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Uma ideia na mão e uma câmera na cabeça: cinema na educação bilíngue de surdos e
surdas
As amigas, amigos e familiares pelo apoio, respeito e companheirismo diante das minhas
escolhas que envolveram a realização dos cursos de mestrado e doutorado.
Situated in the field of bilingual education for the deaf, this research is based on
problematizations about the relation between cinema and the education of the deaf. Looking to
discuss visuality and visual literacy issues, we present the objectives of investigating, analyzing
and discussing how cinema can collaborate with bilingual education for the deaf. We conducted
this study to try to understand how it can be done and what contributions education of the gaze
can offer in the field of bilingual education for the deaf and deaf. The way we carried out this
study was through qualitative research in special education, in which a short film by a group of
seven deaf teenagers participating in Libras workshops was recorded in a bilingual school. The
video recording process was described and analyzed in the light of the historical materialistic
theoretical and methodological framework on development, language, discursive practices and
editing in the cinema. The results indicate that the activity carried out promoted discursive and
dialogical practices favoring the development of Libras, the writing of the Portuguese language,
the formation of concepts and the reading of images from the education of the gaze. The results
also show that the activity can benefit other audiences besides deaf and deaf students. The study
also promotes important starting points and data sharing for further research.
Key words: Special Education. Images and deaf education. Cinema and education.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO.............................................................................................................6
1 EDUCAÇÃO ESCOLAR E VISUALIDADE .............................................8
1.1 IMAGENS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS................................................................15
2 CINEMA E EDUCAÇÃO DE SURDOS: NARRANDO COM
IMAGENS................................................................................................................................35
2.1 LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA........................................................................40
2.2 PEDAGOGIA DA IMAGEM........................................................................................49
2.2.1 Educação do olhar..........................................................................................................55
3 CINEMA E EDUCAÇÃO DE SURDOS: O QUE MOSTRA A LITERATURA
CIENTÍFICA...........................................................................................................................58
4 MÉTODO.....................................................................................................................81
4.1 NATUREZA DA PESQUISA.......................................................................................81
4.2 PROCEDIMENTOS ÉTICOS DE PESQUISA.............................................................83
4.3 LOCAL DE PESQUISA................................................................................................84
4.4 PARTICIPANTES DA PESQUISA..............................................................................85
4.5 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE
DADOS.....................................................................................................................................86
4.6 TRATAMENTO DOS DADOS PARA ANÁLISE.......................................................89
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES..............................................................................93
5.1 A MULHER QUE MATOU O HOMEM: O FILME...................................................93
5.2 POR TRÁS DAS CENAS: ESTUDO DO PROCESSO DE GRAVAÇÃO DO FILME
DE CURTA – METRAGEM....................................................................................................96
5.2.1 Uma ideia na mão.........................................................................................................96
5.2.1.1 A fase de preparação....................................................................................................96
5.2.1.2 A fase de pré-produção...............................................................................................109
5.2.2 Uma câmera na cabeça................................................................................................125
5.2.2.1 Fase de produção.........................................................................................................125
5.2.2.2 Pós-Produção..............................................................................................................133
5.3 PAPÉIS QUE A IMAGEM OCUPA NO PROCESSO DE GRAVAÇÃO DO
FILME.....................................................................................................................................140
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................144
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS.................................................................149
1
APRESENTAÇÃO
técnica para uso desses recursos, em níveis variados para diferentes atores
sociais envolvidos no processo educacional daquela escola.
Na mesma época do fim do projeto d e treinamento técnico, eu estava
em busca de tema e questões para a minha pesqui sa de doutorado e, diante
da demanda supracitada, nada mais conveniente do que resgatar minha
percepção inicial de possíveis relações entre cinema e educação de surdos
e elaborar um projeto de trato analítico para este tema. Ao mesmo tempo,
o projeto poderia contemplar a demanda por formação para uso dos
equipamentos e dispositivos adquiridos para o laboratório e,
evidentemente, conseguir o ingresso no curso de doutorado no mesm o
programa em que me formara no curso de mestrado em Educação Especial.
Uma vez aprovado no curso de doutorado, durante o processo de
busca por fundamentação teórica que contemplasse a cinematografia, pude
perceber que eu não possuía conhecimentos e refer enciais suficientemente
acumulados para tratar o que estava propondo. Diante dis so, além das
revisões da literatura na área, matriculei -me em curso de cinema de caráter
teórico e prático, no qual, através da produção de um filme de curta
metragem, tive contato com todas as etapas da produção de um filme
narrativo. Começou ali , a meu ver, a realização desta pesquisa, uma vez
que durante o curso de cinema, em cada aula e cada prática eu já procurava
relacionar aqueles conhecimentos com a educação de alunas e alunos
surdos.
Esta fase também me serviu como ponto de partida para o estudo
teórico sobre cinema e primeiras ressignificações dos objetivos de
pesquisa, me aprofundando nos estudos de cinematografia, mas
reconhecendo outras características do trabalho co m cinema que poderiam
ser explorados em ambiente escolar.
Outra demanda inicial para realização da pesquisa era o
conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Posso afirmar que
meu processo pessoal de aprendizagem formal dessa língua teve início há
cerca de 10 anos, enquanto representante discente do Conselho do Curso
de Pedagogia da Faculdade de Filosofia Ci ências e Letras, do campus de
Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, onde participei de
importantes discussões que diziam respeito à organização da matriz
4
INTRODUÇÃO
Este último grupo, dos que não adquiriram língua de sinais, acaba
por constituir o que comument e acontece nas escolas brasileiras, cabendo
aqui ressaltar o que foi citado na introdução deste texto: as crianças surdas
muitas vezes chegam à escola sem terem acesso à língua de sinais, ou com
uma aquisição parcial dessa língua, uma vez que a maioria dos sujeitos
surdos é filha de pais ouvintes (LACERDA e LODI, 2009).
Diferentemente do que acontec e com crianças surdas filhas de pais
surdos, crianças surdas filhas de pais ouvintes têm uma vivencia diferente
no contato com a língua de sinais. Imersa em amb iente oral, sua
visualidade não é necessariamente demandada nas situações de interação,
não aprofundando este aspecto da mesma forma. Apenas quando vai para
a escola, comunidade surda ou outro espaço social com a presença da
Língua de Sinais é que será dem andada a perceber de forma visual aspectos
linguísticos, que não emergem pela via da aquisição, ou seja, deve ser
aprendido.
14
1 . O d o m ín io d a s im a g en s m en ta is, im ag in ad as e o n ír ica s.
Est a s b r o tam d o p o d e r d e n o s sa s m en t es p ara co n fig u ra r
im ag en s. E la s n ão p r eci sam t er n ece s sar iam en te v ín cu lo s co m
im ag en s já p erc eb id as . A m en te é liv r e p a ra p r o jet ar fo rm a s e
co n f ig u r a çõ e s n ão n ec es sar iam en te ex i sten te s n o m u n d o fís ico ;
2 . O d o m ín io d a s im ag en s d ire tam en te p ercep tí v ei s. E s sa s s ão
16
as im ag en s q u e ap re en d em o s d o m u n d o v i sív e l, aq u el as q u e
v em o s d ir e tam en t e d a rea lid ad e em q u e n o s m o v em o s e
v iv em o s; 3 . O d o m ín i o d a s im ag en s co m o r ep re sen t açõ e s
v isu ai s. E la s co rre sp o n d em a d e s en h o s, p in tu ras, g rav u ra s,
f o to g r af ia s, i m ag en s cin em ato g r áfi ca s, tel ev i siv a s,
h o lo g r áf i ca s e in fo g ráf ica s (t am b ém ch am ad as d e “im ag en s
co m p u ta cio n a i s”) ( SA N TAELL A, 2 0 1 2 , Lo ca is d o k in d le 1 1 3 3
– 140).
1
A ci tação f o i co n su l ta d a em eb o o k ace s sad o atrav és d o ap li cat iv o k in d le e su a
lo ca liz ação se d á n o in ter v a lo d a s p ág in a s “1 3 3 – 1 4 0 ” e v ar ia n e st e in terv alo d e
aco rd o co m o t am an h o d a f o n te d e lei tu ra.
17
A u n iv er sa lid ad e d o h o m em se m an i fe st a n a p rá ti ca,
p r eci sam en t e n a u n iv er s alid ad e co m q u e faz d e t o d a a n a tu re za
seu co r p o in o rg ân ico , en q u an to a n a tu rez a é 1 ) s eu m e io d ireto
d e v id a, e 2 ) o m a ter i al, o o b je to e o in s tru m en to d e su a
ativ i d ad e v i tal (M A RX, 1 9 7 5 , p . 7 6 ).
além disso, é fundamental para o surdo, uma vez que sua forma possível
de perceber e representar o mundo será necessari amente por mediações de
ordem visual e gestual. Segundo Reily (2001),
processos que pouco ou nada tem a ver com a decifração letrada que a
verdadeira leitura propõe, Santaella (2012) argumenta:
2016) defendem a equiva lência literal das linguagens verbal e visual, nas
quais o procedimento de leituras de ambas seria o mesmo . Já para Santaella
(2012, locais do kindle 84 -85) “a imagem é uma realidade mui to distinta
do verbo” e, por isso, transplantar processos de leitura d a linguagem
verbal para leitura de imagens representa lançar mão de uma metáfora
equivocada:
Ex i ste u m a ex p re ss ão e m in g l ês , v isu a l li te ra c y , q u e, em b o ra
so e e sq u i s ita, p o d e ser trad u zi d a p o r “ let ram e n to v isu al” o u
“alf ab et iz ação v i su al”. Se lev ad a a sér i o , e s sa ex p re s são
d ev er i a s ig n if icar q u e , p ara ler m o s u m a im ag e m , d ev erí am o s
ser c ap az es d e d e sm em b rá - la p arte p o r p art e, co m o se fo s se u m
esc r ito , d e lê - l a em v o z alt a, d e d eco d if ic á - la , c o m o s e d eci fra
u m có d ig o , e d e trad u z i - la , d o m e sm o m o d o q u e t rad u z im o s
tex to s d e u m a lín g u a p ar a o u tr a. E m b o ra es s as m e táfo ra s ten tem
d ar co n t a d o q u e se p o d e faz er p ar a l er u m a im a g em , cr eio q u e
são m etáf o ra s eq u iv o ca d as, p o i s b u s cam tran s p lan t ar p ara o
u n iv er so d a i m ag em p r o ces so s q u e são t íp i co s d a lin g u ag em
v er b al ( S ANT AEL LA, 2 0 1 2 , Lo ca is d o K in d l e 7 9 - 8 4 ).
u m a ó p tic a ta ti li zad a, q u e to rn a m ó v e l n ão so m en te a im ag em ,
m as ta m b ém o p o n to d e v is ta. D is so d eco rr e q u e o c in em a n ão
é so m en t e a im ag em e m m o v im en to , é so b re t u d o o o lh o e m
m o v im en to , u m a c ert a f i g u ração d a m o b il id ad e e d a v elo c id ad e
( SA NT AELL A, 2 0 1 2 , L o cai s d o Kin d le 1 0 6 3 - 1 0 8 8 ).
36
Po r ex e m p lo , em u m fi l m e, a p er so n ag em ap are ce an d an d o n a
r u a e, n a cen a im ed ia t am en t e s eg u in te, ela e st á ab r in d o a
g elad e ir a d e c as a. Is so a co n tec e p o rq u e n ão in te res sa ao f ilm e
tr ab a lh ar co m o s tem p o s m o rto s, se m ação . A n o ss a m en te,
q u an d o h ab i tu ad a co m es se tip o d e lin g u ag em , p reen ch e o s
v azio s q u e l ev am d e u m a cen a a o u tra ( SA NT AELL A, 2 0 1 2 ,
Lo cai s d o K in d le 1 0 6 3 - 1 0 8 8 ).
Por outro lado, nos tornarmos críticos e questionadores não nos tira
necessariamente as emoções e reações, enfim, toda subjetividade que o
cinema pode nos suscitar. É intenção nesta investigação explorar o uso da
linguagem do cinema, enquanto linguagem visual, como possível meio
para práticas de letramento visual em ambiente escolar. Entendendo filmes
como prática dialógica, o aluno interlocutor surdo é para quem o discurso
deve ser direcionado ; no processo, filme e espectador se relacionam. Reily
(2008) ilustra modos como a linguagem cinematográfica nos envolve
Plano americano Plano um pouco mais fechado do que o plano geral, corta o corpo da pessoa na altura
do joelho
Plano médio Focaliza as personagens da cintura para cima e estabelece relação entre elas
Plano detalhe Fechado no que se quer mostrar, desprezando todas as informações ao redor
Plano sequência Gravação em mesmo plano sem cortes de uma sequência da ação em tem po real.
MOVIMENTO DE CÂMERA
Panorâmica Movimento de rotação em torno de um eixo da câmera
Zoom out Inicia com a imagem no plano detalhe e finaliza no plano geral
POSIÇÕES DE CÂMERA
Contra-plongée Câmera posicionada de baixo para cima, valorização do objeto enquadrado ou
personagem.
Plongée Câmera posicionada do alto para baixo, inferi orização do personagem ou objeto de
cena.
RECURSOS DE EDIÇÃO
Fade Clareação ou escurecimento da imagem. Usado para indicar longas passagens de
tempo e/ou mudanças muito bruscas no cenário.
Fade in Aparecimento gradual da imagem a partir da tela escura
Fade out Escurecimento da imagem que vai desaparecendo, pouco a pouco, até que a tela
fique completamente escura.
Tela dividida Tela que serve para interligar acontecimentos simultâneos, embora separados
fisicamente.
Máscara Recurso usado para criar a impressão de que o olho da personagem se aproximou
bastante de alguns objetos tais como buraco de fechadura, binóculos e etc..
r ela çõ e s d e e sp a ço e d e tem p o , p o r ex em p lo , m as co m o q u em
b u sca u m ad i tiv o te cn o ló g ico p ara in cre m en tar p ro c es so s
ed u cat iv o s em an d am e n to , d e sen c a d ead o s p o r ciên c ia s j á
co n so lid ad a s, co m o a B i o lo g ia, a Geo g r afia , a Hi stó r ia. Em b o ra
h o je f aç am p art e d a n o s sa fo rm a ção cu l tu ra l, t an to q u an to a
Lit er atu r a, a s im ag en s e m m o v im en to ain d a n ão co n s ti tu em u m
o b jeto d e e stu d o e m s i. Ela s a in d a são u m sim p l es m eio p ar a o
es tu d o d e o u tro s o b j e to s, p r io ri tár io s, p o rq u e c ien tíf ico s
( LEA ND R O, 2 0 0 1 , p . 2 9 ).
pontos, linhas, cor es, foco, entre outros, guiam o olhar para diferentes
partes da imagem, constituindo -se de um direcionamento literal.
Outra expressão utilizada por Santaella (2012) é ‘trei nar o olhar’,
que consiste em aplicações rep etidas de exercícios de leitura de imag ens
relacionadas com textos verbais , em diferentes dimensões, como
semântica, sintática entre texto e imagem, de vínculos, modos de
referência e outros (SANTAELLA, 2012).
Embora não conceituem a expressão ‘educação do olhar’, Maria
Ogécia Drigo e Luciana Coutinho Pagliarini de Souza, em seu artigo ,
“Educação do olhar: as representações visuais em foco” (DRIGO ; SOUZA,
2012), abordam o conceito de imagens enquanto representações visuais
proposto por Santaella (2012) para justificar o quanto o
O cinema como possibilidade de Pereira 2016 Cinema. educação de Universidade Federal https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/
língua outra na educação de surdos surdos. Currículo e do Rio de Janeiro public/consultas/coleta/trabalhoConclu
Doutorado linguagem. (UFRJ) sao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup
=true&id_trabalho=3902909
Cinema para libras: reflexões sobre a Anjos 2017 Janela de LIBRAS. Universidade de https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/
estética cinematográfica na tradução Tradução Audiovisual. Brasília (UNB) public/consultas/coleta/trabalhoConclu
de filmes para surdo Mestrado Cinema acessível. sao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup
=true&id_trabalho=5173373
A descrição de uma narrativa Pereira 2017 Narrativa sinalizada. Universidade Federal https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/
sinalizada baseada em planos Planos cinematográficos. de Santa Catarina public/consultas/coleta/trabalhoConclu
cinematográficos Mestrado Literatura surda. (UFSC) sao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup
=true&id_trabalho=6226907
Novos olhares acerca da construção da Mendes 2018 Subjetividade. Surdez. Pontifícia https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/
subjetividade em sujeitos surdos. Cinema. Universidade Católica public/consultas/coleta/trabalhoConclu
Doutorado de Goiás sao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup
(PUC-GO) =true&id_trabalho=6354028
Tabela 2: Teses e dissertações sobre educação de surdos
63
O autor não apresenta uma concepção clara de relação entre cin ema
e educação de surdos e surdas. Sua dissertação não trata especificamente
de educação, mas incorpora este corpus por contribuir para o debate sobre
a visualidade em narrativa s em Libras, frequentemente utilizadas nas
escolas.
O derradeiro trabalho aqui apresentado é a tese de doutorado de
Waléria Batista Da Silva Vaz Mendes, intitulada “Novos olhares acerca da
construção da subjetividade em sujeitos surdos”, defendida em 2018 , junto
ao programa de pós -graduação em educação da Pontifica Universidade
Católica de Goiás.
Em sua tese, Mendes (2018) não trata diretamente de educação de
surdos, mas vai buscar em Sigmund Freud e Jaques Lacan, conceitos da
psicanálise para discutir sobr e o papel da família no acolhimento das
crianças surdas na construção de sua su bjetividade.
A autora considera sua pesquisa como bibliográfica, escrita através
de ensaios. Após apresentar seu referencial teórico, realiza análise fílmica
de quatro filmes, com representações sobre surdos, surdas e surdez, mas
sem esclarecer os critério s para análise. Articulando em seu texto o
referencial teórico com as cenas dos filmes em sua análise indireta,
Mendes (2018) afirma ter comprovado suas hipóteses iniciais sobre a
importância dos pais na constituição da subjetividade das crianças surdas.
Não é apresentada uma relação direta entre cinema e educação de surdos,
mas quando conceitua cinema, Mendes (2018) se apoia na tese de
doutorado de Thoma (2002), adotando a visão de cinema como dispositivo
pedagógico, sem mencionar Foucault, mas assumindo o cinema como
instancia formadora.
Os trabalhos encontrados e consultados, em diferentes abordagens
tratam de objetos comuns, como representação surda (THOMA, 2012;
RAMOS, 2016; MENDES, 2018), aproximação entre a língua de sinais e
planos cinematográficos (CASTRO, 2012; VIERA, 2016; PEREIRA,
2017), legenda e acessibilidade (SANTOS, 2014; ANJOS, 2017) e fazer
cinema (CORREA, 2013; PEREIRA, 2016).
Os dois grupos, com três trabalhos cada, com temas congruentes
também seguem procedimentos metodológicos e/ou ins trumentos
75
coletivos, de cert a forma relacionado com a intenç ão de, com neste estudo,
não apenas investigar a produção fílmica dos participantes, mas também
sua relação com o fazer e ver cinema.
Ao discutir a história da legendagem e suas referências, Santos
(2014) nos coloca a par da história da exclusão e alienação dos surdos ao
conteúdo dos filmes, sob retudo dos filmes nacionais. Para pensarmos
qualquer relação de cinem a com educação de surdos precisamos considerar
a experiência dos alunos e alunas com o cinema, seu acesso, repertório,
enfim, condições de produção e apreciação cinematográfica. O quão é
fundamental o acesso ao cinema na sociedade atual.
Nessa mesma direção, Anjos (2017) propõe formato de legenda com
intervenção em filme de curta -metragem nacional. Suscitando também
ampliação de sua pesquisa, assim como outros modelos que possam surgir,
problematiza as questões de visualidade envolvidas na tradução
audiovisual para Libras, discutindo visualidade da Libras e estética do
cinema. Essa abordagem pode permitir dialogar diretamente com o
presente trabalho, problematizando a acessibilidade de surd os e surdas ao
cinema, ao mesmo tempo que trata de visualidade.
Essa problemática reforça uma premissa de nosso estudo de que,
diante da exclusão histórica, professores e alunos devem se apropriar dos
meios de produção de imagem na escola, e realizar seu u so superando a
lógica imposta do texto verbal como único meio legítim o de ensino e dando
à visualidade linguística surda a centralidade no processo de sua educação
escolar.
Atinente à linha de pesquisa ‘Produção científica e formação de
recursos humanos em Educação Especial’, do programa de pós -graduação
em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
o grupo de pesquisa ‘Surdez e abordagem bilíngue’ é interessado na
educação e atendimento de sujeitos surdos, em uma proposta bilíng ue de
inclusão escolar e social, assumindo uma perspectiva histórico cultu ral.
No contexto de diálogos sobre pesquisas recebi de pesquisadora do grupo
indicação de leitura de estudo realizado por Santiago Val Sánchez, da
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, da Universidad de
78
n o só lo ex is ten reg la s q u e p r es cr ib en la fo r ma c ió n d e i má g en e s
icó n i ca s p o r p a rt e d e l o s h a b la n t es so rd o s, si n o q u e a d emá s
exi st en , en a lg u n o s ca s o s, reg la s q u e p r es c rib en la fo rma en
q u e e sta s i má g en e s s e vin cu la n en t re s í, y q u e so n , a d emá s,
si mi la re s a la s u t il iza d a s en la s n a r ra cio n e s c in ema to g rá fica s
( VAL, 2 0 1 7 , p . 2 0 4 ) .
2
Fi lm e s n ão - v er b a is : o r i en taçõ e s p a ra su a u ti li za ção co m ap ren d i ze s su rd o s . Tr ad u ção
p ró p ria.
80
estamos falando, por quê vamos investigar este tema, para quê, como o
faremos e o que esperamos com este estudo . Assim posso dizer que o
estudo está desenhado da segui nte maneira:
O tema deste estudo é visualidade e cinema na educação bilíngue de
surdos, assim estamos falando sobre como o cinema pode se relacionar
com a educação de surdos contribuindo para ascensão da visualida de e
superação do texto verbal.
Investigamos este tema porque nos baseamos nas teorias de
Vigotsky sobre o papel da língua e da linguagem na formação das funções
psicológicas superiores e, dessa forma, entendemos que é através da
linguagem que aprendemos e nos desenvolvemos, é por meio da linguagem
que elas interagem com os adultos e consigo e se apropriam da cultura
historicamente construída.
O surdo não é visual, a Língua de Sinais é. A visualidade das línguas
de sinais se materializa em na própria combin ação de movimentos, pontos
de articulação, configuração de mãos, delimitações espaciais e expressões
faciais, por exemplo, o que possibilita a exploração de outros recursos
visuais.
Para as crianças surdas aprenderem e se desenvolverem é preciso
que sua interação com os adultos e consi go se dê através da língua e
linguagens visuais. Dessa forma se apropriam da cultura historicamente
construída, que desenvolve as funções psicológicas superiores. Na medida
em que a língua de sinais é gestual, contém como um d e seus parâmetros
o movimento. O cinema condensa a linguagem visual da imagem em
movimento que produz sentidos através da montagem. Estudos mostram
que narrativas em língua de sinais, por seu caráter de fundamento icônico,
podem ser relacionada com element os de linguagem cinematográfic a e
montagem Val (2017).
Diante da negligencia da escola para educação para imagens, é
preciso que se desenvolvam pesquisas que explorem o tema que envolve o
cinema e a educação de surdos. O cinema tem relação estreita de
contribuição com a educação brasi leira, e por seu caráter visual pode , a
partir de sua produção e execução, contribuir com a educação bilíngue de
surdos e surdas no contexto do letramento visual.
81
4. MÉTODO
4.1 – NATUREZA DA PESQUISA
3
Pro je to d e Tr ein a m e n to Técn ico n ív el 2 , p ro ces so FA PE SP 2 0 1 5 /0 6 2 9 1 - 2 ,
“ED U CA ÇÃ O I N CLU S I VA BI L ÍN GUE : In st a lação d e l ab o ra tó rio d e recu r so s
im ag é ti co s p ar a açõ e s p ed ag ó g ic a s n o am b ien te esco lar d o En sin o Fu n d a m en ta l”.
4
Não ig n o r am o s ca teg o r ia s já co n h e cid as d o o b j eto d e e stu d o em d i m en sõ e s so cia i s
m ai s am p la s, co m o a q u es tão h is tó ri ca d a s co n d içõ e s d e p ro d u ção d o s p ro fe s so re s,
h is tó ri a e co n d içõ es d e v id a d o s p ro fi s s io n ai s p arti cip an te s, d o al ij am e n to h i stó r ico
d e su rd a s e su r d o s à ed u cação e sco lar, a h i st ó r ia e co n d içõ es d e v id a d as cr ian ç as e
ad o le sc en te s p ar t ic ip an t es d o e stu d o , h i stó r ia d as in st itu içõ e s en v o lv i d as e t an t as
q u an ta s f o r em a s d eter m in açõ es p o ss ív e i s já d ad as o u q u e, ap e sar d e co n s t i tu íre m o
o b jeto em su a to ta lid ad e , n ão s ão ex p l ic itad a s aq u i, u m a v e z q u e n o s ref e rim o s ap en a s
82
5
Ver cap í tu lo 3 – Cin em a e ed u caç ão d e su rd o s: o q u e m o str a a li tera tu ra cien tíf ic a
83
6
Di sp o si tiv o s d e cap taç ão d e i m ag en s: S ma rtp h o n e Asu s zen fo n e 2 d el u xe e sp ec ia l
ed it io n , c âm er a d e a ção Átr io su p e r sp o r t , c âm er a d e aç ão Go p ro h e ro 4 , g rav ad o r d e
áu d io S o n y i c r eco rd e r , sma rtp h o n e Mo to ro la g 5 s, câ m era So n y D S H 3 0 0 e câm er a
So n y h a n d ca m cx 2 2 0 .
90
FI G U RA 0 2 – L OC AL D E A RM AZE NA ME NTO AP ÓS P RÉ - SE LE ÇÃ O.
A duração dos cortes nos vídeos não segue padrões, podendo varia r
de poucos segundos a muitos minutos e podem ser tratados e editados
utilizando-se de div ersos softwares disponíveis (GARCEZ; DUARTE;
EINSENBERG, 2011). Em nosso caso, optamos por editar os vídeos
utilizando o Windows Movie Maker , editor de vídeos com fun ções básicas
que permite montagem de filmes com vídeos, fotos, edição de créditos e
legendagem.
Com o primeiro corte de análise obteve -se um novo volume de dados
(92 fotos e 06 vídeos com duração total de 54 minutos e 20 segundos), que
por sua vez, foi ut ilizado como material para montagem dos filmes com as
unidades de análise.
Dessa forma p udemos agrupar as diferentes unidades tratadas em
diferentes fases do processo. Para visualização dos resultados a seguir,
optamos por apresentar no corpo do texto al gumas fotos digitais com
representação significativa das fases do processo e a imagem de c ódigo de
barras bidimensional ( QR Code 7), que permite o acesso aos filmes com as
unidades de análises. As categorias temáticas analisadas compõem o
próximo item dest e texto.
7
P ara ter a ce sso ao co n teú d o co d if icad o em u m QR Co d e , é p rec i so d i sp o r d e u m a
câm er a em u m te lef o n e celu lar e u m ap l ic at iv o f eito p ara ler o có d ig o b i d im en sio n al.
Mu it a s v e ze s o ap l ica ti v o d a c âm er a d o c e lu la r já é h ab i li tad o a f azer es s a l ei tu ra.
Dev e - se ti r ar u m a f o to d a im ag em p e lo ap li ca tiv o q u e a co n v ert e i m ed i at am en t e.
93
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
8
Term o u ti li zad o n a ár e a p ar a r efer ir - se à fa se d e fin al iza ção d a s fi l m ag en s, cu jo
co n cei to ser á ab o r d ad o n o ite m ‘ 5 .2 .2 .2 Pó s - p ro d u ção ’ d e st e t ex to .
96
Em seguida, foi apresentada a figura 05, que causou reação diferente na turma,
que mais entusiasmada aderiu ao diálogo comentando ao reconhecer a personagem
representada, conforme excerto 02, após a figura 05.
FIGURA 05 - PLONGÉE
Maryna: “Conheço!”.
Yarosalav: “Conheço!”.
Fresenko: “Conheço! Harry Potter!”.
Pesquisador: (imitando sinal que Fresenko fez) “Harry Potter!?”.
Rosa: “H-a-r-r-y P-o-t-t-e-r”.
Maryna: (Balança a cabeça concordando).
Pesquisador: (para Alexander) “conhece?”.
Alexander: (balança a cabeça q não).
Fresenko: “Sim! Vi filme!”;
Yaroslav (aparentemente lembrando sinal diferente) “Harry Potter!”.
Intéprete: “E a pergunta? Onde está a câmera?”.
Maryna: “Em cima! De cima para baixo!”.
Fresenko: “em cima! de cima para baixo!”.
Yaroslav: ‘Harry Potter”
Pesquisador: (faz expressão com o corpo de como fica a personagem em
relação à câmera).
Yarosalav: “Tem Harry Potter, tem” (se referindo ao sinal)
(Tradução própria. Excerto 2 do corte 1. Período 00’36” ao 01’05”).
O mesmo ocorreu com a figura do plano detalhe, com respostas rápidas, aproveito
para perguntar a diferença entre as duas e os comentários seguem após a figura 07.
também com as relações entre as imagens com o posicionamento das câmeras. Outra
impressão inicial registrada dessa forma foi entre a participação e pertinência nas
respostas pelas alunas e alunos mais fluentes em Libras.
Partimos então das impressões iniciais, como aparência desse objeto específico,
para nossas primeiras abstrações, que nos levaram a associar o fato da turma não ter a
mínima dificuldade com os conceitos de construção de planos e enquadramentos
apresentados por já se comunicarem assim o tempo todo, uma vez que tanto a Libras
quanto a linguagem cinematográfica são expressões visuais e tem sempre seu espaço
delimitado por esses elementos.
Enquanto os limites de enquadramento dos planos cinematográficos são os
tamanhos da tela em que são reproduzidos, na Libras seus limites são delimitados por um
dos parâmetros das línguas de sinais, a locação, que pode ser compreendida, segundo
Quadros e Karnopp (2004), como a área que contém todos os pontos de articulação dos
sinais e que compreende um número limitado de locações que são: tronco, cabeça, mãos
e espaço neutro, que é o espaço à frente do corpo da pessoa que sinaliza e, subespaços
como o nariz, boca, ombros e etc. (QUADROS E KARNOPP, 2004).
Algumas aproximações entre a Libras e a linguagem cinematográfica foram
levantadas neste estudo a partir da revisão de literatura, representadas aqui pelos estudos
de Castro (2012) e Pereira (2017) que buscam fazer correspondências entre os planos
cinematográficos e as expressões em narrativas em Libras e Vieira (2016), que identifica
484 usos de planos em três narrativas. Podemos acrescentar que as línguas de sinais têm
valor cinematográfico e que são como a tela do filme (BAHAN, 2006).
Passamos então para a atividade de criação do filme, começando pela história que
contariam. Como ponto de partida para essas atividades, adaptamos um tipo de
brainstorm comumente usados em exercícios de criação de roteiros conhecido no meio
como ‘fichas PLOSAT’, que são iniciais de Personagens, Locação, Objeto, Situação e
Tempo (clima).
A apresentação da atividade foi realizada em projeção na lousa branca, com o
título de “Nossa cena precisa de:” com os elementos PLOSAT na vertical. A atividade foi
profícua no sentido de promover entre a turma, em Libras, os primeiros debates,
discussões e negociações para a escolha de cada elemento, com eventuais e breves
intervenções.
102
FIGURA 08 – PLOSAT
Foto: pesquisador
A partir dessas relações, perguntei à turma ‘Como fica nossa história?’. Diante
disso, Rosa e Maryna desenvolvem o argumento do filme.
Pesquisador: “Agora precisa pensar como transformar isso na história...”.
Rosa: “A menina de 18 anos entra na floresta com espada mata o homem luta
e mostra o frio!” (todos riem).
Pesquisador: “Muito bem! Certo! E vocês? Como história? (aponta para os
meninos. Alexander acerta tapa nas costas de Yaroslav) Que é isso?”.
Maryna: “Não pode tapa! Não pode tapa!”.
Pesquisador: “Vocês! Como história?”.
105
9
O tex to q u e r e su lto u d a a tiv id ad e n ão rep r es e n ta o g ên ero tex tu al ro t eiro , m a s o
d esen v o lv i m en to e s cr i to d o ar g u m en to d o fi lm e. A p alav ra ro t eiro g en era liz a o s t ex to s
esc rito s n a p r o d u ç ão d e f ilm es en co n trad o s n a li tera tu ra co n su lt ad a .
106
10
Ro n d a Jean Ro u sey é u m a atr iz n o rt e am er ican a , d u b lad o ra e lu t ad o ra d e lu ta liv r e
p ro fis s io n a l, ar t es m ar c iai s m is ta s e ju d ô co m g ran d e p o p u lar id ad e e n tre jo v en s e
ad o le sc en te s, à q u a l p a r te d a tu r m a fa z alu são n a e sco lh a d o n o m e , em ex p li ci to
p ro ce sso d ia ló g ico ex p r e s so p o r a lg u n s, e a té aq u ele m o m en to d es co n h ec i d o d e o u tro s.
108
11
Ofi cin a s s ão r e ali zad a s n o co n tr a tu rn o e a m a i o r p art e d o s a lu n o s su rd o s d ep en d e
d o tran sp o r t e e sco lar , j á q u e m o r am d i s tan te d a e sco l a e s e d e slo cam em fu n ção d a
esco la ser u m p ó lo d e ed u cação b i l in g u e. Po r v ez es , o tran sp o r te e sco l ar n ão co n seg u ia
aten d e r e ste s alu n o s n a s ativ id ad e s em co n t ra tu rn o o q u e p reju d icav a a freq u ên c ia e
real iza ção d e alg u m a s a t iv id ad es .
110
12
A e sp ad a tem lâm in a r e tr át il q u e se ‘en co lh e’ o u ‘es ti ca’ co n fo rm e o co n tato d e su a
p o n ta co m o co r p o p ar a ev it ar f er im en to s.
112
Ro sa ( erg u e o b ra ço ). ..
Ya n a ( in te r ro mp e o ra l iz a n d o ) Nã o ! S o u eu !
Ma ryn a ( se d i rig e p a ra Ya n a ) “ Ca l ma ! Pa rec e c ria n ça !”
Pesq u i sa d o r mo st ra q u e a esp a d a é re trá ti l .
Ya n a : Qu e l eg a l!! !!
( T ra d u çã o p ró p ria , exc e rto d o p e río d o 0 2 ’1 5 ” a té 0 2 ’3 2 ”)
o p ró p rio p ei to ) p en se i, d en t ro d e u m p o t in h o , fech a , co lo ca
a q u i fu ra e sa i o sa n g u e !”
( T ra d u çã o p ró p ria , exc e rto d o p e río d o 0 5 ’1 2 a té 0 5 ’2 3 ).
FI G U RA 1 1 – T OC AN D O CA MP AIN HA
114
É a discussão que favorece que Rosa conheça o papel e fun ção social
de diretora e escolha ocupar esse lug ar. Notamos nessa parte do processo
como práticas discursivas podem favorecer a formação de conceitos.
A atividade segue com a revisão do que conversamos e os
combinados para o próximo encontro. Foi proposta atividade de pesquisa
na internet sobre como pro duzir o sangue cênico e solicitado que
escolhessem alguma parte do filme e desenhassem os quadros de como
deveriam ser filmad as essas partes , com exemplos na lousa de planos e
enquadramentos.
Passados trinta dias houve o segundo encontro da fase de pré -
produção 13. As atividades do dia deveriam ser de ensaios e testes,
manuseio dos equipamentos, planejamento da filmagem e entrega dos
documentos necessários para realização do filme.
Com a participação de quase toda a turma, ausência apenas de Rosa,
o encontro contou mais uma vez com a presença do instrutor surdo de
Libras que realizava intervenções quando julgava necessário diante de
eventuais entraves na comunicação com a turma.
O recorte desse processo, disp onível a seguir pelo Qr Code (figura
12), tem duração total de 08’03” e está organizado em duas partes,
preparação da equipe (início do corte até 04’59”) e práticas de produção
de arte e fotografia (05’00” até 08’03”).
13
A d i st ân ci a en tr e o s en co n tr o s se m o s tro u lo n g a, e sfr ian d o o s i n tere s se s e
d ificu lt an d o p ar a o p e sq u is ad o r a co n t in u id ad e d o p r o ce sso .
116
FI G U RA 1 2 – CO RT E 4
14
En ten d o q u e o lo n g o in ter v a lo en t re o s en co n tro s p o s sa ju s tif ica r a ap ati a e
d es in ter e ss e.
117
15
R ei tero a q u e st ão d a d i st ân ci a en tre o s en co n tr o s, ag en d a p o u co c lar a, o rg an iz ação
e cl arez a d a s tar ef a s, in t er f er in d o n a fo rm a d e c o m p ro m et er - s e.
118
Foto: Ivan
119
FI G U RA 1 4 – A NILI NA VE RM ELH A
Foto: Ivan
FI G U RA 1 5 – S AN G UE RO S A
Foto: Ivan
120
Foto: Maryna
121
FI G U RA 1 7 – CO R DE SA NG UE
Foto: Maryna
Foto: Maryna
122
Foto: Yaroslav
123
FI G U RA 2 0 – P RI MEI R O P LA NO
Foto: Alexander
FI G U RA 2 1 - PLA NO C ON JU NT O E P RO F UN D IDA DE DE CA M PO
Foto: Ivan
16
Term o u t il iz ad o p a r a s e r ef er ir a q u a lq u er fi l m ag em em am b ien t e ex t ern o , fo r a d e
es tú d io .
126
FI G U RA 2 2 – E XOE SQ UELET O DE CI GA R R A
Foto: Ivan
Muitas questõe s discutidas entre a turma e entre a turma, intérpretes
e pesquisador buscando compreender o fenômeno, querendo aprender o
que era aquilo e o porquê e como acontecia denotam explicitamente o
potencial da atividade realizada em espaço não formal de ensino, mais
especificamente relacionado, nesse caso, com o ensino de ciências. A
transversalidade e multidisciplinaridade que a atividade proporciona
favorece a formação de conceitos, neste caso, partindo da curiosidade dos
alunos e concretizando -se nas práticas discursivas.
Chegando ao local escolhido para o início das filmagens, formamos
um círculo para conversar, e decidirmos como começar a filmar. Um
recorte de alguns registros de filmagens foi montado com exemplos de
soluções de imagens encontradas pela tur ma no momento das gravações.
O recorte tem 03’20” de duração e pode ser acessado através do seguinte
Qr code apresentado na Figura 2 3:
127
FI G U RA 2 3 – CO RT E 5
FI G U RA 2 5 – TE MO S/ N ÃO T EM OS
Foto: Yana
FI G U RA 2 6 – TE MO S! CO R RI DA C OM “ TRA V EL LI NG ”
Foto: Yana
uma câmera lenta de bastidor (00’26” até 00’44”). Após essa tomada, a
turma conferiu as imagens e pude observ ar parte da seguinte interação:
Ro sa : “( .. .) f ico u co mp r id o . D emo ra p ra ch eg a r ”.
Ma ryn a : “d ep o is co rta ” .
Ro sa : “ Tem q u e co r re r ma i s rá p id o ”.
Ma ryn a : “Va i co lo ca r f l exã o n o meio ”(Fa z s in a l d e s eq u ên c ia ).
Alexa n d er : (o ra l iza n d o ) “F il ma e la d e p e rto , a ca ra d ela , eu
vo u co rr en d o ” .
Ro sa : “ Co m a câ m era n a ca b eça ”
Pesq u i sa d o r: “Po d e s er, ma s se q u i se r es se a q u i va i co rr en d o
d e c o s ta s, p rec i sa a lg u ém a ju d a r (a p r es en to u m d isp o s it ivo
es ta b i li za d o r p a ra fi lma g em co m ce lu la r co n fo r me f ig u ra 2 8 ) ”.
Alexa n d er : “ Eu vo u . Dá a q u i!” .
Foto: Ivan
Nos próximos cinco segundos do corte (01’02” até 01’07”) também
acontece uma representação de solução de imagem, no caso, filmar em
primeira pessoa. Na primeira tentativa, com a câmera na cabeça, o
resultado não havia satisfeito as diretoras, então fiz eram mais uma tomada
com a câmera posicionada na altura do peito de Ivan, que assumiu o papel
de dublê.
131
FI G U RA 3 0 – RO ND A S OR RI F ELIZ
Foto: Alexander
As atividades no set de filmagem continuaram com a fase de
desprodução, detalhada no tópico a seguir.
Após o lanche que marcou o fim das atividades, cada estudante foi
levado até sua residência. No transporte para casa aconteceram diál ogos
entre a turma, não sobre o tema da atividade do dia, mas sobre si, os
bairros onde moravam, a distância da casa de uns para os outros, enfim,
uma série de conversas que não pude registrar em vídeo ou acompanhar
completamente, mas que representa um dad o importante. Diferentemente
de todos os outros encontros, os diálogos acontec eram somente em Libras.
Estudantes da turma que não sinalizaram ou sinalizaram pouco durante os
quatro encontros, nessa ocasião dialogavam apenas em Libras entre si .
Esse tipo d e conversa é considerado por Bakhtin (2006) como algo
extremamente rico e impo rtante nos espaços de interação social e de
produção de sentidos no cotidiano e as vincula às esferas das diversas
ideologias formalizadas do corpo social, no sentido marxista do termo:
17
Cid ad e - sed e d o s 8 2 º Jo g o s Ab erto s d o In t erio r , as e sco la s serv iram d e alo j am en to
p ara o s a tle ta s.
135
Foto: pesquisador
Logo nos primeiros segundos muitos dedos apontados para a tela, ao
reconhecer os colegas na projeção. Alguns oralizavam os nomes de
Fresenko e Yana. Após a exibição de estreia e antes do making of um
acontecimento que marcou o evento ficou por conta da reação de uma aluna
de 9 anos de idade que chorou pela morte de Fresenko. A aluna foi
consolada pela intérprete e pelo instrutor surdo qu e explicaram que se
tratava de ‘faz de conta’, um fil me e que Fresenko estava ali e bem.
A aluna continuou chorando e parou ao assistir o making of, vendo
como foi feito o filme. Após isso, com a luz acesa, levantou -se para
abraçar Fresenko, registrado na figura 32.
137
FI G U RA 3 2 – A B R A ÇO NA NO VA F Ã
Foto: pesquisador
FI G U RA 3 3 – CO MEN T ÁR IO S D O E LEN C O
Foto: pesquisador
FI G U RA 3 4 – RE CO NH ECE ND O NA TEL A
Foto: pesquisador
O Making of deixa ver aqueles que estavam atrás das câmeras, na
produção, na direção de arte, na fotografia, na direção e dá visibilidade ao
processo.
Com essa sessão se encerrou o processo de gravação de filme de
curta metragem com alunos surdos da segunda etapa do ensino
fundamental. Buscamos descrev er esse processo para viabilizar a análise
com vistas às suas possíveis contribuições para a educação escolar de
estudantes surdos e surdas.
139
FI G U RA 3 5 – G OL PE S DE E S PA DA S
Montagem: pesquisador
FI G U RA 3 6 – S AN G RA MENT O S
Montagem: pesquisador
Foi revendo cenas de luta do filme kill bill vol 1 que, també m, num
processo dialógico no período de análise dos dados deste estudo que pude
143
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
____________, Para uma filosofia do ato responsável. Trad. a/c Valdemir Miotello &
Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro e João Editores, 2010.
NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão
Popular, 2011.
PARLATO, S. J. Nonverbal films: guidelines fot their utilization whit deaf Learners.
American Annals of the Deaf, 1980, Washington d.c., não paginado.
________, C. Por uma Didática da invenção surda: prática pedagógica nas escolas-
piloto de educação bilíngue no município do Rio de Janeiro. 2014, 365 f. Tese
(Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
XAVIER, I. Sertão Mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Brasiliense.
1983.