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SUICÍDIO: IMPACTO NA VIDA DOS SOBREVIVENTES

Teresa Cristina Pereira1

RESUMO
O presente estudo tem como objetivo contribuir para a compreensão do fenômeno do suícidio
entre os familiares sobreviventes suicídio. Como método foi realizada uma revisão integrativa
da literatura com busca nas base de dados eletronicos SciELO e PePSIC através dos
descritores: luto, morte, suicídio, sobreviventes. O levantamento bibliográfico apresentou
poucas pesquisas sobre o tema. Buscou-se responder a seguinte pergunta norteadora: quais
são as evidências científicas que contribuem para a compreensão do fenômeno suicídio entre
os familiares sobreviventes, nos ultimos 5 anos? Foram encontrados 13 artigos, dos quais
cinco nos critérios de inclusão. Os artigos apontam que os familiares sentem dificuldade de
lidar com o fenômeno suicídio, entram em “estado de choque”. Posteriormente começam a
conviver com o sofrimento e as repercussões da perda do familiar, para depois reconstruirem
a vida. É importante falar sobre o suicídio de um ente querido na família. As crenças, os
preconceitos e discriminações impostas pela sociedade, interferem no resultado das
intervenções preventivas.

Palavras-chave: Luto, Morte, Suicídio, Sobreviventes

ABSTRACT
The present study aims to contribute to the understanding of the phenomenon of suicide
among relatives surviving suicide. An integrative review of the literature with search in the
electronic databases SciELO and PePSIC was carried out using the descriptors: mourning,
death, suicide, survivors. The bibliographic survey presented little research on the subject. It
was sought to answer the following guiding question: what are the scientific evidences that
contribute to the understanding of the suicide phenomenon among surviving relatives in the
last 5 years? We found 13 articles, including five in the inclusion criteria. The articles point
out that family members find it difficult to deal with the suicide phenomenon, they enter into
a "shock state". Later they begin to live with the suffering and repercussions of the loss of the
familiar, and then rebuild life. It is important to talk about the suicide of a loved one in the
family. The beliefs, prejudices and discriminations imposed by society interfere with the
outcome of preventive interventions.

Keywords: Grief, Death, Suicide, Survivors

1 Advogada formada pela PUC/RJ em 1980, Psicóloga formada pela Estácio Fase em 2018, Pós-
graduanda em Psicodrama.
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1. INTRODUÇÃO

Falar acerca do tema desse trabalho, suicídio, é muito relevante nos dias atuais. O
autoextermínio é um fenômeno complexo e multifacetado, que pode afetar indivíduos de
diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero,
ocorrendo em todas as regiões do mundo.
O comportamento suicida está associado com a impossibilidade do indivíduo de
identificar alternativas viáveis para a solução de seus conflitos, optando pela morte como
resposta de fuga da situação estressante. Tal decisão pode estar relacionada a doenças
psíquicas, como, por exemplo, depressão, transtorno bipolar, alcoolismo, abuso/dependência
quimica, esquizofrenia, crise socioeconômica ou crises familiares.
O suicídio é um fenômeno que ocorre em todas as regiões do mundo. Estima-se que,
anualmente, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio e, a cada adulto que se suicida, pelo
menos outros 20 atentam contra a própria vida. Segundo dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS), o suicídio representa 1,4% de todas as mortes em todo o mundo, tornando-se,
em 2012, a 15ª causa de mortalidade na população geral; entre os jovens de 15 a 29 anos, é a
segunda principal causa de morte. A quantidade de casos de morte por suicídio possa ser
maior, porque alguns casos não são devidamente notificados. (MINISTÉRIO DA SAUDE,
2017).
Diante dessas estatísticas, percebe-se que a discussão sobre o tema suicídio é de
grande relevância para a prevenção da incidência de óbitos por esta causa, bem como para a
conscientização da população de que o tema precisa ser mais valorizado e deixado de ser visto
com preconceito. Em razão do aumento de número de casos de suicídio a cada dia que se
passa, a consequência direta é o aumento da quantidade de enlutados, gerando por esta razão
sequelas no grupo familiar e amigos que vivenciaram seus impactos e buscam entender a
amplitude e os efeitos desse ato em suas vidas.
Indivíduos que perdem um ente querido por suicídio pertencem a um grupo de risco
para comportamento suicida, isto é, o sobrevivente pode ter o desejo de tirar a sua vida devido
a intensa dor da perda, sentimento de culpa, raiva, vergonha e desamparo, além de dúvidas e
questionamentos sem respostas que atormentam a mente do enlutado. Portanto, é importante
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ampliar o entendimento sobre como as famílias experienciam a perda de um membro por


suicídio, visando o desenvolvimento de intervenções pelos profissionais de saúde para o
acolhimento, a posvenção e a promoção da saúde mental desses familiares.
Assim se faz necessário estudos aprofundados em prol desse tema e como a Psicologia
lida com o indivíduo e os fenômenos relacionados ao mesmo, discutir tal assunto é de
fundamental importância.
Desse modo, considerando que a literatura sobre o tema ainda é incipiente e que a
compreensão da vivência de familiares enlutados pode contribuir com a prática de
profissionais de saúde, o objetivo do presente estudo é buscar evidências científicas que
contribuam para a compreensão do fenômeno do suicídio entre os familiares sobreviventes.

2. DESENVOLVIMENTO

Segundo Venco e Barreto (2010), a visão de suicídio ganhou novas concepções na


Europa cristã vinculando-se às atrocidades praticadas pelo Estado e pelas religiões, que além
de punirem o suicida pós-morte, pregando o impedimento da ascensão ao paraíso, ainda
transformavam a vida dos seus familiares na medida que as propriedades dos mesmos
passavam ao poder dos reis e da igreja.
Ainda segundo Venco e Barreto (2010), na Grécia antiga a morte voluntária não era
considerada um ato condenável, se existissem boas razões para fazê-lo. Sócrates, ao ser
condenado, preferiu suicidar-se por meio de envenamento. Na Inglaterra, até 1870, as leis do
confisco às propriedades do suicida permaneceram vigentes e até 1961, o suicídio frustrado
poria em cárcere o sobrevivente. Na França, o suicida era amarrado pelos pés, arrastado pelas
ruas, queimado e atirado em um coletor de lixo localizado em via pública (VENCO E
BARRETO, 2010).
Muitas polêmicas sobre a aceitação do ato do suicídio são recorrentes em diferentes
períodos e sociedades, e estão diretamente ligadas à cultura e moral, o que dificulta a
unanimidade. Hoje, o suicídio se inscreve no campo dos transtornos mentais (angústias,
depressão, alterações de comportamento, bipolaridade entre outros) adquirindo o status de
patologia.
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Para Durkheim (2000), o suicídio é definido como “todo caso de morte que resulta
direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que
ela sabia que produziria esse resultado”. (DURKHEIM, 2000, p.14). A partir dessas
considerações iniciais, ele classifica o suicídio em egoísta, altruísta e anômico.
O suicídio egoísta tem como causa a confissão religiosa. Segundo o autor, nos países
de tradição católica ou judaica, são registradas taxas menores de suicídio, ao passo que nos
países de tradição religiosa protestante, a taxa de suicídios é elevada. As religiões não dão
sentidos diferentes para o suicídio e ambas condenam essa prática, mas o fato do suicídio ser
maior em sociedades predominantemente protestantes é, segundo Durkheim, devido a
existência de um gosto pelo livre exame e pela ciência desenvolvida na população, o que
acaba por colocar em dúvida as tradições e as crenças religiosas.
As confissões religiosas devem ser vistas como uma sociedade, onde a partir do
momento em que seus preceitos são colocados em dúvida, a coesão social exercida por ela
sobre seus fieis acaba por tornar-se quase nula, o que acaba enfraquecendo a consciência
coletiva dos indivíduos e os deixando vulneráveis para cometerem suicídio. (ALMEIDA,
2018)
Nesse sentido,
Quanto mais os grupos a que pertencem se enfraquecem, menos o
indivíduo depende deles e, por conseguinte, mais depende apenas de si
mesmo para não reconhecer outras regrasde conduta que não as que se
baseiam em seus interesses privados. Se, portanto, conviermos
chamar de egoísmo esse estado em que o eu individual se afirma
excessivamente diante do eu social e às expensas deste último,
poderemos dar o nome de egoísta ao tipo particular de suicídio que
resulta de uma individuação descomedida (DURKHEIM, 2000, p.
258-259).

Quanto ao suicídio altruísta, o autor toma como base as sociedades simples


(DURKHEIM, 2000). Dentre vários casos citados, ele conta que velhos guerreiros bárbaros se
matavam por sentirem vergonha de sua impotência ou doença, e assim não poderem defender
seu povo. Ele é inverso ao suicídio egoísta, pois se no suicídio egoísta o indivíduo se mata
por estar afastado do seu compromisso para com a sociedade, devido a sua individuação
exagerada, no suicídio altruísta o indivíduo se mata por sentir-se no dever de cometer esse ato
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em prol do bem-estar da sua sociedade ou grupo social no qual está inserido. (ALMEIDA,
2018)
Nesse sentido,
…..a palavra altruísmo expressa o estado contrário, aquele em que o
eu não se pertence, em que se confunde com outra coisa que não ele,
em que o pólo de sua conduta está situado fora dele, ou seja, em um
dos grupos de que faz parte. Por isso chamaremos de suicídio altruísta
aquele que resulta de um altruísmo intenso (DURKHEIM, 2000, p.
275).

O terceiro e último caso de suicídio analisado por Durkheim é o suicídio anômico, que
está diretamente relacionado com as questões sociais. Quando a sociedade se vê perturbada,
seja por crises econômicas e políticas ou por guerras e por revoluções radicais, ela se torna
incapaz de exercer uma moralização sobre o indivíduo. Nesse sentido,
A anomia é portanto, em nossas sociedades modernas, um fator
regular e específico de suicídios; é uma das fontes em que se alimenta
o contingente anual. Por conseguinte, estamos diante de um novo tipo,
que deve ser distinguido dos outros. Difere deles na medida em que
depende, não da maneira pela qual os indivíduos estão ligados à
sociedade, mas da maneira pela qual ela os regulamenta.
(DURKHEIM, 2004, p. 328-329).

Operacionalmente, o suicídio pode ser definido como sendo “dar fim na própria vida
voluntariamente”, consistindo em um fenômeno paradoxal que desafia várias áreas do
conhecimento, tais como Psicologia, Filosofia, Direito, Psiquiatria, Bioética, bem como
diversas religiões e o senso comum. (SCHLOSSER, 2014)
Para a Psicologia, segundo Toro et al. (2013, p. 411), o suicídio pode ser
compreendido como resultado de uma dor psiquica, ato inserido no campo da psicopatologia.
A palavra pathos, que significa “sofrimento”, mas também se relaciona às palavras “paixão” e
“passividade”.
J.D. Nasio, (2007, p. 31) teoriza que:
Ao contrário da dor corporal causada por um ferimento, a dor psíquica
ocorre sem agressão aos tecidos. O motivo que a desencadeia não se
localiza na carne, mas no laço entre aquele que ama e seu objeto
amado. Quando a causa se localiza nessa encarnação de proteção do
eu que é o corpo, qualificamos a dor de dor corporea; quando a causa
se situa mais-além do corpo, no espaço imaterial de um poderoso laço
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de amor, a dor é denominada “dor de amar”. Assim, podemos desde


já propor a primeira definição de dor de amar, como o afeto que
resulta na ruptura brutal do laço que nos liga ao ser ou à coisa amados.
Essa ruptura, violenta e súbita, suscita imediatamente um sofrimento
interior, vivido como um dilaceramento da alma, como um grito mudo
que jorra das entranhas.

O indivíduo finaliza seu sofrimento psíquico por meio do suicídio e gera para os
sobreviventes consequencias negativas, tais como silencio diante do ocorrido, reforçam os
estigmas sociais, contribuindo para que os familiares e amigos, não falando sobre o assunto,
permaneçam arrasados, sem saber o que fazer, pensar ou até mesmo sentir. (SILVA, 2017)
A relevância da reação dessa perda, que pode influenciar o processo de luto, vai
depender do vínculo existente entre o enlutado e o suicida, tais como resiliência, intimidade,
intensidade, frequencia de contato e a forma como o ente se suicidou Para atenuar o abalo
emocional do caso consumado, que não pôde ser ocultado, há a necessidade do acolhimento à
família e o suporte recebido pela rede social, . (CÂNDIDO, 2011; COLOM 2013;
FUKUMITSU; KOVÁCS, 2016 apud SILVA E MARINHO, 2017)
A elaboração do luto ou da tristeza, o enfrentamento de uma perda significativa, não
ocorre apenas em caso de morte, mas também com relação a perda de animais de estimação,
amor conjugal, contato com os filhos por causa de divórcio, acidentados que perdem uma
perna ou braço, um rim. Segundo KELLERMAN (2010, p.41)
...o luto não se dá apenas por outra pessoa (ou situação), mas também
pela função desempenhada na relação com o outro que foi perdido,
seu papel, que pode ter sido parte de sua identidade mais do que um
mero sentimento de proximidade. É o caso das pessoas que vivem um
luto profundo quando perdem alguém de quem cuidaram durante
muitos anos.

A morte por suicídio é especial, uma vez que é considerada desnecessária. Por outro
lado a pessoa morta pode ser responsabilizada por ter abandonado propositalmente seus
parentes ou até algum de seus parentes ser responsabilizado por ter provocado o ato e sentir
vergonha aumentando a pressão emocional. (OSMARIN, 2015)
Tavares (2013) cita como principais reações da morte por suicídio medo, culpa, raiva,
tristeza, ansiedade, vergonha, saudade, negação, depressão, isolamento, não aceitação daquela
ausência, problemas de ajustamento, dificuldades de estabelecer novas relações, sensação de
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desamparo, queda de produtividade, desenvolvimento de transtornos mentais, aumento do uso


de drogas ou alcool e desinvestimento em sua própria vida.
A culpa é um sentimento, que no caso do suicídio, aparece com muito mais força e
intensidade. O enlutado busca desesperadamente por respostas, e hipoteticamente falando,
sente-se responsável, de alguma maneira pelo ocorrido ou direciona a pessoas do entorno do
suicida. (OSMARIN, 2016)
A raiva e a tristeza surgem de maneira intensa, no caso de suicídio. O enlutado se
revolta pelo fato do morto ter tirado a própria vida e por ocasionar-lhe tanto sofrimento, o que
resulta em mais culpa, pois os sentimentos ficam confusos e intensos. (OSMARIN, 2016)
O medo é um sentimento que aparece após o suicídio, especialmente para os filhos de
pessoas que cometeram suicídio. Elas tem a sensação que os impulsos destrutivos fazem
parte da transmissão genética, e chegam a suspeitar que eles também possam se matar.
(OSMARIN, 2016)
Para alguns Autores, os sobreviventes ao suicídio passam pelo transtorno pós-
traumático, pois vivenciam tanto o trauma como o próprio luto pela perda, e geralmente,
apresentam sintomas similares tais como dormência física, anestesia emocional,
desprendimento da realidade, isolamento, perda de interesse por suas atividades contidianas,
por suas atividades no trabalho, perda de apetite, a fadiga e o cansaço. A pessoa que encontra
o corpo de quem cometeu suicídio, geralmente, revive a cena de forma inesperada, durante o
sono, na forma de pesadelos. (SILVA, 2013)
Parte da família pode achar que não cuidou o suficiente e foi negligente com o
sofrimento daquela pessoa que encontrou na morte a solução para o seu sofrimento. Por outro
lado, as pessoas que compõem a rede social do enlutado, se sentem constrangidas em relação
a esse modo de morte e devido a isso não sabem o que dizer ao enlutado. (SILVA, 2013)
A atenção ao luto dos sobreviventes deve preconizar uma atitude acolhedora e que
todos os enlutados possam falar, compartilhar os seu sentimentos, sentirem-se seguros de que
não serão julgados, possam dar significado a sua perda e prosseguir vivendo. (SILVA, 2013)
A falta de divulgação de informações sobre o suicídio, a formação de grupos de apoio,
programas socioeducativos, pesquisas a respeito dos sobreviventes de suicídio corrobora com
uma realidade de descaso e negligência, pois os mesmos são considerados uma população de
risco e podem desenvolver grande sofrimento emocional. O suicidio é uma questão de saúde
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pública, que envolve, também, as pessoas que são deixadas pela vítima de suicídio, que
carecem de apoio, atenção, respeito e intervenção eficiente. (MIRANDA, 2014)
Não somente os Psicólogos e profissionais da saúde devem estar preparados para esse
tipo de cuidado. Os profissionais da educação tem um papel importante nessa questão, pois as
ações desenvolvidas tanto na escola quanto no ambiente de trabalho podem oferecer esse tipo
de acolhimento e suporte para enfrentar frustrações e adversidades. A morte faz parte da vida
e pensar na morte, pensar no sofrimento decorrido dela, é pensar na vida. (SILVA, 2013)
A empatia do psicólogo em relação ao paciente é fundamental, pois se refere à
capacidade de um indivíduo colocar-se no lugar do outro, captando como o outro está se
sentindo e pensando, e ao mesmo tempo, manter a objetividade para diferenciar possíveis
distorções, raciocínio ilógico ou comportamento desaptativo que possam estar contribuindo
para o problema. (MARTINS & LEÃO, 2010).

3. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo com coleta de dados realizada a partir de fontes secundárias, por
meio de levantamento bibliográfico e baseado na experiência vivenciada pelos autores por
ocasião da realização de uma revisão integrativa. A pesquisa bibliográfica é uma das
melhores formas de iniciar um estudo, buscando-se semelhanças e diferenças entre os artigos
copilados em meios eletrônicos, permitindo o fácil acesso e proporcionando atualização
frequente. O propósito geral de uma revisão de literatura de pesquisa é reunir conhecimentos
sobre um tópico, ajudando nas fundações de um estudo significativo.
Este tipo de revisão da literatura também pode ser direcionado para a definição de
conceitos, revisão de teorias e evidências ou a análise metodológica dos estudos incluídos de
um tópico particular. (SOUZA, 2010).
A pergunta elaborada como questão norteadora da Revisão Integrativa da Literatura
foi: quais são as evidências científicas que contribuem para a compreensão do fenômeno
suicídio entre os familiares sobreviventes, nos ultimos 5 anos?
Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca nas seguintes
bases de dados: Scielo (Scientific Electronic Library Online) e PEPSIC (Periódicos
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Eletronicos em Psicologia), sendo utilizados, para busca dos artigos, os seguintes descritores e
suas combinações na língua portuguesa: luto, morte, suicídio, sobreviventes.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram artigos publicados
em português; artigos na íntegra que retratassem a temática referente à revisão integrativa e
artigos publicados e indexados nos referidos bancos de dados nos últimos cinco anos.
A partir da busca encontrou-se 13 artigos sendo que após realizou-se a leitura do título
e em seguida foi lido os resumos dos referidos artigos com a finalidade verificar os critério
estabelecidos. Após a leitura foram selecionados cinco artigos para leitura na integra:

Vivenciando Dutra, Preis, Compreender a vivencia da familia Pesquisa qualitativa com referencial da
o suicídio na Caetano, ao perder um familiar por suicidio Teoria Fundamentada nos Dados
família: do Santos, Lessa construtivista. A amostragem teorica
luto à busca G. composta por 20 participantes, entre profi
pela ssionais de saude e familiares de pessoas
superação/ que cometeram suicidio. Dados coletados
2018/ por meio de entrevistas intensivas e codifi
cadas .
As Silva Compreender as variáveis que Pesquisa de levantamento bibliográfico,
implicações podem comprometer a elaboração ancorada em fontes como: livros,
do luto na do luto na familia, buscando contemplando autores clássicos e
saúde da esclarecer que esse processo é um contemporâneos, e artigos encontrados nas
familia/2019/ fenômeno psíquico e necessário bases de dados de reconhecimento
considerando seus efeitos científico como o Scielo e BVSpsi.
psicossociais, afetivos e cognitivos,
bem como suas reações,
significados e enfrentamento.
Os impactos Gonçalves; Abordar o fenômeno suicida do Realizado a partir de uma revisão
do suicídio Neto; Souza; ponto de vista da vítima, dos qualitativa de diversos autores que
no âmbito Gaspar; sobreviventes e do meio social onde abordam o fenômeno, selecionados por
familiar e Menegon; ocorreu o comportamento; apontar intermédio da Scielo e PUBMED, segundo
social/2018 Cruz; as crescentes taxas de suicídio a critérios multidimensionalidade do
Lemos; nível mundial, nacional e estadual; conteúdo
Oliveira; destacar impactos sociais
Araújo;
Pessoa
Suicidio: a Spies & Compreender a percepção familiar O instrumento utilizado baseou-se na
percepção Costa sobre o suicídio de um membro entrevista semiestruturada para autópsia
familiar sobre através de uma pesquisa qualitativa psicológica, adaptado para este estudo.
aquele que de caráter exploratório Foram entrevistados cinco familiares em
deu fim à primeiro grau de pessoas que cometeram
própria suicídio segundo relatório pericial.
vida/2014
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Especificidad Fukumitsu, Refletir sobre o processo de luto Foram extraídas 14 unidades de


es sobre o Kovács pelo suicídio por meio da significados a partir do método
processo de compreensão do luto de nove filhos fenomenológico e compreendidas pela
luto frente ao de pessoas que consumaram o perspectiva da abordagem da Gestalt-
suicídio/2016 suicídio. terapia; ouvidos colaboradores, apontam
que, ao enfrentar a morte, experienciam
sofrimento com sentimentos de culpa,
raiva, sensações de desamparo, abandono,
rejeição, solidão, além da fragmentação de
tudo o que era conhecido.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dutra, Preis, Caetano, Santos, Lessa (2018) analisaram as reações da familia ao perder
um familiar por suicídio. Em relação ao perfil dos participantes, 13 profissionais de saúde,
entre 28 e 58 anos, sendo nove do sexo feminino; sete familiares tinham diferentes vinculos
com as pessoas que cometeram suicidio, (filhos, esposa, tia, irma e mae); seis eram do sexo
feminino e tinham idade entre 24 e 51 anos; o tempo de ocorrência do suicidio do familiar
variou de quatro meses a 11 anos. O estudo evidenciou que a vivencia da familia ao perder
um familiar por suicidio passa por tres estagios: entrando em “estado de choque”;
eonvivendo com o sofrimento e as repercussões da perda do familiar; e, reconstruindo a vida.
Conclui-se que, diante de um caso de suicídio, os familiares inicialmente sentem dificuldade
de lidar com a perda, desesperam-se com o suicídio e não acreditam na veracidade do ato
suicida, entram em “estado de choque”. Posteriormente começam a conviver com o
sofrimento e as repercussões da perda do familiar, lembrando da imagem da pessoa morta,
sofrendo com o julgamento da sociedade, culpando-se, enfrentando problemas financeiros e a
destruturação da família. Por último, a reconstroem a vida apoiando-se em Deus, destacando
o apoio de amigos , suporte de profissionais, fortalecendo a união familiar e decidindo mudar
de residência. Da reflexão, juntando as categorias e subcategorias, concluiram os Autores que
obteve-se o fenômeno: “Vivenciando a perda de uma familiar por suicídio: do luto à busca
pela superação”.
Silva (2019) procurou compreender as variáveis que podem comprometer a elaboração
do luto no âmbito familiar, buscando esclarecer que esse processo é um fenômeno psíquico e
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necessário consideeram os seu efeitos psicossocias, afetivos e cognitivo, bem como suas
reações, significados e enfrentamento. Concluiu que é importante falar sobre a perda de um
ente querido na família; reconhecer que a morte é a aceitação da sua finitude como indivíduo;
a qualidade de vida das pessoas dentro do contexto familiar sobre influência da morte;
profissionais da sáude são capacitados para ouvir, acolher e atender de forma diferenciada a
cada indivíduo na sua singularidade; sentimentos de perda e de luto podem ser despertados na
equipe de sáude, podendo prejudicar o acolhimento e o auxílio; a perda de um membro da
familiapode gerar doenças psicossomáticas, ansiedade, depressão. Concluindo, o luto é um
evento único que afasta qulaquer definição, cada um sofrerá de forma subjetiva e variadas
manifestações.
Gonçalves; Neto; Souza; Gaspar; Menegon; Cruz; Lemos; Oliveira; Araújo; Pessoa
(2018) abordam o fenômeno suicida do ponto de vista da vítima, dos sobreviventes e do meio
social onde ocorreu o comportamento; bem como, apontam, baseado em estatísticas, as
crescentes taxas de suicídio a nível mundial, nacional e estadual; e destacam os impactos
sociais causado pelo o fenômeno de imitação suicida. Concluiram que, mesmo diante de
todas as dificuldade, o suicídio tem sido debatido a nível mundial, surgindo novos estudos,
afirmações e informações. Porém, a nível de progresso, é observado que, mesmo com todos
os avanços, ainda permanecem fortes estigmas, mantendo o ato suicida como um grande tabu,
mácula essa que reverbera em todo o círculo familiar dificultando na sua restruturação tanto
em contexto geral quanto em individual de cada sobrevivente. Mesmo após inúmeros estudos
que ratificam a ideia do suicídio está ligado a uma ruptura social, ele, ainda é visto como uma
realidade distante e não como um problema de todos. Portanto, as crenças, os preconceitos e
discriminações impostas pela sociedade, interferem no resultado das intervenções preventivas.
Spies & Costa (2014), análisaram os dados das quatro categorias fundamentais:
sentimentos e negação familiar diante dos sinais de um possível suicídio; adoecimento
psíquico: condição de vulnerabilidade ao suicídio; suicídio e dependência de substância
psicoativa e aspectos transgeracionais do suicídio. Identificaram algo comum a todos os
eventos suicidários analisados: é um acontecimento cruel que impõe sofrimento à família
envolvendo o inesperado e o imprevisto; não se reconhece, não se aceita e não se dimensiona
a seriedade dos sinais e, por isso, os familiares resistem em tomar atitudes preventivas; na
ocorrência do óbito, predominam os sentimentos de tristeza, amargura e decepção; os suicidas
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sentiam-se incapazes de administrar crises, conflitos intrapsíquicos, emoções, problemas de


saúde física e mental, preocupações financeiras e com doenças, dificuldades no
relacionamento com familiares, dependência de substâncias psicoativas e humor deprimido,
recorrendo a lenitivos como isolamento, álcool e outras drogas.
Fukumitsu, Kovács (2016) analisaram as especificidades do processo do luto no caso
de suicídio: ausência presente e presença ausente; estigma do suicídio; enfrentamento da
morte violenta; culpa e autoacusações; trauma: estresse antes/depois do suicídio; ilustre
desconhecido: quem foi você, mãe/pai? Existe uma parte sua em mim ou uma parte minha em
você?; se meu pai/mãe se matou, eu também me matarei? Medos, transmissão psíquica
transgeracional; intensidade dos sentimentos e o estranho alívio; lembranças, histórias
contadas e as vivências emprestadas; especulações sobre a vida que não vivi; união dos
sobreviventes e o interesse por suas histórias; manejos do processo de luto: ajudar outros,
estudar, isolar-se, fazer psicoterapia, ser evangélica e escolher a profissão de psicólogo(a),
historiador e arquiteta; silêncio quando o falar seria importante; transformações/mudanças
após o suicídio. Surgiram reflexões sobre a quem pertence a vida, existem culpados ou
responsáveis pelo suicídio? Os sentimentos são variados e têm intensidades diferentes. Cabe
ressaltar que em levantamento bibliográfico existem poucas pesquisas sobre o tema. Segundo
as Autoras, nunca saberemos as reais motivações de a pessoa ter se aniquilado, pois a verdade
se foi juntamente com a pessoa que se matou.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste trabalho foroam encontrados as evidências científicas que contribuiram


para a compreensão do fenômeno do suícidio entre os familiares sobreviventes . Durante a
investigação percebeu-se que mais pesquisas precisam ser feitas com o objetivo de responder
a estes e outros questionamentos sobre o suicídio.
Por isso, entre as limitações deste estudo, estão a dificuldade para se conseguir casos
envolvendo situações efetivas de suicídio, dado que o tema é sempre preservado devido a sua
natureza trágica e, muitas vezes, não é deliberado como um ato de suicido. Ainda, existe a
dificuldade de se conseguir acessar familiares da pessoa suicida para participar de pesquisas,
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visto que o conteúdo é, em certas situações, ocultado ou se torna um segredo dentro do


contexto familiar.
Avalia-se que, desvendando melhor essas questões, será possível desenvolver
programas de prevenção e de intervenção em contextos onde há pessoas com comportamentos
de risco, ideação e tentativa de suicido, fortalecendo as famílias e instrumentalizando os
profissionais da saúde para gerenciar essas situações.
Segundo Fukumitsu (2016, 10), “...nunca saberemos as reais motivações de a pessoa
ter se aniquilado, pois a verdade se foi juntamente com a pessoa que se matou.”

REFERÊNCIAS

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