Você está na página 1de 7

O nosso trabalho centra-se muito naquilo que Vygotsky defendeu acerca do

desenvolvimento humano. A Psicologia do desenvolvimento foca-se nas principais


mudanças que ocorrem na criança ao longo do seu desenvolvimento, com a
interferência de fatores sociais ou culturais.

Durante a nossa vida, estamos constantemente a aprender, a ensinar e a ser


influenciados pelo meio. Muitas vezes, não pensamos quando agimos de certa forma
ou o porquê de agirmos assim. Por exemplo, abrimos o guarda-chuva quando está a
chover para não nos molharmos. Parece uma atividade óbvia. Mas, no fundo, nós só o
fazemos porque foi assim que aprendemos e sempre vimos fazer. O nosso
desenvolvimento é complexo e inevitável. Certos “saltos” na nossa vida são
inconscientes, por exemplo, ao nascermos temos instintos apenas para chorar e sugar
o leite materno e, com o passar do tempo, à medida que nos vamos desenvolvendo,
aprendemos a andar, a saber comunicar, a escrever, ler, etc. Vygotsky dá uma
explicação acerca de como se dá este desenvolvimento. Mas para melhor
compreender a sua teoria, vamos explicar brevemente como foi o decorrer da sua
vida.

Lev Vygotsky nasceu no dia 17 de novembro de 1896 em Orsha, na Bielo-Rússia. No


ano de 1918 formou-se em Direito pela Universidade de Moscovo, tirando também,
paralelamente, cursos de História e Filosofia. Depois de se formar, trabalhou como
professor e investigador de diversas áreas: psicologia, pedagogia, filosofia, literatura,
deficiências físicas e mentais. Casou-se aos 28 anos com Roza Smekhova, com quem
teve duas filhas: Guita Vygotskaia e Asya Vigotskaia.

A partir das suas experiências através da formação de professores na escola local do


estado, dedicou-se ao estudo dos distúrbios de aprendizagem e de linguagem, das
diversas formas de deficiências congênitas e adquiridas, tendo-se graduado em
Medicina. Fundou o laboratório de psicologia da Escola de Professores de Gomel,
dando várias palestras que posteriormente foram publicadas no livro Psicologia
Pedagógica. Após ter participado no II Congresso de Psiconeurologia em Leningrado,
que é uma cidade russa, foi, posteriormente, convidado a trabalhar no Instituto de
Psicologia de Moscovo.

Em 1922 publicou um estudo sobre os métodos de ensino da literatura nas escolas


secundárias, onde, demonstrou grande interesse pela psicologia académica a partir de
trabalhos envolvendo problemas de crianças com deficiências, tais como: cegueira,
surdez entre outras.

Acabou por falecer em 1934, vítima de tuberculose, doença que o acompanhou


durante 14 anos.
Segundo Vygotsky, a ligação entre as pessoas, o contexto cultural em que vivem e são
educadas, assim como a própria linguagem, é o que maior influência tem no processo
de aprendizagem e consequentemente no desenvolvimento. Por este motivo, a sua
teoria denomina-se de histórico-cultural. Deste modo para entenderem melhor esta
teoria há necessidade de compreenderem 2 conceitos:

1. Zona de desenvolvimento Proximal


Segundo este existem dois tipos de desenvolvimento.
O desenvolvimento real que se refere àquelas conquistas que já são
consolidadas na criança, aquelas capacidades ou funções que realiza sozinha
sem auxílio de outro indivíduo.
Já o desenvolvimento potencial refere-se àquilo que a criança pode realizar
com auxílio de outro indivíduo.
A distância entre os dois níveis de desenvolvimentos damos de zona de
desenvolvimento proximal

A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não


amadureceram, mas que estão em processo de maturação, pelo que a criança aprende
melhor quando é confrontada com tarefas que impliquem um desafio cognitivo não
muito discrepante.

Vamos agora apresentar dois vídeos: um que fala um bocado acerca deste conceito e
outro que nos dá alguns exemplos de como pode ser realizada a aprendizagem, tendo
em conta a zona de desenvolvimento proximal.

2. Mediação

Existem dois tipos de elementos mediadores propostos por Vygotsky.

Os primeiros são os instrumentos. Ao se interpor entre o homem e o mundo, eles


ampliam as possibilidades de transformação da natureza: o machado permite um corte
mais afiado e preciso, uma vasilha facilita o armazenamento de água etc.

O segundo elemento é o signo, sendo caracterizado por “qualquer objeto, forma ou


fenômeno que representa algo diferente de si mesmo". A linguagem, por exemplo, é
toda composta de signos: a palavra cadeira remete ao objeto concreto cadeira. Deste
modo podemos imaginá-la agora mesmo sem a necessidade de a ver. Para o homem, a
capacidade de construir representações mentais que substituam os objetos do mundo
real é um traço evolutivo importante, para além de que é fundamental para a
aquisição de conhecimentos, pois permite aprender por meio da experiência do outro,
e consequentemente há uma internalização.

Uma criança, por exemplo, não precisa de pôr a mão na chama de uma vela para
saber que ela queima. Esse conhecimento pode ser adquirido, por exemplo, com o
conselho dos pais.

Temos aqui um vídeo que explica exatamente este conceito e ainda outro, que é o
conceito de internalização.

Agora vamos apresentar um vídeo que vai explicar um pouco da teoria de Vygotsky em
geral, para terem uma noção inicial. Depois vamos voltar a explicar.

Posto isto:

Vygotsky trabalha com teses dentro das suas obras nas quais é possível descrever uma
relação entre o indivíduo e a sociedade, em que afirma que as características humanas
não estão presentes desde o nascimento, nem são simplesmente resultados das
pressões do meio externo.

Segundo Vygotsky a linguagem é o instrumento mais complexo para propiciar a vida


em sociedade. Sem esta o ser humano não é social, nem histórico e nem mesmo
cultural.

Desde o nascimento, a criança emerge num mundo social, onde todas as atividades
humanas são mediadas pela linguagem, o que a leva a tentar interagir gradativamente
com o mundo. Deste modo vai se apropriando da linguagem nas suas relações, quer
seja, com objetos ou com os outros seres humanos.

Vygotsky, ao perceber que os primatas usam expressões faciais, gritos e urros para se
comunicar - algo que chamou de “pensamento pré-verbal” -, decidiu analisar crianças.

Reparando que elas passavam por um processo semelhante, concluiu que o


pensamento e a linguagem não têm a mesma origem e o progresso da fala não é
paralelo ao progresso do pensamento. Assim, o autor determina que no
desenvolvimento da linguagem e do pensamento distinguem-se dois momentos: uma
fase pré-linguística do desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no
desenvolvimento da fala. Depois, por volta dos dois/três anos de idade, a linguagem
pré-intelectual e o pensamento pré-verbal unem-se e dão origem à linguagem
intelectual e ao pensamento verbal.

Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases:

1. Linguagem social ou exterior


É a primeira a surgir, na tentativa de denominar e comunicar com o mundo. Por
exemplo, o balbucio, o choro e as primeiras palavras. Para ele estas raízes não são
predominantemente emocionais, mas sociais, como as risadas, sons inarticulados e
movimentos; configurando-se em uma fala afetivo-conativa.

2. Linguagem egocêntrica

É a transição entre a fala social e a fala interna, ou seja, representa o


processamento de perguntas e respostas dentro de nós, apesar de ainda não poder
ser considerado pensamento está bem próximo deste. Há uma passagem da
função comunicativa para a intelectual, pelo que a criança ao estar concentrada
em alguma atividade, por exemplo brincar, emite para si mesma o que está ou irá
fazer, em voz baixa, de modo a planejar uma resolução para a tarefa que realiza.

A fala egocêntrica é o que se diz quando nos referimos a “falar sozinho”, esta é
essencial ao desenvolvimento da criança uma vez que permite uma organização de
ideias e planejamento das ações.

3. Linguagem interior

É quando a criança abdica da vocalização egocêntrica, ou seja, vai adquirindo a


capacidade de “pensar” sem precisar de falar em voz alta.
O pensamento torna se mais profundo, havendo uma formação de ideias, o que
muitas vezes nos leva a não conseguir exprimir um pensamento, uma vez que o
pensamento não coincide de forma exata com as palavras. O pensamento vai além,
uma vez que capta as relações entre as palavras de uma forma mais complexa do
que quando falada ou escrita.

Segundo Vygotsky, é no exercício da linguagem que a criança a desenvolve.

Ao nascer a criança apenas tem funções psicológicas elementares (comuns aos animais
e aos humanos) e a partir da aprendizagem da cultura, estas funções transformam-se
em funções psicológicas superiores (especificamente vinculadas nos humanos), sendo
estas o controle consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade do
indivíduo.

Assim sendo é possível notar que para Vygotsky, o desenvolvimento depende da


aprendizagem, na medida em que se dá por processos de interiorização de conceitos.
Para este autor as condições biológicas não são suficientes para que o indivíduo realize
uma tarefa. Este tem de participar ou ter participado em ambientes e práticas
específicas que propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança se
vai desenvolver com o tempo (maturação), pois esta não tem, por si só, instrumentos
para percorrer sozinha o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas
aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta.
Embora considere que há pré-requisitos, derivados da maturação, para as realizações
cognitivas, este não lhe atribui um papel determinante no desenvolvimento, ou seja, a
maturação apenas influência o que a criança tem predisposição para conseguir fazer.
Por exemplo, ao nascer, a criança interage de forma elementar com o ambiente, ou
seja, tem uma ligação direta de estímulo-resposta. Porém esta já possui pré-
disposições biológicas que apenas se manifestam se o meio social, em que esta esta
inserida, for favorável para que isso aconteça.

Deste modo, a construção do desenvolvimento é prolongada e bastante complexa,


passando por uma série de transformações qualitativas em que um estágio é pré-
condição para o próximo.

Vygotsky defende assim a existência de 3 estágios de desenvolvimento, porém


também nos diz que estes não são fixos, uma vez que, o contexto social em que a
criança está inserida é que vai retroceder ou adiantar o desenvolvimento desta.

1. Primeira Infância (0-3 anos)

A criança utiliza o choro e o riso, por exemplo, como função de alívio emocional,
mas também como meio de contacto social e de comunicação. Ao longo do tempo
ela começa a demonstrar a capacidade de resolução de problemas práticos, muitas
vezes através da utilização de instrumentos e meios para atingir os objetivos. Este
estágio do desenvolvimento pode ser enquadrado na fase pré-verbal do
pensamento. Por exemplo, a criança é capaz de dar a volta ao sofá para agarrar um
brinquedo que caiu atrás dele e que não está à vista, apresentando uma
inteligência primária, que se caracteriza pela existência de um conhecimento
prático.

De acordo com estudos esse conhecimento prático independente da linguagem é


encontrado em primatas como o macaco-prego, que usa varetas para procurar mel
e insetos nas árvores.

2. Infância (3-10 anos)

O percurso do pensamento une-se com o da linguagem pelo que o cérebro passa a


funcionar de uma nova forma, dando origem à fala intelectual, com função
simbólica, generalizante, e ao pensamento verbal (fala egocêntrica), uma vez que,
que a criança ao estar concentrada em alguma atividade emite para si mesma o
que está ou irá fazer, em voz baixa, de modo a planejar uma resolução para a
tarefa que realiza.

É também nesta altura que desenvolve a atividade de comunicação de tipo


informativo e de controlo, ou seja, pede, dá ordens e pergunta. Mais para o meio,
deste estágio de desenvolvimento, esta demonstra abdicar da vocalização
egocêntrica. O pensamento torna se mais profundo, havendo uma formação de
ideias, o que lhe permite antecipar o que vai fazer. No final do estágio esta
demonstra imensa curiosidade em querer saber a causa e finalidade das coisas,
pelo que se diz que entra na fase dos “porquês”.

3. Adolescência (10-17 anos)

A criança passa a ser capaz de utilizar a lógica para resolver problemas, para
planejar o futuro e ver o mundo ao seu redor, deste modo, esta começa a criar
uma personalidade, com base nos conhecimentos que adquiriu, resultante da
interação sujeito/cultura.

Para Vygotsky a escola é um local de extrema importância no desenvolvimento da


criança, uma vez que é lá que ela aprende a ler, a escrever, entre tantas outras,
expandindo os seus conhecimentos.

No entanto, não é pelo simples facto da criança frequentar a escola que ela estará a
aprender e a desenvolver-se. Isso dependerá de todo o contexto, quer seja político,
económico, mas principalmente no que diz respeito aos métodos de ensino. Vou agora
mostrar um vídeo que mostra e explica o facto de Vygotsky não apresentar um
método de ensino concreto, mas valorizar uma forma de ensinar.

Aulas onde o aluno se limita a ouvir e memorizar a nova informação, não é suficiente
para que a aprendizagem do indivíduo seja realmente adquirida. Assim, e por este
motivo, o trabalho pedagógico deve estar associado à capacidade de avanços no
desenvolvimento da criança, valorizando o desenvolvimento potencial e a zona de
desenvolvimento proximal. A escola deve estar atenta ao aluno, valorizar os seus
conhecimentos prévios, trabalhar a partir deles, estimular as potencialidades dando a
possibilidade de este aluno superar as suas capacidades e ir além do seu
desenvolvimento. Para que o professor possa fazer um bom trabalho ele precisa de
conhecer concretamente o seu aluno, desenvolvendo diálogo e criando situações onde
este possa expor os seus conhecimentos.

Daí a importância da interação social, pois o contexto da sala de aula não se restringe
ao professor. Os colegas presentes podem ser importantes mediadores entre o
indivíduo e o objeto do conhecimento.

Nas suas teorias Vygotsky deu um grande contributo para o ensino não só de crianças
ditas “normais”, mas também para crianças com deficiências.

Olhando para essas crianças sem as desvalorizar, pois, para ele, se existem problemas,
existem também possibilidades. 
Por exemplo, indivíduos com deficiências auditivas, visuais, entre outras, podem
alcançar o mesmo desenvolvimento de uma criança dita “normal”, só que de modo
diferente, ou seja, por uma outra via, a lei da compensação (criar processos
adaptativos com o intuito de superar os impedimentos e as dificuldades que
encontram).

Apesar do organismo possuir essa capacidade, esta não se realiza espontaneamente,


só é conseguida a partir da interação com fatores sociais, uma vez que o
desenvolvimento resulta da junção de fatores externos e internos.

Deste modo, o limite biológico, converte-se assim no ponto de partida para o


desenvolvimento do psíquico e da personalidade de cada individuo.

Concluindo:

Vygotsky considera que a deficiência, defeito ou problema não constituiriam, em si,


um entrave para o desenvolvimento do indivíduo. O que poderia constituir esse
impedimento seriam as mediações estabelecidas, as formas de lidarmos com o
problema, negando relações sociais que possibilitam o desenvolvimento do indivíduo.
Para contrariar este problema, em vez de se centrar a atenção na noção de défice ou
lesão que impede ou limita o desenvolvimento da criança, a atenção é focalizada nas
formas como o ambiente social e cultural podem mediar relações significativas entre
as pessoas com necessidades educativas especiais e o meio, de modo que elas tenham
acesso ao conhecimento e à cultura.

Você também pode gostar