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PROFINT – Profissionais Integrados Ltda.


FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama
Curso de Especialização Lato Sensu em Psicodrama
Trabalho de Conclusão de Curso

MÁSCARAS: PONTE PARA ENCONTROS


PSICODRAMÁTICOS

Autora: Teresa Cristina Pereira


Orientador: Profº Esp. Cybele Maria Rabelo Ramalho –
Psicodramatista-Didata: Inscrição FEBRAP nº 270, fl.90,
Livro I.
Co-Orientador: Msc. Karen Mirela Sales Venancio –
Psicodramatista-Didata nível II: Inscrição FEBRAP nº
371, fl. 94, Livro II.

Aracaju/SE
2020
TERESA CRISTINA PEREIRA

MÁSCARAS: PONTE PARA ENCONTROS PSICODRAMÁTICOS

Monografia apresentada no curso de


Formação/Especialização em Psicodrama,
da PROFINT – Profissionais Integrados
Ltda., reconhecido pela FEBRAP –
Federação Brasileira de Psicodrama, como
requisito parcial par obtenção do
Certificado de Especialista.

Orientador: Profº Esp. Cybele Maria Rabelo


Ramalho – Psicodramatista-Didata:
Inscrição FEBRAP nº 270, fl.90, Livro I.

Co-Orientador: Msc. Karen Mirela Sales


Venancio – Psicodramatista-Didata nível II:
Inscrição FEBRAP nº 371, fl. 94, Livro II.

Aracaju/SE

2020
PROFINT – Profissionais Integrados Ltda
FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama
Curso de Especialização Lato Sensu em Psicodrama

ATA DE DEFESA DA MONOGRAFIA


(Folha de Aprovação)

LOCAL: Sede da PROFINT.


Rua Poeta José Sales de Campos, 794, Coroa do Meio, Aracaju/SE, CEP 49.035-650, CNPJ:
01.890.418/0001-84
(79) 3021-0757 / 99899-4563 / contato@profint.com.br / www.profint.com.br

DATA: 27 de novembro de 2020

AUTORA: Teresa Cristina Pereira

TÍTULO: MÁSCARAS: PONTE PARA ENCONTROS PSICODRAMÁTICOS

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do certificado de


Especialista em Psicodrama da PROFINT-Profissionais Integrados Ltda, para a obtenção
do grau de Psicodramatista (Nível I) – foco clínico, aprovada na data 27 de novembro de
2020, com a nota __________, correspondente ao grau_________, defendida perante a
banca examinadora abaixo assinada:

_________________________________________________________________
Profª Esp. Cybele Maria Rabelo Ramalho–Psicodramatista-Didata: Inscrição
FEBRAP nº 270, fl.90, Livro I.

__________________________________________________________________
Msc. Karen Mirela Sales Venancio–Psicodramatista-Didata nível II: Inscrição
FEBRAP nº 371, fl. 94, Livro II.

__________________________________________________________________
Profª Esp.André Luiz Viana Nunes – Psicodramatista-Didata nível II: Inscrição
FEBRAP nº 280, fl 71, Livro II
Resumo
A presente monografia teve como objetivo pesquisar a desconstrução da persona
conhecida e ajudar a vir à tona outras faces que os indivíduos guardam em seu
inconsciente. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, tendo por objetivo
entender o porquê de determinados comportamentos, particularidades e experiências do
sujeito estudado. Baseada na abordagem do psicodrama, embasada no referencial teórico
de Moreno e conceitos da psicologia analítica de Jung. Compreende-se que a máscara,
usada no contexto psicodramático concretiza personagens e papéis sociais, repletos de
conserva culturais, que camuflam o drama individual do sujeito impedido de atuar na vida
em sua plenitude. O trabalho psicoterápico consiste em equilibrar a luz e a sombra que as
máscaras representam.
Palavras-chave: Psicodrama, máscaras, psicologia analítica, conservas culturais

The present monograph aimed to research the deconstruction of the known persona
and help to bring out other faces that individuals keep in their unconscious. The
methodology used was qualitative research, aiming to understand the reason for certain
behaviors, particularities and experiences of the studied subject. Based on the psychodrama
approach, based on Moreno's theoretical framework and concepts of Jung's analytical
psychology. It is understood that the mask, used in the psychodramatic context, concretizes
characters and social roles, full of cultural preserves, that camouflage the individual drama
of the subject prevented from acting in life to the full. Psychotherapeutic work consists of
balancing the light and shadow that the masks represent.
Keyword: Psychodrama, masks, analytical psychology, cultural preserves

La presente monografía tuvo como objetivo investigar la deconstrucción de la


persona conocida y ayudar a resaltar otros rostros que los individuos guardan en su
inconsciente. La metodología utilizada fue la investigación cualitativa, con el objetivo de
comprender el porqué de determinadas conductas, particularidades y vivencias del sujeto
estudiado. Basado en el enfoque del psicodrama, basado en el marco teórico de Moreno y
conceptos de la psicología analítica de Jung. Se entiende que la máscara, utilizada en el
contexto psicodramático, concretiza personajes y roles sociales, llenos de cotos culturales,
que camuflan el drama individual del sujeto impedido de actuar en la vida al máximo. El
trabajo psicoterapéutico consiste en equilibrar la luz y la sombra que representan las
máscaras.
Palabra clave: Psicodrama, máscaras, psicología analítica, reservas culturales
Sumário
Introdução 01
1 Revisão da literatura 03
1.1 Psicodrama 03
1.1.1 Tele: definições 04
1.1.2 Encontro 04
1.1.3 Co-Consciente e Co-Inconsciente 05
1.1.4 Teoria da Matriz de Identidade 05
1.1.5 Conserva cultural, Espontaneidade e Criatividade 06
1.1.6 Teoria dos papéis 08
1.1.7 Psicodrama Bipessoal 09
1.2 Psicodrama com Máscaras 10
1.2.1 Persona 12
1.2.2 Anima e Animus 12
1.2.3 Sombra 13
1.2.4 Self 14
1.3 Aproximações possíveis entre a vida e a obra de J.L. Moreno e C.G. Jung 14
1.4 Diálogo vivo: persona x sombra 15

2 Metodologia 17
2.1 Metodologia X Método 17

2.2 Epistemologia qualitativa e psicodrama 17

2.3 Possibilidades de investigação qualitativa com métodos psicodramáticos 18

2.4 Máscaras 20
3 Relato de experiência 22
3.1 Caracterização do caso 22
3.2 Evolução do caso e principais intervenções clínicas 23

3.2.1 Incubação 24

3.2.2 Nascimento e apresentação 25


3.2.3 Partilha 27
4 Processamento teórico 29
4.1 Respondendo questões formuladas na introdução 31

4.1.1 Qual é a força que a máscara exerce sobre as pessoas? 31

4.1.2 O que impulsiona o encantamento, o fascínio que esse objeto provoca? 32


4.1.3 Como o ser humano entra em contato com as questões indicadas pela 32
máscara e com os elementos arquetípicos que ela traz impregnada em
suas linhas de força?
4.1.4 Como pessoa incorpora e elaborar esses elementos arquetípicos? 33

4.1.5 Como definir a conexão entre a máscara e a pessoa que a porta, 34


mesclando elementos de um no outro?
4.1.6 Como definir a relação sombra/persona existente no trabalho com as 34
máscaras?
5 Experiência da terapeuta 36
Considerações finais 39
Referências bibliográficas 40
Anexo 42
Anexo

Anexo Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) 42


Lista de ilustrações

Foto 01 Material para confecção da máscara 24

Foto 02 A Transformação 25

Foto 03 Transformação interior 27

Figura 04 Máscara para cada momento 31

Figura 05 O Máskara 32

Figura 06 O retrato de Dorian Gray 33

Figura 07 Superman x Clark Kent 34


AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, que nunca me abandonou e nos


momentos mais difíceis de minha vida me carregou no colo, me ajudando durante este
projeto de pesquisa e me mantendo com saúde e forças para chegar até o final.
À minha mãe Lourdes, ao meu filho Pedro Henrique pela confiança no meu
progresso e pelo apoio emocional.
À minha orientadora Karen Mirela Sales Venâncio, que apesar da intensa rotina
profissional, aceitou me orientar nesta monografia. As suas valiosas indicações fizeram
toda a diferença.
Ao meu professor André Luiz Viana Nunes que me acompanhou na graduação e
descortinou, para mim, um mundo novo: o psicodrama.
Ao meu Professor André Mandarino, que me incentivou a iniciar o curso de
psicodrama. Lembro que comentei com ele que estava com vontade de iniciar o curso em
psicodrama, mas estava indecisa. Na época, eu era estagiária na faculdade Estácio no
seguimento Teoria Cognitiva Comportamental. Mas ele me disse para seguir em frente e
iniciar o curso, pois ele tinha certeza de que eu iria gostar. Ele estava certo.
Quero agradecer, também, a Cybele Ramalho, que com seu jeito doce, tranquilo e
apaixonado pelo psicodrama, também me ajudou a começar a entender este novo mundo
cheio de magia criado por Jacob Levy Moreno. Foi com ela que tive a primeira aula do
curso.
Agradeço, também, a todos os meus professores do curso de Psicodrama pela
excelência da qualidade técnica de cada um.
E por último, não poderia esquecer os dois amores de minha vida, Juju e Kika,
companheiras inseparáveis e amorosas. São duas anjinhas sem asa que, a sua maneira,
sempre me deram apoio, transformando meus momentos tristes em felizes.
O bambu chinês

Depois de plantada a semente do bambu chinês fica embaixo da terra, por


aproximadamente 5 anos, exceto pelo surgimento de um diminuto broto. Todo o
crescimento é subterrâneo; uma complexa estrutura de raiz, que se estende vertical e
horizontalmente pela terra, está sendo construída. Então, ao final do 5º ano, o bambu
chinês cresce até atingir a altura de 25 metros.

Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você
trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento e, às
vezes, não vê nada por semanas, meses ou anos. Mas, se tiver paciência para continuar
trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu 5º ano chegará; com ele virão mudanças que
você jamais esperava.

Lembre-se que é preciso muita ousadia para chegar às alturas e, ao mesmo tempo,
muita profundidade para agarrar-se ao chão.

Paulo Coelho
1
Introdução

As pessoas criam personagens e assumem diferentes papéis sociais que se encontram


muitas vezes cristalizados e que estão impedidos de serem protagonizados em sua plenitude e
em sua possibilidade criativa, tendo como resultado uma inadequação decorrente de uma falta
de espontaneidade e criatividade.
Em termos sociais, cada indivíduo incorpora máscaras que se configuram a partir das
instituições de nossa cultura que muitas vezes o desencorajam a desempenhar certas nuances
dos papéis sociais. Os papéis sociais são criados, produzidos a partir de contextos
determinados socialmente, ou seja, do meio em que o indivíduo vive e da sua relação com o
outro. Tendo em vista a complexidade dos papéis sociais criam-se máscaras que são
incorporadas pelo sujeito.
Ao longo de nossa vida usamos muitas máscaras. Essas máscaras permitem os
relacionamentos com outras máscaras. Elas se assemelham a pontes e permitem ao sujeito
dialogar com o meio social em que vive, expressando em seu rosto diversos sentimentos.
Contudo, esses diversos sentimentos, criam uma espécie de barreira, ocultando valores
e sentimentos que a sociedade não legitima. Essa cristalização é produto da conserva cultural.
E o que é a conserva cultural?
As conservas culturais são objetos materiais (incluindo-se obras de arte),
comportamentos, usos e costumes que se mantêm idênticos em uma dada cultura.
O homem, muitas vezes, conserva suas ações respondendo de maneira mecanizada ao
contexto social, sufocando sua capacidade criadora tornando-se rígido, automático e impedido
de se expressar espontaneamente.
As máscaras são incorporadas a partir da rotulação de padrões predeterminados pela
sociedade, na qual o sujeito se coloca em uma condição de impedimento de expressar sua
verdadeira essência, criando uma espécie de barreira e ocultando valores e sentimentos que a
sociedade não legitima.
Qual é a força que a máscara exerce sobre as pessoas?
O que impulsiona o encantamento, o fascínio que esse objeto provoca?
Como o ser humano entra em contato com as questões indicadas pela máscara e com
os elementos arquetípicos que ela traz impregnada em suas linhas de força?
Como pessoa incorpora e elabora esses elementos arquetípicos?
2
Como definir a conexão entre a máscara e a pessoa que a porta, mesclando elementos
de um no outro?
Como definir a relação sombra/persona existente no trabalho com as máscaras?
3
1 Revisão da literatura
1.1 O psicodrama

Segundo Cukier (2002, p.218), nos tempos pré-históricos, indivíduos foram tratados
em civilizações primitivas, de sofrimentos psíquicos e físicos, com métodos quase
psicodramáticos.
Historicamente, o psicodrama representa o ponto culminante na passagem do
tratamento do indivíduo isolado para o tratamento do indivíduo em grupos, do tratamento do
indivíduo por métodos verbais para o tratamento por métodos de ação. (MORENO,
1975/2016). Para Moreno, o homem é um indivíduo social, nasce em sociedade e necessita
dos outros para sobreviver sendo apto a manter uma convivência com os demais, relações
interpessoais, um encontro.
Segundo Moreno (2016), “encontro” significa mais do que uma vaga relação pessoal.
Significa que duas ou mais pessoas se encontram não só para se defrontarem entre si, mas
também para viver e experimentar-se mutuamente, como atores cada um por seu direito
próprio, não como um “profissional”, mas um encontro de duas pessoas.
Toda teoria moreniana parte da ideia do Homem em relação, da inter-relação entre as
pessoas. Para investigá-la, Moreno criou a Socionomia, cujo nome vem do latim sociu =
companheiro, grupo, e do grego nomos = regra, lei, ocupando-se, portanto, dos estudos das
leis que regem o comportamento social e grupal.
Esse estudo subdividiu-se em três categorias: a sociodinâmica, que estuda o
funcionamento das relações interpessoais, tendo como método o role-playing (técnica que
permite ao indivíduo atuar, no contexto dramático, papéis variados, de modo a desenvolver
um papel espontâneo e criativo); a sociometria, ciência que objetiva medir as relações entre as
pessoas (cujo método é o teste sociométrico) e a sociatria, que consiste na terapia das relações
sociais, tendo como métodos a psicoterapia de grupo, o psicodrama e o sociodrama
(Gonçalves et al., 1988). A todo o conjunto que forma a teoria formulada por Moreno é
comum na literatura referir-se simplesmente como psicodrama, ou abordagem
psicodramática, nomenclaturas que também são adotadas neste trabalho.
Veremos a seguir alguns dos principais conceitos psicodramáticos fundamentais para o
nosso trabalho de pesquisa, os quais são Tele, Encontro, Co-consciente e Co-inconsciente,
Conserva Cultural , Espontaneidade e Criatividade, Teoria dos papéis.
4
1.1.1 Tele: definições

Segundo Moreno (1975/2016, p.295, rodapé), tele é definida como


‘...um processo emotivo projetado no espaço e no tempo, em que podem participar
uma, duas ou mais pessoas. É uma experiência de algum fator real na outra pessoa
e não uma ficção subjetiva. É, outrossim, uma experiência interpessoal e não o
sentimento ou emoção de uma só pessoa. Constitui a base emocional da intuição e
da introvisão. Surge do contato de pessoa-a-pessoa e de pessoa-a-objeto, desde o
nível do nascimento em diante, e desenvolve gradualmente o sentido das relações
interpessoais. O processo tele é considerado, portanto, o principal fator para
determinar-se a posição de um indivíduo no grupo.”

Tele é empatia recíproca. Como um telefone, ela tem duas pontas. Estamos
acostumados à noção de que os sentimentos aparecem dentro do organismo individual e que
se apegam com maior intensidade às pessoas ou coisas no meio ambiente mais próximo.
(Cukier, 2002, p. 317)

1.1.2 Encontro

A trajetória de Moreno, para conceituação do encontro, vem de uma fase religiosa,


passa por uma fase literária, chegando à expressão técnica da inversão de papéis e ao fator
tele. O encontro de que fala Moreno não pode ser marcado como um horário. No entanto, ele
convidava para esse encontro. O convite moreniano é uma espécie de convocação, é um
apelo para a sensibilidade do próximo. É apelo de espontaneidade. (Gonçalves et al., 1988, p.
52).
Segundo Moreno (1975/2016, p. 308), num encontro, as duas pessoas estão com todas
as suas forças e fraquezas, são dois atores humanos fervilhando de espontaneidade, e somente
parcialmente cônscias de seus propósitos mútuos. Na verdade, foi o poeta Moreno, e não o
terapeuta, quem descreveu o encontro. Esse acontecimento especial escapa a definições
lógicas.
Na criação poética de Moreno é possível destacar algumas mensagens: a disposição e
a convocação para a proximidade; a proposta de uma vivência plena de troca; o empenho na
compreensão mútua; a confiança na receptividade do outro; a acolhida do silêncio que
envolve o acontecimento, do qual até as coisas mais simples parecem tonar-se cúmplices; o
afastamento efetivo do ruído, das interferências que distorcem; o lugar não pode ser
5
delimitado, o momento é o tempo vivido plenamente, escapa a medidas que o precisem; a
palavra, que não é mera fala, é um dizer pleno, não brota de definições; na experiência radical
de convivência revela-se a ausência de limitação da verdadeira essência humana. (Gonçalves
et al., 1988, p. 53/54)

Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto,
arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; e arrancarei meus olhos
para colocá-los no lugar dos teus; então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás
com os meus. (Moreno, 1975/2016, pag. 9)

1.1.3 Co-Consciente e Co-Inconsciente

Segundo Moreno (1975/2016, p. 30/31) os estados co-conscientes e co-inconscientes


são, por definição, aqueles que os participantes experimentam e produzem conjuntamente e
que, por conseguinte, só podem ser reproduzidos ou representados em conjunto. Um estado
co-consciente ou co-inconsciente não pode ser propriedade de um único indivíduo. É sempre
uma propriedade comum e sua representação é impossível sem um esforço combinado.

1.1.4 - Teoria da Matriz de Identidade

A Matriz de Identidade, no seu sentido mais amplo, é o lugar do nascimento (locus


nascendi). Moreno a definiu também como placenta social pois, à maneira da placenta
estabelece a comunicação entre a criança e o sistema social da mãe, incluindo aos poucos os
que dela são mais próximos. (Gonçalves et al., 1988)
Segundo Ramalho (2002), a Matriz de Identidade é dividida em dois universos. O
primeiro é subdividido em dois tempos: o período de Identidade Total Indiferenciada ( a
criança não diferencia pessoas de objetos, nem fantasia de realidade, em que só há o tempo
presente) e o período de Identidade Total Diferenciada ou Realidade Total (no qual se inicia o
processo de diferenciação entre objetos e pessoas).
O segundo universo da Matriz de Identidade, por sua vez, inicia-se quando aparece a
“brecha” entre fantasia e realidade, possibilitando a diferenciação entre o que é real e o que é
imaginário, a evolução da percepção télica (que permite um maior reconhecimento do Eu e do
Tu), além da adoção de papéis sociais e psicodramáticos. (Ramalho, 2002)
Moreno desenvolveu suas técnicas psicodramáticas básicas inspirados nas etapas da
Matriz de Identidade, dividindo-as em três tipos: Duplo (o faze da Indiferenciação; Espelho
6
(ou faze do Reconhecimento do Eu); Inversão de Papéis (ou fase do Reconhecimento do Tu).
(Ramalho, 2002)
Na Técnica do Duplo, ensina Ramalho (2002) o terapeuta assume, por um pequeno
instante, o papel do paciente e, pelas verbalizações breves e precisas, mostra-lhe o que
percebe. É uma técnica “quase interpretativa”, podendo ser reveladora de aspectos
inconscientes.
Na Técnica do Espelho, continua Ramalho (2002), o terapeuta ou ego-auxiliar coloca-
se na postura física que o paciente assume em determinado momento. O objetivo é permitir
que o paciente, olhando para si, de fora da cena, atine com todos os aspectos presentes nela e
com sua reação diante desses aspectos. |
Ainda segundo Ramalho (2002), a Técnica de Inversão de Papéis, propicia além da
vivência do papel do outro, o emergir de dados sobre o próprio papel que, sem esse
distanciamento, não seria possível. A consigna, nesse caso, é que o paciente represente o
papel de alguém. O terapeuta utiliza-se da técnica da entrevista no papel representado, para
que facilite a composição do personagem pelo paciente. Essa forma descrita é uma variação
da técnica utilizada em psicoterapia bipessoal, pois, segundo Moreno, essa técnica só se torna
possível quando os papéis a serem invertidos são dramatizados pelas próprias pessoas
envolvidas.

1.1.5 - Conserva Cultural , Espontaneidade e Criatividade

Para Moreno (1975/2016, p. 132), a raiz da palavra “espontâneo” e seus derivados é o


latim sponte, com o significado de “por livre vontade”. A espontaneidade tem a tendência
inerente para ser experimentada por um indivíduo como seu próprio estado, autônomo e livre
– isto é, livre de influências exteriores e de qualquer influência interna que ele não possa
controlar.

Na teoria da espontaneidade, a energia, enquanto sistema organizado de forças


psíquicas, não foi inteiramente abandonada. Ela reaparece na forma de conserva
cultural. Mas, em vez de ser o manancial, de estar no começo de todo e qualquer
processo, como a libido, está no final de um processo, um produto terminal. É
avaliada em sua relatividade, não como uma forma última, mas como um produto
intermédio que, de tempos em tempos, é reorganizado, reformado ou inteiramente
decomposto por novos fatores de espontaneidade que atuam sobre ele. (...). É na
interação entre espontaneidade e criatividade, por um lado, e a conserva cultural, por
outro, que a existência do “fator e” pode ser, de algum modo, harmonizada com a
7
ideia de um universo sujeito a leis, como, por exemplo, a lei da conservação de
energia. (Moreno, 1975/2016, p. 137).

Nota-se bem a interatividade entre os aspectos criativos e espontâneos, poder-se-ia


mesmo dizer, que não há um sem o outro: “A criatividade é indissociável da espontaneidade.
A espontaneidade é um fator que permite ao potencial criativo atualizar-se e manifestar-se”.
(Gonçalves et al, 1988, p. 47).
O homem nasce espontâneo e deixa de sê-lo devido a fatores adversos do meio
ambiente. Os obstáculos ao desenvolvimento da espontaneidade encontram-se tanto no
ambiente afetivo-emocional, que o grupo humano mais próximo estabelece com a criança
(matriz de Identidade e átomo social), quanto no sistema social em que a família se insere
(rede sociométrica e social). ( Gonçalves et al, 1988, p.46).
Espontaneidade também é a capacidade de um indivíduo para enfrentar
adequadamente cada nova situação. Ela (a espontaneidade) não é apenas o processo dentro da
pessoa, mas também o fluxo de sentimentos na direção do estado de espontaneidade de uma
outra pessoa. Do contato entre dois estados de espontaneidade que, naturalmente, estão
centrados em duas pessoas diferentes, resulta uma situação interpessoal.

Espontaneidade é a capacidade de agir de modo adequado diante de situações novas,


criando uma resposta inédita ou renovadora ou, ainda, transformadora de situações
preestabelecidas. ( Gonçalves et al, 1988, p. 47).

A possibilidade de modificar uma dada situação ou de estabelecer uma nova situação


implica em criar: produzir, a partir de algo que já é dado, alguma coisa nova. A Revolução
Criadora moreniana é a proposta de recuperação da espontaneidade e da criatividade, através
do rompimento com padrões de comportamento estereotipados, com valores e formas de
participação na vida social que acarretam a automatização do ser humano (conservas
culturais). ( Gonçalves et al, 1988, p. 46/47)
Sobre espontaneidade e criatividade, Gonçalves et al (1988, p.46) nos afirma ainda
que para que possamos nos sentir vivos, é necessário que nos reconheçamos como agentes do
nosso próprio destino, isto é, quando somos restringidos à condição de peças de engrenagens,
nas quais somos inseridos sem a nossa vontade, impossibilitados de ter iniciativa pessoal,
estamos sendo privados de nossa espontaneidade, isto é, ocorre a alienação do fator E.
8
A espontaneidade é a capacidade de agir de modo “adequado” diante de situações
novas, criando uma resposta inédita ou renovadora ou, ainda, transformadora de situações
preestabelecidas.
Para Moreno (1975/2014, p.143), “numa nova situação a enfrentar, há três reações
possíveis: (a) nenhuma resposta numa situação; (b) uma velha resposta a uma nova situação;
(c) nova resposta a uma nova situação”.

1.1.6 Teoria dos papéis

Segundo Moreno (1975/2016, p. 27), o termo inglês role (= papel), originário de uma
antiga palavra francesa que penetrou no francês e inglês medieval, deriva do latim rotula. Só
nos séculos XVI e XVII, com o surgimento do teatro moderno, é que as partes dos
personagens teatrais foram lidas em “rolos” ou fascículos de papel. Desta maneira, cada parte
cênica passou a ser designada como um papel ou role. Assim, o papel não é um conceito
sociológico ou psiquiátrico; entrou no vocabulário científico através do teatro.
O papel pode ser definido como uma unidade de experiência sintética em que se
fundiram elementos privados, sociais e culturais. Desde tempos imemoriais, o teatro tem sido
o meio mais extraordinário para a representação de papéis. No teatro foi cultivada, em sua
forma pura, a ideia platônica do papel, não adulterada pelo fragmentarismo e as
complexidades da vida real. (...). Toda e qualquer sessão psicodramática demonstra que um
papel é uma experiência interpessoal e necessita, usualmente, de dois ou mais indivíduos para
ser realizado. (Moreno, 1975/2014, p.238).
A função do papel é penetrar no inconsciente, desde o mundo social, para dar-lhe
forma e ordem. Espera-se que todo indivíduo esteja à altura do seu papel oficial na vida. O
indivíduo anseia por encarnar muito mais papéis do que aqueles que lhe é permitido
desempenhar na vida. Todo e qualquer indivíduo vê-se a si mesmo numa variada gama de
papéis e vê os outros que o cercam numa grande variedade de contrapapéis. O papel é a
unidade da cultura; ego e papel estão em íntima interação. (Moreno, 1975/2014, p.28/29)
Estes fatores estão presentes desde a primeira fase da Matriz de Identidade:

O papel pode ser definido como uma pessoa imaginária criada por um autor
dramático, por exemplo, um Hamlet, um Otelo ou um Fausto; esse papel imaginário
pode nunca ter existido como um Pinóquio ou Bambi. Pode ser um modelo para a
existência, como um Fausto; ou uma imitação dela, como um Otelo. O papel
9
também pode ser definido como uma parte ou um caráter assumido por um ator, por
exemplo, uma pessoa imaginária como Hamlet animada por um ator para a
realidade. O papel ainda pode ser definido como uma personagem ou função
assumida na realidade social, por exemplo, um policial, um juiz, um médico, um
deputado. Finalmente, o papel pode ser definido como a formas reais e tangíveis que
o ‘eu’ adota. Eu, ego, personalidade, personagem etc. são efeitos acumulados,
hipóteses heurísticas, postulados metapsicológicos, “logóides”. (Moreno,
1975/2016, p.206)

Moreno considerava que o papel não era estanque, mas que estava em processo de
desenvolvido, conforme três fases de desenvolvimento explicitadas abaixo no Quadro 01.

Quadro 01 – Fases do desenvolvimento dos papéis


Fase 01 Tomada do papel ou adoção do papel, que consiste em simplesmente
Role-taking imitá-lo, a partir dos modelos disponíveis.
Tomada de papel
Fase 02 É se jogar no papel, explorando simbolicamente suas possibilidades de
Role- playing representação.
Treinar no papel
Fase 03 É o desempenho do papel de forma espontânea e criativa.
Role-creating
Criar papel
Fonte: (Gonçalves et al, 1988, p. 73-75).

Moreno pretendia que a ação dramática terapêutica levasse a algo mais do que a mera
repetição de papéis tais como são desempenhados no quotidiano. A ação dramática permite
insights profundos, por parte do protagonista e do grupo, a respeito do significado dos papéis
assumidos. (Gonçalves et al, 1988, p. 73-74).

1.1.7 Psicodrama bipessoal

Segundo Cukier (1992, p.17) é uma abordagem terapêutica oriunda do psicodrama,


que não faz uso de egos auxiliares e atende apenas a um paciente de cada vez, configurando
uma situação de relação bipessoal, ou seja, um paciente e um terapeuta.
Ainda segundo Cukier(1992, p.19), o psicodrama bipessoal representa um retrocesso,
começando por Moreno. Ele raramente menciona essa possibilidade da técnica, e quando o
faz é de forma algo pejorativa:(citado por Cukier, 1992, p.19).
10
O psicodrama a dois, paralelo da situação psicanalítica do divã, vem sendo
experimentado, de tempos, mas é interessante apontar que psicodramatista, em sua
prática, prefere muitas vezes empregar sua enfermeira como ego auxiliar a fim de
manter impoluta sua própria identidade de diretor.

Apesar desse depoimento, sabemos que, pelo menos em duas ocasiões, Moreno fez
uso de um atendimento bipessoal: no caso Rath e no Psicodrama de Adolf Hitler. Esses casos
clínicos não parecem, entretanto, ter tido maior impacto em suas obras, uma vez que em
nenhum momento Moreno formalmente prescinde ou questiona a função do ego auxiliar.
(Cukier, 1992)
Afirma Cukier (1992) que o psicodrama bipessoal não deve ser visto como uma
abordagem terapêutica menos importante que outras. Somos capazes de lidar com a
sobrecarga de funções que o papel do psicoterapeuta requer no psicodrama bipessoal,
mantendo-se o papel de diretor, mesmo ao contracenar com o paciente.

“Um grupo começa com duas pessoas, quando o terapeuta é um verdadeiro segundo
e não apenas um observador. Na clássica situação psicanalítica há realmente apenas
um, porque o segundo, o analista, não está verdadeiramente com ele, mas fora dele.
Houve e há, naturalmente, analistas que procuram fazer de duas pessoas uma só.
Isso acontece, entretanto, quando o terapeuta desempenha não apenas o papel de
médico, mas também de companheiro do paciente. (CUKIER, 2002)

O Psicodrama bipessoal não se propõe a estimular ou criar nenhuma neurose de


transferência, mas não tem também a pretensão de que esses desviantes da relação télica
normal não ocorram. Eles ocorrem sim, em qualquer forma de terapia e com qualquer manejo
teórico. (Cukier, 1992)
O indivíduo é seu ego-auxiliar, o médico pode ser o outro. Uma das primeiras
utilidades da técnica psicodramática foi nesta forma individual. Ela foi, e ainda é o
aperfeiçoamento da psicanálise como relacionamento paciente-médico. O psicodrama é
erroneamente considerado apenas em sua forma grupal. (Cukier, 1992)
Sumariamente, a sessão psicodramática bipessoal divide-se em três etapas:
aquecimento, dramatização e compartilhamento.

1.2 Psicodrama com Máscaras

Segundo Ramalho (2002, p.65), Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, considerado o pai
da Psicologia Analítica, “...foi defensor do processo psicoterápico ser guiado pela natureza,
11
tendo como finalidade não a “cura” em si, mas o desenvolvimento das possibilidades criativas
latentes no indivíduo”. Seu legado, expandiu o conhecimento sobre a natureza humana,
incluindo arte, história, mitologia, filosofia, espiritualidade, etc.
O sujeito cria personagens e assume diferentes papéis sociais que se encontram muitas
vezes cristalizados e que estão impedidos de serem protagonizados em sua plenitude e em sua
possibilidade criativa, tendo como resultado uma inadequação decorrente de uma falta de
espontaneidade e criatividade. (Oliveira, 2013)
As máscaras são incorporadas a partir da rotulação de padrões predeterminados pela
sociedade, na qual o sujeito se coloca em uma condição de impedimento de expressar sua
verdadeira essência, criando uma espécie de barreira e ocultando valores e sentimentos que a
sociedade não legitima. (Oliveira, 2013)
Nos atendimentos psicoterápicos, as máscaras são utilizadas como objetos
intermediários que ajudam os indivíduos a entrarem em contato consigo mesmo, em um plano
subjetivo.
Bermudez (2016, p. 105) conceitua objeto intermediário como um elemento real e
concreto, com poder de atração que facilita a comunicação. Portanto, as máscaras, além de
facilitar a comunicação, permitem concretizar sua condição de cristalização, despertando
sensações e sentimentos aflorados em seu mundo interior, possibilitando a conscientização de
múltiplos aspectos dos papéis sociais e dos personagens que o sujeito, em dado momento de
sua vida, muitas vezes adota e se máscara.
O processo psicodramático com máscaras permite ao sujeito reconhecer conteúdos
objetivos e subjetivos de sua personalidade, levando-o a entrar profundamente em contato
com seu mundo interior.
A utilização do objeto intermediário, máscara, fundamenta-se na criatividade e na
espontaneidade do sujeito, pois tanto a espontaneidade quanto a criatividade estão na base da
descristalização das “máscaras” utilizadas pelos sujeitos que não enxergam novas
possibilidades de atuação na vida através de seus papéis sociais imersos na sua cultura.
Aqui se faz necessário estabelecer uma breve reflexão quanto aos termos persona e
sombra, animus e anima da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung.
12
1.2.1 Persona

Hall et al (1980/2019, p. 36), ao citar Jung, ensina que a palavra persona significava,
originalmente, uma máscara usada por um ator e que lhe permitia compor uma determinada o
personagem numa peça. Persona é a máscara ou fachada ostentada publicamente com a
intenção de provocar uma impressão favorável a fim de que a sociedade o aceite. A persona é
imprescindível a sobrevivência. Ela nos torna capazes de conviver com as pessoas, inclusive
com as que nos desagradam, de maneira amistosa. Uma pessoa pode usar mais de uma
máscara, mas estas máscaras constituem sua persona.
O papel da persona na personalidade tanto pode ser prejudicial como benéfico.
Quando um indivíduo deixa-se enlear demais ou se preocupa excessivamente com o papel que
está desempenhando, e seu ego começa a se identificar unicamente com tal papel, os demais
aspectos de sua personalidade são postos de lado. Tal indivíduo governado pela persona torna-
se alheio a sua natureza e vive em estado de tensão em razão do conflito entre a persona
superdesenvolvida e as partes subdesenvolvidas de sua personalidade. (Hall et al 1980/2019,
p. 36)
Por um lado, o indivíduo tem um senso exagerado da própria importância decorrente
do modo eficiente com que desempenha um papel e por outro lado, a pessoa também pode
experimentar sentimentos de inferioridade e de recriminação a si mesma quando se sente
incapaz de corresponder aos padrões esperam. Consequentemente, pode sentir-se alheia a
comunidade e alimentar sentimentos de solidão e distanciamento. Seja um bem ou um mal,
entretanto, a persona faz parte da existência humana e precisa encontrar a sua expressão.

1.2.2 Anima e Animus

Jung qualificou a persona de "face externa” da psique por ser esta a face vista pelo
mundo. A "face interna”, deu o nome anima nos homens e de animus nas mulheres. O
arquétipo de anima constitui o lado feminino da psique masculina; o arquétipo de animus
compõe o lado masculino da psique feminina. Toda pessoa possui qualidades do sexo oposto,
não somente no sentido biológico de que tanto o homem quanto a mulher secretam hormônios
masculinos e femininos, mas também no sentido psicológico das atitudes e sentimentos. (Hall
et al 1980/2019, p. 38)
13
Para que a personalidade seja bem ajustada e equilibrada, o lado feminino da
personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher devem poder
expressar-se na consciência e no comportamento.
O que Jung quer dizer com isso é que o homem herda a sua imagem da mulher e
inconscientemente estabelece certos padrões que lhe influenciarão poderosamente a aceitação
ou a rejeição de qualquer mulher. A primeira projeção da anima é feita sempre na mãe, assim
como a primeira projeção do animus é feita no pai. O desequilíbrio entre persona e a anima,
ou o animus, pode desencadear uma rebelião da anima ou do animus, caso em que a pessoa
reages exageradamente. (Hall et al 1980/2019, p. 39)

1.2.3 Sombra

No homem, a sombra contém uma maior quantidade de natureza animal. Em virtude


de suas raízes muito profundas na história evolutiva, é este provavelmente o mais poderoso e
potencialmente o mais perigoso de todos os arquétipos. É a fonte de tudo que há de melhor e
de pior no homem.(Hall et al 1980/2019, p. 40)
Para que um indivíduo se torne um membro essencial a comunidade, ser-lhe-á
necessário domesticar os ímpetos animais contidos na sombra. Para isso deverá ser feito um
trabalho com a finalidade de suprimir as manifestações da sombra e o desenvolvimento de
uma poderosa persona que contrabalance o poder da sombra. O indivíduo que suprime o
aspecto animal da natureza pode-se tornar civilizado, mas só o consegue às custas da
capacidade motivadora da espontaneidade, da criatividade das fortes emoções e das
instituições profundas. A sombra é persistente, ela não é facilmente derrotada pela supressão.
(Hall et al 1980/2019, p. 36)
Quando o ego e a sombra trabalham em perfeita harmonia a pessoa sente-se cheia de
vida e de energia. O ego canaliza, em lugar de obstruir, as forças emanadas dos instintos. A
consciência expande-se e a atividade mental fica cheia de vivacidade e vitalidade.
Mas considerando os elementos “maus” ou “nefastos” existentes na sombra, podemos
imaginar que, uma vez eliminados da consciência, os elementos maus são descartados de uma
vez por todas. Mas basta a pessoa se encontrar numa crise, numa situação difícil, que a
sombra aproveitará a oportunidade para exercer o seu poder sobre o ego. A sombra é dotada
de um extraordinário poder de resistência: nunca e vencida. A natureza persistente é
igualmente eficaz, tanto para a promoção do mal como do bem. Quando a sombra é
14
fortemente reprimida pela sociedade, ou quando não são lhe dadas válvulas de escape
adequadas, ocorrem frequentes desastres. (Hall et al 1980/2019, p. 40)
A sombra é fonte de intuições realistas e de respostas adequadas, importantes para a
sobrevivência. Estas qualidades da sombra valor para o indivíduo em situações que exigem
decisões e reações imediatas, quando não há tempo para avaliar a situação e raciocinar
buscando resposta conveniente. Nestas circunstâncias, a mente consciente (ego) fica
atordoada pelo súbito impacto da situação, o que dá à mente inconsciente (sombra)
oportunidade para lidar com ela à própria maneira.
Em suma, pode-se dizer que a sombra é responsável pela vitalidade, criatividade,
vivacidade e vigor do indivíduo. (Hall et al 1980/2019, p. 43)

1.2.4 Self

O self é um fator interno de orientação, diferente de nosso ego consciente exterior. Ele
tem a capacidade de regular ou governar e de influenciar a personalidade, tornando-a capaz de
amadurecer de aumentar sua perceptibilidade. Através do desenvolvimento do self, o homem
fica motivado para aumentar a consciência, a percepção, a compreensão e o rumo da própria
vida. Jung concluiu que “...o self é meta de nossa existência, por ser ela a mais completa
expressão da combinação a que estamos fadados e que denominamos individualidade….”.
(Hall et al 1980/2019, p. 43- 44)

1.3 Aproximações possíveis entre a vida e a obra de J.L. Moreno e C.G. Jung

Os dois foram “acendedores de lampiões” no racionalismo do século XX. Ambos


rejeitaram princípios psicanalíticos e desenvolveram trajetórias próprias. Jung e Moreno
foram “espiritualistas” no sentido mais amplo do termo, embora no aspecto profissional
tenham adotado uma perspectiva empírica e não metafísica. (Ramalho, 2002, p. 82-83)
Ambos tinham em comum o senso de humor e nasceram em famílias de poucos
recursos, recebendo de suas mães uma forte influência, vindo a desenvolver uma percepção
excepcional, mística e dramática. Os dois experimentaram em suas vidas uma jornada heroica,
incluindo a luta contra seus “dragões interiores”, em uma fase perturbadora de reorganização
existencial, o que se tornou foco de inspiração em suas obras, facilitando que aprendessem a
conviver com seus pacientes em uma relação muito próxima. (Ramalho, 2002, p. 84)
15
Jung e Moreno procuraram explorar a natureza humana como ligada a uma energia
cósmica, de abundância inesgotável e fundamental a todos os seres, considerada a centelha
divina da espontaneidade-criatividade (para Moreno, ou a energia psíquica superior do Self
(para Jung). (Ramalho, 2002, p. 84/85)
Moreno defendia a existência de uma “centelha divina”, responsável pelo potencial
espontâneo-criativo do ser humano. Jung, por sua vez não tentou demonstrar
psicologicamente que Deus existia, como afirmam alguns de seus críticos, mas sim
demonstrar a existência de uma imagem arquetípica de Deus no Inconsciente Coletivo.

1.4 Diálogo vivo: persona x sombra

No psicodrama com máscaras podemos observar os conceitos morenianos básicos:


• Espontaneidade e Conserva Cultural;
• Co-inconsciente e co-consciente;
• Encontro Existencial
• Tele;
• Papel;
• Catarse de Integração;
• Cena.

O psicodrama com máscaras possibilita o Teatro espontâneo e o jogo. Como


fenômeno ligado a espontaneidade e criatividade, o jogo seria o princípio da psicoterapia do
grupo e do psicodrama. A atitude lúdica é básica no Psicodrama. É somente revelando o
drama e as máscaras, que se pode transformar a existência, que reproduz o Drama humano
coletivo.
Visa fazer brotar o sujeito espontâneo-criador, deixar eclodir a verdade de cada um,
que jaz mascarada nos papéis, na trama, no enredo do Drama coletivo, do qual são todos
atores inconscientes.
O protagonista retira suas máscaras na ação psicodramática. Des-veste a sua Persona e
reconhece suas Sombras… Psicodramatizar a máscara é um “ato de busca”, de descoberta.
O Psicodrama com máscaras visa entrar no Drama para o desmascarar, desmistificar
sua trama, mergulhar nos mitos, enfrentar fantasmas, etc.
16
As vivências, em geral, apresentam situações metafóricas, onde personagens míticos
ou não humanos têm vida no espaço psicodramático, dando voz ao imaginário coletivo (por
realização simbólica).
Figuras arquetípicas, mitos pessoais e coletivos , emergem constantemente nas
máscaras –revelando algo do momento social ou da dinâmica daquele grupo.
Principais técnicas psicodramáticas que poder ser usadas:
• As Básicas: duplo, espelho e inversão de papéis.
• Concretização.
• Solilóquio.
• Construção de imagens (com corpo)
17
2. Metodologia
2.1 Metodologia X Método

Antes de prosseguir, faz-se necessário distinguir os termos “metodologia” e “método”.


Segundo Monteiro et al (2006), metodologia é o conjunto de pressupostos básicos que
norteiam a pesquisa no que diz respeito à definição de sua natureza e dos meios válidos ou
propícios à sua execução. Já método é o conjunto de recursos, técnicas de coleta, de análise e
de comunicação das evidências empíricas.
E Potter (1996, como citado em Monteiro et al, 2006, p. 25) afirma:

Metodologia é como uma estratégia – ou plano – para


atingir um objetivo; métodos são táticas que podem ser
empregadas para atingir os objetivos da metodologia
(Potter, 1996).

Com base nesta distinção, pode-se entender que a escolha de uma metodologia de
pesquisa traduz uma posição em termos epistemológicos e não apenas uma adesão a um
determinado método. Sob o referencial epistemológico qualitativo, posso adotar a
metodologia fenomenológica ou a psicodramática, como método, posso empregar entrevistas
nos dois casos.

2.2 Epistemologia qualitativa e psicodrama

Segundo Monteiro et al (2006), epistemologia qualitativa designa um conjunto amplo


de formas de gerar conhecimento que privilegia a dimensão subjetiva, singular, sócio-
histórica da experiência humana. Sendo assim, a metodologia assume uma relevância central
na medida em que o como é entendido como sendo uma das maneiras de explicar o quê.
O convite à pesquisa é, uma versão científica do Convite ao encontro, poema em que
Moreno apresenta seus princípios filosóficos.
Uma modalidade de pesquisa qualitativa, o estudo de caso, é a descrição detalhada de
uma situação específica, das conquistas, das agruras de pesquisadores e/ou profissionais para
compreender e intervir na vida de seus pacientes.
Monteiro et al (2006) explica de forma clara do porquê de termos escolhido a máscara
como instrumento para promover a cura:
18

Nosso diálogo com as artes cênicas é similar ao da psicologia analítica com as artes
plásticas: em ambos os casos lançamos mão de técnicas artísticas para um objetivo
que pode até ser artístico, contudo, é fundamentalmente terapêutico, um tratamento.
Não nos interessa tanto encontrar formas mais belas de mostrar a dor de pessoas ou
grupos, e sim permitir que ela as superem. Seja no contexto psicoterápico seja no
educativo – diferenciação que tem contornos mais ou menos nítidos em grupos
distintos –, um psicodramatista emprega recursos teatrais para promover algum
objetivo previamente acordado com as pessoas envolvidas, abandonando, assim, um
dos princípios fundamentais da produção artística: ser um fim em si mesma. (p. 35-
36)

Continuando, Monteiro et al (2006) mencionam ser Moreno um cientista que nos


conclama a uma forma mais engajada, alegre e flexível de conhecer a dor humana. Ele nos
legou uma metodologia que nos permite transitar entre números, palavras, silêncios e os
movimentos, sem ignorar as proposições estáticas e as expressões gráficas. Podemos fazer
pesquisa empregando todas as possibilidades de interação humana, inclusive as imaginárias,
estimulando a pessoa a expressar-se o mais verdadeiramente possível. Nós, psicodramatistas
realizamos encenações dramáticas com a finalidade de conhecer e tratar a dimensão subjetiva,
psicológica, das pessoas com as próprias pessoas.

2.3 Possibilidades de investigação qualitativa com métodos psicodramáticos

Moreno (como citado em Cukier, 2002, p. 51) afirma o seguinte:

Não se pergunte o que a pesquisa científica pode fazer para torná-lo melhor
psicodramatista; pergunte como psicodramatistas podem melhorar a pesquisa
científica.

Nesta pesquisa adotamos o modelo qualitativo, que é uma metodologia exploratória.


Seu foco está no caráter subjetivo do objeto analisado, buscando compreender as
particularidades e experiências do sujeito estudado. Nesse método, as respostas costumam
não ser objetivas, ou seja, os resultados obtidos não são contabilizados em números exatos. A
pesquisa qualitativa costuma ser realizada quando o objetivo do estudo é entender o porquê de
determinados comportamentos. Além de compreender e interpretar comportamentos e
tendências, o instrumento também é usado para identificar hipóteses para um problema e
descobrir as percepções e expectativas dos participantes
19
Em sessão psicodramática de pesquisa, o terapeuta oferece ao paciente diferentes
contextos, promovendo um envolvimento crescente e se colocando em papéis diversos a fim
de facilitar que o paciente se expresse de seu próprio modo, com seus próprios recursos. A
pesquisadora manteve interação com a paciente durante e após a vivência.
A análise de manifestações artísticas, desenhos, esculturas é, por exemplo, um método
de pesquisa comum tanto na antropologia quanto nas intervenções psicoterápicas. A
dimensão não-verbal da experiência também é investigada por observações de vários matizes;
silêncios, interrupções e outros entraves à comunicação oral constituem elementos centrais de
várias modalidades de análise de interações verbais. (Monteiro et al, 2006, p.43)
No trecho abaixo, nota-se que Moreno entendia seu trabalho como uma pesquisa
visceralmente articulada a uma prática: (Monteiro et al, 2006, p.43)

[...]Criado que fui em um ambiente científico, comecei a desenvolver hipótese,


procedimento através dos quais testá-las, e teses com os quais mensurar a
espontaneidade. Tudo isso foi realizado não como uma ciência em seu próprio
benefício, mas como um passo suplementar e preliminar a um teatro de
espontaneidade que abrisse as portas ao adorador do gênio criativo e imediato.
(Moreno como citado em Monteiro et al, 2006, p.43)

Na presente pesquisa, foi escolhido o estudo de caso, que é um método clássico na


pesquisa clínica qualitativa, portanto não prescinde de questões: o pesquisador focaliza uma
situação específica para questionar aspectos teóricos, metodológicos e avaliar resultados.
(Monteiro et al, 2006, p.50)
Logo, esta pesquisa tem como base a realização simbólica da ação dramática, que
exemplifica como a realidade suplementar potencializa a tomada de consciência para a
resolução de conflitos, por garantir um espaço seguro para que o indivíduo possa exercer a
sua criatividade e espontaneidade, buscando administrar suas demandas, descristalizando suas
conservas culturais que tanto adoecem as relações, bem como os papéis que são ou não
desempenhados nelas.
Nessa pesquisa foi utilizada a execução de máscaras, que tanto pode ser usado no
contexto bipessoal quanto em grupos de terapia ou grupos sócio-educacionais. Todo o
trabalho foi direcionado para a dramatização, promovendo a realização simbólica para a
participante no aqui e agora.
O trabalho desenvolvido com o uso de Máscaras envolveu diferentes modalidades:
modelagem para confecção da máscara, pintura, colagem para trazer à tona o conteúdo
20
psíquico a ser trabalhado e o uso da máscara em si com a construção e experimentação do
personagem.
O caso clínico escolhido é relativo a uma cliente que frequentava a terapia individual,
com assiduidade, há aproximadamente um ano. A experiência foi realizada no dia 27/02 e
04/03/2020/2020 no consultório da terapeuta localizado no Edifício Oviedo Teixeira, Centro,
Aracaju, SE e cada encontro teve carga horária de 2 (duas) horas.
Para consecução de tal estudo, foi submetido à aprovação da cliente um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (em Anexo), pelo qual foi dada sua permissão para
realizar trabalhos acadêmicos inspirados em seu caso, mantido o sigilo de sua identidade, de
acordo com as normas estabelecidas no Código de Ética do Psicólogo / Conselho Federal de
Psicologia. Decidiu-se adotar pseudônimo para nos referimos a cliente que inspirou este
estudo, de modo a assegurar-lhe o anonimato.

2.4 Máscaras

Tendo em vista a complexidade dos papéis sociais, criam-se máscaras que são
incorporadas pelo sujeito. Buchbinder (1996) denomina máscaras cotidianas como aquelas
construídas pela intimidade do sujeito e que se relacionam com outras máscaras. De acordo
com o autor, elas representariam a história individual do sujeito que dialoga com o meio
social expressado em seu rosto ao gerar uma máscara única cristalizada. Essa cristalização é
produto da conserva cultural.
Para Zerka Moreno (2010) a conserva cultural é consequência de um produto como se
fosse um momento congelado no tempo. O homem muitas vezes, conserva suas ações
respondendo de maneira mecanizada ao contexto social. Sufoca, portanto, sua capacidade
criadora tornando-se rígido, automático e impedido de se expressar espontaneamente.
Bermudez (2016) conceitua objeto intermediário como um elemento real e concreto,
com poder de atração que facilita a comunicação. As máscaras, além de facilitar a
comunicação, permitem concretizar sua condição de cristalização, despertando sensações e
sentimentos aflorados em seu mundo interior, possibilitando a conscientização de múltiplos
aspectos dos papéis sociais e dos personagens que o sujeito, em dado momento de sua vida,
muitas vezes adota e se máscara.
O processo psicodramático com máscaras permite ao sujeito reconhecer conteúdos
objetivos e subjetivos de sua personalidade, levando-o a entrar profundamente em contato
21
com seu mundo interior. A máscara tem o poder de permitir essa conexão. Na utilização desse
instrumento psicodramático, é possível observar a facilidade com que o sujeito se encontra
consigo mesmo abreviando a psicoterapia. No processo psicoterápico, o mundo interior do
paciente, é governado e administrado por ele com o intuito de criar, construir, multiplicar,
adoecer e paralisar seu mundo. Cada paciente tem o próprio mundo interior. Nessa
circunstância, o paciente revela-se e é livre para fazer o que bem entender. (OLIVEIRA,
2013)
Nesta pesquisa, utilizei a máscara como um objeto intermediário para ajudar a
paciente a entrar em contato consigo mesmo, em um plano subjetivo.
Segundo Larsen (1991, p. 255) a máscara, como objeto suplementar, auxilia a pessoa a
conectar-se com seus personagens internos, possibilitando, assim o contato com a sombra,
iniciando-se o processo de tornar-se uno, da individuação.
As principais técnicas psicodramáticas que podem ser usadas: as básicas (duplo,
espelho e inversão de papéis); concretização, solilóquio e construção de imagens (com o
corpo).
As técnicas e a metodologia utilizadas nas sessões tiveram como prioridade o cuidado
terapêutico e a disposição das clientes para participar das mesmas, mediante o devido
aquecimento, e deixando as elaborações acadêmicas para um segundo momento.
22
3 Relato de experiência
3.1 Caracterização do caso

“Mafalda” é uma jovem mulher de 31 anos, formada em Administração, mas


atualmente é estudante de Direito. Já concluiu os créditos mas ainda falta apresentar o TCC.
Quanto a família, seu pai é falecido. “Mafalda” descreve seu pai como “tranquilo”,
“comedido”, “um porto seguro”. Sente muita falta de seu pai, sente-se “abandonada” por ele.
A mãe de “Mafalda” é descrita como “egoísta” e “controladora”. A única fonte de
renda era uma pensão paga pelo INSS, mas que não era suficiente. Seu tio, por parte de pai,
passou a ajudar a família. Mas, segundo ela, ele se mostra uma pessoa controladora, agressiva
e cobradora, exigindo sempre êxito dela nos estudos e na vida pessoal. Questiona, por
exemplo, quando ela vai se formar, quando vai começar a trabalhar, se vai fazer concurso, o
tempo está passando, etc. Sempre aproveitava uma reunião de família para iniciar seu
discurso desagradável, lembrando que seu pai faleceu e não deixou dinheiro para a esposa e
filhas e ele teve que arcar com tudo, até sua mãe se casar de novo. Sente-se como fosse um
pai substituto, mas muito controlador. Ela se sentia invadida e constrangida. Sua mãe casou-
se novamente, mas ela não se dava bem com o padrasto.
Namorava um rapaz, engravidou e casou, mais para sair de casa. Entretanto, poucos
dias após o casamento, abortou espontaneamente. Ficou muito triste, chorou muito e pouco
tempo depois o marido a deixou. Sentindo-se só e abandonada voltou a morar com sua mãe.
Como não se dava bem com o padrasto, saiu de casa e foi morar com suas irmãs na
casa onde vivera até seu pai falecer.
Hoje ela é estagiária em um escritório de advocacia, mas sempre que pode, seu tio, se
mostra uma pessoa controladora, agressiva, desagradável e cobradora, exigindo sempre êxito
dela nos estudos e na vida pessoal. Questiona, por exemplo, quando ela vai se formar, quando
vai começar a trabalhar, se vai fazer concurso, o tempo está passando, etc. Sempre lembra,
principalmente em reuniões de família, que seu pai faleceu e não deixou dinheiro para a
esposa e filhas e ele teve que arcar com tudo, até sua mãe ter se casado de novo, ela se
contenta com pouco, que não corre atrás de seus objetivos. Isso porque, ela como estagiária
ganha menos que um salário mínimo.. Sente-se como fosse um pai substituto, mas muito
controlador. Ela se sente invadida e constrangida.
Sua mãe vai todos os dias a sua casa para fazer o almoço, limpar a casa, lavar roupas,
inclusive as íntimas. A porta de seu quarto estava com cupim e sua mãe mandou tirar, mas
23
nunca colocou outra. E ela também nunca pediu ou demonstrou interesse de comprar uma
nova porta.
Seu quarto quem arrumava era sua mãe. Ela não tinha privacidade nenhuma. Não
emitia opiniões para não sofrer. Aceitava tudo passivamente, sem manifestações.
Mantém um relacionamento platônico com um colega, que por sua vez também é
problemático. Ele não sabe se quer namorar com ela ou “ficar”. Liga para ela de madrugada
chorando e não diz o que é e após 15 minutos, simplesmente desliga o telefone. Fica semanas
sem falar com ela e de repente aparece na casa dela. Ela diz não querer ter nenhum
relacionamento sério, não quer se apegar a ninguém. Uma coisa interessante é o quarto dela.
Ela me mostrou uma foto de seu quarto. Ele mais parecia um depósito do que um quarto.
Apresentava uma desorganização muito grande, onde se via roupas espalhadas pelo chão,
livros, caixas e no meio de tudo isso uma cama. Com o passar do tempo, e após várias
sessões, ela foi arrumando o quarto e sua cabeça. Começou a arrumar quarto, guardas as
coisas nos seus devidos lugares, jogar fora o que não interessava. Mas, mesmo assim, ainda
tinha dificuldades em perceber as mudanças acontecendo.
Quanto ao ex-marido, define-o como um “erro” em sua vida. Define-o como
“irresponsável”. Ainda sente muita mágoa quanto ao fto de ter sido abandonada por ele, após
o aborto. Momento muito triste e importante para ela. Citou também que não aprovou o
segundo casamento de sua mãe e não gosta do padrasto.

3.2 Evolução do caso e principais intervenções clínicas

No decorrer das sessões, trabalhamos diversos aspectos da vida de “Mafalda”,


buscando conscientizá-la de suas ações e sentimentos, frequentemente ignorados, de modo a
estimular sua espontaneidade para lidar com as situações apresentadas.
Em todas as sessões, ela era monossilábica, contida, e falava muito pouco. Em alguns
momentos ficávamos caladas. As sessões são difíceis pois ela é muito fechada e desconfiada
e não aceitava usar almofadas, caminhar ela sala. Com tantas perdas em sua vida, seu pai, seu
marido, seu filho, sua estima é muito baixa, não se reconhece como uma pessoa inteligente e
capaz.
Foram utilizadas várias técnicas com ela: desenho, caixa de areia, colagem,
cartodrama, incluindo trabalhos com a Deusa Interior, mitos femininos que moldam nossas
vidas. Artemis se destacou para ela.
24
Foi então que surgiu a idéia de ajudá-la a descobrir as diversas máscaras que
possuímos e as vezes não sabemos. Sugeri a ideia a ela e ela aceitou participar, com reservas.
Aí começou a pesquisa que se intitula Máscaras: pontes para encontros psicodramáticos

3.2.1 Incubação

Compareceu ao consultório a cliente “Mafalda”. Após os cumprimentos formais,


seguimos para um breve aquecimento visando à preparação corporal com músicas pré-
selecionadas com o objetivo de soltar e ativar o corpo para o trabalho a ser realizado. Durante
a preparação corporal foi usada uma sequência musical para estimular o corpo, deixando-o o
mais livre possível.
Após esse aquecimento, a terapeuta pediu que a cliente ficasse em uma posição
confortável e mentalizasse o que queria com a sua máscara.
Uma das músicas selecionadas foi Noite dos Mascarados cantada por Chico Buarque
de Holanda e Maria Betânia. Essa canção foi escolhida para marcar o início do encontro.
O objetivo da pesquisa era possibilitar a desconstrução da persona conhecida e ajudar
a vir à tona outras faces que a cliente guardasse em seu inconsciente.
Houve uma certa preocupação com relação à modelagem, pois ela não costuma fazer
trabalho manual e nunca havia feito máscaras. Ela foi informada que não existiam regras nem
normas, apenas que fosse espontânea, criativa e que deixasse os objetos expostos lhe falar.
No centro da sala encontrava-se o material colocado em forma de círculo: lápis coloridos,
folhas de papel, canetinhas coloridas, colas coloridas, retalhos de pano, cola quente, cola
branca, fitas coloridas, varetas, tintas, cartolina, papel A4.

Foto 01- material para confecção da máscara

Fonte: acervo da Autora


25
3.2.2 - Nascimento e apresentação

Chegamos à segunda fase da proposta: o nascimento.


Durante essa fase, houve silêncio por parte da participante, demonstrando muita
concentração no desenvolvimento do trabalho. A cliente sentada no chão, começou a olhar o
material e separando aleatoriamente as peças para montar sua máscara.
Após a confecção da máscara, perguntei a ela o nome de sua máscara. Ela respondeu:
transformação. Em seguida, foi entregue a ela o primeiro questionário.
1. quem é você? Uma borboleta
2. o que você traz para mim? Esperança de transformação
3. o que quer de mim? Mudança
4. qual a sua mensagem? Existe momento certo para tudo e vem chegando o momento
de você se transformar e ser a pessoa que quer ser.
A seguir, detalhes específicos desta etapa:
Mafalda separou cartolina, lápis de cera amarelo, tinta colorida vermelha e azul,
cartolina e fitas vermelhas. Começou a experimentar o material sobre a máscara, colocando e
mudando de lugar. Depois começou a recortar, pintar, colar.

Foto 02 – A transformação

Fonte: acervo da Autora

Pedi a ela que colocasse a máscara em sua fronte, e comecei a fazer as perguntas que
ela já havia respondido anteriormente.
A primeira imagem que me chamou a atenção foi o fato dos olhos não estarem
vazados e portanto, ela não poderia me ver.
Perguntei à “máscara” porque ela estava com os olhos tapados. Ela respondeu que não
queria ver a transformação que se aproximava. Tinha medo. Sabia que a hora estava
chegando e que teria que sair da zona de conforto.
26
Perguntei à “máscara” quem é você? “Eu sou uma borboleta. Mas dor de me
transformar em uma borboleta foi muito grande. Durante muito tempo em minha vida fui
uma lagarta, que se arrastava pelos cantos, temendo o ambiente que me cercava. Me sentia só
e abandonada desde que meu pai faleceu”.
Perguntei à lagarta o que a assustava no ambiente em que vivia. Ela respondeu que se
sentia pressionada, cobrada, pelas pessoas, principalmente seus tios. Solicitei uma inversão
de papéis e passei a entrevistar Mafalda.
Mafalda respondeu que tinha muita mágoa de seu tio paterno, que após a morte de seu
pai, passou a ajudar financeiramente sua mãe, ela e sua irmã, mas, sempre que podia cobrava
atitudes. Eles a faziam se sentir um ser inferior diante da família. Perguntei se ela poderia
dar um exemplo de uma situação que a tivesse deixado inferiorizada.
Ela respondeu que em todas as reuniões de família, que seu tio estava presente, ele
sempre a lembrava de alguma forma que seu pai havia falecido e por isso ele ajudava a ela e à
mãe financeiramente e esperava que, em breve, ela concluísse a faculdade. Aqui houve uma
mistura de lagarta e cliente, respondendo às perguntas.
“Mafalda” tem dificuldade em efetuar a inversão de papéis, mantendo-se ainda num
estágio de pré-inversão, em que desempenha parcialmente o papel da lagarta, mas logo se
desaquece e sai do papel, narrando na primeira pessoa, não mais interpretando o papel.
Perguntei se gostaria de trocar de papel com seu tio. Respondeu que não.
As perguntas se seguiram. Ao perguntar o que máscara trazia para ela, respondeu
esperança de transformação. Perguntei à “Mafalda” o que ela quis dizer com esperança de
transformação. Ela queria ser uma pessoa mais decidida, mais objetiva, ser mais diretiva,
saber se defender, mas age exatamente ao inverso, quando acuada, se retrai.
A máscara perguntou à Mafalda o que quer de mim? Ela espera ter ajuda da máscara,
que para ela é forte, guerreira e que a ajudará a sair desse mundo de desesperança, ajudando-a
a mudar
A quarta pergunta, “Mafalda” respondeu que existe momento certo para tudo e vem
chegando o momento de você se transformar e ser a pessoa que quer ser.
Perguntei a ela se o momento da transformação estava ocorrendo. Ela respondeu que
sim.
Pedi a ela que imaginasse um cenário onde sua máscara poderia estar.
Os olhos continuariam vendados? Ela respondeu que conseguia ver um rosto sem
máscara, com olhos fixos olhando para a frente. A borboleta estaria no meio de sua testa,
27
significando que finalmente ela estava livre para seguir seu caminho, saindo do labirinto em
que ela se encontrava, pois, a hora de mudar havia chegado. Era chegado o tempo da
primavera, do renascimento.
Pedi a ela que desenhasse, se ela quisesse, a imagem/cenário que havia descrito para
mim. Ela aceitou e me entregou o desenho abaixo:

Fonte 03 – Transformação interior

Fonte: acervo da Autora

Pedi a ela que me explicasse os símbolos que havia colocado no desenho e desse um
nome ao desenho. A caixinha significava o labirinto, o olho significava que ela estava
olhando o tempo que marcava as horas para a chegada da primavera que ela representou pela
borboleta.
Após o término da apresentação, pedi a “Mafalda” que respondesse ao segundo e
último questionário, já iniciando a última fase: a partilha.

3.2.3 Partilha

São nove perguntas relacionadas ao trabalho feito:


1. O que achou dessa vivência? Interessante.
2. Esses encontros te trouxeram sensações? Quais? Sim. Movimento, mudança,
esperança.
3. Em qual etapa você se sentiu mais à vontade? Por quê? As três etapas foram
relevantes ter que “responder perguntas” a meu respeito me estressam.
4. Quando vejo uma máscara penso… em esconderijo, lugar confortável.
5. Quando toco a máscara sinto… irrelevante
6. Quando estou perto da máscara, meu sentimento é…. preciso sair do casulo
28
7. Olhando a máscara eu intuo… que estou evoluindo.
8. Quais sensações/emoções lhe vieram ao ver os outros personagens? Interesse em
saber quais os significados existentes por rás de todos eles.
9. Quais as sensações/emoções lhe vieram ao vestir a máscara? Conforto.
29
4 Processamento teórico

Segundo Moreno (1975/2016, p. 59) historicamente, o psicodrama representa o ponto


culminante na passagem do tratamento do indivíduo isolado para o tratamento do indivíduo
em grupos; do tratamento do indivíduo para métodos verbais para o tratamento por métodos
de ação. É uma combinação eficaz da catarse individual com a coletiva, da catarse de
participação com a de ação.
Mas, Moreno, em seus históricos clínicos, dá exemplo de psicodrama individual. Não
é fácil defini-lo devidos às variações que foram se produzindo em sua prática, às diferentes
escolas, às particularidades pessoas, aos diferentes recursos técnicos utilizados, ao fato de
privilegiar um recurso dramático ou outro. Neste trabalho, o enfoque foi concentrado no
diálogo verbal psicodramático, no corpo, no trabalho com máscaras e com elementos
expressivos (Buchbinder 1996, p. 110/112)
Máscaras como instrumento de trabalho, na trajetória do psicodrama, foram utilizadas
por alguns psicodramatistas. No cenário latino americano, o argentino Mario Buschbinder
(Buschbinder, 1996), os brasileiros Marco Antonio Amato (Amato, 2002) e Oswaldo Politano
Junior (Politano Junior, 1988) são os mais representativos. (Oliveira, 2014)
Buschbinder apresenta como foco de trabalho com máscaras uma desestruturação dos
fantasmas interno do paciente e a consequente reestruturação de seu mundo interior. Já o
ponto de vista de Amato se baseia na filosofia do momento de Moreno e na teoria dos cachos
de papéis (clusters) de Bustos. A visão de Politano Junior, por sua vez, ressalta a pessoa
privada articulada ao conceito de “papel”. (Oliveira, 2014)
Os tres autores desenvolveram suas análises utilizando a máscara como instrumento de
trabalho fundamentados na visão de que a criatividade e a espontaneidade do sujeito são
conceitos centrais e, portanto, estão na base da descristalização das máscaras que impedem o
sujeito de enxergar novas possibilidades em suas vidas através de seus papéis sociais imersos
na sua cultura. (Oliveira, 2014)
Segundo Buschbinder (1996, p.113), quando alguém usa uma máscara, se apresenta na
forma de um personagem, produzindo-se imediatamente um efeito de desmascaramento, de
desestruturação, possibilitando materializar e trazer à consciência fragmentos que a compõem
e que estava imerso no inconsciente. Junto com a situação desestruturadora, é imprescindível
uma função de reestruturação.
30
A função terapêutica da máscara pode ser sintetizada em: aspecto desmascarante e
reestruturante; função balizadora; função no metabolismo da fantasia; desconstrução do mapa
fantasmático corporal e do mapa fantasmático familiar e o aspecto lúdico, pois junto com a
situação desestruturadora, é imprescindível uma função de reestruturação. Não existe
nenhuma atividade humana onde não esteja uma máscara, na psicoterapia elas estão sempre
incluídas (Buchbinder, 1996, p. 113)
Uma das zonas conceituais de Moreno, no qual encontramos embasamento para a
unidade do corporal e do psicodramático, é teoria dos papéis. Moreno descreve os papéis
psicossomáticos, sociais e psicodramáticos. Esses papéis não são anulados pelos outros;
podem ficar esquecidos, mas continuam presentes. (Buchbinder, 1996, p. 115)
O psicodrama, portanto, contribui para despertar a criatividade e espontaneidade do
sujeito, podendo descristalizar as máscaras que impede o indivíduo de ver novas
possibilidades suas vidas, equilibrando a luz e sombra.
A máscara, aquela que o sujeito leva em seu próprio corpo, é a cristalização corporal
da estrutura da pessoa. O mais “externo”, o que se mostra para fora, reflete o mais “interno”.
É como o cinto de Moebius, no qual o que é interno em um volta, é externo na outra. (
Buchbinder, 1996, p. 130)
Como afirma Larsen (1991, p. 229):

(...) temos inúmeros personagens, várias subpersonalidades que, como em um


caleidoscópio, compõem-se em nossa personalidade e nós nos mostramos ao mundo
através de uma versão considerada ideal, a persona. A máscara auxilia a pessoa a
conectar-se com seus personagens internos, pois, na forma de persona possibilita o
contato com a sombra, que, por vezes, optamos por ocultar. Entrar em contato com
a sombra “e chegar a um acordo com ela, disse Jung, é o começo do processo de
tornar-se uno (individuação).

Contudo, a estrutura das máscaras vai se modificando no curso da história do sujeito.


As máscaras cristalizadas, têm determinado tempo de permanência e que podem ser
localizadas ou não. ( Buchbinder, 1996, p. 130)
Ao produzir uma máscara, a participante deu materialidade as ideias, sensações,
emoções. Esse material pertencia ao imaginário até o momento da confecção da máscara,
quando ela ganha contorno, formas e cores.
Aqui é necessário estabelecermos uma reflexão quanto aos termos persona e sombra
da psicologia analítica de Carl Gustav Jung. Como já dito anteriormente (p. 11), Jung,
ensina que a palavra persona significava, originalmente, uma máscara usada por um ator e
31
que lhe permitia compor uma determinada o personagem numa peça, com a intenção de
provocar uma impressão favorável a fim de que a sociedade o aceitasse, nos tornando capazes
de conviver com as pessoas, inclusive com as que nos desagradam, de maneira amistosa.
(Hall et al, 1980/2019, p. 36)
O termo persona, designa a máscara do ator e sob o ponto de vista psicodramático, é a
expressão dos papéis sociais em relação aos quais o sujeito atua. A máscara permite o contato
com a intimidade do paciente, sua verdadeira essência mascarada. Já a sombra é visível num
primeiro momento, ou seja, quando o indivíduo coloca a máscara, transmitindo o que quer
expressar para as pessoas e obscurecendo parte de sua imagem interior inconscientemente.
Como consequência, gera um sofrimento para o sujeito, que se encontra impedido de externar
sua verdadeira essência. O psicodrama desperta o que estava ocultado pela sombra.
(Oliveira, 2014)

4.1 Respondendo questões formuladas na introdução


4.1.1 Qual é a força que a máscara exerce sobre as pessoas?

A máscara, como já visto no texto acima, pode ser entendida como um objeto que
esconde e que revela, dependendo da situação, do momento e da escolha. Usamos máscaras
no sentido de manipular uma aparência para um determinado fim, criando um personagem ou
persona, se escondendo da própria realidade, manipulando expressões ou mostrando uma
nova face, um novo jeito de se ver ou de querer se ver.
Nós utilizamos máscaras de acordo com cada momento, cada situação e cada pessoa e,
esta pode ser usada para nos proteger ou para enganar. Esconder-se e mostrar-se por meio de
uma máscara, permite que se comunique coisas que sem ela possivelmente não se faria, como
é o caso do palhaço que detém a menor máscara do mundo (o nariz vermelho) e o bobo da
corte, que de tão bobo dizia verdades sem ser penalizado, pois era só um personagem.

Figura 04 – máscaras
32
Fonte:Adriana Freitas Blog

4.1.2 O que impulsiona o encantamento, o fascínio que esse objeto provoca?

O teatro atua com o artefato simbólico da máscara para suas atividades, tanto na forma
de expressão como também para a formação de um novo personagem, a persona. Os
personagens de literatura e de filmes utilizam-se das máscaras como forma de adquirir ou
enfatizar os super-poderes que os tornam pessoas com personalidades diferentes e audaciosas,
como acontece com os heróis do cinema. Eles se transmutam e assumem qualidades positivas
e negativas que os acompanham, se escondem ou se mostram pelas máscaras.

Figura 05 – O Máskara

Fonte: Antonio Chiaradia

Por exemplo, no filme O Máskara, o protagonista quando veste a máscara passa a


apresentar uma condição irreal de poder ilimitado e desinibição psicológica para realizar os
reais desejos, que sem ela, ele não teria coragem. Essa máscara é a mesma que utilizamos
para lidar com as mais variadas situações em nossas vidas e com os mais variados tipos de
pessoas.

4.1.3 Como o ser humano entra em contato com as questões indicadas pela máscara e com
os elementos arquetípicos que ela traz impregnada em suas linhas de força?

Dentro do indivíduo existe uma necessidade de exibir uma imagem idealizada de si


mesmo, com o intuito tornar fácil a convivência social. Todos os seres humanos procuram
apresentar o melhor de si para os outros, a fim de introduzir-se oportunamente em sociedade.
Naturalmente, o lado negativo da personalidade é ocultado para não ser percebido.
inaceitáveis para pessoas que tem significância no meio.
33
Para conseguir assentimento pelos outros indivíduos, rejeitamos o que nós cremos não
ser aceitável para eles. Podendo negativo e positivo. Outro conceito relacionado ao arquétipo
pessoal é a sombra. Refere-se à atitude interna do indivíduo que oculta no amago de sua
psique tudo que é expelido pelos padrões sociais e por si mesmo.
Quanto maior for a distância entre o que na verdade somos e o que desejamos ser,
maior será a ansiedade, devido ao temor a que os outros silenciem o nosso ser.
Cito como exemplo o arquétipo da sombra no romance “O retrato de Dorian Gray”. É
natural a existência da Sombra e consequentemente, a sua projeção. Ninguém cresce sem a
sombra e que nem se conscientize dela totalmente. O processo de conscientização é gradual e
constante, demandando muita disposição e persistência.

Figura 06 - O retrato de Dorian Gray

Fonte: Claudia Araujo

4.1.4 Como pessoa incorpora e elaborar esses elementos arquetípicos?

Segundo Jung (2000, p. 58) existem tantos arquétipos quantas situações típicas na
vida. Intermináveis repetições imprimiram essas experiências na constituição psíquica, não
sob a forma de imagens preenchidas de um conteúdo, mas precipuamente apenas formas sem
conteúdo, representando a mera possibilidade de um determinado tipo de percepção e ação,
Quando algo ocorre na vida que corresponde a um arquétipo, este é ativado e surge uma
compulsão que se impõe a modo de uma reação instintiva contra toda a razão e vontade, ou
produz um conflito de dimensões eventualmente patológicas, isto é, uma neurose.
34
4.1.5 Como definir a conexão entre a máscara e a pessoa que a porta, mesclando
elementos de um no outro?

A máscara não serve para ocultar apenas, serve para revelar algo que o corpo sozinho
não pode fazer. Poderíamos falar a mesma coisa nas nossas roupas, cortes de cabelo,
maquiagem, tatuagens. Todos esses complementos nos servem para mostrar algo que o corpo
não pode mostrar sem eles. Eles são máscaras, que ocultam algo que não queremos (de uma
olheira a uma pele nua), e que revelam muitas das nossas intimidades.
Quando um super-herói coloca uma máscara para proteger sua identidade secreta, ele
revela quem verdadeiramente é (o super) ou oculta quem verdadeiramente é (a pessoa)? Será
o disfarce a verdade?

Foto 07 – Clark Kent x Superman

Fonte: Humble Perseverance

Bachelard (1994) em seu livro o Direito de Sonhar afirma o seguinte:

Se o ser mascarado pode entrar de novo na vida, se quer assumir a vida de sua
própria máscara, ele se confere facilmente a habilidade da mistificação. Acaba por
acreditar que a outra pessoa toma sua máscara por um rosto. Crê simular ativamente
após ter-se dissimulado facilmente. A máscara é, assim, uma síntese ingênua de dois
contrários muitos próximos: a dissimulação e a simulação" (BACHELARD, 1986,
p.165)

4.1.6 Como definir a relação sombra/persona existente no trabalho com as máscaras?

A sombra é um arquétipo importante e valioso, porque tem a capacidade de reter e


firma ideias ou imagens que podem vir a ser vantajosas para o indivíduo. Graças à sua
tenacidade, pode impelir uma pessoa para atividades mais satisfatórias e mais criativas. (Hall
et al, 1980/2019, p. 41)
35
A persona é a máscara ou fachada ostentada publicamente com a intenção de provocar
uma impressão favorável a fim de que a sociedade o aceite. Franz Kafka, o eminente escritor,
trabalhava para uma companhia de seguros durante o dia e passava as noites escrevendo ou
entregue a atividades culturais. Confessou repetidas vezes que odiava o trabalho, mas seus
superiores jamais se deram conta deste modo de sentir-se, vendo-o cumprir zelosamente as
obrigações do emprego. (Hall et al, 1980/2019, p. 36)
Segundo Alfredo Naffah Neto (1994, p. 73) as máscaras são as múltiplas facetas que
compõem uma subjetividade. A máscara define-se como uma forma humana singular, uma
certa fisionomia, produzida a partir de marcas, sinais, afecções, originários das lutas entre
diferentes campos de força, nos seus processos de dominação e codificação subsequente.
36
5 Experiência da terapeuta

Durante a confecção da máscara por Mafalda, comecei a pensar em mim mesma como
advogada, psicóloga, pesquisadora, participante e diretora. Para dar conta dessas profissões
somente sendo muito inquieta e muito sensível ao mesmo tempo, pois a inquietude nos move
e a sensibilidade nos faz diminuir o passo e escutar com atenção.
Como advogada, nunca parei para pensar muito no ouro, pois meu cliente, mesmo
estando errado, para mim ele estava certo e eu tinha o dever de defendê-lo. E mesmo eles
sabendo que podiam perder, eu avisava e recebia pelo meu trabalho, que na maioria das vezes
não era gratificante moralmente, mas financeiramente falando sim.
Com o passar do empo, comecei a me sentir incomodada em viver um personagem.
Sempre dizia” vou me fantasiar de advogada.” quando ia para o Tribunal. E realmente era
assim. Eu vestia roupas escuras, sapatos altos, maquiagem, empostava a voz e dizia que
estava entrando na selva e que tinha que brigar para me impor.
Mas esta máscara estava começando a tomar conta de mim e eu comecei a usa-la mais
do que o necessário. Sempre tive vontade de me graduar em Psicologia, mas a vida não
permitiu que eu o fizesse até 2012.
Iniciei minha segunda graduação com 55 anos, em janeiro de 2012. Conclui em 2018,
seis longos anos na faculdade. O curso era para ser em cinco anos, mas eu era mãe, filha e
mãe de minha mãe, advogada, tinha clientes para atender, prazos, empregados no escritório, e
assim fui obrigada a diminuir as matérias e guardar minha ansiedade para o dia da formatura!
Decidi “encontrar” o Psicodrama e meu primeiro dia de aula foi com Cybele Ramalho
na PROFINT/SE, em agosto/2017, antes de me graduar em Psicologia. Outras dúvidas
surgiram: medos, deveria ou não fazer o curso, pois em certos momentos, deslocada e
desconfiar da minha capacidade de dirigir. Tinha uma história com a terapia cognitiva
comportamental, mas não gostava de me sentir tão dentro da caixinha. Queria algo novo, mas,
ao mesmo tempo, temia esse novo mundo e, pensando em Moreno, me perguntei
sobreviverei?
Sempre ajudei os outros e então escolher uma profissão de ajudar a outro, sobretudo
de psicoterapeuta, não era uma escolha, mas um destino. Desde pequena, fui convocada a ser
auxiliar de uma pessoa adulta, direta ou indiretamente, sendo “treinada”, para desenvolver
essa capacidade, essa sensibilidade. Percebi que divaguei por alguns segundos e voltei ao
momento presente, o aqui e agora de Mafalda.
37
De uma certa distância, eu olhava as escolhas feitas pela cliente e comecei a tentar
descobrir, olhando a expressão corporal como um todo, o que se passava na cabeça da cliente.
Já conhecia, em parte, o que a cliente me permitiu conscientemente desvendar, sua história,
escolhas, bem como queria saber o se passava na cabeça da cliente.
Grosch et al (1994, como citado em Cukier, 2018, p. 20) concluiu que estudantes de
psicologia compõe um grupo de pessoas otimistas e onipotentes, desejosos não apenas de
ganhar dinheiro, mas também de mudar o mundo, e acreditam que, depois de um treinamento
árduo e juntamente, com a compaixão e cuidado, poderão ajudar a transformar a vida de
pessoas de quem estão cuidando.
Comecei a lembrar de momentos em que atender dói. As vezes somos tomadas por
reações de tremenda impaciência em contato com clientes que ficam dando voltas em seus
temas pessoais, que não enxergam o obvio. Mas ao mesmo tempo, é espantoso que em
determinas situações, tenhamos que nos indagar sobre quem deveria pagar a quem, uma vez
que o atendimento nos trouxe alívio, constituindo-se num bálsamo de nossa alma.
Alguns clientes acham que lemos pensamentos… E morrem de medo de serem
desvendados. Mas o pior, é que às vezes lemos mesmo. Lemos o texto, o pretexto, o
subtexto, o hipertexto, o infratexto. É a marca da profissão.
Assistindo o desenvolvimento da criação da cliente, comecei a pensar que o terapeuta,
no contexto único de cada caso, combina teoria e sensibilidade pessoal para aliviar o
sofrimento psicológico de alguém. Por outro lado, a piora do paciente pode levar o terapeuta
a se sentir ineficiente e frustrado.
Quanto aos valores do terapeuta, a neutralidade não deixa de ser um mito; a postura
psicoterapêutica não anula sentimentos, vontades, mas exige que o mundo interior do
psicoterapeuta não influencie ou oriente o mundo do cliente. Vem daí a importância do
terapeuta ter passado pelo seu próprio processo para estar com o cliente em uma relação
fluida, espontânea, sem contaminação pela sua realidade interna, passar previamente pela
experiência como cliente, como medida de preservar o envolvimento emocional. (Faleiros,
2004).
De repente, percebi que o conceito de papel social é extensivo a todas as dimensões da
vida, inclusive que eu estava vivendo naquele momento o papel do terapeuta. Ali estava eu
prestando atenção tanto no comportamento da cliente como no meu, ou seja, no nosso
encontro.
É um amor terapêutico, como definiu Moreno há 40 anos:
38

Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando você estiver perto eu
arrancarei seus olhos e os colocarei no lugar dos meus e você arrancara meus olhos e
os colocará no lugar dos teus. Então, eu olharei para você com os teus olhos e você
me olhará com os meus.” (Cukier, 2002, p .101)

Isso tudo me leva a pensar na relação terapêutica, entre terapeuta e cliente, onde entra
em jogo a tele (à distância), a empatia e a transferência. Mas é na tele onde cresce e solidifica
a relação terapêutica, e assim, o cliente vai se curando.
É a contrapartida científica do encontro, acontecimento crucial na existência. É no
encontro de duas ou mais pessoas que se dá o momento transformador.
Cukier (2002, p .101) contribui para esse aspecto ao destacar:

A palavra encontro abrange diferentes esferas da vida. Significa estar junto, reunir-
se, contato de dois corpos, ver e observa, tocar, sentir, participar e amar,
compreender, conhecer intuitivamente através do silêncio ou do movimento, a
palavra ou gesto, beijo ou abraço, tornar-se um só - una cum uno. A palavra
encontro contém como raiz a palavra “contra”. Abrange, portanto, não apenas as
relações amáveis, mas também as relações hostis e ameaçadoras: opor-se a alguém,
contraria, brigar. Encontro é um conceito em si, único e insubstituível.

O terapeuta psicodramático não é ouvinte tranquilo e passivo, ele precisa também


lutar, para promover no paciente a produtividade. O terapeuta e o paciente se inflamam um ao
outro, é um encontro verdadeiro, uma luta de espíritos.
É por isso que escolhi o psicodrama, a cada encontro uma novidade, sabemos que
vamos começar sessão mas não conseguimos nem imaginar o que virá pela frente, afinal
estamos entrando em um mundo onde tudo é possível, basta imaginar e sentir.
39
Considerações finais

A interação paciente-terapeuta no contexto da clínica psicodramática bipessoal conduz


a uma cumplicidade quase maternal, em que a promoção do bem-estar do outro permeia todas
as ações possíveis, buscando sempre os meios para a “cura” das dores apresentadas.
Em minhas sessões com “Mafalda”, um dos aprendizados que obtive foi o de que o
ousar era preciso, pois ela não estava evoluindo bem, pois não aceitava participar dos jogos
psicodramáticos com facilidade e quando aceitava, desaquecia antes de terminar .
Sempre admirei Moreno pelo seu atrevimento, pela vontade de inovar, de vencer
obstáculos, pela sua perspicácia e pela sua teoria que envolve o verbal e também o não verbal.
E na maioria das vezes, tenho percebido, que o não verbal diz mais que o verbal.
Apesar de ter 63 anos, me graduei em 2018, me considero recém-formada, mas sou
arrojada, sou curiosa, e confesso, as máscaras sempre me atraíram, sempre imaginei o que
tinha atrás delas.
Seguindo esse caminho, decidi propor este trabalho de máscara a “Mafalda”.
Surpreendi-me quando ela aceitou. E agora? Iniciei a pesquisa. O medo era de ambas:
“Mafalda” que não queria se revelar e achava que tudo seria uma grande brincadeira e eu, que
não sabia se teria condições de concluir a pesquisa satisfatoriamente, os medos estavam à
minha frente tentando me deter.
Felizmente, as máscaras venceram: desmascararam, desconstruíram e reconstruíram.
Numa linguagem psicodramática, podemos considerar que cada mudança significante
exige sua carga de aquecimento para acontecer, tanto da paciente quanto do psicoterapeuta,
que lhe acompanha e empenha-se em prestar auxílio nesse processo.
O psicodrama no contexto bipessoal, cumpre com seu papel psicoterápico,
contribuindo para o amadurecimento do paciente, que passa a reconhecer a sua desinformação
sobre si mesmo e concomitantemente, passa a reconhecer a si mesmo.,
Este trabalho monográfico contribuiu para sedimentar a minha formação de
psicodramatista no campo clínico, no contexto bipessoal. Sem dúvida, as aproximações entre
Moreno e Jung, foram de grande utilidade no estudo deste caso.
Esse trabalho, deixa em aberto muitos outros aspectos do caso clínico que podem ser
mais bem estudados posteriormente, pois afinal, como não poderia deixar de ser, estamos
relatando uma experiência humana, que é sempre inesgotável e uma caixinha de surpresas.
Assim seja!
40
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Oliveira, Melissa Marques Torres. (2013). O Poder da máscara no Psicodrama: a sombra e a


luz. Revista Brasileira de Psicodrama, 21(1), 183-191. Recuperado em 13 de outubro de
2020. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
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Perseverance, Humble. Superman x Clark Kent. Disponível


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Politano, Jr. O. (1988). Desenvolvimento ou treinamento de papel? Ou a grande farsa?


Revista da Febrap, 145-154, anais 6º Congresso Brasileiro de Psicodrama. Vol. 1.1988

Ramalho, Cybele M. R. (2002) Aproximações entre Jung e Moreno. São Paulo. Ágora.
42

ANEXO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Eu,_____________________________________________________________, abaixo assinado,


autorizo a PROFINT – Profissionais Integrados Ltda, por intermédio do(a) psicólogo(a)
__________________________________________, CRP ___ª / nº__________, devidamente assistida
pelo(a) seu(sua) orientador(a) Prof(ª) ________________________________, a desenvolver estudo
sobre sua prática em psicologia clínica como pré-requisito para a obtenção do título de Especialização
em Psicodrama.

 Título do Estudo: _______________________________________________________

 Objetivo geral:___________________________________________________________

 Descrição de procedimentos:________________________________________________

_________________________________________________________________________

 Outras Informações:_______________________________________________________

 Retirada do Consentimento: O voluntário (a) tem a liberdade de retirar seu consentimento a qualquer
momento e deixar de participar do estudo, não acarretando nenhum dano ao voluntário.

 Aspecto Legal: Elaborado de acordo com as diretrizes e normas regulamentadas de pesquisa


envolvendo seres humanos atende à Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho
Nacional de Saúde do Ministério de Saúde, Brasília/DF.

 Confiabilidade: Os voluntários terão direito à privacidade. A identidade (nomes e sobrenomes) do


participante não será divulgada. Porém os voluntários assinarão o termo de consentimento para que
os resultados obtidos possam ser apresentados em congressos e publicações.

 Quanto à indenização: Não há danos previsíveis decorrentes da pesquisa, mesmo assim fica prevista
indenização, caso se faça necessário.

ATENÇÃO: A participação em qualquer tipo de pesquisa é voluntária. Em casos de dúvida quanto aos
seus direitos, entre em contato com a PROFINT, Rua Poeta José Sales de Campos, 794, Coroa do
Meio, Aracaju/SE, Tel.: (79) 3021-0757.
Li e estou ciente das observações supracitadas. Caso necessário, autorizo com consentimento livre e
esclarecido que seja produzido trabalho científico sobre estudo de caso respeitando sigilo da
identidade: ( ) Sim ou ( ) Não

Aracaju, _____de __________de ______.

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