Você está na página 1de 6

TESTES E EXAMES 12

Cotações

PROVA-MODELO DE EXAME 4 12N.O


o
11N.O
o
1
A A

GRUPO I 100

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A
Leia o poema.

ACIMA DA VERDADE ESTÃO OS DEUSES.


Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.

5 Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,


Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,

Porque visíveis à nossa alta vista,


10 São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.
Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa.
(Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

1. 
Comprove a supremacia dos deuses relativamente à ciência, justificando a sua 16 (10+6)

resposta com dois elementos textuais pertinentes.

2. 
Identifique o modo como o paganismo se manifesta neste texto poético. 16 (10+6)

3. 
Apresente duas características da filosofia de vida de Ricardo Reis presentes no 16 (10+6)

poema.

1
Prova-modelo de Exame 4

Cotações

PARTE B
Leia o excerto do poema “O sentimento dum ocidental”.

Nas nossas ruas, ao anoitecer,


Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.

5 O céu parece baixo e de neblina,


O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se d’uma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,


10 Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
15 Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,


De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
20 Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
Cesário Verde, Cânticos do Realismo.
O livro de Cesário Verde, Lisboa, INCM, 2015.

16 (10+6) 4. 
Identifique o espaço retratado e o modo como o sujeito poético o perceciona.

16 (10+6) 5. 
Caracterize o estado de espírito do sujeito poético relativamente ao espaço onde
se encontra.

PARTE C
20 (12+8) 6. 
A propósito de Cesário Verde, Ricardo Daunt escreveu:

“Atraído, contudo, como já frisámos, pelo dia a dia, pelo quotidiano, afasta-se de qualquer
intuito de fazer do poema um território filosófico […]. A sua obra atesta a presença de
um sujeito lírico que deambula pelo espaço urbano da civilização industrial, capturando
os variados recortes físicos e os múltiplos estímulos sensoriais da cidade labiríntica”.
Escreva uma breve exposição na qual comprove a veracidade da afirmação no que diz
respeito ao modo como Cesário Verde capta a realidade citadina.
A sua exposição deve incluir:
•  uma introdução ao tema;
•  u
 m desenvolvimento no qual comprove a veracidade da afirmação, explicitando
de que forma Cesário Verde capta a realidade citadina, fundamentando em, pelo
menos, um exemplo pertinente;

2
TESTES E EXAMES 12

Cotações

GRUPO II

 eia o seguinte texto e responda às questões.


L
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

NAVEGAR O MEKONG

“E nestes mesmos nove dias, nós os Portugueses, com licença do Embaixador


fomos ver algumas cousas que a gente da terra nos tinha gabado, de edifícios anti-
gos, templos sumptuosos e ricos, quintais, castellos, e casas que estavam ao longo
deste rio feitas por hum estranho modo de fortaleza e custo grandíssimo…”. Assim
5 descreve Fernão Mendes Pinto a sua passagem por Luang Prabang. Para um viajante
que dedicou duas décadas a percorrer o Oriente e que viu tudo o que um ocidental
nunca vira ou jamais sonhara, a sua descrição entusiasmada revela a riqueza e a
monumentalidade da antiga capital do Laos. […]
Vais precisar de alguns dias para visitar esta joia da Humanidade segundo a
10 UNESCO, portanto não tenhas pressa de continuar a subir o Mekong. Aluga uma bici-
cleta e perde-te no emaranhado de ruelas, reencontra-te no silêncio dos templos, passa
um dia pasmado nas grutas budistas de Pak Ou, que o teu compatriota Mendes Pinto
chamou de Lapa dos Penitentes, e em cada novo crepúsculo muda de esplanada nesta
cidade, que é como a proa de um navio sobre o encontro dos rios Nam Khan e Mekong.
15 Poderás então embarcar-te num “slow boat” para os dois dias de viagem rio acima
até à fronteira da Tailândia, uma das odisseias fluviais mais gratificantes de toda a
Ásia. A embarcação para ao final do primeiro dia na aldeiazinha de Pak Beng, onde
não terás tempo de procurar um hotel: eles encontram-te. No cais, dezenas de jovens
com brochuras de hotéis tentarão convencer-te a segui-los. […]
20 Muito bem, queres continuar ainda um pouco mais. A derradeira possibilidade de
navegares o Mekong é a de embarcares na Tailândia e seguires para a China através do
pedacinho de rio que pertence à Birmânia. Tranquilo, não precisas de nenhum visto
para o país dos generais, nem sequer te dão a possibilidade de desembarcar em territó-
rio birmanês. A embarcação sai três vezes por semana e demora nove horas de viagem
25 non-stop desde Chiang Saen, na Tailândia, até Jĭnghóng, na China – ou, para sermos
mais corretos, no Yunnan, essa província “para lá das nuvens” […]. Chegaste, na minha
opinião, ao lugar mais bonito da China. Agora, desembarca, sacode a humidade, põe a
mochila às costas. Tens a curiosidade em ebulição. Tens Dali, a mais bem preservada
das cidades medievais chinesas. […] Chegarás talvez ao Tibete, ao coração dos Hima-
30 laias, onde o rio é, por fim, apenas, uma memória. Aliás, várias memórias: as tuas.
Gonçalo Cadilhe, Navegar o Mekong, in goncalocadilhe.com/artigos/2011_mekong.pdf [em linha], (adaptado).

1. Ao longo do texto, Gonçalo Cadilhe 5

(A) faz uma exposição pormenorizada sobre as vantagens da navegação no rio


Mekong.
(B) faz uma apreciação crítica positiva sobre as cidades próximas do rio Mekong.
(C) descreve o início da viagem pelo Oriente, realizada por Fernão Mendes Pinto.
(D) relata uma viagem pelo rio Mekong, que o conduziu a locais diversos e fantás-
ticos.

3
Prova-modelo de Exame 4

Cotações
5 2. O recurso às aspas no primeiro parágrafo corresponde
(A) à transcrição da descrição da antiga capital do Laos pelo olhar de um viajante
português.
(B) ao relato de Fernão Mendes Pinto acerca da sua visita ao Embaixador de Laos.
(C) à citação de um guia turístico que promove viagens no rio Mekong.
(D) à introdução do diálogo entre o autor do texto, Fernão Mendes Pinto, e o leitor.

5 3. Para o autor, a visita proposta à antiga capital do Laos será mais proveitosa,
(A) se alugarem uma bicicleta, que os levará às esplanadas mais escondidas.
(B) se visitarem os templos de Luang Prabang, para reencontrarem os monges
budistas.
(C) se visitarem sem pressa e em deslumbramento os recantos de toda a cidade.
(D) se apreciarem a beleza do pôr do sol à proa de um navio que cruze o Mekong.
5 4. A oração “que dedicou duas décadas a percorrer o Oriente” (l. 6) classifica-se
como oração subordinada
(A) substantiva completiva.
(B) adverbial consecutiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) adjetiva relativa restritiva.

5 5. Em “perde-te no emaranhado de ruelas” (l. 11), o constituinte sublinhado desem-


penha a função sintática de
(A) modificador do nome restritivo.
(B) complemento do nome.
(C) complemento do adjetivo.
(D) complemento oblíquo.

5 6. Os termos sublinhados em “que é como a proa de um navio” (l. 14) exemplificam a
coesão
(A) lexical, através de uma relação de hiponímia/hiperonímia.
(B) lexical, através de uma relação de meronímia/holonímia.
(C) lexical, por substituição, através de uma relação de sinonímia.
(D) gramatical, referencial, pelo uso anafórico de pronomes.

5 7. A frase “Poderás então embarcar-te num ‘slow boat’” (l. 15) ilustra a modalidade
(A) epistémica com valor de probabilidade.
(B) apreciativa.
(C) epistémica com valor de certeza.
(D) deôntica com valor de permissão.

4
TESTES E EXAMES 12

Cotações
8. 
Indique o sujeito da frase “No cais, dezenas de jovens com brochuras de hotéis 5
tentarão convencer-te a segui-los.” (ll. 18-19).

9. 
Refira o valor deítico do termo sublinhado em “Agora, desembarca” (l. 27). 5

10. 
Classifique a oração “onde o rio é, por fim, apenas, uma memória” (l. 30). 5

GRUPO III 50
(30+20)

 onçalo Cadilhe é um português que viaja pelo mundo, dando-nos a conhecer magis-
G
tralmente os locais por onde passa.
Num texto de opinião, de 200 a 300 palavras, apresente as vantagens e as desvanta-
gens de viver ou de visitar Portugal.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre
cada um deles com um exemplo significativo.

5
Prova-modelo de Exame 4

PROVA-MODELO DE EXAME 4 – Proposta de correção GRUPO I – PARTE C


6. A afirmação remete para a atitude poética de Cesário
GRUPO I – PARTE A
Verde face ao espaço citadino concreto, afastando-se de
1. É na primeira estrofe que se percebe logo que, para o
uma dimensão filosófica.
sujeito poético, os deuses ocupam um lugar de destaque,
Efetivamente, e de acordo com as palavras de Richard
superiorizando-se à ciência em termos do conhecimento
Daunt, Cesário sente-se atraído pelo quotidiano citadino,
que detêm sobre o Universo, até porque eles se situam
o espaço urbano em que o sujeito lírico deambula, ser-
acima da “Verdade”. Por isso, no verso 2 pode ler-se
vindo-se dos seus órgãos sensoriais para o retratar nos
“A nossa ciência é uma falhada cópia” e também se
seus diferentes recortes. E a verdade é que tal pode ser
afirma que a ciência não os pode conhecer, não só por
confirmado em “O sentimento dum ocidental”, onde, nas
serem superiores mas também pela Natureza distintiva
quatro secções que o compõem, é visível a deambulação
que possuem (“Não pertence à ciência conhecê-los” –
de um “eu” que, desde o fim da tarde até altas horas da
v. 6; “São outra Natureza” – v. 12).
noite. Durante esse período temporal, vai percorrendo as
2. O paganismo evidencia-se na crença e na convicção de ruas labirínticas da cidade de Lisboa, retratando-a nega-
que os deuses existem e são uma força da Natureza tivamente, não só pela poluição aí visível mas também
que se superiorizam a qualquer outra. Além disso, o pelos contrastes sociais espelhados nos diferentes tipos
sujeito poético não admite que os questionem, mas humanos que circulam na cidade e que tão bem exempli-
que os adorem, ou seja, defende que não se duvide da ficam as desigualdades, as injustiças, que grassam nesse
sua existência e superioridade, como se pode ver em espaço claustrofóbico e nauseabundo.
“Mas adorar devemos / Seus vultos como às flores”, Em suma, a afirmação destaca de forma exata a atitude
defendendo ainda que estes são tão reais como as flores poética de Cesário Verde face ao espaço citadino.
(“São tão reais como reais as flores” – v. 10). 165 palavras
3. Para além do paganismo, que perpassa por todo o poema
GRUPO II
e se reflete na convicção de que os deuses existem e são
1. (D); 2. (A); 3. (C); 4. (D); 5. (B); 6. (B); 7. (A).
superiores aos homens, é possível também verificar-se
o tom moralista, pela vontade de levar os outros a 8. “dezenas de jovens com brochuras de hotéis”.
partilharem da sua filosofia de vida: “Tudo é tudo, e mais 9. Valor temporal.
alto estão os deuses” – v. 5 e “Mas adorar devemos / Seus 10. Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
vultos como às flores “ – vv. 7 e 8.
GRUPO III
GRUPO I – PARTE B
Resposta de caráter pessoal. No entanto, o aluno pode focar
4. O espaço retratado é um espaço citadino, mais concreta-
os seguintes aspetos, a serem organizados numa estrutura
mente a cidade de Lisboa, uma vez que se faz referência
tripartida.
ao Tejo e também ao bulício, aos edifícios, aos carros de
Introdução: apresentação do ponto de vista acerca do tema:
aluguer e à via-férrea, sendo até comparada à cidade de
viver ou visitar Portugal – vantagens e/ou desvantagens.
Londres, com a sua “cor monótona e londrina” (v. 8). Este
Desenvolvimento:
espaço é negativamente percecionado uma vez que des-
• vantagens em viver ou visitar o nosso país:
perta no sujeito poético “um desejo absurdo de sofrer”
− se é turista: clima ameno, paisagens diversificadas (praias
e, simultaneamente, de evasão pois considera felizes os
soalheiras, interior rural típico e acolhedor, planícies alen-
que se vão. Para além disto, o “eu”, ao anoitecer, só vê
tejanas, ilhas paradisíacas), património cultural e histórico,
soturnidade e melancolia, chegando a comparar os edifí-
simpatia dos portugueses, índice de criminalidade relati-
cios a gaiolas e os “mestres carpinteiros” a “morcegos”.
vamente baixo, boa gastronomia, vias rodoviárias, redes
5. O sujeito poético sente-se enclausurado, enjoado, per- diversificadas de transportes, habitação mais barata que
turbado, desconfortável, com uma sensação de tontura nos mais procurados países europeus…
e uma enorme tendência para a reflexão e a deambula- − se é cidadão português: para além dos aspetos referidos
ção como forma de fugir à tristeza e à melancolia que acima, acresce um bom sistema de saúde e proteção so-
caracterizam a cidade, espaço que vê como claustro- cial, boa formação de técnicos superiores…
fóbico. No fundo, há uma relação de causa-efeito entre • desvantagens em viver ou visitar o nosso país:
o espaço e os sentimentos disfóricos do sujeito poético: − se é cidadão português: falta de emprego para quadros
o negativismo associado à cidade influencia diretamente superiores (jovens), país da Europa que mais taxa os seus
o estado de espírito do “eu” que por ele deambula. contribuintes/cidadãos, comunicações e energia mais cara
do que nos outros países…
− se é turista: possibilidade de também sentir alguma inse-
gurança nas grandes cidades, em particular se vem de um
país mais evoluído…
Conclusão: síntese valorativa das ideias principais e retoma
do ponto de vista assumido na introdução.

Você também pode gostar