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DIAS MELHORES 

Chip implantado no cérebro permite escrever com o


pensamento
Pesquisadores decodificam padrões cerebrais da escrita à mão e os traduzem em letras pela primeira vez
2.jun.2021 às 16h23

 EDIÇÃO IMPRESSA 

Everton Lopes Batista

SÃO PAULO Um homem tetraplégico, paralisado do pescoço para baixo, foi capaz de gerar letras
em uma tela de computador em tempo real ao imaginar estar escrevendo com uma caneta na
mão.

Para realizar a façanha, os cientistas usaram chips implantados no cérebro do paciente para


detectar os padrões cerebrais envolvidos na escrita de cada letra. Eletrodos transferiram esses
padrões a um algoritimo capaz de ler e traduzir a atividade cerebral —o movimento detectado
no cérebro correspondente a uma letra se tornava a versão digitada em uma tela.

A descrição do experimento realizado com o aparato, um tipo de interface cérebro-computador


(BCI, na sigla em inglês), foi publicada na revista científica Nature em 12 de maio. Esta é a
primeira vez que cientistas identificam os padrões cerebrais relacionados à escrita manual e os
transformam em texto.

O trabalho foi realizado por pesquisadores das universidades Stanford, Brown e Harvard, todas
nos Estados Unidos.

Usando a máquina, o participante do experimento, um homem de 65 anos de idade, foi capaz


de digitar com uma velocidade de 90 caracteres por minuto —semelhante ao que pessoas na
mesma faixa etária conseguem fazer usando um telefone celular, segundo artigo publicado em
2019. A escrita realizada com ajuda da interface marcou acerto de 94%.

Uma parte dos pesquisadores envolvidos na pesquisa havia desenvolvido um sistema


anteriormente que permitia a uma pessoa escrever imaginando mover o braço como um cursor
em uma tela de computador e clicando nas letras. O aparato permitia escrever a uma velocidade
de 40 caracteres por minuto.

O participante do experimento mais recente havia recebido dois chips na parte do cérebro que
controla os movimentos das mãos e braços como parte de um outro estudo, chamado
BrainGate2, encabeçado pela Universidade Brown.
Uma parcela das pessoas que perdem movimentos do corpo devido a doenças degenerativas ou
acidentes pode se beneficiar de interfaces como a desenvolvida pelos pesquisadores
americanos. Isso porque, nessas pessoas, os comandos cerebrais responsáveis pelos
movimentos seguem ativos. A chave está em traduzir os comandos em ações.

O físico britânico Stephen Haking (1942-2018) usava uma interface cérebro-máquina para se
comunicar. O aparelho de Hawking usava um sensor que captava as contrações de sua
bochecha e as transformavam em letras e palavras.

Hawking perdeu movimentos do corpo como consequência da esclerose lateral amiotrófica,


uma doença degenerativa do sistema nervoso.

O aparelho permitia ao cientista trabalhar, escrever livros e realizar palestras —Hawking foi
um dos mais prolíficos divulgadores de ciência em vida.

Agora, os pesquisadores americanos devem testar o sistema que escreve com o pensamento em
pessoas que perderam a capacidade de falar.

O estudo relatado na Nature é um grande avanço para a área das BCIs, mas os cientistas
afirmam que este é apenas o começo. "São necessários novos experimentos, em mais
participantes, e melhorias no sistema. Mesmo assim, acreditamos que o futuro das interfaces
cérebro-máquina intracorticais é brilhante", escrevem os pesquisadores.

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