, 2002; Mê Rostemo, 2002; Paulo
Horbatiuk, Imigração Ucraniana no Paraná, 1989).

17
1.6.1 A páscoa ucraniana

Não poderíamos falar de Pêssanka, sem mencionar a Páscoa


Ucraniana, que soma costumes pré-cristãos e cristãos. O Domingo
de Ramos é uma comemoração universal do cristianismo, relativa à
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Porém os costumes do
Domingo da “Verbá” (salgueiro, chorão), estão ligados a tradições
remotas, quando se prestava homenagem aos protetores das árvores,
e especialmente à “Verbá”, que desde os tempos pré-cristãos era
considerada uma árvore especial. Ela era a primeira que soltava
botões após o inverno, anunciando a chegada da primavera.
Na Semana Santa, na família, a cada dia, havia um trabalho
pré-determinado: na segunda-feira, lavava-se toda casa e todas as
dependências, como também era o dia do trabalho na horta,
semeando os canteiros de hortaliças; na terça feira, toda a roupa,
todos os panos deviam ser lavados, secados e passados; na quarta,
terminava-se o trabalho dos dias anteriores e começavam a ser
preparados os ovos para serem decorados (pêssankas - halunkas). O
chefe da família devia concluir o trabalho na lavoura e preparava a
lenha para o forno, como também fazia a faxina nas dependências,
em redor da casa; até a quinta-feira, chamada de “Jêvney Tchetvér”
(Quinta-feira Gorda), todos os trabalhos da lavoura e na casa deviam
ser terminados, porque na quinta-feira já começavam as celebrações
da Páscoa. Nesse dia, os que possuíam apiários preparavam três
velas de cera, que eram unidas para formar três ramificações, que
em seguida eram enfeitadas com flores e ramos. Essas velas eram
levadas à igreja na quinta-feira à noite, e a primeira ramificação
era dedicada ao sol; a segunda, aos falecidos da família; e a terceira,
aos vivos.
Durante a noite, os jovens faziam fogueiras, para que toda a
aldeia fosse iluminada, porque o fogo nesse dia teria a força de
purificar até onde alcançasse a sua claridade. A Sexta-feira Santa
era dividida em duas partes: antes de ir à igreja e depois. Nesse
dia, não se falava em voz alta, não se diziam palavras indecentes e
era proibido ofender alguém. Ninguém, exceto as crianças, podia
comer nada até voltar da igreja, não se preparava almoço, apenas
um leve lanche, e todo o trabalho era proibido. Nesse dia, na igreja,

18
há a adoração da “Plastchanytsia” (imagem de Cristo Morto), ficando
exposta até sábado. No sábado, fazem-se as preparações para a
festa da ressurreição.
Prepararam-se “pessankê”, “halunkê” ou “krashankê” (os ovos
coloridos e pintados), com a tradicional simbologia, envolvendo os
costumes pré-cristãos e cristãos. No domingo, após a Missa de Páscoa,
benzem-se os alimentos da Páscoa: pão (paska), ovos, requeijão,
leitão assado, manteiga, hrin (raízes amargas), lingüiça e outros.
Terminada a bênção dos alimentos, todos começavam a se
cumprimentar e a presentear-se com as pêssankas. Nos lares, a noite
de Páscoa é uma noite sagrada, mágica, benéfica, a noite da
felicidade, na época pré-cristã era a noite precursora do Grande
Dia do Sol. Em cada casa devia arder o fogo, e ainda eram feitas
grandes fogueiras para dar boas-vindas a Dajbóh, o deus do Sol.
(Fontes: Tarcízio Zaluski, Páscoa: Celebrações Litúrgicas e
Costumes Populares, 2001).

19
2. A PÊSSANKA

Na história do povo ucraniano, sempre esteve presente uma


tradição de colorir ovos na época em que o Sol voltava triunfante,
eliminando a neve que cobria a rica terra negra da Ucrânia (esta
época coincide com a Páscoa da época cristã). Arqueólogos
descobriram no território da Ucrânia uma pêssanka cerâmica que
data de 1300 AC, e conseqüentemente ligaram em peça ao
simbolismo da cultura Trypillian, datando-a de 3000 anos antes de
Cristo.
A explicação para o interesse do ser humano antigo pelo ovo
está no fato de ele possuir uma magia incrível, pois, de uma forma
simples e rude, surgiria a vida. Com o passar dos anos, as ferramentas
gradativamente evoluíram e com elas o homem conseguiu melhorar
suas condições materiais e também os resultados de suas pinturas
em ovos, surgindo melhores definições daquilo que desejava
expressar.
Os ucranianos, em paridade com todos os povos antigos,
veneravam a natureza e os regentes dos elementos. Assim como
outros veneravam o Sol, com Apolo e seu carro puxado por leões,
os ucranianos reconheciam, no mesmo astro, o enteal Dajbóh, e a
ele ofereciam homenagens, pois novamente traria luz e calor para
a Terra. O verde substituiria o branco da neve, as flores voltariam a
desabrochar, as árvores ofereceriam seus frutos novamente e o povo
poderia trabalhar para obter seu sustento.
A festa da Primavera era um evento alegre, era acesa uma
grande fogueira no meio da aldeia e todos comemoravam a chegada
de Dajbóh. Desde o início desse dia, o povo estava em festa. Oferecia
seus presentes ao regente Dajbóh e entre eles estavam as pêssankas.
Nelas estavam gravados os raios de luz que seriam oferecidos a
terra, a partir dessa importante data do povo antigo.
Também nessa festa eram oferecidas pêssankas aos entes da
natureza, fazendo seus agradecimentos pelas colheitas e firmando

20
seus pedidos, para que a terra continuasse produzindo aquilo de
que necessitavam para viver. Essas pêssankas eram enterradas no
campo, nas lavouras, pois deveriam ser presentes aos amados entes
da natureza.
Nesse tempo anterior ao cristianismo, o povo tinha suas crenças
voltadas para aquilo que via e sentia. Era uma época em que, mais
do que nunca, o ucraniano estava ligado à natureza, sua fonte de
vida e energia.
Em 988, por meio do Príncipe Volodymyr, a Ucrânia é batizada
nas margens do Rio Dnipró, passando a adotar o cristianismo como
religião oficial. O povo absorveu essa mudança, mas não abandonou
seus antigos rituais, como as Festas da Primavera.
A solução encontrada pela igreja foi a adaptação desses antigos
costumes, como símbolos cristãos, ou seja, permitiam e até apoiavam
o povo a manter essas tradições consideradas pagãs, mas lhes
incutiam um simbolismo correlato ao cristianismo.
A antiga Festa da Primavera transformou-se na Páscoa Cristã,
por se tratar da mesma época. O povo continuava com os antigos
festejos, mas mudava-se gradativamente o sentido da ocasião festiva.
As pêssankas continuaram existindo, o povo não deixou o costume
de colorir ovos para expressar seus sentimentos, mas o clero religioso
fez com que se abandonassem as crenças nos entes da natureza,
pois deviam ser extintos os costumes tidos como pagãos.
As pessoas passaram então a fazer pêssankas para dar aos
parentes e amigos respeitados, demonstrando tudo aquilo que
desejavam aos seus entes queridos. As pequenas obras de arte
também começaram a aparecer em datas importantes, como
casamentos e nascimentos, como materialização das boas intenções
que se desejava expressar.
Na conturbada histórica da Ucrânia, o povo por muitos períodos
de instabilidade social, com a miséria e a opressão assolando seus
lares, e mesmo assim as pêssankas continuam acompanhando a vida
dessa gente que veio para o Brasil em busca de um futuro melhor
para seus filhos, trazendo na bagagem uma cultura milenar, que,
mesmo longe da terra natal, continuou sendo mantida.
A Ucrânia, em 1991, finalmente, adquiriu sua independência,
exigida pela população que saiu às ruas e, hoje, além do seu valor

21
cultural, simbólico e artístico, as pêssankas passaram a ser um símbolo
de longevidade, para uma Ucrânia livre e independente.
Nos lares contemporâneos, as pêssankas, além de serem peças
decorativas, são consideradas talismãs, livrando as pessoas do mal,
e trazendo boas energias. Acredita-se que quando uma pêssanka
se quebra espontaneamente, algum infortúnio deixou de atingir as
pessoas da casa.
As pêssankas são apreciadas por diversos povos, e no Brasil
essa arte ganhou espaço, tendo-se incorporado à cultura brasileira,
por meio dos descendentes de ucranianos que mantêm essa tradição.
A cultura ucraniana no Brasil sofreu uma benéfica influência,
somando valores, o que acaba se refletindo até nas próprias
pêssankas, figurando, ocasionalmente, alguma ave brasileira, ou
mesmo as características das araucárias do sul brasileiro, região que
mais recebeu os imigrantes ucranianos.
(Fontes: Catálogo do Museu Ucraniano de Curitiba, 1992;
Cornélio Szumulik, Pêssanka – Representação da Força Mágica do
Sol; Dozetéia Cpuskievicz, Ovos Decorados na Tradição Ucraniana;
Tarcísio Zaluski, Páscoa: Celebrações Litúrgicas e Costumes
Populares, 2001).

2.1 A PÊSSANKA NA UCRÂNIA

Com a independência da Ucrânia em 1991, o interesse pela


cultura nacional começou a crescer, visando recuperar a própria
identidade popular reprimida até então. E naturalmente a arte da
pêssanka foi beneficiada sendo reconhecida como verdadeiro
fenômeno da cultura ucraniana.
Congressos com mestres dessa arte, exposições de pêssankas,
seminários, conferências são muito comuns na Ucrânia, sendo
incorporada a arte das pêssankas aos programas de ensino em escolas
e universidades.
Com essas iniciativas, muitas descobertas acabaram
acontecendo, como por exemplo, os primeiros projetos de pêssanka
da cultura trypillian, cujo florescimento data de 3000 anos antes de
Cristo.

22
Esse processo de valorização dessa arte tem como principal
motivador o sentimento do tempo perdido, durante o regime
socialista soviético. Nos anos de 1930 a 1980, as pêssankas foram
tidas pelo governo, como algo ligado à religião cristã, e, devido a
isso, muitos artistas populares tiveram que abandonar seu trabalho,
temendo as represálias que assombravam a população ucraniana.
Muitos escritores afirmam que o simbolismo cristão não era
uma ameaça aos russos. O fato era que eles simplesmente não
podiam divulgar as pêssankas, já que eles mesmos não as tinham
em suas tradições. Sendo essa arte um simbolismo vivo da cultura
ucraniana, os russos tiveram que dar um fim a essa tradição popular,
já que tentavam aniquilar qualquer manifestação ucraniana,
temendo uma possível retomada dos valores nacionalistas dos povos
subjugados.
Porém a arte popular, seja qual for o segmento que seja, é
viva. Não pode ser parada, assim como não se pode parar o fluxo
de um rio. Por mais que se tente represá-lo, chega um momento
em que a barragem não será suficiente para conter a força
acumulada.
E assim aconteceu com a arte das pêssankas, que acabou
tornando-se um dos principais símbolos da cultura ucraniana
contemporânea. Apesar dos anos de represália soviética na Ucrânia,
os ucranianos do chamado mundo livre (na época do socialismo)
continuaram a preparar suas pêssankas, e a manter a tradição milenar
dos antepassados (Haneiko, 1974).

2.2 A CULTURA TRYPILLIAN

Na página sobre pêssankas Olga´s Eggs Files (http://


eggstripod.com), consta que, no território ucraniano, estudos
arqueológicos acabaram descobrindo indícios da arte das pêssankas,
por meio de um ovo cerâmico decorado, datado de 1300 anos
antes de Cristo.
Esta primitiva pêssanka foi ligada aos projetos do simbolismo
da cultura Trypillian, povo primitivo da Ucrânia, cujo florescimento
data de 3000 AC.

23
A sociedade Trypillian existiu antes de Abraão, da mitologia
grega, e da idade do bronze. Pelos estudos, deduz-se quem esse
povo viveu na Ucrânia, na época da construção da Grande Pirâmide
do Egito.
Os Trypillians eram uma sociedade matriarcal, e tinham pouco
interesse na formação de uma sociedade mais organizada, com um
governante, com arrecadação de impostos para o bem comum,
dinheiro, etc. até pelo motivo de que viviam pacificamente entre
si e com seus vizinhos. Segundo os estudiosos, suas primitivas casas
eram decoradas por dentro e por fora, o que nos mostra que tinham
grande senso de estética, que acabou nos trazendo também a arte
das pêssankas.
Nos símbolos que apresentaremos a seguir, encontraremos
muitos que provêm ainda dessa cultura, o que nos mostra uma ligação
com os primitivos ucranianos, por meio de uma arte acompanha o
povo ucraniano desde a sua origem.

2.3 SIMBOLISMO DO OVO

No texto assinado por Goethe, (site: www.luzemisterio.com.br)


Ostera ou Ostara é a Deusa da Primavera que segura um ovo em
sua mão e observa um coelho, símbolo da fertilidade, pulando
alegremente ao redor dos seus pés nus. A deusa e o ovo que carrega
são símbolos de chegada de uma nova vida.
Ostara equivale, na mitologia grega, a Persephone. Na mitologia
romana, é Ceres. Estes antigos povos comemoravam a chegada da
primavera, decorando ovos. Encontramos também os costume na
Inglaterra, no século X, durante o reinado de Eduardo I (900-924),
o qual tinha o hábito de banhar ovos em ouro e oferta-los para os
seus amigos e aliados, na Páscoa.
O ovo carrega símbolos da chegada de uma nova vida, é um
desses símbolos que praticamente explica-se por si mesmo. Ele
contém o germe, o fruto da vida, que representa o nascimento, o
renascimento, a renovação e a criação cíclica.
De um modo simples, podemos dizer que é o símbolo da vida.
Os celtas, gregos, egípcios, fenícios, chineses e muitas outras

24
civilizações acreditavam que o mundo havia nascido de um ovo.
Na maioria das tradições, esse “ovo cósmico” aparece depois de
um período de caos.
Na Índia, por exemplo, acredita-se que uma gansa de nome
Hamsa (um espírito considerado o “sopro divino”), chocou um ovo
cósmico na superfície das águas primordiais e, daí, dividido em
duas partes, o ovo deu origem ao céu e a terra – simbolicamente é
possível ver o céu como a parte leve do ovo, a clara, e a terra como
outra mais densa, a gema.
O mito do ovo aparece também nas tradições chinesas. Antes
do surgimento do mundo, quando tudo ainda era caos, um ovo
semelhante ao de galinha se abriu e, de seus elementos pesados
surgiu a terra (Yin) e, de sua parte leve e pura, nasceu o céu (Yan).
Para os celtas, o ovo contém a representação do universo: a
gema representa o globo terrestre, a clara, o firmamento e a
atmosfera; a casca equivale à atmosfera celeste a aos astros.
Na tradição cristã, o ovo aparece como uma renovação
periódica da natureza. Trata-se do mito da criação cíclica. Em muitos
países europeus, ainda hoje, há uma crença de que comer ovos no
Domingo de Páscoa traz saúde e sorte durante todo o resto do ano.
Os ucranianos, em sua era pré-cristã, reconheciam diversos
enteais, como Perum (deus do trovão), Volos (deus dos rebanhos),
Mavka (deusa da mata), Russalka (deusa das águas), e entre outros,
Dajbóh (deus do sol) – Mê Rostemo, 2002.
Para esse último, ofereciam-se homenagens numa festa
especial, alusiva à chegada da Primavera, quando se “escreviam”
as pêssankas a fim de transmitir seus sentimentos aos amados entes.
A motivação da escolha do ovo como um bem precioso é simples,
pois o mesmo abria em seu interior. A partir desse fato, o povo
iniciou um processo de comunicação por meio da inscrição de
desenhos, manifestando os seus sentimentos e anseios.

2.4 SIMBOLOGIA DAS PÊSSANKAS

A palavra ucraniana “Pêssanka” ou “Pyssanka” (transliteração


oficial do alfabeto cirílico), é originada do verbo ucraniano pessaty,

25
que significa escrever. A arte de colorir os ovos ficou assim
denominada pelo fato de as pessoas desejarem expressar algo por
meio dos desenhos, das formas e das cores utilizadas.
A produção de pêssankas, tradicionalmente, é realizada na
última semana da quaresma, final do rigoroso inverno Ucraniano,
quando o povo se prepara para a chegada da Páscoa e também da
primavera.
A pessoa que prepara uma pêssanka deve sempre estar
sintonizada com aquilo que deseja exprimir em seu trabalho. Ela
irá colocar sempre bons sentimentos em seus desenhos, buscando
a harmonia de formas e cores, para que se mantenha a tradição
dessa arte.
Na tênue casca do ovo, se apresenta em símbolos, a história
da humanidade, as suas crenças, esperanças e anseios. São inúmeros
os símbolos usados em pêssankas, alguns comuns em toda a Ucrânia,
outros típicos de determinadas regiões, ou ainda, mais
contemporâneos, relativos também à vida dos ucranianos na
diáspora.
Cada traço, figura e cor das pêssankas tem um significado
especial. Apresentamos a seguir, um quadro dos principais símbolos
utilizados pelos os ucranianos no Brasil, desenvolvido através de
pesquisa organizada e publicada no ano de 1982 pelos artesãos
Jeroslau Volochtchuk e Waldomiro Romero, e divulgada pela
Associação dos Artesãos de Pêssankas do Paraná.
O quadro da figura 1 foi e continua sendo a mais importante
fonte de orientação para os ucranianos no Brasil, porém encontramos
uma diversidade maior de símbolos na cultura ucraniana, e muitos
deles podem até ter um sentido diferente, quando comparados.

26
Figura 1: Quadro Pessankas

27
A seguir, vamos descrever outros símbolos publicados na página
sobre pêssankas “Olgas´s Eggs Files (http://eggs-files.tripod.com)”.
Como classificação desses símbolos, temos: símbolos, solares, linhas,
variações de linhas, cruz, igrejas, plantas e animais.

2.4.1 Símbolos Solares

Os símbolos solares incluem variações de círculos, de moinhos


de vento, tripés, estrelas, etc. O sol e os desenhos cósmicos significam
a felicidade, prosperidade e a fortuna. O processo para fazer
pêssankas já tem um simbolismo ligado ao sol: a cera foi feita do
mel, o mel coletado das flores, as flores cresceram por causa do sol.

Círculo: representa a integridade, a


continuidade, e a natureza cíclica do
universo. A interpretação pré-cristã tinha o
Sol como o centro do universo, como o
impulsionador da fertilidade, e da vitória da
luz sobre a escuridão. Um círculo que contém
um ponto representa o momento em que a
Terra recebe a luz do Sol, na chegada da primavera. Um círculo
com uma cruz no centro representa a Verdade Divina. O circulo
dividido em duas partes iguais representa a polaridade, como a noite
e o dia, o verão e o inverno, a vida e a morte. Sendo circundado
por pequenos traços, lembrando uma aranha, simboliza os raios do
sol. Nas representações dos círculos também são lembradas das
danças da festa da primavera, na época pré-cristã.

Moinho de vento: símbolo da felicidade, da


fortuna e da boa vontade. Este símbolo geralmente
é visto com cantos arredondados, procurando
representar um moinho de vento ou uma cruz de
malta.

Tripé: provém da era Trypillian, e tem relação


com o número místico três, uma trindade.

28
Estrela: este símbolo é geralmente encontrado
com oito pontas, sendo uma das mais bonitas e
versáteis representações geométricas, e está
relacionado com a pureza, a vida, a história da
luz, o conhecimento, a beleza, a elegância e a
perfeição. No contexto do cristianismo, simboliza o nascimento de
Cristo, símbolo do amor de Deus.

Pontos: os pontos, de todos os tamanhos, podem


simbolizar as estrelas no firmamento ou, ainda,
um ovo de pássaro, simbolizando a chegada da
primavera. Um ponto dentro de um círculo
significa o centro do universo, e a eternidade.

Triângulo: O triângulo é o desenho muito básico, e assim como o


tripé, tem a ver com uma trindade. Na época pré-
cristã, esse símbolo era sempre relacionado aos
elementos da natureza, como ar, fogo e água, ou
terra céu e mar. No simbolismo cristão, o triângulo
é relacionado à Santíssima Trindade.

Diamante: Símbolo da sabedoria.

2.4.2 Linhas

Linha reta: a linha reta que circunda o ovo


simboliza a eternidade ou a linha contínua da vida.

Fita ou correia: esse tipo de desenho também


simboliza a eternidade e, normalmente, é visto
circundando o ovo, de modo que não se quebre
a linha da vida.

Linha dentada: esta variação de linha tem a


ver com algo a ser contido, como um cerco
de uma floresta.

29
Linha com arcos: sugere um local de
encontro de opostos, com água e terra.

Linha tipo serra, ou ziguezague: é uma


variação muito comum, e simboliza o fogo,
tendo a ver, também, com o Sol, o astro que dá o calor. Pode ainda
representar as águas ou as ondas.

Linha ondulada: esta representação das


ondas é comum em todas as regiões da
Ucrânia. Enfatiza a harmonia e o movimento, descrevendo assim o
infinito e a imortalidade.

Labirintos: esse tipo de representação em


pêssankas procura fazer com que o mal não
encontre o caminho, até a pessoa que recebe a
pêssanka.

2.4.3 Variação de linhas

Rede: um desenho muito comum nas pêssankas dos


hutzules, povo montanhês ucraniano. Seu significado
relaciona-se à divisão entre o bem e mal.

Escada: a escada é um símbolo do procurar, levantar-se


acima dos problemas da vida.

Pente: esta variação de linha é classificada,


esporadicamente, como símbolo do sol, por causa
dos seus dentes ou raios. Sugere também a colocação das coisas em
ordem. Três dentes ou raios podem simbolizar a Santíssima Trindade,
ou os três estágios principais da vida: nascimento, idade adulta e
morte.

30
Ancinho ou Rastelo: similar ao pente, o ancinho tem
uma referência adicional à colheita.

Curvaturas: significam proteção ou defesa.

Espirais: simbolizam o mistério da vida e da morte,


relacionando as espirais com a Criação ou com a
Imortalidade.

2.4.4 Cruz

Mesmo para os antigos ucranianos, na época pré-cristã, a cruz


era um símbolo da vida. Existem muitas variações de cruzes nos
projetos de pêssankas, sendo sempre relacionados à fé cristã.

Cruz de duas linhas: essa é a forma mais


simples de uma estrela, e representa o
masculino e o feminino na Criação, ou o ativo
e o passivo, a matéria e o espírito. Pode
simbolizar, ainda, os quatro pontos cardeais,
as quatro fases do desenvolvimento do ser humano: infância,
juventude, maturidade e velhice.

2.4.5 Igrejas

Esse tipo de desenho aparece somente depois que o


povo aceita o cristianismo. Os esboços básicos
representam versões estilizadas das belas igrejas de
madeira dos Montes Cárpatos, com telhados
triangulares característicos. Os desenhos de igrejas
aparecem somente na Ucrânia Ocidental.

31
2.4.6 Plantas

Essas composições expressam predominantemente o fim do


inverno, com a chegada da primavera, a reabilitação da natureza e
da vida. Esse tipo de pêssanka é um talismã, não só para o crescimento
das plantas, mas também para o bem-estar dos seres humanos.

Pinheiro: é um desenho muito antigo, tendo sua


origem na era Trypillian, e sendo muito comum
em toda a Ucrânia. Sua qualidade de resistência
permanente, mantendo-se sempre verde, mesmo
sob as grandes nevascas, torna o pinheiro um
símbolo da força, da perseverança, do crescimento
e da vida eterna.

Árvore: é representada como a árvore da vida, sendo


comum em muitas partes do mundo. Tem o símbolo
da renovação e da criação. Geralmente é desenhada
cercada por animais ou pássaros.

Macieira: esse é um exemplo muito bonito na


representação das plantas. Embora pareça ser um
símbolo contemporâneo, a macieira está ligada a
tradições pré-cristãs.

Ramo de Salgueiro: o salgueiro é um símbolo muito


tradicional da cultura pré-cristã ucraniana, por ser uma
das primeiras plantas a ressurgir depois do inverno. Para
o cristianismo ucraniano, o salgueiro é utilizado no
Domingo de Ramos.

Cacho de Uva: sendo já ligado ao cristianismo, esse


desenho simboliza a continuidade, o amor, a
lealdade. Representa também o vinho da Comunhão
de Cristo, denotando também o amor de Deus pela
humanidade.

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Flor de Maçãs ou Ameixas: simbolizam o
conhecimento, a saúde e a sabedoria.

Ramo de três folhas: esse símbolo antigo


representa a imortalidade e o amor eterno. Pode
representar também a Santíssima Trindade.

Folha de Carvalho: muitas regiões da Ucrânia têm suas


próprias versões desse desenho. O significado é a força
e a persistência. As folhas de carvalho caem no outono,
e são substituídas na primavera. Dessa forma, estão
relacionadas com o ser humano no seu ciclo de vida e
morte, e sua continuidade tanto na matéria quanto no
plano espiritual.

Rosa: existem muitas variações desse desenho, sendo


algumas altamente estilizadas. Esse símbolo representa
o principio, a beleza, a sabedoria e a elegância feminina.

Lírio do Vale: uma das primeiras flores que surgem na


primavera, e sugere a pureza e a humildade, como a
ideologia de um tempo novo.

Girassol: é um símbolo floral antigo, e representa o


sol, o amor de Deus pelas suas criaturas. É também um
símbolo da gratidão e da vida.

Pepino: conhecido desde a era pré-cristã, o pepino é


um símbolo da preservação da vida, devido a sua
capacidade de reter água.

Espigas de cereais: muito usado nas pêssankas


contemporâneas, mas tem sua origem na era pré-
cristã. Podem ser representadas pelas plantas de
pomares, como ameixas ou pêras. Seu
simbolismo está relacionado à boa colheita.

33
2.4.7 Animais

Estes símbolos não são usados com tanta freqüência, se


comparadas com os demais exemplos apresentados. Os objetos
geralmente são da região dos Montes Cárpatos, na Ucrânia Ocidental,
e são representados animais junto com símbolos geométricos.

Veado: um símbolo que provém da cultura Trypillian,


representando a liderança, a vitória, a alegria e a
masculinidade.

Cavalo: o cavalo aparece como um sinal antigo do


sol. Os arqueólogos reivindicam que o cavalo foi
domesticado primeiramente na Ucrânia. O seu
simbolismo se relaciona, com a prosperidade,
resistência e velocidade, enfatizando também o
movimento do sol.

Touro: é um símbolo masculino, e representa a liderança


e a força contra os opositores, e numerosas variações
sugerem também a perseverança e a dignidade.

Galo: é considerado um talismã da fortuna. Em épocas


antigas, relacionou-se à vinda do sol. Seus demais
significados são relacionados à exultação, e a vigilância.
Como símbolo da masculinidade, prediz um casamento
rico, com a vinda de muitos filhos.

Galinha: símbolo da fertilidade.

Pássaros: muitas espécies de pássaros, como o rouxinol,


a cegonha, a andorinha, são consideradas anunciadoras
da chegada da primavera.

34
Borboleta: representa a vida na infância. Sugere
também a ascensão da alma à eternidade. Seu
desenho também lembra da beleza delicada.

Aranha: esse desenho primeiramente era


interpretado como o sol projetando seus raios.
Mas sua significação está relacionada à
paciência, à arte e ao trabalho.

Peixe: símbolo do cristianismo, sugere a abundância,


o batismo, regeneração e o sacrifício.

Pés-de-galinha: simbolizam a proteção da terra


para a juventude. Também simbolizam a
orientação dos jovens para a busca do
conhecimento.

Pés-de-ganso: representam a alma e o espírito.

Chifres: simbolizam a sabedoria e o triunfo,


estando ligados também à liderança forte, à
perseverança e à dignidade.

Patas-de-urso: o urso foi associado ao espírito do


guardião da floresta, e esse símbolo fala da bravura,
sabedoria, força e resistência. Sugere um conceito
protetor.

Orelhas-de-coelho: simbolizam a humildade


do homem enquanto ouve as lições oferecidas
pela natureza.

Dentes-de-lobos: denotam a lealdade e a


sabedoria.

35
2.4.8 Cores

As cores também têm um lugar especial no simbolismo das


pêssankas. Os projetos mais antigos tinham um valor místico, quando
possuíam quatro ou cinco cores, cada uma carregando uma
mensagem de boa vontade para a pessoa que recebia a pêssanka,
como um desejo de uma família feliz, paz, amor, saúde ou sucesso.
Também na página sobre pêssankas “Olga´s Eggs Files”, encontramos
as seguintes interpretações.

Preto: representa o absoluto, o constante ou o eterno. Pode também


representar a morte.

Branco: pureza, inocência e nascimento são os significados desta


cor.

Amarelo: símbolo da luz e da pureza. Fala da juventude, felicidade,


colheita, hospitalidade, sabedoria, amor e benevolência.

Laranja: simboliza a resistência, a força e a ambição digna. Laranja


também é a cor do fogo, e símbolo do sol. Representa a paixão
moderada, estando entre o vermelho (paixão) e o amarelo
(sabedoria).

Verde: renovação na primavera, cor da fertilidade, frescor, saúde,


esperança.

Vermelho: é considerado uma cor positiva, significando a ação,


fogo, desenvolvimento espiritual. Glorifica o sol e a alegria de viver.
São normalmente indicadas pêssankas vermelhas para as crianças e
para a juventude. Simboliza a paixão e o amor.

Marrom: símbolo da Mãe Terra, trazendo seus presentes aos seus


entes.

Azul: simboliza o céu, o ar, a vida, verdade, fidelidade, confiança,


talismã da saúde.

Roxo: quando usado, simboliza a fé, paciência e confiança.

36
2.5 PÊSSANKAS REGIONAIS UCRANIANAS

Segundo Odarka Onyschuk, em Symbólika Ukraínskói Pysanky


(1985), cada região da Ucrânia impõe características peculiares às
suas pêssankas. Assim, além do simbolismo tradicional, podemos
reconhecer características regionais ucranianas, como o caso dos
minuciosos detalhes que o povo hutzule utiliza, o uso de diferentes
técnicas da Bukovena e da Volynia.
Isso demonstra que as pêssankas são uma forma de retrato da
cultura popular, manifestada por meio de seus anseios de descrever
seus sentimentos, e também uma forma de mostrar características
do subconsciente, por meio da maneira como se demonstram as
concepções de arte e beleza, imprimidas nas pêssankas.
A Ucrânia é um país de 50 milhões de habitantes, e que ocupa
um território de 603.500 km², e como não poderia deixar de ser, a
cultura regional acaba assumindo características próprias, como no
Brasil, onde vemos diversas manifestações culturais totalmente
diferentes, mesmo estando em um único país.
Assim como podemos perceber características marcantes do
povo nordestino, baiano, mineiro ou gaúcho, são notórias muitas
diferenças entre regiões ucranianas como a Bukovena, Hutzúlia,
Zakarpatia, Volynia, ou a região central da Ucrânia. Cada aldeia
possui seus projetos originais de pêssanka, manifestando costumes
locais, idéias, gostos, etc.
Mostraremos a seguir um quadro de características de algumas
pêssankas regionais ucranianas, porém afirmamos que não se deve
esperar ver aqui projetos intrincados em detalhes, como o caso das
pêssankas dos hutzules, ou das nossas contemporâneas de ucraíno-
brasileiros.
As pêssankas representadas nesta etapa do trabalho não
possuem linhas retas, nem traços uniformes, porém são as mais
tradicionais que existem, já que são do tempo em que não se
importava tanto com a perfeição dos traços, mas sim com o
simbolismo que a pêssanka deveria representar.
As descrições das regiões fazem parte da Apostila de
Conhecimentos Ucranianos, publicada pela AJUB em 2002.

37
2.5.1 Lemkivchena

Região hoje dividida entre a Polônia,


Ucrânia e Eslováquia. Os Lemky
caracterizam-se pelo artesanato e
comércio. Apesar de seu pequeno
território, existe uma grande variedade
de trajes típicos, música, estilo de danças
e as próprias artes tradicionais.

2.5.2 Polissia

Situada no noroeste ucraniano,


recebeu grande influência da região
polonesa de Lublin, em relação a
vestimentas típicas, e influência bielo-
russa, na questão das danças e músicas,
tendo características interessantes,
expressadas em suas pêssankas tradicionais.

2.5.3 Hutsulchena

Região situada nos Montes Cárpatos,


muito rica e original em dança, música,
artesanato e folclore. Os homens
“hutzule” eram grandes lenhadores. Nas
pêssankas vemos detalhes interessantes,
que caracterizam muito bem a cultura do
povo montanhês, muito minucioso em
tudo o que faz.

38
2.5.4 Haletchená

Centro do catolicismo romano na


Ucrânia. Situada na parte Ocidental,
abrange a região de Lviv e proximidades.
Possui um folclore muito rico, e as
pêssankas refletem essas características.
A maior parte dos imigrantes ucranianos
no Brasil veio desta região.

2.5.5 Poltavtchena

A mais conhecida região, no que se


refere ao folclore, sendo situada ao leste
do Rio Dnipró, região central da Ucrânia.
Possui as mais originais danças típicas
ucranianas devido a pouca influência de
outras regiões e países. A alta burguesia
ucraniana residia nas proximidades e na
cidade de Poltava. As pêssankas possuem
traços peculiares da cultura regional.

2.5.6 Kyiv

A capital da Ucrânia, grande centro


histórico e cultural da nação ucraniana.
Existem ainda muito mais regiões,
microrregiões, cidades e aldeias. Cada
uma com suas tradições, folclore, usos e
costumes, refletindo suas características,
inclusive nas pêssankas.

39
3. PROCESSO PARA A CRIAÇÃO DE PÊSSANKAS

“A arte ucraniana de produzir pêssankas remonta à época pagã,


no território da Rusch de Kyiv (Ucrânia), e sempre teve um significado
para este povo. Para essas pessoas o ovo sempre teve uma magia
toda especial, pois de uma forma rígida e rude surgiria a vida...”

Nesta etapa do trabalho, daremos um enfoque sobre o processo


de criação de pêssanka, relatando de forma simples, a técnica desta
arte, acompanhada de fotografias a cada passo, e inserindo ainda
algumas dicas para obter melhores resultados.
O processo descrito tem como fonte o curso de criação de
pêssankas, ministrado por Marina Klemczk, somando conhecimentos
do autor.

3.1 MATERIAIS

Apresentamos uma lista dos materiais e utensílios necessários


para a confecção de pêssankas.
- Ovos de galinha brancos, grandes e crus;
- Lápis preto ou lapiseira;
- Pena para nanquim (bico-de-pena);
- Papel absorvente;
- Recipiente para despejar ovos;
- Prego médio;
- Copo de vidro;
- Vela e fósforos;
- Palitos de dente;
- Seringa de injeção com agulha;
- Detergente de cozinha;
- Vinagre;
- Algodão;

40
- Cera de abelha;
- Verniz vitral;
- Colheres para cada cor de tinta;
- Recipientes para as tintas (vidros de conserva de preferência);
- Tintas para pêssanka;
- Tábua com pregos ou alfinetes (formando o suporte para
secagem do verniz).

3.2 PREPARO DAS TINTAS

As tintas vêm em envelopes e que contém instruções de uso.


Antigamente, eram feitas colorações com cascas de certas árvores,
ou de cebolas, mas hoje se utiliza uma espécie de anilina para a
tingir as pêssankas.
Essa tinta é absorvida pela casca do ovo, não sendo necessário
um tempo de espera para secar, como uma tinta a óleo, por exemplo,
pois apenas se aguarda o tempo para o ovo absorver uniformemente
a cor que está sendo aplicada.
Logo após a completa absorção da tinta, o ovo deve ser retirado
e secado com papel absorvente.

Procedimento:
· Providencie recipientes onde ficarão as tintas, devidamente
limpos (devem ter tampas, pois as tintas podem durar de seis
à doze meses). Ex.: vidros de conserva, potes de plástico
resistentes ao calor, etc.
· Despeje 1 colher de chá, de tinta no recipiente (ou todo o
conteúdo, conforme o fabricante indicar);
· Despeje cerca de 300ml de água fervente;
· Com o auxílio de uma colher, misture a tinta na água, utilizando
uma colher para cada cor, pois a contaminação com fragmentos
de outras cores pode estragar a tinta.
· Após esfriar, adicione uma colher de sopa, de vinagre, se
indicado pelo fabricante.
A tinta está pronta para utilizar. Com o tempo, ela tende a
enfraquecer, e neste caso, aconselhamos que a tinta seja fervida e

41
adicionado mais vinagre, o que fará com que se prolongue o tempo
de uso.
Cada tinta deve ter a sua própria colher para mistura ou para
auxílio no mergulho dos ovos, nunca se misturando as cores.
O tempo de uso de cada tinta é de seis a doze meses, notando
o enfraquecimento nas colorações das pêssankas, as tintas devem
ser substituídas, para não prejudicar o trabalho.
A demora do tempo de espera para que o ovo absorva a tinta
pode aumentar muito, e ocasionar manchas. Esse é o momento de
se trocarem as tintas.

3.3 CONFECÇÃO DAS PÊSSANKAS

Para iniciar, escolha ovos brancos, de preferência grandes, sem


falhas, ou imperfeições na superfície da casca.
Alguns ovos possuem espécies de asperezas, pequenas
saliências, além de outros que são tortos por natureza.
Quanto mais perfeito for o ovo, melhor será o trabalho, a escolha
deles é simples, basta verificar qual está em melhores condições
para se tornar uma obra de arte.
É importante também verificar possíveis rachaduras na casca,
para não ter problemas futuros.
Após a seleção dos ovos que serão trabalhados, existem duas
maneiras para a continuidade, dependendo da preferência de cada
pessoa.
Se seguirmos a tradição ucraniana, perfeitamente,
trabalharemos com o ovo cheio (e cru), simbolizando a vida no seu
interior. Muitas pessoas ainda utilizam o ovo cheio, pois ele tende a
desidratar e permanecer inalterado durante muito tempo, porém
neste caso, deve-se utilizar ovos que não passaram por um processo
de resfriamento.
O segundo caminho a ser tomado, refere-se a um processo
contemporâneo, em que se retira o conteúdo do ovo, trabalhando
somente com a casca vazia, ou ainda preenchida com gesso ou
parafina. Esta opção evita que os ovos tragam transtornos, já que
eles são perecíveis.

42
4. PASSOS PARA A CRIAÇÃO DAS PÊSSANKAS

PASSO 1

- Segure o ovo, apoiado sobre


uma superfície firme, pronto
para ser furado na parte de
baixo.
- Com cuidado, bata
levemente um prego fino na
parte central do ovo,
utilizando para isso um copo
de vidro. Não é necessário
atravessar o prego na casca,
basta apenas sentir que a
casca foi rompida e girar o
prego para aumentar o furo.

PASSO 2

- O furo deve possuir cerca


de 2 mm ou 3 mm, no
máximo, para não prejudicar
o trabalho.

43
PASSO 3

- Esquente uma agulha, ou


o próprio prego na chama da
vela e passe para dentro do
furo, para queimar a película
interna, facilitando o
escoamento. É recomen-
dável preparar um instru-
mento próprio para isso,
como uma haste de madeira
com uma agulha de injeção
usada na ponta, por
exemplo.

PASSO 4

- Queima da película interna do ovo, introduzindo o prego ou agulha


para dentro do furo.

44
PASSO 5

- Sendo queimada a película, introduza a agulha da seringa no furo


e comece a injetar cuidadosamente o ar, fazendo com que o material
seja expelido de dentro do ovo. Entorte um pouco a agulha para
facilitar o trabalho.
- Tome cuidado para não forçar muito, pois o ovo pode estourar.

PASSO 6
- Todo o conteúdo do ovo deve sair por esse único furo.

45
PASSO 7

- Depois de retirado todo o


material, injete um pouco de
água com detergente de
cozinha para efetuar a
limpeza interna do ovo. Esse
processo evita que a pêssanka
exale mau cheiro depois de
pronta.

PASSO 8

- Injeção de água, através do


furo feito no ovo.

46
PASSO 09

- Retire a água de limpeza do


interior do ovo, e lave-o por
fora (pode ser utilizado o
detergente de cozinha, mas
de preferência utilize so-
mente água) e deixe para
secar ao sol. Para melhorar o
escoamento do restante da
água que estiver acumulada
no interior, é bom preparar
uma simples caixa de ovos,
com orifícios no fundo de
cada divisão de ovos, assim a
água não fica acumulada no
fundo do recipiente.

4.1 DESENVOLVIMENTO DA PÊSSANKA

A partir desse ponto, o


processo é válido tanto para o
ovo vazio quanto cheio.

PASSO 10

- Efetue a limpeza do ovo,


utilizando algodão embebido
com vinagre, para eliminar a
gordura natural inserida na
casca, e desobstruir os poros.
Esta limpeza é importan-
tíssima para obter um bom
resultado com as cores.

47
PASSO 11

- Depois da limpeza, o ovo


não deve ficar em contato
direto com a sua mão, pois o
suor pode obstruir os poros, e
prejudicar a absorção da tinta,
ocasionando manchas. Segure
o ovo com um pedaço de
papel absorvente.
- Não é aconselhável a
utilização de luvas clínicas,
pois podem ficar fragmentos
de tinta na própria luva e
manchar a pêssanka.
- Com um lápis ou lapiseira,
inicie riscando levemente o
ovo, dividindo-o vertical-
mente em duas metades
iguais.

PASSO 12

- Risque verticalmente,
dividindo o ovo em quatro
partes iguais.

48
PASSO 13

- Risque o ovo horizontal-


mente, em dois hemisférios.
Quanto melhor for esta
divisão, mais belo ficará o seu
trabalho, já que a pêssanka
possui um princípio muito
grande de simetria e
harmonia.
- Os traços de apoio são muito
importantes, para orientar os
desenhos posteriores.

PASSO 14

- Risque o ovo no sentido


transversal, a partir do centro
de encontro das linhas, na
horizontal.

49
PASSO 15

- Iniciaremos agora alguns traços de apoio, que muito ajudarão para


um bom efeito simétrico na pêssanka.

PASSO 16

- Confecção dos desenhos a serem trabalhados.

50
PASSO 17

- Desenho a lápis concluído.

PASSO 18

- Após ter feito o seu desenho


de base, inicie o processo de
cobrimento da parte branca
do ovo, com cera de abelha.
Tudo o que você desejar que
fique na cor branca deverá
ser preenchido nesta fase,
pois, nas próximas não será
mais possível.
- Aqueça a pena na chama da
vela, pela parte de baixo dela
(lado convexo).

51
PASSO 19

- Passe a parte superior da


pena (lado côncavo) no bloco
de cera de abelha, fazendo
com que ela seja carregada
com cera derretida.

PASSO 20

- Passe a pena carregada novamente na vela, para manter a cera


aquecida, cuidando para aquecer o meio da pena, e nunca a ponta,
pois queima a cera.
- Comece a riscar, iniciando pelos traços mais compridos, ou seja,
de fora para dentro dos desenhos.

52
PASSO 21

- Preenchimento dos traços que ficarão na cor branca. Cuide para que
os traços sejam contínuos, tenha a mão firme, pois no caso de erros
com a pena, é complicado corrigi-los. A maneira para fazer isso é através
de raspagem do local afetado, porém somente quando o ovo está na
cor branca.

PASSO 22

- Mantenha sempre a pena aquecida, durante o processo. Não é


necessário carregar demais a pena, procure manter somente o
suficiente para a confecção dos traços. Se a pena estiver
excessivamente carregada, você corre o risco de pingar grande
quantidade de cera, prejudicando o seu trabalho.

53
PASSO 23

- Conclusão dos traços que ficarão na cor branca.

PASSO 24

- Se você estiver trabalhando


com o ovo vazio, não esqueça
de fechar o furo com a cera,
pois ele permanecer aberto,
vai entrar tinta e lhe causar
aborrecimento nas próximas
etapas.

54
PASSO 25

- Mergulhar o ovo na
tinta amarela.

PASSO 26

- Em todos os
mergulhos, você deve
manter o ovo total-
mente imerso, utili-
zando para isso o
auxílio de uma colher.

55
PASSO 27

- Verifique constantemente
como está a absorção da cor
na casca do ovo. Percebendo
que já está completamente
amarelo, retire o ovo e seque-
o com um papel absorvente.
O tempo de espera varia de
acordo com a tinta, podendo
ser instantâneo ou durar
alguns minutos. Nunca deixe
o ovo por mais de 30 minutos
imerso, pois a tinta penetra
na casca e pode ocasionar
manchas.

PASSO 28

- Inicie agora os traços que ficarão na cor amarela, da mesma forma


que foram efetuados os traços na cor branca.

56
PASSO 29

- Conclusão do que ficará em amarelo na pêssanka.

PASSO 30

- Para a aplicação da tinta


verde, não é aconselhável
mergulhar o ovo completa-
mente, como no caso do
amarelo. A cor verde deve ser
aplicada com o auxílio de um
palito de dente, somente no
local onde se deseja a essa cor.

57
PASSO 31

- Deixe a tinta ser absorvida


pela casca do ovo durante
alguns segundos e retire o
excesso, utilizando um papel
absorvente. Dobre o papel
para facilitar o trabalho e
cuide para que a tinta não se
espalhe além dos limites que
você deseja para essa cor.

PASSO 32

- Preencha os detalhes, em
verde, com a cera de abelha.

58
PASSO 33

- Mergulhe o ovo na tinta


laranja, na mesma forma da
etapa anterior com a amarela.

PASSO 34

- Depois de verificada a
absorção uniforme da cor
laranja, retire o ovo da tinta
e seque com o papel
absorvente.

59
PASSO 35

- Efetue a pintura dos traços com esta cor, com a cera de abelha, da
mesma forma feita na etapa anterior.

PASSO 36

- Concluída a etapa de preenchimento com a cor laranja, mergulhe


o ovo na cor vermelha.

60
PASSO 37

- Verificada a absorção, seque com o papel (não utilize o mesmo


papel para todas as cores).

PASSO 38

- Preenchimento do que se deseja na cor vermelha. Normalmente,


nesta etapa, são preenchidas grandes áreas com a cera. Neste caso é
possível que a pena seja carregada com maior quantidade de cera,
mas sempre com cuidado com eventuais erros nas extremidades dos
desenhos.

61
PASSO 39

- Conclusão da etapa em vermelho.

PASSO 40

- Mergulhar o ovo na tinta preta, e proceder da mesma forma que


nas etapas anteriores, com a verificação, retirada e secagem.

62
PASSO 41

- Agora é o momento de verificar como ficou o seu trabalho. Se o


ovo estiver vazio, com uma agulha ou prego, abra o furo original do
ovo, ou aproxime esta extremidade da chama da vela, e com o
papel, retire a cera que derreterá devido ao calor.
- Se mantiver o furo fechado, existe a possibilidade de o ovo estourar,
devido à pressão interna do ar quente.

PASSO 42

-Inicie a limpeza da cera, aproximando a pêssanka da chama da


vela. Utilize um papel absorvente para retirar a cera derretida.

63
PASSO 43

- Procure manter a seqüência de limpeza, indo das partes mais limpas


para as mais sujas. Aqueça o suficiente para derreter a cera; se
esquentar demais, pode queimar a casca e formar manchas.
- Também é importante aquecer o ovo ao lado da chama para desviar
a fuligem da queima.

PASSO 44

- Retirada final da cera.

64
PASSO 45

- Utilize um algodão para remover restos de cera que porventura


permaneçam na superfície, aquecendo também a pêssanka na chama
da vela.
- Nessa etapa deve ser observado se existem traços a lápis
aparecendo, eles devem ser eliminados com o algodão, mas se
mesmo assim, permanecerem, utilize uma borracha macia.

PASSO 46

- Frente da pêssanka concluída.

65
PASSO 47

- Lateral da pêssanka concluída.

PASSO 48

- Antes de envernizar, é aconselhável deixar a pêssanka secando por


uns três dias pelo menos.
- Início do processo de envernizamento da pêssanka, visando valorizar
e proteger o trabalho.
- Mergulhe a ponta do seu dedo no verniz e espalhe sobre a pêssanka.
O uso de pincéis também é possível, porém, menos prático.

66
PASSO 49

- Espalhe uniformemente o verniz sobre a pêssanka, formando uma


camada fina.

PASSO 50

- Utilizando um suporte próprio, deixe a pêssanka secando a camada


de verniz. Pode-se aplicar uma segunda demão nela, se achar
necessário.

67
4.2 OBSERVAÇÕES

Ao utilizar a tinta azul, rosa, roxo ou marrom, para detalhes,


você deverá aplicar como no caso da tinta verde, mencionada na
sequência apresentada anteriormente, porém com a pêssanka ainda
branca.
Algumas combinações de cores podem fornecer resultados
interessantes, como a aplicação do azul depois do amarelo, verde
depois do laranja, etc.
Existem muitas maneiras de se utilizarem as cores, as
combinações, enfim, é um leque grande de opções para se trabalhar
com as pêssankas, e somente com as experiências de cada artesão,
vão surgindo maneiras de se conseguir melhores resultados.
Como conselho, temos a dizer que, o que vai fazer com que o
trabalho saia bem feito é a persistência, o treinamento e a paciência.
Em média uma pêssanka pode levar de 2 a 6 horas para ser
considerada acabada, portanto, é preciso ter muita tranqüilidade.
Quando for iniciar uma pêssanka, livre-se de todas as coisas
cotidianas, deixe de lado toda a correria, os problemas, e concentre-
se somente no que você quer exprimir no seu trabalho, lembrando
sempre que todos os desenhos têm os seus significados.
E para concluir, como artesão, espero que este livro seja útil e
que Deus abençoe todos os nossos trabalhos, fazendo com que as
pêssankas tenham harmonia de cores e formas, e que o nosso espírito
esteja sintonizado com a arte, e que os significados tenham sentido
realmente.

68
FOTOS DE PÊSSANKAS DE
VILSON JOSÉ KOTVISKI

73
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi registrar a arte das pêssankas


para a posteridade da comunidade ucraíno-brasileira. Esperamos
que este pequeno estudo seja mais uma fonte de para as pesquisas
sobre os ucranianos e seus costumes, pois são escassas as fontes à
disposição.
Especificamente sobre a arte da pêssanka, até o ano de 2004,
data em que publicamos informalmente pela primeira vez este
material, não tínhamos registro de um trabalho semelhante, apesar
de toda a popularidade desta arte dentro do estado do P araná.
Se compararmos às comunidades ucranianas do Canadá e
Estados Unidos, somos muito carentes de fontes de pesquisas, pois
sabemos de diversos livros sobre cultura ucraniana, que foram
publicados por ucranianos da diáspora sendo inclusive referência
para nós aqui no Brasil.
A arte da pêssanka, sempre tão valorizada pelos meios de
comunicação da mídia brasileira, cada vez ganha mais espaço, e
apesar da simplicidade deste trabalho, espero que seja uma fonte
de apoio para a manutenção da tradição ucraniana especialmente
para quem quer aprender e não teve oportunidade.
Não sabemos que rumo irá tomar esta arte no futuro, mas
acreditamos que o princípio básico perpetuará para sempre, pois
uma arte com mais de cinco mil anos, não deverá se enterrada
nunca.

Vilson José Kotviski

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70
REFERÊNCIAS

AJUB – ASSOCIAÇÃO DA JUVENTUDE UCRAÍNO-BRASILEIRA.


Apostila de conhecimentos gerais ucranianos. União da Vitória: 2002.

ARQUIVOS da Paróquia São Basílio Magno. União da Vitória – Pr,


2002.

ARQUIVOS do Clube Ucraniano. União da Vitória – Pr, 2002.


ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS DE PÊSSANKAS DO PARANÁ.
Símbolos das pêssankas. Curitiba.

BURKO, Valdomiro. A imigração ucraniana no Brasil. 2.ed. Curitiba:


Cobrag, 1963.

CATÁLOGO “MUSEU UCRANIANO DE CURITIBA”. Curitiba, 1992.


CPUSKIEVICZ, Dozetéia. Ovos decorados na tradição ucraniana.
Apostila de Criação de Pêssankas. Curitiba.

GOETHE. A simbologia do ovo. Endereço eletrônico: http://


www.luzemisterio.com.br .

HANEIKO, Valdemiro. Em defesa de uma cultura. 1.ed. Rio de


Janeiro: Cobrag, 1974.

_____ . Uma centelha de luz. 1.ed. Curitiba: Kindra, 1985.


HORBATIUK, Paulo. Imigração ucraniana no Paraná. 1.ed. Porto
União: Uniporto, 1989.

71
KLEMCZK, Marina. Curso de confecção de pêssanka. Curso proferido
na Matriz de São Basílio Magno. União da Vitória: 2000.

MÊ ROSTEMO – BOLETIM INFORMATIVO DA AJUB. Curitiba: dez


2002/ jan 2003.

Olga´s Eggs Files. History of this art. Endereço eletrônico: http://


eggs-files.tripod.com/index.html .

ONYSCHUK, Odarka. Symbólika ukraínshkói pysanky. 1.ed. Toronto:


Vedano Avtoron, 1985.

STEVART, John F. Torturada mas inconquistável Ucrânia. 1.ed.


Curitiba: AJUB, 1983.

SZEWCIW. I. O milênio do cristianismo na Ucrânia. 1.ed. Curitiba:


Vicentina, 1988.

SZMULIK, Cornélio. Pêssanka – representação da força mágica do


sol. Curitiba.

TSVIETKOV, Viaczesláv. Pequena história da Ucrânia-Rush. 1.ed.


Curitiba: Eparquia Ucraíno-Católica de São João Batista, 1994.

ZALUSKI, Tarcísio. Páscoa, celebrações litúrgicas e costumes


populares. Prudentópolis: Prácia, 2001.

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