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O início do texto Da Identidade Pessoal traz a crítica que Hume direciona à concepção
cartesiana acerca do Eu. Segundo esta concepção, o Eu seria uma entidade simples e contínua,
cuja existência era indubitável; além disso, o Eu seria a condição de existência das
percepções. Hume, por sua vez, afirma que não existe um Eu simples e contínuo em si, que
possa ser observado quando se é buscado. Pelo contrário, Hume afirma que quando tenta
encontrar em si esta entidade, o Eu, o que ele encontra é uma profusão de percepções distintas
e descontínuas.
De acordo com a perspectiva empirista de Hume, toda ideia real deriva de uma
impressão. Deste modo, para a ideia de Eu ser real – enquanto uma entidade simples e
contínua, que fundamenta a identidade pessoal –, ela deveria necessariamente provir de uma
impressão – igualmente simples e contínua –, com a propriedade de ser invariável ao longo de
toda a vida do indivíduo. Como tal impressão não existe, Hume afirma que a ideia de Eu
também não existe realmente.
Segundo Hume, não há nos homens um Eu, uma alma, ou uma substância eterna e
imutável. Em suas palavras, os homens são feixes de percepções variadas e descontínuas, e a
atribuição de uma identidade que as unifique em uma entidade simples provém da
imaginação; ou seja, ela é uma ficção. E o problema que mobilizará Hume é o de saber o que
faz com que os indivíduos atribuam uma identidade contínua e invariável a esse conjunto de
percepções variadas e descontínuas que os constitui.
Hume apresentará outra relação que faz como que atribuamos identidades a objetos
diversos, é a relação de causa e efeito. Nesse caso, as partes de uma matéria podem se
modificar radicalmente, mas na medida em que percebemos uma conexão entre um antes e
um depois, ainda assim atribuímos uma identidade a esse objeto. Ele utiliza o exemplo de um
indivíduo humano, que, de uma criança se torna um homem adulto sem perder sua identidade;
o mesmo ocorrendo com as plantas e outros animais.
Dos três princípios relacionais da mente humana, mencionados acima, Hume mobiliza
apenas o de semelhança e de causalidade para explicar a identidade pessoal. No caso da
semelhança, ele ressalta o papel da memória em despertar imagens de percepções passadas,
criando uma cadeia de percepções semelhantes de modo a criar uma ideia de continuidade.
Em relação à causalidade, ele também menciona a memória, mas em outro sentido. Hume
pontua que a mente humana é constituída de diversas percepções distintas, que se
influenciam, produzem e afetam umas às outras. E na medida que a mente humana se
modifica constantemente, a relação de causalidade é o elemento que propicia uma ligação
entre os seus diversos estados; pois cada diferença e transformação é conectada à outra numa
relação de causa e efeito.
Por fim, Hume fará uma associação da noção de identidade com a noção de
simplicidade. E apontará que para a imaginação, a estreita relação de diversas partes de um
mesmo objeto entre si, dão um efeito de simplicidade e indivisibilidade deste objeto, de modo
a fazer com que fantasiemos um centro que dê suporte à diversidade das percepções; que é
neste caso, a ideia de Eu.