VITÓRIA/ES
2017
ELIANA FIRMINO BURGARELLI RIBEIRO
VITÓRIA/ES
2017
ELIANA FIRMINO BURGARELLI RIBEIRO
COMISSÃO EXAMINADORA
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Professor(a) Examinador(a)
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Professor(a) Examinador(a)
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, José Luiz e Zilda, por me ensinarem a lutar na vida, por
apoiarem minhas escolhas e por entenderem as ausências que elas causaram em
alguns momentos do percurso até aqui;
A toda a minha família, que esteve (e ainda está) sempre na torcida por meu
sucesso, agradeço imensamente pelas orações e pelo carinho;
Sou grata também pelos professores que tive, os quais me fizeram sentir orgulhosa
pelos ensinamentos oportunizados e pela certeza de suas contribuições para
mudanças significativas em minha vida. Em um tom bem especial, à minha
orientadora Arlene Batista: uma pessoa admirável, com quem muito aprendi;
Aos meus amigos do Letras Libras, com os quais vivi momentos que serão eternos
na memória;
Ao meu par acadêmico, minha dupla, minha amiga, Sâmmya Sathler, com quem
compartilhei instantes muito especiais. Sou grata a ela por entender minha vida
corrida, e, mesmo nesse movimento, contribuir substancialmente para a minha
formação intelectual e humana;
Ebenézer:
Até aqui nos ajudou o Senhor!”
(I Samuel 7.12)
RESUMO
Imagem 10: Materiais utilizados pelas TJ para ensino religioso dos surdos......... 56
ANEXOS..................................................................................................... 79
10
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Observa-se nos estudos da tradução que muitos são os fatores que influenciam o
tradutor e intérprete em suas escolhas tradutórias. Um deles se deve ao fato de que
o texto está além da simples materialização linguística, pois envolve elementos de
ordem extralinguística. Assim, pode-se dizer que o texto sensível, bem como
qualquer ato discursivo, é influenciado pelo contexto social e histórico em que é
sinalizado/produzido.
De acordo com César Augusto de Assis Silva (2011), a partir da década de 80,
diversas entidades começaram a assumir a surdez, numa perspectiva sócio-
antropológica, a qual concebe o surdo não como um deficiente, mas como um
sujeito marcado por singularidades linguísticas e culturais. Silva (2011) reforça que
essa concepção tem sido a base ideológica de muitos projetos missionários de
instituições religiosas, como a Igreja Católica, as Testemunhas de Jeová, e outras
igrejas protestantes, ancorando-se também nos discursos acadêmico-científicos, por
meio de linguistas, psicólogos, fonoaudiólogos e o movimento nacional organizado
dos surdos no Brasil, liderado pela Federação Nacional de Educação e Integração
dos Surdos (FENEIS).
não têm contato com a comunidade surda, apropriam-se desses materiais para ler,
praticar a tradução e ampliar vocabulário, aprimorando, desse modo, a formação. Já
os surdos, recebem esses textos para leitura, para conhecimento da Bíblia e das
doutrinas das igrejas que os produzem.
Após recortes e análises, em cotejo com os dados produzidos por meio das
entrevistas, fizemos um comentário geral de alguns pontos relevantes nos
resultados encontrados. Partimos, para isso, de uma análise comparativa sobre as
diferentes traduções do texto fonte, estabelecendo um diálogo com o aporte teórico.
Vale esclarecer que, nesta pesquisa, não houve a intenção de avaliar
qualitativamente as traduções, caracterizando-as como a melhor ou a pior. Todo o
trabalho descritivo realizado até aqui tem como objetivo compreender o modo como
os textos bíblicos vêm sendo traduzidos para a Libras, desvelando os elementos
linguísticos e extralinguísticos que participam do processo de tradução, bem como
as escolhas tradutórias e os efeitos de sentido que podem produzir no leitor.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para Simms (1997 apud GOHN, 2001), o que faz os textos sagrados como o texto
bíblico serem considerados sensíveis é a visão sobre Deus enquanto o seu “autor
original”; ou seja, na perspectiva cristã, a Bíblia é considerada a “palavra de Deus”, a
qual jamais deve ser confundida com a palavra (ou autoria legitimada) de quem
registrou por escrito, considerado, assim, como um mero escriba inspirado a
escrever a “Palavra Original”. Nessa perspectiva, nenhum texto é sensível, a menos
15
que o público pense nele como tal. Gohn (2001) reforça essa ideia, afirmando que a
sensibilidade do texto está no olhar de quem o vê e não no texto propriamente dito.
A partir dessa lógica, entendemos que diversos tipos de textos podem ser
agregados a este grupo. Também consideramos que os motivos que levam o leitor a
ter esse olhar sensível estão geralmente relacionados ao estado, à religião, ao pudor
ou às diferentes subjetividades, o que confirma a ideia de que quem confere o
caráter ao texto sensível é o leitor. A esse respeito Gohn (2001) afirma que as
intenções e funcionalidades do texto precisam ser consideradas, pois algumas
sentenças, dependendo do tipo textual em que estão inseridas não causam reação
sensível alguma no leitor.
Carlos Alberto Gohn 2001, além de definir o que seria um texto sensível, cita alguns
exemplos do grupo dos textos sagrados: A bíblia hebraica, o novo testamento, o
alcorão, o bhagavad gita e uma edição mais recente: o evangelho segundo o
espiritismo. A maioria desses textos tem suas raízes em culturas não ocidentais e
tem sido escritos em línguas como o hebraico, grego koiné, árabe, e sânscrito. Essa
variedade de escrita possibilita um campo a ser explorado nos estudos da tradução,
considerando que, segundo Gohn, há séculos essa tarefa vem sendo desenvolvida:
Conforme DePaula (2011), as traduções precisam também ter foco no texto original.
Na obra “A invenção do original via tradução, pseudotradução e autotradução”, a
autora nos narra um pouco da trajetória histórica da tradução dos textos sagrados,
tentando fazer um delineamento do tradutor medieval, inicialmente, estabelecendo o
16
De acordo com Furlan (2004), Lutero defende que na prática as traduções devem
privilegiar o texto na língua de chegada, porém, em alguns casos, é necessário o
estrangeirismo, por não conseguir uma equivalência na língua de chegada. Nesse
caso, o tradutor escolhe manter o original para não perder o sentido da mensagem;
ele não afirma que uma forma seja melhor do que a outra, porém diz que utilizou as
duas para expressar melhor a mensagem:
18
Ainda segundo Mauri Furlan (2004), Lutero acredita que é preciso compreender para
comunicar. Noutras palavras, o tradutor não se vale apenas de competências
tradutórias e linguísticas. O repertório influencia muito na qualidade da transmissão
do texto fonte ao destinatário. Apesar de a Bíblia ser um livro histórico, devendo
portanto ser analisada no contexto língua e espaço, todos os textos sagrados se
tornam sensíveis justamente por essas peculiaridades. Fé e história se mesclam em
uma literatura que deve ser interpretada sem ignorar o conceito; apesar de Lutero
não ter a bíblia apenas como objeto qualquer, ele dava importância ao contexto
histórico e social em que ela foi escrita.
Lutero (apud Furlan 2004) afirma que a tradução da Bíblia deve ser fiel e inteligível a
todos, o que só é possível se o tradutor falar a mesma língua do leitor. Sendo assim,
entendemos que uma pessoa surda, por exemplo, dificilmente terá compreensão da
mensagem se a mesma não for adaptada à sua língua e cultura, por outro lado é
importante destacar que por trás do discurso de Lutero havia sua fé religiosa, e ele
coloca em questão o valor da igreja católica enquanto instituição.
No caso das línguas de sinais, pode acontecer das escolhas tradutórias focadas
apenas no público leitor, partir para o exagero, o tradutor/intérprete parte para uma
teatralização do texto bíblico, o que pode acabar provocando estranhamento por
parte dos líderes religiosos da instituição em que essas traduções são produzidas,
causando até mesmo rejeição por interpretarem que a tradução esteja ferindo o
original.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
traduzido, com o qual o autor não pode interagir face a face, se torna o interlocutor
nessa atividade dialógica, recebe essa produção, podendo ler ou responder/reagir
ao que lê.
cultura surda e a cultura ouvinte, para assim criar um novo discurso em outra língua.
É possível afirmar que ele é um estrategista; isto é, precisa adequar sua tradução à
língua, assim como à cultura e ao contexto de chegada, sem perder de vista o texto
e a mensagem do texto de partida.
Bakhtin (2003) afirma que os gêneros não podem ser apreendidos apenas pela sua
forma, como produto estático, mas devem ser compreendidos principalmente pelo
viés dinâmico das suas produções. Os gêneros e os tipos de textos estão
relacionados a uma atividade. O autor se preocupa em ver como as atividades
humanas se organizam na linguagem, porque “é a linguagem que dá forma a essas
atividades sem deixar de lado o enunciante e o enunciador”(Bakhtin 2003, p. 282).
Para ele, cada ato de enunciação é composto por diversas “vozes”. Assim, cada ato
de fala e repleto de assimilações e reestruturações destas diversas vozes, ou seja,
cada discurso é composto de vários discursos. Essas vozes “dialogam” dentro do
discurso, e este diálogo é construído histórico e socialmente; isto é, o enunciado é
orientado para um interlocutor e permeado por diferentes vozes.
A Bíblia, partindo desse conceito, pode ser considerada como gênero secundário,
por ser um livro que pertence a uma esfera específica da religião cristã, utilizada em
situações comunicativas mais complexas e adaptada aos diferentes públicos. Ao
longo da história, muitas versões da bíblia são traduzidas para uma linguagem ou
um público específico, como, por exemplo, a bíblia da mulher, a dos jovens, a das
crianças, entre outras. Cada uma dessas versões bíblicas foi produzida para atender
a uma especificidade de leitor, com linguagem, cores e estilos que respeitem às
necessidades de cada grupo.
Mikhail Bakhtin (2003) esclarece que as interações sociais exercem influência direta
sobre os enunciados que compõem os gêneros, ou seja, todos os elementos que
compõem o ato concreto e singular de enunciação (os interlocutores, o contexto
imediato e histórico mais amplo e a avaliação do ato) atuam como índices de
referência, pois direcionam o autor na construção dos enunciados (a forma de
composição, as escolhas linguísticas e o estilo), com vistas à construção de
compreensão ativa do interlocutor. Portanto, os gêneros são marcados por
elementos extralinguísticos vinculados a uma dada esfera social. Nessa linha,
entendemos que um tradutor, ao (re)construir um gênero discursivo, deve considerar
a dimensão social, os aspectos ideológico-discursivos que compõem a relativa
estabilidade dos enunciados e não apenas a sua materialidade linguístico-textual,
pois, conforme Bakhtin,
A teoria bakhtiniana nos faz entender que o gênero tem uma existência cultural,
Ainda com relação à palavra, o autor afirma que escolhemos as palavras de acordo
com as especificidades do gênero discursivo utilizado no momento. Isso se aplica à
de escolha de qual sinal utilizar na tradução de determinado tipo de texto. A Bíblia é
um gênero discursivo, por isso sua tradução para qualquer que seja a língua precisa
levar em conta as especificidades de cada língua. É importante entender que cada
igreja tem uma interpretação do texto bíblico, baseada no que entende como
25
tradução. Isso pode levar a traduções diferentes de um mesmo texto bíblico, devido
a princípios e ideologias de cada uma.
De acordo com Prof. Dr. João Cesário Leonel Ferreira (2008), em seu artigo “A
Bíblia como Literatura - Lendo as narrativas bíblicas”, a Bíblia é o termo que o
cristianismo utiliza para se referir ao seu livro sagrado, unindo as escrituras
canônicas do judaísmo e a literatura própria do movimento cristão nascente. A
palavra provém do grego “ta biblia”, que significa “os livros”. Conforme Ferreira, no
século XIII d.C. “ta bíblia”, entendida como declinação neutra plural, foi substituída
pela forma feminina singular, passando a significar “o livro”, forma que se
generalizou pelo uso latino do termo. Nessa última acepção ela foi assimilada pelas
línguas modernas do Ocidente.
A Bíblia, em sua versão mais usada no Brasil, traduzida por João Ferreira de
Almeida, está dividida em 66 livros, sendo 39 no velho testamento e 27 no novo;
sendo ainda subdividida em partes classificadas como pentateuco, livros da lei,
históricos, poéticos, proféticos, cartas e evangelhos. À luz do pensamento de
Bakhtin, cada um desses tipos de textos irá acionar recursos linguístico-discursivos
distintos. O tradutor, por sua vez, precisa se apropriar dessas características para se
fazer entender.
Ao traduzir para língua de sinais o tradutor precisa definir qual método de tradução
vai aplicar ao texto sagrado: se pela correspondência formal, que pretende traduzir o
texto literalmente ou se pela equivalência dinâmica, que permite uma segunda
tradução, produtora do valor cultural igual ou semelhante para o surdo, também
chamada de tradução idiomática (WEGNER, 1998, p. 28; EGGER, 1994, p. 61). Isso
porque “uma palavra não possui um significado individual, mas um conjunto de
significados” (STUART e FEE, 2008, p. 64). A tradução por equivalência dinâmica,
que propõe uma tradução mais vivencial para o contexto que será estudado, foi
aplicada na versão da Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Essa ideia é
reiterada por Ferreira quando afirma que:
O texto escolhido para análise é extraído do livro de Êxodo, segundo livro da Bíblia
Sagrada, que se constitui numa narrativa que mostra como o povo de Israel cresceu
no Egito durante 400 anos e passou a ser perseguido e oprimido pelo Faraó. Revela
sofrimento do povo, a preparação de Moisés como libertador, a luta contra o
opressor, o livramento, as provas no caminho para a Terra Prometida, o pacto de
Deus com o povo de Israel e as normas para ser construído o tabernáculo.
Segundo João Coimbra e Deise Peres – (2009), o texto de Êxodo capítulo 20,
também conhecido como o decálogo, conjunto de leis ou dez mandamentos, é de
grande relevância para a comunidade judaico-cristã. Nesta pesquisa, o texto “Os
Dez Mandamentos” será estudado numa perspectiva linguístico-discursiva, pois o
concebemos como parte de um “produto” ideológico que conserva um elo orgânico
vivo com a ideologia do cotidiano (BAKHTIN, 1992, p. 119).
27
Nos primeiros versículos, são abordadas regras de conduta do homem para com
Deus, proibindo a idolatria. Nesse contexto, Deus se estabelece como único digno
de adoração:
Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus,
que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses
diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma
semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, em nas
águas debaixo da terra [...]. Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado
do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra [...] (Êxodo 20:1-11).
Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra
que o Senhor teu Deus te dá. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás.
Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do
teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem
a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu
próximo (Êxodo 20:12-17).
O livro de Êxodo, no capítulo 20, do versículo 8 a 11, registra que Deus faz uma
relação de dez prioridades atemporais, de caráter moral e espiritual, que seus filhos
deveriam seguir, demonstrando uma aliança de amor e respeito. Esse trecho bíblico
estabelece intertextualidade com o conteúdo de Apocalipse 14: 6, 7 e 12 e Ezequiel
20:12, 20, 21. No Monte Sinai, os “Dez Mandamentos” consolidaram um padrão de
leis morais e jurídicas e a liderança de Moisés, conforme pode ser observado no
versículo 12 do capítulo 24 do referido livro: “Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a
mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a lei, e os mandamentos
que tenho escrito, para os ensinar”.
No contexto a que se refere o do texto acima, fica claro que o código de aliança foi
decretado pelo próprio Deus (autor), dado ao profeta Moisés (interlocutor/mediador)
para repassar ao povo (receptora/interlocutor). Os Dez Mandamentos serviu como
instrumento didático, um manual de instrução, na caminhada do povo de Israel rumo
28
à terra da promessa. KANYAT (2016) afirma que o texto “Os Dez Mandamentos”,
objeto de análise nesta pesquisa, está em evidência no Brasil, circula com evidência
em programações televisivas e filmes religiosos. Os Dez Mandamentos (2014),
considerada a primeira “telenovela bíblica” do país, atualmente, muitas emissoras de
TV tem investido naquilo que se convencionou chamar de um novo gênero de ficção
televisiva: a “telenovela bíblica”. Para Kanyat, a princípio, a proposta de adaptação
de histórias bíblicas para o grande público causou estranheza, mas a aposta
resultou no maior acerto da emissora. Por diversas vezes, a telenovela alcançou a
liderança do horário nobre durante sua exibição. A novela fez tanto sucesso, que
virou filme.
De modo geral, a maioria das religiões cristãs se baseia nos Dez Mandamentos para
construir suas doutrinas. Para algumas comunidades, o decálogo deixa de ser uma
Lei ultrapassada para se tornar um padrão moral em todos os tempos, que continua
sendo lido e obedecido. Mas cada uma pode enfatizar em seu discurso o
mandamento que lhe parece mais relevante. A Lei mosaica tem uma aplicação
direta no cotidiano. Nossas práticas podem, numa perspectiva comportamental, ser
parametrizadas pelas normas estabelecidas por esse texto. Sendo assim, muitas
igrejas costumam produzir estudos bíblicos, discursos, palestras aos novos adeptos,
a fim de transmitir esses valores e regras de conduta. No caso do surdo, essas
regras precisam ser traduzidas para sua língua e cultura, contribuindo dessa forma
para um comportamento ético alinhado aos padrões estabelecidos pelos discursos
que circulam nesse lugar.
29
Stuart Hall (2006) aborda a centralidade da cultura. Ele questiona o lugar da cultura
na sociedade, como ela é considerada e definida. Aborda questões como a posição
da cultura em relação à questões de conhecimento e conceitualização, assim como
o lugar da cultura na estrutura empírica real e na organização das atividades,
instituições, e relações culturais na sociedade em qualquer momento histórico. A
30
Nesse sentido, Hall 2006 argumenta que as nossas identidades culturais passam
por nossas escolhas pessoais, mas também pelos aspectos objetivos que estão
presentes nas instituições, nas atividades, nas normas e nas ações de certa cultura
que está presente em determinado tempo e lugar. Para ele a cultura pode sofrer
alterações; ou seja, mudança de atitude no modo de encarar a linguagem, porque
linguagem é forma real que um sujeito compreende a vida social e a cultura se
mantém paralela aos aspectos sociais, políticos e econômicos.
Para SKLIAR (1997) o sujeito Surdo é uma pessoa com uma cultura e hábitos
próprios que utiliza uma língua visual-espacial como forma de expressão e
comunicação. Nessa perspectiva sócio-antropológica, o surdo é concebido como um
sujeito social que se constitui a partir de sua diferença linguística e cultural que
percebem o mundo pela experiência visual. Por viver na fronteira entre duas
culturas, pode ser considerado um sujeito bilíngue/bicultural que utiliza a língua de
sinais como forma de apropriação do conhecimento e de seu desenvolvimento
global e a língua oral (modalidade escrita) como forma de interação com a
sociedade ouvinte.
Considerando que esse trabalho tem foco na Libras, língua utilizada pelos sujeitos
Surdos que possuem uma cultura e identidade própria, abordamos a cultura como
um elemento extralinguístico influenciador na escolhas tradutórias para uma
identidade e uma cultural específica, nesse caso a identidade Surda. Além disso,
levamos em conta também as influências culturais e ideológicas das instituições que
financiaram o material traduzido, situando o tempo e o lugar em que foram
sinalizadas.
32
4. PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
De acordo com Assis (2012), por meio de vasta pesquisa de campo em diferentes
instituições religiosas, após análise da trajetória de determinados agentes,
documentos e entrevistas, é possível afirmar que os espaços religiosos são palco do
início da história da comunidade surda. Há registros de que foram esses espaços
que contribuíram grandemente para pesquisas na atualidade, por serem pioneiros
no trabalho com os surdos e constituírem um grande cenário para atuação de
tradutores e intérpretes voluntários. O autor reitera a importância desses agentes e
de suas atividades missionárias cristãs, para a consolidação de um movimento
social surdo, a constituição de um mercado vinculado à Libras e a construção de um
campo acadêmico que confere legitimidade à essa língua.
Na pesquisa documental, Silva et. al.(2009) afirma que os dois procedimentos são
fundamentais: a coleta de documentos e a análise de conteúdo. Na coleta de dados
o pesquisador deve fazer garimpagem das fontes, isto é, o recolhimento e a pré-
análise dos documentos que estejam em consonância com os objetivos da pesquisa.
Depois de selecionada a amostra documental, segue-se o trabalho com a
determinação de unidades de análise, eleição de categorias e a organização do
quadro de dados.
Precisamos explicar que esta pesquisa foi pensada inicialmente como uma pesquisa
bibliográfico-documental, no entanto tivemos a oportunidade de visitar os espaços
onde aconteceram as gravações desses vídeos em análise, portanto nossa pesquisa
se ampliou para uma pesquisa de campo. Devido a isso, tivemos que recorrer a
procedimentos teórico-metodológicos relativos à pesquisa de campo, como
entrevista, que é um dos instrumentos utilizados para coleta de dados, e diário de
campo com informações sobre o que observamos no espaço.
Um dos modelos mais utilizados é o da entrevista semiestruturada, guiada pelo
roteiro de questões, o qual permite uma organização flexível e uma maior ampliação
dos questionamentos, à medida que as informações vão sendo fornecidas pelo
entrevistado (FUJISAWA, 2000). Desse modo, elaboramos um questionário
(ANEXO E) com dez perguntas que nortearam nossa entrevista.
1
O uso do verbo na primeira pessoa do singular se faz de forma proposital nas partes que se referem
aos relatos das entrevistas e visitas aos espaços de tradução que foram feitas exclusivamente pela
pesquisadora. Nas demais partes da escrita do trabalho, optamos pelo uso do verbo na primeira
pessoa do plural por entendermos que nosso discurso foi atravessado por outras vozes.
35
Nos dois espaços fui recepcionada pela equipe de tradução, conheci os espaços, as
equipes, os equipamentos utilizados e os processos que são seguidos até que a
tradução seja de fato publicada. A entrevista foi gravada em áudio e vídeo, o
questionário elaborado em dez perguntas foi respondido em tom descontraído e com
informações riquíssimas que podem ser lidos nos anexos “C” e “D” deste trabalho.
A partir dos direcionamentos que esse tipo de pesquisa nos aponta, elaboramos um
conjunto de procedimentos que nos pareceu mais adequado para analisar esses
vídeos, assim, desenvolvemos uma análise baseada nos estudos Bakhtinianos da
linguagem, procurando englobar todos os elementos linguístico-discursivos que
influenciaram na produção do objeto de pesquisa. Bem sabemos que os resultados
e conclusões de uma pesquisa são sempre provisórios e flexíveis. A seguir
descreveremos os vídeos em Libras, embasados nos conceitos do referencial
teórico e nos procedimentos metodológicos aqui descritos.
37
5 DESCRIÇÃO DO VÍDEO 01
Pastor Larry Evans, líder do ADMI (Adventist Deaf Ministries Internacional) na sede
mundial da igreja Adventista, tem feito visitas frequentes ao Brasil, para conhecer os
desafios e apoiar os projetos voltados para essa comunidade. Ele tem coordenado o
trabalho em vários países, como EUA, Quênia, Coreia do Sul, dentre outros, pois, na
sua visão, o ministério no Brasil tem se tornado referência mundial para igreja
Adventista, em consequência do volume de materiais que tem sido traduzido para
LIBRAS, da qualidade dos congressos e dos treinamentos realizados em todo
território nacional.
Segundo a líder da equipe que coordena a tradução (vide entrevista ANEXO C), a
partir de 2008, a DSA - Divisão Sul Americana (organização que administra a igreja
Adventista nos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Ilhas
Malvinas, Paraguai, Peru e Uruguai, com algumas ilhas adjacentes nos Oceanos
38
Os Dez Mandamentos em Libras traduzidos pelos adventistas não faz parte de uma
tradução sequencial ou sistemática dos livros da Bíblia Sagrada. Trata-se de um
recorte, uma literatura missionária baseada no conceito adventista de que a
observância desses dez princípios dados a Moisés no monte Sinai, traz, ainda nos
dias atuais, uma promessa de vida feliz. O material tem como objetivo principal, além
da nutrição espiritual, o acesso de seus membros Surdos a essa temática e a
distribuição é feita de forma gratuita em projetos de evangelização de Surdos
brasileiros usuários da língua de sinais ou a qualquer interessado.
CAPA INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Imagem 2: Produção dos vídeos de “Os 10 mandamentos”
Gravado em São Paulo, em uma clínica de vida saudável localizada em São Roque,
em tom de conversa informal, o vídeo encontra-se disponível na internet, no canal
do youtube: Surdos Adventistas (https://www.youtube.com/channel/UC-7-
ugc_hCMsD37tLLu1WmQ). Também por meio do site
“www.surdosadventistas.com.br”, é possível adquirir gratuitamente a coleção de
DVDs, que é distribuído por essa instituição.
O pastor Douglas Silva e sua esposa Karen Sanches, ambos surdos, iniciam uma
tradução comentada. O cenário passa ao leitor uma intenção de leveza, assim como
o tom da sinalização durante todo o discurso. Os tradutores sinalizam sentados em
duas cadeiras, em ângulo que remete à intenção de diálogo. Ao fundo, uma janela
rústica, com vidraças transparentes, possibilita visualizar elementos da natureza,
como vento balançando as árvores, ramos e raízes penduradas, árvores de
diferentes espécies e a luz solar.
40
5.1.1.1 1º Mandamento
5.1.1.2 2º Mandamento
E disse Deus:
Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há
em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus,
sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e
quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares
dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos (Êxodo 20:
4-6).
<MISERICÓRDIA>
Imagem 5: 2º Mandamento – descrição
Podemos verificar que o tradutor Surdo usou o sinal “EVITAR” para transmitir a ideia
de “NÃO” ou “PROIBIDO”, conforme entrevista (ANEXO C). Essa escolha se deve
ao fato histórico de que o Surdo passou por momentos de proibições traumáticas.
Enquanto, segundo ele, o sinal de “NÂO” carrega sentimentos de opressão, o sinal
de “EVITAR”, muito utilizado pela comunidade Surda para aconselhamento, seria
aceito de forma mais confortável. A intenção do tradutor, conforme entrevista, foi
provocar uma aproximação emocional do público alvo.
Nesse sentido, baseado nos estudos de Bakhtin (1986) de que o sentido de uma
palavra é construído a partir de uma situação histórica, e que poderemos apreender
o enunciado, o querer dizer, a significação da palavra a partir dessa situação,
conhecendo toda trajetória histórica que o Surdo vivenciou, o sinal de “NÃO e
PROIBIDO” são carregadas de marcas negativas, o que causaria um afastamento
do Surdo da intenção do enunciador.
prévio com essa orientação. No entanto, o leitor Surdo que não convive com essa
ideologia ou o Surdo que vive no interior e talvez não tenha tanto acesso à Língua
de Sinais, dificilmente entenderá o enunciado. Neste caso a utilização de
classificadores facilitaria, pois ao classificar a ação de construir um ídolo traria uma
melhor compreensão para todos os tipos de leitores.
5.1.1.3 3º Mandamento
“Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por
inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êxodo 20:7).
vez que o surdo não tem essa cultura de ficar “falando” o nome de Deus o tempo
todo como alguns ouvintes o fazem.
5.1.1.4 5º Mandamento
“Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o
Senhor teu Deus te dá” (Êxodo 20:12).
<MÃE SUA>
Desde as primeiras traduções feitas por eles, a maior preocupação dos Adventistas
tem sido restringir a atuação a tradutores Surdos nessas produções, o que, na visão
da equipe, proporciona uma tradução com maior aceitação, pelo fato de o Surdo ser
o falante nativo da língua em questão.
[...] a roupa precisa seguir um padrão,... ela precisa ser neutra, não pode
ser estampada, ou de listras, é necessário que seja de cor suave, algo
50
No 1º mandamento após traduzir que não deve “ter” outros deuses, aparece o
acréscimo explicativo que esses deuses não podem “SUBSTITUIR” Deus. No 2º
mandamento os acréscimos aparecem na descrição imagética, o tradutor cita
exemplos de animais e objetos que tomam forma de deuses, como aves, lua,
estrelas, pau, pedras entre outros. Entretanto, esses exemplos não aparecem
explícitos no texto fonte. Já 3º mandamento, o acréscimo no discurso aparece
quando a tradutora utiliza o sinal de “PROVOCAR” não existente no texto fonte.
Esse acréscimo aparece no sentido de esclarecer o enunciado. Por fim, no 4º
mandamento, por exemplo, quando o tradutor utiliza o sinal de “SUBSTITUIR”,
percebemos um acréscimo para explicar que o trabalho deve ser evitado também
por terceiros. No texto fonte aparece a ordem “não farás nenhuma obra, nem tu,
nem teu filho, filha, servo, estrangeiro que está dentro das tuas portas, etc...”. O
tradutor então faz a seguinte construção <PESSOA DENTRO SUA CASA
SUBSTITUIR TRABALHO EVITAR>.
Por fim, consideramos que a tradução dos trechos referentes aos dez
mandamentos, a escolha do vocabulário (EVITAR, NÓS-PRECISAR), os
acréscimos, o uso de terceira pessoa entre outros produzem um efeito amenizante
em relação ao discurso do texto fonte, no qual há marcas de imposição, exigência
ao cumprimento das leis com punições a quem descumpri-las. Já, na tradução,
percebemos um texto mais leve, de aconselhamento, que é reforçado, inclusive,
52
pela posição dos tradutores que estão sentados, e dos textos contextualizadores
que sucedem os excertos bíblicos. O que pode passar a impressão de que os Dez
Mandamentos figuram como sugestões para a vida do cristão.
53
6 DESCRIÇÃO VÍDEO 02
De acordo com a entrevista (ANEXO D), no Brasil, no ano de 1982 foi formada a
primeira congregação em língua de sinais no Rio de Janeiro. Oito anos mais tarde
foi formada a segunda congregação em São Paulo, no ano de 1997 foi realizado o
primeiro congresso em Ribeirão Preto- SP, e até os dias atuais várias congregações
e congressos são realizados por todo país.
Site https://www.jw.org/pt
Imagem 9: Site da tradução Novo Mundo
55
De acordo com arquivos históricos disponíveis no site “jw.org” sobre o marco nas
edições e traduções, em 2009 em entrevista disponível neste mesmo site, o
coordenador de tradução falou do Centro Educacional da Torre de Vigia em
Patterson, Nova Iorque, onde muitos dos detalhes de tradução são organizados.
Segundo ele, "em alguns casos as línguas em que as Testemunhas de Jeová
empreendem a tradução das publicações da Bíblia têm apenas alguns milhares de
leitores, um fator claro que elimina qualquer sugestão de que a motivação seja a
financeira." E acrescentou: “Chegamos nesta medida na edição e tradução porque
nos preocupamos com as pessoas e queremos que o maior número possível se
beneficie de tesouros descobertos apenas com um estudo da Bíblia”.
56
Imagem 10: Materiais utilizados pelas testemunhas de Jeová para ensino religioso dos surdos.
Ainda não há a tradução de toda a Bíblia para Língua de Sinais, conforme entrevista
em anexo, os tradutores explicam que o processo é mais lento e trabalhoso, não é
uma tarefa fácil, e existe uma preocupação na qualidade dessa tradução. É preciso
que esteja dentro dos critérios estabelecidos pelas testemunhas de Jeová, para que
o material traduzido chegue até o público surdo da mesma forma que para o ouvinte:
um texto claro e inteligível na língua dele. Eles estão realizando essa tarefa aos
poucos, livro por livro.
A decisão foi então começar pelos livros de Mateus a Apocalipse, que são
conhecidos como Novo Testamento. Apesar de considerar toda a Bíblia como
importante, muitas de suas doutrinas são extraídas dos primeiros livros do Novo
Testamento. A escolha de começar a tradução para língua de sinais por esses livros
acontece exatamente por serem os livros mais usados por eles. Segundo entrevista,
após concluir a tradução do Novo Testamento, começaram então o Velho
Testamento, que são os livros de Gêneses a Malaquias. A escolha da sequência
que esses livros serão traduzidos é avaliada de acordo com a necessidade e com o
grau de importância do conteúdo.
6.1.1.1 1º Mandamento
<EU>
Imagem 11: 1º Mandamento – descrição
O sinal de “NÃO ou PROIBIDO” é muito usado para enfatizar um Deus que exige o
cumprimento dos mandamentos dado ao povo. As expressões faciais e corporais
que o tradutor utiliza quando vai fazer as negativas, aliadas ao sinal de “NÃO”,
complementam o sentido de reprovação. Especificamente no 1º Mandamento que
reprova o ato de adoração a outros deuses, a forma como o ombro é levantado e
inclinado para frente, o franzir da testa e o movimento da sobrancelha se tornam
exemplos de recurso que provoca intensidade na negação. Esse recurso aparece
em vários outros mandamentos.
6.1.1.2 2º Mandamento
E disse Deus:
Não faça para você imagem esculpida, nem representação de algo que há
nos céus, em cima, ou na terra, embaixo, ou nas águas abaixo da terra. Não
se curve diante delas nem as sirva, pois eu, Jeová, seu Deus, sou um Deus
que exige devoção exclusiva e traz punição pelo erro dos pais sobre os
filhos, sobre a terceira geração e sobre a quarta geração daqueles que me
odeiam, mas que demonstra amor leal até pela milésima geração daqueles
que me amam e guardam os meus mandamentos (Êxodo 20:4-6).
<LIGADOS EU EU ORDENAR>
62
<EU AMAR>
uma maior compreensão, o tradutor faz uso de amplificação do texto fonte para se
fazer entender pelo leitor.
6.1.1.3 3º Mandamento
“Não use o nome de Jeová, seu Deus, em vão, pois Jeová não deixará impune
aquele que usar Seu nome em vão (Êxodo 20:7)”.
6.1.1.4 5º Mandamento
“Honre seu pai e sua mãe, para que você viva por muito tempo na terra que Jeová,
seu Deus, lhe dá (Êxodo 20:12).
<PAI MÃE>
<PROLONGAR>
Imagem 14: 5º Mandamento – descrição
66
Observamos que a marcação da atitude de Jeová para com os que obedecem está
clara na sinalização. Quando o tradutor diz <JEOVÁ 1AJUDAR2 1ABENÇOAR2 EU>,
é possível compreender que a vida será prolongada aos que obedecem a Deus, e
isso seria uma dádiva divina condicionada à obediência.
Para Bakhtin (1986), o social prevalece nas produções discursivas; ou seja, o que
uma única pessoa produz está repleto da fala de outros. Sendo assim a linguagem é
necessariamente dialógica, e é por meio desse processo que o sujeito toma
consciência de si próprio, o social antecede o individual. Desta forma, defendo a
importância das análises feitas. Com a oportunidade que tive de visitar o centro de
tradução das Testemunhas de Jeová, foi possível compreender melhor como se deu
o processo de tradução desse texto. Fiz uma visita e conversei com a equipe de
tradução para entender quais eram as intenções nas produções desses materiais
em língua de sinais. Logo, pude “ouvir” com os ouvidos e os olhos, conforme
entrevista em anexo, “as vozes” de outros que atravessam o tradutor de um texto
bíblico.
Conforme entrevista (ANEXO D), foi-me detalhado todo o processo tradutório, desde
a chegada do texto fonte até a publicação do produto final. Conforme a explicação
67
[...] o mapa mental serve pra ajudar o revisor Surdo e me ajudar como
tradutor ouvinte a ter o mesmo modo de pensar que um surdo, porque eu
sou um tradutor, mais se são palavras, eu vou ficar muito apegado ao
português, eu não quero isso, eu quero que seja natural para o Surdo
(ANEXO D).
68
A tradução produzida pelas testemunhas de Jeová toma como texto-fonte uma bíblia
na versão escrita que difere daquela mais comumente utilizada pelas igrejas
evangélicas. Os excertos aqui descritos compõem a tradução da Bíblia em Língua
Brasileira de Sinais, produzida em material audiovisual. A tradução está organizada
por livros, divididos em capítulos e versículos.
Vale destacar que um dos sinais mais usados pelo tradutor é o sinal “PROIBIDO” ,
cujo sentido em Libras remete a um ato altamente condenável, passível de sanção,
caso descumprido. Com isso, percebemos que não há tentativa de amenizar as leis,
mas, sim, reforçar a ideia de desaprovação àqueles que não as obedecerem.
seu próprio modo de orientação para a realidade e refrata a realidade à sua própria
maneira” (BAKHTIN, 2004. P. 33). Além disso, observamos que toda atividade
tradutória desenvolvida desde o conteúdo temático, o estilo e a construção dos
enunciados, bem como os procedimentos de tradução são marcados pelos
princípios ideológicos da instituição religiosa que considera a língua de chegada e a
adaptação à cultura dos interlocutores como eixos norteadores para a tradução da
Bíblia. Apesar de ter como sinalizador um tradutor ouvinte, o estilo da tradução
remete a elementos discursivos próprios da língua-alvo; ou seja, os recursos visuais,
o uso da incorporação e a construção de cenas são fundantes na recriação dos Dez
Mandamentos em Libras.
Entendemos que essas escolhas tradutórias não são aleatórias. São estratégias
extremamente persuasivas, pois tais recursos estilísticos facilitam a adesão, a
aceitação do leitor surdo ao discurso que está sendo enunciado. Apoiados em
Bakhtin (2003), somos levados a crer que o tradutor se apropria do modo de dizer
próprio da comunidade surda para recriar um texto bíblico com a qual o leitor se
identifique por meio de cenas e descrições imagéticas, pois no ato tradutório, assim
como na produção de qualquer discurso
protocolos que precisam ser seguidos e qualquer adaptação necessária precisa ser
autorizada por eles.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso reiteramos a importância de que o tradutor tenha domínio das duas
línguas envolvidas na tradução, refletindo acerca das competências necessárias
para assegurar a qualidade do seu trabalho, buscando formação contínua e análises
no que pese à tradução de textos sensíveis, suas escolhas e efeitos sobre o público
alvo, repensando as práticas e pensando soluções para os desafios encontrados.
Entendemos que essa pesquisa não fecha o circuito sobre essas discussões. As
reflexões em torno da temática abordada não se encerram por aqui. Pelo contrário,
esperamos que elas sirvam como um caminho possível para o início de novas
pesquisas no campo da tradução de textos sensíveis.
76
9 REFERÊNCIAS
PERLIN, G.; QUADROS, R. M. de. Ouvinte: o outro do ser surdo. In: QUADROS, R.
M. de. (Org.). Estudos Surdos I. Petrópolis: Arara Azul, 2006.
SACKS, O. Vendo vozes - Uma viagem ao mundo dos surdos. 5ª ed. São Paulo:
Companhia das letras, 2005.
ANEXOS
ANEXO A
4º MANDAMENTO:
Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a
tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma
obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o
teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis
dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia
descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou (Êxodo 20:8-
11).
<VOCÊ TRABALHAR>
80
<SETE D-I-A>
6º MANDAMENTO:
<MATAR-NÃO>n
7º MANDAMENTO:
8º MANDAMENTO:
<ROUBAR>n
84
9º MANDAMENTO:
10º MANDAMENTO:
Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o
seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma
do teu próximo (Êxodo 20:17)
<SERVO DELE>
<NADA>n EVITAR>
87
ANEXO B
4º MANDAMENTO
<MEU JEOVÁ>
6º MANDAMENTO
<MATAR>INT PROIBIDO>n
7º MANDAMENTO
8º MANDAMENTO
<ROUBAR PROIBIDO>n
9º MANDAMENTO
10º MANDAMENTO
94
Não deseje a casa do seu próximo. Não deseje a esposa do seu próximo, nem seu
escravo, nem sua escrava, nem seu touro, nem seu jumento, nem coisa alguma que
pertença ao seu próximo. (Êxodo 20:17)
Importante ressaltar que os nomes dos participantes foram substituídos por nomes
fictícios para preservar a identidade dos mesmos.
Entrevistados:
Tradutor III: A bíblia é a palavra de Deus. Ele é mais importante que qualquer
pessoa, qualquer deficiente, seja cego, cadeirante ou surdo precisa saber o que está
escrito na palavra de Deus. O surdo tem barreiras na comunicação. Esses entraves
linguísticos em relação ao português traz dificuldades ao surdo para compreender o
que está escrito na Bíblia. Se traduzir para Libras o surdo irá compreender a vontade
de Deus e poderá decidir obedecer. Se o Surdo não conhecer a vontade de Deus
descrita na bíblia como irá obedecer? Por isso a importância de traduzir o que está
97
escrito para língua própria do surdo, se ele tiver acesso será fácil aprenderá sobre o
amor a Deus e amor ao próximo.
Tradutor I: Como adventistas compreendemos que a Bíblia deve ser usada como
um todo e que tudo o que foi escrito nela é inspirado pelo Espírito Santo. Os Dez
Mandamentos contidos em Êxodo 20:1-17 são de grande significado por ser parte
da base daquele povo que o Senhor escolheu e que continua sendo hoje até o dia
da volta de Jesus de acordo com Apocalipse 12:17.
Tradutor I: A primeira etapa foi a escolha do livro sobre os Dez Mandamentos que
trouxesse mais significado para o nosso cotidiano e também aquele era o livro do
ano para a Igreja Adventista do Sétimo Dia. A segunda etapa foi a escolha do
método de tradução. A terceira etapa consiste em analisar o conteúdo e adaptá-lo
para o público alvo. A quarta etapa foi dividir as partes da tradução entre os
tradutores. A quinta e última etapa é o processo de gravação que engloba o tempo
de filmagem, local, roupas, etc.
Tradutor V: Aceleramos o processo devido ao pouco tempo que tivemos, pois cada
tradutor precisava voltar aos seus estados, isso pode ter trazido prejuízos na
qualidade da tradução, devido à ausência de tempo para revisar e corrigir. Receber
o material a ser traduzido com antecedência também é de grande importância. Há
alguns anos estamos lutando para inserir intérprete em nossa TV "novo tempo",
porém ainda não é uma realidade.
Tradutor I: A tradução de Os Dez Mandamentos foi feita somente por dois surdos
que possuem grande conhecimento do assunto, fluentes na Libras e identificados
com a cultura dos surdos.
Tradutor II: O ouvinte nesse processo tem o papel de apoio ao tradutor surdo,
explicando os conceitos de palavras difíceis do português, na compreensão do texto
bíblico e na parte técnica da edição do vídeo, assim como na construção do texto
base em português, porém o tradutor para gravação é somente o surdo.
Tradutor II: A roupa precisa seguir um padrão. A precisa ser neutra. Não pode ser
estampada ou de listras. É necessário que seja de cor suave, algo chamativo ou
exagerado não é aceitável, porque é preciso facilitar a percepção visual do surdo.
100
Tradutor IV: Existem variados níveis de pessoas surdas. Podemos citar os surdos
Doutores, mestres, ou seja, diferentes níveis acadêmicos, depois os surdos de nível
médio; surdos com acesso ao estudo de forma geral. Há ainda aqueles surdos que
conhecem alguns sinais, porém estão afastados da comunidade surda por serem
oralizados e, por último, temos aquele grupo de surdos que se comunica por gestos,
que não conhecem a língua de sinais, utilizam sinais caseiros para se comunicar e a
maioria deles vive em regiões do interior sem acesso ou contato a comunidade
surda. Para uma maior clareza de todos esses níveis apresentados procuro utilizar
classificadores e incorporação de personagens para que a tradução seja acessível a
essa variedade de leitor. Se no momento da gravação a Joyce(Surda que coordena
a equipe de tradutores) percebe alguma construção que não está clara, retornamos
a essa parte e gravamos novamente.
101
Entrevistador: Qual versão da bíblia foi usada no processo de tradução para língua
de sinais?
Importante ressaltar que os nomes dos participantes foram substituídos por nomes
fictícios para preservar a identidade dos mesmos.
Entrevistados:
Tradutor I: - Aí, qual foi à decisão de fazer primeiro Mateus a Apocalipse que é
chamado de Novo Testamento, porque esse a gente usa muito, no dia a dia muitas
coisas que Jesus falou estão em Mateus, Marcos, Lucas e João que fala muito de
Jesus o que Jesus ensinou e tudo baseado. Daí é a estrutura de como que Jesus
ensinou que deveria ser a organização, a questão de ter congregações, os homens
estarem em pé ensinando, todas as regras de intuição, como deveriam ser as
reuniões, está ali entre Mateus e Apocalipse. E aqui o de antes, que é Gênesis até
Malaquias, na verdade foi só um resumo baseado nisso aqui. Mateus e Apocalipse
se baseiam naqueles, só que aquele é a história antiga, coisas que serviram no
passado e com a vida de Jesus Cristo mudou algumas coisas então a gente fechou
primeiro Mateus a Apocalipse, depois começou a voltar, aí pegou Gênesis, Êxodo e
está fazendo os outros, só que a gente fez alguns livros menores que foram feitos
depois porque têm alguns livros que demoram muito para traduzir e às vezes os
surdos, nosso público lá, tá querendo mais, eles já viram tudo, já viram Mateus a
Apocalipse. Às vezes, demora bastante, mais de um ano para traduzir Gênesis, pra
traduzir Êxodo. Então a gente falou assim: vamos fazer os menores para que o
surdo já receba para estudar em casa e nas reuniões a gente vai estudando esses
que já estão prontos, aí depois que já está pronto, então a gente começa de novo
com os maiores. O objetivo é ter a Bíblia inteira, porque aí o surdo vai poder ter a
ligação, entender porque que Jesus falou isso. Jesus falou isso porque estava ligado
com o que foi dito lá atrás com Moisés, aí Jesus ensinou um negócio aqui que está
em deuteronômio, que está lá em Malaquias, então tem uma ligação da bíblia que
vai fazendo sentido. A tradução é feita de acordo com a maior necessidade, assisti,
mas os livros da bíblia mais assistidos e mais estudados são traduzidos primeiro, as
doutrinas atuais que a gente segue é o que está baseado depois de Jesus Cristo. A
gente usa algumas coisas do Velho Testamento, mas muitos detalhes do dia a dia,
mais práticos foi Jesus que ensinou quando veio a terra, tem coisas que
antigamente se aplicavam a Nação de Israel que foram substituídas com Jesus.
faço uma descrição imagética dessa história ali no quadro branco. Construo o
cenário das cenas dela chorando, do acusador de Ana que criticava ela, eu mesma
faço esses desenhos construindo as cenas, depois no momento que o tradutor está
sinalizando eu percebo que faltou, por exemplo, a cena do acusador, então eu
aponto para o desenho da cena no quadro de aviso o tradutor à ausência dessa
informação, então aí fica tudo certinho, essa construção imagética descrevendo as
cenas que faço me ajuda no momento da tradução. Sem ela eu não conseguiria
perceber as ausências, os desenhos realmente me ajudam, é muito bom.
Nas línguas orais o processo é o mesmo, eles tem reunião de projeto, mapa mental,
só que as língua de sinais tem mais liberdade para adaptação da língua, em relação
a gramática, a cultura, o feedback das línguas orais também acontece da mesma
forma, eles convidam pessoas para ler o texto traduzido, se o texto for para criança
eles dão pra criança ler, do mesmo jeito que agente faz aqui com a língua de sinais,
essa mesma preocupação.
Tradutor II: Esse MIPES que é um programa que foi criado pela gente, a gente tem
acesso a perguntas que outros tradutores fizeram, então às vezes outros países,
estão traduzindo a mesma coisa que agente está traduzindo, e eles ficaram em
dúvida de alguma coisa, e perguntaram para o redator, e o redator vai explicar, não
isso tá dizendo isso, o sentido é esse, então às vezes eles podem ajustar,
acrescentando ou diminuindo informações baseados nessa pergunta, e a gente
consegue ter acesso a isso.
Vamos supor, se existe uma comparação ou ilustração de uma pessoa que seja
poeta, ele usa palavras, ele usa poesia, música, um Surdo não entende se usar
exatamente “palavras”, então tem que usar “sinais”, então pra gente não tirar e não
acrescentar agente precisa pedir autorização, e como se fosse essa central de
perguntas, agente manda nossa pergunta e eles mandam uma opção pra gente que
não mude o entendimento, o entendimento de alguém ouvinte ou Surdo precisa ser
igual, então essa é a preocupação deles, mesma informação só que adaptada para
um Surdo, aí eles vão ver se permitem ou não essa adaptação.
repetição, é como se fosse a chave primária do texto, nesse caso a chave primária é
Ana, depois eu percebo qual será o objetivo do texto, nesse caso será oração, o
clamor dela a Deus, qual objetivo que eu preciso passar para o público alvo que no
caso são os Surdos, como aplicar isso na vida deles, depois eu me preocupo qual o
tom deste artigo, se vai ser alegre, triste, de conselho ou normal, então essa
topicalização eu também faço ali no cantinho do quadro branco, porque no momento
da tradução vai que o tradutor exagera na sinalização , eu rapidamente lembro a ele
do tom, que não é preciso exagerar na expressão facial, essa construção de tópicos
me ajudam muito no momento da revisão, e por último a estrutura do artigo, é
cronológico, vai ser necessário uma linha de tempo, ou um artigo explicativo,
comparativo, essas marcas do tipo de texto, geralmente são marcados na
movimentação do ombro do ator/tradutor pra frente, para trás, para o lado, ou se for
explicativo no espaço neutro, o tipo do texto influencia na atuação do ator/tradutor.
Tradutor II: A nossa preocupação é que o tom, o tipo de texto o modo em que o
texto fonte foi construído para os ouvintes, gostaríamos que chegasse ao Surdo da
mesma forma, temos essa preocupação, então essa reunião de projeto serve pra
isso, do revisor, confrontador e tradutor, e a subjetividade de cada um, o modo de
pensar dos três, a gente tenta unir isso, e a confrontadora que fica com essa parte
da fidelidade ao texto fonte, em todos esses critérios, principalmente no público alvo,
por exemplo, se for criança, preocupação com esse tipo de público alvo, se ele irá
entender.
Tradutor I: (interrompe a fala) vai chegar um momento da historinha que ela precisa
entender o que ela precisa fazer.
Tradutor II: então a gente vai mesclando isso dentro do texto, o mapa mental serve
para ajudar o revisor Surdo e me ajudar como tradutor ouvinte a ter o mesmo modo
de pensar que um surdo, porque eu sou um tradutor, mas se são palavras, eu vou
ficar muito apegado ao português, eu não quero isso, eu quero que seja natural para
o Surdo, do jeito que um Surdo gosta, então o desenho que a Surda faz vai me
ajudar, porque então eu vou começar a pensar como os Surdos, de um modo mais
visual, eu vou ver os desenhos e vou começar imaginar, hum tenho uma história em
português mais e o surdo como isso ficaria para chamar a atenção dele, como eu
vou contar de um modo que toque o coração dele ou que motive ele ao que agente
108
quer no objetivo ali descrito no mapa mental? Então a gente faz esses desenhos pra
ajudar
Tradutor I: Isso agente tem uma sede mundial, tudo isso e decidido lá, e é passado
como se fosse um padrão para o mundo todo, então, todos os países têm que
obedecer ao que eles falam, assim, serve para criar padrão, se não ficaria cada país
de um jeito, roupa é complicada, então vem definido, geralmente é roupa social para
passar um tom formal, mais sério, então, por exemplo, na língua de sinais temos um
padrão da cor usada no fundo, temos a sentinela que o padrão é azul, temos a
bíblia que o padrão é meio cinza, meio marronzinho né.., e tem os desenhos
aplicados a fundos da história....
sentimentos corretos, a gente não sabe todos os detalhes, se foi exatamente aquele
sentimento, mais é um próximo que agente consegue alcançar, se por exemplo
Deus estava bravo naquele momento, vai ter que jogar as expressões fechadas, as
expressões é a reação dele mas se ele está feliz aí você já muda a expressão, tudo
envolve expressões e classificadores. os 10 mandamentos por exemplo, no monte
quando foi entregar para Moisés, eu utilizo muito o sinal de proibido, quando é uma
coisa considerada errada por Deus ai você já tem que trocar o tom, Deus odeia
quando você está adorando outro ídolo, que não seja ele, então tem que passar,
porque eram ações que o povo estava fazendo, a tendência era aquela , então Deus
falava isso é proibido, não faça imagens e no tom e na expressão no movimento da
cabeça, que você passa essa ideia. as vezes utilizo a direção do olhar para
demarcar distâncias, se ele está ao meu lado, às vezes Deus olhando pra baixo, ou
olhando pra câmera pra separar o personagem, às vezes estou fazendo um
personagem e eu preciso separar o personagem do ator, utilizo essa técnica de
direção do olhar para marcar os personagens . o objetivo é que o Surdo que esteja
assistindo consiga identificar os personagens, ah aquele ali é Moisés, ou é Deus.
O Surdo no dia a dia não fica quebrando as mensagens, é igual ouvir um áudio e ele
fica interrompendo, então se você faz uma leitura corrente fica agradavel, entao é
semelhante para língua de sinais .
Quando Deus fala eu direciono o olhar para baixo (povo), isso é muito importante,
essa marca, estabelecer os lugares do discurso dos personagens, e voltar a fazer
referência e ele no mesmo lugar, como eu vou colocar um personagem do lado
esquerdo e logo em seguida citar ele do lado direito, precisa manter esse
personagem naquele espaço até o final do discurso.
Revisor: Todos os níveis, desde os que moram nas grandes cidades até os Surdos
do interior que tem pouco contato com a Libras.
Entrevistador: Qual versão da bíblia foi usada no processo de tradução para língua
de sinais?
- Ah não, essa escolha não tá legal, os Surdos lá da minha região não vão
entender.
Agente convida, combina e eles vêm pra assistir e dar o feedback deles.
Existe uma minoria que acaba reclamando dos sinais regionais, mas fazer o que,
isso é próprio da língua, no geral a sinalização eles gostam, é possível um
aprendizado, porque antes recebiam o texto apenas em português, às vezes o
Surdo gosta de ler também o texto em português, mas não entende com clareza, ah
111
ANEXO E
..........................................................................................................
PROFª. DRª. ARLENE BATISTA DA SILVA
Coordenadora do GEPLES
Professor (a) orientador(a)
113
ANEXO F
Eu_______________________________________________________
portador do RG. Nº __________________, CPF: ______________ aceito participar
da pesquisa intitulada “Os 10 mandamentos em LIBRAS atravessados por
diferentes vozes”, desenvolvida pela acadêmica / pesquisadora Eliana Firmino
Burgarelli Ribeiro, e permito que obtenha fotografia, filmagem ou gravação de minha
pessoa para fins de pesquisa científica. Tenho conhecimento sobre a pesquisa e
seus procedimentos metodológicos.
Autorizo que o material e informações obtidas possam ser publicados em
aulas, seminários, congressos, palestras ou periódicos científicos. Porém, não deve
ser identificado por nome em qualquer uma das vias de publicação ou uso.
As fotografias, filmagens e gravações de voz ficarão sob a propriedade do
pesquisador pertinente ao estudo e, sob a guarda dos mesmos.
__________________________________________
Nome completo do pesquisado
114
ANEXO G
Eu __________________________________________________________,
portador do RG. Nº __________________, CPF: ______________ permito que o
pesquisador abaixo relacionado obtenha fotografia, filmagem ou gravação de minha
pessoa para fins de pesquisa, científico e educacional.
Concordo que o material e informações obtidas relacionadas possam ser
publicados em aulas, seminários, congressos, palestras ou periódicos científicos.
Porém, não deve ser identificado por nome em qualquer uma das vias de publicação
ou uso.
As fotografias, filmagens e gravações de voz ficarão sob a propriedade do
pesquisador pertinente ao estudo e, sob a guarda do mesmo.
__________________________________________________
ASSINATURA
.....................,........de.....................2017.
115
ANEXO H
ROTEIRO DE PERGUNTAS
9. Qual versão da bíblia foi usada no processo de tradução para língua de sinais?