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Modelagem

O dicionário Webster define modelo como “uma descrição simplificada de uma entidade ou processo
complexo” – como o “modelo de computador” dos sistemas circulatório e respiratório. O termo tem a sua raiz
no latim modus, que significa “uma maneira de fazer ou de ser; um método, forma, moda, hábito, maneira ou
estilo.” Mais especificamente, a palavra “modelo” é derivada do latim modulus, que significa essencialmente
uma versão “menor” do original. O “modelo” de um objecto, por exemplo, é tipicamente a versão em
miniatura ou a representação deste objecto. Um “modelo de trabalho” (como o de uma máquina) é algo que
pode fazer, numa escala menor, o trabalho que a própria máquina faz, ou se supõe que faça.
A noção de um “modelo” também passou a significar “uma descrição ou analogia usada para ajudar a
visualizar algo (como um átomo) que não pode ser observado directamente.” Também pode ser usado para
indicar “um sistema de postulados, dados e conclusões apresentadas como uma descrição formal de uma
entidade ou de uma situação comercial.”

Deste modo, um comboio em miniatura, um mapa da localização das estações do comboio mais
importantes ou a tabela de horário dos comboios, são todos exemplos de diferentes tipos de modelos
possíveis de um sistema ferroviário. O propósito deles é emular algum aspecto do sistema ferroviário real e
fornecer informações úteis para lidar melhor com as interacções em relação a este sistema. O comboio em
miniatura, por exemplo, pode ser usado para avaliar o desempenho de um comboio sob certas condições
físicas; o mapa das estações pode ajudar a planear o itinerário mais eficiente para se chegar a uma
determinada cidade; o horário dos comboios pode ser usado para determinar o tempo exigido para uma
determinada jornada. A partir dessa perspectiva, o valor fundamental de qualquer modelo é a sua utilidade.

Visão geral da modelagem na PNL

Modelagem do comportamento envolve a observação e o mapeamento dos processos bem-


sucedidos que formam a base de algum tipo de desempenho excepcional. É um processo de tomar um
evento complexo, ou uma série de eventos, e dividi-lo em pequenos segmentos suficientes para que o
evento possa ser recapitulado de alguma maneira. O propósito da modelagem comportamental é criar um
mapa pragmático ou ‘modelo’ deste comportamento que pode ser usado para reproduzir ou simular algum
aspecto deste desempenho por qualquer um que esteja motivado a fazer isso. O objectivo do processo de
modelagem do comportamento é identificar os elementos essenciais de pensamento e de acção exigidos
para produzir a reacção ou resultado desejado. Em oposição ao fornecimento de dados puramente
correlatos ou estatísticos, o ‘modelo’ de um comportamento particular precisa fornecer uma descrição do
que é necessário para realmente alcançar um resultado similar.

O campo da Programação NeuroLinguística (PNL) tem se desenvolvido além da modelagem dos


processos do comportamento e dos pensamentos humanos. Os procedimentos da modelagem na PNL
envolvem a descoberta de como o cérebro (“Neuro”) está operando, a análise dos padrões de linguagem
(“Linguística”) e a comunicação não verbal. Os resultados dessa análise são depois colocados em
estratégias de passo a passo ou programas (“Programação”) que podem ser usados para transferir essas
habilidades para outras pessoas e áreas.

De facto, a PNL começou quando Richard Blander e John Grinder modelaram os padrões de
linguagem e de comportamento dos trabalhos de Fritz Perls (fundador da terapia Gestalt), Virgínia Satir
(fundadora da terapia de família e da terapia sistémica) e Milton H. Erickson, M.D. (fundador da Sociedade
Americana de Hipnose Clínica). As primeiras ‘técnicas’ da PNL originaram-se dos padrões verbais e não
verbais que Grinder e Bandler observaram no comportamento desses excepcionais terapeutas. A implicação
do título do primeiro livro deles, A Estrutura da Magia (1975), era que o que parecia magia e inexplicável
tinha, muitas vezes, uma estrutura mais profunda que, quando iluminada, podia ser entendida, comunicada
e colocada em prática por outras pessoas afora os raros ‘magos’ excepcionais que tinham executado
inicialmente a magia. A PNL é o processo pelo qual as peças relevantes do comportamento dessas pessoas
foram descobertas e depois organizadas num modelo de trabalho.

A PNL desenvolveu técnicas e distinções para identificar e descrever os padrões verbais e não verbais
do comportamento das pessoas – isto é, os aspectos essenciais do que a pessoa fala e o que ela faz. Os
objectivos básicos da PNL são modelar capacidades especiais e excepcionais e ajudar para que essas
capacidades se tornem transferíveis para outras pessoas. O propósito desse tipo de modelagem é colocar o
que foi observado e descrito em acção numa maneira que seja produtiva e enriquecedora.

As ferramentas da modelagem da PNL permitem-nos identificar padrões específicos e reproduzíveis


na linguagem e no comportamento das pessoas que servem de exemplo. Enquanto a maior parte das
análises da PNL é feita, na verdade, observando e ouvindo essas pessoas que servem de exemplo em
acção, muita informação valiosa também pode ser reunida aos poucos dos registos escritos.

O objectivo da modelagem da PNL não é terminar com uma descrição ‘certa’ ou ‘errada’ do processo
de pensamento de uma pessoa em particular, mas sim fazer um mapa instrumental que nos permite aplicar
as estratégias que modelamos de alguma maneira útil. Um ‘mapa instrumental’ é um que nos permite agir
mais eficazmente – a ‘precisão’ ou ‘veracidade’ do mapa é menos importante do que a sua ‘utilidade’. Deste
modo, a aplicação instrumental das estratégias comportamentais ou cognitivas modeladas de um indivíduo
particular ou um grupo de indivíduos envolve colocá-las em estruturas que nos permitem usá-las para algum
propósito prático. Esse propósito pode ser similar ou diferente daquele para o qual o modelo foi usado
inicialmente.

Por exemplo, algumas aplicações de modelagem comuns incluem:

1. Compreender melhor alguma coisa desenvolvendo mais ‘meta-cognição’ sobre os


processos que formam a sua base – a fim de sermos capazes de ensinarmos isso, por exemplo, ou de usá-
lo como um tipo de “marca de referência.”
2. Repetir ou refinar um desempenho (uma situação desportiva ou de gestão) especificando
os passos seguidos pelo executor experiente ou ocorridos durante exemplos muito favoráveis da actividade.
Essa é a essência do movimento do ‘processo de reengenharia empresarial’ nas empresas.
3. Alcançar um resultado específico (como uma soletração eficaz ou o tratamento de fobias
ou alergias). Em vez de modelar um único indivíduo, isso é realizado, muitas vezes, desenvolvendo
‘técnicas’ baseadas na modelagem de diversos exemplos ou casos bem-sucedidos.
4. Extrair e/ou formalizar um processo a fim de aplicá-lo num conteúdo ou contexto
diferente. Por exemplo, uma estratégia eficaz para gerir uma equipa desportiva também pode ser aplicada
para gerir um negócio, e vice-versa. De certa maneira, o desenvolvimento do ‘método científico’ veio desse
tipo de processo onde as estratégias de observação e análises foram desenvolvidas para uma área de
estudo (como a física) também foram aplicadas noutras áreas (como a biologia).
5. Tirar dedução de alguma coisa que está vagamente baseada no processo real do
método. Um bom exemplo disso é a representação imaginosa de Sherlock Holmes realizada por Sir Arthur
Conan Doyle que era baseada nos métodos de fazer diagnósticos do seu professor da escola de medicina
Joseph Bell.
Estrutura profunda e estrutura de superfície

A PNL retira muitos dos seus princípios e distinções do campo da gramática transformacional
(Chomsky 1957, 1965) como uma maneira de criar modelos do comportamento verbal das pessoas. Um dos
princípios essenciais da gramática transformacional é que comportamentos, expressões e reacções
tangíveis são ‘estruturas de superfície’ que são o resultado de trazer as ‘estruturas mais profundas’ para a
realidade.
Essa é outra maneira de se dizer que os modelos que nós fazemos do mundo à nossa volta com os
nossos cérebros e a nossa linguagem não são o mundo em si, mas representações dele. Uma implicação
importante dos princípios da gramática transformacional é que existem múltiplos níveis de estruturas,
sucessivamente mais profundas na estrutura e organização dentro de qualquer sistema de codificação. Uma
importante implicação disso, com relação à modelagem, é que pode ser necessário explorar vários níveis da
estrutura profunda atrás de um desempenho particular, a fim de se produzir um modelo efectivo. Além disso,
diferentes estruturas de superfície podem ser reflexos das estruturas profundas comuns. Para uma
modelagem efectiva, é importante, muitas vezes, examinar múltiplos exemplos de estruturas de superfície
para conhecer ou identificar melhor a estrutura mais profunda que a produz.

Uma outra maneira de pensar sobre a relação entre a estrutura profunda e a estrutura de superfície é
a distinção entre “processo” e “produto”. Produtos são expressões ao nível de superfície dos processos
produtivos mais profundos e menos tangíveis que são a sua fonte. Assim, “estruturas profundas” são
potenciais ocultos que se tornaram evidentes em estruturas de superfície concretas como resultado de um
conjunto de transformações. Esse processo inclui tanto a destruição selectiva como a construção selectiva
dos dados.

A esse respeito, um dos desafios fundamentais da modelagem vem do facto de que o movimento
entre a estrutura profunda e a estrutura de superfície está sujeita ao processo de generalização, extinção e
distorção. Isto é, alguma informação é necessariamente perdida ou distorcida na transformação da estrutura
profunda para estrutura de superfície. Na linguagem, por exemplo, esses processos ocorrem durante a
translacção de estrutura profunda (como as imagens mentais, sons, sensações e outras representações
sensoriais que estão armazenadas no nosso sistema nervoso) para estrutura de superfície (as palavras,
sinais e símbolos que escolhemos para descrever ou representar a nossa experiência sensorial primária).
Nenhuma descrição verbal é capaz de representar completa ou acuradamente a ideia que ela está a tentar
expressar.

Os aspectos da estrutura profunda que se tornaram evidentes, são aqueles para os quais suficientes
ligações perdidas (extinções, generalizações, distorções) foram preenchidas para que o potencial oculto no
nível da estrutura profunda seja capaz de completar a série de transformações necessárias para se
tornarem evidentes como estrutura de superfície. Uma das metas do processo de modelagem é identificar o
conjunto completo de transformações suficientes para que uma expressão apropriada e útil da estrutura
profunda possa ser alcançada.

Capacidades de modelagem

O foco da maioria dos processos de modelagem da PNL é ao nível das capacidades. As capacidades
conectam as crenças e os valores a comportamentos específicos. Sem o como, saber o que alguém deve
fazer, e mesmo porque fazer isso, é basicamente ineficiente. Capacidades e habilidades fornecem os elos e
a alavancagem para revelar a nossa identidade, valores e crenças como acções num ambiente particular.

A propósito, o facto de que os procedimentos de modelagem da PNL tendem a focar-se nas


capacidades não significa que eles considerem somente este nível de informação. Muitas vezes,
a gestalt de crenças, valores, sentido do self e os comportamentos específicos são essenciais para produzir
a capacidade desejada. A PNL assegura que, ao focar-se nas capacidades desenvolvidas, serão produzidas
as mais práticas e úteis combinações da “estrutura profunda” e da “estrutura de superfície”.

É mais importante ter em mente que as capacidades são uma estrutura mais profunda do que tarefas
ou procedimentos específicos. Procedimentos são tipicamente uma sequência de acções ou passos que
conduzem à realização de uma tarefa particular. Habilidades e capacidades, entretanto, são frequentemente
“não lineares” na sua aplicação. Uma capacidade ou habilidade particular (como a capacidade de pensar
com criatividade ou de se comunicar efectivamente) pode servir como apoio para diferentes tipos de tarefas,
situações e contextos. As capacidades precisam ser capazes de serem “acedidas aleatoriamente” já que o
indivíduo precisa ser capaz de recorrer imediatamente a diferentes habilidades em diferentes momentos
numa tarefa, situação ou contexto particular. Ao invés de uma sequência linear de passos, as habilidades
estão, desta maneira, organizadas em torno do T.O.T.S. – um laço de feedback entre a) metas b) a escolha
de significados usados para executar essas metas e c) a evidência usada para avaliar o progresso com
relação às metas.

De acordo com a PNL, a fim de modelar efectivamente uma habilidade ou um determinado


desempenho, nós precisamos de identificar cada um dos elementos chaves do T.O.T.S. relacionados a esta
habilidade ou desempenho:

1. As metas do executor.
2. A evidência ou os procedimentos de comprovação usados pelo executor para determinar
o progresso com relação às metas.
3. O conjunto de escolhas usado pelo executor para alcançar a meta e os comportamentos
específicos usados para implementar essas escolhas.
4. A maneira que o executor reage se a meta não é atingida inicialmente.
Níveis de complexidade das habilidades e capacidades

Deve-se lembrar que as capacidades em si são de natureza e níveis de complexidade diferentes.


Algumas habilidades e capacidades são, de facto, compostas de outras habilidades e capacidades. A
capacidade de “escrever um livro” é composta pela capacidade relacionada com o vocabulário, gramática e
soletração da língua em que se está a escrever, bem como do conhecimento relacionado ao assunto do
livro. Elas são frequentemente referidas como “T.O.T.S. aninhadas,” “sub-laços” ou “sub-habilidades” porque
elas relacionam-se com os menores segmentos fora dos quais foram formadas as habilidades mais
sofisticadas ou complexas. A capacidade de “liderança,” por exemplo, é composta de muitas sub-
habilidades, como as que se referem à comunicação efectiva, ao estabelecimento de rapport, a solução de
problemas, ao pensamento sistémico, etc.

Desta maneira, o processo de modelagem em si pode ser dirigido para diferentes níveis de
complexidade com relação às habilidades e capacidades particulares.

1. Habilidades de comportamento simples envolveriam acções específicas, concretas,


facilmente observáveis que ocorrem dentro de curtos períodos de tempo (de segundos a minutos).
Exemplos de habilidades de comportamentos simples incluiriam: fazer um determinado movimento de
dança, entrar num estado especial, fazer pontaria com um arco, etc.
2. Habilidades cognitivas simples seriam processos mentais específicos, facilmente
identificáveis e analisáveis que ocorrem num curto período de tempo (de segundos a minutos). Exemplos de
habilidades cognitivas simples seriam: recordar nomes, soletrar, adquirir um vocabulário simples, criar uma
imagem mental, etc. Esses tipos de habilidades de pensamento produzem resultados comportamentais
facilmente observáveis que podem ser avaliados e que produzem feedback imediato.
3. Habilidades linguísticas simples envolveriam o reconhecimento e o uso de palavras
chaves, frases e perguntas específicas, tais como: fazer perguntas específicas, reconhecer e reagir a
palavras-chave, rever ou ‘retornar’ a frases chaves, etc. De novo, o desempenho dessas habilidades é
facilmente observável e avaliado.
4. Habilidades de comportamento complexo (ou interactivo) envolvem a construção e a
coordenação de sequências ou combinações de acções de comportamento simples. Capacidades como
fazer jogos de mão (magia), aprender uma arte marcial, executar uma jogada bem-sucedida num
determinado desporto, fazer uma apresentação, fazer um papel numa peça ou num filme, etc., seriam
exemplos das habilidades de comportamento complexo.
5. Habilidades cognitivas complexas são aquelas que exigem uma síntese ou sequência
de outras habilidades de pensamento simples. Criar uma história, diagnosticar um problema, solucionar um
problema de álgebra, compor uma canção, planear um projecto de modelagem, etc., seriam exemplos de
capacidades envolvendo habilidades cognitivas complexas.
6. Habilidades linguísticas complexas envolveriam o uso interactivo da linguagem em
situações (muitas vezes espontâneas) altamente dinâmicas. Capacidades como persuasão, negociação,
ressignificação verbal, o uso do humor, contar histórias, fazer uma indução hipnótica, etc., seriam exemplos
de capacidades envolvendo habilidades linguísticas complexas.
Claramente, cada nível de habilidade necessita de incluir e incorporar as capacidades, ou T.O.T.S.,
empregadas pelos níveis precedentes a ele. Desta maneira, tipicamente é mais desafiador e complicado
modelar habilidades complexas do que as simples; e é mais fácil aprender a modelar começando com
comportamentos e habilidades cognitivas simples antes de passar para tarefas mais complexas. Contudo,
frequentemente, as habilidades complexas podem ser “segmentadas para baixo” para um grupo ou
sequência de habilidades mais simples.

Metodologia da modelagem

Uma das partes centrais do processo de modelagem é a metodologia usada para colectar informações
e identificar aspectos relevantes e padrões relativos ao T.O.T.S. da pessoa sendo modelada. Enquanto a
forma padrão para colectar informações, como questionários e entrevistas, pode acessar algumas
informações são, muitas vezes, insuficientes na identificação das operações inconscientes ou intuitivas
usadas pelo especialista humano. Muitas vezes elas também assumem ou apagam informações importantes
com relação ao contexto.

Além dos questionários e entrevistas, frequentemente é útil e necessário, incorporar métodos mais
activos para colectar informação como encenações, simulações e observações da ‘vida real’ do especialista
no contexto. Embora a metodologia de modelagem da PNL emprega entrevista e questionários, a forma
primária da modelagem na PNL é feita comprometendo interactivamente o indivíduo a ser modelado com
múltiplos exemplos da habilidade ou desempenho que está sendo estudado. Isso fornece uma informação
de “qualidade mais elevada,” e cria a melhor chance de “capturar” os padrões mais práticos (da mesma
maneira que ter um modelo vivo é geralmente muito mais desejável para um artista trabalhar do que uma
descrição verbal).

Três perspectivas básicas em modelagem

Modelar muitas vezes exige que nós façamos uma descrição “dupla” ou “tripla” do processo ou do
fenómeno que estamos tentando recriar. A PNL descreve três posições perceptivas fundamentais a partir
das quais a informação pode ser colectada e interpretada: a primeira posição (associada na própria
perspectiva de alguém), a segunda posição (percebendo a situação a partir do ponto de vista da outra
pessoa) e a terceira posição (vendo a situação como um observador não envolvido). Todas as três
perspectivas são essenciais para uma efectiva modelagem de comportamento.

Existe também uma quarta posição perceptiva, que envolve a percepção da situação a partir da
perspectiva de todo o sistema, ou o “campo relacional” envolvido na situação.

Como a PNL pressupõe que “o mapa não é o território,” que “cada um faz o seu próprio mapa
individual de uma situação,” e que não existe um único mapa “correcto” de qualquer experiência ou evento,
tomar perspectivas múltiplas é uma habilidade essencial para modelar efectivamente um desempenho ou
actividade particular. Perceber uma situação ou experiência a partir de múltiplas perspectivas permite a
pessoa obter insights e conhecimentos mais amplos com relação ao evento.
Modelar da ‘primeira posição’ envolveria a nós mesmos testando algo e explorando a maneira que
“nós” fazemos isso. Nós vemos, ouvimos e sentimos a partir da nossa própria perspectiva. Modelar da
‘segunda posição’ envolve colocar-se ‘nos sapatos’ da outra pessoa que está sendo modelada, tentando
pensar e agir tão possível quanto essa pessoa. Isso pode fornecer importantes intuições sobre aspectos
significativos porém inconscientes dos pensamentos e acções da pessoa sendo modelada. Modelar da
‘terceira posição’ envolveria afastar-se e observar, como uma testemunha não envolvida, a pessoa a ser
modelada interagindo com as outras pessoas (inclusivé connosco). Na terceira posição, nós suspendemos
os nossos julgamentos pessoais e percebemos apenas o que os nossos sentidos percebem, como cientistas
ao examinar objectivamente um determinado fenómeno através de um telescópio ou microscópio. ‘Quarta
posição’ envolveria um tipo de síntese intuitiva de todas essas perspectivas, a fim de conseguir um sentido
para todo o ‘gestalt.’

Modelagem implícita e explícita

O desempenho hábil pode ser descrito como uma função de duas dimensões fundamentais:
consciência (conhecimento) e competência (acção de fazer). É possível saber ou entender alguma
actividade, mas ser incapaz de fazer isso (incompetência consciente). Também é possível ser capaz de
fazer bem uma actividade particular, mas não saber como se faz isso (competência inconsciente). O
domínio de uma habilidade envolve tanto a capacidade de “fazer o que você sabe” como “saber o que você
está a fazer.”

Um dos maiores desafios em modelar especialistas vem do facto de que muitos comportamentos
críticos e elementos psicológicos que lhes permitem distinguir-se são basicamente inconscientes e intuitivos
para eles. Como resultado, eles são incapazes de fornecer uma descrição directa dos processos
responsáveis pelas suas próprias capacidades excepcionais. De facto, muitos especialistas evitam, de
propósito, pensar sobre o que estão fazendo e como estão fazendo, com medo que isso interfira com as
suas intuições. Essa é outra razão porque é importante sermos capazes de modelar a partir de diferentes
posições perceptivas.

Uma das metas de modelagem é extrair e identificar as competências inconscientes das pessoas e
levá-las para a consciência a fim delas serem mais bem entendidas, optimizadas e transferidas. Por
exemplo, a estratégia inconsciente de um indivíduo, ou T.O.T.S., para “saber que perguntas fazer,” “surgir
com sugestões criativas,” ou “adaptar os aspectos não verbais do estilo de liderança de alguém,” podem ser
modeladas e depois transferidas como uma habilidade ou competência consciente.

Competências cognitivas e comportamentais podem ser modeladas tanto ‘implícita” como


‘explicitamente.’ Modelagem implícita envolve mover-se primeiro para a ‘segunda posição’ com relação a
pessoa que está sendo modelada a fim de construir intuições pessoais sobre a experiência subjectiva deste
indivíduo. Modelagem explícita envolve mover-se para a ‘terceira posição’ para descrever a estrutura
explícita da modelagem da experiência da pessoa pois assim ela pode ser transferida para os outros.

Modelagem implícita é primariamente um processo indutivo no qual nós compreendemos e


percebemos os padrões no mundo a nossa volta. Modelagem explícita é essencialmente um processo
dedutivo no qual descrevemos e colocamos estas percepções em prática. Os dois processos são
necessários para a modelagem efectiva. Sem a fase “implícita” não existe nenhuma base intuitiva efectiva
da qual construir um modelo “explícito”. John Grinder, como co-fundador da PNL, chamou à atenção de que:
“É impossível fazer a descrição da gramática de uma língua da qual não temos nenhuma intuição.” Por outro
lado, sem a fase “explícita,” a informação que foi modelada não pode desenvolver técnicas ou ferramentas e
transferida para os outros. A modelagem implícita em si mesma irá ajudar uma pessoa a desenvolver a
competência pessoal e inconsciente com o comportamento desejado (é a maneira como as crianças
aprendem tipicamente). Criar uma técnica, procedimento ou conjunto de habilidades que pode ser ensinado
ou transferido para os outros além de nós, exige algum grau de modelagem explícita. Uma coisa é, por
exemplo, aprender a soletrar bem, ou desenvolver uma boa defesa em karaté; outra coisa é ensinar uma
outra pessoa como fazer o que você aprendeu.

A PNL, de facto, nasceu da união da modelagem implícita com a explícita. Richard Bandler modelou
intuitivamente “implicitamente” as habilidades linguísticas de Fritz Perls e Virginia Satir através de vídeos
gravados e da experiência directa. Bandler era capaz de reproduzir muitas dos resultados terapêuticos de
Perls e Satir fazendo perguntas e usando a linguagem de maneira similar a que eles faziam. Grinder, que
era linguista, observou Bandler trabalhando um dia, e ficou impressionado pela capacidade de Bandler
influenciar os outros com o uso da sua linguagem. Grinder podia perceber que Bandler estava fazendo algo
sistemático, mas era incapaz de definir explicitamente o que era. Bandler também era incapaz de descrever
explicitamente ou explicar exactamente o que ele estava fazendo e como estava fazendo. Ele só sabia que
tinha, de alguma maneira, “modelado” algo de Perls e Satir. Os dois homens estavam intrigados e curiosos
para ter um conhecimento mais explícito dessas capacidades que Bandler tinha implicitamente modelado
destes excepcionais terapeutas – um conhecimento que iria permitir-lhes transferir isso como uma
‘competência consciente’ para outros. Nesse ponto Grinder fez uma proposta para Bandler: “Se você me
ensinar a fazer o que está a fazer, então eu lhe direi o que você está a fazer.”

De certo modo, o convite de Grinder marca o início da PNL. As palavras de Grinder encapsularam a
essência do processo de modelagem da PNL: “Se você me ensinar a fazer o que você está a fazer (se você
me ajudar a desenvolver a intuição implícita, ou a ‘competência inconsciente’, que você possui para que eu
também possa alcançar resultados similares), “então eu dir-lhe-ei o que você está a fazer” (então eu posso
fazer uma descrição explícita dos padrões e processos que nós os dois estamos a usar). Observe que
Grinder não diz: “se você me permitir observar objectivamente e analisar estatisticamente o que você está a
fazer, então eu lhe direi o que você está a fazer.” Grinder disse: “Ensine-me a fazer o que você está a fazer.”
A modelagem origina-se das intuições práticas e instrumentais que vieram da “liderança com experiência.”

Grinder e Bandler foram capazes de trabalhar juntos para criar o Metamodelo (1975) sintetizando (a)
as suas intuições compartilhadas sobre as capacidades verbais de Perls e Satir, (b) observações directas
(tanto ao vivo como em fitas gravadas) de Perls e Satir trabalhando, e (c) o conhecimento explícito de
Grinder sobre linguística (em particular, gramática transformacional).

Bandler e Grinder trabalharam em conjunto, mais tarde, para aplicar um processo similar para modelar
alguns dos padrões da linguagem hipnótica de Milton H. Erickson; nessa época Grinder também participava
na modelagem inicial “implícita” do comportamento de Erickson. Eles, e os outros desenvolvedores da PNL,
usaram desde então esse processo de modelagem para criar inúmeras estratégias, técnicas e
procedimentos em praticamente cada área da competência humana.

Este artigo está disponível no site de Robert Dilts sob o nome Modelind e foi
adaptado por Fernando Fraga

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