Título: O projeto (a)social do transhumanismo (1997-2010 provisório): [visão de

mundo, subjetividade e poder ]uma abordagem histórica

Problema central

Qual relação pode ser estabelecida entre o projeto intelectual do

Transhumanismo e o contexto histórico no qual ele se encontra inserido; isto é, em
relação às dimensões ideológica, econômica, ecológica e social contemporâneas?

Justificativa

A partir do início do século XX, pesquisadores de diferentes áreas, como a

lógica, a cibernética, engenharia, biologia, neurociência, entre outras, tiveram seus
estudos convergidos em dispositivos tecnológicos que alterariam radicalmente os meios
de produção e de comunicação humanos. Exemplos desses dispositivos estão na
computação em rede (a internet), da engenharia genética, da robótica, entre outros
produtos científico-tecnológicos que, de forma cada vez mais acelerada, inundam o
espaço terrestre.

Tais tecnologias, que ainda engatinhavam na metade do século XX, a partir de

seu último decênio, e início do século XXI, tornaram-se parte da realidade da maioria da
população mundial. Por exemplo, os dispositivos digitais, como os smartphones, Óculos
de Realidade Virtual, Assistentes virtuais inteligentes, tem reformulado a maneira como
os indivíduos e instituições se relacionam com a informação, facilitando seu acesso e
compartilhamento; os dispositivos mecânicos da área da robótica, tem aberto caminhos
para a automação na produção industrial; e a engenharia genética, presente na
agricultura industrial, na seleção animal e vegetal, tem aberto caminhos para a
intervenção nos seres humanos, para o tratamento de doenças e deficiências genéticas.

Com o crescimento exponencial da relevância dada aos dispositivos tecnológicos

nas sociedades modernas, consequências têm sido geradas nas diversas esferas da vida
humana. Este processo tem gerado um intenso debate nos círculos intelectuais e
científicos acerca dos impactos da tecnologia nos humanos. Nesse quadro histórico
surgiu o projeto do Transhumanismo, representando o lado dos entusiastas da
tecnologia, cujo objetivo é reunir pesquisadores em torno da ideia do aprimoramento
humano por vias tecnológicas.
 Autores transhumanistas, como Nick Bostrom, David Pearce e Max More,
defendem o uso de meios tecnológicos para o melhoramento da condição humana.
Segundo acreditam, a espécie humana pode superar sua natureza em termos fisiológico,
cognitivo, emocional e até moral pelo recurso da engenharia genética, da inteligência
artificial e a nanotecnologia entre outros dispositivos, em direção a um estágio pós-
humano.

Julgamos relevante a investigação do projeto do Transhumanismo devido à visão

de mundo que ele carrega – com valores éticos, epistemológicos e políticos –, que diz
respeito ao contexto tecnológico do capitalismo contemporâneo no qual emergiu. Pois
nos vemos, no século XXI, imersos em ambientes ocupados por tecnologias digitais
ubíquas, e vemos, também, surgir procedimentos médicos/cirúrgicos com potencial de
modificação corporal profundos, com ampla frequência, o que coloca o problema de
pensarmos esse processo histórico de maneira crítica.

As nuances do capitalismo no século XXI requerem abordagens que deem conta

dos fenômenos tecnológicos e de seu impacto nas organizações humanas. O
Transhumanismo, apesar de ser um projeto intelectual, pode ser uma das vias de acesso
para o conhecimento do imaginário ou da ideologia existente por trás desses fenômenos.

Um exemplo recente de relação simbiótica entre dispositivos tecnológicos e ser

humano, pode ser conferida no projeto Neuralink, do empresário Elon Musk, que
pretende criar um dispositivo que conecte o cérebro humana às máquinas digitais 1. Tal
exemplo não pode ser compreendido como uma exceção, mas como a regra no
desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, que cada vez mais lança mão da
computação, Softwares, Apps e redes sociais para a sua manutenção.

A relevância de investigar o projeto do Transhumanismo, diante deste cenário,

está em sua defesa radical do uso de recursos científicos/tecnológicos para
transformação orgânico-fisiológica dos corpos humanos; defesa esta que a cada dia
mais, ecoa na realidade concreta das sociedades modernas. Acreditamos que as ideias
transhumanistas, tais como aquelas expressas na Declaração Transhumanista
(BOSTROM. 2005, p. 26), acerca da possível expansão do potencial humano por meios
tecnológicos e científicos, devem ser problematizadas não somente dentro de um debate
lógico ou tecno-científico, mas também em sua dimensão histórico-ideológica.

1
Um pouco mais pode ser visto no link: https://en.wikipedia.org/wiki/Neuralink
 Trabalhos com propostas aproximadas às deste projeto, já vem sendo realizados
no cenário nacional, como é possível perceber pela busca dos termos transhumanismo e
pós-humanismo no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes e na

Objetivo central

Investigar como as ideias e a visão de mundo presente no projeto

Transhumanismo se relacionam com os fundamentos ideológicos do Capitalismo
contemporâneo e da cosmologia moderna.

Objetivos secundários

 Investigar a concepção de ser humano subjacente ao projeto transhumanista

 Investigar a concepção de ciência e tecnologia subjacentes ao projeto
transhumanista
 Investigar as possíveis consequências na subjetividade contemporânea que o
projeto transhumanista pode desencadear

Referências teórico-metodológicas

Tendo como pressuposto a defesa do Como Francisco Falcon menciona, citando

Skinner:

os conceitos ou as “idéias” não se esgotam uma vez (re)conhecido o seu significado; é

necessário saber quem os maneja e com quais objetivos, o que só é possível através do
(re)conhecimento dos vocabulários políticos e sociais da respectiva época ou período
histórico, a fim de que seja possível situar os “textos” no seu campo específico de
“ação” ou de atividade intelectual.
 Julgamos relevante a investigação de pressupostos ideológicos, epistemológicos,
e éticos do projeto do Transhumanismo, devido aos possíveis impactos que as hipóteses
defendidas por seus defensores podem gerar na esfera pública. A partir da defesa do uso
de dispositivos tecnológicos para o melhoramento da condição humana, os defensores
do transhumanismo apresentam uma concepção acerca do que é o ser humano, que
merece ser investigada de perto, para que não corramos o risco de manter uma postura
acrítica diante do acelerado fenômeno do crescimento tecnológico.

Autores norte-americanos, como Kass e Fukuyama (2002), tem sido nomes importantes
da crítica aos efeitos que algumas dessas tecnologias – acima de tudo, as provindas das
áreas biomédicas –, podem desencadear no ser humano.

Kass apresenta que o implemento acrítico dos recursos tecnológicos pode gerar
aumento de desigualdades e da perda da dignidade humana em diversas instâncias
(1972). pois acredita que a tecnologia moderna se assenta no desejo de dominação, e
portanto, os valor