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A Teoria das Emotizações

INTRODUÇÃO

Há mais de 50 anos tenho me dedicado ao estudo da men-


te, em especial por intermédio da psicolinguística ou psiconeurolin-
guística, que é a interação entre fatores psicológicos, o substrato
neural e o comportamento, como atestam meus trabalhos publicados
nestas áreas.

Na maior parte do tempo, dediquei-me à inteligência e à


criatividade, área em que publiquei vários livros e artigos. Mas, para
progredir nestes assuntos, tive que me aprofundar também no estudo
do sistema nervoso central (SNC), dos sentimentos, das emoções,
sobre o estado de ânimo das pessoas, dos chamados sentidos espe-
ciais, sempre considerando os efeitos sobre o comportamento huma-
no. Após longos estudos sobre emoções, apresentei a tese de que a
inteligência depende mais do sistema límbico que do intelecto, a qual
apresentei em congresso, na Suécia, em 1984. Foi essa tese que
deu origem ao conceito de Inteligência Emocional. Tive também de
estudar os hormônios e as vias nervosas que registram e regulam os
sentimentos, as emoções, o estado de ânimo e a motivação. São
vias dopaminérgicas, noradrenérgicas e seretoninérgicas, além dos
neurotransmissores com receptores pelo cérebro todo. Eu precisava
entender que fatores regulavam a atenção, a ansiedade, o estresse,
a excitação e a depressão, sendo eu próprio uma pessoa com ten-
dência à bipolaridade.

Todo esse estudo com o maior propósito de ajudar pessoas


com problemas que podem ser resolvidos principalmente com reedu-
cação cognitiva, sem deixar de contar com a terapia medicamentosa
com orientação médica.

Foi por esse caminho que cheguei à Emotologia e sua prin-


cipal base, as emotizações, que constituem o objeto do presente
trabalho.

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A Teoria das Emotizações

Gostaria de deixar consignado nesta introdução que mais do


que nunca se ressalta a transitoriedade dos conhecimentos científi-
cos, pois se reconhece o princípio da falibilidade, apresentando-se
teorias que atendam pelo menos aos princípios da plausibilidade e
coerência, como é o caso da teoria das emotizações.

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A Teoria das Emotizações

A TEORIA DAS EMOTIZAÇÕES

A palavra “teoria” vem do latim “theoria”, esta do grego “the-


oria”, de “théoros”, “espectador”, do verbo “theasthai”, “observar”.
Realmente, o aspecto principal de uma teoria é que seja resultado de
observação, direta e/ou indireta, de fatos, acontecimentos, fenôme-
nos, comportamentos dos quais se deduz uma regularidade, em que
se encontram fatores comuns para gerar um conhecimento sistema-
ticamente organizado com o propósito de predizer, analisar ou expli-
car a natureza do comportamento de um conjunto especializado de
fatos, fenômenos e acontecimentos.

A palavra “emotização” é formada pelo latim “e(x)” (Ptonun-


cia-se /é/, (/éks/), “fora”, “para fora”, “motio” (Pronuncia-se /mócio/,
pela pronúncia tradicional e /mótio/, pela pronúncia reconstituída),
“ação de pôr em movimento”. daí formando-se o verbo “emotizar”,
com o sufixo “-izar”, que indica “ação repetida”, mais a terminação
“ação” e indica a ação de criar as condições para que energias sejam
mobilizadas por meio de emoções ou por lembranças destas. Assim,
a emotização é a ação de emotizar.

No campo científico, há teorias muito famosas, como as de


Sigmund Freud (1856-1939), a respeito da psicanálise, e as de Abert
Einstein (1879-1955), sobre a relatividade, e várias outras.

A principal base da Emotologia, no que se refere à mudança


de comportamento, de atitudes, de hábitos, de costumes, e no que
toca à mobilização de potencialidades como elemento de autorreali-
zação para a consecução de objetivos, de ser ou de ter, e também
no tocante à terapia breve com Emotologia, é a teoria das Emotiza-
ções. Emotização é a ação de se revestir a ação, o acontecimento, a
ideia, a lembrança, de emoções fortes, quer em acontecimentos reais
ou vividamente imaginados, que provocam registros moleculares,
mobilizando o sistema glandular endócrino, aquele cujas glândulas
que o compõem lançam hormônios diretamente na corrente sanguí-
nea, e por isso mesmo as lembranças ligadas a eles se tornam inde-
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A Teoria das Emotizações

léveis e formam o histórico psíquico, conhecido como a programa-


ção, o “script” da pessoa. Evidentemente, a emotização refere-se à
memória, mas a mente é mais abrangente que a memória. Nós po-
demos emotizar com rememoração de situações já emotizadas.

Como se viu, a palavra “emotização” indica o ato ou a ação


de “emotizar”, repita-se, que é revestir de fortes emoções, ou reme-
moração de sensações de fortes emoções, tomada esta palavra em
sua real significação de mobilizar energias para a ação, os aconteci-
mentos, os pensamentos, as ações provocando uma mistura de sen-
timentos de satisfação, de alegria, de entusiasmo criador (quando o
entusiasmo é dirigido a ações construtivas),fervor, enlevo, deleite,
arrebatamento e tudo o mais que mobilize o Sistema de Autopreser-
vação e Preservação da Espécie (SAPE), o qual identificamos com a
interação dos sistemas das emoções, com destaque para o sistema
límbico, mais o sistema glandular endócrino, provocando reações
psicossomáticas. As emotizações nos movem, nos impelem para
ações. Somente as informações que penetram no SAPE têm mais
chance de mudar comportamento. Mudando-se as emotizações, mu-
da-se a própria pessoa. Para criar novas emotizações deliberada-
mente, precisamos saber emotizar, revestir situações vividamente
imaginadas de sentimentos e sensações como emoções reais, che-
gando mesmo a imitar estes fortes sentimentos, de arrebatamento
inclusive; tomado por fortes sentimentos. Uma situação emotizada
pode gerar o que comumente se chama de privação de sentidos, isto
é, a pessoa inibe as atividades cognitivas ou intelectuais e passa a
agir guiada apenas por uma forte emoção.

Para chegarmos a um melhor entendimento sobre o que é o


SAPE, precisamos partir da explicação do que é “sistema”. Do grego
“systema”, de “synistanai”, “combinar”, de “syn”, “junto” e “histanai”.
“fazer ficar”. Sistema é “conjunto de elementos interagentes para
conseguir resultados”. Um dos princípios da Teoria Geral dos Siste-
mas é que o todo é maior que a soma das partes; por isso existe algo
incorpóreo nos sistemas, assim como uma alma, uma entidade gera-
da pelo conjunto em funcionamento. Eis aí o SAPE. E, em relação à
interação do sistema límbico, aí incluído logicamente o hipotálamo,
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A Teoria das Emotizações

mais o sistema glandular endócrino, surgindo o sistema SAPE da


combinação dos outros dois, envolvendo também o eixo hipotálamo-
hipófise-ad-renal. O hipotálamo desempenha papel tão importante
que o autor deste artigo já o chamou de “o cérebro do cérebro”, em
livro publicado em 1985, e faz ponte entre o sistema límbico e o sis-
tema glandular endócrino para constituir o SAPE. Os hormônios pro-
duzidos a partir dessa interação exercem papel fundamental nas res-
postas a estímulos internos e externos.

Assim como existe o verbo “racionalizar” para expressar “a


procura de compreender ou explicar uma situação de maneira racio-
nal, lógica, coerente; afastando o envolvimento emocional”, sentimos
a necessidade de criar um verbo para expressar o envolvimento e-
mocional na percepção de fatos, eventos, acontecimentos, etc. e
assim surgiu o verbo neológico “emotizar”, que se contrapõe a “ra-
cionalizar”. Aquilo que racionalizamos não nos prejudica psicossoma-
ticamente, pois não envolve os sistemas das emoções e não aciona
o sistema glandular endócrino, vale dizer, não envolve o SAPE e,
consequentemente, não gera reações no organismo. Se aprender-
mos a racionalizar, estaremos adquirindo uma ferramenta para evitar
que certos acontecimentos, aborrecimentos, traumas nos prejudi-
quem emocionalmente, da mesma forma que, se aprendermos a
emotizar, estaremos adquirindo uma ferramenta para mobilizar po-
tencialidades e energias que nos conduzirão a conseguir resultados
de ser ou de ter.

A emotização, ao mobilizar o sistema glandular endócrino


produz energia pelos hormônios e por isso dizemos; por exemplo,
que uma pessoa defende suas ideias “de maneira acalorada”, “com
ardor”, “a discussão estava quente”, “cabeça quente”, “no calor das
discussões”, pois isso e literalmente verdade, tendo em vista a pro-
dução de energia. Há situações, boas e más, que emotizamos nor-
malmente e depois, todas as vezes que as recordamos, estamos nos
favorecendo, no caso das boas, ou nos prejudicamos, no caso das
más. Agora, surge a pergunta, como evitar que a lembrança de situ-
ações nos faça mal? A reposta é, analisando friamente, isto é, com o
mínimo envolvimento de emoções, ou como se diz muitas vezes,
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A Teoria das Emotizações

“racionalizando”, isto é, analisando do ponto de vista racional. Ao


falarmos em hormônios, estamos falando de química, a ciência da
composição, estrutura íntima, propriedades e relações da matéria e
por isso mesmo verificamos que muitos problemas da mente já são
resolvidos com medicamentos e prevê-se que esta será a maneira de
resolver, juntamente com treinamento comportamental, muitos pro-
blemas mentais. A emotização provoca a produção de hormônios
que vão atuar para a liberação de energia.

As emotizações encontram-se na base de vários problemas


mentais e emocionais e por isso delas também decorrem as solu-
ções, pois o que uma emotização construiu somente outra emotiza-
ção mais intensa pode superar ou modificar. Das emotizações par-
tem muitas saídas da mente. A mudança de ver e sentir as coisas
como recomenda a Emotologia nos faz viver mais e melhor.

Por meio da análise das emotizações, uma pessoa pode


chegar ao autoconhecimento profundo e esta análise pode também
ser feita com a ajuda de um orientador em Emotologia.

O conjunto de emotizações que uma pessoa acumula em


sua vida será responsável por seu histórico psíquico, por seu estilo
emocional, partindo daí os problemas da psique. “Psíquico” é o adje-
tivo referente à psique. Mas, o que é “psique”? Inicialmente, devemos
esclarecer que existe a forma “psiquê” para esta palavra, todavia não
é a preferida. ”Psique” vem do grego “psyche”, “espírito”, “vida”, “al-
ma”. “Psique” confunde-se com “mente”, que é uma palavra polissê-
mica, do latim mens, mentis, para a qual o Dicionário Saraiva dá as
seguintes significações: espírito, alma, razão, sabedoria, juízo, dis-
cernimento, inteligência, talento, gênio, pensamento, plano, projeto,
intento, memória, caráter, índole, sentimentos, valor, ânimo, cora-
gem, sentido, significação. A língua não gerou uma palavra para ex-
pressar a complexidade que é a mente, ainda com muitos aspectos a
serem desvendados. Um aspecto da formação da mente é resultado
do conjunto de emotizações que uma pessoa vai acumulando em
sua vida.

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A Teoria das Emotizações

Sigmund Freud chegou perto desta teoria das emotizações,


hoje tornada possível com os novos conhecimentos do cérebro, sur-
gidos nas últimas décadas e inacessíveis em sua época, mas escre-
veu sobre vários caminhos da mente, como transferência e resistên-
cia, e outras possibilidades do conjunto cérebro/mente.

Depois das teorias freudianas, a Teoria das Emotizações é a


primeira a apresentar explicações consistentes a respeito não só da
formação da mente como também como realizar mudanças no histó-
rico psíquico de modo a mobilizar potencialidades e mudar atitudes,
comportamentos diante da vida.

Uma das potencialidades humanas é a capacidade de ven-


cer dificuldades, de superar lembranças indesejáveis resultantes de
emotizações. Podemos usar essa potencialidade com a Lei da Emo-
tização Dominante, da Emotologia, a qual diz: “A ideia, a lembrança
que se vincula a uma emotização mais forte sobrepuja uma emotiza-
ção de intensidade menor”. Como o cérebro não distingue entre uma
lembrança ligada a acontecimentos reais de outra intensamente ima-
ginada, podemos superar as emotizações indesejáveis.

A teoria das emotizações baseia-se também no fato de que


o cérebro não distingue entre a lembrança de algo real que nos cau-
sou forte emoção de outra por nós vividamente imaginada, carregada
das sensações, de emoções. Pois em ambas as situações os circui-
tos cerebrais ativados são os mesmos.

Os mártires, pessoas que se deixam imolar por uma causa,


uma crença exemplificam o poder dos que creram. Os que creram
tinham maior emotização que a própria vida era capaz de proporcio-
nar. Os soldados que dão suas vidas pela pátria aprenderam a emo-
tizar este conceito a tal ponto que superaram o instinto de conserva-
ção da vida. Outro exemplo marcante de emotização é o da mãe
franzina que ao ver o filho diante de iminente perigo levanta enorme
pedra para soltar a perna do filho em um desabamento.

Conhecendo-se esta potencialidade humana de emotizar,


resta-nos criar condições para que as pessoas usem essa poderosa
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A Teoria das Emotizações

força a fim de conseguir resultados, quer na vida pessoal, quer na


profissional.

Ao se estudar profundamente o fenômeno da emotização,


com toda sua carga energética, chega-se à conclusão de que ela se
dá quando mobilizamos os sistemas das emoções, com destaque
para o sistema límbico, com o consequente envolvimento do sistema
glandular endócrino, que por suas funções de alta relevância para
nossas vidas, chamamos de Sistema de Autopreservação e Pre-
servação da Espécie (SAPE). O lado prático está em sabermos
mobilizar deliberadamente este sistema para atingir objetivos.

Somente as informações que penetram no SAPE são capa-


zes de mudar comportamento, e por isso mesmo, muitos cursos e
treinamentos específicos não dão os resultados previamente prome-
tidos e esperados, pois, nesta hipótese, as informações não atingi-
ram o SAPE. Esta afirmação tem enormes implicações no ensino, na
administração, na publicidade, no treinamento em geral e, em espe-
cial, no empresarial.

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A Teoria das Emotizações

EMOTIZAÇÃO E ENERGIA

Gostaria de concluir este ensaio com o tópico “emotização e


energia” que passamos a expor.

Quando acionam um controle remoto, as pessoas nem se


dão conta como estão lidando com o universo energético. O rádio, a
televisão, as comunicações via satélite e outras aplicações são pos-
síveis por causa da energia eletromagnética, que nós não vemos e
não acreditaríamos na sua existência se não fossem os resultados
práticos. Nós somos energia. Nosso organismo é uma usina química
e quem fala em química está falando no mundo energético, o mundo
do extremamente pequeno, o mundo da mecânica quântica. A pala-
vra “quântico” refere-se aos “quanta”, palavra esta que é o plural do
latim “quantum”, que indica “unidade indivisível de energia”. Esta
noção de partícula substitui o antigo conceito de átomo (do grego a,
“não” e temnein, “cortar”). Os conhecimentos de mecânica quântica
surgem no início do século XX e vêm em sequência da física newto-
niana (de Isaac Newton), a física dos corpos.

No universo energético, os iguais se atraem, portanto,


quando criamos um quadro mental e o emotizamos, nós mobilizamos
nosso SAPE, vale dizer, nosso sistema energético com as configura-
ções do que queremos conseguir em termos de resultados. Deste
modo, estamos dando existência em nossa mente ao que queremos
conseguir, sejam mudanças em nós mesmos, sejam coisas do mun-
do dos bens e as leis da Natureza se encarregarão de fazer surgir,
no mundo sensível aquilo que já existia energeticamente.

Há dois momentos na existência do que queremos conse-


guir: 1) a criação do quadro mental emotizado, com o maior envolvi-
mento possível dos sentidos, com cheiros, toques, gostos, ruídos,
visualizações; enfim, o que couber e 2) o surgimento no mundo sen-
sível.

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